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Mecanismo de Neurotransmissão 1) Explicar os mecanismos de transmissão neuronal (sinapses químicas e elétricas, o que são e como atuam os neurotransmissores). O Tecido nervoso caracteriza-se pela capacidade de suas células comunicarem-se entre si, processando e transmitindo informação a longa distância. Essa propriedade é possível graças à existência de dois mecanismos de sinalização: a condução axônica e a transmissão sináptica. o A sinapse é o ponto de contato entre os neurônios; o As sinapses determinar as direções em que os sinais nervosos vão se distribuir pelo SN; o As sinapses executam a ação seletiva, bloqueando os sinais fracos e permitindo que os sinais fortes passem; o As sinapses são controladas por sinais FACILITADORES e INIBITÓRIOS vindo de diferentes partes do SN → Isso faz com que os neurônios transmitam o sinal para o neurônio seguinte de forma mais fácil ou com dificuldades; o Alguns neurônios pós-sinápticos respondem também com grandes números de impulsos enquanto outros respondem com apenas alguns impulsos; o As sinapses a medida em que podem bloquear um sinal fraco, também pode amplifica-lo e transmitir esses sinais para várias direções do sistema nervoso. As sinapses são responsáveis pelo armazenamento de informações (memória): o Um estimulo sensorial provoca ao mesmo tempo, uma resposta imediata e também um armazenamento desse estimulo o O estimulo armazenado servirá para mais tarde moldar atividades cognitivas e motoras o Esse armazenamento de informações ocorre devido a SINAPSE o Cada vez em que a mesma informação é repetida, a mesma sequencia de sinapse é feita e cada vez mais esse processo fica facilitado o Uma vez que ocorre esses armazenamento, essas informações se tornam parte do “mecanismo de processamento do cérebro” e será usada futuramente na forma de PENSAMENTOS: Processo cognitivo que vai comparar as novas experiencias sensoriais com as informações armazenadas Sinapses do Sistema Nervoso Central o As informações são transmitidas pelo sistema nervoso por meio de potenciais de ação denominados impulsos nervosos; o Esses impulsos nervosos são propagados por sucessão de neurônios. Funções sinápticas dos neurônios: o Ser bloqueado, na sua transmissão de um neurônio para outro; o Pode ser transformado de impulso único para impulsos repetitivos; o Pode ser integrado a impulsos vindos de outros neurônios, para gerar padrões de impulsos muito complexos em neurônios sucessivos. As sinapses podem ser elétricas ou químicas: 1) Sinapses Elétricas: o A corrente elétrica (iônica) flui diretamente do terminal pré-sináptico para o pós-sináptico através de canais de baixa resistência que unem as duas células na região de contato sináptico (junção GAP). o São encontradas no coração (discos intercalares), no músculo liso (útero) e no sistema nervoso (dendritos). o Por serem praticamente insensíveis à ação das drogas são refratárias à manipulação farmacológica, não sendo alvo de maior interesse terapêutico. o Possuem transmissão bidirecional, e por isso podem colaborar na coordenação das atividades de grandes grupos de neurônios interconectados: elas são úteis para detectar coincidência de despolarizações simultâneas dentro de um grupo de neurônios interconectados, permite aumentar a sensibilidade neural e também promover um disparo sincronizado de um grupo de neurônios interconectados. 2) Sinapses Químicas: o Se dá por meio de neurotransmissores; o Esses neurotransmissores se ligam a proteínas de membrana dos neurônios pós-sinápticos e podem causas efeito excitatório, inibitório ou modificar o modo de sensibilidade da célula. o As sinapses químicas possuem transmissão unidirecional: essa característica é importante porque faz com que os impulsos cheguem a alvos específicos. É a partir desse princípio da condução unidirecional das sinapses químicas que o sistema nervoso consegue executar suas funções motoras, sensitivas, de memorização e outras. o Os neurônios pré e pós-sinápticos não entram em contato, estando separados por uma fenda sináptica com distância entre 20 e 20 nm. O transmissor químico liberado pelo elemento pré-sináptico tem de se difundir pelo líquido extracelular da fenda até alcançar a membrana pós-sináptica e interagir com seus receptores farmacológicos para dar início à resposta pós-sináptica o Apesar da transmissão química ser um processo mais lento que a eletrônica, apresenta a vantagem do sinal pré-sináptico poder ser amplificado, permitindo que pequenos terminais pré possam ativar grandes neurônios pós- sinápticos. Dois tipos de mensageiros químicos são encontrados nos terminais pré-sinápticos: Neurotransmissor: substância química que ao interagir com seu receptor determina o aparecimento de uma potencial pós-sináptico excitatório rápido ou inibitório. Neuromodulador: substância química que ao interagir com seu receptor altera a liberação de um neurotransmissor ou altera a excitabilidade pós-sináptica facilitando ou dificultando a ativação do elemento pós-sináptico pelo neurotransmissor. Enquanto os neurotransmissores são moléculas de pequeno tamanho e peso molecular, em geral aminas ou aminoácidos, ou neuromoduladores são em sua maioria peptídeos. o No cérebro, a maior parte são sinapses químicas, mas podem existir os dois tipos em alguns neurônios; Anatomia fisiológica da Sinapse: o No final do axônio do neurônio pré-sináptico existem os terminais pré- sinápticos que serão responsáveis pela liberação dos neurotransmissores. o Esses terminais terminam na superfície do neurônio pós-sinaptico nas regiões do corpo celular (5%-20% dos terminais) e em maios parte dos dendritos. o Os neurônios motores se diferem dos neurônios encontrados de outras partes do sistema nervoso como o encéfalo e a medula em: tamanho do corpo celular; tamanho, número e comprimento de dendritos. Essas diferenças fazem os neurônios de diversas partes do SN reagirem de modo diferente aos sinais sinápticos aferentes, e por isso executam funções distintas. Terminais pré-sinápticos: o Os dois neurônios ficam separados por uma área denominada FENDA SINAPTICA, formada por um espaço entre os TERMINAIS PRÉSINAPTICOS e NEURONIO PÓS-SINAPTICOS; o No terminal sináptico os principais elementos serão as VESICULAS que carrearam os NEUROTRANSMISSORES e as mitocôndrias que são necessárias para fornecer a energia para síntese de novas vesículas o Quando há o estimulo do neurônio, a vesícula se adere a membrana do terminal pré-sináptico e libera o neurotransmissor na fenda sináptica o Os neurotransmissores vão se ligar a receptores na membrana pós- sinápticas e causar alterações de permeabilidade da membrana o As alterações de permeabilidade da membrana vão depender do tipo de neurotransmissor, no caso se ele é EXCITATÓRIO ou INIBITÓRIO → A membrana pós-sináptica possui os RECEPTORES EXCITATÓRIOS e INIBITÓRIOS que vão se ligar a esses neurotransmissores o Dependendo do tipo de neurotransmissor liberado, a sinapse vai ESTIMULAR ou INIBIR o neurônio pós-sináptico Receptores pós-sinápticos: o Os receptores pré-sinápticos eles podem ser receptores IÔNICOS (RECEPTORES IONOTRÓPICOS) e os receptores de segundos mensageiros (RECEPTORES METABOTRÓPICOS) o O neurotransmissor se liga a parte extracelular desse receptor, ativando-o e provocando mudanças nas células o A ativação desses receptores controla a abertura de canais iônicos na célula, por duas principais formas: - Controle direto dos canais iônicos, permitindo a passagem de íons específicos através da membrana; - Ativação de segundo mensageiro, que possui uma parte intracelular a qual promoverá a ativação de uma ou mais substâncias no interior do neurônio pós-sináptico. Canais Iônicos: Podem ser canais de sódio (CANAIS CATIÔNICOS +), ou canais decloreto (CANAIS ANIÔNICOS -) e outros íons → Os canais catiônicos quando ativos, permitirão a entrada de íons SÓDIO e o neurotransmissor que o abriu é denominado EXCITATÓRIO, enquanto os neurotransmissores que permitem a passagem dos ânions pela ativação dos canais aniônicos, são denominados INIBITÓRIOS – Esses canais abrem em milissegundos, e se fecham também muito rápido quando os neurotransmissores não estão mais ligados a eles Receptores Metabotrópicos: Quando ativados produzem mudanças prolongadas dos neurônios, com a duração de segundos a meses mesmo após a dissipação dos neurotransmissores → Os casos de excitação ou inibição neuronal pós-sinápticas prolongadas é realizada por meio da ativação dos segundos mensagens, isso acontece por exemplo no processo da memória → Os canais iônico não são capazes de causar essas mudanças prolongadas pois os efeitos dos neurotransmissores só presenciados enquanto estiverem ligado aos receptores Receptores Excitatório e Inibitórios: o Excitação: - Abertura dos canais de sódio: Permitem o influxo de sódio (aumento da carga) para a célula, aumentando o potencial de membrana intracelular em direção a um potencial mais positivo, desencadeando um potencial de ação - Condução reduzida pelos canais de cloreto e/ou potássio: Esse evento diminui a difusão de íons cloreto para dentro da célula (menos carga negativa entrando), ou evite que íons potássio saia para fora da célula (concentração de mais carga positiva na célula) → Isso faz com que o potencial interno de membrana fique mais positivo do que o normal, configurando portanto um efeito EXCITATÓRIO - Alterações no metabolismo do neurônio pós-sináptico: Aumenta a atividade celular, aumenta o número de receptores de membrana excitatórios ou diminuem a quantidade de receptores de membrana inibitórios o Inibição: - Abertura dos canais de cloreto na membrana pós-sináptica: Permite entrada de cloreto para dentro da célula (carga negativa), fazendo com que a membrana celular interna fique mais negativa e, portanto, tenha um caráter inibitório - Aumento na condutância de íons potássio: Abertura dos canais de potássio, aumentam a permeabilidade da membrana fazendo com que os íons potássio efluam para o meio extracelular, diminuindo a carga positiva dentro da célula, o que ocasiona um caráter inibitório - Ativação de enzimas receptoras: Diminui a atividade celular metabólica, aumenta o número de receptores inibitórios ou diminui o número de receptores excitatórios na membrana Neurotransmissores Os neurotransmissores se dividem em dois grupos: o Neurotransmissores com moléculas pequenas e de ação rápida: Induzem respostar agudas do sistema nervoso (ex: transmissão dos sinais sensoriais para o encéfalo e dos sinais motores do encéfalo para o músculo). o Neuropeptídeos (tamanho maior e ação lenta): Provocam ação mais prolongada, como mudanças a longo prazo do número de receptores neuronais, abertura ou fechamento por longos períodos de canais iônicos e mudanças a longo prazo do número ou dimensão das sinapses. Neurotransmissores de moléculas pequenas e ação rápida: o Devem estar no interior do neurônio pré- sináptico: são produzidos no citosol do terminal pré-sináptico e entram nas vesículas sinápticas por meio de transporte ativo. A substância deve ser liberada em resposta a estimulação pré-sináptica. o A substância deve ter receptores específicos na membrana pós-sinaptica e um mecanismo de remoção da fenda. o Cada vez que o potencial de ação atinge a membrana pré-sináptica, não é liberado de uma só vez todas as vesículas. o A ação do neurotransmissor ocorre muito rápida, e geralmente seu principal efeito é de aumentar ou diminuir a condutância dos canais iônicos → Aumento da condutância ao sódio, provocando excitação ou aumento da condução do cloreto ou potássio, causando um efeito inibitório. o As vesículas são RECICLADAS → Quando liberam seu conteúdo, passam a fazer parte da membrana celular e com o passar do tempo, a vesícula se destaca da membrana e é usada novamente para armazenar o neurotransmissor. 2) Entender a fisiopatologia da depressão (mecanismo neurobiológico). Definição o Tristeza, melancolia, angústia, infelicidade são sentimento próprios da existência humana. o Quando esses sentimento se “acumulam”, começam a ficar intensos, duradouros e trazem prejuízos, estamos diante da depressão. o A depressão ocorre nos casos quadros unipolares e bipolares. o É uma doença de expressão clínica completa particularmente o humor: acomete o individuo em sua totalidade, provocando sensação de desconforto e sofrimento o A depressão causa sintomas físicos como: Sensação de fadiga/cansaço; lentificação geral; perturbação do sono, perda de peso e diminuição das apetências Epidemiologia o Prevalência e incidência variáveis, mas universalmente encontrada e descrita há milênio. - Prevalência atual: 8% a 16,8% na população geral. - Incidência pode chegar a 30% em um ano. - 2x mais prevalente em mulheres. o Início normalmente entre 20 e 40 anos (média de 29anos). o Pode ocorrer em qualquer idade. o Após o primeiro episódio, o paciente tem cerca de 50% de chance de ter um segundo. Após o segundo episódio, a chance de recorrência é de cerca de 70% e, após o terceiro episódio, 90%. o A medida que a doença progride, o intervalo entre os episódios diminui e a gravidade aumenta. o Para evitar recaídas, não se suspende a medicação logo após remissão, mantendo por mais tempo a depender do quadro. o É a maior causa de anos vividos com incapacidade e uma das três principais causas de anos de vida perdidos. Etiologia e Fisiopatologia o Etiologia multifatorial: questões pessoais e psicológicas + questões biológicas e genéticas + questões ambientais e ocorrências da vida. o Teorias: questões hormonais (alterações de eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e tireoidianos), hipóteses relacionadas à inflamação e citocinas, questões genéticas e epigenéticas, teorias ambientais, formação da personalidade e ocorrências de vida, alterações de rirmos biológicos e uso de substâncias psicoativas o Teoria neurobiológica, que baseias os tratamentos atuais (teoria monoaminérgica): via final comum da depressão seria alteração dos neurotransmissores serotonina, dopamina e noradrenalina. o A teoria que marcou a era moderna da psicofarmacologia na psiquiatria foi a teoria conhecida como “monoaminas da depressão”, que caracteriza a depressão como uma diminuição dos níveis de monoaminas disponíveis ao Sistema Nervoso Central (SNC), como a dopamina, noradrenalina e a serotonina. Esta teoria permaneceu como a mais aceita por décadas, sendo elaborados medicamentos baseados na maior disponibilização dessas monoaminas ao SNC. Baseando-se nisso é que foram criados os Inibidores da Monoaminoxidase (IMAO), representados pela tranilcipromina e moclobemida; e os Antidepressivos Tricíclicos (ACTs), representados pela amitriptilia e imipramina, sendo que o primeiro atua na inibição da oxidação de monoaminas e o segundo atuando através da inibição dos transportadores que recaptam as monoaminas, aumentando sua concentração nas fendas sinápticas. Essas classes de fármacos já existem há mais de 60 anos e o uso destes vêm diminuindo com a descoberta de novos fármacos. o Com o passar do tempo surgiram outros de mecanismos mais específicos e efeitos adversos reduzidos, atuando em sua grande maioria na inibição da recaptação das monoaminas, a exemplo dos Inibidores da Recaptação Seletiva da Serotonina (ISRS), como a fluoxetina e sertralina e os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (ISRSNs) como a duloxetina e venlafaxina; que têm como principal avanço sua seletividade em relação ao neurotransmissor recaptado. Isto reduz os efeitos adversos, quepassaram a ser um obstáculo ao uso dos ACTs, frente a ação em outros receptores de aminas biogênicas (histamina, dopamina acetilcolina), provocando casos de sedação, hipotensão ortostática, prejuízo cognitivo, sedação e boca seca. Os IMAOs também apresentavam uma série de efeitos indesejados e potencialmente perigosos como crises hipertensivas e síndrome serotoninérgica, acarretando uma baixa adesão a estas duas classes de fármacos. Os inibidores de recaptação seletivos, apesar do perfil de segurança melhor, também possuem efeitos adversos comuns (menos nocivos à saúde), como impotência sexual, perda de libido, náusea, perda de apetite, cefaleia e insônia. o Passados décadas, esta teoria recebeu diversas adaptações. A mais nova teoria em questão é a de que em vez de derivar de defeitos primários na sinalização de monoaminas, a depressão pode resultar de experiências de vida estressantes que causam danos neuronais substanciais e consequentes defeitos no processamento cerebral. Portanto, por mais que as monoaminas continuem tendo seu efeito fisiopatológico na depressão, as causas de origem passam a ser de domínio comportamental, exigindo, dessa forma, não somente a farmacoterapia, como também tratamentos psicoterapêuticos. 3) Compreender a ação dos antidepressivos (no processo de neurotransmissão) e as vias alternativas (psicoterapia e outros se houverem). Ação dos Antidepressivos o Antidepressivos Inibidores da Monoaminooxidade (IMAOs): O mecanismo de ação dos IMAOs foi pouco estudado e ainda não está totalmente esclarecido.Sabe-se que a atividade da enzima monoaminoxidase (MAO) está inibida. Os subtipos da MAO, A e B, estão envolvidos no metabolismo de serotonina, noradrenalina e dopamina. Isocarboxazida, fenelzina e tranilcipromina são IMAOs não seletivos que se ligam de forma irreversível às MAOs A e B. A redução na atividade da MAO resulta em aumento na concentração desses neurotransmissores nos locais de armazenamento no sistema nervoso central (SNC) e no sistema nervoso simpático. O incremento na disponibilidade de um ou mais neurotransmissores tem sido relacionado à ação antidepressiva dos IMAOs. A inibição não seletiva dos IMAOs fenelzina, isocarboxazida e tranilcipromina resulta em subsensibilização de receptores a2- ou b-adrenérgicos e de serotonina. Possivelmente as mudanças nas características dos receptores produzidas pela administração crônica de IMAOs se correlacionam melhor com a atividade antidepressiva do que o aumento na atividade do neurônio secundária ao aumento na concentração de neurotransmissores, e pode explicar a demora para início da ação terapêutica. o Antidepressivos Tricíclicos (ADT’s): O mecanismo de ação comum aos antidepressivos tricíclicos em nível pré-sináptico é o bloqueio de recaptura de monoaminas, principalmente norepinefrina (NE) e serotonina (5-HT), em menor proporção dopamina (DA). Aminas terciárias inibem preferencialmente a recaptura de 5-HT e secundárias a de NE. Atualmente se considera não haver diferenças significativas quanto à seletividade do bloqueio de recaptura pré-sináptico. A atividade pós-sináptica varia de acordo com o sistema neurotransmissor envolvido e geralmente é responsável pelos efeitos colaterais. Os ADTs bloqueiam receptores muscarínicos (colinérgicos), histaminérgicos de tipo 1, a2 e b-adrenérgicos, serotonérgicos diversos e mais raramente dopaminérgicos. Essas ações não se correlacionam necessariamente com efeito antidepressivo, mas com efeitos colaterais. O bloqueio do receptor 5-HT1 contribuiria para o efeito terapêutico. Contudo, esta ação aguda dos antidepressivos no sistema de transmissão monoaminérgica, por si só, não explicava a demora para o início da ação antidepressiva, observável clinicamente após duas semanas de uso. Estudos recentes das vias receptoras pós-sinápticas e de mensageiros secundários, assim como da expressão genética, podem desempenhar papel importante na elucidação das mudanças que ocorrem a longo prazo no funcionamento cerebral resultante da utilização crônica de antidepressivo Embora o mecanismo de ação exato não tenha sido totalmente elucidado, sabe- se que os ADTs promovem agudamente aumento na eficiência da transmissão monoaminérgica (e possivelmente GABAérgica), envolvendo os sistemas noradrenérgico e serotoninérgico através do aumento na concentração sináptica de norepinefrina e serotonina por bloqueio de recaptura.3 Cronicamente os ADTs dessensibilizam receptores b1 adrenérgicos, serotonérgicos 5-HT2 e provavelmente 5-HT1A no sistema nervoso central. Sistemas mensageiros secundários estão envolvidos nessas mudanças. AMP cíclico, cálcio, diacilglicerol e fosfolípides estimulam a fosforilação de quinases proteicas, possivelmente envolvidas na síntese de catecolaminas. Podem aumentar a ligação de proteína G a receptores subseqüentemente dessensibilizados, exercendo ação reguladora no receptor. Os hormônios (como estradiol e progesterona) são substâncias também implicadas na alteração da sensibilidade ou no número de receptores pelos ADTs, interferindo na capacidade de ligação da imipramina ao hipotálamo. A ação antienurética do hidrocloridro de imipramina não está estabelecida. Acredita-se que esteja associada com o efeito anticolinérgico da imipramina. O efeito antiobsessivo da clomipramina talvez se correlacione com a inibição da recaptura de serotonina e conseqüente subsensiblização compensatória dos subtipos de receptores serotonérgicos. No transtorno do pânico, os estudos sugerem prejuízo no funcionamento do sistema nervoso autônomo, que causa liberação excessiva de norepinefrina do locus ceruleus. Pensa-se que os ADTs diminuam a taxa de disparo do locus ceruleus por regulação na função de receptores a2 e b- adrenérgicos e no turnover de noradrenalina. A ação antinevrálgica dos ADTs não está necessariamente relacionada à melhora da depressão. A analgesia pode ser mediada por mudanças na concentração central de monoaminas, particularmente serotonina, além do efeito direto ou indireto dos ADTs nos sistemas opióides endógenos. Na úlcera péptica, os ADTs são eficazes na melhora da dor e ajudam na cicatrização completa pela sua capacidade de bloquear receptores H2 nas células parietais e pelo efeito sedativo e anticolinérgico. Na bulimia nervosa parece haver efeito independente da melhora da depressão. O mecanismo de ação envolvido na incontinência urinária pode incluir atividade anticolinérgica, resultando no aumento da capacidade vesical, estimulação direta beta- adrenérgica e atividade agonista alfa- adrenérgica, resultando em aumento do tônus esfincteriano e também por bloqueio central de recaptação. Outras ações dos ADTs incluem efeito anticolinérgico periférico e central devido à potente e elevada afinidade de ligação por receptores muscarínicos; efeito sedativo pela forte afinidade de ligação por receptores histamina H1 e hipotensão ortostática devida a bloqueio alfa-adrenérgico. Além disto, os ADTs são agentes antiarrítmicos da classe 1A que, como a quinidina, em doses terapêuticas diminuem moderadamente a condução intraventricular e em doses elevadas podem causar bloqueio grave de condução e arritmias ventriculares. o Antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs): Os ISRSs, citalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina são o resultado de pesquisa racional para encontrar medicamentos tão eficazes quanto os ADTs, mas com poucos problemas de tolerabilidade e segurança. Os ISRSs inibem de forma potente e seletiva a recaptação de serotonina, resultando em potencialização da neurotransmissão serotonérgica. Embora compartilhem o principal mecanismo de ação, os ISRS são estruturalmente distintos com marcadas diferenças no perfil farmacodinâmico e farmacocinético. A potência da inibição de recaptação da serotonina é variada, assim comoa seletividade por noradrenalina e dopamina. Sertralina e paroxetina são os mais potentes inibidores de recaptação. A potência relativa da sertralina em inibir a recaptação de dopamina a diferencia farmacologicamente dos outros ISRSs. A afinidade por neuroreceptores, tais como sigmal, muscarínicos e 5-HT2c, também difere muito. Mais ainda, a inibição da sintetase óxido-nítrica pela paroxetina e possivelmente por outros ISRSs, pode ter efeitos farmacodinâmicos significativos. Citalopram e fluoxetina são misturas racêmicas de diferentes formas quiral que possuem perfis farmacodinâmico e farmacocinético variados. Fluoxetina possui metabólito de ação prolongada e farmacologicamente ativo. Os ISRSs também possuem perfis farmacocinéticos variados, que incluem meia vida, farmacocinética linear versus não linear, efeito da idade na sua depuração e no seu potencial de inibir isoenzimas metabolizadoras de medicamentos do citocromo P450 (CYP). Estas diferenças farmacológicas e farmacocinéticas sustentam as diferenças clínicas cada vez mais importantes dos ISRSs. o Inibidor seletivo de recaptura de 5-HT/NE (ISR SN) VENLAFAXINA A venlafaxina e seu metabólito ativo O-desmetilvenlafaxina (ODV) são inibidores seletivos da recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRSNs), e apresentam fraca atividade como inibidores da recaptação de dopamina (clinicamente significativo apenas com doses elevadas). A potência da inibição de recaptura de serotonina é algo superior à de recaptura de noradrenalina, ocorrendo em doses inferiores. A venlafaxina e o ODV não apresentam afinidade por receptores adrenérgicos alfa- 1, receptores muscarínicos ou histamínicos e também não inibem a monoamino- oxidase. Alteram a sensibilidade de receptores beta-adrenérgicos após dose única, diferente de outros antidepressivos que levam à dessensibilização desses receptores após doses repetidas. o Inibidores de recaptura de serotonina e antagonista alfa 2 (IRSAs): NEFAZODONA A nefazodona, uma fenilpiperazina, embora estrutural e quimicamente relacionada à trazodona, difere desta farmacologicamente. O mecanismo de ação da nefazodona se dá por meio da inibição da captação neuronal de serotonina e noradrenalina. É antagonista de receptores 5-HT2 e de receptores alfa-1 adrenérgicos.A administração crônica de nefazodona leva à dessensibilização de receptores 5-HT2a, porém não de receptores beta-adrenérgicos, sugerindo que não iniba a captação de noradrenalina in vivo.Estudos in vitro não evidenciaram afinidade significativa por receptores alfa-2 adrenérgicos, 5-HT1a, colinérgicos, dopaminérgicos, histamínicos, benzodiazepínicos, GABAérgicos. Promove subsensibilização de receptores beta- adrenérgicos TRADOZONA: O mecanismo de ação postulado para a trazodona envolve a inibição da recaptação de serotonina e noradrenalina. A longo prazo ocorre a dessensibilização e diminuição no número de receptores beta-adrenérgicos e 5- HT2A. Apresenta atividade antagonista de receptores alfa-1-adrenérgicos e anti- histamínicos, mais relacionadas aos seus efeitos colaterais. O metabólito ativo mCPP também apresenta algum grau de atividade serotonérgica pós-sináptica o Inibidor seletivo de recaptação de norepinefrina (ISRN): REBOXETINA A reboxetina é o primeiro composto comercializado de uma nova classe de antidepressivos inibidores da recaptação de noradrenalina (IRNAs), estruturalmente semelhantes à viloxazina.Apresenta atividade seletiva sobre a recaptação de noradrenalina, com atividade antagonista alfa-2. Não possui efeitos significativos sobre receptores colinérgicos, histamínicos, alfa-1-adrenérgicos, ou na inibição da monoaminoxidase e seu efeito antidepressivo foi descrito inicialmente na década de 1980. o Inibidor seletivo de recaptura de dopamina (ISRD): BUPROPION Embora não completamente conhecido, o mecanismo de ação do bupropion se dá através de sua atividade noradrenérgica e dopaminérgica. O bupropion aumenta a liberação de noradrenalina corpórea e é um fraco inibidor in vitro da captação neuronal de noradrenalina e de dopamina, porém de relevância farmacológica. O hidroxibupropion é seu metabólito ativo. O bupropion não inibe a monoaminoxidase e tem pouca afinidade pelo sistema serotonérgico. Também não interage com receptores histamínicos e colinérgicos, levando a uma maior tolerabilidade. o Antidepressivo noradrebérgico e específico serotoninérgico (ANES): MIRTAZAPINA A ação da mirtazapina se dá através do aumento da atividade noradrenérgica e serotonérgica central. A mirtazapina é um antagonista de auto e hetero-receptores alfa-2 adrenérgicos pré-sinápticos e antagonista 5-HT2 e 5-HT3 pós-sináptico. Apresenta fraca afinidade pelos receptores 5-HT1a e 5-HT1b pós-sinápticos. Sua afinidade pelos receptores histamínicos H1 explica o efeito sedativo. Apresenta fraca atividade por receptores muscarínicos e dopaminérgicos Psicoterapia o Na psicoterapia comportamental os modelos mais freqüentemente praticados são os de autocontrole e o de treinamento de habilidades sociais o Assume-se que a depressão e os reforços sejam fenômenos relacionados, e que os déficits nas habilidades sociais contribuam para a incapacidade do paciente de obter os reforços positivos disponíveis no ambiente social e/ou de lidar com as adversidades do cotidiano o Há quatro elementos básicos nesta terapia: análise funcional do contexto dos sintomas, monitoração e planejamento de atividades com o paciente, manejo de experiências aversivas e desenvolvimento de habilidades sociais o O modelo de Beck (terapia cognitiva comportamental) é o mais pesquisado na psicoterapia cognitiva → Pacientes deprimidos expressariam “pensamentos automáticos negativos” sobre si mesmos, seu mundo e seu futuro o Beck notou que essas cognições negativas se mantinham por meio de um modelo distorcido de processar informações, criando um círculo vicioso, em que o afeto deprimido aumentava a intensidade dos pensamentos negativos que, por seu turno, aumentavam os distúrbios afetivos, cognitivos e comportamentais. o As cognições negativas surgiriam da ativação de crenças disfuncionais subjacentes, aprendidas, construídas e mantidas, de forma inconsciente, desde a infância. o A característica essencial desta terapia é o uso de uma abordagem colaborativa, de “testagem” das hipóteses distorcidas do paciente. o Os sintomas agudos da depressão são enfrentados com o uso de técnicas comportamentais e verbais (identificação, enfrentamento e desafio das cognições negativas) o Mais adiante, as intervenções têm como alvo desafiar as crenças disfuncionais mais arraigadas e assim, tentar diminuir a vulnerabilidade do paciente a episódios futuros o As psicoterapias psicodinâmicas breves tradicionais têm em comum a concepção da depressão como um fracasso adaptativo resultante de conflitos intrapsíquicos, e mais modernamente, de distúrbios relacionais. o Ao invés de se dirigirem aos sintomas depressivos em si mesmos, elas têm como objetivo usar a relação terapêutica para investigar e esclarecer esses conflitos precoces, principalmente os relacionados com problemas de privação, proximidade e intimidade afetivas. o Os diversos formatos dessas psicoterapias compartilham pelo menos uma ou mais das seguintes características: foco centralizado em temas de perdas e separação, seleção de pacientes altamente motivados, e ênfase relativa nas interpretações transferenciais e na elaboração da raiva e pesar pela terminação sempre iminente da terapia 4) Conhecer a ação de substância químicas (álcool e medicamentos) que alteram as sinapses e interferem na neurotransmissão.
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