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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: da primeira agressão à denúncia. Reynaldo Lobato Sousa RESUMO O presente trabalho tem como objetivo analisar a influência histórico-social na permanência da violência doméstica contra a mulher, expor as diferenças que existem entre os tipos de agressões que a pessoa do sexo feminino sofre, segundo a Lei nº 11.340/2006, além de abordar, conforme a perspectiva da psicóloga Lenore Walker (1979), o ciclo de um relacionamento abusivo. Ademais, também há possíveis soluções para os entraves que a vítima se depara ao levar seu caso aos meios legais. PALAVRAS-CHAVE: Violência doméstica. Ciclo do abuso. Lei Maria da Penha. INTRODUÇÃO Observar o contexto em que a violência doméstica contra a mulher se apresentou desde os primórdios, é fundamental para compreender o modelo que se concretizou na sociedade contemporânea acerca desse assunto. Desse modo, é inquestionável a influência que a coletividade exerce sob o homem e a mulher quanto à maneira que cada um deveria se portar. Embora, atualmente, haja muitas críticas a essa concepção deturpada de que a mulher deve ser submissa diante do homem, ainda há, infelizmente, demasiados cidadãos brasileiros que agem de acordo com os papéis pré-estabelecidos para cada um dos gêneros. Entender as diferentes formas que a violência doméstica contra a mulher se apresenta é imprescindível para estabelecer mecanismos de defesa. Dessa maneira, o primeiro passo para se proteger em situações que envolvam violência por parte do homem dirigida à mulher, é saber identificar que determinadas ações são hostis, não são brincadeiras; se naquela situação a vítima sentiu-se violentada de alguma forma – seja moralmente, psicologicamente, sexualmente ou fisicamente – saiba que não é natural. Portanto, reconhecer uma postura agressiva, bem como, distinguir qual a forma de violência que está sendo aplicada, é de suma importância para determinar os instrumentos que serão utilizados, visando à proteção da mulher. Destarte, a Lei nº 11.340/2006, batizada pelo Governo Federal como “Lei Maria da Penha”, também é abordada no presente trabalho, de maneira a mostrar o contexto que se deu esta lei, e o que ela representou, a partir do seu sancionamento, para a luta das mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Diante dessa perspectiva, buscando responder o questionamento acerca da maneira que posso fazer um direito mais justo, que alcance a todos, propus possíveis soluções para dissipar as problematizações que envolvem a busca por justiça em casos de violência doméstica contra a mulher. DESENVOLVIMENTO Em primeira instância, a violência contra a mulher, sobretudo em seu âmbito particular, infelizmente não é um acontecimento raro de ver. O histórico de dominação do homem sob a mulher não é algo hodierno, ele advém de uma construção histórico-cultural pautada na visão de submissão do sexo feminino em relação ao masculino por diversos motivos que estão entranhados em um sistema, visto pela autora Olívia Gazalé, em seu livro “O mito da virilidade: uma armadilha para os dois sexos”, como “Sistema viriarcal”, uma vez que o homem não precisa ser pai para se portar de maneira dominante, por isso o modelo patriarcal não se aplica no contexto. Gazalé ainda argumenta que tal sistema não pode ser considerado como “natural”, já que: [...] Ele se fundamenta sobre um conjunto de postulados, de crenças e de princípios, que se constroem por meio de elaborações conceituais intelectualizadas, de normas, de leis, de mitos e de símbolos, e se perpetua através das práticas sociais, relatos, tradições, ritos, mentalidades e obras. [...](GAZALÉ, 2017, p. 50). Perante a isto, pode-se dizer que os papeis pré-estabelecido a cada um dos sexos são ensinados desde a infância e se fortalecem conforme as relações em sociedade se estabelecem –seja estas dentro da própria família, entre amigos, ou em um relacionamento amoroso–. Diante desse fato, a ação do homem que subjuga a esposa, tornando-a obediente para realizar seus caprichos, ainda é vista de maneira positiva demasiadas vezes, pois tradicionalmente é esta a função da pessoa do sexo feminino, além de cuidar da casa e das crianças. Como consequência dessa visão deturpada e machista, que ainda permanece na contemporaneidade, a mulher tende a ficar mais vulnerável a sofrer diversas formas de violência. 1. DIFERENTES TIPOS DE VIOLÊNCIA A violência contra a mulher, sobretudo a doméstica, costuma aparecer de distintas maneiras, contudo há uma ilusão de que esta violência se resume a marcas físicas. Em um relacionamento abusivo, diversas são as formas que o agressor usa para depreciar, humilhar e subordinar a vítima. Por isso, é de suma importância reconhecer as formas que ela pode ser empregada. 1.1 Violência Moral De acordo com a Lei Maria da Penha (11.340/2006) todo e qualquer ato que configure calúnia, difamação ou injúria caracteriza-se como violência moral. É importante enfatizar que, conforme maior o número de pessoas que presenciam atos onde o agressor ofenda a vítima, maior será a pena, já que a desonra da mesma será maior. 1.1.1 Calúnia Esse tipo de violência contra a honra da pessoa, que se define como crime constando no art. 138 do Código Penal, consiste na ação de o agressor proferir um fato inverídico – sabendo este que é falso –, com o intuito de ferir a dignidade da vítima. Vale lembrar, que para se enquadrar nesse contexto, o fato narrado pelo agressor deve ser crime. Dessa maneira, para exemplificar, uma situação não rara em caso de violência doméstica, é a acusação improcedente de que a mulher cometeu o crime de maus-tratos contra os filhos do casal, ao se exceder na aplicação de castigo visando à “educação” da criança. 1.1.2 Difamação Difamação pode ser conceituada como um fato narrado pelo agressor, podendo ser verídico ou não, que trás desonra para a vítima e que fira a sua reputação. Diferente da calúnia, o acontecimento o qual o violentador usou para ofender a violentada, não consta nos termos legais como crime. Como exemplo, pode-se citar uma situação na qual o homem acusou a mulher no dia x, de ter o traído em uma orgia sexual. Isto não configura como crime, porém pode insultar a vítima, manchando sua reputação. 1.1.3 Injúria Diferente da calúnia e da difamação, a injúria não consiste em um fato narrado pelo agressor, e sim a situações em que o homem aponta “desqualidades” na vítima, ou dirige a ela termos carregados de xingamentos, tais como: “vagabunda”, “promíscua”, “burra”, “feia”, etc. Esse tipo de violência tende a ser mais comum de ocorrer no lar do casal, contudo, implica em uma dificuldade maior de comprovar, uma vez que, na maioria das vezes, não há testemunhas. 1.2 Violência Psicológica A violência psicológica costuma ser a mais comum durante o ciclo do abuso, e a mais difícil de ser detectada pela vítima, uma vez que ela é mais subjetiva no sentido de corresponder ao espaço íntimo do casal. Em vista disso, esse tipo de violência, de acordo com a jornalista Alessandra Nardoni Watanabe, consiste em: Violência psicológica: condutas que causem dano emocional e diminuição da autoestima da mulher, que prejudiquem o seu pleno desenvolvimento ou que visem a degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças, e decisões mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição, contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.(WATANABE, 2020: p.30-31) Um dos motivos que corrobora para a permanência desse tipo de violência são os momentos de afeto após a briga. Com isto, a vítima tende a acreditar que o agressor a ama, e que ela é a responsável por aquela discussão, pois o violentador geralmente coloca a vítima em um patamar abaixo dele, e faz com que esta se sinta inútil, culpada, e a faz a crerque pode estar ficando louca. Além disso, a mulher que sofre violência psicológica em seu lar tem dificuldade de perceber a situação arbitrária, haja vista que, seu companheiro costuma ser bem visto pelas pessoas que os acompanham, seja amigos ou família; ele mostra-se um bom marido ou namorado, que preocupa-se com a com a sua parceira, e por isso, quem olha de fora, muitas vezes não acredita que uma mulher pode estar sofrendo violência psicológica doméstica por seu cônjuge. Como resultado desse contexto, a mulher se desestabiliza e se fragiliza psicologicamente, sofre com autoestima baixa e tem tendência a desenvolver depressão e ansiedade, além de distúrbios gastrointestinais, como aponta o estudo publicado na Revista Panamericana Salud Publica. 1.3 Violência Patrimonial A violência patrimonial infelizmente pouco conhecida pelas vítimas de violência doméstica caracteriza-se, consoante a perspectiva do advogado Rodrigo da Cunha Pereira, especialista em Direito de Família e das Sucessões, da seguinte forma: [...] quando a parte econômica mais forte na relação conjugal, e na maioria das vezes após o seu fim, usa e abusa de seu poder e domínio da administração dos bens de propriedade comum, não repassando ao outro os frutos dos bens conjugais, gerando uma situação de opressão, dominação e abuso de poder sobre o outro. (PEREIRA, 2018). Dessa maneira, para exemplificar pode-se citar os seguinte atos do violentador que se enquadram na violência patrimonial contra a mulher: pedir o salário da vítima; destruição de pertences da vítima; pressionar a vítima para assinar documentos que repassam seus bens para o próprio agressor ou para terceiros; utilizar o cartão de crédito da mulher, obter dívidas e se recusar a pagar depois; em caso de separação do casal, o homem leva bens que o casal adquiriu juntos, e argumenta que a mulher não tem direito a nada, pois ela não trabalha, etc. Diante desses fatos supracitados, o indivíduo do sexo masculino (agressor) objetiva fazer com que a vítima torne-se dependente financeiramente dele, para assim, ter maior controle sob ela. 1.4 Violência Sexual Consoante à lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, popularmente conhecida como “Lei Maria da Penha”, a violência sexual consiste em: [...] qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; (BRASIL, 2006). Frente a isso, a série brasileira “Coisa mais linda” (2019), exibida pela plataforma de streaming – Netflix – em um de seus episódios retrata uma das formas que a violência sexual contra a mulher pode aparecer; em vista disso, a personagem Lígia (representada por Fernanda Vasconcellos) sofre violência sexual do marido machista, e consequentemente é estuprada. Infelizmente a realidade não está longe da ficção, visto que a incidência de mulheres que sofrem esse tipo violência praticada por seu companheiro – são forçadas a ter relações sexuais com seu parceiro, são agredidas durante o ato, são forçadas ou coagidas a fazer sexo oral ou similar, além de fazer sexo desprotegido, pois o parceiro a enganou, etc –, é alarmante. Posto isso, uma pesquisa realizada pelo Datafolha, encomendada Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) informou que mais um terço da população brasileira (33%) consideram que a vítima é culpada pelo estupro. Além disso, o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública ressaltou através da divulgação de dados que foram registrados 47.646 casos de estupro no Brasil, o que implica que a cada 11 minutos, uma pessoa é estuprada. Diante dos dados supracitados, é inegável a percepção de que o corpo feminino tornou-se algo objetificável, sendo utilizado meramente para o prazer do homem. Consequentemente, há uma naturalização da violência sexual, sobretudo, no casamento, haja vista que, a ideia de que a mulher deve satisfazer seu parceiro – quando este desejar – ainda perpassa através dos anos. 1.5 Violência Física Delegada Rosemary Corrêa – pioneira da primeira delegacia da mulher do mundo – em uma entrevista concedida à jornalista Elisangela Cavalheiro, da equipe do A12 Redação diz o seguinte a respeito da violência física contra a mulher: “[...] no primeiro momento começa com o empurrão, depois um pontapé, depois um tapa na cara. E aí vai para um momento mais sério, onde ela é lesionada barbaramente”. (CORRÊA, 2020) Em acordo com a perspectiva da delegada, pode-se dizer que este tipo de violência se dá, sobretudo, pelo uso da força física do homem contra a mulher; ou seja, ações que envolvem puxar o cabelo da vítima, sacudi-la pelo braço ou empurrá-la, atirar objetos contra a vítima e agredi-la seja no rosto, cabeça, braço, configura como violência física. Vale lembrar que este tipo de violência tem maior inclinação de evoluir para um feminicídio, uma vez que, o homem irá procurar se impor através da força física, e quando não conseguir o efeito desejado, pode recorrer à medidas drásticas, como o assassinato da mulher. A violência física crescente em termos de frequência e gravidade foi relatada em mais de 70% dos assassinatos de mulheres por parceiro íntimo ou ex-parceiro. Ou seja, a cada 10 mulheres assassinadas na condição de feminicídio, 7 possuem histórico de violência física recorrente. (WATANABE, 2020: p. 51) 2. CICLO DO ABUSO: PERSPECTIVA DE LENORE WALKER Lenore Edna Walker é uma psicóloga americana, responsável por desenvolver o conceito de “Ciclo da Violência” em seu livro “The battered woman” (tradução livre do português significa: “A mulher Maltratada)”, publicado pela Editoral Harper Perennial (1979). Seguindo essa perspectiva, a pesquisa que dá origem à teoria de Walker foi realizada com 1.500 mulheres vítimas de abuso psicológico ou físico em ambiente conjugal, no ano de 1979 e constatou que o ciclo da violência, sobretudo da doméstica, se dá em três fases: acúmulo de tensão, agressão, reconciliação. À priori, a etapa de acúmulo de tensão consiste em uma maior irritação por parte do agressor, coisas banais pode levar o homem a ter acessos de raiva. Nesse momento, ele costuma criticar, humilhar e ofender a vítima, que por sua vez sente-se receosa e aflita com a situação e por isso evita qualquer atitude que possa estressar ou provocar seu parceiro. Além disso, a vítima tende a acreditar que essa postura agressiva do homem advém de fatores externos, como o trabalho, um jogo de futebol perdido ou excesso de bebida alcoólica; ou que talvez ela tenha provocado aquilo. Por isso, o sentimento de culpa por parte da vítima também permeia esta fase. Vale ressaltar que essa aflição não tem um período exato para vigorar, por isso há grandes chances dela evoluir para a fase dois, haja vista que, a tendência dos ataques por parte do cônjuge seja aumentar sua frequência. Diante disso, a fase dois consistirá na materialização da tensão acumulada na fase um, ou seja, será nesta etapa em que o violentador concretizará um ato violento, podendo ser físico ou sexual. Consequentemente, por ser a etapa mais extrema do ciclo, a mulher geralmente fica paralisada sem saber de que forma reagir, e por isso enfrenta sentimentos de medo, ódio, vergonha, insônia, e fica propicia a desenvolver ansiedade. Por fim, chega a fase três denominada por muitas pessoas como “Lua de mel”, haja vista que, nesta fase o comportamento do homem torna-se dócil, amável e carinhoso, como uma forma de se redimir pela violência que ele cometeu com a companheira. É ainda nessa fase que costuma ocorrer as juras de amor, a promessa de que ele vai mudar, que nunca mais aquilo voltará a acontecer, etc. Por sua vez,a mulher – infelizmente – acredita nas palavras do seu cônjuge, já que ela tem a perspectiva ilusória de que ele mudou, ou que está tentando mudar. Uma vez que essa fase passe, o ciclo se reiniciará. O acúmulo de tensão retornará, consequentemente as agressões aparecerão, e logo em seguida o pedido de desculpa e a promessa de mudança. Desse modo, ficou evidente que enquanto o ciclo do abuso não for quebrado, ele permanecerá. Diante dessas evidências, fica difícil imaginar a razão pela qual a vítima opta por continuar a relação. Para responder este questionamento, o Data Popular e o Instituto Patrícia Galvão realizaram uma pesquisa no ano de 2013, com 1.501 indivíduos e constataram que o motivo para a mulher não se separar do agressor consiste, em primeiro lugar, na vergonha que a sociedade saiba que esta mulher sofre agressões, e em segundo lugar é o medo de ser assassinada, caso esta termine o relacionamento. Ademais, essa pesquisa ainda apontou que na visão dos entrevistados (40%), a mulher continua com o agressor porque acredita que ele não vai mais batê-la. 3. LEI MARIA DA PENHA A lei nº 11.340 sancionada em 7 de agosto de 2006, foi batizada pelo Governo Federal como “Lei Maria da Penha” em homenagem a luta que Maria da Penha Maia Fernandes traçou em busca de justiça, após sofrer violência doméstica e dupla tentativa de feminicídio. Em vista disso, é válido ressaltar os breves acontecimentos que procederam à criação da lei. Desse modo, a mestra em parasitologia em análises clínicas, Maria da Penha, que já se encontrava no “ciclo da violência” doméstica, no ano de 1983 foi vítima de duas tentativas de feminicídio por parte do seu então marido, Marco Antonio Heredia Viveros. A primeira tentativa consistiu em um tiro nas costas da vítima quando esta estava dormindo, deixando-a paraplégica; posteriormente houve tentativa do agressor em eletrocutá-la durante o banho. Diante desses fatos, Maria da Penha lutou por 19 anos e 6 meses para conseguir que seu caso fosse solucionado. Como resultado desta luta árdua, houve a criação de uma lei que criminaliza a violência doméstica e familiar contra a mulher. Com 46 artigos, a lei nº 11.340 estabelece mecanismos para coibir, prevenir, assistenciar e proteger as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. (BRASIL, 2006). Frente aos fatos, é inegável a importância que esta lei tem na vida das mulheres que sofrem ou já sofreram algum tipo de violência doméstica. Embora não seja o suficiente, já se caracteriza como uma grande vitória para o combate às agressões que as mulheres vêm sofrendo caladas ao longo dos anos. Portanto, para que a história de Maria da Penha, quanto aos atos banais que ela sofreu não se repitam com outras mulheres, é imprescindível que a lei seja cumprida, da melhor forma possível. CONCLUSÃO Dessarte, é importante ressaltar que a perspectiva histórico-cultural quanto a submissão da mulher perante o homem deve ser combatida, para que os diversos tipos de violência doméstica (moral, psicológica, patrimonial, sexual e física) contra a pessoa do sexo feminino não efetue-se. Ademais, é necessário quebrar, o que a psicóloga Walker chamou de “Ciclo da Violência” (1979), já que é através desse meio que o relacionamento abusivo perdura. A Lei Maria da Penha, portanto, configurou-se como uma conquista para o combate à violência doméstica contra a mulher, haja vista que, por intermédio de termos legais pôde proporcionar assistência e proteção às mulheres vítimas da violência sofrida em seu âmbito particular. Contudo, esse instrumento de luta que está presente na Constituição Federal, não é suficiente, uma vez que, é notório os demasiados entraves que cercam o cumprimento da lei nº11.340/2006, seja pela demora em efetivar a assistência às vítimas, seja pela morosidade da resolução dos casos que envolvem violência doméstica contra a mulher. Posto isso, diante da minha própria perspectiva quanto à maneira de realizar um direito mais justo que alcance a todos, é imprescindível que o Governo Federal, com a finalidade de proporcionar maior assistência jurídica às vítimas, faça uma parceria com o Instituto Maria da Penha a fim de viabilizar a criação de programas que recrutem, de maneira voluntária, advogados dispostos a auxiliar a vítima juridicamente, para que esta tenha todos os seus direitos garantidos, e assim não corra o risco de perder seus bens materiais, ou a guarda das crianças (caso o casal tenham filhos). Outrossim, é de suma importância que o Governo Federal em parceria com o Governo Estadual viabilizem meios para que os processos envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher tramitem de forma mais rápida; desse modo, a criação e/ou expansão –no maior número de cidades possíveis – de juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, caracteriza-se como uma boa alternativa para alcançar o objetivo, uma vez que, este órgão além de proporcionar assistência nas áreas psicossocial, jurídica e da saúde – já que contará com uma equipe integrada com profissionais especializados nessas áreas –, também garantirá que os processos ocorram de forma mais rápida e assim, os agressores não ficarão impunes por seus atos, em virtude da pouca agilidade que esse tipo de caso costuma tramitar. Dessa maneira, a situação que ocorreu com o processo da cidadã Maria da Penha, que demorou mais de uma década para ser resolvido, dificilmente voltará a acontecer com outras vítimas. 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