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Responsabilidade Social das Empresas e Sustentabilidade

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A Responsabilidade Social das Empresas: conceito, história e sua 
relação com a noção de sustentabilidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
João Sucupira* 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, 01 de Junho de 2009 
 
 
 
 
 
 
*Mestre em Administração, pós-graduado em economia, professor de ética da 
PUC-RJ e economista pleno da Gerência de Responsabilidade Social das Empresas 
da Petrobras 
 
 
 
 
 
 
A Responsabilidade Social das Empresas: conceito, história e sua relação com a 
noção de sustentabilidade 
 
Índice 
 
Introdução 
 
1. Conceito de responsabilidade social das empresas-RSE 
 
 .visão Clássica 
 .visão Socioeconômica (stakeholders) 
 
2. Perspectiva histórica da RSE 
 
 .as Origens 
 .a RSE no Brasil 
 
3. A relação entre sustentabilidade e RSE 
 
 .conceito de sustentabilidade 
 .impactos da sustentabilidade 
 
4. Os stakeholders e a RSE 
 
 .stakeholders: partes interessadas 
 .relações com os empregados(as) 
 .relações com os consumidores 
 .relações com os fornecedores 
 .relações com a comunidade 
 .relações com o governo 
 .relações com os investidores 
 
5. Governança corporativa 
 
 .conceito de governança corporativa 
 .o mercado de capitais 
 .o conselho de administração 
 
6. Considerações finais 
 
 
 
 
 
 
 
                                                           
 
Introdução 
Nos últimos 10 anos o tema da responsabilidade social empresarial tem sido 
bastante debatido a ponto de ocupar considerável espaço na mídia e nos fóruns 
empresariais, no Brasil e no mundo, envolvendo a participação de empresas líderes, 
entidades empresariais, ongs e órgãos vinculados à ONU. Não há a menor dúvida que a 
temática da responsabilidade social é uma realidade, basta visitar as páginas na internet 
das principais empresas. São diretorias de sustentabilidade, gerências de 
responsabilidade social, referências explícitas na missão e nos planos das empresas, 
enfim, pode-se dizer hoje que há um mercado natural que demanda gente com 
especialidade e conhecimento nesse campo. 
Era de se esperar, no entanto, que todo esse movimento já tivesse alcançado um 
patamar de credibilidade maior principalmente entre os jovens, os futuros líderes. 
Afinal, essa nova geração recebeu informações sobre meio ambiente e cidadania desde 
cedo na escola. Não há dúvida que os jovens de hoje são muito mais informados sobre 
os riscos ambientais e a necessidade de se combater o preconceito e as desigualdades 
sociais. Ainda assim, demonstram desconfiança quanto ao papel das empresas como 
instrumento capaz de ajudar a resolver os problemas sociais. 
Apesar da ampla divulgação do tema, há muito desconhecimento sobre a questão 
ambiental. Entre os jovens, as pesquisas, tanto no Brasil quanto no exterior, mostram 
que poucos estão bem informados sobre o tema. Como esses futuros líderes percebem o 
papel das empresas diante dos problemas sociais e ambientais? No 4º Dossiê Universo 
Jovem realizado pela MTV1, divulgado no final de 2008, os jovens brasileiros deixam 
claro que a imagem das empresas não é favorável entre eles. Com relação à questão 
ambiental percebem que a propaganda das empresas está mais associada a interesses 
financeiros do que a uma real preocupação com o meio ambiente. Consideram o 
discurso vazio, sem conteúdo e descolado das práticas. Não encontram sentido no tema 
da responsabilidade social empresarial. 
 O que fazer para disseminar a idéia de que toda empresa deve se comportar de 
forma adequada? 
 
1       O objetivo da pesquisa é aprofundar a compreensão dos  jovens brasileiros 
sobre  alguns  conceitos  muito  utilizados  nas  escolas,  nas  empresas  e  na  mídia,  tais 
como: sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e consumo consciente.  
 
 
 
 
 
 
 De que modo as empresas podem melhorar a qualidade de vida de seus 
empregados, da comunidade local e da sociedade como um todo, sem perder de vista a 
necessidade de gerar lucro? 
 Como criar a cultura de que somos todos responsáveis por todos e que 
responsabilidade social deve estar presente na administração das empresas?   
Só há um jeito, investindo na mudança de mentalidade das pessoas. É preciso 
criar as condições para que floresça a consciência de que fazer a coisa certa não é 
incompatível com o lucro, que a gestão dos relacionamentos seja a prioridade das 
organizações e que a responsabilidade seja assumida não como uma opção mas como 
uma obrigação. Em suma, discutindo os riscos e os custos de um comportamento 
antiético por parte das empresas e as vantagens obtidas com uma boa conduta. 
  Neste capítulo trataremos dos conceitos de responsabilidade social das empresas, 
como surgiu, sua história e sua relação com a noção de sustentabilidade, explorando 
uma idéia simples mas que está na base da sobrevivência das empresas ou de qualquer 
organização: o cuidado com o relacionamento com os seus stakeholders, isto é, com 
todos os grupos que de alguma forma influenciam ou são influenciados por ela. 
 O princípio básico que fundamenta as idéias a serem exploradas a seguir é que a 
nova postura da empresa cidadã deve ser ressaltada não só por se tratar de um valor em 
si mas por uma questão de sobrevivência, de competitividade. E essa sobrevivência só é 
possível se acreditarmos que vale à pena praticar o diálogo e disseminar os valores 
éticos como forma de construir uma sociedade mais justa e feliz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
                                                           
1. Conceito de responsabilidade social das empresas-RSE 
 
É sabido que o sucesso das empresas depende, entre outros fatores, de sua 
adaptação ao ambiente. Em um mundo onde a economia se caracteriza pelo 
acirramento da competição e por consumidores mais conscientes de seus direitos, onde 
cresce a preocupação pela valorização da qualidade de vida e a consciência social e 
ambiental, as empresas procuram vincular sua imagem à temática da responsabilidade 
social. O respeito ao meio ambiente e a preocupação com a valorização do homem 
estão cada vez mais presentes entre os fatores determinantes do sucesso mercadológico. 
Na realidade, o debate em torno da boa conduta no mundo dos negócios é uma 
resposta a um ambiente em mudança que tende a condicionar a busca do lucro a padrões 
éticos de comportamento no que diz respeito aos mais diferentes públicos da empresa. 
Apesar das diferentes visões sobre o conceito de responsabilidade social das 
empresas, aos poucos vai se criando um consenso no sentido de que ela está deixando 
de ser uma opção para se tornar um imperativo e de que a empresa que investe em 
responsabilidade social ganha vantagem competitiva. Por isso, os líderes empresariais 
estão tomando decisões estratégicas que levam em consideração a responsabilidade 
social corporativa. 
Mas afinal, o que vem a ser em essência responsabilidade social das empresas? 
 
Posicionamentos antagônicos: visão 
clássica x visão socioeconômica (teoria dos 
stakeholders) 
 
.visão clássica 
Quando se toca na questão da RSE os autores logo chamam a atenção para duas 
posições opostas. De um lado, a visão clássica, defendida pelo economista Milton 
Friedman2, e do outro a visão socioeconômica, mais recente. Para Friedman, a 
 
2 O norte‐americano Milton Friedman recebeu o prêmio Nobel de economia em 1976. 
 
 
 
 
 
 
maximização dos lucros é a grande contribuição social que o empresário pode oferecer à 
sociedade. O administrador ao decidir gastar recursos da organização deve ter em mente 
apenas o interesse dos acionistas, isto é, o retorno financeiro, o lucro máximo. 
Agindo assim, a empresa estaria gerando empregos, impostos e oferecendo 
eficientemente produtos e serviços. Esta seria então a responsabilidade social da 
empresa. 
Os que defendem a posição de Friedman argumentam que se o administrador 
gasta recursos em funções sociais, alguém terá que arcar com estes custos. Se os 
recursos para uma ação social, seja ela qual for, saírem dos lucros edividendos, os 
acionistas/investidores perdem, se os salários forem sacrificados, os empregados é que 
pagam a conta e se o financiamento vier da elevação de preços, os consumidores é que 
sairão perdendo. 
Ocorre que, em um mercado competitivo o repasse para os consumidores via 
aumento de preços pode inviabilizar o negócio pela queda das vendas. No caso de não 
poder repassar para os consumidores, a organização se verá obrigada a absorver o gasto 
social como um custo, acarretando uma taxa de retorno mais baixa e, 
consequentemente, o afastamento de investidores que procuram o maior retorno para 
suas aplicações. Ou seja, os investidores estariam discriminando negativamente aquelas 
empresas consideradas responsáveis. 
Além disso, Friedman questiona a competência dos administradores 
profissionais para decidir sobre o destino do gasto social e acha que isto é papel dos 
políticos, eleitos para buscarem o interesse público. Para ele não compete à empresa 
fazer o bem e cabe ao governo impedi-la de fazer o mal. 
 
.visão socioeconômica (stakeholders) 
Na visão socioeconômica ou da teoria dos stakeholders, como se referem alguns 
autores, o administrador também visa o lucro, mas não pode se restringir a isto, tendo 
que levar em conta o bem-estar de seus empregados e da comunidade e os interesses de 
todos os grupos que são afetados pelas atividades da empresa. Os defensores dessa 
visão rebatem a tese de Friedman com o argumento de que os tempos mudaram e que a 
maximização dos lucros passou a ser a segunda prioridade da empresa. A primeira deve 
ser assegurar a sua sobrevivência num mundo extremamente competitivo. 
 
 
 
 
 
 
A empresa será competitiva quando tomar decisões estratégicas que a mantenha 
no mercado no longo prazo. Depois de assegurada a sua posição no mercado no longo 
prazo, a maximização do lucro é uma decorrência natural. De certa forma em ambas 
está colocada a questão da necessidade da geração do lucro, portanto, o que as difere é 
a forma como este é gerado. Na visão socioeconômica a forma de geração do lucro 
passa por uma postura de respeito aos interesses dos stakeholders: acionistas, 
consumidores, clientes, fornecedores, concorrentes, órgãos governamentais, 
organizações da sociedade civil (ongs), comunidades, igrejas e demais instituições e 
pessoas que compõem a sociedade. 
No cenário competitivo onde atuam as empresas, a tentativa de gerar ganhos 
maiores à custa da saúde dos empregados, ou do meio ambiente, pode levar a 
problemas sérios devido a denúncias, difamações, multas e até mesmo a interrupção 
das atividades pela ação governamental responsável pela fiscalização. Na ânsia de 
maximizar o lucro imediato a empresa que adota práticas inaceitáveis pode perder a 
licença de operar, seja ela formal dada pelas autoridades governamentais, seja pela 
sociedade que pode rejeitá-la por não querer mais consumir seus produtos ou serviços. 
Portanto, para os defensores da corrente socioeconômica: 
os administradores devem considerar os 
interesses de todos os públicos que afetam 
ou são afetados por ela e buscar a 
maximização do retorno financeiro no 
longo prazo. 
 
 Hoje podemos dizer que a visão clássica está superada. Mais do que nunca e até 
mesmo como forma de sobrevivência, as empresas buscam seguir a visão que defende 
uma maior integração das empresas com todos os seus públicos de interesse. Esta visão 
que engloba os stakeholders é importante para enfatizar que a discussão sobre o que 
uma empresa faz ou deve fazer com seus resultados financeiros é bastante limitada 
como critério de responsabilidade social. Não basta saber o destino dos recursos, mas a 
forma como eles foram obtidos. 
 Os meios que a empresa empregou para realizar seus lucros estão na base da 
ética empresarial. Algumas empresas criam fundações para desenvolver fantásticos 
projetos sociais, gastam soma significativa de dinheiro com tais projetos, mas, às vezes, 
 
 
 
 
 
 
a custa de práticas repugnantes como exploração de trabalhadores em condições 
análogas ao trabalho escravo ou mesmo utilizando mão de obra infantil. Estas empresas 
confundem responsabilidade social com filantropia, que tem a ver com apenas um dos 
stakeholders, em geral a comunidade no entorno. Confundem responsabilidade social 
com investimento social privado. 
  Nessa mesma linha de pensamento, o Instituto Ethos define RSE assim: 
“Responsabilidade Social Empresarial é a 
forma de gestão que se define pela relação 
ética e transparente da empresa com todos 
os públicos com os quais se relaciona e 
pelo estabelecimento de metas 
empresariais que impulsionem o 
desenvolvimento sustentável da sociedade. 
Isso deve ser feito preservando recursos 
ambientais e culturais para as gerações 
futuras, respeitando a diversidade e 
promovendo a redução das desigualdades 
sociais.” 
 Por fim, é importante enfatizar que não há incompatilibilidade entre 
responsabilidade social e lucro, ao contrário, a responsabilidade social é, no atual 
estágio de consciência social e numa economia globalizada de alta competição, 
determinante do lucro. O conceito de RSE não afasta a meta do lucro, como querem os 
clássicos, mas ressalta a forma como ele é obtido. Hoje, está cada vez mais evidente que 
a responsabilidade é essencial e até mesmo determinante do lucro. 
 
Responsabilidade Social das Empresas → Determinante do lucro 
 
 
 
 
 
 
 
 
                                                           
2. Perspectiva histórica da RSE 
 
 .as origens 
 Ação social por parte das empresas não é uma novidade. Há relatos de 
empresários em várias partes do mundo que se sensibilizaram com as questões sociais 
ao longo dos últimos séculos. 
 Em 1916, o caso Dodge vs. Ford, como ficou conhecido, trouxe uma novidade 
pela polêmica criada em razão da decisão de Henry Ford, considerada avançada para a 
época. Valendo-se da posição de presidente e acionista majoritário da Ford, preferiu 
contrariar os interesses dos acionistas3, não distribuindo parte dos dividendos 
esperados. Preferiu aplicá-los em aumento da capacidade de produção, aumento de 
salários e na constituição de fundo de reserva da empresa. Para alguns a atitude do 
presidente Ford não foi correta porque retirou parte dos direitos dos acionistas. O fato é 
que os interesses econômicos imediatos dos acionistas foram preteridos. O empresário 
inglês Oliver Sheldon, diretor da Rowntree Company, em 1923, defendia que as 
empresas não deveriam ter como único objetivo a obtenção de lucro para os acionistas. 
Segundo ele, o atendimento dos interesses das comunidades deveriam ser a base da 
motivação da indústria inglesa. 
 Nos anos 1940, um manifesto subscrito por 120 empresários da indústria inglesa 
reivindicava que a responsabilidade dos administradores de empresa era manter um 
equilíbrio entre diversos interesses do público, seja como consumidor, como 
funcionário ou como acionistas na condição de investidores. Além disso, defendiam no 
documento a necessidade de dar a maior contribuição possível ao bem-estar da nação 
como um todo. 
 Muito importante na sistematização e divulgação das idéias sobre a 
responsabilidade social das empresas foi o lançamento nos EUA do livro Social 
Responsibilities of the Businessman, de Howard Bowen, em 1953. O autor chamava a 
atenção de que os negócios exerciam forte influência na vida dos cidadãos e que, 
portanto, deviam se preocupar mais com os valores da sociedade. A tese de Bowen 
 
3      John e Horace Dodge personalizaram os protestos dos acionistas que não 
concordaram com a decisão de Ford de não distribuir parte dos dividendos. 
 
 
 
 
 
 
alcança as universidades e as entidades empresariais, que iniciam debate sobre a 
necessidade de considerar na gestão o impacto social dos negócios na sociedade. 
 Porém, é na década de sessenta do século XX, nos Estados Unidos da América e 
em alguns países da Europa, que a idéia da responsabilidade social corporativa surge 
como uma preocupaçãopor parte das empresas, como resposta à nova mentalidade 
caracterizada pelas manifestações de protesto nos vários campos. O repúdio à guerra do 
Vietnã nos EUA deu início a um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações 
na bolsa de valores de empresas que de alguma forma estavam ligadas a esse conflito 
armado. 
 Várias instituições como a Igreja, fundações, universidades, dentre outras 
organizações da sociedade civil, passaram a denunciar a utilização de armamentos 
sofisticados (gases paralisantes, napalm) que dizimavam civis inocentes, afetavam 
negativamente o meio ambiente, colocando em risco a própria sobrevivência do homem 
no planeta. A guerra do Vietnã provocou sério desgaste na imagem das empresas que se 
beneficiavam daquela guerra. 
 Também na década de 1960 ocorrem os primeiros manifestos contra o aumento 
da poluição. É a fase da tomada de consciência da decadência das grandes 
aglomerações urbanas, da necessidade de remoção de rejeitos tóxicos e nucleares. 
Surge nesse período o movimento pelo consumo consciente, pelo direito do 
consumidor de escolher, de ser ouvido, de ser informado e do direito à segurança. É 
dessa época a publicação do importante livro de Ralph Nader (Unsafe at Any Speed) 
onde o autor fez sérias críticas aos carros da General Motors. As idéias defendidas no 
livro foram fundamentais para que os carros passassem a ser mais seguros com a 
introdução de equipamentos como cinto de segurança, pára-brisas que não produzissem 
estilhaços, entre outros itens. 
 Visando reagir às pressões da sociedade, que exigia nova postura ética, as 
empresas norte-americanas passaram a prestar contas de suas ações justificando seu 
objetivo social, com o intuito de melhorar a imagem junto a consumidores e acionistas. 
 Na Europa, a crise do welfare state (Estado do bem estar social) e o conseqüente 
aumento do desemprego, somado ao fortalecimento dos sindicatos e do movimento 
estudantil na luta pelos direitos civis, principalmente na França, mas também na 
Inglaterra, força as empresas a assumirem uma nova postura diante daquele movimento 
reivindicatório. Não é por acaso que a empresa francesa Singer é a primeira a elaborar e 
divulgar um balanço social em 1972 e é a França a primeira nação a tornar obrigatória a 
 
 
 
 
 
 
                                                           
elaboração do balanço social das empresas divulgando quadros com dados relativos à 
gestão do pessoal, às condições sociais, juntamente com as tradicionais demonstrações 
financeiras. Pela lei francesa, desde 1977 é obrigatória a elaboração do balanço social 
das empresas com mais de 300 empregados.4 Na Inglaterra, em 1976 uma empresária 
(Anita Roddick) cria uma empresa de cosmético (The Body Shop) explorando a idéia 
de defesa do meio ambiente. 
 Mas, é na década de 1980 que a questão da responsabilidade social corporativa 
ganha força. Na verdade, atribui-se aos grandes acidentes ocorridos na Índia em 1984, 
causado pela Union Carbide, e ao derramamento de 11 milhões de litros de óleo da 
Exxon Valdez no Alasca, em março de 1989, o surgimento do que hoje costuma-se 
chamar movimento de responsabilidade social das empresas. Estes acidentes estão entre 
os piores desastres ambientais da história da humanidade provocados por corporações 
transnacionais. 
 Desde então várias empresas criaram seus códigos de condutas ambientais e 
passaram a prestar contas de suas atividades em prol da sociedade. Em 1990 é fundado 
o Ceres (Coalition for Environmentally Responsible Economies) com o objetivo de 
trabalhar padrões de sustentabilidade para empresas. Em 1997, em Amsterdã, surge o 
Global Reporting Initiative (GRI) com o apoio do Ceres visando promover relatórios 
que dessem conta de aumentar a transparência sobre questões ambientais e sociais, que 
viriam se somar as tradicionais informações econômicas. 
 Também em 1997, o Council on Economic Priorities Acreditation Agency 
(CEPAA) criou uma norma certificadora, a SA 8000, nos moldes da ISO 9000, com 
vistas a melhorar as condições de trabalho no mundo, em conformidade com as 
resoluções da Organização Internacional do Trabalho-OIT e da Declaração Universal 
dos Directos do Homem, entre outras declarações da ONU. Em 2000, já em franco 
desenvolvimento, a CEPAA passou a se chamar Social Accountability Agency (SAI) e 
hoje centenas de empresas espalhadas pelo mundo buscam essa certificação. 
Atualmente está em processo a criação de uma norma internacional de responsabilidade 
social, a ISO 26000, a exemplo das ISO 9000 (qualidade nos processos) e ISO 14000 
 
4      A  Lei  nº77.769  de  12  de  julho  de  1977  incluiu  as  empresas  com  750  ou  mais 
empregados;  em  1982,  a  obrigatoriedade  passou  a  valer  para  aquelas  com  300  ou 
mais empregados.  
 
 
 
 
 
 
                                                           
(ambiental), com prazo para ser lançada em 2010. 
 .a RSE no Brasil 
 Agora que vimos em linhas gerais como surgiu o movimento da RSE 
destacaremos os principais atores sociais para a consolidação do tema no Brasil. 
 No Brasil, a discussão sobre o comportamento ético das empresas tem início 
ainda nos anos sessenta com a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de 
Empresas - ADCE. Um dos princípios desta associação (a Carta de Prinípios da ADCE 
é de 1965 e já menciona o termo Responsabilidade Social das Empresas) baseia-se na 
aceitação por seus membros de que a empresa além de produzir bens e serviços, possui 
a função social que se realiza em nome dos trabalhadores e do bem-estar da 
comunidade. 
 Embora a idéia da responsabilidade social corporativa já motivasse discussões, 
apenas em 1977 mereceu destaque suficiente a ponto de ser escolhido como o tema 
central do 2º Encontro Nacional de Dirigentes de Empresas. Em 1984 é publicado o 
primeiro balanço social5 de uma empresa brasileira, o balanço social da Nitrofértil. 
Oito anos depois, o Banco do Estado de São Paulo, BANESPA, publica um relatório 
completo, divulgando todas as suas ações sociais; e, a partir de 1993, várias empresas 
de diferentes setores passam a divulgar o balanço social anualmente. 
 A publicação do balanço social pelas empresas, embora em número muito 
reduzido em meados dos anos 1980, representa em si uma atitude significativa, pois é 
sinal de que já começa a fazer sentido a exigência da prestação de contas à sociedade. É 
claro que a iniciativa ainda é das empresas estatais tentando se justificar perante um 
público que começa a receber argumentos em prol da privatização. 
 Na realidade diversos fatores contribuíram para o desenvolvimento da idéia de 
empresa cidadã na cultura das organizações brasileiras. Entre eles merece destaque a 
cobrança das agências internacionais para que as empresas públicas de energia elétrica 
reduzam o impacto ambiental provocado pelas inundações para formação de lagos e o 
exemplo de programas de patrocínio cultural e esportivo de grandes empresas como a 
Xerox, Shell, Coca-Cola, Petrobras e Vale do Rio Doce. 
 
5      No  balanço  social  pode‐se  ter  uma  noção  do  que  a  empresa  faz  pelos  seus 
empregados,  os  projetos  sócio‐ambientais  na  comunidade,  dados  sobre  a  força  de 
trabalho entre outros. 
 
 
 
 
 
 
                                                           
 A partir dos anos 1980 as questões ligadas à responsabilidade social das 
empresas ganham destaque a partir da criação de prêmios (Prêmio ECO em 1983) e da 
ação mais efetiva de instituições como a Fundação Instituto de Desenvolvimento 
Econômico e Social-FIDES, pioneira no tratamento do tema no Brasil, Grupo de 
Institutos, Fundações e Empresas-GIFE, Câmara Americana de Comércio em São 
Paulo (AmCham/SP). 
 Nos anos noventa duas campanhas idealizadas pelo sociólogo Herbert de Souza 
- a campanha contra a fome (1993-96) e a campanha pela divulgação do balanço social 
das empresas (1997) - fizeram com que diversas empresas públicas e privadas se 
engajassem em ações sociais,despertando nos seus dirigentes e empregados o interesse 
no conceito de empresa cidadã. A campanha pela divulgação do balanço social lançada 
em 16 de junho pelo Ibase, deu projeção nacional ao tema da responsabilidade social no 
mundo das empresas. A partir desta data o número de balanços sociais cresce 
geometricamente, chegando ao final de 2008 a mais de 400 balanços divulgados no 
modelo Ibase. 
 A década de 1990 é a década da consolidação do discurso da responsabilidade 
social no Brasil. A produção acadêmica começa a dar respostas e diversas monografias 
e teses de mestrado surgem nos novos cursos de especialização e mestrado no tema da 
RSE. Também a criação de instituições específicas para discutir e promover o tema, 
tais como a Fundação Abrinq (1996), o Instituto Ethos (1998), o Forum Permanente de 
Discussão do Balanço Social (1999) e o Prêmio Balanço Social das Empresas, 
promovido pelo Ibase, Ethos, Fides, Associação Brasileira de Analistas de Mercado de 
Capitais-ABAMEC e Associação Brasileira de Comunicação Empresarial-ABERJ. 
Além dessas instituições citadas diversas outras6 foram de fundamental importância na 
consolidação do movimento da responsabilidade social corporativa no Brasil. 
 
 
 
 
6  Instituto  de  Cidadania  Empresarial‐ICE;  Conselho  de  Cidadania  Empresarial  da 
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais‐FIEMG; Núcleo da Ação Social da 
Federação das  Indústrias do Estado de São Paulo‐FIESP; Núcleo de Responsabilidade 
Social Empresarial da FIRJAN e Associação de Empresários pela Cidadania‐CIVES. 
 
 
 
 
 
 
                                                           
3. A relação entre sustentabilidade e RSE 
 
 Neste tópico vamos discutir a relação entre a dimensão da responsabilidade 
social e a idéia de sustentabilidade. O objetivo é mostrar que a busca da sustentabilidade 
da empresa passa pela gestão responsável e que não há incompatibilidade com a meta 
de lucro. 
 .conceito de sustentabilidade 
 O conceito de sustentabilidade surgiu na década de 1980 a partir da consciência 
de que os países precisavam encontrar formas de promover o crescimento de suas 
economias sem sacrificar o bem-estar das futuras gerações. Isto é, produzir sem destruir 
o meio ambiente. Na visão da famosa Comissão Brundtland7 (1987)  sustentabilidade 
consiste no princípio que assegura que nossas ações de hoje não limitarão a gama de 
opções econômicas, sociais e ambientais disponíveis para as futuras gerações. 
 Portanto, sustentabilidade baseia-se no equilíbrio entre três pilares fundamentais: 
o econômico, o ambiental e o social – todos necessariamente interligados. 
 No mundo dos negócios a idéia também ganhou força. Empresa sustentável é 
aquela que gera lucro, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente e cuida da 
qualidade de vida das pessoas. É aquela que é social e ambientalmente responsável e 
que ao mesmo tempo consegue obter resultados financeiros positivos no longo prazo. 
 Uma empresa sustentável avalia os impactos que as ações do presente podem ter 
sobre as gerações futuras. Nesse sentido, a sustentabilidade funciona, de certa forma, 
como uma idéia que restringe determinadas forma de atuação. Essa restrição é uma 
resposta que considera a importância da existência dos outros, é a alteridade como o 
fundamento da ética. É por isso que se diz que os conceitos de RSE e sustentabilidade 
têm sua base na conduta ética. 
 Assim, as atividades da empresa sustentável levam em conta a dimensão do 
lucro, o meio ambiente e os interesses da sociedade. 
 
7 Esta Comissão elaborou o Relatório Brundtland, intitulado Nosso Futuro Comum, no qual é destacada a 
incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 ⎡ dimensão do lucro 
 Empresa sustentável ⎢ meio ambiente 
 ⎣ interesses da sociedade 
 
 Como vimos anteriormente, as empresas podem ser classificadas entre aquelas 
que visam sua sobrevivência no longo prazo, conhecidas por sua vocação estratégica, e 
as que se preocupam em maximizar seu lucro imediato, que priorizam as oportunidades 
de negócio que a conjuntura oferece, muitas vezes sem considerar os impactos 
negativos às comunidades do entorno ou mesmo à perda de capital no processo de 
produção. As primeiras podem ter retornos financeiros relativamente menores no curto 
prazo, mas tendem a prosperar ao longo de décadas. Já as que buscam a maximização 
de lucros no curto prazo a qualquer custo, enfrentam situações de risco alto e com alta 
probabilidade de desaparecem também no curto prazo. Assim, podemos dizer que: 
Empresas que honram o princípio da 
sustentabilidade são duradouras 
 O princípio da sustentabilidade tem a ver com a aceitação da interdependência. 
Perceber que a empresa não pode tudo é ato de sabedoria. Os seres humanos não estão 
isolados no mundo e precisam respeitar a interdependência entre si, sem causar danos 
ao meio ambiente. O êxito financeiro sem dúvida é essencial para a reprodução do 
capital e manutenção do negócio. Porém, não há negócio sustentável quando o sucesso 
econômico decorre da destruição da natureza e do sacrifício dos valores humanos. São 
as pessoas em última instância que executam as operações com mais ou menos 
motivação. Por isso, é fundamental que a empresa aceite a interdependência dos 
diversos aspectos da existência humana. 
 .impactos da sustentabilidade 
 Quando operam as empresas consomem não apenas recursos financeiros, mas 
também água, energia, matérias-primas e tempo&talento das pessoas. Nesse sentido as 
empresas devem investir na gestão dos processos e medir e reportar o impacto das 
atividades da organização no mundo. Quando o impacto é positivo há aumento no valor 
 
 
 
 
 
 
da empresa que se reflete em maior riqueza para os acionistas e desenvolvimento 
socioambiental. 
 
 Impactos 
Econômicos – vendas, lucro, impostos, empregos, aumento da riqueza 
Ambientais – qualidade do ar, da água, uso de energia e resíduos 
Sociais – práticas trabalhistas, ações na comunidade, direitos humanos 
 Alguns autores chamam esses impactos de tríplice resultado. Empresas elaboram 
o que se denomina balance scorecard ou boletim que capta em números a criação de 
valor que as mesmas estão destinando para seus acionistas e para a sociedade. Aos 
poucos as empresas começam a serem cobradas a se reportarem sobre esses aspectos e a 
serem avaliadas de acordo com estes critérios (tríplice resultado). Não basta respeitarem 
os direitos trabalhistas de seus empregados, agirem corretamente nas suas obrigações 
com o Poder público e bancarem projetos sociais na comunidade. A era da 
sustentabilidade exige muito mais. Hoje, as empresas devem prestar contas de suas 
atividades não só para os acionistas, credores, fornecedores e clientes, mas também aos 
empregados e seus sindicatos, à mídia, aos responsáveis pela produção de políticas 
públicas, às organizações defensoras dos direitos humanos, ambientalistas e a todos os 
demais grupos interessados na sua existência, que podem estar em qualquer parte do 
planeta, depois que inventaram a internet. 
Alguns exemplos são reveladores desse novo tempo. 
- A Nike teve que repensar inteiramente sua estratégia com seus 
fornecedores em conseqüência da repercussão mundial após a 
descoberta de trabalho infantil em suas fábricas no exterior. 
- A Wal-Mart tenta a todo custo se ver livre da fama de pagar 
baixos salários. 
 - A McDonald se esforça para apagar a imagem da questão da 
obesidade induzida por seus produtos. 
- A DuPont, tradicional no setor de produtos químicos, 
 
 
 
 
 
 
transforma-se em uma das maiores produtoras do mundo de 
proteína de soja. 
 - A sueca Ikea tem aumentado seus volumes de compra de madeira 
proveniente de bosques certificados. O interesse por garantir essas 
matérias primas, beneficia toda a cadeia de fornecedores. 
- As usinas brasileiras produtoras de álcool reagem fortementecom programas de responsabilidade social para não serem 
acusadas pela utilização de mão de obra escrava. 
 Várias dessas mudanças estão fazendo parte do planejamento estratégico dessas 
corporações e são geradoras de ganhos financeiros no curto e principalmente no longo 
prazo. Em alguns casos o tema da sustentabilidade está tomando um viés de negócio e 
não associado à consciência de uma prática sustentável. Para alguns, se isso não é o 
ideal, temos que nos conformar, pelo menos por enquanto, pois há pessoas que só 
percebem quando custos estão envolvidos. Nesta linha, começa a ganhar adeptos a idéia 
de que sustentabilidade é uma ótima maneira de economizar dinheiro. A Intel, por 
exemplo, investiu 23 milhões de libras desde 2001 em projetos de eficiência energética 
e lucrou 50 milhões de libras em 8 anos. 
É possível melhorar o mundo e ganhar 
dinheiro ao mesmo tempo. 
 Essas empresas também procuram divulgar relatórios de sustentabilidade e 
submetem-se a avaliações de críticos e auditorias externas informando detalhadamente 
como estão gerindo suas atividades. Tudo isso decorre do aprendizado rápido a que 
foram obrigadas a se submeterem, pois aquelas que não conseguiram perceber as novas 
tendências simplesmente sumiram do mapa em pouco tempo. 
 Talvez o exemplo mais emblemático seja o da Arthur Andersen, segunda maior 
empresa do ramo da consultoria e auditoria financeira, com cerca de 150 anos de 
existência e que desapareceu em menos de um mês depois do escândalo dos balanços 
fraudulentos da Worldcom e de outras centenas de empresas envolvidas. Esse exemplo 
mostra como a confiança dos stakeholders é fator crítico para a sobrevivência dos 
negócios. 
 O caso da Arthur Andersen é um excelente exemplo de como a sustentabilidade 
não depende apenas da lucratividade da empresa ou mesmo da sua imagem consolidada 
 
 
 
 
 
 
de líder no mercado. Mais uma vez, respeitar valores não se trata de algo apenas 
recomendável, é também um imperativo dos negócios. A mentira, e a conseqüente perda 
da confiança na empresa, foi um golpe fatal, o que evidencia a importância dos valores 
para a sustentabilidade dos negócios. 
 Finalizando esse tópico, enfatizamos duas idéias básicas: 
 
Uma empresa sustentável realiza seus 
ganhos financeiros cuidando da natureza e 
dos valores humanos. 
O desenvolvimento sustentável requer a 
comunhão de três elementos 
fundamentais: a criação de riqueza, a 
proteção ambiental e a equidade social, 
que se somam aos princípios de 
transparência institucional e solidariedade 
entre gerações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Os stakeholders e a RSE 
 
 .stakeholders: partes interessadas 
 O êxito de uma empresa depende, em grande medida, de como os gestores 
consideram as expectativas e necessidades dos stakeholders (suas partes interessadas). 
Essas expectativas envolvem satisfação de necessidades, compensação financeira e 
postura ética. Cada grupo representa um determinado tipo de interesse no processo. O 
envolvimento de todos eles não garante a maximização dos resultados das ações, mas 
permite achar um equilíbrio de forças e minimizar riscos e impactos negativos. As 
organizações que se planejam estrategicamente procuram atender as necessidades de 
todas as suas partes interessadas. 
 Gestores 
 
Proprietários Acionistas 
 
Credores Governos 
 
Comunidade EMPRESA Consumidores 
 
Fornecedores Sindicatos 
 
Concorrentes ONGs 
 
 Empregados 
 Tratar da temática stakeholders é mergulhar na essência do conceito de RSE. Só 
 
 
 
 
 
 
para exemplificar, vejamos as definiões de RSE da Associação Brasileira de Normas 
Técnicas-ABNT e do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Para a 
ABNT, a responsabilidade social empresarial é a “relação ética e transparente da 
organização com todas as suas partes interessadas, visando ao desenvolvimento 
sustentável” (ABNT, 2004, p. 3). Para o Instituto Ethos, a responsabilidade social 
“implica práticas de diálogo e engajamento da empresa com todos os públicos ligados a 
ela a partir de um relacionamento ético e transparente”. Como se nota, em ambas a 
ênfase está na natureza das relações da empresa com as partes interessadas. 
 Isto implica dizer que a responsabilidade social tem a ver com a esfera dos 
interesses coletivos. Toda empresa deve atender não somente aos seus interesses, mas 
também aos interesses da sociedade. É o mesmo que dizer que a empresa tem uma 
função social. De outro modo, podemos dizer que toda empresa é sustentada por pilares 
representados pelos diversos grupos que compõem a sociedade e que interagem com 
ela. Esses pilares são chamados de stakeholders ou grupos de interesse. 
 Vamos agora analisar as relações da empresa com alguns desses stakeholders. 
 .relações com os empregados(as) 
Uma empresa que trata com dignidade seus 
empregados cria um ambiente interno mais 
saudável e atrai e mantém empregados 
qualificados e motivados. 
 Vendo pelo lado interno, uma empresa socialmente responsável é também uma 
ótima empregadora, já que assegura um ambiente de justiça nas relações de trabalho e 
trata (remunera) seus trabalhadores como pessoas dignas de respeito e consideração. 
 Em um mundo onde as empresas agregam rapidamente os avanços tecnológicos 
para competirem no mercado global, a maior produtividade e o aprimoramento 
emocional de seus empregados é que asseguram a competitividade da empresa. O 
compromisso com a ética estimula relações empresariais produtivas e tira das pessoas o 
que elas têm de melhor. Por conta disso é que na seleção dos empregados, as empresas 
estão cada vez mais preocupadas em avaliar o aspecto ético dos candidatos. 
 Ao mesmo tempo em que as empresas procuram profissionais éticos, é natural 
que os jovens prefiram trabalhar em empresas com elevada reputação, que tenham uma 
responsabilidade mais ampla com a comunidade, onde o ambiente interno seja 
transparente, de liberdade e respeito. Onde haja oportunidade de participar na riqueza 
 
 
 
 
 
 
gerada pela empresa. 
 É compreensível que os melhores talentos tendam a ser atraídos pelas empresas 
de boa reputação. Em geral os jovens talentosos ao saírem da universidade querem por 
em prática aquilo que aprenderam. Querem demonstrar suas potencialidades. Procuram 
ser criativos para contribuir com o aumento da produtividade da empresa. Porém, nem 
sempre se arriscam a propor novas idéias, a mudar práticas já testadas, com medo de 
perderem seus empregos no caso de um eventual fracasso. Daí a importância de se 
implantar um clima de total confiança entre os empregados e seus superiores para que 
se sintam estimulados a produzirem inovações. Gerentes vingativos e perseguidores 
representam uma ameaça, um freio às mudanças, já que estas embutem 
necessariamente certo grau de risco. 
Num ambiente onde a confiança é um 
valor as pessoas são mais felizes, 
produtivas e inovadoras. 
 A empresa responsável cuida das relações de trabalho. Isto implica em elaborar 
indicadores que apontem: 
a) como a organização está quanto ao cumprimento das leis trabalhistas; 
b) que políticas e tipo de gestão está sendo adotada em relação à diversidade de raça e 
de gênero ou se vem ocorrendo práticas preconceituosas em relação a estes grupos; 
c) as condições do ambiente de trabalho; e 
d) a rotatividade de empregados. 
 
 .relações com os consumidores 
A opinião pública em geral, os consumidores, 
esperam das empresas um comportamento ético. 
 Empresários esclarecidos estão aos poucos percebendo que os consumidores 
não se contentam mais apenas com qualidade, preço baixo, bons serviços e marca de 
prestígio. Os consumidores querem produtos de empresas que demonstrem 
preocupações sociais, que respeitem o meio ambiente, que não utilizem o trabalho 
 
 
 
 
 
 
infantil e que se comprometam com projetos de apoio a comunidades carentes. Estão 
mais atentos e informadose demandam mais transparência. Alguns mecanismos 
regulatórios como Código de Defesa do Consumidor e o aumento do ativismo de 
organizações da sociedade civil demonstram o interesse dos consumidores por 
empresas mais responsáveis na oferta de seus bens e serviços. 
 Hoje já se pode falar na tendência de um mercado de gente mais consciente que 
vai exigir esse tipo de atitude por parte das organizações. A crescente procura por 
entidades defensoras do direito dos consumidores, com vistas a acionar judicialmente 
empresas inescrupulosas, mostra como vem evoluindo a consciência das pessoas em 
relação ao consumo de bens e serviços. Tomemos como exemplo o caso da Nike no 
final dos anos 1990. O preço das ações da empresa caiu significativamente nas bolsas 
depois que sua imagem ficou comprometida pelas denúncias de contratar empresas 
asiáticas que empregam mão de obra infantil. Após a onda de denúncias a Nike vem se 
esforçando e despendendo vultosos recursos para tentar mudar esta imagem negativa e 
recuperar o mercado perdido. 
 A reputação de integridade é um patrimônio de valor inestimável. Da mesma 
maneira que a conduta antiética pode levar uma empresa a perder uma fatia de seu 
mercado, o comportamento ético pode contribuir para a obtenção de excelência 
empresarial. Nesse sentido é preciso criar indicadores que demonstrem o respeito às 
normas técnicas e às leis de proteção ao consumidor e como estão sendo observadas as 
políticas de marketing e comunicação e de política de pós-venda. Um exemplo de 
indicador pode ser encontrado no modelo Ibase de balanço social (ver 
WWW.balancosocial.org.br). Lá, no final da tabela, observam-se os seguintes 
indicadores: 
a) número total de reclamações e críticas de consumidores(as); e 
b) % de reclamações e críticas atendidas ou solucionadas. 
 
.relações com os fornecedores 
A empresa deve exigir de seus fornecedores os 
mesmos padrões éticos praticados por ela. No caso 
de fornecedores onde as condutas estão mais 
avançadas em termos de responsabilidade, esta é 
que deve influenciar a contratante. 
 
 
 
 
 
 
 Atualmente, o grau de interdependência nas empresas é impressionante. Cada 
vez mais as empresas procuram concentrar seus esforços, sua atenção, seus 
investimentos nos setores que são essenciais ao seu negócio e adquirem de terceiros os 
demais materiais e serviços. Em outras palavras, há uma tendência à focalização. Não 
se trata de terceirizar para reduzir custo de mão de obra, mas para concentrar energias 
no desenvolvimento tecnológico, no aumento de produtividade. Hoje as indústrias 
automobilísticas, por exemplo, produzem muito pouco do carro que vendem com suas 
marcas. Algumas produzem apenas o motor e cuidam da gestão para manter nível 
elevado de qualidade. Praticamente compram de terceiros todos os outros itens 
(amortecedores, freios etc.) de outras empresas que por sua vez também estão 
especializadas. 
 Assim, é fundamental para a própria sobrevivência das empresas manterem 
redes de fornecedores confiáveis. A sustentabilidade de uma empresa depende também 
da seriedade de seus fornecedores. Daí a necessidade de estabelecerem critérios de 
seleção de fornecedores com base no respeito às normas e contratos de fornecimento, e 
na exigência da responsabilidade social dos membros da cadeia de fornecedores. Na 
verdade, a empresa socialmente responsável, na seleção de seus fornecedores, exige 
deles os mesmos padrões éticos e de responsabilidade social e ambiental adotados pela 
empresa. Aliás, este é um dos itens relatados nos balanços sociais das empresas. 
 Os fornecedores são responsáveis pela reputação de uma empresa e podem 
prejudicá-la caso forneçam produtos ou serviços que comprometam a qualidade do 
produto/serviço final ou caso não respeitem valores éticos. Em meados dos anos 1990, 
a Nike, empresa norte-americana de material esportivo, enfrentou sérios problemas de 
queda nas vendas quando foram divulgadas informações que seus fornecedores na Ásia 
estavam utilizando mão de obra infantil na fabricação dos produtos. 
 
 .relações com a comunidade 
Há fortes indícios de uma relação positiva entre o 
envolvimento social da empresa e o seu 
desempenho econômico. 
 Toda empresa é responsável pelos impactos que suas atividades produzem no 
local em que está operando. Vimos na discussão sobre o conceito de RSE que a 
empresa não pode se restringir à geração de lucro no curto prazo, atendendo apenas aos 
 
 
 
 
 
 
interesses dos acionistas e empregados, e que deve implementar ações de interesse dos 
demais grupos afetados por ela. Por que uma empresa deve desenvolver seus próprios 
projetos sociais? Por que criar departamento, instituto social ou fazer parcerias com o 
chamado Terceiro Setor? Qual o sentido de desenvolver projetos de combate à exclusão 
e redução da pobreza, fomento da economia popular, combate ao trabalho infantil na 
região, enfim, entrar na agenda social da comunidade? Pelo simples fato de que os 
negócios só fazem sentido se forem para melhorar o bem-estar social. Afinal, alguém já 
disse que alguma coisa tem que ser feita pela humanidade sem visar lucro. 
 A responsabilidade social consiste na obrigação da empresa de maximizar seu 
impacto positivo sobre os stakeholders. A empresa deve prestar serviços à sociedade 
como contrapartida à sociedade da qual ela retira seus insumos básicos, pois é uma 
forma de assumir que deteriora seu habitat natural e suas condições de vida. Além 
disso, as comunidades tendem a ficar cada vez mais ativas e menos tolerantes às 
externalidades negativas decorrentes dos empreendimentos. 
 A gestão integrada de projetos sociais, isto é, que integre as ações sociais ao 
planejamento estratégico da empresa de modo a maximizar não só os resultados das 
ações em si, mas também os resultados da empresa, melhora a sua imagem junto ao 
público, atrai a preferência dos consumidores e com isso aumenta as vendas e os 
resultados financeiros. 
 Nesse sentido, algumas empresas instituem programas que permite que 
familiares dos empregados, moradores das comunidades vizinhas e estudantes façam 
uma visita às suas fábricas ou unidades operacionais. Em geral, a programação incluiu 
exibição de vídeo de segurança, palestra/vídeo institucional e passeio pela área 
industrial. Além disso, algumas empresas costumam manter canais de relacionamento 
direto com a comunidade do entorno, através de fóruns e comitês comunitários 
regulares. Nas reuniões há a participação de funcionários e de líderes comunitários e 
são tomadas decisões quanto a ações na comunidade. 
 Finalmente, é preciso colher informações e dados não apenas qualitativos, mas 
também quantitativos, quanto ao respeito às normas da comunidade, à disseminação de 
valores e práticas sociais para a comunidade, estimular o trabalho voluntário e realizar 
investimentos sociais na comunidade. A tendência é gerar um sentimento, por parte dos 
empregados e mesmo da direção da empresa, de pertencimento à realidade local. 
 Por sua vez, a maior integração da empresa com as pessoas da comunidade e 
seus líderes gera um ambiente cordial e propício ao desenvolvimento local. A reputação 
 
 
 
 
 
 
positiva da empresa decorrente de suas iniciativas na comunidade cria uma relação 
sólida e profícua. Os jovens da comunidade passam a ver na empresa oportunidades de 
emprego e possibilidades de continuarem suas vidas na comunidade. A empresa ganha 
colaboradores internos com o conhecimento da região e evita uma série de problemas 
sociais (violência, exploração sexual, drogas). 
 
 .relações com o governo 
O Estado cria normas legais e implementa 
mecanismos de monitoramento para o 
cumprimento por parte das empresas. Cabe à 
empresa cuidar para que o pagamento de impostos 
seja efetivamente realizado e estabelecer 
indicadores que permitam verificar a participação 
da empresa, seja institucionalmente ou a partir de 
seus empregados (programas de voluntariado) em 
projetos governamentais. 
 
A relaçãoda empresa responsável com o governo vai muito além do 
cumprimento de suas obrigações legais. A empresa pode e deve tirar proveito de sua 
capacidade de impactar o público para contribuir com o Estado na efetiva 
implementação das políticas públicas. A ação social isolada de uma empresa pode em 
algumas situações gerar problemas, por exemplo, ao construir uma escola ou hospital 
sem a devida articulação com o governo. É o caso em que a empresa não se 
compromete com a manutenção da nova unidade educacional ou hospitalar e o Estado 
eventualmente não tem condições de arcar com os custos de funcionamento desta nova 
unidade. 
Por outro lado as organizações correm sérios riscos ao se relacionarem com os 
governos de forma ilegal ou antiética. Quando um operário de uma empresa é forçado a 
trabalhar sob condições perigosas ou inadequadamente protegido, ou quando um alto 
executivo é usado como “testa de ferro” para responder pelos atos ilícitos de 
proprietários de empresas, dizemos que estas empresas apresentam uma conduta 
antiética. Há casos em que funcionários são levados a praticar atos repreensíveis, como 
por exemplo, ao supervisionar um contrato com o governo, providenciam toda a 
 
 
 
 
 
 
papelada que comprova a execução de uma obra “fantasma” visando viabilizar a entrada 
no caixa da empresa de recursos públicos. 
Empresários inescrupulosos parecem não perceber que o ressentimento passa 
dos indivíduos diretamente comprometidos para outros na empresa. Mesmo aqueles que 
não foram afetados com a fraude ficam incomodados pela insensibilidade dos que 
colocam seus interesses pessoais acima de tudo. Obviamente, sentem-se ameaçados 
pelo fato de saberem que eventualmente também podem ser usados quando isto servir 
aos interesses de algum chefe. À medida que este sentimento se espalha, o orgulho e o 
entusiasmo do empregado são substituídos pela desconfiança e decepção, podendo até 
gerar hostilidades no ambiente de trabalho. 
Em resumo, quanto mais compromissada com programas governamentais uma 
empresa se mostrar, mais as pessoas vão confiar nela e mais benefícios auferirá a partir 
de relações sólidas com os agentes do Estado. 
 
 .relações com os investidores 
as empresas éticas são em geral bem sucedidas e 
tendem a conseguir mais facilmente acesso a 
recursos de fundos de investimentos. 
 É claro que o impacto da conduta ética sobre o desempenho de uma empresa não 
é imediato e em certos casos pode levar certo tempo para ser percebido. De qualquer 
forma, já existem estudos indicando que há uma relação positiva entre o envolvimento 
social corporativo e o desempenho econômico, ou seja, a boa conduta empresarial gera 
benefícios maiores do que os custos relativos. É interessante notar como os ideais e os 
valores éticos parecem ter contaminado também certos investidores a ponto de 
condicionarem suas aplicações de capital às empresas que demonstrem estar em dia 
com seus deveres em relação ao bem-estar da sociedade. 
 Nos Estados Unidos, na Europa e mesmo aqui no Brasil têm sido lançados 
fundos de ações que se apresentam como investidores sociais. Estes fundos não 
investem em empresas que tenham negócios nos ramos de bebidas alcoólicas, fumo, 
armas, etc. ou que tenham se envolvido com fraudes. 
 Ressalte-se também o fato de que índices como o Domini ou o IDJS-Índice 
Dow Jones de Sustentabilidade, que são índices de ações da bolsa compostos de 
 
 
 
 
 
 
empresas que apresentam melhor desempenho socioambiental, têm subido mais do que 
o Índice Dow Jones Global. O CALPERS (California Public Employees Retirement 
System), um dos maiores fundos de pensão dos EUA, toma suas decisões de 
investimento levando em conta a forma como as empresas tratam seus empregados. O 
financiamento com capitais aplicados em bolsa de valores tende a ser mais abundante 
para os negócios de empresas éticas. Como estes recursos são mais atrativos do que os 
de empréstimos, estas empresas podem contar com esta vantagem para obtenção de 
melhores resultados. 
 Concluindo este tópico fiquemos com a seguinte proposição: 
O processo de diálogo com as partes 
interessadas, idéia central na implantação 
da RSE, pode efetivamente proporcionar 
uma vantagem competitiva à empresa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. Governança corporativa 
 
 .conceito de governança corporativa 
 Desde 2001, particularmente devido às fraudes nos balanços de grandes 
corporações norte-americanas como a Enron Corporation e Worldcom, tem havido um 
renovado interesse no assunto de governança corporativa. Em 2002, o Senado norte-
americano aprovou a Lei Sarbannes-Oxley, com o objetivo de resgatar a confiança do 
público na governança corporativa. O Fórum Econômico Mundial em 2003 elegeu 
como tema do encontro que reúne anualmente líderes empresariais e governamentais a 
confiança. Na ocasião foram debatidos temas como transparência, responsabilidade, 
compromisso e controle. 
 Governança corporativa tem a ver com o aumento da confiança do público que 
resulta em grande parte do controle dos recursos e da transparência. Decorre do 
processo de separação entre propriedade e gestão nas empresas modernas. Com a 
transferência da administração dos proprietários para os gestores profissionais surgem 
diversas questões complexas decorrentes do exercício do poder. Quem governa e em 
nome de quem governa? Da mesma forma que as sociedades democráticas enfrentaram 
o problema da partilha do poder do Estado e como este é controlado, as organizações 
privadas também inventaram suas formas de governança para lidar com o exercício do 
poder. 
 Com a necessidade das organizações lucrativas de obter novos financiamentos 
para suas atividades para além dos tradicionais empréstimos bancários e do 
reinvestimento dos lucros, muitas delas optaram por abrir seu capital para o público. 
Uma conseqüência desta estratégia de alavancagem financeira é a dispersão do controle 
acionário. A disputa pelo direito de decisão sobre os rumos e os resultados da empresa 
tornou-se um problema a ser resolvido entre investidores, proprietários e gestores. A 
dispersão do controle passou a ser um problema de governança para as grandes 
corporações. Como proceder quando os objetivos de proprietários e gestores 
profissionais não coincidem? Essa questão nos remete ao papel da empresa na 
sociedade. 
 Vimos que há duas posições antagônicas (clássica/Friedman x socioeconômica) 
e que hoje a posição que privilegia o diálogo com os stakeholders, a visão 
socioeconômica, está se consolidando no meio empresarial. O conceito de governança 
 
 
 
 
 
 
corporativa, na verdade, passa pela aceitação de que a empresa deve ser mais 
transparente a ponto de equilibrar o nível de informações entre acionistas e gestores ou 
entre acionistas majoritários e minoritários. Esse alinhamento de interesses é básico na 
governança corporativa e é possível quando os gestores não escondem informações dos 
acionistas, ou seja, quando os acionistas têm acesso aos planos, acompanham sua 
execução e participam das decisões sobre os resultados. 
 Mesmo sabendo que isto significa reduzir o risco, sabe-se perfeitamente que na 
prática é quase impossível a plenitude do alinhamento das informações entre todos os 
acionistas e os gestores profissionais. O que os mecanismos de governança corporativa 
fazem é minimizar esse desalinhamento, acreditando-se que a transparência é positiva 
para o sucesso empresarial já que reduz os atritos decorrentes dos conflitos de interesse. 
 Existem várias definições para governança corporativa. Para o Instituto 
Brasileiro de Governança Corporativa-IBGC governança corporativa: 
“é o sistema pelo qual as sociedades são 
dirigidas e monitoradas, envolvendo os 
relacionamentos entre acionistas/cotistas, 
conselho e administração, diretoria, 
auditoria independente e conselho fiscal. 
As boas práticas de governança 
corporativa têm a finalidade de aumentar 
o valor da sociedade, facilitar seu acesso 
ao capitale contribuir para a sua 
perenidade”. 
 Em outras palavras, o conjunto de processos (políticas, regulamentos) que 
regulam a maneira como uma empresa é administrada ou controlada. Trata das relações 
entre os diversos atores envolvidos (os stakeholders) e os objetivos pelos quais a 
empresa se orienta. Os principais atores são os acionistas, a alta administração e o 
conselho de administração. Outros participantes da governança corporativa incluem os 
funcionários, fornecedores, clientes, bancos e outros credores, instituições reguladoras 
(como a CVM, o Banco Central, etc.), o meio-ambiente e a comunidade. 
 Na verdade, quando se menciona conjunto de processos, incluindo aí políticas e 
regulamentos, estamos lidando com formas de proteção, principalmente dos acionistas 
e, dentre eles, especialmente dos minoritários ante os gestores que dirigem a empresa. 
 
 
 
 
 
 
Ao contrário dos consumidores que podem deixar de consumir os produtos por se 
sentirem atingidos pela empresa, ou dos funcionários que podem contar com os 
sindicatos para defenderem seus direitos, os acionistas dependem inteiramente dos 
gestores para manter a valorização de suas ações. 
 Uma das principais preocupações da governança corporativa é garantir o 
respeito dos principais atores a códigos de conduta pré-acordados, através de 
mecanismos que tentam reduzir os conflitos de interesse. Dentre os mecanismos de 
governança destacaremos aqui o mercado de capitais, pelo lado externo, e o conselho de 
administração pelo lado interno. 
 
 .o mercado de capitais 
O preço das ações no mercado de capitais 
funciona como um termômetro tanto para os 
gestores da companhia quanto para os acionistas 
e demais partes interessadas 
 O desempenho do preço das ações revelado no merdado de capitais pode 
significar o grau de eficiência dos gestores das empresas. Os acionistas são motivados a 
monitorar as decisões estratégicas tomadas pelas direções das empresas visando 
acompanhar o destino de seus recursos. Quanto maior for a diferença entre o valor 
potencial da empresa e o valor real, maior será o incentivo para investidores externos 
assumirem o controle da empresa. 
 Tal possibilidade torna-se um estímulo ao gestor para aumentar o valor da 
empresa e assim se aproximar dos interesses dos acionistas. Tendo em vista a facilidade 
de transferência de capitais para diferentes mercados e empresas, tornou-se essencial na 
gestão das empresas mecanismos de governança (transparência, prestação de contas) 
que elevem a confiança do investidor. 
 Atento a essa realidade, a Bolsa de Valores de São Paulo-Bovespa criou em 
2001 os chamados níveis diferenciados de governança corporativa. São três níveis 
(nível 1, nível 2 e o Mercado Novo) de compromisso da empresa com práticas de 
condutas estabelecidas pela Bovespa. São empresas que se comprometem, 
voluntariamente, com a adoção de práticas de governança corporativa que se 
caracterizam por um nível de transparência crescente e além do que é exigido pela 
legislação. 
 
 
 
 
 
 
 Empresas listadas nesses segmentos oferecem aos seus acionistas melhorias nas 
práticas de governança corporativa que ampliam os direitos societários dos acionistas 
minoritários e aumentam a transparência das companhias, com divulgação de maior 
volume de informações e de melhor qualidade, facilitando o acompanhamento de sua 
performance. O pressuposto é que a adoção de boas práticas de governança corporativa 
confere maior credibilidade ao mercado acionário e aumenta a confiança dos 
investidores em adquirirem ações de uma companhia a um preço melhor, reduzindo seu 
custo de captação. 
 A adesão das companhias ao Nível 1ou ao Nível 2 depende do grau de 
compromisso assumido e é formalizada por meio de um contrato, assinado pela 
BOVESPA, pela Companhia, seus administradores, conselheiros fiscais e controladores. 
 No Novo Mercado a valorização e a liquidez das ações são influenciadas 
positivamente pelo grau de segurança oferecido pelos direitos concedidos aos acionistas 
e pela qualidade das informações prestadas pelas companhias. A entrada de uma 
companhia no Novo Mercado implica a adesão a um conjunto de regras societárias, 
conhecidas como “boas práticas de governança corporativa”, mais exigentes do que as 
em vigor na legislação brasileira. 
 Essas regras melhoram a qualidade das informações normalmente prestadas 
pelas companhias, bem como a dispersão acionária, e dão aos investidores a segurança 
de uma opção mais ágil e especializada. A principal inovação do Novo Mercado, em 
relação à legislação, é a exigência de que o capital social da companhia seja composto 
somente por ações ordinárias. Mas esta não é a única. Por exemplo, a companhia aberta, 
participante do Novo Mercado, tem como obrigações adicionais em relação à melhoria 
nas informações divulgadas, igualdade de condições para todos os acionistas em relação 
aos controladores quando da venda do controle da companhia e manutenção em 
circulação de uma parcela mínima de ações, representando 25% do capital social da 
companhia, entre outras inovações. 
 
.o conselho de administração 
O conselho de administração é a mais alta 
instância de poder em uma companhia. É lá que 
se decide sobre os rumos e quem executará os 
planos. 
 
 
 
 
 
 
 O conselho de administração é o responsável pela orientação geral dos negócios 
de uma organização. Dentre outras atribuições, o conselho elege os membros da 
diretoria executiva (gestores) e supervisiona o exercício de suas funções. Em geral o 
conselho reúne-se, ordinariamente, uma vez a cada trimestre ou semestre, e, 
extraordinariamente, sempre que convocado por seu presidente ou por um número 
determinado de conselheiros, dependendo da regulamentação interna de cada empresa. 
O conselho é responsável pelas diretrizes gerais, pela eleição da diretoria e pela 
fiscalização da gestão desta, bem como deve deliberar sobre aumentos do capital social. 
 O conselho de administração é o instrumento mais direto do controle que os 
acionistas exercem sobre a gestação da empresa. No processo de decisão corporativo os 
conselhos têm o poder de aprovar, isto é, escolher as estratégias a serem implementadas 
que os gestores apresentam como proposta. Somente depois de aprovadas pelo conselho 
é que os gestores podem efetivamente utilizar os recursos para executarem as 
estratégias. A partir daí o conselho passa à fase de monitoramento das ações e à 
avaliação dos gestores. 
 Embora não haja propriamente um consenso sobre qual deveria ser a 
composição dos conselhos, o Código da melhores práticas do IBGC aponta para alguns 
parâmetros: 
 .a representatividade de acionistas; 
 .membros da gestão; 
 .membros externos à empresa; 
 .separação das funções do diretor presidente e presidente do conselho 
 (Chairman); 
 .rotatividade dos membros; e 
 .pauta e freqüência de reuniões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. Considerações Finais 
 
 Finalmente, cabe a cada empresa, dependendo de seu porte e do setor onde atua, 
desenvolver a competência de elaborar e executar sua estratégia empresarial em 
sintonia com os princípios da responsabilidade social. Isto implica numa postura que 
vai muito além de uma mera formalização de instrumentos como a construção de 
códigos de ética, obtenção de certificações ou elaboração de relatório de 
sustentabilidade ou do balanço social. Trata-se de um compromisso. Compromisso com 
os valores éticos. 
 Dado que a postura empresarial voltada apenas para as ações lucrativas no curto 
prazo está ultrapassada, como vimos, e considerando que a atuação ética da empresa, 
além de se aplicar a todas as suas ações, é um critério importante na tomada de decisões 
estratégicas, torna-se necessária a criação de modelo de avaliação da responsabilidade 
social. Algumas empresas estão percebendo a necessidade de investir seriamente na 
formação de profissionais que sejam capazes de gerir esses processos. Não se implanta 
a responsabilidade social apenas com boa vontade.É preciso sim vontade, mas não se 
pode prescindir da ação planejada internamente e a participação dos stakeholders. 
 A empresa deve promover avaliações periódicas sobre suas práticas vis a vis 
seus princípios éticos. No caso de não haver um código de ética explicitado, ou a 
prática de elaborar relatório de sustentabilidade, entre outros instrumentos, a empresa 
deve iniciar processo de discussão visando implantá-los. Este processo deve ser o mais 
participativo, envolvendo principalmente seus empregados, mas procurando, na medida 
do possível, incorporar as visões dos clientes, fornecedores e de representantes da 
comunidade. O comprometimento da alta administração e a participação de todos os 
envolvidos são fatores fundamentais para a formação de uma cultura ética na empresa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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