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Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 EXAME FÍSICO DO TÓRAX INTRODUÇÃO O exame físico do tórax compreende a avaliação das mamas, dos pulmões, do coração e do mediastino, bem como das estruturas componentes da caixa torácica – pele, tecido celular subcutâneo, linfonodos, panículo adiposo, musculatura, sistema vascular superficial, ossos e cartilagens. Antes do estudo propedêutico, é conveniente se estabelecerem os pontos de referência anatômicos, as linhas e as regiões torácicas, assim como a projeção na parede do tórax dos pulmões, do coração, do fígado, do fundo do estômago e do baço. Esses conhecimentos são indispensáveis para se fazerem, de maneira correta e padronizada, as manobras semiológicas próprias deste segmento do corpo e para a descrição dos sinais clínicos aí evidenciados. LINHAS TORÁCICAS REGIÕES TORÁCICAS Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 EXAME DOS PULMÕES O exame dos pulmões compreende a inspeção, a palpação, a percussão e a ausculta. O paciente deve sentar-se em uma banqueta, na mesa de exame ou no próprio leito. O examinador fica de pé, movimentando-se ao seu redor. Se o paciente não puder ficar sentado, o exame é feito na posição deitada. Em tal eventualidade, serão obtidas menos informações. INSPEÇÃO Dividese a inspeção do tórax em estática e dinâmica. A inspeção estática compreende a forma do tórax e a presença ou não de abaulamentos e depressões, enquanto, na inspeção dinâmica, analisam-se o tipo respiratório, o ritmo e a frequência da respiração, a amplitude dos movimentos respiratórios, a presença ou não de tiragem e a expansibilidade dos pulmões. Forma do tórax -Tórax chato Sua característica fundamental é o reduzido diâmetro anteroposterior. Além do achatamento, neste tipo de tórax as escápulas sobressaem claramente no relevo torácico. O tórax chato é mais comum nos longilíneos e não tem significado patológico, não havendo, também, fundamento no preconceito de que essas pessoas seriam mais propensas a contrair tuberculose pulmonar. - Tórax em tonel ou em barril Neste tipo de configuração, oposta à anterior, chama a atenção a magnitude do diâmetro anteroposterior que, praticamente, iguala-se ao transversal. No conjunto, lembra a forma dos tonéis ou barricas – daí se origina sua designação. A causa mais comum é o enfisema pulmonar; no entanto, pode surgir em pessoas idosas livres de qualquer doença pulmonar. - Tórax infundibuliforme (pectus excavatum) Caracteriza-se pela presença de uma depressão mais ou menos acentuada no nível do terço inferior do esterno. Pode ser congênito ou adquirido. O raquitismo constitui a causa mais importante de tórax infundibuliforme. Quando muito acentuado pode produzir distúrbio pulmonar restritivo. Seu reconhecimento é indispensável também para a correta interpretação de alterações da área e da silhueta cardíaca em exames de imagem, que podem ser simples consequência do deslocamento do coração pela deformidade da parede torácica. - Tórax cariniforme (pectus carinatum) É o contrário do precedente, ou seja, nota-se, no nível do esterno, uma saliência em forma de peito de pombo ou de quilha de navio. Pode ser congênito ou adquirido. O raquitismo infantil é também a principal causa deste tipo de tórax, o qual não compromete a ventilação pulmonar. - Tórax em sino ou piriforme A porção inferior torna-se alargada como a boca de um sino, lembrando um cone de base inferior. Surge nas grandes hepatoesplenomegalias e na ascite volumosa. - Tórax cifótico É decorrente do encurvamento posterior da coluna torácica, seja por defeito de postura ou por lesão de vértebras torácicas (tuberculose, osteomielite, neoplasias ou anomalias congênitas). - Tórax escoliótico O tórax torna-se assimétrico em consequência do desvio lateral do segmento torácico da coluna vertebral. A causa mais comum é anomalia congênita. - Tórax cifoescoliótico Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 Decorre da combinação de uma alteração cifótica, com desvio lateral da coluna vertebral (escoliose). Pode ser congênito ou secundário às mesmas enfermidades referidas no item anterior. A cifoescoliose pode produzir restrição grave da expansão torácica, causando insuficiência respiratória. Abaulamentos e depressões Os abaulamentos e as depressões podem localizar-se em qualquer região do tórax e indicam alguma lesão que aumentou ou reduziu uma das estruturas da parede ou de órgãos intratorácicos. Assim, nos casos de aneurisma da aorta, um abaulamento arredondado e pulsátil pode ser visto na parte anterossuperior do tórax. Tumor do timo ou do mediastino superior também determina abaulamento nesta região. Os derrames pleurais provocam abaulamento na base do hemitórax correspondente. As hipertrofias do ventrículo direito, principalmente em crianças, ocasionam abaulamento do precórdio. Atelectasia ou lesões fibróticas de um pulmão ou de um lobo pulmonar causam retração do hemitórax correspondente. Por fim, cumpre lembrar que as malformações e as consolidações de fraturas de costelas exteriorizam-se com abaulamentos ou depressões da área em que se localizam. Tipo respiratório Para o reconhecimento do tipo respiratório, observa-se atentamente a movimentação do tórax e do abdome, com o objetivo de reconhecer em que regiões os movimentos são mais amplos. Em condições normais, observam-se dois tipos de respiração: costal superior e toracoabdominal. A respiração costal superior, observada principalmente no sexo feminino, deve-se ao predomínio da ação dos músculos escaleno e esternocleidomastóideo, os quais deslocam a parte superior do tórax para cima e para a frente. Na respiração toracoabdominal, predominante no sexo masculino, a musculatura diafragmática apresenta grande importância. Este tipo de respiração é comum em crianças de ambos os sexos. Na posição deitada, em ambos os sexos, a respiração é predominantemente diafragmática, prevalecendo a movimentação da metade inferior do tórax e da parte superior do abdome. Ritmo respiratório Em condições normais, o ritmo da respiração é determinado pela sucessão regular de movimentos respiratórios, de profundidade mais ou menos igual. Recebe a designação de ritmo respiratório normal. - Alguns ritmos respiratórios anormais: ◗ Respiração dispneica: na linguagem médica costumamos nos referir simplesmente a dispneia. Caracteriza-se pela sucessão regular de movimentos respiratórios amplos e quase sempre desconfortáveis para o paciente. Em alguns casos, o paciente não tem a sensação subjetiva de dificuldade para respirar, mas ela pode ser reconhecida pelo médico. ◗ Platipneia: é a dificuldade para respirar em posição ereta, que se alivia na posição deitada; ou seja, é o contrário da dispneia de decúbito. Pode ocorrer após pneumectomia ◗ Ortopneia: é a dificuldade para respirar mesmo na posição deitada Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 ◗ Trepopneia: é a condição na qual o paciente se sente mais confortável para respirar em decúbito lateral. Pode ocorrer na insuficiência cardíaca congestiva e no derrame pleural ◗ Respiração de CheyneStokes: também chamada dispneia periódica, uma vez que o paciente apresenta, de modo cíclico, incursões respiratórias que vão se tornando cada vez mais profundas até atingirem uma amplitude máxima; neste momento, os movimentos começam a diminuir gradativamente, podendo ocorrer apneia; se isso acontece, o paciente permanece sem respirar alguns segundos, ao fim dos quais repete-se a mesma sequência; e, assim, sucessivamente ◗ Respiração de Biot: caracteriza-se fundamentalmente pela ocorrência de períodos de apneia que interrompem a sequência das incursões respiratórias. Há também nítidas variações na amplitude dos movimentos torácicos, observando-se umaverdadeira arritmia respiratória. Muito comum na meningite. ◗ Respiração de Kussmaul: a principal característica deste ritmo respiratório são as amplas e rápidas inspirações interrompidas por curtos períodos de apneia após as quais ocorrem expirações profundas e ruidosas, que, por sua vez, são sucedidas por pequenas pausas de apneia. É observada em casos de cetoacidose diabética, insuficiência renal com uremia e outras acidoses. ◗ Respiração suspirosa: é aquela na qual, vez por outra, interrompendo a sequência regular das incursões respiratórias, surge uma inspiração mais profunda seguida de uma expiração mais demorada. Amplitude da respiração Ao observar os movimentos respiratórios pode-se reconhecer aumento ou redução da amplitude, falando-se, então, em respiração profunda e respiração superficial, respectivamente. Em condições normais, a amplitude da respiração sofre variações. Assim, durante o sono tranquilo torna-se mais superficial, enquanto os esforços e as emoções fazem-na mais profunda. Frequência respiratória A frequência respiratória varia entre amplos limites, principalmente em função da idade, aceitando-se como normais os valores apresentados a seguir. Taquipneia significa frequência respiratória acima dos valores normais, podendo ser acompanhada ou não de dispneia, enquanto bradipneia é o Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 termo que expressa frequência inferior aos valores normais. Apneia significa parada respiratória e eupneia, frequência normal sem dificuldade respiratória. Recém-nascidos: 40 a 45 irpm Lactentes: 25 a 35 irpm Pré-escolares: 20 a 35 irpm Escolares: 18 a 35 irpm Adultos: 12 a 20 irpm Tiragem Nas regiões axilares e infraaxilares, os espaços intercostais apresentam ligeira depressão durante a inspiração. É um fenômeno fisiológico, mais visível em pessoas magras e explicável pelo efeito da pressão atmosférica sobre os espaços intercostais no momento em que a negatividade intratorácica se acentua e os músculos intercostais ainda estão descontraídos. Quando há obstáculo em uma via respiratória, dificultando ou impedindo a penetração do ar, a parte correspondente do pulmão não se expande. A pressão atmosférica, ao atuar sobre a área correspondente da parede torácica, provoca uma leve depressão dos espaços intercostais; este fenômeno denomina-se tiragem. Pode ser localizada em uma área restrita ou ser unilateral, visível em todo um hemitórax, ou bilateral, tudo em função da altura da obstrução. Tiragem em um hemitórax indica oclusão de um brônquio principal – direito ou esquerdo – por exsudato espesso (tampão mucoso), neoplasia ou corpo estranho. É bilateral quando o obstáculo está acima da bifurcação traqueal, como ocorre na angina diftérica (crupe), na laringite estridulosa, por corpo estranho ou quando há compressão extrínseca da traqueia por tumores mediastinais. Nos estreitamentos generalizados dos pequenos brônquios, fato que se observa na asma brônquica e no enfisema pulmonar, surgem também retrações inspiratórias bilaterais. Expansibilidade dos pulmões A expansibilidade dos pulmões pode ser avaliada pela inspeção, mas será mais bem analisada pelo método palpatório, estudado a seguir. Inspeção do pescoço É importante observar se a respiração é auxiliada pela ação dos músculos acessórios, sinal precoce de obstrução das vias respiratórias. Os músculos acessórios auxiliam na ventilação porque elevam a clavícula e a parede torácica anterior, aumentando a pressão intratorácica negativa e o volume pulmonar. À inspeção, este fato é evidenciado pela retração das fossas supraclaviculares e dos espaços intercostais. A utilização desses músculos durante a respiração é um dos sinais mais precoces da obstrução das vias respiratórias. Para isso, deve-se observar os músculos trapézios e esternocleidomastóideos no pescoço. Ao se contraírem, elevam a clavícula e a parede torácica anterior, o que é evidenciado por retração das fossas supraclaviculares e músculos intercostais. PALPAÇÃO Durante a palpação, investigam-se três parâmetros: estrutura da parede torácica, expansibilidade ou mobilidade e frêmito toracovocal. Estrutura da parede torácica A parede torácica inclui a pele, o tecido celular subcutâneo, os músculos, as cartilagens e os ossos. Expansibilidade ou mobilidade Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 Avaliam-se separadamente a expansibilidade dos ápices e a das bases, utilizando manobras semiológicas específicas. Para avaliar a expansibilidade dos ápices, o examinador se posiciona atrás do paciente, pousando ambas as mãos sobre as regiões que correspondem aos ápices pulmonares, de tal modo que os polegares se toquem levemente, em ângulo quase reto, no nível da vértebra proeminente. Os demais dedos do examinador, justapostos e semifletidos, exercem leve pressão sobre o tórax. Solicita-se, então, ao paciente que respire mais fundo, e, enquanto isso, o examinador observa a movimentação de suas mãos. Não é difícil reconhecer diminuição ou ausência da mobilidade, de um ou de ambos os ápices pulmonares. Isso ocorre nas pneumonias, no pneumotórax e nas pleurites. Na avaliação da expansibilidade das bases, o examinador continua posicionado atrás do paciente, de pé ou sentado. Seus polegares devem estar próximos ou mesmo juntos na altura das apófises espinhosas da 9ª ou 10ª vértebra torácica, enquanto a palma da mão e a face ventral dos dedos, estendidos e justapostos, devem abarcar o máximo da área correspondente às bases pulmonares. É conveniente que os dedos estejam bem aderidos à parede torácica de tal modo que a movimentação dessa região leve consigo a mão do examinador. Analisa-se a mobilidade das bases pulmonares durante a respiração tranquila e também após algumas incursões respiratórias profundas. A amplitude da movimentação das mãos do examinador indica o grau de expansibilidade dos lobos inferiores dos pulmões. Frêmito toracovocal As vibrações percebidas na parede torácica pela mão do examinador quando o paciente emite algum som denominam-se frêmito toracovocal. - Semiotécnica: O examinador pousa a mão sobre as regiões do tórax, ao mesmo tempo que o paciente pronuncia, seguidamente, as palavras “trinta e três”. À medida que ele fala, o examinador desloca sua mão de modo a percorrer toda a extensão da parede torácica (face anterior, faces laterais e face posterior), completando o exame com o estudo comparado das regiões homólogas. O elemento semiótico de interesse é a intensidade do frêmito toracovocal que pode sofrer variações, dependendo de muitos fatores extrapulmonares: é mais fraco nas mulheres por causa do timbre de voz, nas pessoas com parede torácica espessa por existir hipertrofia muscular ou aumento do panículo adiposo e nas que têm voz débil. Além disso, em condições normais, a intensidade das vibrações não é exatamente igual nas diferentes partes do tórax. Por exemplo, maior nitidez é notada no ápice direito e na região interescapulovertebral direita, isso porque nestas áreas as vibrações têm mais facilidade de chegar à superfície do tórax em razão do menor comprimento do brônquio direito. PERCUSSÃO Para a percussão das faces anterior e laterais, o paciente pode estar sentado ou deitado. Já a percussão da face posterior é possível apenas quando o paciente está sentado. Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 Quando se percutem as faces laterais, o paciente deve colocar suas mãos na cabeça. Atualmente só se usa a percussão digitodigital, e, ao executá-la, o examinador deve ficar atento ao ruído provocado pelo golpe, sem esquecer de avaliar a resistência oferecida ao dedo plexímetro. Há nítida relação entre macicez e maior resistência, bem como entre hipersonoridade ou timpanismoe menor resistência. As duas informações – sonora e tátil – completam-se, uma se somando à outra. A percussão do tórax deve obedecer a um roteiro preestabelecido. Convém iniciá-la pela face anterior, indo de cima para baixo e golpeando, ora de um lado, ora de outro, em pontos simétricos. Passa-se em seguida às regiões laterais. Conclui-se o exame com a percussão da face posterior. Vale ressaltar que a força do golpe precisa ser a mesma quando se percutem regiões simétricas. No entanto, para a percussão de áreas não homólogas é necessário aplicar golpes de diferentes intensidades. ◗ Na área de projeção do coração, do fígado e do baço obtém-se, à percussão, som maciço (coração e fígado) ou submaciço (baço); ◗ Na área de projeção de fundo do estômago – espaço de Traube –, obtém-se som timpânico, semelhante ao obtido quando se percute um tambor; ◗ Nas demais regiões, encontra-se sonoridade pulmonar ou som claro pulmonar, também denominado som claro atimpânico. AUSCULTA A ausculta constitui o método semiótico por excelência da exploração clínica do tórax, tanto para o exame dos pulmões como do coração. Por meio dela obtêm-se grandes subsídios para o diagnóstico, mas seu aprendizado exige prática intensiva em pessoas normais e em manequins que disponham de gravação dos sons pulmonares e cardíacos. Cumpre ressaltar a necessidade de seguir os princípios corretos da ausculta. Erro grosseiro e inaceitável é realizar a ausculta do tórax por cima da roupa. É como se quisesse obter radiografia do tórax de um paciente vestido com avental de chumbo. Semiotécnica: Para se realizar a ausculta do tórax, o paciente deve estar, preferencialmente, sentado, com o tórax total ou parcialmente descoberto. Não se deve, em hipótese alguma, colocar o receptor do estetoscópio sobre qualquer tipo de roupa. Além disso, é importante solicitar ao paciente que respire um pouco mais profundamente com os lábios entreabertos. Se for necessário, o examinador ensina-lhe a maneira adequada de respirar para se fazer a Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 ausculta. Quando o paciente está impossibilitado de se sentar, faz-se o exame nos decúbitos dorsal e lateral. O receptor mais adequado é o de diafragma, usando-se os de menor diâmetro no exame de crianças. O som traqueal, audível na região de projeção da traqueia, no pescoço e na região esternal, origina-se na passagem do ar através da fenda glótica e na própria traqueia. A respiração brônquica corresponde ao som traqueal audível na zona de projeção de brônquios de maior calibre, na face anterior do tórax, nas proximidades do esterno. Os ruídos respiratórios ouvidos na maior parte do tórax são produzidos pela turbulência do ar circulante ao chocar-se contra as saliências das bifurcações brônquicas, ao passar por cavidades de tamanhos diferentes, tais como bronquíolos para os alvéolos e vice-versa. Recebe a denominação de murmúrio vesicular. Na respiração broncovesicular somam-se as características da respiração brônquica com as do murmúrio vesicular. Deste modo, a intensidade e a duração da inspiração e da expiração têm igual magnitude, ambas um pouco mais fortes que no murmúrio vesicular, mas sem atingir a intensidade da respiração brônquica.
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