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1 Maria Eduarda Silva Dias Exame cardiovascular O exame cardiovascular é composto por inspeção, palpação e ausculta Posições adotadas pelo paciente • Decúbito dorsal (padrão) • Sentado o Facilita a ausculta dos sons da base do coração, como o foco pulmonar e aórtico • Decúbito lateral esquerdo o Bom para escutar o foco mitral • Em pé, com o tórax semifletido o Melhor ainda para ouvir os sons da base do coração, especialmente o foco aórtico Inspeção • Deve-se avaliar questões como: o Ortopneia (paciente em decúbito dorsal) ou o sinal de Levine (paciente com a mão sobre o precórdio, franzindo a testa, em sinal de dor) o Turgência jugular (paciente em decúbito dorsal 45°, pois em plano horizontal as veias jugulares colabam). Turgências jugulares em apenas um dos lados geralmente não são por questões cardiovasculares. Mas se for nos dois lados, é comum em insuficiências cardíacas ou derrames pericárdicos o Visualização das pulsações visíveis, como nas carótidas e região supraesternal. A ausência desses fatores é comum em hipertensos, pacientes com aneurisma da aorta e insuficiência aórtica. Busque também por pulsações anormais o Buscar abaulamentos e retrações: é incomum que os abaulamentos sejam por causas cardíacas, geralmente são questões respiratórias. As deformações são mais comuns em crianças, pois a deformação do precórdio é mais fácil. Em adultos (raro), pode se ter hipertrofias, aneurismas de aorta, abaulamento do pericárdio ou pericardite constritiva o Visualizar o ictus cordis. O ictus cordis é a pulsação do ápice do coração, estando geralmente no 5° espaço intercostal esquerdo, na linha hemi-clavicular • É importante que se avalie questões como cianose, palidez, pletora, edemas cardiogênicos (edemas de causas cardíacas geralmente são bilaterais ou até 2 Maria Eduarda Silva Dias mesmo generalizados. Edemas mais localizados podem estar associados a causas vasculares locais ou inflamações), úlceras em membros inferiores, xantelasmas, varizes, atitude genupeitoral (derrame pericárdico), atitude de cócoras (cardiopatia congênita cianótica) Palpação Palpe algumas áreas específicas do coração • Em decúbito dorsal a 45°, deve-se sentir o: o Mesocárdio o Esterno 3 Maria Eduarda Silva Dias o Ápice do coração o Base do coração 4 Maria Eduarda Silva Dias o Apêndice xifoide • Em decúbito semi-lateral esquerdo, repita a palpação do ápice cardíaco • Em leve inclinação para frente, repita a palpação da base do coração Palpe o ictus cordis, que é a projeção do ápice cardíaco na parede torácica É importante que se veja a localização, a extensão, a intensidade, a mobilidade o ritmo e a frequência do ictus cordis • Ele deve estar localizado no 5° EICE, na linha hemi-clavicular esquerda. Em pacientes brevilíneos, o ictus cordis pode estar no 4° EICE, e mais lateralmente, enquanto em longilíneos, ele pode estar mais deslocado medialmente o Coloque a mão no 5° EICE, na linha hemi-clavicular, e tente achar o ictus cordis, após identificá-lo, utilize as dois polpas dos dedos para “isolar” a área • Se o ictus cordis estiver fora do local esperado, pode ser questões de ascite, obesidade, gravidez, derrame pleural, elevação do diafragma, entre outros o Em casos de dilatação ou hipertrofia do ventrículo esquerdo, o ictus cordis também pode estar deslocado • Além disso, pode ser difícil palpar o ictus cordis em pacientes obesos, muito musculosos ou com grandes mamas • O normal é que o ictus cordis tenha 1 a 2 polpas digitais de tamanho, se tiver mais que isso, pode ser um caso de hipertrofia ou dilatação ventricular (ictus cordis difuso) 5 Maria Eduarda Silva Dias • A intensidade do ictus cordis pode ser mais bem avaliada em decúbito lateral esquerdo o Um ictus cordis aumentado (ictus propulsivo) pode ser por questões fisiológicas como emoções, pacientes magros ou devido à realização de exercícios perto do horário do exame. Assim como também pode significar questões patológicas, como hipertireoidismo, anemia, hipertrofias e dilatações do ventrículo esquerdo, insuficiência aórtica o Um ictus cordis diminuído pode significar obesidade, derrame pleural, enfisema pulmonar, derrame pericárdico • Sobre a mobilidade do ictus cordis, é normal que ele mude de posição conforme a mudança de posição do paciente, podendo mudar até cerca de 2cm, se ele não se move muito, pode significar que algo está impedindo sua locomoção, como cardiomegalias, derrames pericárdios e uma pericardite constritiva Frêmito catário: é a sensação de vibração quando se palpa o tórax. Esses frêmitos indicam casos mais graves de sopros (os quais serão apresentados posteriormente) Deve-se avaliar a localização, se é diastólico/sistólico/sistodiastólico e sua intensidade • O frêmito está localizado no foco de ausculta da valva “danificada” • É importante acompanhar o frêmito enquanto se palpa o pulso carotídeo, de modo a perceber se o frêmito é diastólico, sistólico ou sistodiastólico. Auxiliando a diferenciar se é, por exemplo, uma estenose ou insuficiência aórtica. Basta ver se o frêmito coincide ou não com o pulso, se sim, é sistólico, se não, é diastólico, mas se for presente tanto na diástole quanto na sístole, é sistodiastólico • A intensidade é avaliada no critério de até 4 cruzes (1+ a 4+/4) Bulhas palpáveis: busque se existem bulhas palpáveis (que são bulhas de grande intensidade que acabam vibrando na pele. Avalie sua intensidade e sua localização Frêmito pericárdico: ocorre em casos de pericardite aguda, em que se pode sentir um ranger como se fosse couro novo. Geralmente é possível ouvir esse som no 2° e 3° EICE, ao lado do esterno Ausculta Focos de ausculta • Foco pulmonar: à esquerda, na linha paraesternal, ao 2° EIC • Foco aórtico: à direita, na linha paraesternal, ao 2° EIC • Foco mitral: no 5° EIC esquerdo, na linha hemiclavicular • Foco tricúspide: levemente à esquerda do processo xifoide 6 Maria Eduarda Silva Dias • Mas também se deve auscultar a região supraesternal (cervical), clavicular, axilar e dorsal, assim como todo o precórdio • Foco aórtico acessório: situado no terceiro espaço intercostal esquerdo, ao lado do esterno (linha paraesternal) Nunca se esqueça de utilizar o diafragma e a campânula do estetoscópio Ausculta cardíaca Na ausculta cardíaca normal, existem 2 sons a serem ouvidos, a primeira bulha (B1) e a segunda bulha (B2). B1: ocorre na sístole, marcando o final da diástole (com o fechamento das valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide)). “tum” B2: ocorre no fim da sístole, marcando o começo da diástole (com o fechamento das valvas semilunares (aórtica e pulmonar)). “ta” Após identificar as duas bulhas cardíacas, perceba esses aspectos: • Ritmo normal ou irregular? • Qual a frequência cardíaca? Normo, bradi ou taqui? • Qual a intensidade das bulhas? Estão normofonéticas? o Bulhas hiperfonéticas ▪ B1: taquicardias, exercícios físicos, emoções, hipertireoidismo, estenose mitral, comunicação interventricular ▪ B2A (hiperfonética no foco aórtico): HAS ▪ B2P (hiperfonética no foco pulmonar): hipertensão pulmonar o Bulhas hipofonéticas ▪ B1: insuficiência cardíaca avançada, obesidade, enfisema pulmonar ▪ B2: insuficiência cardíaca avançada ▪ B2P: estenose pulmonar • Há desdobramentos? (desdobramentos são quando uma bulha emite duas vibrações de tonalidades iguais) o Há um desdobramento fisiológico em B2 durante a inspiração o Desdobramento de B1: geralmente por atraso elétrico (assincronia dos ventrículos) ou um atraso no fechamento da valva mitral (estenose mitral) o Desdobramento de B2: bloqueio de ramo direito, ou contração prolongada do ventrículo direito (estenose pulmonar ou embolia pulmonar) o Desdobramentoparadoxal de B2: quando B2P precede B2A, como em bloqueios do ramo esquerdo e estenose aórtica 7 Maria Eduarda Silva Dias Sopros cardíacos O que gera os sopros cardíacos? • Fluxo de alta velocidade • Obstrução local (mais comum) • Aumento abrupto em calibre • Anemias (diminuição da viscosidade sanguínea) Onde estão presentes os sopros cardíacos? • Insuficiência valvar: falha de coaptação dos folhetos por mecanismos diversos (ou seja, há uma falha no fechamento dessas valvas, como por exemplo, na ruptura de uma corda tendínea) • Estenose valvar: estreitamento da abertura da valva por mecanismos diversos Alteração das bulhas (sopros) • Quando a alteração é na sístole, são dois os possíveis casos: insuficiência da valva atrioventricular (mitral ou tricúspide) ou estenose de valva semilunar (aórtica ou pulmonar) • Quando a alteração é na diástole, são dois os possíveis casos: insuficiência da valva semilunar (aórtica ou pulmonar) ou estenose das valvas atrioventriculares (mitral ou pulmonar) • Em pacientes adultos ou idosos, o acometimento das valvas do lado esquerdo do coração são mais comuns (mitral e aórtica) • Esses sopros são escutados conforme o foco acometido (ex: um sopro de estenose aórtica é escutado no foco aórtico) 8 Maria Eduarda Silva Dias Aspecto dos sopros • Sopro de insuficiência mitral/tricúspide o Causado por um fluxo regurgitante o Tem aspecto holossistólico • Sopro de estenose aórtica/pulmonar o É um sopro ejetivo o Possui intensidade variável (crescente e decrescente) • Sopro de estenose mitral/tricúspide o É um sopro em ruflar o Parece o som de asas de pombo batendo o No Brasil, a estenose mitral geralmente é secundária a acometimento por febre reumática • Sopro de insuficiência aórtica/pulmonar o Fluxo regurgitante o Sopro aspirativo, de intensidade decrescente Caracterização dos sopros • Sistólicos, diastólicos ou sistodiastólicos? • Localização? (em qual foco cardíaco de ausculta está) • Irradiação? (após identificar o foco, desloca-se o estetoscópio pelas direções próximas, buscando irradiações) • Intensidade: sistema de 4 cruzes, lembrando que a partir da 3° cruz, o frêmito catário já está presente. 9 Maria Eduarda Silva Dias • Timbre e tonalidade: suave, rude, musica, aspirativo, ejetivo ou em ruflar Bulhas acessórias Terceira e quarta bulhas cardíacas B3: bulha causada na fase de enchimento rápido ventricular, no terço inicial da diástole, sendo um som feito pelo fluxo sanguíneo batendo nas paredes ventriculares • É um som protodiastólico (no começo da diástole) • Relacionado com a sobrecarga de volume. Ex: insuficiência do ventrículo esquerdo, insuficiência mitral e ICC • Pode ser fisiológica em crianças e adultos jovens • Melhor audível com a campânula, no foco mitral, em decúbito lateral esquerdo B4: bulha causada na fase de contração atrial, pela rápida desaceleração do fluxo sanguíneo que vai dos átrios para os ventrículos • É um som telediastólico ou pré-sistólico (no final da diástole) • Relacionado com a sobrecarga de pressão. Ex: coronariopatia, miocardiopatia, hipertensão arterial sistêmica, estenose aórtica, hipertrofia ventricular esquerda • Pode ser fisiológica em crianças e adultos jovens • Melhor audível com a campânula, no foco tricúspide, em decúbito lateral 10 Maria Eduarda Silva Dias Ritmos na ausculta cardíaca Ritmo binário: presença apenas da primeira e segunda bulhas Ritmo tríplice: presença associada de terceira ou quarta bulha (sem patologia) Ritmo de galope: geralmente associado a patologia Ventricular: presença de B3 Atrial: presença de B4 De soma: B3 e B4 Cliques e estalidos São sons agudos e de curta duração Cliques: sístole Protossistólicos/ejetivos: valva aórtica ou pulmonar Valva aórtica: estenose aórtica, HAS, dilatação da aorta Valva pulmonar: estenose pulmonar, hipertensão pulmonar e dilatação da A. pulmonar Meso ou telessistólicos/não ejetivos: Prolapso mitral, pericárdio, extra-cardíacos Estalidos: diástole Abertura das valvas atrioventriculares Estenose valva mitral, estenose valva tricúspide, outros 11 Maria Eduarda Silva Dias Para não confundir o estalido com um desdobramento de B2, o estalido é mais ouvido no foco mitral, e o desdobramento, no foco pulmonar Para não confundir o estalido com o B3, o estalido é mais agudo, e o B3 é melhor audível com a campânula Atrito pericárdico Som produzido pelo atrito dos folhetos do pericárdio inflamado Não tem relação com as bulhas É melhor auscultado entre a ponta do coração e a borda esternal esquerda, parecendo o som de couro friccionado Esse som tem um componente sistólico (que ocorre em qualquer momento da sístole) e dois diastólicos (1 no começo e 1 no fim) Palpar os pulsos Os pulsos devem ser palpados nessa ordem, sempre de forma comparativa com o outro lado 1. Radial 2. Braquial 3. Carotídeo 4. Femoral 5. Poplíteo 6. Tibiais posteriores (perto do maléolo medial da tíbia) 7. Tibiais anteriores (na parte anterior da canela) 8. Pediosos (na face dorsal do pé) É importante verificar: • A parede da artéria (endurecidas, dilatadas ou tortuosas) • A frequência do pulso (normo, bradi ou taquisfígmico) • O ritmo dos pulsos (regulares ou irregulares) • A amplitude dos pulsos (fracos ou cheios) • A onda dos pulsos (bisferiens, celer, tardus ou alternans) 12 Maria Eduarda Silva Dias Ausculta dos pulsos Procure por sopros nas artérias abdominais, renais e carotídeas
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