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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI ELETRICIDADE GUARULHOS – SP 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 4 2 CARGAS ELÉTRICAS E FORÇAS ........................................................................ 5 2.1 Carga elétrica...................................................................................................... 5 2.2 Processos de eletrização .................................................................................... 9 2.3 Propriedades elétricas dos materiais ................................................................ 14 3 PADRÃO DE ENTRADA DE ENERGIA ELÉTRICA ............................................. 18 3.1 Caixas, tomadas e suportes de lâmpada .......................................................... 25 4 CIRCUITOS ELÉTRICOS .................................................................................... 26 4.1 Circuitos elétricos e seus componentes ............................................................ 26 4.2 Circuitos elétricos em corrente contínua e alternada ........................................ 29 5 APLICAÇÃO DE CIRCUITOS E GRANDEZAS ELÉTRICAS ............................... 31 6 LEI DE OHM ........................................................................................................ 34 7 RESISTORES ...................................................................................................... 41 7.1 O que são resistores ......................................................................................... 41 7.2 Tipos e uso de resistores .................................................................................. 45 7.3 Associação de resistores .................................................................................. 50 8 ANÁLISE DE CIRCUITOS SÉRIE DE CORRENTE CONTÍNUA ......................... 55 8.1 Características de um circuito série em corrente contínua ............................... 56 8.2 Resolução de um circuito série em CC ............................................................. 63 8.3 Solução de problemas em um circuito série em CC ......................................... 67 9 MÉTODO DE ANÁLISE: NODAL E MALHAS ...................................................... 71 9.1 Características do método de análise de malhas ............................................. 71 9.2 Características do método de análise nodal ..................................................... 75 9.3 Comparando os métodos de análise nodal e de malhas .................................. 78 10 TEOREMAS DE THEVENIN E NORTON .......................................................... 79 3 10.1 Teorema de Thevenin ..................................................................................... 81 10.2 Teorema de Norton ......................................................................................... 82 11 INTRODUÇÃO AOS CAMPOS MAGNETOSTÁTICOS ..................................... 84 11.1 As grandezas elétricas e magnéticas ............................................................. 84 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ......................................................................................... 88 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................................................................ 88 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 CARGAS ELÉTRICAS E FORÇAS O desenvolvimento da eletricidade, assim como a descoberta do fogo, revolucionou completamente o rumo do Homo sapiens no planeta. Seria impossível imaginar o mundo atual sem as premissas de pensadores e os estudos sobre os átomos e as cargas nos últimos séculos. Neste exato momento, no ambiente em que você se encontra, há provavelmente centenas de materiais conduzindo a eletricidade e distribuindo cargas por átomos e moléculas. A consequência disso é o mundo em que vivemos — desde a praticidade que a energia elétrica trouxe até os prazeres que as novas tecnologias possibilitam. 2.1 Carga elétrica Para compreender o universo da eletricidade, você precisa conhecer como os materiais que podem ser encontrados no dia a dia são estruturados. Basicamente, toda matéria é formada por elementos fundamentais, conhecidos como átomos, que, quando agrupados, formam moléculas. Veja, por exemplo, que a conhecida molécula da água (H2O), é composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Sabemos, investigando a tabela periódica, que o número atômico do oxigênio é 8. Isso geralmente significa que ele tem oito prótons e oito nêutrons no seu núcleo, assim como possui oito elétrons, sendo considerado um elemento neutro. Perceba na Figura 1 (fora de escala) como um átomo genérico é estruturado. 6 Na Grécia Antiga, os filósofos se deparavam com alguns fenômenos até então inexplicáveis. Por exemplo, quando friccionavam um pedaço de âmbar e o aproximavam de pedaços de palhas, estes eram atraídos. A partir dessas observações e da curiosidade de alguns pensadores, a eletricidade começou a ser desenvolvida independentemente, em diversos lugares, por muitos séculos. Hoje sabemos que essa atração é consequência de uma propriedade elétrica intrínseca à matéria, conhecida como carga elétrica. Existem dois tipos de carga elétrica: as positivas e as negativas. Os seus valores absolutos são iguais e de sinais contrários, anulando-se quando são somados. Portanto, um sistema composto pela mesma quantidade de cargas positivas e negativas é chamado de carga nula. Segundo Alexander e Sadiku (2013), a carga de um único elétron foi definida como o valor negativo de aproximadamente 1,602 × 10−19. O valor absoluto desse número normalmente é representado pela letra “e” e é medido em Coulomb (C), em homenagem a Charles-Augustin de Coulomb (1736–1806). Portanto, 7 onde qe e qp é o valor da carga de um elétron e um próton, respectivamente, em Coulomb. A escolha convencional dos sinais das cargas se deve ao cientista e inventor Benjamin Franklin (1706–1790), um dos pioneiros no estudo da eletricidade. Veio dele também o princípio de conservação da carga, que diz que a carga elétrica total de um sistema isolado é conservada. Em outras palavras, a carga não é criada ou destruída: é simplesmente movida de um objeto para outro. Você viu que um átomo consiste, internamente, de um núcleo contendo prótons e nêutrons e, externamente, de elétrons. Cada próton possui uma carga positiva de valor “e”, que é anulada pela carga negativa de cada elétron. Os nêutrons possuem carga nula e estão fortemente ligados aos prótons, com uma interação que até hoje gera dúvidas aos cientistas. Todos os materiais possuemcarga, uma vez que os átomos e as moléculas são formados por partículas carregadas. Contudo, dificilmente notamos os efeitos da carga elétrica, porque a maioria dos objetos é eletricamente neutra, ou seja, possui a mesma quantidade de cargas positivas e negativas. Portanto, quando um material é dito carregado negativamente, é porque ele possui mais cargas negativas do que positivas, ou seja, mais elétrons do que prótons. De forma análoga, um material carregado positivamente possui mais cargas positivas do que negativas, ou seja, mais prótons do que elétrons. O carregamento (ou descarregamento) de um material é geralmente ocasionado por um processo de eletrização, em que não ocorre a modificação da estrutura nuclear do átomo. Isso significa que um átomo nunca perde prótons nesse processo, apenas recebe (ou perde) elétrons. Veja a representação desse fenômeno na Figura 2. 8 Esses conceitos e as observações dos fenômenos elétricos já haviam sido vistos pelos gregos e pelos mais antigos Homo sapiens, que observavam confusamente raios partindo o céu. A partir disso, foi fundamentado o princípio mais crucial da eletricidade: a lei das cargas elétricas. Essa lei diz que cargas de mesmo sinal se repelem, e as de sinais oposto se atraem (Figura 3). Ao aproximar um material carregado (tanto positivo quanto negativo) de um objeto neutro, esse material polariza o material neutro, afastando as cargas iguais e atraindo as cargas diferentes da superfície do material. Essa polarização resulta em uma separação das cargas do material neutro, com uma pequena separação entre si, formando um dipolo elétrico. A Figura 4 apresenta a formação do dipolo ao aproximar uma carga externa carregada positivamente de um átomo neutro. A partir dessa separação, foi possível explicar o que acontece com os materiais nos quais os fenômenos elétricos ocorrem. Por exemplo, ao aproximar um 9 balão eletrizado do seu cabelo eletricamente neutro, as cargas do balão vão atrair as cargas opostas do seu cabelo, criando uma força de atração entre os materiais e fazendo o seu cabelo “grudar” no balão, como mostra a Figura 5. Nesta seção, você viu o conceito primordial da eletricidade — a carga elétrica — e como essas cargas se comportam. Viu também que, devido às investigações dos fenômenos elétricos mais básicos, foi possível aos pensadores concluírem como as forças elétricas se comportavam, bem como as suas consequências para o ambiente. A seguir, você lerá sobre o que ocorre para que os materiais se tornem carregados e como isso ocorre, além de ver outros exemplos de fenômenos elétricos. 2.2 Processos de eletrização Na prática, os átomos dos objetos adquirem carga positiva não por ganharem prótons, mas por perderem elétrons. Os prótons estão extremamente firmes e ligados 10 ao interior do núcleo, e não podem ser adicionados ou removidos do átomo. Por outro lado, os elétrons estão ligados mais frouxamente ao núcleo e podem ser removidos com maior facilidade. O processo de remoção de um elétron do átomo é chamado de ionização e, quando isso acontece, o átomo é chamado de íon positivo, com carga líquida de q=+e. Alguns átomos podem acomodar um elétron extra e, assim, tornarem- se um íon negativo, com uma carga líquida q=–e. Conforme Knight (2009), as forças de atrito geradas pela fricção de dois materiais quebram as ligações moleculares das suas superfícies. As moléculas desses materiais, que até então eram eletricamente neutras por natureza, tornam-se um montante de íons positivos e negativos. Dessa forma, íons positivos permanecem em um material, e íons negativos no outro, de modo que um dos objetos friccionados fica com uma carga líquida positiva e o outro, com uma carga líquida negativa (Figura 6). Assim, explica-se o fenômeno elétrico resultante da ação de esfregar o pano em um pedaço de âmbar. Com a fricção, são acumulados íons negativos na superfície do âmbar e íons positivos na do pano. Esse processo é denominado de eletrização por atrito e funciona melhor para grandes moléculas orgânicas. Os metais geralmente não podem ser carregados por atrito, apesar de serem ótimos condutores de eletricidade, pois possuem elétrons fracamente ligados aos seus núcleos. A Figura 7 mostra mais detalhadamente esse processo de eletrização. 11 O processo de eletrização por atrito pode acontecer entre diversos tipos de materiais, mas há materiais com maior facilidade em fornecer elétrons (resultando em um corpo positivamente carregado), e outros que são melhores receptores de elétrons (tornando-se corpos negativamente carregado). Para descobrir, entre dois materiais friccionados, qual será o receptor e qual será o doador de elétrons, utiliza-se a tabela da série triboelétrica (Quadro 1), que lista materiais de forma ordenada, conforme a sua tendência em doar ou receber elétrons. Por exemplo, no caso da fricção entre um bastão de vidro e pelo de gato, sabemos que o vidro ficará carregado positivamente e o pelo do gato, carregado negativamente. Isso se dá porque o vidro está posicionado mais acima da tabela e, portanto, é um material com maior capacidade de liberar elétrons do que o pelo de gato. Existem outros processos de eletrização de materiais, como a eletrização por indução. Essa eletrização ocorre, por exemplo, ao aproximar um bastão de âmbar negativamente carregado a um material condutor neutro, como uma esfera metálica. Nesse caso, essa aproximação gera um movimento dos elétrons da esfera, devido à lei das cargas elétricas, os quais buscam um distanciamento do pedaço de âmbar — mesmo que não ocorra o contato nenhum entre os materiais. Quando isso ocorre, diz- se que a esfera sofreu uma polarização de cargas, como você pode ver na Figura 8. Esse é um estado momentâneo do material neutro e, conforme o bastão é afastado, as suas cargas se distribuem como eram originalmente, e o material continua eletricamente neutro. 12 Agora, analise o exemplo mostrado na Figura 9. 13 Segundo Hewitt (2015), em (a) são apresentadas duas esferas metálicas em contato, ambas suspensas necessariamente por um material isolante, formando um único condutor inicialmente neutro. Em (b), ao aproximar um bastão negativamente carregado da esfera A, as cargas negativas das duas esferas, seguindo a lei das cargas elétricas, movem-se para a esfera B, na tentativa de se distanciarem do bastão. As duas esferas de metal estão agora polarizadas. Em seguida, as esferas em (c) são separadas, e ainda há a presença do bastão. As cargas que estavam polarizadas permanecem nas suas respectivas esferas, ou seja, a esfera A está carregada positivamente, e a esfera B, negativamente. Por fim, em (d), ao distanciar o bastão das esferas, as suas cargas permanecem como em (c), e é dito que as esferas sofreram um processo de eletrização por indução. Caso o bastão negativamente carregado entre em contato com uma esfera metálica inicialmente neutra, como mostra a Figura 10, os elétrons carregados do bastão serão divididos entre os dois materiais, buscando um equilíbrio eletrostático. Assim, ambos se tornam energizados negativamente. Diz-se, nesse caso, que a esfera sofreu um processo de eletrização por contato. De forma análoga, é possível também que um material carregado positivamente entre em contato com um material neutro. Este, então, perde alguns elétrons para que haja um equilíbrio eletrostático entre ambos. 14 Nesta seção, você estudou as formas de se eletrizar um material e o que ocorre, estruturalmente, com os seus átomos. Na seção seguinte, verá como as propriedades estruturais dos átomos influenciam na sua capacidade de conduzir a eletricidade — e, a partir disso, como classificá-los. 2.3 Propriedades elétricas dos materiais Historicamente,a evolução da humanidade anda lado a lado com a evolução e a descoberta dos materiais. Na Pré-História, os homens eram sujeitos a usar o que a natureza disponibilizava, e as suas descobertas marcaram as etapas da história, como na Idade da Pedra, na Idade do Ferro e na Idade do Cobre ou do Bronze (SMITH; HASHEMI, 2012). Apesar de não ser nomeada dessa forma, a atualidade poderia ser chamada como a Idade do Silício, um material semicondutor que permitiu o grande desenvolvimento da eletrônica, sendo o principal responsável por todo o avanço tecnológico existente na humanidade. 15 Para compreender realmente a eletricidade e o seu vasto universo, não se pode deixar de lado a importância das propriedades elétricas dos materiais utilizados tanto para o seu transporte quanto para a sua proteção e geração. O comportamento físico de um material diante de uma carga elétrica pode classificá-lo em quatro famílias: condutores, isolantes, semicondutores e supercondutores. Condutores e isolantes Os condutores e isolantes são as duas grandes famílias de materiais elétricos e possuem propriedades elétricas, em certo sentido, opostas. Essa classificação é dada em relação à resistência que o material oferece ao movimentar um fluxo de cargas pela sua estrutura. A massa de um elétron é muito menor do que a de um próton ou de um nêutron. Portanto, a maior parte da massa de um átomo reside no seu núcleo. Assim, os elétrons podem ser removidos dos átomos com relativa facilidade em certos materiais. Por isso, geralmente os elétrons são os portadores da eletricidade. Uma representação microscópica de um isolante e de um condutor é mostrada na Figura 12. De acordo com Knight (2009), no material isolante, os elétrons estão fortemente conectados ao núcleo atômico, não conseguindo se desprender dele, o que impossibilita que se movimentem livremente. Já no caso dos condutores, os elétrons da camada de valência da eletrosfera (camada mais afastada do núcleo) estão fracamente ligados ao núcleo. A junção de vários átomos de um material condutor faz com que esses elétrons fracamente conectados ao núcleo se desprendam do átomo, movimentando-se livremente pelo material (elétrons livres). Apesar de esses materiais apresentarem elétrons se movimentando livremente — criando um “mar de elétrons” —, eles permanecem eletricamente neutros, porque nenhum elétron foi adicionado ou removido durante esse processo: eles apenas foram desacoplados do átomo. Assim, os condutores têm uma grande facilidade em movimentar elétrons quando forças elétricas são submetidas ao material. Esse fluxo de cargas é denominado de corrente. 16 Os condutores mais utilizados são os metais, sendo o ouro, a prata e a platina os melhores condutores. No entanto, em função do seu custo alto, são pouco utilizados na transmissão de energia elétrica. Por outro lado, o cobre e o alumínio, são muito utilizados, porque apresentam boa condutividade e baixo custo. Como exemplos de bons isolantes, temos a borracha, o vidro, os plásticos, os materiais cerâmicos, a madeira seca, entre outros. Na prática, os isolantes são muito utilizados para isolar os materiais condutores transmissores de grandes quantidades de carga, como no caso dos cabos utilizados para conectar qualquer aparelho elétrico. Internamente, esses materiais são compostos por condutores — na grande maioria, por fios de cobre — e, externamente, esses fios são encapados por um isolante (Figura 13). Este impede que qualquer usuário ou objeto entre em contato com o condutor, sofrendo a descarga da carga que passa pelo fio, o que pode resultar em grandes choques ou até em morte. 17 Semicondutores As propriedades elétricas dos materiais semicondutores são intermediárias às propriedades dos condutores e isolantes. Esses materiais são compostos por propriedades únicas, capazes de desempenhar funções que revolucionaram a história da eletrônica, possibilitando todo o desenvolvimento tecnológico existente hoje. São exemplos de semicondutores o germânio (Ge) e o silício (Si), que são os materiais semicondutores mais utilizados, em função das suas excelentes propriedades elétricas, bem como da sua abundância na natureza. Esses componentes, na sua forma pura, não são bons condutores nem isolantes; porém, quando se adicionam mínimas impurezas na sua estrutura cristalinas, são capazes de operar ora como condutores, ora como isolantes. Com a descoberta desses semicondutores, nos anos 1970, desenvolveram- se os transistores, que são dispositivos eletrônicos responsáveis pelo desenvolvimento de todos os demais dispositivos eletrônicos existentes. A partir da sua criação, foi possível a construção de processadores, computadores, celulares e todas as tecnologias indispensáveis atualmente. Uma forma simples de explicar como funcionam os transistores é compará- los a um interruptor de luz que controla o fluxo de carga em um sistema. Ao receber 18 um comando elétrico, o transistor se comporta como um condutor; ao receber novamente esse comando, comporta-se como um isolante, controlando o momento exato de um fluxo de carga. Supercondutores Os condutores, apesar de apresentarem facilidade no transporte de carga elétrica, têm uma pequena resistência, que é responsável por transformar a energia elétrica transmitida em calor — denominado de perda elétrica. Em linhas de transmissão de energia com mais de 400 km de extensão, isso pode resultar em perdas de mais de 10% da energia transferida. Devido a esse e a outros fatores, muitos cientistas tentaram encontrar materiais capazes de realizar o transporte de carga com uma resistência nula. Com isso, em 1911, o físico holandês Heike Kamerlingh-Onnes observou que, ao resfriar um condutor de mercúrio a –269,15°C, a sua resistência elétrica se anulava, o que o tornava um material supercondutor. A utilização de supercondutores ainda está muito limitada aos ramos de transmissão de energia, principalmente porque o material precisa estar operando em temperaturas extremamente baixas. Porém, com o desenvolvimento de novas tecnologia e o avanço das pesquisas na área, futuramente esses materiais talvez possam ser implementados mais facilmente à realidade. Em função das suas propriedades elétricas, os supercondutores também são capazes de gerar campos magnéticos poderosos. Esses supercampos magnéticos são aplicados, na prática, em trens de levitação magnética, capazes de atingir velocidades de até 600 km/h. 3 PADRÃO DE ENTRADA DE ENERGIA ELÉTRICA A norma brasileira NBR 5410 (Instalações Elétricas de Baixa Tensão) fixa as condições que as instalações de baixa tensão devem atender, a fim de garantir o seu funcionamento adequado e a segurança de pessoas e animais domésticos e a conservação de bens. Ela se aplica a instalações novas e a reformas em instalações 19 existentes, bem como a qualquer substituição de componentes que implique alteração de circuito. As concessionárias de energia, por sua vez, fornecem a energia elétrica para os consumidores de acordo com a carga (kW) instalada e em conformidade com a resolução normativa nº 414 de 9 de setembro de 2010 da ANEEL que estabelece as Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica de forma atualizada e consolidada. Uma vez determinada a maneira de fornecimento de energia elétrica pela concessionária, o que vai depender da carga instalada (kW), especifica-se o padrão de entrada de energia elétrica. O padrão é composto por poste com isolador, roldana, bengala, caixa de medição e haste de aterramento (Figura 16-30). A instalação desses componentes deve seguiras especificações da concessionária de energia elétrica. Depois de pronto o padrão de energia, a concessionária faz uma inspeção e, se a instalação estiver correta, instala e liga o medidor e oramal de serviço disponibilizando a energia para o consumidor. O sistema de distribuição a três fios refere-se ao método de fiação empregado para operar o sistema elétrico em uma instalação residencial. Trata-se de um sistema monofásico de 60 Hz, consistindo em três fios, que fornece tensões de 120 e 240V. O sistema fornece 120VCA para a operação de lâmpadas e pequenos aparelhos portáteis. Além disso, ele fornece 240VCA para operar aparelhos pesados, como fornos elétricos, máquinas de secar roupas e aquecedores de água. O diagrama de um sistema de distribuição a três fios é mostrado na Figura 16- 31. A tensão primária está na faixa de kV. No caso da Figura 16-31, a tensão é abaixada para 240V, a qual aparece entre os dois terminais externos do enrolamento secundário do transformador. Um fio de derivação central divide essa tensão ao meio, fornecendo 120V entre a derivação central e os terminais externos. Os dois fios externos são chamados fios fase e têm geralmente isolação preta ou vermelha. O fio da derivação central é aterrado (conectado à terra) na base do transformador e é conhecido como fio neutro. O neutro possui isolação geralmente azul. Por razões de segurança, os fios fase são controlados por interruptores e têm fusíveis ou disjuntores ligados em série com eles. O fio neutro é aterrado no transformador e no padrão elétrico da casa ou edificação. 20 Através do circuito de distribuição, a energia é levada do medidor (ponto de entrega) até o quadro de distribuição de circuitos, também conhecido como quadro de luz (veja a Figura 16-32). O Quadro de Distribuição de Circuitos (QDC) é o centro de distribuição de energia de toda a instalação elétrica de uma residência. O dimensionamento do QDC deve prever eventuais ampliações futuras e ser compatível com a quantidade e o tipo de circuitos previstos inicialmente. Para determinar a carga de uma instalação elétrica residencial, devem ser soma de todas as cargas elétricas previstas para as tomadas de uso geral e a potência das lâmpadas e dos demais equipamentos elétricos. O dimensionamento dos condutores que vão do padrão de energia até o QDC, em geral através de um eletroduto embutido na parede, é definido pela NBR 5410 e vai depender do número de circuitos e da carga instalada. 21 22 23 É importante que a proteção de uma instalação seja coordenada de forma que atuem em primeiro lugar as proteções mais próximas às cargas. Assim, os disjuntores instalados no QDC devem ter corrente nominal inferior ao disjuntor geral instalado no padrão de entrada (as correntes dos disjuntores do QDC são definidas de acordo com o circuito que cada um protege; já a corrente do disjuntor geral é determinada pela corrente associada a todos os circuitos do QDC ou pela corrente total da instalação). A Figura 16-33 mostra conexões típicas de disjuntores em um QDC. Para conectar um circuito de 127V, o fio fase deve ser alimentado a partir de qualquer disjuntor unipolar e o fio neutro é alimentado a partir do barramento de neutro. Para circuitos de 220V, recomenda-se utilizar disjuntores bipolares, de modo que ambos os fios fase sejam protegidos e abertos e fechados juntos. 24 Nas instalações residenciais são usados disjuntores de caixa moldada fixados no QDC por meio de um clipe de fixação (Figura 16-34). A moldura do QDC possui espaços para acomodar cada disjuntor (o número de espaços vai depender do modelo de quadro). Apenas remova os espaços da moldura necessários para o número de 25 disjuntores a serem instalados. Os espaços não utilizados podem ser empregados futuramente, quando um outro circuito for instalado. Alguns modelos de QDC acompanham tampas cegas de PVC, encaixadas por pressão, para cobrir os espaços da moldura não ocupados por disjuntores (no caso de o espaço ter sido removido acidentalmente ou por outra razão qualquer). 3.1 Caixas, tomadas e suportes de lâmpada As normas elétricas pertinentes exigem que todo equipamento elétrico conectado ao sistema elétrico de uma edificação/residência passe por testes padronizados em um laboratório credenciado pelo INMETRO. Um equipamento ou material elétrico testado significa que ele foi avaliado com relação à finalidade para a qual ele se destina bem como à sua utilização segura. Os produtos testados possuem um selo ou alguma identificação referente ao INMETRO e/ou ao laboratório credenciado onde os testes foram realizados. As recomendações relativas à utilização de caixas de luz* podem ser encontradas em normas pertinentes. Normalmente, há a necessidade de instalação de caixas de luz naqueles pontos em que há um interruptor, tomada, soquete ou suporte de lâmpada, ou onde existem emendas de fio ou, ainda, simplesmente para a derivação ou passagem de fios. As caixas de luz têm quatro objetivos principais: Reduzir os riscos de incêndio; Conter todas as conexões elétricas; Suportar a fiação; Proporcionar a continuidade do aterramento. As caixas de luz (Figura 16-35) vêm em várias formas e tamanhos projetados para diferentes aplicações. As caixas de aço devem ser aterradas, em geral com um parafuso disponível na caixa. Tipos comuns empregados incluem: A caixa octogonal para apoiar luminárias ou usada como ponto de derivação ou passagem de fios; A caixa de interruptor ou de tomada utilizada para interruptores e tomadas residenciais. 26 A caixa quadrada usada para tomadas residenciais de equipamentos de potência mais elevada ou como caixa de ligação ou derivação para sistemas de fiação de superfície e ocultos. São fornecidos orifícios para proporcionar um meio de entrada na caixa e para a fixação de conectores de cabos ou condutores. Um orifício é um buraco parcialmente perfurado, que pode ser removido facilmente com uma pancada. 4 CIRCUITOS ELÉTRICOS Um dos pontos interessantes desse tema é que os elementos e componentes de um sistema elétrico só conseguem ser utilizados se estiverem interligados, ou seja, conectados por meio de circuitos. Portanto, o entendimento do circuito é imprescindível para que possamos atuar na área de energia, tanto para a execução de serviços em eletricidade como para poder elaborar projetos elétricos. O desconhecimento de circuitos elétricos torna quase inviável a atuação de um profissional na área de energia elétrica. Em um primeiro momento, serão apresentados conceitos de grandezas elétricas. A segunda abordagem refere-se ao comportamento de corrente contínua e alternada e, na sequência, a algumas aplicações de grandezas elétricas em circuitos. 4.1 Circuitos elétricos e seus componentes O circuito elétrico proporciona a interligação de dispositivos e componentes de um sistema elétrico. Quando utilizamos o termo circuito elétrico, podemos estar nos referindo a um modelo matemático ou, então, a um sistema físico. Sabemos que, por meio dos circuitos elétricos, é fornecida a energia elétrica e temos presentes as seguintes grandezas elétricas: corrente, tensão, resistência e potência. Portanto, podemos afirmar que o circuito elétrico é um conjunto de componentes conectadas, em um ou mais caminhos fechados, com a função específica de fornecer energia elétrica para um ou mais elementos. A energia elétrica pode ser utilizada, por exemplo, para acender uma lâmpada, acionar um motor, ligar uma lavadora de roupas, entre tantas outras necessidades presentes em nosso dia a dia. 27 Para entendermos de forma mais clara o comportamento do circuito elétrico, torna-se necessária a compreensão das suas grandezas elétricas. Corrente elétrica Conforme Gebran e Rizzato (2017), a corrente elétrica corresponde ao movimento, no interior de um condutor, de elétrons que surgem a partir da aplicação de uma força externa, que pode ser magnética ou elétrica.Quando aplicamos a diferença de potencial na extremidade de um condutor, ela provoca o deslocamento dos elétrons livres, pois se formou um campo elétrico. Esse campo tem a direção do menor potencial, e surge o que denominamos de corrente elétrica. A medida da quantidade desse deslocamento de cargas é chamada de intensidade de corrente elétrica, e sua unidade é o Ampère, representado pela letra A. A equação para a intensidade de corrente elétrica é a seguinte: Onde: I = corrente em Ampères (A); q = carga em Coulombs (C); t = tempo em segundos (s). Tensão elétrica Segundo Gebran e Rizzato (2017), para que haja circulação da corrente elétrica, é necessário que um trabalho seja realizado por meio da utilização de um campo elétrico. Ao aplicarmos esse campo nos dois lados do condutor, uma diferença de potencial aparece e conduz a movimentação dos elétrons. O valor da diferença de potencial é a tensão, e sua unidade é o volt, representado pela letra V. A equação para tensão elétrica é apresentada da seguinte forma: Onde: 28 V = tensão em volts (V); w = trabalho em joules (J); q = carga em coulombs (C). Resistência elétrica A resistência elétrica é a capacidade de um material de se opor à passagem de corrente elétrica. Quando a corrente elétrica é estabelecida em um condutor, temos um movimento bastante intenso de elétrons livres que começam a se deslocar nele. Com esse movimento, os elétrons começam a colidir entre si, encontrando certa dificuldade na sua circulação. Isto é, existe resistência à passagem da corrente no condutor. Em relação ao condutor, a resistência elétrica apresenta uma variação quanto ao comprimento, à área da seção e à temperatura. Quanto ao comprimento, teremos uma maior resistência elétrica quanto maior for o comprimento. Já na área da seção transversal, é ao contrário, onde se encontra um valor de maior resistência elétrica quanto menor for a área da seção. Também é interessante ressaltar que a temperatura tem uma influência direta na resistência elétrica, pois a variação de temperatura modifica o valor da resistividade do material. Segundo Sadiku, Musa e Alexander (2014), para determinarmos o valor da resistência elétrica em um circuito, utilizamos a seguinte equação: Onde: R = resistência elétrica em ohms (Ω); V = tensão em volts (V); 29 I = corrente em ampères (A). Potência elétrica A potência elétrica é a energia gerada por unidade de tempo, fornecida ou recebida por um elemento e igual ao produto da tensão entre os terminais pela corrente que o percorre. Ela é representada pela letra P, e sua unidade é o watt (W). A potência elétrica é determinada pela seguinte equação: Com P = potência em watts (W), V = tensão em volts (V), e I = corrente em amperes (A). A corrente elétrica pode ser apresentada de duas maneiras: corrente contínua (CC) e corrente alternada (CA). A diferença entre elas e o seu comportamento serão o assunto do próximo item. 4.2 Circuitos elétricos em corrente contínua e alternada Neste tópico, abordaremos os circuitos em corrente contínua e alternada. Uma corrente contínua é aquela que circula sempre no mesmo sentido, com uma intensidade constante ao longo do tempo. Já a corrente alternada muda o sentido de circulação, variando com o tempo segundo uma forma senoidal. Para ilustrar melhor esses conceitos, na Figura 1a, temos a representação gráfica de uma corrente contínua, enquanto a Figura 1b representa a corrente alternada. 30 Agora, apresentaremos as definições de tensão contínua e alternada. A tensão contínua é aquela em que não há variação ao longo do tempo. Já a tensão alternada é definida como uma tensão periódica variável. Para entender melhor, observe a Figura 2, a seguir. Nota-se que, na Figura 2a, o valor da tensão não muda e nem o sinal, ou seja, permanece todo o tempo com um valor positivo. Na Figura 2b, há modificações. O valor da tensão e o seu sinal variam durante um determinado tempo, denominado de período. Podemos afirmar que o período é o tempo necessário para realizar um ciclo completo, ou seja, o valor da tensão parte de zero até um valor máximo positivo; retorna novamente a zero, atingindo um valor máximo negativo, e termina o seu ciclo 31 novamente em zero. A letra T representa o período, e a sua unidade de medida é em segundos. Para análise de circuitos elétricos, é necessário conhecermos a frequência, definida como o inverso do período. A sua unidade é o hertz (Hz), e a sua equação é a seguinte: No Brasil, a frequência utilizada no sistema elétrico é de 60 Hz. O fornecimento de CC é realizado por fontes, como células solares fotovoltaicas e baterias. A própria característica de trabalho CC direciona a sua aplicação para baixas tensões, como o carregamento de baterias, o controle de equipamentos industriais, as aplicações de robótica, entre outros. Atualmente, a CA é usada principalmente na geração e distribuição de energia elétrica, por apresentar vantagens significativas sobre a corrente contínua, tanto na transmissão quanto na distribuição. Por outro lado, uma das maiores vantagens da energia CC é a possibilidade de ser utilizada em aplicações específicas, como no caso das linhas submersas de alta tensão. Fazendo uma comparação entre CC e CA, de uma forma ampla, é indicado utilizar a transmissão de energia em CC quando a CA não for viável ou possível, como no caso de longas distâncias. Portanto, a utilização de corrente CC ou CA depende basicamente da aplicação a ser realizada. Agora que já entendemos o comportamento de corrente alternada e contínua, veremos a sua aplicação em circuitos elétricos, relacionando com a corrente elétrica, a tensão elétrica e a potência elétrica. 5 APLICAÇÃO DE CIRCUITOS E GRANDEZAS ELÉTRICAS O devido conhecimento de elementos e grandezas que compõem os circuitos elétricos é a base necessária para que possamos calcular os valores de corrente, tensão e potência elétrica. Dessa forma, podermos dimensionar corretamente os elementos pertencentes ao sistema, como condutores, disjuntores e quadros de distribuição. Para termos uma ideia mais clara sobre o assunto, serão apresentados 32 dois exemplos. O exemplo 1 mostra um circuito CC composto de uma fonte e resistores: como analogia, relacionamos a fonte a uma bateria, e o resistor a uma lâmpada. Calcularemos o valor da potência elétrica desse circuito. Exemplo 1 O circuito da Figura 3 representa uma fonte em série com um resistor. O valor da fonte e a corrente do circuito são conhecidos. Determine o valor da resistência elétrica R. A equação para determinarmos o valor da resistência elétrica é Dessa forma temos: Também é possível determinarmos a potência elétrica do circuito. Sabemos que a equação da potência elétrica é dada por P = V × I. Portanto: Se não tivéssemos o valor da corrente, como acharíamos a potência elétrica? Nesse caso, seria necessário conhecer o valor da resistência elétrica para, dessa forma, encontrarmos o valor da corrente, possibilitando o cálculo da potência elétrica. 33 Vamos analisar o circuito da Figura 4, a seguir. A resolução seria da seguinte forma: Aplicando a equação da potência elétrica: No segundo exemplo, solucionaremos um problema envolvendo um circuito CA. Exemplo 2 Uma corrente senoidal tem uma amplitude cujo valor é 10 A. A corrente que passa por um ciclo completo é de 2 ms. O valor da corrente quando está em zero é de 5 A. Calcule o valor da frequência da corrente desse circuito. A equação da frequência é: Portanto: 34 Então: Após a resolução desses dois exemplos, podemos chegar a algumas conclusões. As grandezas elétricas — corrente, tensão, resistência e potência — estãointerligadas. Para podermos calcular a corrente elétrica, é necessário termos os valores de tensão elétrica e resistência elétrica, de acordo com a equação I = V / R. Se quisermos calcular a tensão elétrica no circuito, devemos ter a resistência elétrica e a corrente elétrica, obtendo V = R × I, ou, então, tendo a potência elétrica e a corrente elétrica, sendo calculada pela equação V = P / I. Para calcular a resistência elétrica, utilizamos a equação R = V / I, ou, então, R = P / I2. Quando temos em um circuito elétrico de corrente alternada (CA), também é importante sabermos o valor da frequência, já que este elemento influencia diretamente no comportamento da corrente elétrica. Portanto, partindo do conhecimento de grandezas elétricas, sabendo as equações que as relacionam, conseguimos determinar diversos parâmetros necessários para o dimensionamento de um circuito elétrico. 6 LEI DE OHM A lei de Ohm certamente é a fórmula mais utilizada em eletricidade e eletrônica. Por quê? Porque é uma equação simples, que relaciona resumidamente os valores de corrente, tensão e resistência de um circuito elétrico. Antes de George Simon Ohm descobrir sua lei, em 1827, o trabalho com circuitos elétricos era feito seguindo uma abordagem de tentativa e erro. Ela define a relação entre a corrente, a tensão e a resistência. Segundo Petruzella (2013), a eletricidade sempre age de uma forma previsível, pois, com o uso 35 de diferentes leis para circuitos elétricos, conseguimos prever o que vai acontecer em um circuito, ou diagnosticar por que as coisas não estão funcionando como deveriam. A lei de Ohm pode ser resumida da seguinte forma: A corrente (I) em um circuito é diretamente proporcional à tensão aplicada (E) e inversamente proporcional à resistência do circuito (R). Isso quer dizer que a lei de Ohm estabelece que a corrente em um circuito elétrico depende de duas coisas: Da tensão aplicada ao circuito; Da resistência no circuito. Se você comparar os circuitos da Figura 1 será mais fácil entender a relação entre tensão e corrente. Os três circuitos têm a mesma resistência fixa (10 Ω). Note que, quando a tensão é aumentada ou diminuída (25 ou 10V), há um aumento ou uma redução diretamente proporcional no valor de fluxo de corrente (de 3 para 1 A). A corrente, portanto, é diretamente proporcional à tensão. Caso a tensão seja mantida constante, a corrente irá variar conforme as mudanças de resistência, mas no sentido oposto, como mostram os circuitos da Figura 2. 36 Os três circuitos têm a mesma tensão fixa (25V). Veja que, quando a resistência é aumentada de 10 para 20 Ω, a corrente reduz de 2,5 para 1,25 A. Do mesmo modo, quando a resistência é reduzida de 10 para 5 Ω, a corrente aumenta de 2,5 para 5 A. A corrente, portanto, é inversamente proporcional à resistência. Veja as três formas de expressá-la matematicamente, conforme o triângulo de Ohm (Figura 3): Encontrar a tensão: a tensão é igual à corrente multiplicada pela resistência. Encontrar a corrente: a corrente é igual à tensão dividida pela resistência. Encontrar a resistência: a resistência é igual à tensão dividida pela corrente. 37 38 É importante usar corretamente as unidades de medida ao aplicar as equações matemáticas da lei de Ohm a um circuito. A mistura inadequada de unidades resultará em respostas incorretas. Veja algumas combinações comuns de unidades que podem ser usadas para diferentes tipos de circuitos: Circuitos elétricos I = corrente em ampères (A) E = tensão em volts (V) R = resistência em ohm (Ω) Circuitos eletrônicos I = corrente em miliampères (mA) E = tensão em volts (V) R = resistência em ohm (Ω) 39 Circuitos microeletrônicos I = corrente em microampères (μA) E = tensão em volts (V) R = resistência em megaohm (MΩ) 40 Conforme Petruzella (2013), os circuitos eletrônicos e microeletrônicos operam em valores de corrente bem mais baixos do que os circuitos elétricos. Isso ocorre principalmente porque eles, em geral, possuem valores de resistência muito maiores. Se a resistência destes circuitos é expressa em quilohms ou megaohms, e a tensão em volts, é possível calcular a corrente diretamente em miliampè res ou microampères: Em circuitos eletrônicos e microeletrônicos de baixas correntes, se a resistência desses circuitos é expressa em quilohms ou megaohms, e a corrente em miliampè res ou microampères, a tensão pode ser calculada diretamente como segue: Nos circuitos eletrônicos, realizar o cálculo da resistência dos resistores às vezes é mais conveniente do que medir com um ohmí metro. Isso se os valores de corrente e de tensão forem conhecidos. A corrente pode ser expressa em miliampè 41 res ou microampères. Quando esse for o caso, a resistência é encontrada usando a combinação comum de: 7 RESISTORES O físico alemão Georg Simon Ohm sempre se interessou por pesquisas na área de elétrica, especializando-se no assunto de corrente elétrica. De forma experimental, em 1826, Ohm determinou a lei que relaciona tensão e corrente para um resistor, a famosa Lei de Ohm. Os resistores estão presentes em praticamente todos os aparelhos elétricos/eletrônicos, de modo que é importante conhecer como eles são, quais tipos existem e em que são aplicados. 7.1 O que são resistores Os resistores são dispositivos eletrônicos simples e passivos, cuja finalidade é transformar energia elétrica em outro tipo de energia. Por exemplo, no chuveiro elétrico, o resistor transforma a energia elétrica em calor ou energia térmica; nos motores elétricos, ele transforma a energia elétrica em movimento ou energia mecânica; e nas lâmpadas, ele transforma a energia elétrica em luz (MENDES, 2010). Os resistores estão presentes em diversos circuitos elétricos, como os circuitos que compõem os chuveiros, os computadores, os ferros de passar, os televisores, entre muitos outros. Uma característica do resistor é se opor à passagem de corrente elétrica, limitando, assim, a sua intensidade. Um resistor é representado pela letra R e medido em Ohm (Ω). A Figura 1, a seguir, apresenta alguns símbolos utilizados para representar os resistores em circuitos elétricos. 42 No resistor, a tensão sobre ele é proporcional à corrente que flui através dele (HAYT JR.; KEMMERLY; DURBIN, 2014). A resistência de qualquer material inclui quatro aspectos: 1. Propriedade do material: cada material se opõe ao fluxo de corrente. 2. Comprimento (l): quanto maior for o comprimento, maior será a resistência. 3. Área seccional (A): quanto maior for a área, menor será a resistência. 4. Temperatura: em geral, para os metais, quanto maior for a temperatura, maior será a resistência. A resistência pode ser determinada por meio de (1): onde, ρ é a resistividade do material medida em Ω-m (SADIKU; MUSA; ALEXANDER, 2014). Vale ressaltar que o resistor é um componente, ao passo que a resistência elétrica é um fenômeno físico. O Quadro 1, a seguir, apresenta a resistividade de alguns materiais. Os materiais podem ser classificados em três tipos: condutor, semicondutor e isolante. Os condutores possuem baixa resistividade, ao passo que os isolantes possuem alta resistividade. 43 O físico alemão Georg Simon Ohm ficou conhecido por conseguir relacionar corrente, tensão e resistor. Essa relação ficou conhecida como Lei de Ohm. Vale ressaltar que apenas os resistores lineares obedecem à Lei de Ohm. A resistência pode ser determinada por meio da Lei, dada por: onde v é a tensão medida em Volts (V); e i é a corrente medida em Amperes (A). A Lei de Ohm também pode ser escrita da seguinte forma: 44 A constante G é a condutância do resistor,medida em Siemens (S), e pode ser calculada por meio da seguinte equação: Os valores dos resistores podem ser encontrados por meio das cores das faixas estampadas no seu exterior. Cada faixa de cor e a posição onde estão no resistor representam um número, conforme o Quadro 2. Entretanto, a quarta faixa nem sempre existe e, de modo geral, fica afastada das outras três. Essa faixa é chamada de faixa de tolerância e é expressa em porcentagem, pois indica a precisão do valor real em relação ao valor lido pelo código de cores. A maioria dos resistores apresenta a faixa de tolerância na cor prata. Os resistores que são constituídos de filme de metal utilizam, com frequência, uma faixa com cinco cores, sendo que as três primeiras faixas coloridas são para os dígitos, a quarta faixa, para o multiplicador, e a última faixa, para a tolerância. 45 Nesta seção, foi introduzido o que é um resistor e as formas de se determinar a resistência por meio da lei de Ohm e da resistividade e da área. Também vimos que é possível determinar o valor do resistor sem nenhum equipamento por meio de uma tabela de cores. Na próxima seção, serão apresentados os vários tipos de resistores e como eles são utilizados. 7.2 Tipos e uso de resistores Os resistores podem ser classificados em dois tipos: fixos e variáveis. Os resistores fixos são feitos de filme carbono, filme metálico, entre outros. A Figura 2, a seguir, apresenta um resistor fixo feito de filme metálico. Os resistores variáveis, por sua vez, têm a facilidade de poderem ser ajustados de forma manual. Alguns exemplos são: potenciômetros, reostatos, PTC (do inglês positive temperature coeficient; coeficiente de temperatura positivo, em português), NTC (do inglês negative temperature coeficient; coeficiente de temperatura negativo, em português), LDR (do inglês light depend resistor; resistor dependente de luz, em português) e magnetorresistores. 46 Os resistores fixos normalmente são especificados por meio de três parâmetros: o valor da resistência elétrica, a tolerância e a máxima potência elétrica dissipada. A potência dissipada por um resistor pode ser calculada de várias maneiras. Vamos partir da seguinte equação: onde P é a potência, medida em Watt; v é a tensão, em volts; e i é a corrente, em ampere. É possível substituir v por Ri. Desse modo, a Equação 4 pode ser reescrita da seguinte forma: Contudo, também possível substituir i por v/R na Equação 4: Quanto maior for a resistência de um resistor, maior será a potência dissipada por ele. Os resistores possuem alguns valores típicos de potência, são eles: 1/8W, 1/4W e 1/2W. Se a potência for ultrapassada, o resistor aquecerá e poderá queimar. 47 Reostatos Os reostatos são resistores que possuem resistência variável, podendo ser classificados em: de variação contínua e de variação descontínua. Nos reostatos de variação contínua, é possível variar o valor da resistência de forma contínua entre dois pontos, do zero até um valor máximo predeterminado. Nos reostatos, a resistência do resistor é modificada, alterando o valor da corrente. Um exemplo de aplicação do reostato são as lâmpadas que possuem brilho variável, brilho este que pode aumentar ou diminuir de acordo com a variação do resistor. Outros exemplos encontrados em casa são os botões de volume dos aparelhos de som e a regulação da velocidade de um ventilador. Regular a corrente de campo de um motor de corrente contínua é outro exemplo do uso de reostatos de forma industrial. Um resistor variável pode ter uma configuração chamada de potenciômetro. O potenciômetro produz variação de tensão na saída e é utilizado em equipamentos que não necessitam de altos valores de potência. A Figura 3, a seguir, apresenta os símbolos que são utilizados para representar os reostatos em um circuito elétrico. O reostato de variação descontínua, por sua vez, possui um banco de resistores com valores predeterminados que podem ser ligados em paralelo, caso necessitem diminuir o valor da resistência, ou em série, para aumentar o valor. Esse tipo de reostato pode ser utilizado em motores de corrente contínua. Nesse tipo de motor, o pico de corrente é alto, e o reostato é utilizado na partida para que o pico seja minimizado e o motor seja acionado de forma gradativa. A Figura 4, a seguir, apresenta um potenciômetro. 48 Os magnetorresistores (MRE, magneto resistive element) são dispositivos em que a resistência muda de acordo com a intensidade do campo magnético (DUNN, 2013). Os detectores de velocidade, por exemplo, utilizam magnetorresistores. A Figura 5, a seguir, apresenta o símbolo de um magnetorresistor. Resistor dependente de luz (LDR) Os LDR, também chamados de fotorresistores, são resistores variáveis que são controlados pela luz. No LDR, a resistência elétrica diminui quando incide energia luminosa sobre ele. Na ausência de luz, a resistência aumenta, com valores próximos 49 de MΩ. O LDR é ativado ou desativado quando energia luminosa incidir sobre ele. A sensibilidade desse componente depende do tipo de material com o qual a célula é formada, da área em que ficará exposta à luz, da potência de dissipação e da fonte de alimentação do circuito. Algumas aplicações do LDR são: controle automático de porta, controle de iluminação em uma casa, acionamento de relés, controle remoto de dispositivos, entre outros. A Figura 6, a seguir, apresenta os símbolos de um fotorresistor e de um fotorresistor comercial (BALBINOT; BRUSAMARELLO, 2011). NTC e PTC Os termistores são resistores sensíveis à temperatura, os quais ocasionam grandes mudanças na resistência com uma pequena mudança da temperatura. Isso ocorre devido à alteração na concentração de portadores de carga. Essa mudança da resistência com a temperatura pode resultar em um coeficiente positivo da temperatura, como nos dispositivos PTC, em que a resistência elétrica aumenta com a temperatura. A grande maioria dos dispositivos metálicos possui coeficiente positivo de temperatura. Entretanto, na maioria dos materiais semicondutores, o coeficiente da resistência é negativo, ou seja, a resistência elétrica diminui com o aumento da temperatura, como os NTC. Os termistores NTC (Figura 7) são bastante utilizados para a compensação de temperatura, ar-condicionado e termômetro, e são fabricados em vários formatos e tamanhos, como disco, bastão e arruela. Algumas vantagens do NTC são: alta sensibilidade e alta resolução (BHUYAN, 2013). Um dos grandes problemas do 50 termístor NTC, como sensor para a temperatura, é a sua calibração, já que a variação de sua resistência elétrica com a temperatura não é linear. 7.3 Associação de resistores Nos circuitos elétricos, os resistores podem se organizar de duas maneiras: em série ou em paralelo. A resistência total desses resistores pode ser trocada por um único resistor, sendo chamada de resistência equivalente. Na associação de resistores em série, a corrente é a mesma em todo o circuito. Para encontrar a resistência equivalente, somam-se todas as correntes, conforme o exemplo da Figura 8. 51 Já na associação de resistores em paralelo, a tensão é a mesma em cada resistor, de modo que a corrente elétrica que flui pelo circuito é a soma das correntes elétricas que passam por cada um dos resistores. A resistência equivalente dos resistores em paralelo é calculada conforme a Figura 9. Os resistores também podem ter uma associação mista, ou seja, estão em série e em paralelo. Para calcular a resistência equivalente do circuito, primeiro, 52 calcula-se o valor total dos resistores em paralelo e, depois, soma-se esse valor aos resistores que estão em série. A Figura 10, a seguir, apresenta uma associação mista. A resistênciaequivalente da Figura 10 pode ser calculada, primeiramente, calculando-se a resistência equivalente que está em paralelo, R2, R3 e R4, do seguinte modo: Para melhor compreensão, confira o exemplo a seguir. Exemplo 1 Qual é o valor da resistência equivalente para a configuração a seguir? 53 O primeiro passo é resolver o que está em paralelo. Então: O segundo passo é resolver o que está em série: 54 O terceiro passo é resolver o que está em paralelo: 55 O último passo é somar as três resistências que estão em série. Portanto: Nesta seção, vimos como é possível calcular a resistência equivalente nas configurações em série, paralela e mista. 8 ANÁLISE DE CIRCUITOS SÉRIE DE CORRENTE CONTÍNUA Com o objetivo de ter maior controle sobre os efeitos do circuito, seus princípios de funcionamento serão evidenciados para que, a partir de condições de projeto, seja possível resolver determinadas equações matemáticas para definir os valores das grandezas. Por fim, serão analisados e visualizados os possíveis problemas em um circuito série, bem como uma forma identificá-los a partir de parâmetros elétricos mensuráveis. 56 8.1 Características de um circuito série em corrente contínua Em geral, os componentes elétricos dispõem de, no mínimo, dois terminais para que sejam ligados a outros diferentes componentes. A Figura 1 mostra um componente genérico de dois terminais e seus dois terminais, a e b. Quando diversos componentes são ligados sequencialmente, como mostra a Figura 2, em que um terminal de um componente é comum ao componente seguinte, sucessivamente até que o último componente esteja ligado ao primeiro, essa ligação é chamada de associação série. Nela, nota-se a presença de um único caminho, começando e terminando no componente 1 (PETRUZELLA, 2013). 57 Em circuitos elétricos, os componentes básicos são as fontes de tensão e os resistores, ilustrados pelos seus símbolos nas Figuras 3a e 3b, respectivamente, com um circuito série composto por uma bateria V e dois resistores, R1 e R2 , como mostrado na Figura 3c. As fontes de tensão, por sua vez, podem ser de duas naturezas: independentes (Figura 3a), aquelas em que a tensão fornecida depende apenas de seus parâmetros internos; e dependentes, que utilizam outras grandezas do circuito como referência para a tensão fornecida. 58 Em uma fonte de tensão, há, em todos os momentos, uma diferença de potencial elétrico entre seus terminais, medida em Volt (V) e que pode ser originada de diversas formas, como máquinas elétricas rotativas, processos químicos e até mesmo interações com a luz solar. Uma fonte é dita de corrente contínua (CC) quando a diferença de potencial entre seus terminais tem o mesmo valor em todos os instantes de tempo. Um resistor é um componente construído utilizando materiais condutores. Esses materiais têm como característica certa quantidade de cargas livres em seus átomos. A resistência desse componente é medida em Ohm (Ω). Para fazer a ligação entre os componentes de um circuito, são utilizados fios, construídos de material condutor (TIPLER; MOSCA, 2012; WALKER, 2016). Quando um resistor é ligado em um circuito elétrico série a uma fonte de tensão, a diferença de potencial faz com que as cargas livres do resistor tendam a se locomover do potencial mais alto para o potencial mais baixo, sentido conhecido como sentido convencional de condução. O movimento dessas cargas ao longo do tempo é definido como a corrente elétrica de um circuito, grandeza esta medida em ampère (A). Adicionalmente, a corrente elétrica I que circula em um circuito pode ser dada pela razão entre a diferença de potencial V pela resistência R, como mostra a equação (1), conhecida como lei de Ohm. 59 Um circuito série composto por n resistores de diferentes resistências pode ser comparado a um circuito série composto por apenas uma resistência, denominada equivalente. A resistência equivalente Req de uma associação em série de resistores é dada pelo somatório dessas resistências, como mostra a equação (2). No caso de um resistor feito de material condutor de resistividade ρ (em Ωm), cuja corrente circula por um comprimento l (em m) por meio uma seção transversal A (em m2), como mostra o esquema na Figura 4, sua resistência é dada pela equação (3). Para fazer a ligação entre os componentes de um circuito, utilizam-se fios, construídos de material condutor, normalmente o cobre. Já resistores podem ser construídos de diversos materiais, de compostos cerâmicos a ligas de níquel-cromo e manganina (TIPLER; MOSCA, 2012; WALKER, 2016). Suas resistividades, bem como de outros materiais, podem ser encontradas no Quadro 1. 60 A circulação de corrente se dá em razão do movimento das cargas livres nos materiais, que faz com que essas cargas acabem colidindo umas com as outras gerando calor nos condutores e resistores — esse calor é conhecido como efeito Joule. A potência P (em W) dissipada na forma de calor pelo efeito Joule em um componente de resistência R, sob uma diferença de potencial V e circulando uma corrente I pode ser dado por uma das três expressões da equação (4) (TIPLER; MOSCA, 2012; WALKER, 2016). Da mesma forma que um resistor dissipa uma potência, esta deve ser fornecida pelo circuito. Assim, o elemento que fornecerá a potência dissipada pelos resistores de um circuito será a fonte. Como os circuitos elétricos também obedecem às leis de conservação de energia, a potência fornecida por uma fonte ligada a diversos resistores será igual ao somatório das potências dissipadas por cada resistor ou, então, pelo produto de sua tensão V e pela corrente I que fornece ao circuito (TIPLER; MOSCA, 2019; WALKER, 2016). 61 Uma fonte independente ideal é aquela que sempre fornece sua grandeza de forma constante, sem nenhuma variação, em que as demais grandezas variam para que essa condição seja obedecida. Assim, uma fonte de tensão independente fornece uma tensão constante variando a corrente de acordo com a carga ligada nela. Fontes de tensão em CC devem respeitar a polaridade de seus terminais, situação em que um terá potencial elétrico maior que outro em todos os instantes e de forma invariável. Assim, é possível associar fontes em série a fim de obter tensões maiores ou menores, mostradas na Figura 5. 62 Na Figura 5a, as fontes estão ligadas de modo que o terminal positivo da fonte V1 está ligado ao terminal negativo da fonte V2, fazendo com que a tensão entre os terminais a e b seja o somatório das tensões dessas duas fontes. Já na Figura 5b, as fontes estão ligadas para que o terminal positivo da fonte V1 está ligado ao terminal positivo da fonte V2, fazendo com que a tensão entre os terminais a e b seja a subtração da tensão da fonte V2 da tensão da fonte V1. Em aplicações reais, as fontes de tensão CC têm comportamento diferente quando há uma carga conectada a elas ou não. Quando não há uma carga ligada a seus terminais, é dito que a fonte está em aberto ou em vazio e a tensão em seus terminais é sua tensão de circuito aberto. Quando essa fonte fornece energia para uma carga resistiva, a tensão em seus terminais abaixa. Isso ocorre em virtude das perdas pelos materiais empregados desde a geração até os terminais utilizados para ligação. Todos esses componentes apresentam uma resistência que, quando sob circulação de corrente, apresentarão uma queda de tensão. Assim, uma fonte de 63 tensão real deve ser representada por uma fonte de tensão ideal associada em série com um resistor r, representando a resistência interna. 8.2 Resolução de um circuito série em CC Dois pontos podem ser destacados em relação a circuitos série em CC: Quando vários resistores estãoconectados em série, a resistência equivalente a eles é igual à soma das resistências individuais; A potência fornecida por uma fonte é igual ao somatório das potências dissipadas pelos resistores conectados a ela. 64 Aplicando o ponto 2 ao circuito da Figura 3c, é possível obter uma equação para a potência do circuito — do lado esquerdo aquela fornecida pela fonte e do lado direito aquela dissipada pelos resistores, como visto na equação (5). Como em um circuito série a corrente é igual em todos os elementos, a equação (5) pode ser toda dividida pela corrente I, resultando na equação (6). Analisando o item 1, é possível inferir intuitivamente que, se um circuito série apresenta apenas uma corrente circulando, cada resistor apresentará uma queda de tensão pela lei de Ohm, algo comprovado matematicamente pela equação (6). Dessa forma, a lei da conservação de energia, anteriormente utilizada para analisar a potência fornecida/dissipada em um circuito, também permitiu constatar que a soma das tensões em resistores associados em série será igual à tensão de uma fonte. A partir desse resultado, o físico alemão Gustav Kirchhoff propôs a lei de Kirchhoff das tensões, que diz que o somatório das tensões em um circuito fechado deve ser nula, como mostra a equação (7). Entretanto, para essa lei ser válida, além da polaridade de tensão da fonte, deve-se estabelecer uma polaridade para a queda de tensão em resistores. Em fontes, foi estabelecido que a corrente sai do terminal com maior potencial elétrico. Para um resistor, essa polaridade é invertida, com a corrente entrando no terminal com maior potencial elétrico. A Figura 6 mostra as polaridades de tensão e o sentido de corrente para (a) uma fonte e (b) um resistor, com (c) exemplificando como essas polaridades seriam aplicadas a um circuito com uma fonte e dois resistores. 65 Após determinadas as polaridades dos elementos do circuito, deve-se montar a equação de acordo com o sentido da corrente. Se a corrente entra no terminal cujo potencial é negativo, esse termo terá sinal positivo na equação. Assim, se a corrente entrar no terminal cujo potencial é positivo, esse termo terá sinal negativo na equação. Para o circuito da Figura 6c, a lei de Kirchhoff das tensões pode ser então escrita como a equação (8). 66 67 8.3 Solução de problemas em um circuito série em CC Um circuito resistivo real pode ser dado em função de uma fonte de tensão (p. ex., uma bateria com sua resistência interna r), uma carga resistiva R e os condutores que ligarão esses dois componentes. Esses condutores terão, cada um, uma resistência Rfio. Dessa forma, esse circuito pode ser esquematizado como mostra a Figura 7. Utilizando o princípio da conservação de energia e a lei de Kirchhoff das tensões, é possível saber as demais grandezas presentes no circuito, como a corrente que circula, a potência fornecida pela fonte e a potência dissipada por cada elemento resistivo. Entretanto, esses valores são apenas válidos em casos nos quais o circuito funciona normalmente. Defeitos são problemas que podem ocorrer por desgaste natural dos componentes e apresentar diversas fontes, sendo os mais importantes o curto-circuito e o circuito aberto. 68 O curto-circuito ocorre quando uma corrente elevada é detectada pelo circuito. Em geral, nesse caso, há algum problema na carga R, a qual não é sentida pelo circuito, fazendo com que a resistência equivalente do circuito diminua e provocando, assim, uma maior corrente no circuito e, consequentemente, uma maior potência dissipada pelos condutores. Além do aumento da corrente, provoca-se uma diminuição da tensão entre os dois pontos em que se deu o problema, fazendo com que ambos fiquem no mesmo potencial elétrico. Condutores reais, utilizados nas instalações de circuitos elétricos, são compostos por uma parte condutiva (de cobre, em geral) e uma capa isolante (com frequência de PVC). Essa capa isolante existe para que diversos condutores possam ser instalados juntos sem que um provoque um curto-circuito no outro, embora, sob excessivas temperaturas, possa vir a perder suas propriedades isolantes. Como a dissipação de potência por efeito Joule provoca um aumento de temperatura, os condutores são classificados por sua capacidade máxima de corrente. Assim, um curto-circuito poderá trazer danos ao circuito, fazendo uma alta corrente circular por um condutor e elevando sua corrente de maneira excessiva de modo a provocar o rompimento da camada isolante não somente dele, mas também com o tempo dos condutores que estejam fisicamente próximos a ele, podendo causar problemas até mesmo em circuitos sem problemas. Para proteger as instalações, existem dispositivos que detectam a corrente que circula e, caso esta ultrapasse um valor-limite estabelecido, ou seja, estejam sob um estado de sobrecorrente, o circuito é interrompido. Para esse fim, podem ser empregados fusíveis ou disjuntores. A vantagem de um disjuntor em relação a um fusível está no fato de que pode ser religado após sanar o problema; já o fusível é descartável após aberto. Na Figura 8, você pode observar um circuito com proteção contra sobrecorrente. 69 70 Outro problema pode surgir quando não houver passagem de corrente pelos condutores, não permitindo que potência alguma seja dissipada pelos componentes. Isso pode ser causado pela ação de um disjuntor, sendo necessário corrigir o problema que causou a sobrecorrente para, então, rearmar o circuito. Mais um problema acontece quando os condutores são rompidos, causando interrupção no circuito e, por não haver mais um caminho para o movimento das cargas, a falta de circulação de corrente. Nesse caso, o condutor deve ser substituído por um em perfeitas condições de funcionamento. Esses dois problemas estão relacionados diretamente à resistência naquele trecho de circuito, o que possibilita sua análise pela lei de Ohm (equação (1) com os prognósticos evidenciados. Como um curto-circuito se caracteriza por um aumento de corrente quando a fonte de tensão se mantém constante, a resistência elétrica do circuito tende a diminuir, ou seja, um curto-circuito é definido pela presença de uma resistência nula entre dois pontos de um circuito. Já no circuito aberto, por se caracterizar por uma corrente nula circulando quando a fonte de tensão se mantém constante, a resistência elétrica do circuito tende a aumentar, ou seja, um circuito aberto é definido por uma resistência infinita entre dois pontos de um circuito. O Quadro 2 mostra um resumo dessas características, ilustradas pelos circuitos e curvas tensão versus corrente da Figura 9. 71 9 MÉTODO DE ANÁLISE: NODAL E MALHAS Para o estudo de circuitos mais complexos, que contam com mais de uma fonte de tensão, utiliza-se os métodos de análise nodal e de malhas em detrimento do método da análise das correntes. Temos como principal ponto da análise dos nós a verificação das tensões nas junções dos circuitos (nós) a partir da corrente que percorre o circuito, e, da análise de malhas, a verificação das correntes conforme o sentido adotado nas malhas, a partir das tensões dos resistores. Ambos os métodos são derivações que implementam as leis de Kirchhoff 9.1 Características do método de análise de malhas A maioria dos circuitos é analisada por meio da fonte de tensão, que fornece energia para o sistema. No entanto, a análise de determinados circuitos é mais fácil 72 quanto trabalhamos com a corrente em vez da tensão. Diferentemente da fonte de tensão, a fonte de corrente mantém a corrente em seu ramo do circuito, independentemente da maneira como os componentes estão ligados externamente à fonte. Sabemos que a magnitude e a direção da corrente em uma fontede tensão variam de acordo com o tamanho das resistências do circuito e com a maneira como outras fontes de tensão estão conectadas ao circuito. Já nas fontes de corrente, a tensão depende do modo como os outros componentes estão ligados. Assim, no caso de fontes de corrente colocadas em paralelo, o circuito pode ser simplificado se combinarmos as fontes em uma única fonte de corrente. Determinam-se a magnitude e a direção dessa fonte resultante pela soma das correntes em uma direção e pela subtração das correntes na direção oposta. Por exemplo, vamos simplificar o circuito apresentado a seguir. Como todas as fontes de corrente estão em paralelo, elas podem ser substituídas por uma única corrente. A fonte de corrente equivalente terá a mesma direção de I2 e de I3, uma vez que a magnitude da corrente é maior na direção para baixo do que para cima. A fonte da corrente equivalente tem uma magnitude de: I = 2A + 6A – 3A = 5A. 73 Usamos as leis de Kirchhoff para realizar a análise de circuitos com uma única fonte de tensão, calculando a corrente em cada ramo de um circuito. No entanto, aqui estamos lidando com circuitos com mais de uma fonte de tensão. Ainda que o uso das leis de Kirchhoff seja simples, é inconveniente utilizá-las em um cenário com várias fontes de tensão, uma vez que seria necessário resolver um número excessivo de equações, o que aumentaria a complexidade de circuitos relativamente simples, conforme esclarece Robbins e Miller (2010). Com base nisso, surgiu a análise de malhas, que é uma abordagem mais prática e uma das mais utilizadas na análise de circuitos lineares bilaterais. A análise de malhas, apesar de ser uma técnica parecida com a análise de correntes nos ramos, apresenta um número de equações lineares menor. A principal diferença entre a análise de malhas e a análise de correntes nos ramos é que apenas precisamos aplicar a lei de Kirchhoff das tensões ao redor das malhas, sem haver a necessidade de aplicar a lei de Kirchhoff das correntes. Vejamos o passo-a-passo para resolver um circuito utilizando a análise de malhas: 1. Arbitrariamente, estabeleça uma corrente no sentido horário para cada malha interna no circuito. Embora a corrente assinalada possa apontar para qualquer direção, utiliza-se o sentido horário para simplificar o trabalho posterior. 2. Usando as correntes determinadas para a malha, indique as polaridades da tensão em todos os resistores do circuito. Para um resistor comum a duas malhas, as polaridades da queda de tensão ocasionada pela corrente em cada malha devem ser identificadas no lado adequado do componente. 3. Aplique a lei de Kirchhoff das tensões e escreva as equações das malhas para cada malha na rede. Não se esqueça de que os resistores comuns às duas malhas ocasionarão duas quedas de tensão, uma para cada malha. 4. Resolva as equações lineares simultâneas. 5. As correntes nos ramos são determinadas pela combinação algébrica das correntes na malha que são comuns aos ramos. Confira o exemplo a seguir. 74 75 9.2 Características do método de análise nodal Como vimos, pode-se aplicar a lei de Kirchhoff das tensões para encontrar as correntes nas malhas em uma rede, conforme leciona Boylestad (2012). Já no caso da análise nodal, outra forma de abordagem para circuitos com mais de uma fonte de tensão, aplicaremos a lei de Kirchhoff das correntes para determinar a diferença de potencial (tensão) em qualquer nó, em relação a algum ponto de referência arbitrário em um circuito. Como os potenciais de todos os nós são conhecidos, é fácil determinar outras grandezas, como a corrente e a potência no interior de um circuito. São esses os passos que seguiremos para resolver um circuito pela análise nodal: 1. Arbitrariamente, determine um nó de referência no circuito e indique-o como o aterramento. Geralmente, o nó de referência está localizado na parte de baixo do circuito, embora possa estar situado em qualquer lugar. 76 2. Converta cada fonte de tensão na rede para uma fonte de corrente equivalente. Ainda que não seja absolutamente necessário, esse passo facilitará a compreensão de futuros cálculos. 3. De forma arbitrária, assinale as tensões (V1, V2, ..., Vn) para os nós restantes no circuito. (Lembre-se de que você já determinou um nó de referência, logo, essas tensões serão determinadas em relação à referência escolhida.) 4. Arbitrariamente, determine uma direção da corrente para cada ramo no qual não haja fonte de corrente. Usando as direções assinaladas da corrente, indique as polaridades correspondentes das quedas de tensão em todos os resistores. 5. Com exceção do nó de referência (aterramento), aplique a lei de Kirchhoff das correntes em cada um dos nós. Se um circuito tiver um total de n+1 nós (incluindo o de referência), haverá n equações lineares simultâneas. 6. Reescreva cada uma das correntes determinadas de forma arbitrária quanto à diferença de potencial em uma resistência conhecida. 7. Resolva as equações lineares simultâneas para as tensões (V1, V2, ..., Vn). 77 78 9.3 Comparando os métodos de análise nodal e de malhas Podemos dizer que o método das malhas é, na realidade, uma extensão do método da análise das correntes nos ramos. Ao definir uma disposição específica de correntes para o circuito, a informação fornecida pela aplicação da lei de Kirchhoff das correntes já está incluída quando aplicamos a lei das tensões. Ou seja, o método das malhas emprega uma manobra que elimina a necessidade de se aplicar a lei de Kirchhoff das correntes. No caso das malhas, temos a associação de uma corrente no sentido horário a cada malha. Podemos escolher, na verdade, qualquer sentido para cada uma das correntes, sem alterar o resultado; porém, normalmente se adota o sentido horário. Indicamos, então, as polaridades de cada resistor dentro das malhas, de acordo com o sentido da corrente. Depois, basta aplicar a lei de Kirchhoff das tensões em todas as malhas no sentido horário. Resolvemos, então, as equações lineares resultantes para obter as correntes das malhas, conforme lecionam Robbins e Miller (2010). Já no método dos nós, temos as tensões nodais de um circuito, ou seja, a tensão dos vários nós (pontos de junção) do circuito. O método se desenvolve por 79 meio da lei de Kirchhoff das correntes, de maneira bem semelhante à lei de Kirchhoff das tensões, utilizada na análise de malhas. Seguimos, então, os procedimentos de determinar o número de nós no circuito (junções). Escolhemos um nó de referência e rotulamos cada nó restante com um valor de tensão — V1, V2 e assim por diante. Depois, aplicamos a lei de Kirchhoff das correntes a todos os nós. Tratamos, então, cada nó como uma entidade isolada e analisamos com a lei de Kirchhoff das correntes no próprio nó, conforme explica Boylestad (2012). Resolvemos as equações resultantes da aplicação da lei de Kirchhoff para obter a tensão no nó. Assim, temos como principal ponto da análise dos nós a verificação das tensões nas junções dos circuitos (nós) a partir da corrente que percorre o circuito. Por outro lado, na análise de malhas, temos como principal ponto a verificação das correntes conforme o sentido adotado nas malhas, a partir das tensões, que são a fonte para o circuito. Segundo Boylestad (2012), a análise nodal e a análise de malhas são derivações que implementam as leis de Kirchhoff. 10 TEOREMAS DE THEVENIN E NORTON Os circuitos equivalentes de Thevenin e Norton são técnicas utilizadas para simplificar um circuito inteiro, vistos nos terminais de referência, por um circuito equivalente, composto por uma única fonte e um resistor. Assim, podemos calcular a tensão ou a corrente em um único elemento de um circuito complexo, substituindo o restante
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