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0 OBJETIVO 1. ENTENDER A FISIOPATOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA, RASTREAMENTO, QUADRO CLÍNICO, TRATAMENTO, DIAGNÓSTICO, PREVENÇÃO, FATORES DE RISCO, ESTADIAMENTO DO CA DE PRÓSTATA, ENFATIZANDO A CLASSIFICAÇÃO DE GLEASON FISIOPATOLOGIA O rastreamento do câncer de próstata é responsável pelo diagnóstico precoce da doença e, em países onde essa prática é rotina, grande parte dos diagnósticos é feita com a doença confinada ao órgão, em estádio inicial. A suspeita diagnóstica do câncer de próstata é feita pela observação da elevação dos níveis séricos do antígeno prostático específico (PSA) ou, clinicamente, pelo toque retal, seja por alteração da consistência da glândula, seja pela presença de nodulação. Etiologia Basicamente podemos dividir os cânceres de próstata em dois grupos: os de origem epitelial e os de os de origem estromal (não-epitelial). Quanto aos de origem epitelial podemos falar em adenocarcinoma acinar e não-acinar. Entre os adenocarcinomas não acinares temos o adenocarcinoma ductal, o qual apresenta um pior prognóstico. O tumor de próstata mais agressivo, no entanto, é o tumor de pequenas células. Tumores de bexiga podem também se alojar na próstata, porém são menos comuns. O adenocarcinoma multifocal corresponde a 95% dos cânceres de próstata, enquanto os outros 5% correspondem a sarcomas, linfomas e carcinomas uroteliais. Morfologia A maioria dos cânceres de próstata é composta por adenocarcinomas moderadamente diferenciados que produzem glândulas bem definidas. As glândulas são geralmente menores que as benignas e são revestidas por uma única camada uniforme de epitélio cúbico ou colunar baixo, perdendo a camada de células basais observadas nas glândulas benignas. Um contraste adicional em relação às glândulas benignas é que as malignas estão mais aglomeradas e caracteristicamente não apresentam ramificação e projeção papilar. O citoplasma das células tumorais varia de uma aparência pálida-clara (como nas glândulas benignas) à anfofílica distinta (roxo-escuro). Os núcleos apresentam aumento de tamanho e frequentemente contêm um ou mais nucléolos proeminentes. Alguma variação no tamanho e na forma nuclear é comum, mas, em geral, o pleomorfismo não é acentuado. Figuras de mitose são incomuns. Em graus crescentes, estruturas glandulares irregulares, glândulas cribriformes e lâminas de células ou células infiltrantes individuais estão presentes. Quadro clínico A maioria dos pacientes com neoplasia de próstata é assintomática. Entretanto, em casos de invasão uretral, podem ocorrer sintomas obstrutivos, como hesitação urinária, diminuição do jato urinário, bem como esvaziamento incompleto da bexiga. Além disso, podem apresentar sintomas irritativos, como urgência urinária, disúria e até mesmo incontinência. Quando há envolvimento da uretra prostática e do trígono vesical, é comum a presença de hematúria. Cerca de 70% a 80% dos cânceres da próstata originam- se nas glândulas externas (periféricas) e, por isso, podem ser reconhecidos como nódulos irregulares e duros no exame de toque retal. A minoria dos carcinomas é descoberta inesperadamente durante SP2 2 “Eu hein... Nem pensar!” um exame histopatológico do tecido removido de uma HPB, por meio de ressecção transuretral. Os cânceres avançados localmente se infiltram na vesícula seminal e nas zonas periuretrais da próstata e podem invadir os tecidos moles adjacentes, a parede da bexiga urinária ou (menos comumente) o reto. Metástases ósseas, particularmente no esqueleto axial, são frequentes nos estágios avançados da doença e tipicamente causam lesões osteoblásticas (produtoras de ossos) que podem ser detectadas em uma cintilografia óssea. RASTREAMENTO DE DIAGNÓSTICO Em relação aos métodos de rastreamento bem como no diagnóstico em pacientes com sintomas inicias da doença, estes consistem primordialmente em 2 exames principais: a dosagem de PSA (Antígeno Prostático Específico) e o exame de toque retal, em que o médico através do exame digital consegue avaliar possíveis anormalidades da superfície da glândula próstatica. O diagnóstico de certeza do câncer da próstata é feito pelo estudo histopatológico do tecido obtido pela biópsia da próstata, que deve ser considerada sempre que houver anormalidades no toque retal ou na dosagem do PSA. O relatório anatomopatológico deve fornecer a graduação histológica do sistema de Gleason, cujo objetivo é informar sobre a provável taxa de crescimento do tumor e sua tendência à disseminação, além de ajudar na determinação do melhor tratamento para o paciente. Na graduação histológica, as células do câncer são comparadas às células prostáticas normais. Quanto mais diferentes das células normais forem as células do câncer, mais agressivo será o tumor e mais rápida será sua disseminação. PSA O PSA que, embora como explicitado em seu nome é específico da próstata, não é específico para tumores, o que faz com que possa estar aumentado em situações benignas como infecções (prostatite) e na hiperplasia prostática benigna (HPB); tal antígeno é encontrado no sêmen e em menor quantidade no sangue. Sua quantificação é feita na unidade de nanogramas por mililitros (ng/mL) e os níveis normais em homens sem a neoplasia encontram-se abaixo de 4 ng/mL. Ainda assim, 2 pontos devem ser levantados: O primeiro é que níveis abaixo desse número não excluem a possibilidade de o indivíduo ter câncer; O segundo é que quanto maiores os níveis de PSA no sangue há maior probabilidade de que o indivíduo possa ter câncer, entretanto, não há um valor de referência que possa confirmar tal probabilidade, mesmo que, quando o homem apresenta níveis entre 4 e 10 ng/mL há 25% de chance que o mesmo tenha o câncer e quando acima de 10 tal probabilidade salta para 50% de chance, segundo a American Cancer Society. Além de ser parte fundamental no diagnóstico da neoplasia, o nível sérico do PSA pode ser útil na estratificação do risco da doença (baixo, médio e alto risco) e ainda tem um importante papel no acompanhamento da resposta às diferentes modalidades terapêuticas como a cirurgia, a radioterapia e terapia de bloqueio hormonal (pesquisa de recidiva bioquímica da doença). Sistema de Gleason No sistema de Gleason, os tumores são classificados de acordo com a diferenciação celular de 1 a 5, sendo grau 1 o mais bem diferenciado e grau 5, o mais indiferenciado (a forma mais agressiva). O escore final de Gleason é dado pela soma dos graus do padrão primário (predominante) e secundário (segundo grau histológico mais comum). Dessa forma, as neoplasias mais bem diferenciadas seriam escore 2 (1+1) e as mais indiferenciadas 10 (5+5). Os tumores com escores 2 a 4 são bem diferenciados, os de 5 a 7 são moderadamente diferenciados e os de 8 a 10 são tumores indiferenciados. Em termos práticos, raramente há neoplasias escore 2, 3, 4 e 10 no momento do diagnóstico. Grau 1 – As células são, geralmente, uniformes e pequenas e formam glândulas regulares, com pouca variação de tamanho e forma, com bordos bem definidos, densamente agrupadas, distribuídas homogeneamente e com muito pouco estroma entre si. Grau 2 – As células variam mais em tamanho e forma e as glândulas, ainda uniformes, mostram-se frouxamente agrupadas e com bordos irregulares. Grau 3 – As células variam ainda mais em tamanho e forma, constituindo glândulas muito pequenas, uniformes, anguladas ou alongadas, individualizadas e anarquicamente espalhadas pelo estroma. Podem formar também massas fusiformes ou papilíferas, com bordas lisas. Grau 4 - Muitas das células estão fusionadas em grandes massas amorfas ou formando glândulas irregulares, que são distribuídas anarquicamente, exibindo infiltraçãoirregular e invadindo os tecidos adjacentes. As glândulas podem apresentar, ainda, células pálidas e grandes, com padrão hipernefróide. Grau 5 – Tumor anaplásico. A maioria das células estão agrupadas em grandes massas que invadem os órgãos e tecidos vizinhos. As massas de células podem exibir necrose central, com padrão de comedocarcinoma. Muitas vezes, a diferenciação glandular pode não existir: padrão de crescimento infiltrativo tipo cordonal ou de células soltas. Para se obter o escore total da classificação de Gleason, que varia de 2 a 10, o patologista gradua de 1 a 5 as duas áreas mais frequentes do tumor e soma os resultados. Quanto mais baixo é o escore de Gleason, melhor será o prognóstico do paciente. Escores entre 2 e 4 significam que o câncer provavelmente terá um crescimento lento. Escores intermediários, entre 5 e 7, podem significar um câncer de crescimento lento ou rápido e este crescimento vai depender de uma série de outros fatores, incluindo o tempo durante o qual o paciente tem o câncer. Escores do final da escala, entre 8 e 10, significam um câncer de crescimento muito rápido. Gleason de 2 a 4 – existe cerca de 25% de chance de o câncer disseminar-se para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. Gleason de 5 a 7 - existe cerca de 50% de chance de o câncer disseminar-se para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. Gleason de 8 a 10 - existe cerca de 75% de chance de o câncer disseminar-se para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. Devido à característica multifocal da doença, são encontrados, geralmente, pelo menos 2 graus distintos na amostra de biópsia, e a soma dos dois padrões encontrados gera a pontuação final, caracterizando o escore de Gleason. Se três ou mais padrões diferentes são encontrados na mesma amostra, utiliza-se os dois padrões mais frequentes (dominante/primário e subdominante/secundário) para somatório. Se existir um padrão menos diferenciado (com grau maior) em uma amostra com outros 2 padrões mais diferenciados predominantes, deve-se fazer uma observação no laudo anatomopatológico descrevendo esse padrão. Quando apenas um padrão é encontrado, duplica-se o grau para o escore. Assim, o Gleason varia de 2 a 10. Atualmente, utiliza-se o sistema de classificação prognóstica elaborado pela Sociedade Internacional de Patologia Urológica (ISUP), que leva em consideração que tumores com a mesma pontuação podem possuir comportamentos biológicos distintos e a partir disso tem como objetivo refinar a capacidade prognóstica do Gleason. Um Gleason de 7 pode ser 4 + 3 ou 3 + 4, sendo o primeiro mais agressivo devido seu predomínio de um tecido mais indiferenciado, mas a pontuação se mantém a mesma. Biopsia Para diagnóstico definitivo é necessária a biópsia do órgão. A maior parte dessa neoplasia maligna envolve tumores de origem epitelial e carcinomas; mais raramente encontram-se os de linhagem mesenquimal (como os sarcomas) e os de linhagem hematolinfoides (linfomas). A técnica é realizada com exame microscópico e os fragmentos retirados são coradas com hematoxilina e eosina. Nesta mesma avaliação podem ser detectados marcadores específicos na imunohistoquímica (em que são detectados anticorpos contra a membrana basal), o que auxilia na identificação se tratase de um tumor primário do órgão ou de uma metástase, como também auxilia na terapêutica que será proposta. A biópsia, normalmente, é realizada com a avaliação da região por via da ultrassonografia transretal. O exame de imagem auxilia o urologista sobre o método do procedimento bem como a área que será biopsiada. Há alguns anos, a Ressonância Nuclear Magnética (RNM) vem sendo utilizada principalmente após a biópsia da próstata para auxiliar o urologista sobre a extensão da doença antes da cirurgia ou para orientação em relação ao delineamento para realização de radioterapia. Atualmente, a EAU (Associação Europeia de Urologia) e a NCCN (National Comprehensive Cancer Network) recomendam o exame antes de realizar a biópsia, diante da suspeita de câncer de próstata, sobretudo com biópsias prévias negativas. Entretanto, o exame pode ser útil também em determinadas situações como: na pré-biópsia, em que há a capacidade do método em detectar o câncer de alto grau e grande volume, diferenciando-o de um indolente, como também descartar a presença de neoplasia no órgão. Possuindo, então, grande importância clínica, pois é capaz de auxiliar sobre a necessidade de realizar a biópsia o mais breve possível, ou não – poupando o paciente de um procedimento invasivo. ESTADIAMENTO O estadiamento TNM é uma forma de identificar o estágio do câncer com base no tumor (T), acometimento linfonodal (N) e metástases à distância (M). O estadiamento T do TNM ainda é dividido em estadiamento clínico e patológico. O clínico é baseado no exame físico (toque retal), biópsia guiada por ultrassonografia transretal (TRRE) ou em exames de imagem, particularmente a varredura óssea e a ressonância magnética. É de grande importância na avaliação do risco da doença, assim como na recomendação do tratamento. O estadiamento patológico T é feito com base no exame histológico da amostra de ressecção cirúrgica após prostatectomia radical. Pacientes não submetidos a essa intervenção não terão um estadiamento patológico definido e as decisões de tratamento serão baseadas no estágio clínico. O estadiamento clínico pode subestimar ou superestimar a extensão da doença quando comparado com os resultados baseados no exame patológico de uma amostra de ressecção. a) Estadiamento clínico T Esse estadiamento fornece a base para decisões iniciais sobre extensão das opções de avaliação e tratamento. É classificado em: b) Estadiamento patológico T É uma avaliação mais precisa da extensão da doença em pacientes submetidos a prostatectomia radical. É classificado em: c) Estadiamento N Determinação do acometimento linfonodal. Classificado em três tipos: d) Estadiamento M Determinação de metástases à distância. Classificado em: FATORES DE RISCO O câncer de próstata é a segunda neoplasia mais comum no sexo masculino em todo o mundo, excluindo os tumores de pele (carcinomas basocelular e espinocelular), com uma estimativa de 1.100.000 casos anuais e levando à mortalidade aproximada de 307 mil homens. No Brasil, dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimam 65.840 casos novos de câncer de próstata para cada ano do triênio 2020-2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de 62,95 casos novos a cada 100 mil homens. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata ocupa a primeira posição no país em todas as Regiões brasileiras, com um risco estimado de 72,35/100 mil na Região Nordeste; de 65,29/100 mil na Região Centro-Oeste; de 63,94/100 mil na Região Sudeste; de 62,00/100 mil na Região Sul; e de 29,39/100 mil na Região Norte. Mais do que qualquer outro tipo, é considerado um câncer da terceira idade, já que cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas taxas de incidência no Brasil pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos (exames), pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento na expectativa de vida. Alguns fatores de risco são conhecidos, como idade, história familiar, alterações genéticas e dieta rica em gordura. Há uma relação com etnia (negros apresentam mais risco, enquanto asiáticos, menos risco), mas essa diferença parece estar associada a fatores hormonais, dietéticos, socioeconômicos e perfis genéticos dessas populações. O que aumentao risco? A idade é um fator de risco importante, uma vez que tanto a incidência quanto a mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos. Pai ou irmão com câncer de próstata antes dos 60 anos, podendo refletir tanto fatores genéticos (hereditários) quanto hábitos alimentares ou estilo de vida de risco de algumas famílias. Excesso de gordura corporal aumenta o risco de câncer de próstata avançado. Exposições a aminas aromáticas (comuns nas indústrias química, mecânica e de transformação de alumínio) arsênio (usado como conservante de madeira e como agrotóxico), produtos de petróleo, motor de escape de veículo, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), fuligem e dioxinas estão associadas ao câncer de próstata. Classificação dos grupos de risco Para dividir os pacientes com câncer de próstata em diferentes grupos prognósticos e auxiliar na escolha do https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-prostata melhor tratamento, algumas classificações de risco foram propostas, sendo a mais utilizada atualmente a do National Comprehensive Cancer Network (NCCN), que é definida da seguinte maneira (Tabela 3): TRATAMENTO A escolha do tratamento para um paciente depende de uma decisão informada desse, incorporando conhecimento sobre risco e benefícios potenciais associados a cada abordagem, além de preferências pessoais. As opções básicas relacionadas ao tratamento de adenocarcinoma, o tipo mais comum, corresponde a vigilância ativa, radioterapia por feixe externo (EBRT) com ou sem braquiterapia, prostatectomia radical e terapias hormonais adjuvantes. As recomendações gerais para tratamento determinam que uma expectativa de vida de, pelo menos, 10 anos deve ser garantida com a intervenção. Caso a expectativa seja < 10 anos, a conduta é de espera vigilante, acompanhando a progressão da doença e fornecendo tratamento paliativo para as queixas do paciente, a fim de promover uma melhor qualidade de vida para esse. Quando a expectativa de vida com o tratamento seja ≥ 10 anos, o tratamento vai se basear no risco do paciente. As possíveis intervenções são descritas abaixo: a) Vigilância ativa A vigilância ativa visa evitar tratamento desnecessário em homens com câncer de próstata clinicamente localizado que não necessitam de tratamento imediato, mas, ao mesmo tempo, atingem o momento correto para o tratamento curativo naqueles que eventualmente o fazem. Os pacientes permanecem sob vigilância rigorosa por meio de programas de vigilância estruturados com acompanhamento regular. O PSA deve ser acompanhando a cada 6 meses, o toque retal a cada 12 meses e RM e biópsias a cada 2 a 5 anos. b) Espera vigilante A espera vigilante refere-se ao tratamento conservador de pacientes considerados inadequados para o tratamento curativo desde o início, e os pacientes são vigiados pelo desenvolvimento de progressão local ou sistêmica com queixas (iminentes) relacionadas a doenças, em que estágio são tratados paliativamente de acordo com seus sintomas. c) Prostatectomia radical A prostatectomia radical (PRR) consiste na ressecção completa da próstata, incluindo a uretra prostática, das vesículas seminais e ampolas dos ductos deferentes, associada ou não a realização de linfadenectomia bilateral. É uma cirurgia que começou a ser realizada no início do século, mas que só foi aprimorada na década de 1980, com o melhor conhecimento anatômico da vascularização e inervação da pelve masculina, melhorando os resultados patológicos e funcionais, e colocando-a como uma opção ao tratamento do câncer de próstata localizado. Ainda hoje, é considerada o tratamento padrão-ouro para o câncer de próstata localizado, sem evidência de que outros tratamentos sejam mais eficazes no controle da doença e no desfecho de mortalidade. Além disso, a prostatectomia radical mostra um benefício significativo sobre o não tratamento dos pacientes com câncer de próstata, sendo o único método de tratamento avaliado por ECR para tumores localizados que reduz a progressão para metástases e a mortalidade. A abordagem cirúrgica pode ser por via retropúbica, perineal ou laparoscópica (pré-peritoneal ou trans- peritoneal), assistida ou não por robô. A via perineal é usada por alguns cirurgiões, mas possui a desvantagem de não poder acessar linfonodos pélvicos, além de cursar com maiores riscos de complicações e lesões retais. A abordagem retropúbica ainda é a mais utilizada, com ótimo controle tumoral. A laparoscópica é também uma técnica empregada, porém seu uso não alcançou um grande número de adeptos, devido às dificuldades técnicas e grande curva de aprendizado para sua melhor realização. Na tentativa de tornar a prostatectomia mais acessível para os cirurgiões não laparoscopistas e melhorar os resultados cirúrgicos, surgiu a prostatectomia radical robótica, técnica de alto custo de realização e que se encontra ainda em fase de absorção e disseminação no Brasil. Uma revisão sistemática de ensaios clínicos, a grande maioria não randomizados e retrospectivos, mostrou uma menor perda sanguínea e de necessidade de transfusão com os métodos não invasivos (laparoscopia), mas não encontrou diferenças em termos de resultados oncológicos (margens cirúrgicas), nem resultados funcionais (continência e potência), apesar da recuperação funcional ocorrer de maneira mais precoce nos pacientes submetidos à prostatectomia assistida por robô. Outro estudo comparou os métodos minimamente invasivos com a cirurgia aberta, mostrando menores complicações perioperatórias e menos tempo de hospitalização a favor da cirurgia minimamente invasiva, porém com maior número de esclerose de colo vesical e maior necessidade, com os métodos minimamente invasivos, de terapias de resgate. Os estudos que compara a cirurgia aberta retropúbica com as cirurgias minimamente invasivas mostram que pacientes submetidos a prostatectomia minimamente invasiva tem uma hospitalização mais curta, menores taxas de transfusão e de complicações respiratórias e cirúrgicas e menos estreitamentos de anastomose; entretanto, apresentam maior risco de incontinência e disfunção erétil. Uma meta-análise demonstrou que a prostatectomia assistida por robô apresenta menores taxas de sangramento e necessidade de transfusão do que a técnica aberta, e o risco de transfusão é menor em relação a prostatectomia radical videolaparoscópica. Portanto, devido a escassez e precariedade das evidências disponíveis, não se pode afirmar qual dessas técnicas apresenta os melhores resultados do ponto de vista de controle tumoral e funcionalidade geniturinária. Quanto à realização de linfadenectomia, se considera que é indicada nos casos de pacientes com doença de risco intermediário a alto. A mesma deve ser sempre extendida, não havendo papel para a linfadenectomia limitada. d) Radioterapia A radioterapia do câncer de próstata localizado inclui diversos tipos (externa e interna ou braquiterapia – com o uso de implante radioativo permanente ou temporário), técnicas de radioterapia externa (convencional ou tridimensional – conformada, de intensidade modulada, guiada ou não por imagem durante o tratamento) e interna (de baixa taxa de dose, de alta taxa de dose) e formas de aplicação (isolada ou combinada). Radioterapia externa hipofracionada e ultrahipofracionada, radioterapia estereotática (radiocirurgia fracionada) e planejamento em tempo real (intraoperatório) necessitam de estudos consistentes para que se possa estabelecer como uma boa prática terapêutica do câncer de próstata. A radioterapia externa é uma das opções de tratamento do câncer de próstata clinicamente localizado e pode ser indicada para todos os três grupos prognósticos de D’Amico, isolada ou em associaçãocom hormonioterapia, conforme o estadiamento, e, como já mencionado, pode ser aplicada por meio de diversas técnicas. Os volumes-alvo de tratamento são a próstata, ambas vesículas seminais e os linfonodos pélvicos. A identificação dos pacientes que se beneficiarão da radiação de linfonodos pélvicos é controversa e pode ser considerada nos casos de pacientes de risco alto. Os órgãos sob risco de toxicidade tardia são, principalmente, o reto, a bexiga e em menor proporção as cabeças femorais. A dose padrão por fração é de 1,8 a 2 Gray (Gy), totalizando 70-74 Gy, dividida em 5 frações por semana durante 7 a 8 semanas. A escalada de dose é cada vez mais proposta e corresponde a uma dose de 76 a 80 Gy ou mais. Esta dose elevada somente é possível (com toxicidade aceitável) pelo uso de técnicas de radioterapia conformada. A distribuição de dose é validada antes do tratamento qualitativamente pela visualização de curvas de isodose sobre a TC e quantitativamente por meio de histogramas dose- volume para cada um dos orgãos de interesse. Ficou demonstrado que o risco de morbidade a longo prazo é diretamente relacionado com a dose de radiação recebida por cada órgão. A braquiterapia do câncer de próstata pode ser de baixa taxa de dose (BBTD) ou de alta taxa de dose (BATD), e de uso isolado (em casos selecionados de baixo risco de recidiva) ou associado a radioterapia externa (em casos selecionados de risco intermediário ou alto), sendo ainda pendente de estudos se deve ser apliacada em todos os casos de risco intermediário. A BBTD consiste no implante definitivo e de uma só vez de fontes radioativas (sementes de iodo 125 ou de paládio 103). Por possuírem fraca energia, essas fontes permitem uma irradiação pouco penetrante, além da posição da semente (fraca irradiação retal e vesical, contrariamente à radioterapia externa), mas tendo o inconveniente de não tratar além da cápsula (sendo aplicável, assim, ao tratamento dos tumores estritamente intracapsulares, portanto pouco avançados). Tem como vantagem o fato de que o tratamento é concluído em um dia e que suas taxas de controle do câncer parecem ser comparáveis às da cirurgia para tumores de baixo risco. As sementes são inseridas sob anestesia geral ou raquianestesia, ficando o paciente hospitalizado pelo menos na noite seguinte pelo risco de retenção urinária. O principal órgão sob risco de toxicidade é a uretra e, em menor proporção, o reto. A braquiterapia com implantes radioativos permanentes como monoterapia é uma opção exclusiva para pacientes de risco baixo selecionados, com doença localizada (cT1-T2a N0M0), pouco agressiva (escore de Gleason até 6, PSA até 10 ng/mL), com baixo volume tumoral (menos de 50% dos fragmentos da biópsia), próstata de baixo volume (menos de 60 cm3), e pacientes cuja auto-avaliação pelo questionário do International Prostate Symptom Score (IPSS) seja pontuada até 12 (ou seja, que tenham sintomas miccionais moderados). A BATD consiste da introdução transperineal de cateteres guiada por ultrassonografia, após planejamento por TC. Por controle remoto, as unidades do radioisótopo (irídio 192) são liberadas através dos cateteres, e altas doses (de 4-6 Gy) são administradas durante intervalos de 24-36 horas. A BATD oferece várias vantagens sobre outras técnicas: a otimização da dose na próstata, reduzindo o potencial de subdose nas chamadas áreas frias (cold spots); redução de exposição à radiação da equipe envolvida no procedimento, quando comparada à BBTD; e maior eficácia tumoricida radiobiológica nos casos de volume tumoral maior ou fatores prognósticos adversos, tanbém comparativamente à BBTD. A radioterapia pode ser dividida em externa e intersticial (braquiterapia). A radioterapia externa (RXT) é uma ótima opção para o tratamento da doença localizada. Também pode ser indicada para pacientes que tenham contra-indicação à cirurgia. A dose de RXT mínima sobre a próstata deve ser de 72 Cy, respeitando-se a tolerância dos tecidos normais adjacentes. Apresenta como possíveis complicações: alterações gastrointestinais e cistite actínica. A braquiterapia intersticial permanente com sementes radioativas está indicada isoladamente aos pacientes com bom prognóstico (T1-T2a, PSA < 10 ng/ml, Gleason < 7) ou complementar à radioterapia externa para casos de pior prognóstico. Deve ser evitada nos casos de tumores volumosos ou submetidos previamente à ressecção prostática transuretral ou à prostatectomia convencional e em próstatas menores que 20 g. A braquiterapia intersticial de alta taxa de dose, em combinação com a RXT de megavoltagem também pode ser utilizada no tratamento de tumores localizados. Suas possíveis complicações são: incontinência urinária, disfunção erétil e estenose de uretra ou colovesical. e) Quimioterapia O uso da quimioterapia do câncer de próstata restringe-se ao tratamento da doença metastática avançada, refratária a hormonioterapia, e seu início normalmente está indicado quando tais pacientes tornam-se sintomáticos, ressaltando-se que, quando indicada a quimioterapia, a hormonioterapia não deve ser suspensa. Estudos recentes têm sugerido o uso de até seis ciclos de quimioterapia paliativa concomitante a hormonioterapia como 1ª linha terapêutica do câncer de próstata, recém-diagnosticado, com grande volume tumoral (metástase visceral; quatro ou mais lesões ósseas metástases, sendo pelo menos uma fora da pelve). Para pacientes assintomáticos, a quimioterapia é experimental, restrita a ensaios clínicos. PREVENÇÃO A única forma de garantir a cura do câncer de próstata é o diagnóstico precoce. Mesmo na ausência de sintomas, homens a partir dos 45 anos com fatores de risco, ou 50 anos sem estes fatores, devem ir ao urologista para conversar sobre o exame de toque retal, que permite ao médico avaliar alterações da glândula, como endurecimento e presença de nódulos suspeitos, e sobre o exame de sangue PSA (antígeno prostático específico). As justificativas que norteiam a detecção precoce do câncer da próstata, assim como de qualquer outra topografia, é que quanto mais inicialmente a doença for diagnosticada, maiores serão as chances de cura, além de permitir um tratamento menos agressivo e mutilante. A detecção precoce do câncer da próstata poderia reduzir os altos custos decorrentes do tratamento do câncer em estádios avançados ou da doença metastática. OBJETIVO 2. CONCEITUAR METÁSTASE DO CA DE PRÓSTATA E QUAIS AS VIAS DE DISSEMINAÇÃO As metástases são implantes secundários de um tumor, as quais são descontínuas com o tumor primário e localizadas em tecidos remotos. Mais do que qualquer outro atributo, a propriedade da metástase identifica uma neoplasia como maligna. Entretanto, nem todos os cânceres têm capacidade equivalente de se metastatizar. Em um extremo, estão os carcinomas de células basais da pele e a maioria dos tumores primários do sistema nervoso central, que têm alta invasividade local, mas raramente se metastatizam. No outro extremo estão os sarcomas osteogênicos (ósseos), que normalmente se metastatizam para os pulmões no momento da descoberta inicial. A disseminação tumoral é um processo complexo e não de todo esclarecido, que pode ser dividido em cinco etapas: 1) invasão e infiltração de tecidos subjacentes por células tumorais, dada a permeação de pequenos vasos linfáticos e sangüíneos; 2) liberação na circulação de células neoplásicas, tanto isoladas como na forma de pequenos êmbolos; 3) sobrevivência dessas células na circulação; 4) sua retenção nos leitos capilares de órgãos distantes; 5) seu extravasamento dos vasos linfáticos ou sangüíneos, seguido do crescimento das células tumorais disseminadas. Ao longo de todo esse processo, fatores mecânicos e imunológicosdevem ser superados para que as células neoplásicas consigam implantar-se em um novo órgão e terem crescimento autônomo em relação ao tumor primário. As vias pelas quais o tumor dissemina são: transcavitária, linfática e sanguínea. • Disseminação transcavitária As metástases transcavitárias (ou transcelômicas) ocorrem quando células de um tumor maligno penetram alguma cavidade corporal e aí crescem e disseminam-se. Na prática, as cavidades mais afetadas são a peritoneal e a pleural, porém a pericárdica, subaracnóidea e articular podem também ser atingidas. • Disseminação linfática As metástases linfáticas são geralmente o padrão inicial de disseminação das neoplasias de origem epitelial, podendo ser utilizada por outros tipos de tumor. Elas seguem a drenagem linfática normal da área do tumor primário, ocupando os linfonodos mais próximos e que recebem maior número de vasos linfáticos aferentes. Exemplo disto é a disseminação linfática do câncer de pulmão, que invade inicialmente os linfonodos mediastinais e, em seqüência, os supraclaviculares e cervicais. O mesmo se verifica com o câncer de mama, que invade inicialmente os linfonodos axilares homolaterais, só posteriormente estendo-se aos de outras cadeias linfáticas supraclaviculares, infraclaviculares, cervicais, mediastinais e axilar contralateral. Por um tempo não determinado, é possível que os linfonodos consigam impedir a disseminação das células tumorais, pois, chegando aos linfonodos, elas entram em contato com células do sistema imunológico e, então, podem ser destruídas. De outra forma, se resistirem e encontrarem condições vitais favoráveis, poderão multiplicar-se. • Disseminação sanguínea As metástases por via hematogênica têm seu início quando células tumorais invadem os vasos sanguíneos. As veias e vênulas, por possuírem paredes mais frágeis, são mais facilmente penetradas do que artérias e arteríolas. As metástases por via arterial podem ocorrer, por exemplo, quando células metastáticas cruzam o leito capilar pulmonar, quando atravessam comunicações arteriovenosas ou quando as próprias metástases pulmonares funcionam como foco de novas células tumorais capazes de metastatizar. Em todo o organismo, os órgãos que mais são comprometidos por esse tipo de disseminação são, obviamente, os mais vascularizados: pulmão e fígado, em parte por receberem, respectivamente, grande volume de sangue procedente das circulações cava e porta, ossos e cérebro. COMO OCORRE A METÁSTASE A disseminação de tumores é um processo complexo que envolve uma série de etapas sequencias chamadas de cascata de invasão-metástase. Essas etapas consistem em invasão local, intravasamento nos vasos sanguíneos e vasos linfáticos, trânsito na vasculatura, saída dos vasos, formação de micrometástases e crescimento de micrometástases em tumores macroscópicos. Previsivelmente, essa sequência de etapas pode ser interrompida em qualquer estádio, por fatores relacionados ao hospedeiro ou ao tumor. Para fins de discussão, a cascata metastática pode ser subdividida em duas fases: (1) invasão da MEC e (2) disseminação vascular e realojamento das células tumorais. INVASÃO DA MATRIZ EXTRACELULAR (MEC) Como é bem reconhecido, os tecidos humanos são organizados em uma série de compartimentos separados por dois tipos de MEC: membrana basal e tecido conectivo intersticial. Embora organizado de maneira diferente, cada tipo de MEC é composto por colágenos, glicoproteínas e proteoglicanos. As células tumorais devem interagir com a MEC em vários estádios na cascata metastática. Um carcinoma deve primeiramente romper a membrana basal, depois atravessar o tecido conjuntivo intersticial e finalmente ganhar acesso à circulação penetrando a membrana basal vascular. Esse ciclo se repete quando êmbolos das células tumorais extravasam em um local distante. Portanto, para metastatizar-se, uma célula tumoral deve atravessar várias membranas basais diferentes, assim como negociar seu trajeto por, pelo menos, duas matrizes intersticiais. A invasão da MEC é um processo ativo que requer quatro etapas: • A primeira etapa na cascata metastática é o afrouxamento das células tumorais. Como mencionado anteriormente, as E-caderinas agem como colas intercelulares, e suas porções citoplasmáticas ligam-se à b-catenina. Moléculas adjacentes de E-caderina mantêm as células juntas; além disso, E-caderina pode transmitir sinais anticrescimento pelo sequestro de b-catenina. • A segunda etapa na invasão é a degradação local da membrana basal e do tecido conjuntivo intersticial. As células tumorais podem secretar enzimas proteolíticas por si mesmas ou induzir as células estromais (p. ex., fibroblastos e células inflamatórias) a elaborar proteases. Múltiplas famílias diferentes de proteases, como a matriz de, catepsina D metaloproteinases (MMPs) e o ativador do plasminogênio uroquinase, estão implicadas na invasão das células tumorais. As MMPs regulam a invasão não apenas por remodelamento de componentes insolúveis da membrana basal e matriz intersticial, mas também pela liberação dos fatores de crescimento sequestrados da MEC. De fato, os produtos de clivagem de colágeno e proteoglicanos também têm efeitos quimiotáticos, angiogênicos e promotores do crescimento. • A terceira etapa envolve alterações na fixação das células tumorais às proteínas da MEC. As células epiteliais normais têm receptores, como as integrinas, para laminina e colágenos da membrana que são polarizados em sua superfície basal; esses receptores ajudam a manter as células em um estado diferenciado em repouso. A perda de adesão nas células normais leva à indução da apoptose, enquanto não surpreende que células tumorais sejam resistentes a essa forma de morte celular. Além disso, a própria matriz é modificada de maneira a promover invasão e metástase. Por exemplo, a clivagem das proteínas da membrana basal, colágeno IV e laminina, por MMP-2 ou MMP-9, gera novos sítios que se ligam aos receptores nas células tumorais e estimulam a migração. A locomoção é a etapa final da invasão propelindo as células tumorais através das membranas basais degradadas e zonas de proteólise da matriz. DISSEMINAÇÃO VASCULAR E REALOJAMENTO DE CÉLULAS TUMORAIS Quando em circulação, as células tumorais são vulneráveis à destruição pelas células imunes do hospedeiro. Na circulação sanguínea, algumas células tumorais formam êmbolos por agregação e adesão aos leucócitos circulantes, particularmente plaquetas; a agregação das células tumorais proporciona, portanto, alguma proteção contra as células efetoras antitumorais do hospedeiro. A maior parte das células tumorais, porém, circula como células únicas. O extravasamento das células tumorais ou de êmbolos tumorais envolve a adesão ao endotélio vascular, seguida pela saída através da membrana basal dentro do parênquima do órgão por meio de mecanismos semelhantes àqueles envolvidos na invasão. O local de extravasamento e a distribuição das metástases no órgão geralmente podem ser previstos pela localização do tumor primário e sua drenagem vascular ou linfática. Muitos tumores metastatizam-se para o órgão que apresenta o primeiro leito capilar que encontram após entrar na circulação. Apesar da “habilidade” de escapar de seus locais de origem, as células tumorais são bastante ineficientes em colonizar órgãos distantes. Milhões de células tumorais são descartadas diariamente, mesmo as dos pequenos tumores. Essas células podem ser detectadas na circulação sanguínea e em pequenos focos na medula óssea, até em pacientes nos quais nunca se desenvolvem lesões metastáticas macroscópicas. De fato, o conceitode dormência, que se refere à sobrevivência prolongada das micrometástases sem progressão, é bem descrito no melanoma e nos cânceres de mama e de próstata. Tal tropismo do órgão pode se relacionar aos seguintes mecanismos: A expressão das moléculas de adesão pelas células tumorais, cujos ligantes se expressam de preferência no endotélio dos órgãos-alvo. A expressão de quimiocinas e seus receptores. As quimiocinas participam do movimento direcionado (quimiotaxia) dos leucócitos, e parece que as células cancerosas usam truques semelhantes no realojamento em tecidos específicos. Com base nessa observação, especula-se que o bloqueio dos receptores da quimiocina pode limitar as metástases. Depois que alcançam um alvo, as células tumorais devem ser capazes de colonizar o local. Os fatores que regulam a colonização não são completamente conhecidos. Entretanto, sabe-se que, após extravasamento, as células tumorais são dependentes de um estroma receptivo para crescimento. Portanto, em alguns casos, o tecido- alvo pode ser um ambiente não permissivo — região desfavorável, por assim dizer, ao crescimento de semeaduras tumorais. Por exemplo, embora bem vascularizados, os músculos esqueléticos raramente são o local de metástases. OBJETIVO 3. COMPREENDER DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL (HPB, PROSTATITE) - ACHADOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS QUE SUBSIDIEM A IDENTIFICAÇÃO No diagnóstico diferencial do câncer de próstata, entram as patologias que determinam elevação de PSA e/ou alteração de toque retal. As principais são hiperplasia prostática benigna (HPB) e prostatite crônica. Outras patologias menos comuns são a hiperplasia de pequenos ácinos, a hiperplasia pós- atrófica e a neoplasia intraepitelial de alto grau (PIN). Esta não é considerada doença maligna, mas aparentemente está relacionada ao câncer de próstata e, em geral, indica-se repetição da biópsia em 6 meses. A hiperplasia prostática benigna (HPB) é o tumor benigno mais comum em homens, principalmente em idosos, sendo responsável por significativa deficiência, mas é causa infrequente de morte. É uma causa extremamente comum de aumento da próstata resultante da proliferação de elementos estromais e glandulares. A próstata afetada torna-se aumentada, pesando entre 60 g e 100 g e contém muitos nódulos bem circunscritos que causam protrusão na superfície de corte. Os nódulos podem conter espaços císticos, que correspondem aos elementos glandulares dilatados, ou ser sólidos. A uretra geralmente está comprimida pelos nódulos hiperplásicos, que deixam apenas uma estreita fenda de passagem. Como a HPB envolve preferencialmente as porções internas da próstata, as manifestações mais comuns estão relacionadas com a obstrução do trato urinário inferior, frequentemente na forma de dificuldade de iniciar o fluxo de urina (hesitação) e interrupção intermitente do fluxo urinário durante a micção. Esses sintomas são frequentemente acompanhados por urgência e frequência urinárias, e noctúria, indicadores de irritação da bexiga urinária. A prostatite é dividida em três categorias: (1) prostatite bacteriana aguda (2%-5% dos casos), causada pelos mesmos organismos associados às infecções agudas do trato urinário; (2) prostatite bacteriana crônica (2%-5% dos casos), também causada por uropatógenos comuns; e (3) síndrome da dor pélvica crônica (90%-95% dos casos). Que pode ser subdividida em casos inflamatórios, que estão associados a leucócitos em secreções prostáticas, e casos não inflamatórios, nos quais os leucócitos estão ausentes. A prostatite bacteriana aguda apresenta-se com início súbito de febre, calafrios, disúria, dor perineal e obstrução da saída da bexiga urinária (bloqueio na base da bexiga); pode ser complicada pela sepse. Se houver suspeita de prostatite aguda, exame retal digital é contraindicado, pois a pressão sobre o tecido esponjoso e sensível da próstata pode causar bacteremia. A prostatite bacteriana crônica geralmente está associada a infecções recorrentes do trato urinário intercaladas por períodos assintomáticos. Pode também manifestar-se por meio de lombalgia, disúria e desconforto perineal e suprapúbico. Tanto a prostatite bacteriana aguda quanto a crônica são tratadas com antibióticos. A síndrome da dor pélvica crônica é caracterizada por dor crônica localizada no períneo, área suprapúbica e pênis. Dor durante ou após a ejaculação é um achado relevante. A etiologia é incerta, e constitui um diagnóstico de exclusão. Na verdade, nem sequer está claro se a dor está relacionada com uma anormalidade da próstata. O tratamento para a síndrome da dor pélvica crônica é empírico e depende da natureza dos sintomas. OBJETIVO 4. IDENTIFICAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS À PREVENÇÃO DE CA DE PROSTATA, RELACIONANDO AS PRINCIPAIS DIFICULDADES PARA A REALIZAÇÃO DO EXAME DE TOQUE RETAL NO AMBIENTO DE ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE Em um estudo de 2016 sobre as Políticas públicas de atenção integral a saúde do homem, foi discutido como o Programa de Atenção Integral a Saúde do Homem pode servir como uma ferramenta primordial na promoção a saúde, sabendo que ela foi criada com o objetivo de estimular essa população a procurar principalmente os serviços de prevenção. Esse estudo foi realizado com 30 homens de 20 a 60 anos e conta com algumas falas dos entrevistados e essas falas apontam as dificuldades que os homens apresentam em relação ao autocuidado, a falta de tempo para esse autocuidado, automedicação, o “eu não fico doente” e outras muitas falas. O próprio estudo relaciona esse tipo de comportamento à criação desde a infância onde o homem é motivado a suportar as dores físicas e emocionais levando a depreciação do autocuidado. Se você for pegar a cartilha de Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, lá fala um pouco disso: “Não se trata, contudo, de responsabilizar os homens ou os serviços de saúde, mas de considerar a complexa relação que se estabelecem entre ambos, tomando as particularidades de um e de outro (KNAUT et al., 2012).” O estudo ainda fala que o Programa de Atenção Integral a Saúde do Homem, ainda pouco conhecido e este fato além de outros, dificultam a participação da população masculina nesse programa.
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