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A Responsabilidade Social das Empresas: conceito, história e sua relação com a noção de sustentabilidade João Sucupira* Rio de Janeiro, 01 de Junho de 2009 *Mestre em Administração, pós-graduado em economia, professor de ética da PUC-RJ e economista pleno da Gerência de Responsabilidade Social das Empresas da Petrobras A Responsabilidade Social das Empresas: conceito, história e sua relação com a noção de sustentabilidade Índice Introdução 1. Conceito de responsabilidade social das empresas-RSE .visão Clássica .visão Socioeconômica (stakeholders) 2. Perspectiva histórica da RSE .as Origens .a RSE no Brasil 3. A relação entre sustentabilidade e RSE .conceito de sustentabilidade .impactos da sustentabilidade 4. Os stakeholders e a RSE .stakeholders: partes interessadas .relações com os empregados(as) .relações com os consumidores .relações com os fornecedores .relações com a comunidade .relações com o governo .relações com os investidores 5. Governança corporativa .conceito de governança corporativa .o mercado de capitais .o conselho de administração 6. Considerações finais Introdução Nos últimos 10 anos o tema da responsabilidade social empresarial tem sido bastante debatido a ponto de ocupar considerável espaço na mídia e nos fóruns empresariais, no Brasil e no mundo, envolvendo a participação de empresas líderes, entidades empresariais, ongs e órgãos vinculados à ONU. Não há a menor dúvida que a temática da responsabilidade social é uma realidade, basta visitar as páginas na internet das principais empresas. São diretorias de sustentabilidade, gerências de responsabilidade social, referências explícitas na missão e nos planos das empresas, enfim, pode-se dizer hoje que há um mercado natural que demanda gente com especialidade e conhecimento nesse campo. Era de se esperar, no entanto, que todo esse movimento já tivesse alcançado um patamar de credibilidade maior principalmente entre os jovens, os futuros líderes. Afinal, essa nova geração recebeu informações sobre meio ambiente e cidadania desde cedo na escola. Não há dúvida que os jovens de hoje são muito mais informados sobre os riscos ambientais e a necessidade de se combater o preconceito e as desigualdades sociais. Ainda assim, demonstram desconfiança quanto ao papel das empresas como instrumento capaz de ajudar a resolver os problemas sociais. Apesar da ampla divulgação do tema, há muito desconhecimento sobre a questão ambiental. Entre os jovens, as pesquisas, tanto no Brasil quanto no exterior, mostram que poucos estão bem informados sobre o tema. Como esses futuros líderes percebem o papel das empresas diante dos problemas sociais e ambientais? No 4º Dossiê Universo Jovem realizado pela MTV1, divulgado no final de 2008, os jovens brasileiros deixam claro que a imagem das empresas não é favorável entre eles. Com relação à questão ambiental percebem que a propaganda das empresas está mais associada a interesses financeiros do que a uma real preocupação com o meio ambiente. Consideram o discurso vazio, sem conteúdo e descolado das práticas. Não encontram sentido no tema da responsabilidade social empresarial. O que fazer para disseminar a idéia de que toda empresa deve se comportar de forma adequada? 1 O objetivo da pesquisa é aprofundar a compreensão dos jovens brasileiros sobre alguns conceitos muito utilizados nas escolas, nas empresas e na mídia, tais como: sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e consumo consciente. De que modo as empresas podem melhorar a qualidade de vida de seus empregados, da comunidade local e da sociedade como um todo, sem perder de vista a necessidade de gerar lucro? Como criar a cultura de que somos todos responsáveis por todos e que responsabilidade social deve estar presente na administração das empresas? Só há um jeito, investindo na mudança de mentalidade das pessoas. É preciso criar as condições para que floresça a consciência de que fazer a coisa certa não é incompatível com o lucro, que a gestão dos relacionamentos seja a prioridade das organizações e que a responsabilidade seja assumida não como uma opção mas como uma obrigação. Em suma, discutindo os riscos e os custos de um comportamento antiético por parte das empresas e as vantagens obtidas com uma boa conduta. Neste capítulo trataremos dos conceitos de responsabilidade social das empresas, como surgiu, sua história e sua relação com a noção de sustentabilidade, explorando uma idéia simples mas que está na base da sobrevivência das empresas ou de qualquer organização: o cuidado com o relacionamento com os seus stakeholders, isto é, com todos os grupos que de alguma forma influenciam ou são influenciados por ela. O princípio básico que fundamenta as idéias a serem exploradas a seguir é que a nova postura da empresa cidadã deve ser ressaltada não só por se tratar de um valor em si mas por uma questão de sobrevivência, de competitividade. E essa sobrevivência só é possível se acreditarmos que vale à pena praticar o diálogo e disseminar os valores éticos como forma de construir uma sociedade mais justa e feliz. 1. Conceito de responsabilidade social das empresas-RSE É sabido que o sucesso das empresas depende, entre outros fatores, de sua adaptação ao ambiente. Em um mundo onde a economia se caracteriza pelo acirramento da competição e por consumidores mais conscientes de seus direitos, onde cresce a preocupação pela valorização da qualidade de vida e a consciência social e ambiental, as empresas procuram vincular sua imagem à temática da responsabilidade social. O respeito ao meio ambiente e a preocupação com a valorização do homem estão cada vez mais presentes entre os fatores determinantes do sucesso mercadológico. Na realidade, o debate em torno da boa conduta no mundo dos negócios é uma resposta a um ambiente em mudança que tende a condicionar a busca do lucro a padrões éticos de comportamento no que diz respeito aos mais diferentes públicos da empresa. Apesar das diferentes visões sobre o conceito de responsabilidade social das empresas, aos poucos vai se criando um consenso no sentido de que ela está deixando de ser uma opção para se tornar um imperativo e de que a empresa que investe em responsabilidade social ganha vantagem competitiva. Por isso, os líderes empresariais estão tomando decisões estratégicas que levam em consideração a responsabilidade social corporativa. Mas afinal, o que vem a ser em essência responsabilidade social das empresas? Posicionamentos antagônicos: visão clássica x visão socioeconômica (teoria dos stakeholders) .visão clássica Quando se toca na questão da RSE os autores logo chamam a atenção para duas posições opostas. De um lado, a visão clássica, defendida pelo economista Milton Friedman2, e do outro a visão socioeconômica, mais recente. Para Friedman, a 2 O norte‐americano Milton Friedman recebeu o prêmio Nobel de economia em 1976. maximização dos lucros é a grande contribuição social que o empresário pode oferecer à sociedade. O administrador ao decidir gastar recursos da organização deve ter em mente apenas o interesse dos acionistas, isto é, o retorno financeiro, o lucro máximo. Agindo assim, a empresa estaria gerando empregos, impostos e oferecendo eficientemente produtos e serviços. Esta seria então a responsabilidade social da empresa. Os que defendem a posição de Friedman argumentam que se o administrador gasta recursos em funções sociais, alguém terá que arcar com estes custos. Se os recursos para uma ação social, seja ela qual for, saírem dos lucros edividendos, os acionistas/investidores perdem, se os salários forem sacrificados, os empregados é que pagam a conta e se o financiamento vier da elevação de preços, os consumidores é que sairão perdendo. Ocorre que, em um mercado competitivo o repasse para os consumidores via aumento de preços pode inviabilizar o negócio pela queda das vendas. No caso de não poder repassar para os consumidores, a organização se verá obrigada a absorver o gasto social como um custo, acarretando uma taxa de retorno mais baixa e, consequentemente, o afastamento de investidores que procuram o maior retorno para suas aplicações. Ou seja, os investidores estariam discriminando negativamente aquelas empresas consideradas responsáveis. Além disso, Friedman questiona a competência dos administradores profissionais para decidir sobre o destino do gasto social e acha que isto é papel dos políticos, eleitos para buscarem o interesse público. Para ele não compete à empresa fazer o bem e cabe ao governo impedi-la de fazer o mal. .visão socioeconômica (stakeholders) Na visão socioeconômica ou da teoria dos stakeholders, como se referem alguns autores, o administrador também visa o lucro, mas não pode se restringir a isto, tendo que levar em conta o bem-estar de seus empregados e da comunidade e os interesses de todos os grupos que são afetados pelas atividades da empresa. Os defensores dessa visão rebatem a tese de Friedman com o argumento de que os tempos mudaram e que a maximização dos lucros passou a ser a segunda prioridade da empresa. A primeira deve ser assegurar a sua sobrevivência num mundo extremamente competitivo. A empresa será competitiva quando tomar decisões estratégicas que a mantenha no mercado no longo prazo. Depois de assegurada a sua posição no mercado no longo prazo, a maximização do lucro é uma decorrência natural. De certa forma em ambas está colocada a questão da necessidade da geração do lucro, portanto, o que as difere é a forma como este é gerado. Na visão socioeconômica a forma de geração do lucro passa por uma postura de respeito aos interesses dos stakeholders: acionistas, consumidores, clientes, fornecedores, concorrentes, órgãos governamentais, organizações da sociedade civil (ongs), comunidades, igrejas e demais instituições e pessoas que compõem a sociedade. No cenário competitivo onde atuam as empresas, a tentativa de gerar ganhos maiores à custa da saúde dos empregados, ou do meio ambiente, pode levar a problemas sérios devido a denúncias, difamações, multas e até mesmo a interrupção das atividades pela ação governamental responsável pela fiscalização. Na ânsia de maximizar o lucro imediato a empresa que adota práticas inaceitáveis pode perder a licença de operar, seja ela formal dada pelas autoridades governamentais, seja pela sociedade que pode rejeitá-la por não querer mais consumir seus produtos ou serviços. Portanto, para os defensores da corrente socioeconômica: os administradores devem considerar os interesses de todos os públicos que afetam ou são afetados por ela e buscar a maximização do retorno financeiro no longo prazo. Hoje podemos dizer que a visão clássica está superada. Mais do que nunca e até mesmo como forma de sobrevivência, as empresas buscam seguir a visão que defende uma maior integração das empresas com todos os seus públicos de interesse. Esta visão que engloba os stakeholders é importante para enfatizar que a discussão sobre o que uma empresa faz ou deve fazer com seus resultados financeiros é bastante limitada como critério de responsabilidade social. Não basta saber o destino dos recursos, mas a forma como eles foram obtidos. Os meios que a empresa empregou para realizar seus lucros estão na base da ética empresarial. Algumas empresas criam fundações para desenvolver fantásticos projetos sociais, gastam soma significativa de dinheiro com tais projetos, mas, às vezes, a custa de práticas repugnantes como exploração de trabalhadores em condições análogas ao trabalho escravo ou mesmo utilizando mão de obra infantil. Estas empresas confundem responsabilidade social com filantropia, que tem a ver com apenas um dos stakeholders, em geral a comunidade no entorno. Confundem responsabilidade social com investimento social privado. Nessa mesma linha de pensamento, o Instituto Ethos define RSE assim: “Responsabilidade Social Empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade. Isso deve ser feito preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.” Por fim, é importante enfatizar que não há incompatilibilidade entre responsabilidade social e lucro, ao contrário, a responsabilidade social é, no atual estágio de consciência social e numa economia globalizada de alta competição, determinante do lucro. O conceito de RSE não afasta a meta do lucro, como querem os clássicos, mas ressalta a forma como ele é obtido. Hoje, está cada vez mais evidente que a responsabilidade é essencial e até mesmo determinante do lucro. Responsabilidade Social das Empresas → Determinante do lucro 2. Perspectiva histórica da RSE .as origens Ação social por parte das empresas não é uma novidade. Há relatos de empresários em várias partes do mundo que se sensibilizaram com as questões sociais ao longo dos últimos séculos. Em 1916, o caso Dodge vs. Ford, como ficou conhecido, trouxe uma novidade pela polêmica criada em razão da decisão de Henry Ford, considerada avançada para a época. Valendo-se da posição de presidente e acionista majoritário da Ford, preferiu contrariar os interesses dos acionistas3, não distribuindo parte dos dividendos esperados. Preferiu aplicá-los em aumento da capacidade de produção, aumento de salários e na constituição de fundo de reserva da empresa. Para alguns a atitude do presidente Ford não foi correta porque retirou parte dos direitos dos acionistas. O fato é que os interesses econômicos imediatos dos acionistas foram preteridos. O empresário inglês Oliver Sheldon, diretor da Rowntree Company, em 1923, defendia que as empresas não deveriam ter como único objetivo a obtenção de lucro para os acionistas. Segundo ele, o atendimento dos interesses das comunidades deveriam ser a base da motivação da indústria inglesa. Nos anos 1940, um manifesto subscrito por 120 empresários da indústria inglesa reivindicava que a responsabilidade dos administradores de empresa era manter um equilíbrio entre diversos interesses do público, seja como consumidor, como funcionário ou como acionistas na condição de investidores. Além disso, defendiam no documento a necessidade de dar a maior contribuição possível ao bem-estar da nação como um todo. Muito importante na sistematização e divulgação das idéias sobre a responsabilidade social das empresas foi o lançamento nos EUA do livro Social Responsibilities of the Businessman, de Howard Bowen, em 1953. O autor chamava a atenção de que os negócios exerciam forte influência na vida dos cidadãos e que, portanto, deviam se preocupar mais com os valores da sociedade. A tese de Bowen 3 John e Horace Dodge personalizaram os protestos dos acionistas que não concordaram com a decisão de Ford de não distribuir parte dos dividendos. alcança as universidades e as entidades empresariais, que iniciam debate sobre a necessidade de considerar na gestão o impacto social dos negócios na sociedade. Porém, é na década de sessenta do século XX, nos Estados Unidos da América e em alguns países da Europa, que a idéia da responsabilidade social corporativa surge como uma preocupaçãopor parte das empresas, como resposta à nova mentalidade caracterizada pelas manifestações de protesto nos vários campos. O repúdio à guerra do Vietnã nos EUA deu início a um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações na bolsa de valores de empresas que de alguma forma estavam ligadas a esse conflito armado. Várias instituições como a Igreja, fundações, universidades, dentre outras organizações da sociedade civil, passaram a denunciar a utilização de armamentos sofisticados (gases paralisantes, napalm) que dizimavam civis inocentes, afetavam negativamente o meio ambiente, colocando em risco a própria sobrevivência do homem no planeta. A guerra do Vietnã provocou sério desgaste na imagem das empresas que se beneficiavam daquela guerra. Também na década de 1960 ocorrem os primeiros manifestos contra o aumento da poluição. É a fase da tomada de consciência da decadência das grandes aglomerações urbanas, da necessidade de remoção de rejeitos tóxicos e nucleares. Surge nesse período o movimento pelo consumo consciente, pelo direito do consumidor de escolher, de ser ouvido, de ser informado e do direito à segurança. É dessa época a publicação do importante livro de Ralph Nader (Unsafe at Any Speed) onde o autor fez sérias críticas aos carros da General Motors. As idéias defendidas no livro foram fundamentais para que os carros passassem a ser mais seguros com a introdução de equipamentos como cinto de segurança, pára-brisas que não produzissem estilhaços, entre outros itens. Visando reagir às pressões da sociedade, que exigia nova postura ética, as empresas norte-americanas passaram a prestar contas de suas ações justificando seu objetivo social, com o intuito de melhorar a imagem junto a consumidores e acionistas. Na Europa, a crise do welfare state (Estado do bem estar social) e o conseqüente aumento do desemprego, somado ao fortalecimento dos sindicatos e do movimento estudantil na luta pelos direitos civis, principalmente na França, mas também na Inglaterra, força as empresas a assumirem uma nova postura diante daquele movimento reivindicatório. Não é por acaso que a empresa francesa Singer é a primeira a elaborar e divulgar um balanço social em 1972 e é a França a primeira nação a tornar obrigatória a elaboração do balanço social das empresas divulgando quadros com dados relativos à gestão do pessoal, às condições sociais, juntamente com as tradicionais demonstrações financeiras. Pela lei francesa, desde 1977 é obrigatória a elaboração do balanço social das empresas com mais de 300 empregados.4 Na Inglaterra, em 1976 uma empresária (Anita Roddick) cria uma empresa de cosmético (The Body Shop) explorando a idéia de defesa do meio ambiente. Mas, é na década de 1980 que a questão da responsabilidade social corporativa ganha força. Na verdade, atribui-se aos grandes acidentes ocorridos na Índia em 1984, causado pela Union Carbide, e ao derramamento de 11 milhões de litros de óleo da Exxon Valdez no Alasca, em março de 1989, o surgimento do que hoje costuma-se chamar movimento de responsabilidade social das empresas. Estes acidentes estão entre os piores desastres ambientais da história da humanidade provocados por corporações transnacionais. Desde então várias empresas criaram seus códigos de condutas ambientais e passaram a prestar contas de suas atividades em prol da sociedade. Em 1990 é fundado o Ceres (Coalition for Environmentally Responsible Economies) com o objetivo de trabalhar padrões de sustentabilidade para empresas. Em 1997, em Amsterdã, surge o Global Reporting Initiative (GRI) com o apoio do Ceres visando promover relatórios que dessem conta de aumentar a transparência sobre questões ambientais e sociais, que viriam se somar as tradicionais informações econômicas. Também em 1997, o Council on Economic Priorities Acreditation Agency (CEPAA) criou uma norma certificadora, a SA 8000, nos moldes da ISO 9000, com vistas a melhorar as condições de trabalho no mundo, em conformidade com as resoluções da Organização Internacional do Trabalho-OIT e da Declaração Universal dos Directos do Homem, entre outras declarações da ONU. Em 2000, já em franco desenvolvimento, a CEPAA passou a se chamar Social Accountability Agency (SAI) e hoje centenas de empresas espalhadas pelo mundo buscam essa certificação. Atualmente está em processo a criação de uma norma internacional de responsabilidade social, a ISO 26000, a exemplo das ISO 9000 (qualidade nos processos) e ISO 14000 4 A Lei nº77.769 de 12 de julho de 1977 incluiu as empresas com 750 ou mais empregados; em 1982, a obrigatoriedade passou a valer para aquelas com 300 ou mais empregados. (ambiental), com prazo para ser lançada em 2010. .a RSE no Brasil Agora que vimos em linhas gerais como surgiu o movimento da RSE destacaremos os principais atores sociais para a consolidação do tema no Brasil. No Brasil, a discussão sobre o comportamento ético das empresas tem início ainda nos anos sessenta com a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas - ADCE. Um dos princípios desta associação (a Carta de Prinípios da ADCE é de 1965 e já menciona o termo Responsabilidade Social das Empresas) baseia-se na aceitação por seus membros de que a empresa além de produzir bens e serviços, possui a função social que se realiza em nome dos trabalhadores e do bem-estar da comunidade. Embora a idéia da responsabilidade social corporativa já motivasse discussões, apenas em 1977 mereceu destaque suficiente a ponto de ser escolhido como o tema central do 2º Encontro Nacional de Dirigentes de Empresas. Em 1984 é publicado o primeiro balanço social5 de uma empresa brasileira, o balanço social da Nitrofértil. Oito anos depois, o Banco do Estado de São Paulo, BANESPA, publica um relatório completo, divulgando todas as suas ações sociais; e, a partir de 1993, várias empresas de diferentes setores passam a divulgar o balanço social anualmente. A publicação do balanço social pelas empresas, embora em número muito reduzido em meados dos anos 1980, representa em si uma atitude significativa, pois é sinal de que já começa a fazer sentido a exigência da prestação de contas à sociedade. É claro que a iniciativa ainda é das empresas estatais tentando se justificar perante um público que começa a receber argumentos em prol da privatização. Na realidade diversos fatores contribuíram para o desenvolvimento da idéia de empresa cidadã na cultura das organizações brasileiras. Entre eles merece destaque a cobrança das agências internacionais para que as empresas públicas de energia elétrica reduzam o impacto ambiental provocado pelas inundações para formação de lagos e o exemplo de programas de patrocínio cultural e esportivo de grandes empresas como a Xerox, Shell, Coca-Cola, Petrobras e Vale do Rio Doce. 5 No balanço social pode‐se ter uma noção do que a empresa faz pelos seus empregados, os projetos sócio‐ambientais na comunidade, dados sobre a força de trabalho entre outros. A partir dos anos 1980 as questões ligadas à responsabilidade social das empresas ganham destaque a partir da criação de prêmios (Prêmio ECO em 1983) e da ação mais efetiva de instituições como a Fundação Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social-FIDES, pioneira no tratamento do tema no Brasil, Grupo de Institutos, Fundações e Empresas-GIFE, Câmara Americana de Comércio em São Paulo (AmCham/SP). Nos anos noventa duas campanhas idealizadas pelo sociólogo Herbert de Souza - a campanha contra a fome (1993-96) e a campanha pela divulgação do balanço social das empresas (1997) - fizeram com que diversas empresas públicas e privadas se engajassem em ações sociais,despertando nos seus dirigentes e empregados o interesse no conceito de empresa cidadã. A campanha pela divulgação do balanço social lançada em 16 de junho pelo Ibase, deu projeção nacional ao tema da responsabilidade social no mundo das empresas. A partir desta data o número de balanços sociais cresce geometricamente, chegando ao final de 2008 a mais de 400 balanços divulgados no modelo Ibase. A década de 1990 é a década da consolidação do discurso da responsabilidade social no Brasil. A produção acadêmica começa a dar respostas e diversas monografias e teses de mestrado surgem nos novos cursos de especialização e mestrado no tema da RSE. Também a criação de instituições específicas para discutir e promover o tema, tais como a Fundação Abrinq (1996), o Instituto Ethos (1998), o Forum Permanente de Discussão do Balanço Social (1999) e o Prêmio Balanço Social das Empresas, promovido pelo Ibase, Ethos, Fides, Associação Brasileira de Analistas de Mercado de Capitais-ABAMEC e Associação Brasileira de Comunicação Empresarial-ABERJ. Além dessas instituições citadas diversas outras6 foram de fundamental importância na consolidação do movimento da responsabilidade social corporativa no Brasil. 6 Instituto de Cidadania Empresarial‐ICE; Conselho de Cidadania Empresarial da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais‐FIEMG; Núcleo da Ação Social da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo‐FIESP; Núcleo de Responsabilidade Social Empresarial da FIRJAN e Associação de Empresários pela Cidadania‐CIVES. 3. A relação entre sustentabilidade e RSE Neste tópico vamos discutir a relação entre a dimensão da responsabilidade social e a idéia de sustentabilidade. O objetivo é mostrar que a busca da sustentabilidade da empresa passa pela gestão responsável e que não há incompatibilidade com a meta de lucro. .conceito de sustentabilidade O conceito de sustentabilidade surgiu na década de 1980 a partir da consciência de que os países precisavam encontrar formas de promover o crescimento de suas economias sem sacrificar o bem-estar das futuras gerações. Isto é, produzir sem destruir o meio ambiente. Na visão da famosa Comissão Brundtland7 (1987) sustentabilidade consiste no princípio que assegura que nossas ações de hoje não limitarão a gama de opções econômicas, sociais e ambientais disponíveis para as futuras gerações. Portanto, sustentabilidade baseia-se no equilíbrio entre três pilares fundamentais: o econômico, o ambiental e o social – todos necessariamente interligados. No mundo dos negócios a idéia também ganhou força. Empresa sustentável é aquela que gera lucro, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente e cuida da qualidade de vida das pessoas. É aquela que é social e ambientalmente responsável e que ao mesmo tempo consegue obter resultados financeiros positivos no longo prazo. Uma empresa sustentável avalia os impactos que as ações do presente podem ter sobre as gerações futuras. Nesse sentido, a sustentabilidade funciona, de certa forma, como uma idéia que restringe determinadas forma de atuação. Essa restrição é uma resposta que considera a importância da existência dos outros, é a alteridade como o fundamento da ética. É por isso que se diz que os conceitos de RSE e sustentabilidade têm sua base na conduta ética. Assim, as atividades da empresa sustentável levam em conta a dimensão do lucro, o meio ambiente e os interesses da sociedade. 7 Esta Comissão elaborou o Relatório Brundtland, intitulado Nosso Futuro Comum, no qual é destacada a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes. ⎡ dimensão do lucro Empresa sustentável ⎢ meio ambiente ⎣ interesses da sociedade Como vimos anteriormente, as empresas podem ser classificadas entre aquelas que visam sua sobrevivência no longo prazo, conhecidas por sua vocação estratégica, e as que se preocupam em maximizar seu lucro imediato, que priorizam as oportunidades de negócio que a conjuntura oferece, muitas vezes sem considerar os impactos negativos às comunidades do entorno ou mesmo à perda de capital no processo de produção. As primeiras podem ter retornos financeiros relativamente menores no curto prazo, mas tendem a prosperar ao longo de décadas. Já as que buscam a maximização de lucros no curto prazo a qualquer custo, enfrentam situações de risco alto e com alta probabilidade de desaparecem também no curto prazo. Assim, podemos dizer que: Empresas que honram o princípio da sustentabilidade são duradouras O princípio da sustentabilidade tem a ver com a aceitação da interdependência. Perceber que a empresa não pode tudo é ato de sabedoria. Os seres humanos não estão isolados no mundo e precisam respeitar a interdependência entre si, sem causar danos ao meio ambiente. O êxito financeiro sem dúvida é essencial para a reprodução do capital e manutenção do negócio. Porém, não há negócio sustentável quando o sucesso econômico decorre da destruição da natureza e do sacrifício dos valores humanos. São as pessoas em última instância que executam as operações com mais ou menos motivação. Por isso, é fundamental que a empresa aceite a interdependência dos diversos aspectos da existência humana. .impactos da sustentabilidade Quando operam as empresas consomem não apenas recursos financeiros, mas também água, energia, matérias-primas e tempo&talento das pessoas. Nesse sentido as empresas devem investir na gestão dos processos e medir e reportar o impacto das atividades da organização no mundo. Quando o impacto é positivo há aumento no valor da empresa que se reflete em maior riqueza para os acionistas e desenvolvimento socioambiental. Impactos Econômicos – vendas, lucro, impostos, empregos, aumento da riqueza Ambientais – qualidade do ar, da água, uso de energia e resíduos Sociais – práticas trabalhistas, ações na comunidade, direitos humanos Alguns autores chamam esses impactos de tríplice resultado. Empresas elaboram o que se denomina balance scorecard ou boletim que capta em números a criação de valor que as mesmas estão destinando para seus acionistas e para a sociedade. Aos poucos as empresas começam a serem cobradas a se reportarem sobre esses aspectos e a serem avaliadas de acordo com estes critérios (tríplice resultado). Não basta respeitarem os direitos trabalhistas de seus empregados, agirem corretamente nas suas obrigações com o Poder público e bancarem projetos sociais na comunidade. A era da sustentabilidade exige muito mais. Hoje, as empresas devem prestar contas de suas atividades não só para os acionistas, credores, fornecedores e clientes, mas também aos empregados e seus sindicatos, à mídia, aos responsáveis pela produção de políticas públicas, às organizações defensoras dos direitos humanos, ambientalistas e a todos os demais grupos interessados na sua existência, que podem estar em qualquer parte do planeta, depois que inventaram a internet. Alguns exemplos são reveladores desse novo tempo. - A Nike teve que repensar inteiramente sua estratégia com seus fornecedores em conseqüência da repercussão mundial após a descoberta de trabalho infantil em suas fábricas no exterior. - A Wal-Mart tenta a todo custo se ver livre da fama de pagar baixos salários. - A McDonald se esforça para apagar a imagem da questão da obesidade induzida por seus produtos. - A DuPont, tradicional no setor de produtos químicos, transforma-se em uma das maiores produtoras do mundo de proteína de soja. - A sueca Ikea tem aumentado seus volumes de compra de madeira proveniente de bosques certificados. O interesse por garantir essas matérias primas, beneficia toda a cadeia de fornecedores. - As usinas brasileiras produtoras de álcool reagem fortementecom programas de responsabilidade social para não serem acusadas pela utilização de mão de obra escrava. Várias dessas mudanças estão fazendo parte do planejamento estratégico dessas corporações e são geradoras de ganhos financeiros no curto e principalmente no longo prazo. Em alguns casos o tema da sustentabilidade está tomando um viés de negócio e não associado à consciência de uma prática sustentável. Para alguns, se isso não é o ideal, temos que nos conformar, pelo menos por enquanto, pois há pessoas que só percebem quando custos estão envolvidos. Nesta linha, começa a ganhar adeptos a idéia de que sustentabilidade é uma ótima maneira de economizar dinheiro. A Intel, por exemplo, investiu 23 milhões de libras desde 2001 em projetos de eficiência energética e lucrou 50 milhões de libras em 8 anos. É possível melhorar o mundo e ganhar dinheiro ao mesmo tempo. Essas empresas também procuram divulgar relatórios de sustentabilidade e submetem-se a avaliações de críticos e auditorias externas informando detalhadamente como estão gerindo suas atividades. Tudo isso decorre do aprendizado rápido a que foram obrigadas a se submeterem, pois aquelas que não conseguiram perceber as novas tendências simplesmente sumiram do mapa em pouco tempo. Talvez o exemplo mais emblemático seja o da Arthur Andersen, segunda maior empresa do ramo da consultoria e auditoria financeira, com cerca de 150 anos de existência e que desapareceu em menos de um mês depois do escândalo dos balanços fraudulentos da Worldcom e de outras centenas de empresas envolvidas. Esse exemplo mostra como a confiança dos stakeholders é fator crítico para a sobrevivência dos negócios. O caso da Arthur Andersen é um excelente exemplo de como a sustentabilidade não depende apenas da lucratividade da empresa ou mesmo da sua imagem consolidada de líder no mercado. Mais uma vez, respeitar valores não se trata de algo apenas recomendável, é também um imperativo dos negócios. A mentira, e a conseqüente perda da confiança na empresa, foi um golpe fatal, o que evidencia a importância dos valores para a sustentabilidade dos negócios. Finalizando esse tópico, enfatizamos duas idéias básicas: Uma empresa sustentável realiza seus ganhos financeiros cuidando da natureza e dos valores humanos. O desenvolvimento sustentável requer a comunhão de três elementos fundamentais: a criação de riqueza, a proteção ambiental e a equidade social, que se somam aos princípios de transparência institucional e solidariedade entre gerações. 4. Os stakeholders e a RSE .stakeholders: partes interessadas O êxito de uma empresa depende, em grande medida, de como os gestores consideram as expectativas e necessidades dos stakeholders (suas partes interessadas). Essas expectativas envolvem satisfação de necessidades, compensação financeira e postura ética. Cada grupo representa um determinado tipo de interesse no processo. O envolvimento de todos eles não garante a maximização dos resultados das ações, mas permite achar um equilíbrio de forças e minimizar riscos e impactos negativos. As organizações que se planejam estrategicamente procuram atender as necessidades de todas as suas partes interessadas. Gestores Proprietários Acionistas Credores Governos Comunidade EMPRESA Consumidores Fornecedores Sindicatos Concorrentes ONGs Empregados Tratar da temática stakeholders é mergulhar na essência do conceito de RSE. Só para exemplificar, vejamos as definiões de RSE da Associação Brasileira de Normas Técnicas-ABNT e do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Para a ABNT, a responsabilidade social empresarial é a “relação ética e transparente da organização com todas as suas partes interessadas, visando ao desenvolvimento sustentável” (ABNT, 2004, p. 3). Para o Instituto Ethos, a responsabilidade social “implica práticas de diálogo e engajamento da empresa com todos os públicos ligados a ela a partir de um relacionamento ético e transparente”. Como se nota, em ambas a ênfase está na natureza das relações da empresa com as partes interessadas. Isto implica dizer que a responsabilidade social tem a ver com a esfera dos interesses coletivos. Toda empresa deve atender não somente aos seus interesses, mas também aos interesses da sociedade. É o mesmo que dizer que a empresa tem uma função social. De outro modo, podemos dizer que toda empresa é sustentada por pilares representados pelos diversos grupos que compõem a sociedade e que interagem com ela. Esses pilares são chamados de stakeholders ou grupos de interesse. Vamos agora analisar as relações da empresa com alguns desses stakeholders. .relações com os empregados(as) Uma empresa que trata com dignidade seus empregados cria um ambiente interno mais saudável e atrai e mantém empregados qualificados e motivados. Vendo pelo lado interno, uma empresa socialmente responsável é também uma ótima empregadora, já que assegura um ambiente de justiça nas relações de trabalho e trata (remunera) seus trabalhadores como pessoas dignas de respeito e consideração. Em um mundo onde as empresas agregam rapidamente os avanços tecnológicos para competirem no mercado global, a maior produtividade e o aprimoramento emocional de seus empregados é que asseguram a competitividade da empresa. O compromisso com a ética estimula relações empresariais produtivas e tira das pessoas o que elas têm de melhor. Por conta disso é que na seleção dos empregados, as empresas estão cada vez mais preocupadas em avaliar o aspecto ético dos candidatos. Ao mesmo tempo em que as empresas procuram profissionais éticos, é natural que os jovens prefiram trabalhar em empresas com elevada reputação, que tenham uma responsabilidade mais ampla com a comunidade, onde o ambiente interno seja transparente, de liberdade e respeito. Onde haja oportunidade de participar na riqueza gerada pela empresa. É compreensível que os melhores talentos tendam a ser atraídos pelas empresas de boa reputação. Em geral os jovens talentosos ao saírem da universidade querem por em prática aquilo que aprenderam. Querem demonstrar suas potencialidades. Procuram ser criativos para contribuir com o aumento da produtividade da empresa. Porém, nem sempre se arriscam a propor novas idéias, a mudar práticas já testadas, com medo de perderem seus empregos no caso de um eventual fracasso. Daí a importância de se implantar um clima de total confiança entre os empregados e seus superiores para que se sintam estimulados a produzirem inovações. Gerentes vingativos e perseguidores representam uma ameaça, um freio às mudanças, já que estas embutem necessariamente certo grau de risco. Num ambiente onde a confiança é um valor as pessoas são mais felizes, produtivas e inovadoras. A empresa responsável cuida das relações de trabalho. Isto implica em elaborar indicadores que apontem: a) como a organização está quanto ao cumprimento das leis trabalhistas; b) que políticas e tipo de gestão está sendo adotada em relação à diversidade de raça e de gênero ou se vem ocorrendo práticas preconceituosas em relação a estes grupos; c) as condições do ambiente de trabalho; e d) a rotatividade de empregados. .relações com os consumidores A opinião pública em geral, os consumidores, esperam das empresas um comportamento ético. Empresários esclarecidos estão aos poucos percebendo que os consumidores não se contentam mais apenas com qualidade, preço baixo, bons serviços e marca de prestígio. Os consumidores querem produtos de empresas que demonstrem preocupações sociais, que respeitem o meio ambiente, que não utilizem o trabalho infantil e que se comprometam com projetos de apoio a comunidades carentes. Estão mais atentos e informadose demandam mais transparência. Alguns mecanismos regulatórios como Código de Defesa do Consumidor e o aumento do ativismo de organizações da sociedade civil demonstram o interesse dos consumidores por empresas mais responsáveis na oferta de seus bens e serviços. Hoje já se pode falar na tendência de um mercado de gente mais consciente que vai exigir esse tipo de atitude por parte das organizações. A crescente procura por entidades defensoras do direito dos consumidores, com vistas a acionar judicialmente empresas inescrupulosas, mostra como vem evoluindo a consciência das pessoas em relação ao consumo de bens e serviços. Tomemos como exemplo o caso da Nike no final dos anos 1990. O preço das ações da empresa caiu significativamente nas bolsas depois que sua imagem ficou comprometida pelas denúncias de contratar empresas asiáticas que empregam mão de obra infantil. Após a onda de denúncias a Nike vem se esforçando e despendendo vultosos recursos para tentar mudar esta imagem negativa e recuperar o mercado perdido. A reputação de integridade é um patrimônio de valor inestimável. Da mesma maneira que a conduta antiética pode levar uma empresa a perder uma fatia de seu mercado, o comportamento ético pode contribuir para a obtenção de excelência empresarial. Nesse sentido é preciso criar indicadores que demonstrem o respeito às normas técnicas e às leis de proteção ao consumidor e como estão sendo observadas as políticas de marketing e comunicação e de política de pós-venda. Um exemplo de indicador pode ser encontrado no modelo Ibase de balanço social (ver WWW.balancosocial.org.br). Lá, no final da tabela, observam-se os seguintes indicadores: a) número total de reclamações e críticas de consumidores(as); e b) % de reclamações e críticas atendidas ou solucionadas. .relações com os fornecedores A empresa deve exigir de seus fornecedores os mesmos padrões éticos praticados por ela. No caso de fornecedores onde as condutas estão mais avançadas em termos de responsabilidade, esta é que deve influenciar a contratante. Atualmente, o grau de interdependência nas empresas é impressionante. Cada vez mais as empresas procuram concentrar seus esforços, sua atenção, seus investimentos nos setores que são essenciais ao seu negócio e adquirem de terceiros os demais materiais e serviços. Em outras palavras, há uma tendência à focalização. Não se trata de terceirizar para reduzir custo de mão de obra, mas para concentrar energias no desenvolvimento tecnológico, no aumento de produtividade. Hoje as indústrias automobilísticas, por exemplo, produzem muito pouco do carro que vendem com suas marcas. Algumas produzem apenas o motor e cuidam da gestão para manter nível elevado de qualidade. Praticamente compram de terceiros todos os outros itens (amortecedores, freios etc.) de outras empresas que por sua vez também estão especializadas. Assim, é fundamental para a própria sobrevivência das empresas manterem redes de fornecedores confiáveis. A sustentabilidade de uma empresa depende também da seriedade de seus fornecedores. Daí a necessidade de estabelecerem critérios de seleção de fornecedores com base no respeito às normas e contratos de fornecimento, e na exigência da responsabilidade social dos membros da cadeia de fornecedores. Na verdade, a empresa socialmente responsável, na seleção de seus fornecedores, exige deles os mesmos padrões éticos e de responsabilidade social e ambiental adotados pela empresa. Aliás, este é um dos itens relatados nos balanços sociais das empresas. Os fornecedores são responsáveis pela reputação de uma empresa e podem prejudicá-la caso forneçam produtos ou serviços que comprometam a qualidade do produto/serviço final ou caso não respeitem valores éticos. Em meados dos anos 1990, a Nike, empresa norte-americana de material esportivo, enfrentou sérios problemas de queda nas vendas quando foram divulgadas informações que seus fornecedores na Ásia estavam utilizando mão de obra infantil na fabricação dos produtos. .relações com a comunidade Há fortes indícios de uma relação positiva entre o envolvimento social da empresa e o seu desempenho econômico. Toda empresa é responsável pelos impactos que suas atividades produzem no local em que está operando. Vimos na discussão sobre o conceito de RSE que a empresa não pode se restringir à geração de lucro no curto prazo, atendendo apenas aos interesses dos acionistas e empregados, e que deve implementar ações de interesse dos demais grupos afetados por ela. Por que uma empresa deve desenvolver seus próprios projetos sociais? Por que criar departamento, instituto social ou fazer parcerias com o chamado Terceiro Setor? Qual o sentido de desenvolver projetos de combate à exclusão e redução da pobreza, fomento da economia popular, combate ao trabalho infantil na região, enfim, entrar na agenda social da comunidade? Pelo simples fato de que os negócios só fazem sentido se forem para melhorar o bem-estar social. Afinal, alguém já disse que alguma coisa tem que ser feita pela humanidade sem visar lucro. A responsabilidade social consiste na obrigação da empresa de maximizar seu impacto positivo sobre os stakeholders. A empresa deve prestar serviços à sociedade como contrapartida à sociedade da qual ela retira seus insumos básicos, pois é uma forma de assumir que deteriora seu habitat natural e suas condições de vida. Além disso, as comunidades tendem a ficar cada vez mais ativas e menos tolerantes às externalidades negativas decorrentes dos empreendimentos. A gestão integrada de projetos sociais, isto é, que integre as ações sociais ao planejamento estratégico da empresa de modo a maximizar não só os resultados das ações em si, mas também os resultados da empresa, melhora a sua imagem junto ao público, atrai a preferência dos consumidores e com isso aumenta as vendas e os resultados financeiros. Nesse sentido, algumas empresas instituem programas que permite que familiares dos empregados, moradores das comunidades vizinhas e estudantes façam uma visita às suas fábricas ou unidades operacionais. Em geral, a programação incluiu exibição de vídeo de segurança, palestra/vídeo institucional e passeio pela área industrial. Além disso, algumas empresas costumam manter canais de relacionamento direto com a comunidade do entorno, através de fóruns e comitês comunitários regulares. Nas reuniões há a participação de funcionários e de líderes comunitários e são tomadas decisões quanto a ações na comunidade. Finalmente, é preciso colher informações e dados não apenas qualitativos, mas também quantitativos, quanto ao respeito às normas da comunidade, à disseminação de valores e práticas sociais para a comunidade, estimular o trabalho voluntário e realizar investimentos sociais na comunidade. A tendência é gerar um sentimento, por parte dos empregados e mesmo da direção da empresa, de pertencimento à realidade local. Por sua vez, a maior integração da empresa com as pessoas da comunidade e seus líderes gera um ambiente cordial e propício ao desenvolvimento local. A reputação positiva da empresa decorrente de suas iniciativas na comunidade cria uma relação sólida e profícua. Os jovens da comunidade passam a ver na empresa oportunidades de emprego e possibilidades de continuarem suas vidas na comunidade. A empresa ganha colaboradores internos com o conhecimento da região e evita uma série de problemas sociais (violência, exploração sexual, drogas). .relações com o governo O Estado cria normas legais e implementa mecanismos de monitoramento para o cumprimento por parte das empresas. Cabe à empresa cuidar para que o pagamento de impostos seja efetivamente realizado e estabelecer indicadores que permitam verificar a participação da empresa, seja institucionalmente ou a partir de seus empregados (programas de voluntariado) em projetos governamentais. A relaçãoda empresa responsável com o governo vai muito além do cumprimento de suas obrigações legais. A empresa pode e deve tirar proveito de sua capacidade de impactar o público para contribuir com o Estado na efetiva implementação das políticas públicas. A ação social isolada de uma empresa pode em algumas situações gerar problemas, por exemplo, ao construir uma escola ou hospital sem a devida articulação com o governo. É o caso em que a empresa não se compromete com a manutenção da nova unidade educacional ou hospitalar e o Estado eventualmente não tem condições de arcar com os custos de funcionamento desta nova unidade. Por outro lado as organizações correm sérios riscos ao se relacionarem com os governos de forma ilegal ou antiética. Quando um operário de uma empresa é forçado a trabalhar sob condições perigosas ou inadequadamente protegido, ou quando um alto executivo é usado como “testa de ferro” para responder pelos atos ilícitos de proprietários de empresas, dizemos que estas empresas apresentam uma conduta antiética. Há casos em que funcionários são levados a praticar atos repreensíveis, como por exemplo, ao supervisionar um contrato com o governo, providenciam toda a papelada que comprova a execução de uma obra “fantasma” visando viabilizar a entrada no caixa da empresa de recursos públicos. Empresários inescrupulosos parecem não perceber que o ressentimento passa dos indivíduos diretamente comprometidos para outros na empresa. Mesmo aqueles que não foram afetados com a fraude ficam incomodados pela insensibilidade dos que colocam seus interesses pessoais acima de tudo. Obviamente, sentem-se ameaçados pelo fato de saberem que eventualmente também podem ser usados quando isto servir aos interesses de algum chefe. À medida que este sentimento se espalha, o orgulho e o entusiasmo do empregado são substituídos pela desconfiança e decepção, podendo até gerar hostilidades no ambiente de trabalho. Em resumo, quanto mais compromissada com programas governamentais uma empresa se mostrar, mais as pessoas vão confiar nela e mais benefícios auferirá a partir de relações sólidas com os agentes do Estado. .relações com os investidores as empresas éticas são em geral bem sucedidas e tendem a conseguir mais facilmente acesso a recursos de fundos de investimentos. É claro que o impacto da conduta ética sobre o desempenho de uma empresa não é imediato e em certos casos pode levar certo tempo para ser percebido. De qualquer forma, já existem estudos indicando que há uma relação positiva entre o envolvimento social corporativo e o desempenho econômico, ou seja, a boa conduta empresarial gera benefícios maiores do que os custos relativos. É interessante notar como os ideais e os valores éticos parecem ter contaminado também certos investidores a ponto de condicionarem suas aplicações de capital às empresas que demonstrem estar em dia com seus deveres em relação ao bem-estar da sociedade. Nos Estados Unidos, na Europa e mesmo aqui no Brasil têm sido lançados fundos de ações que se apresentam como investidores sociais. Estes fundos não investem em empresas que tenham negócios nos ramos de bebidas alcoólicas, fumo, armas, etc. ou que tenham se envolvido com fraudes. Ressalte-se também o fato de que índices como o Domini ou o IDJS-Índice Dow Jones de Sustentabilidade, que são índices de ações da bolsa compostos de empresas que apresentam melhor desempenho socioambiental, têm subido mais do que o Índice Dow Jones Global. O CALPERS (California Public Employees Retirement System), um dos maiores fundos de pensão dos EUA, toma suas decisões de investimento levando em conta a forma como as empresas tratam seus empregados. O financiamento com capitais aplicados em bolsa de valores tende a ser mais abundante para os negócios de empresas éticas. Como estes recursos são mais atrativos do que os de empréstimos, estas empresas podem contar com esta vantagem para obtenção de melhores resultados. Concluindo este tópico fiquemos com a seguinte proposição: O processo de diálogo com as partes interessadas, idéia central na implantação da RSE, pode efetivamente proporcionar uma vantagem competitiva à empresa. 5. Governança corporativa .conceito de governança corporativa Desde 2001, particularmente devido às fraudes nos balanços de grandes corporações norte-americanas como a Enron Corporation e Worldcom, tem havido um renovado interesse no assunto de governança corporativa. Em 2002, o Senado norte- americano aprovou a Lei Sarbannes-Oxley, com o objetivo de resgatar a confiança do público na governança corporativa. O Fórum Econômico Mundial em 2003 elegeu como tema do encontro que reúne anualmente líderes empresariais e governamentais a confiança. Na ocasião foram debatidos temas como transparência, responsabilidade, compromisso e controle. Governança corporativa tem a ver com o aumento da confiança do público que resulta em grande parte do controle dos recursos e da transparência. Decorre do processo de separação entre propriedade e gestão nas empresas modernas. Com a transferência da administração dos proprietários para os gestores profissionais surgem diversas questões complexas decorrentes do exercício do poder. Quem governa e em nome de quem governa? Da mesma forma que as sociedades democráticas enfrentaram o problema da partilha do poder do Estado e como este é controlado, as organizações privadas também inventaram suas formas de governança para lidar com o exercício do poder. Com a necessidade das organizações lucrativas de obter novos financiamentos para suas atividades para além dos tradicionais empréstimos bancários e do reinvestimento dos lucros, muitas delas optaram por abrir seu capital para o público. Uma conseqüência desta estratégia de alavancagem financeira é a dispersão do controle acionário. A disputa pelo direito de decisão sobre os rumos e os resultados da empresa tornou-se um problema a ser resolvido entre investidores, proprietários e gestores. A dispersão do controle passou a ser um problema de governança para as grandes corporações. Como proceder quando os objetivos de proprietários e gestores profissionais não coincidem? Essa questão nos remete ao papel da empresa na sociedade. Vimos que há duas posições antagônicas (clássica/Friedman x socioeconômica) e que hoje a posição que privilegia o diálogo com os stakeholders, a visão socioeconômica, está se consolidando no meio empresarial. O conceito de governança corporativa, na verdade, passa pela aceitação de que a empresa deve ser mais transparente a ponto de equilibrar o nível de informações entre acionistas e gestores ou entre acionistas majoritários e minoritários. Esse alinhamento de interesses é básico na governança corporativa e é possível quando os gestores não escondem informações dos acionistas, ou seja, quando os acionistas têm acesso aos planos, acompanham sua execução e participam das decisões sobre os resultados. Mesmo sabendo que isto significa reduzir o risco, sabe-se perfeitamente que na prática é quase impossível a plenitude do alinhamento das informações entre todos os acionistas e os gestores profissionais. O que os mecanismos de governança corporativa fazem é minimizar esse desalinhamento, acreditando-se que a transparência é positiva para o sucesso empresarial já que reduz os atritos decorrentes dos conflitos de interesse. Existem várias definições para governança corporativa. Para o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa-IBGC governança corporativa: “é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho e administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capitale contribuir para a sua perenidade”. Em outras palavras, o conjunto de processos (políticas, regulamentos) que regulam a maneira como uma empresa é administrada ou controlada. Trata das relações entre os diversos atores envolvidos (os stakeholders) e os objetivos pelos quais a empresa se orienta. Os principais atores são os acionistas, a alta administração e o conselho de administração. Outros participantes da governança corporativa incluem os funcionários, fornecedores, clientes, bancos e outros credores, instituições reguladoras (como a CVM, o Banco Central, etc.), o meio-ambiente e a comunidade. Na verdade, quando se menciona conjunto de processos, incluindo aí políticas e regulamentos, estamos lidando com formas de proteção, principalmente dos acionistas e, dentre eles, especialmente dos minoritários ante os gestores que dirigem a empresa. Ao contrário dos consumidores que podem deixar de consumir os produtos por se sentirem atingidos pela empresa, ou dos funcionários que podem contar com os sindicatos para defenderem seus direitos, os acionistas dependem inteiramente dos gestores para manter a valorização de suas ações. Uma das principais preocupações da governança corporativa é garantir o respeito dos principais atores a códigos de conduta pré-acordados, através de mecanismos que tentam reduzir os conflitos de interesse. Dentre os mecanismos de governança destacaremos aqui o mercado de capitais, pelo lado externo, e o conselho de administração pelo lado interno. .o mercado de capitais O preço das ações no mercado de capitais funciona como um termômetro tanto para os gestores da companhia quanto para os acionistas e demais partes interessadas O desempenho do preço das ações revelado no merdado de capitais pode significar o grau de eficiência dos gestores das empresas. Os acionistas são motivados a monitorar as decisões estratégicas tomadas pelas direções das empresas visando acompanhar o destino de seus recursos. Quanto maior for a diferença entre o valor potencial da empresa e o valor real, maior será o incentivo para investidores externos assumirem o controle da empresa. Tal possibilidade torna-se um estímulo ao gestor para aumentar o valor da empresa e assim se aproximar dos interesses dos acionistas. Tendo em vista a facilidade de transferência de capitais para diferentes mercados e empresas, tornou-se essencial na gestão das empresas mecanismos de governança (transparência, prestação de contas) que elevem a confiança do investidor. Atento a essa realidade, a Bolsa de Valores de São Paulo-Bovespa criou em 2001 os chamados níveis diferenciados de governança corporativa. São três níveis (nível 1, nível 2 e o Mercado Novo) de compromisso da empresa com práticas de condutas estabelecidas pela Bovespa. São empresas que se comprometem, voluntariamente, com a adoção de práticas de governança corporativa que se caracterizam por um nível de transparência crescente e além do que é exigido pela legislação. Empresas listadas nesses segmentos oferecem aos seus acionistas melhorias nas práticas de governança corporativa que ampliam os direitos societários dos acionistas minoritários e aumentam a transparência das companhias, com divulgação de maior volume de informações e de melhor qualidade, facilitando o acompanhamento de sua performance. O pressuposto é que a adoção de boas práticas de governança corporativa confere maior credibilidade ao mercado acionário e aumenta a confiança dos investidores em adquirirem ações de uma companhia a um preço melhor, reduzindo seu custo de captação. A adesão das companhias ao Nível 1ou ao Nível 2 depende do grau de compromisso assumido e é formalizada por meio de um contrato, assinado pela BOVESPA, pela Companhia, seus administradores, conselheiros fiscais e controladores. No Novo Mercado a valorização e a liquidez das ações são influenciadas positivamente pelo grau de segurança oferecido pelos direitos concedidos aos acionistas e pela qualidade das informações prestadas pelas companhias. A entrada de uma companhia no Novo Mercado implica a adesão a um conjunto de regras societárias, conhecidas como “boas práticas de governança corporativa”, mais exigentes do que as em vigor na legislação brasileira. Essas regras melhoram a qualidade das informações normalmente prestadas pelas companhias, bem como a dispersão acionária, e dão aos investidores a segurança de uma opção mais ágil e especializada. A principal inovação do Novo Mercado, em relação à legislação, é a exigência de que o capital social da companhia seja composto somente por ações ordinárias. Mas esta não é a única. Por exemplo, a companhia aberta, participante do Novo Mercado, tem como obrigações adicionais em relação à melhoria nas informações divulgadas, igualdade de condições para todos os acionistas em relação aos controladores quando da venda do controle da companhia e manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações, representando 25% do capital social da companhia, entre outras inovações. .o conselho de administração O conselho de administração é a mais alta instância de poder em uma companhia. É lá que se decide sobre os rumos e quem executará os planos. O conselho de administração é o responsável pela orientação geral dos negócios de uma organização. Dentre outras atribuições, o conselho elege os membros da diretoria executiva (gestores) e supervisiona o exercício de suas funções. Em geral o conselho reúne-se, ordinariamente, uma vez a cada trimestre ou semestre, e, extraordinariamente, sempre que convocado por seu presidente ou por um número determinado de conselheiros, dependendo da regulamentação interna de cada empresa. O conselho é responsável pelas diretrizes gerais, pela eleição da diretoria e pela fiscalização da gestão desta, bem como deve deliberar sobre aumentos do capital social. O conselho de administração é o instrumento mais direto do controle que os acionistas exercem sobre a gestação da empresa. No processo de decisão corporativo os conselhos têm o poder de aprovar, isto é, escolher as estratégias a serem implementadas que os gestores apresentam como proposta. Somente depois de aprovadas pelo conselho é que os gestores podem efetivamente utilizar os recursos para executarem as estratégias. A partir daí o conselho passa à fase de monitoramento das ações e à avaliação dos gestores. Embora não haja propriamente um consenso sobre qual deveria ser a composição dos conselhos, o Código da melhores práticas do IBGC aponta para alguns parâmetros: .a representatividade de acionistas; .membros da gestão; .membros externos à empresa; .separação das funções do diretor presidente e presidente do conselho (Chairman); .rotatividade dos membros; e .pauta e freqüência de reuniões. 6. Considerações Finais Finalmente, cabe a cada empresa, dependendo de seu porte e do setor onde atua, desenvolver a competência de elaborar e executar sua estratégia empresarial em sintonia com os princípios da responsabilidade social. Isto implica numa postura que vai muito além de uma mera formalização de instrumentos como a construção de códigos de ética, obtenção de certificações ou elaboração de relatório de sustentabilidade ou do balanço social. Trata-se de um compromisso. Compromisso com os valores éticos. Dado que a postura empresarial voltada apenas para as ações lucrativas no curto prazo está ultrapassada, como vimos, e considerando que a atuação ética da empresa, além de se aplicar a todas as suas ações, é um critério importante na tomada de decisões estratégicas, torna-se necessária a criação de modelo de avaliação da responsabilidade social. Algumas empresas estão percebendo a necessidade de investir seriamente na formação de profissionais que sejam capazes de gerir esses processos. Não se implanta a responsabilidade social apenas com boa vontade.É preciso sim vontade, mas não se pode prescindir da ação planejada internamente e a participação dos stakeholders. A empresa deve promover avaliações periódicas sobre suas práticas vis a vis seus princípios éticos. No caso de não haver um código de ética explicitado, ou a prática de elaborar relatório de sustentabilidade, entre outros instrumentos, a empresa deve iniciar processo de discussão visando implantá-los. Este processo deve ser o mais participativo, envolvendo principalmente seus empregados, mas procurando, na medida do possível, incorporar as visões dos clientes, fornecedores e de representantes da comunidade. O comprometimento da alta administração e a participação de todos os envolvidos são fatores fundamentais para a formação de uma cultura ética na empresa. BIBLIOGRAFIA AGUILAR, Francis J. A ética nas empresas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996. . DIERKES, M. Corporate social reporting: the german experience. In: Corporate Social Reporting in The United States and Western Europe. [s.l.] U. S. Department of Commerce, 1979. DRUCKER, P. O novo papel do management: o preço do sucesso. In: O futuro da empresa. São Paulo: Melhoramentos, 1977. DUARTE, Gleuso Damasceno e DIAS, José Maria. Responsabilidade Social: A Empresa Hoje. Rio de Janeiro, Ed. Livros Técnicos e Ciêntíficos, 1986. LEVY, Daniel C. 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