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A PSICOLOGIA SOCIAL LATINO-AMERICANA E BRASILEIRA Aula 04 Sociedade e comportamentos grupais Professor Diego Toloy O QUE VEREMOS NESTE ENCONTRO A crítica ao modelo Norte-Americano de Psicologia Social; Reflexão sobre o papel do psicólogo proposta por Ignácio Martín-Baró; Experiências brasileiras no campo da Psicologia Social Fonte da imagem: http://www.bahia-turismo.com/salvador/seculo-17.htm A PSICOLOGIA DA LIBERTAÇÃO DE IGNÁCIO MARTÍN-BARÓ Psicólogo Social Filósofo Padre Jesuíta Nasceu na Espanha em 1942. Faleceu em El Salvador em 1989 Fonte da imagem: https://maestrovirtuale.com/a-psicologia-da-libertacao-de-ignacio-martin-baro/ Fonte: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de- noticias/noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-ao- maior-nivel-em-7-anos, acessado em 03/09/2020 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-ao-maior-nivel-em-7-anos Fonte da reportagem: https://www.dw.com/pt-br/vida-na-periferia-de-s%C3%A3o-paulo- %C3%A9-em-m%C3%A9dia-at%C3%A9-23-anos-mais-curta/a-46482101, acessado em 04/09/2020 TAXA DE MORBIDEZ ENCONTRADA NA SUBPROLETARIADO É SUPERIOR A POPULAÇÃO EM GERAL https://www.dw.com/pt-br/vida-na-periferia-de-s%C3%A3o-paulo-%C3%A9-em-m%C3%A9dia-at%C3%A9-23-anos-mais-curta/a-46482101 PARA QUE PSICÓLOGOS? Há alguns anos atrás, em 1968, um psicólogo francês, Marc Richelle, se colocava a questão “para que psicólogos?” A razão deste questionamento radicava no que ele qualificava de uma repentina e “inquietante proliferação de uma espécie nova” (Richelle, 1968, p. 7). Naquela mesma época, outro francês, Didier Deleule, dava uma resposta bastante radical a essa questão: a proliferação da psicologia se devia à função que estava assumindo na sociedade contemporânea, ao converter-se em uma ideologia de reconversão. A psicologia oferecia uma solução alternativa para os conflitos sociais: tratava se de mudar o indivíduo preservando a ordem social ou, no melhor dos casos, gerando a ilusão de que talvez, ao mudar o indivíduo, também mudaria a ordem social, como se a sociedade fosse uma somatória de indivíduos (Deleule, 1972; ver também Bricht et al., 1973). A PSICOLOGIA E A TORRE DE MARFIM • Tradicionalmente voltada para uma clínica de valores inacessíveis para a maioria da população; • Clínica voltada para raízes individuais dos problemas, esquecendo-se dos fatores sociais. • O contexto social converte-se assim em uma espécie de natureza, um pressuposto inquestionado, frente a cujas exigências “objetivas” o indivíduo deve buscar a solução para seus problemas de modo individual e “subjetivo”. • Com este enfoque e com esta clientela, não é de se estranhar que a psicologia esteja servindo aos interesses da ordem social estabelecida, isto é, que se converta em um instrumento útil para a reprodução do sistema. Fonte das imagens: 1) https://www.pinterest.com/pin/350014202270238990/, 2) https://www.pinterest.it/cesber_71/storia-infinita/, acessadom em 08/09/2020 https://www.pinterest.com/pin/350014202270238990/ https://www.pinterest.it/cesber_71/storia-infinita/ Daí o imperativo de examinar não só o que somos, mas o que poderíamos ter sido, e sobretudo, o que deveríamos ser frente às necessidades de nossos povos, independentemente de contarmos ou não com modelos para isso. Jean-Baptiste Debret: Obras: Um jantar brasileiro (1827) Loja de sapateiros (séc. XIX) Fonte das imagens: 1) https://nacoesunidas.org/ha-40-anos-livro-de-abdias-nascimento-denunciava-violencia-contra- populacao-negra-do-brasil/debret-unic/; 2) https://nacoesunidas.org/especial-entre-o-brasil-e-a-africa-houve-uma-troca-forte- e-poderosa-alberto-da-costa-e-silva/loja_de_sapateiro_aquarela_jean-baptiste_debret/, acessado em 09/09/2020 https://nacoesunidas.org/ha-40-anos-livro-de-abdias-nascimento-denunciava-violencia-contra-populacao-negra-do-brasil/debret-unic/ https://nacoesunidas.org/especial-entre-o-brasil-e-a-africa-houve-uma-troca-forte-e-poderosa-alberto-da-costa-e-silva/loja_de_sapateiro_aquarela_jean-baptiste_debret/ DO COMPORTAMENTO A CONSCIÊNCIA Definição de consciência: a. consiste no saber ou no não saber sobre si mesmo, sobre o próprio mundo e sobre os demais, um saber práxico mais que mental. Se inscreve na adequação às realidades objetivas de todo comportamento, e só é condicionada parcialmente se tornar saber reflexivo. b. Realidade psicossocial relacionada com a consciência coletiva; c. Inclui a imagem que as pessoas têm de si mesmas, imagem que é o produto da história de cada uma e que não é um assunto privado; d. Inclui também as representações sociais, ou seja, todo saber social e cotidiano que chamamos “senso comum”, âmbito da ideologia. https://www.youtube.com/watch?v=g52jzCTUKXA OBS: Isso não quer dizer que a análise do comportamento deve ser descartada, mas que devemos considerar que o comportamento deve ser visto à luz de seu significado pessoal e social, do saber que manifesta e do sentido que adquire historicamente. Na medida em que a psicóloga tome como seu objetivo específico os processos da consciência humana, deverá atender ao saber das pessoas sobre si mesmas enquanto indivíduos e membros de uma coletividade. Fonte da imagem: https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/curso-sobre-seguranca- publica-e-epistemologia-favelada/, acessado em 09/09/2020 https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/curso-sobre-seguranca-publica-e-epistemologia-favelada/ CONHECIMENTO O saber mais importante do ponto de vista psicológico não é o conhecimento explícito e formalizado, mas esse saber inserido na práxis quotidiana, na maioria das vezes implícito, estruturalmente inconsciente, e ideologicamente naturalizado, enquanto adequado ou não às realidades objetivas, enquanto humaniza ou não às pessoas, e enquanto permite ou impede os grupos e povos de manter o controle de sua própria existência. Fonte da imagem: https://g1.globo.com/rj/regiao-dos-lagos/noticia/2019/11/14/nova-feira-livre-sera- inaugurada-nesta-sexta-em-rio-das-ostras-no-rj.ghtml, acessada em 09/09/2020 https://g1.globo.com/rj/regiao-dos-lagos/noticia/2019/11/14/nova-feira-livre-sera-inaugurada-nesta-sexta-em-rio-das-ostras-no-rj.ghtml Conscientização: termo cunhado por Paulo Freire. Caracteriza o processo de transformação pessoal e social que experimentam os oprimidos quando se alfabetizam em dialética com o seu mundo. Alfabetizar-se: consiste em aprender a ler a realidade circundante e a escrever a própria história. O que importa não é tanto saber codificar e decodificar palavras estranhas, mas aprender a dizer a palavra da própria existência, que é pessoal, mas, sobretudo, é coletiva. Para isso, faz-se necessário superar sua falsa consciência e atingir um saber crítico sobre si mesmo, sobre seu mundo e sobre sua inserção nesse mundo. Fonte da imagem: https://escoladainteligencia.com.br/paulo-freire-entenda-sua-importancia- para-a-educacao-brasileira/, acessado em 09/09/2020 https://escoladainteligencia.com.br/paulo-freire-entenda-sua-importancia-para-a-educacao-brasileira/ 3 ASPECTOS DO PROCESSO DE CONSCIENTIZAÇÃO: 1. O ser humano transforma-se ao modificar sua realidade, processo dialético que não pode acontecer através da imposição, mas sim através do diálogo; 2. Ocorre mediante a gradual decodificação do seu mundo, pois através desse processo as pessoas seriam capazes de captar e desnaturalizar os mecanismos que as oprimem, abrindo caminho para novas possibilidades de ação (possibilidade de nova práxis e novas formas de consciência); 3. O novo saber constituído leva a um novo saber sobre si e sobre sua identidade social, fazendo com que a pessoa se perceba em sua ação transformadora em relação as coisas e seu papel ativo nas relações com os demais. Fonte da imagem: https://brainly.com.br/tarefa/21634791, acessada em 09/09/2020https://brainly.com.br/tarefa/21634791 Dessa forma, conscientização não significa uma mudança da subjetividade individual que deixaria intacta a situação objetiva, mas sim uma mudança das pessoas no processo de mudar sua relação com o meio ambiente e, sobretudo, com os demais. A conscientização leva as pessoas a recuperar a memória histórica, a assumir o mais autêntico do seu passado, a depurar o mais genuíno do seu presente e a projetar tudo isso em um projeto pessoal e nacional. PARAFRASEANDO MARTÍN-BARÓ Será que poderemos enfrentar esse gravíssimo problema de injustiça e desigualdade social historicamente produzido simplesmente estendendo a mais pessoas o alcance do trabalho da psicologia clínica realizado na atualidade? Não representaria essa opção um simples restabelecimento dos termos de uma realidade social que está precisamente na raiz do conflito que se vive? https://www.youtube.com/watch?v=QcQIaoHajoM As perguntas críticas que os psicólogos devem se formular a respeito do caráter de sua atividade e, portanto, a respeito do papel que está desempenhando na sociedade, não devem centrar-se tanto no onde, nas no a partir de quem; não tanto em como se está realizando algo, mas sim em benefício de quem; e, assim, não tanto sobre o tipo de atividade que se pratica (clínica, escolar, industrial, comunitária ou outra), mas sobre quais são as consequências históricas concretas que essa atividade está produzindo. Fonte da imagem: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/sociedade-1.htm, acessada em 09/09/2020 https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/sociedade-1.htm 3 PONTOS DE REFLEXÃO: 1. O psicólogo centro-americano deve repensar a imagem de si mesmo como profissional. Não se pode continuar com a inércia dos esquemas teóricos já conhecidos ou das formas de atuar habituais; nosso saber psicológico deve ser confrontado com os problemas novos dos povos centro-americanos e com as questões que lhe são apresentadas. O caso das vítimas da guerra é talvez o mais agudo e urgente, porém não é o único, nem sequer, talvez, o mais radical. 2. É urgente assumir a perspectiva das maiorias populares. Sabemos, pela sociologia do conhecimento, que o que se vê da realidade e como se vê, depende de forma essencial do lugar social de onde se olha. Até agora o nosso saber psicológico alimentou-se fundamentalmente de uma análise dos problemas realizada a partir da perspectiva dos setores dominantes da sociedade. Não é provável e, talvez, nem sequer possível, que alcancemos uma compreensão adequada dos problemas mais profundos que atingem as maiorias populares se não nos colocarmos, ainda que hermeneuticamente, em sua perspectiva histórica. 3. Talvez a opção mais radical com que se defronta a psicologia centro-americana hoje esteja na alternativa entre uma acomodação a um sistema social que pessoalmente nos tem beneficiado, ou uma confrontação crítica frente a esse sistema. Em termos mais positivos, a opção reside entre aceitar, ou não, acompanhar as maiorias pobres e oprimidas em sua luta por constituir-se como povo novo em uma terra nova. Não se trata de abandonar a psicologia; trata-se de colocar o saber psicológico a serviço da construção de uma sociedade em que o bem estar dos menos não se faça sobre o mal estar dos mais, em que a realização de alguns não requeira a negação dos outros, em que o interesse de poucos não exija a desumanização de todos. PSICOLOGIA SOCIAL BRASILEIRA ANIELA GINSBERG Anos 1930 Interesse das crianças sobre literatura e cinema; Estudos sobre propaganda; Influência da Gestalt. VIRGÍNIA BICUDO 1945: Tese de doutoramento • Estudo de Atitudes raciais de pretos e mulatos em são Paulo; • Primeira dissertação de Psicologia Social sobre o tema. OTTO KLINEBERG 1945 • Curso: Introdução a psicologia social • Enfatiza a importância do campo do social na psicologia. • Psicologia vista por um olhar antropológico ANITA CABRAL 1947 Estudos interculturais DANTE MOREIRA LEITE Orientando de Anita Cabral; A partir do interculturalismo, desconstrói a teoria de Sergio Buarque de Holanda sobre o homem cordial, além de atacar a ideia de democracia racial de Gilberto Freire. ECLÉA BOSI • 1970 – Orientanda de Dante • Tese: Cultura de massas e cultura popular: leituras de operárias • Memória e sociedade: memórias de velho. SYLVIA LESER DE MELLO • 1972 - Formação e atuação dos psicólogos em São Paulo. • 1980 - Trabalho e sobrevivência: mulheres do campo e da periferia. • Articulação com a antropologia, sociologia, história. SILVIA LANE • Estudos Marxistas – era na realidade que se encontram os dados para a construção de uma psicologia social; • Psicologia voltada para a realidade brasileira; • Psicologia comunitária: Psicologia como produtora de conhecimento crítico e produzido junto com as comunidades, não para as comunidades; • Associação Brasileira de Psicologia Social – ABRAPSO. • Metodologias criadas a partir do interesse de compreender a realidade do país. • Psicologia social voltada para a transformação para superar a desigualdade
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