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DIREITO ADMINISTRATIVO

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DIREITO ADMINISTRATIVO
TÍTULO I
INTRODUÇÃO
As necessidades coletivas;
A Administração Pública;
Evolução da Administração Pública;
A administração privada;
Regimes políticos, Administração Pública e administração privada;
O princípio da separação de poderes e a função administrativa do Estado;
A interpretação francesa do princípio da separação de poderes;
O surgimento do Direito Administrativo e os sistemas administrativos;
Direito Administrativo e Direito Constitucional;
Direito administrativo geral e direitos administrativos especiais;
As fontes de Direito Administrativo.
As necessidades Coletivas e a Administração Pública
Quando se fala em AP tem-se presente todo um conjunto de necessidades coletivas cuja satisfação é assumida como tarefa fundamental pala coletividade, através de serviços por esta organizados e mantidos.
Por exemplo, a necessidade de proteção de pessoas e bens contra incêndios ou inundações é satisfeita pelos serviços de bombeiros;
A segurança e proteção dos cidadãos contra os perturbadores da ordem e tranquilidade pública é garantido pelos serviços de polícia, etc.
Ora, para a satisfação dessas necessidades coletivas exige-se meios humanos e materiais.
Assim, onde quer que exista e se manifeste com intensidade suficiente uma necessidade coletiva, aí surgirá um serviço público destinado a satisfazê-la, em nome e no interesse da coletividade.
Todas as necessidades coletivas situam-se na esfera privativa da AP;
Trata-se, em síntese, de três espécies fundamentais de necessidades coletivas: a segurança; a cultura; e o bem-estar.
Fica excluída do âmbito administrativo a necessidade coletiva da realização de justiça.
Esta função desempenhada pelos tribunais, satisfaz inegavelmente uma necessidade coletiva, mas está fora da esfera da AP, pertencer ao poder judicial (cfr. art. 210.ºda CRCV).
Quanto às demais necessidades coletivas, todas estão inseridas na esfera administrativa e dão origem ao conjunto, vasto e complexo, de atividades e organismos a que se costuma chamar Administração Pública.
1. Qual é o significado da expressão administração pública?
A expressão AP tem mais de que um significado
1.1. Os vários sentidos da expressão AP
São dois os principais sentidos em que se utiliza na linguagem corrente a expressão Administração Pública.
a) AP em sentido orgânico ou subjetivo;
b) AP em sentido material ou objetivo.
c) Mas, há um terceiro sentido de AP, que é AP no sentido formal.
1.1.1. AP em sentido Orgânico
Em sentido orgânico a expressão AP é empregada no sentido de organização;
A AP surge assim como sinónimo de organização administrativa.
Assim, AP em sentido orgânico, é o sistema de órgãos, serviços e agentes do Estado e das demais pessoas coletivas públicas, que asseguram em nome da coletividade, a satisfação regular e contínua das necessidades coletivas de segurança, cultura e bem-estar.
Neste sentido, a AP corresponde um vasto conjunto de entidades e organismos, departamentos e serviços, agentes e funcionários.
Logo, a noção orgânica da AP compreende duas realidades diferentes:
1.Por um lado, as pessoas coletivas públicas e os serviços públicos;
2.Por outro, os funcionários e agentes administrativos.
Essas organizações e indivíduos existem para atuar;
Desta atuação nasce a atividade administrativa, ou AP no sentido material.
1.1.2. AP em sentido Material
Em sentido material a expressão AP é empregada no sentido de atividade;
A AP surge assim como sinónimo de atividade administrativa.
Assim a administração pública em sentido material pode ser definida como a atividade típica dos serviços públicos e agentes administrativos desenvolvida no interesse geral da coletividade, com vista a satisfação regular e contínua das necessidades coletivas de segurança, cultura e bem-estar, obtendo para o efeito os recursos mais adequados e utilizando as formas mais convenientes.
1.1.3. AP em sentido Formal
De um ponto de vista técnico-jurídico, ainda é possível descobrir um terceiro sentido, AP em sentido formal, que tem a ver com o modo próprio de agir que caracteriza a administração pública em determinado tipo de sistemas de administração.
Administração Pública e Administração Privada
Ambas são administração;
AP e a Administração Privada distinguem-se, todavia pelo objeto que incidem, pelo fim que visa prosseguir e pelos meios que utilizam.
1.2. Quanto ao objeto:
AP incide sobre necessidades coletivas assumidas como tarefa e responsabilidade própria da coletividade;
Administração Privada incide sobre necessidades individuais, ou sobre necessidades que, sendo de grupo, não atingem, contudo, a generalidade de uma coletividade inteira, por exemplo, a administração do dote de uma família, do património de uma associação, do estabelecimento de uma empresa.
1.3. Quanto ao fim:
AP tem necessariamente de prosseguir um interesse público;
O interesse público é o único fim que as entidades públicas e os serviços públicos podem legitimamente prosseguir;
Pelo contrário, a Administração Privada tem em vista, naturalmente, fins pessoais ou particulares;
Tanto pode tratar-se de fins lucrativos como de fins não económicos – de êxito pessoal, de carácter político – e até nos indivíduos mais desinteressados, de fins puramente altruístas, filantrópicos, humanitários, religiosos.
Mas são sempre fins particulares, sem vinculação necessária ao interesse geral da coletividade, e até, porventura, em contradição com ele.
1.4. Quanto aos meios:
Também diferem, pois, na administração privada, os meios jurídicos que cada pessoa utiliza para atuar caracterizam-se pela igualdade entre as partes,
Os particulares são juridicamente iguais entre si e, em regra, não podem impor uns aos outros a sua própria vontade, salvo se isso decorrer de um acordo livremente celebrado;
O contrato é o instrumento jurídico típico do mundo das relações privadas.
Pelo contrário, a AP tem por obrigação a satisfação das necessidades coletivas, que a coletividade decidiu chamar a si e visa a prossecução do interesse público definido pela lei geral;
Logo, a AP não pode normalmente utilizar, face aos particulares, os mesmos meios que estes empregam uns para com os outros.
Assim, a lei permite a AP a utilização de determinados meios de autoridade, que possibilitam às entidades e serviços públicos impor-se aos particulares sem ter de aguardar o seu consentimento ou, mesmo, fazê-lo contra sua vontade.
O processo característico da AP, no que se entende de essencial e de específico, é antes o comando unilateral, quer sob a forma de ato normativo (regulamento administrativo), quer sob a forma de decisão concreta e individual (ato administrativo).
Importa frisar que, assim como a AP usa poderes de autoridade face aos particulares, prerrogativas que estes não têm uns para com os outros, também, inversamente, a AP se encontra limitada nas suas possibilidades de atuação por restrições, encargos e deveres especiais, de natureza jurídica, moral e financeira.
A Administração Pública e as funções do Estado:
1.5. Política e administração pública
A Política, enquanto atividade pública do Estado, tem um fim específico: definir o interesse geral da atividade.
A AP existe para prosseguir outro objetivo: realiza em termos concretos o interesse geral definido pela política.
O objeto da Política, são as grandes opções que o país enfrenta ao traçar os rumos do seu destino coletivo.
Enquanto que o da AP é a satisfação regular e contínua das necessidades coletivas da segurança, cultura e bem-estar económico e social.
A Política reveste carácter livre e primário, apenas limitada em certas zonas pela Constituição, ao passo que a AP tem carácter condicionado e secundário, achando-se por definição subordinada às orientações da política e da legislação.
Em regra, toda a Administração Pública, além da atividade administrativa é também execução ou desenvolvimento de uma política.
1.6. Legislação e administração pública: 
A função Legislativa encontra-se no mesmo plano ou nível, que a função Política.
A diferença entre Legislação e AP está em que, nos dias de hoje,a AP é uma atividade totalmente subordinada à lei;
A Lei é o fundamento, o critério e o limite de toda a atividade administrativa.
Há, no entanto, pontos de contacto ou de cruzamento entre as duas atividades.
De uma parte, podem citar-se casos de leis que materialmente contêm decisões de carácter administrativo.
De outra parte, há atos da administração que materialmente revestem todos o carácter de uma lei, faltando-lhes apenas a forma e a eficácia da lei –por exemplo, os regulamentos autónomos.
1.7. Justiça e administração pública:
Estas duas atividades têm importantes traços comuns: ambas são secundárias, executivas, subordinadas à lei, contudo, uma consiste em julgar, a outra em gerir.
A Justiça visa aplicar o direito aos casos concretos, a AP visa prosseguir interesses gerais da coletividade;
A Justiça aguarda passivamente que lhe tragam os conflitos sobre que tem de pronunciar-se; a AP toma ativamente a iniciativa de satisfazer as necessidades coletivas que lhe estão confiadas.
A Justiça está acima dos interesses, é desinteressada, não é parte nos conflitos que decide; a AP defende e prossegue os interesses coletivos a seu cargo, é parte interessada.
Importa ressaltar que do princípio da submissão da AP à lei, decorre um outro princípio, não menos importante – o da submissão da AP aos tribunais, para apreciação e fiscalização dos seus atos e comportamentos.
2. Conclusão:
A administração pública em sentido material ou objetivo pode ser definida como, a atividade típica dos organismos e indivíduos que, sob a direção ou fiscalização do poder político, desempenham em nome da coletividade a tarefa de promover à satisfação regular e contínua das necessidades coletivas de segurança, cultura e bem-estar económico e social, nos termos estabelecidos pela legislação aplicável e sob o controle dos tribunais competentes.
Princípio da separação dos poderes:
1.No plano do Direito Constitucional;
2.No campo do Direito Administrativo.
· Didaticamente, pode falar dessas duas realidades distintas.
· Para o nosso curso, o que mais nos interessa é entender o PSP, do ponto de vista de DA, sem menoscabar a outra tradição.
1. No plano do DC, o PSP visa:
Retirar ao Rei e aos Ministros a função de legislar, ficando apenas com a função política e a função administrativa. Pelo que, visa a separação entre o Legislativo e o Executivo.
O que se pretendia?
· Evitar o arbítrio e o despotismo da autoridade e para garantir o respeito pelos direitos do cidadão;
· Os direitos do cidadão apenas poderiam ser tocados por lei geral e abstrata do Parlamento, e que a autoridade pública deveria limitar-se a executar.
2. No campo do DA, o PSP visa:
A separação entre a Administração e a Justiça; Retirar à Administração Pública a função judicial; Retirar aos Tribunais a função administrativa; Isto porque existia uma grande confusão entre as duas funções e os respetivos órgãos.
Assim, em França, foi esse o propósito da lei de 1790, estabelecer completa autonomia funcional entre os juízes, de um lado, e os agentes da Administração, de outro. Efetivamente, as funções judiciarias são distintas e permanecerão separadas das funções administrativas. 
Os juízes não podiam, sob pena de alta traição, perturbar de qualquer maneira as operações dos corpos administrativos, nem convocar perante si os agentes da administração por motivo atinente às funções destes. No mesmo sentido, estatuiu-se depois em 1790, que as reclamações de incompetência relativamente a corpos administrativos não eram do conhecimento dos tribunais, devendo ser levadas ao monarca, chefe da administração geral.
Por sua vez, o artigo 3.º da Constituição de 3 de setembro de 1791 afirmava não poderem os tribunais conhecer das funções administrativas ou citar perante eles administradores em razão das suas funções.
Isto resultou da desconfiança do poder revolucionário face aos tribunais judiciais, que representavam a continuação do “Antigo Regime”, pois estavam nas mãos da nobreza. Efetivamente, os revolucionários franceses retiravam aos órgãos judiciais a competência para decidir os litígios em matéria administrativa;
Neste contexto, o PSP era concebido como uma máquina de guerra dirigida contra os tribunais judiciais, cuja introdução indiscreta no andamento da administração se temia.
Note-se, que a legislação revolucionária vai consagrar a impossibilidade de os tribunais conhecerem dos litígios entre a Administração e os particulares; E daí resultou, noutros termos, uma curta fase de isenção judicial da ação do Estado.
Portanto, em síntese, é de se reter que:
Antes da Revolução Francesa, os tribunais comuns tinham-se insurgido várias vezes contra a autoridade real;
Depois da Revolução, o poder político tomou providências para impedir intromissões do poder judicial no normal funcionamento do poder executivo;
Surgiu assim, uma interpretação peculiar do princípio da separação dos poderes, completamente diferente da que prevalecia em Inglaterra;
Se o poder executivo não podia imiscuir-se nos assuntos da competência dos Tribunais, o poder judicial também não poderia interferir no funcionamento da Administração Pública;
Em 1790 e 1795 a lei proíbe aos juízes de conhecer os litígios contra as autoridades administrativas.
A CONSTITUIÇÃO CABO-VERDIANA ACOLHE O PSP (CFR. ARTS. 2.º E 119.º DA CRCV), QUAIS SÃO OS COROLÁRIOS ATUAIS DESTE PRINCÍPIO, NA PARTE QUE TEM A VER COM AS RELAÇÕES ENTRE A ADMINISTRAÇÃO E A JUSTIÇA?
I. A separação dos órgãos administrativos e judiciais:
Isto significa que têm de existir órgãos administrativos dedicados ao exercício da função administrativa e Órgãos judiciais dedicados ao exercício da função jurisdicional.
Logo, a separação das funções tem de traduzir-se numa separação de órgãos;
II. A incompatibilidade das magistraturas:
Não basta que haja órgãos diferentes: é necessário estabelecer, além disso, que nenhuma pessoa possa simultaneamente desempenhar funções em órgãos administrativos e jurisdicionais (cfr. art. 222.º, n.º 7, da CRCV);
Segundo Mouzinho da Silveira, “as magistraturas administrativas são incompatíveis com as judiciarias, e as suas funções não se podem acumular em caso algum”.
III. A independência recíproca da Administração e da Justiça:
Mouzinho da Silveira afirmou que a “autoridade administrativa é independente da judiciária: uma delas não pode sobrestar na ação da outra, nem pode pôr-lhe embaraço ou limite”.
Este terceiro corolário, da independência recíproca da Administração e da Justiça, desdobra-se, por sua vez, em dois aspetos:
1.A independência da Justiça perante a Administração; 
2.E a independência da Administração perante a Justiça.
IV. A independência da Justiça perante a Administração:
Significa que a autoridade administrativa não pode dar ordens à autoridade judiciária, nem pode invadir a sua esfera de jurisdição decidindo questões da competência dos tribunais;
Para assegurar este postulado básico, existem, fundamentalmente, dois mecanismos jurídicos: por um lado, o sistema de garantias de independência da magistratura (cfr. art. 222.º, n.º 1, da CRCV). Por outro, a regra legal de que todos os atos praticados pela Administração pública em matéria da competência dos tribunais judiciais são nulos e de nenhum efeito, por estarem viciados de usurpação de poder – cfr. RGRAA, artigo 19.º, n.º 1, alínea a).
V. A independência da Administração perante a Justiça:
Atualmente, não significa uma proibição absoluta de o juiz condenar, intimar, orientar ou impor comportamentos à Administração – cfr. o art. 245.º, al. e), da CRCV, onde, além do mais, se prevê a possibilidade de os tribunais determinarem à Administração a prática de atos administrativos legalmente devidos;
Mas, o que é bem deferente, uma “proibição funcional de o juiz afetar a essência do sistema de administração executiva – não pode ofender a autonomia do poder administrativo (o núcleo essencial da discricionariedade, quando a lei confere aos órgãos da Administração poderes próprios de apreciação ou de decisão) nem autoridade a caraterística do ato administrativo (emespecial, a sua força de caso decidido, passado o prazo de impugnação).
DIREITO ADMINISTRATIVO E OS SISTEMAS ADMINISTRATIVOS
· O surgimento do Direito Administrativo e os sistemas administrativos;
· Direito Administrativo e Direito Constitucional;
· Direito administrativo geral e direitos administrativos especiais;
· As fontes de Direito Administrativo.
Os sistemas administrativos no direito comparado
Generalidades
Sistema Administrativo é um modo jurídico típico de organização, funcionamento e controlo da AP.
Existem três tipos de sistemas administrativos:
1.O sistema tradicional; 
2.O sistema do tipo britânico (de administração judiciária);
3.O sistema do tipo francês (de administração executiva).
Sistema administrativo tradicional - Características:
· Indiferenciação das funções administrativas e jurisdicional, o que leva a, inexistência de uma separação rigorosa entre os órgãos do poder executivo e do poder judicial;
· Não subordinação da AP ao princípio da legalidade e em decorrência há uma insuficiência do sistema de garantias jurídicas dos particulares face à AP.
· Com o Estado de Direito fruto da Revolução Francesa:
· AP passou a vincular a normas jurídicas obrigatórias, subordinadas ao Direito;
· A atividade administrativa pública passou a revestir carácter jurídico, estando submetida a controlo judicial, assumindo os particulares a posição de cidadãos, titulares de direitos em face dela.
Sistema administrativo de tipo Britânico - Características:
· Separação dos poderes: o Rei fica impedido de: Resolver questões de natureza contenciosa, por força da lei de abolição da “Star Chamber” (1641), e De dar ordens aos juízes, transferi-los ou demiti-los, mediante o “ActofSettelement” (1771);
· Estado de Direito: tradição iniciada na Magna Carta, os Direitos, Liberdades e Garantias dos cidadãos britânicos foram consagrados no Bill of Rights (1689);
· O Rei ficou subordinado ao Direito, em especial, ao Direito Consuetudinário, resultante dos costumes sancionados pelos Tribunais (“CommonLaw”);
· Descentralização: em Inglaterra cedo se praticou a distinção entre uma administração central e uma administração local;
· As autarquias locais gozavam de ampla autonomia face a uma intervenção central diminuta;
· Sujeição da Administração aos Tribunais Comuns: a AP acha-se submetida ao controle jurisdicional dos tribunais comuns;
· Subordinação da Administração ao Direito Comum: na verdade, em consequência do “rule of law”, tanto o Rei como os seus conselhos e funcionários se regem pelo mesmo direito que os cidadãos anónimos;
· Execução judicial das decisões administrativas: de todas as regras e princípios anteriores decorre como consequência que no sistema administrativo de tipo britânico a AP não pode executar as decisões por autoridade própria;
· Garantias jurídicas dos particulares: os particulares dispõem de um sistema de garantias contra as ilegalidades e abusos da AP.
· Obs. Este sistema vigorou na generalidade dos países anglo-saxónicos: EUA; influenciou os países de América Latina em especial o Brasil.
Sistema administrativo de tipo francês – Características
· Separação de poderes: com a Revolução Francesa foi proclamado em 1789 o princípio da separação dos poderes, e A Administração ficou separada da Justiça – Poder executivo por um lado e Poder judicial por outro;
· Estado de Direito: os direitos subjetivos públicos invocáveis pelo o indivíduo contra o Estado; Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, cujo art.º 16.º exige um sistema de “garantias dos direitos”.
· Centralização: com a Revolução Francesa, uma nova classe social e uma nova elite chega ao poder;
· Sujeição da Administração aos Tribunais Administrativos: surgiu assim uma interpretação peculiar do princípio dos poderes, em que, Se o poder executivo não podia imiscuir-se nos assuntos da competência dos Tribunais, o poder judicial também não poderia interferir no funcionamento da AP;
· Subordinação da Administração ao Direito Administrativo: os órgãos e agentes administrativos não estão na mesma posição que os particulares, exercem funções de interesse público e utilidade geral, e devem por isso dispor quer de poderes de autoridade, que lhes permitam impor as suas decisões aos particulares, quer de privilégios ou imunidades pessoais, que os coloquem ao abrigo de perseguições ou más vontades dos interesses feridos;
· Privilégio da Execução Prévia: o DA confere à AP um conjunto de poderes “exorbitantes” sobre os cidadãos, por comparação com os poderes “normais” reconhecidos pelo Direito Civil aos particulares nas suas relações entre si;
· De entre esses poderes “exorbitantes”, o mais importante é, no sistema Francês, o “privilégio de execução prévia”, que permite à AP executar as suas decisões por autoridade própria;
· Garantias jurídicas dos particulares: assente num Estado de Direito, oferece aos particulares um conjunto de garantias jurídicas contra os abusos e ilegalidades da AP;
· Este sistema, nasceu em França, vigora hoje em quase todos os países continentais da Europa Ocidental e em muitos dos novos Estados que acederam à independência no séc. XX depois de terem sido colónias desses países europeus.
Confronto entre os dois sistemas: Britânico e Francês
Há vários traços específicos que os distinguem:
· Quanto à organização administrativa, um é descentralizado e outro centralizado;
· Quanto ao controlo jurisdicional da Administração, o primeiro entrega-o aos Tribunais Comuns, o segundo aos Tribunais Administrativos;
· Em Inglaterra há, pois, unidade de jurisdição, em França existe dualidade de Jurisdições;
· Quanto ao direito regulador da Administração, o sistema de tipo Britânico é o Direito Comum, que basicamente é Direito Privado, no sistema tipo Francês é o DA que é Direito Público;
· Quanto à execução das decisões administrativas, o sistema de administração judiciária fá-la depender da sentença do Tribunal, o sistema de administração executiva atribui autoridade própria a essas decisões e dispensa a intervenção prévia de qualquer Tribunal;
· Quanto às garantias jurídicas dos particulares, o sistema britânico confere aos Tribunais Comuns amplos poderes de injunção face à Administração, que lhes fica subordinada como a generalidade dos cidadãos, 
· Enquanto França só permite aos Tribunais Administrativos que anulem as decisões ilegais das autoridades ou as condenem ao pagamento de indemnizações, ficando a Administração independente do poder judicial.
O DIREITO ADMINISTRATIVO COMO RAMO DE DIREITO
Generalidades
AP está subordinada à lei;
AP está subordinada à justiça, aos Tribunais. 
Para haver DA, é necessário que se verifiquem duas condições:
1.Que a AP e atividade administrativa sejam reguladas por normas jurídicas propriamente ditas, isto é, por normas de carácter obrigatório;
2.Que essas normas jurídicas sejam distintas daquelas que regulam as relações privadas dos cidadãos entre si.
Subordinação da AP ao Direito
AP está subordinada ao Direito e é assim em todo o mundo democrático;
AP está vinculada pelo Direito, sujeita a normas jurídicas obrigatórias e públicas, que têm como destinatários tanto os próprios órgãos e agentes da Administração como os particulares, os cidadãos em geral.
É o regime da legalidade democrática – cfr. art. 3.º, n.º 2, da CRCV.
Da subordinação da AP à lei, Cabo Verde encontrou eco na própria Constituição, a qual dedica o título VII à AP – cfr. arts. 240 e ss.
Resultando daí o princípio da submissão da Administração Pública à lei.
E quais as consequências deste princípio?
1.Toda a atividade administrativa está submetida ao princípio da submissão da AP ao Direito, logo toda a atividade administrativa e não apenas uma parte dela deve subordinar-se à lei.
2. A atividade administrativa, em si mesma considerada, assume carácter jurídico, assim a atividade administrativa é uma atividade de natureza jurídica;
3. A ordem jurídica deve atribuir aos cidadãos garantias que lhes assegurem o cumprimento da lei pela AP.
Quanto ao DA, a sua existência fundamenta-se na necessidade de permitir à APque prossiga o interesse público, o qual deve ter primazia sobre os interesses privados –exceto quando estejam em causa direitos fundamentais dos particulares.
Tal primazia exige que a AP disponha de poderes de autoridade para impor aos particulares as soluções de interesse público que forem indispensáveis. 
A atividade típica da AP é diferente da atividade privada, o que justifica que as normas jurídicas aplicáveis devam ser normas de Direito Público, e não normas de Direito Privado, constantes no Direito Civil ou no Direito Comercial.
Noção de DA
O DA é o ramo de Direito Público constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam a organização e o funcionamento da Administração Pública, bem como as relações por ela estabelecidas com outros sujeitos de direito no exercício da atividade administrativa de gestão pública.
A característica mais peculiar do DA é a procura de permanente harmonização entre as exigências da ação administrativa e as exigências de garantia dos particulares. 
O DA como Direito Público
O DA é, na ordem jurídica cabo-verdiana, um ramo de Direito Público. 
É um ramo de DP, qualquer que seja o critério adotado para distinguir o Direito Público de Direito Privado.
Critério do interesse, o DA é DP, porque as normas de DA são estabelecidas tendo em vista a prossecução do interesse coletivo, e destinam-se justamente a permitir que esse interesse coletivo seja realizado.
Critério dos sujeitos, o DA é DP, porque os sujeitos de Direito que compõem a AP são todos eles, sujeitos de DP, entidades públicas ou como também se diz, pessoas coletivas públicas.
Critério dos poderes de autoridade, DA é o DP porque a atuação da AP surge investida de poderes de autoridade.
Tipos de Normas Administrativas
O DA é um conjunto de normas jurídicas.
Há a considerar três tipos de normas administrativas: as normas orgânicas, as normas funcionais, e as normas relacionadas.
Normas orgânicas: normas que regulam a organização da AP;
São normas que estabelecem as entidades públicas que fazem parte da AP, que determinam a sua estrutura e os seus órgãos, ou seja, que fazem a sua organização;
Normas funcionais: são as que regulam o modo de agir específico da AP, estabelecendo processos de funcionamento, métodos de trabalho, tramitação a seguir, formalidades a cumprir;
Normas relacionais: são as que regulam as relações entre a AP e os outros sujeitos de Direito no desempenho da atividade administrativa.
São as mais importantes até porque representam a maior parte do DA material, ao passo que as que referimos até aqui, são DA orgânico e processual. 
As normas relacionais de DA não são apenas aquelas que regulam as relações da AP com os particulares, mas, mais importante, todas as normas que regulam as relações da AP com outros sujeitos de Direito. Há na verdade, três tipos de relações jurídicas reguladas pelo DA:
1.As relações entre AP e os particulares;
2.As relações entre duas ou mais pessoas coletivas públicas;
3.Certas relações entre dois ou mais particulares.
Não são normas de DA apenas aquelas que conferem poderes de autoridade à administração; são também normas típicas de DA, nesta categoria das normas relacionais
São caracteristicamente administrativas as seguintes normas relacionais:
1.Normas que conferem poderes de autoridade à AP;
2.Normas que submetem a AP a deveres, sujeições ou limitações especiais, impostas por motivos de interesse público;
3.Normas que atribuem direitos subjetivos ou reconhecem interesses legítimos face à Administração.
Atividade de gestão publica e gestão privada
Gestão privada de signa a atividade que AP desempenha, mesmo para fins de interesse público, utilizando meios de direito privado;
É a atividade da AP desenvolvida sob égide do direito privado (Direito Civil, Comercial, do Trabalho, etc.).
São as atividades desenvolvidas pela AP despida do poder público;
A AP se encontra uma posição de paridade com os particulares a que os atos respeitem e, portanto, nas mesmas condições e no mesmo regime em que poderia proceder um particular, com submissão às normas de direito privado.
Gestão pública designa a atividade pública da AP;
São atos de gestão pública os que se compreendem no exercício de um poder ou dever público, integrando eles mesmo a realização de uma função pública da pessoa coletiva, independentemente de envolverem ou não o exercício de meios de coação, e independentemente ainda das regras, técnicas ou de outra natureza, que na prática dos atos devam ser observadas. 
O Direito Administrativo regula apenas, e abrange unicamente, a atividade de gestão pública da AP.
A atividade de gestão privada aplicar-se-á o direito privado.
Função do DA
As principais opiniões são duas:
1.A função do DA é conferir poderes de autoridade à AP, de modo a que ela possa fazer sobrepor o interesse coletivo aos interesses privados (“green light theories”); ou 
2.A função do DA é reconhecer direitos e estabelecer garantias em favor dos particulares frente ao Estado, de modo a limitar juridicamente os abusos do poder executivo, e a proteger os cidadãos contra os excessos da autoridade do Estado (“ redlight theories”).
A função do DA não é, por consequência, apenas “autoritária”, como sustentam as green light theories, nem é apenas “liberal” ou “garantística”, como pretendem as redlight theories.
Portanto, o DA desempenha uma função mista, ou uma dupla função, legitimar a intervenção da autoridade pública e proteger a esfera jurídica dos particulares; permitir a realização do interesse coletivo e impedir o esmagamento dos interesses individuais; numa palavra, organizar a autoridade do poder e defender a liberdade dos cidadãos.
Caracterização genérica do DA
O DA é quase um milagre na medida em que existe porque o poder aceita submeter-se à lei em benefício dos cidadãos;
O DA nasce quando o poder aceita submeter-se ao Direito. Mas não a qualquer Direito, antes a um Direito que lhe deixa em todo o caso uma certa folga, uma certa margem de manobra para que o interesse público possa ser prosseguido da melhor forma. Quer dizer: o DA não é apenas um instrumento de liberalismo frente ao poder, é ao mesmo tempo o garante de uma ação administrativa eficaz.
O DA é simultaneamente um meio de afirmação da vontade do poder e é um meio de proteção do cidadão contra o Estado –cfr. art. 240, n.º 1, da CRCV.
Aquilo que caracteriza genericamente o DA é a procura permanente de harmonização das exigências da ação administrativa, na prossecução dos interesses gerais, com as exigências da garantia dos particulares, na defesa dos seus direitos e interesses legítimos –é esta a verdadeira essência de DA.
Traços específicos do DA
Juventude:
O DA é um direito bastante jovem: nasceu com a Revolução Francesa;
Foi sobretudo o produto das reformas profundas que foram introduzidas no ano VIII pelo então primeiro cônsul, Napoleão Bonaparte.
Importado de França, o DA aparece em Portugal, a partir das reformas de Mouzinho da Silveira, de 1832.
Influência jurisprudencial:
No DA a jurisprudência dos tribunais tem maior influência;
Em França o DA nasceu por via jurisprudencial: surgiu primeiro os tribunais administrativos, para subtrair à AP a possibilidade de intrometer no Poder judicial, e foram depois os tribunais administrativos, ao tomar contato com os casos surgidos da ação administrativa, que começaram a ensaiar soluções novas, regras específicas, princípios e conceitos diferentes daqueles que se aplicavam nos tribunais judiciais à luz do Direito Civil.
Autonomia:
O DA é um ramo autónomo de direito, diferente dos demais pelo seu objeto e pelo seu método, pelo espírito que domina as suas normas, pelos princípios gerais que as enformam.
O Direito Administrativo é um ramo de Direito diferente do Direito Privado –mas completo, que forma um todo, que constitui um sistema, um verdadeiro corpo de normas e de princípios subordinados a conceitos privativos desta disciplina e deste ramo de direito.
Codificação parcial:
Código é um diploma que reúne, de forma sintética, científica e sistemática, as normas de um ramo de direitoou, pelo menos, de um sector importante de um ramo de direito.
O Código Administrativo apenas abarca uma parcela limitada, embora importante, do nosso Direito Administrativo.
O Código Administrativo atual data de 1936-40. É, portanto, ainda, o Código Administrativo do regime da Constituição de 1933.
O Decreto-lei n.º 442/91 de 15 de Novembro, aprovou o primeiro Código do Procedimento Administrativo (CPA) português, que contém a regulamentação de um sector bastante extenso e importante da parte geral do nosso Direito Administrativo.
Fronteiras do DA
Direito Administrativo e Direito Constitucional:
O Direito Constitucional está na base e é o fundamento de todo o Direito Público de um país, mas isso é ainda mais verdadeiro, se possível, em relação ao DA, porque o DA é, em múltiplos aspetos, o complemento, o desenvolvimento, a execução do Direito Constitucional;
Em grande medida as normas de DA são corolários de normas de Direito Constitucional.
O DA contribui para dar sentido ao Direito Constitucional, bem como para o completar e integrar.
Direito Administrativo Gerais e Direito Administrativos Especiais
O DA é suscetível de divisão entre um tronco comum –o DA geral –e disciplinas especializadas –os direitos administrativos especiais.
O DA geral compreende os princípios fundamentais de organização e da atividade administrativa, bem como a disciplina comum das matérias da organização, do procedimento, da atividade e da responsabilidade civil administrativos.
As normas do DAG aplicam-se em todos os setores do DA que não sejam, ou na medida em que não sejam, objeto de regulação especial. 
Os direitos administrativos especiais cobrem sectores específicos da atividade administrativa.
Exemplos de DAE são: direito autárquico, direito militar, direito de polícia, direito económico, direito da função pública, direito da contratação pública, direito agrícola, direito financeiro, direito fiscal, direito da energia, direito das telecomunicações, direito da educação, direito da saúde, direito da segurança social, direito do urbanismo e direito do ambiente. Cfr. MARCELO REBELO DE SOUSA e ANDRÉ SALGADO DE MATOS, Direito Administrativo Geral, Tomo I, Dom Quixote, 2006.
As fontes de DA
Constituição; Direito Internacional; Direito Comunitário; Lei; Regulamento; Costume; Jurisprudência; “Direito circulatório”; Doutrina.
 TEORIA GERAL DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
· A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
· As Pessoas Coletivas Públicas;
· Conceito de PCP;
· PCP Vs Pessoas Coletivas Privadas;
· Espécies de PCP;
· Tipos de PCP;
· Regime Jurídico de PCP;
· Órgãos;
· Classificação dos Órgãos;
· Dos Órgãos Colegiais em Especial;
· Atribuições e Competência;
· Da Competência em Especial;
· Critérios de Delimitação da Competência;
· Regras Legais Sobre a Competência;
· Conflitos de Atribuições e de Competência.
ELEMENTOS DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
A Organização Administrativa é o modo de estruturação concreta que, em cada época, a lei dá à AP de um dado país.
Numa TGOA, há que analisar:
1.Os elementos dessa organização;
2.Os sistemas de organização possíveis ou consagrados; e
3.Os princípios constitucionais reguladores da organização administrativa.
Quanto aos elementos da organização administrativa são, basicamente, dois:
1.As pessoas coletivas públicas; 
2.Os serviços públicos.
Quanto aos sistemas de organização, analisaremos as três grandes opções que se apresentam ao legislador e aos políticos:
1.A opção entre concentração e desconcentração;
2.A opção entre centralização e descentralização; e 
3.A opção entre integração e devolução de poderes.
Preliminares
As expressões pessoa coletiva pública(PCP) e pessoa coletiva de direito público são sinónimas, tal como o são igualmente entre si pessoa coletiva privada e pessoa coletiva de direito privado.
Importa destacar a enorme importância da categoria das pessoas coletivas públicas e da sua análise em Direito Administrativo. 
A AP é sempre representada, nas suas relações com os particulares, por pessoas coletivas públicas;
Numa relação jurídico-administrativa, um dos sujeitos, pelo menos, é, em regra, uma pessoa coletiva pública.
Pelo que, não há pessoas coletivas privadas que fazem parte de AP.
Ao distinguir PCP de pessoas coletivas privadas, não se pretende de modo nenhum inculcar que as primeiras são as que atuam, sempre e apenas, sob a égide do direito público e as segundas as que agem, apenas e sempre, à luz do direito privado;
Nem tão-pouco se quer significar que umas só têm capacidade jurídica pública e que as outras possuem unicamente capacidade jurídica privada.
Pelo que, as PCP tanto dispõem de capacidade jurídica pública como de capacidade jurídica privada, o mesmo podendo afirmar-se, de um modo geral, acerca das pessoas coletivas privadas.
Conceito
Muitos têm sido os critérios propostos na doutrina para distinguir pessoas coletivas públicas e privadas e, em consequência delimitar o conceito de PCP.
Há múltiplos critérios que atendem a um ou vários dos seguintes fatores:
· Iniciativa da criação da pessoa coletiva;
· Fim prosseguido pela pessoa coletiva;
· Capacidade jurídica da pessoa coletiva;
· Regime jurídico global da pessoa coletiva;
· Subordinação ou não da pessoa coletiva ao Estado;
· Obrigação ou não de a pessoa coletiva existir;
· Exercício ou não da função administrativa do Estado pela pessoa coletiva.
Com efeito, para distinguir PCP das privadas, há que adotar um critério misto, que combine a criação, o fim e a capacidade jurídica.
Assim, são pessoas coletivas públicas as pessoas coletivas criadas por iniciativa pública para assegurar a prossecução necessária de interesses públicos, e por isso dotadas em nome próprio de poderes e deveres públicos.
Em que consistem os vários elementos desta definição:
1.Em primeiro lugar, as PCP são pessoas coletivas;
2.Em segundo lugar, trata-se de entidades criadas por iniciativa pública.
Significa que as PCP públicas nascem sempre de uma decisão pública, tomada pela coletividade nacional, ou por comunidades regionais ou locais autónomas, ou proveniente de uma ou mais PCP.
Logo, importa sublinhar que a iniciativa privada não pode criar PCP.
Portanto, as PCP são criadas por “iniciativa pública”, expressão ampla que cobre todas as hipóteses e acautela os vários aspetos relevantes;
3.Em terceiro lugar, as PCP são criadas para assegurar a prossecução necessária de interesses públicos.
Daqui decorre que as PCP, diferentemente das privadas, existem para prosseguir o interesse público –e não para quaisquer outros fins.
Ora, o interesse público não é algo que possa deixar de estar incluído nas atribuições de uma PCP, é algo de essencial, pois ela é criada e existe para esse fim.
4.Em quarto lugar, as PCP são titulares, em nome próprio, de poderes e deveres públicos.
A referência à titularidade “em nome próprio” serve para distinguir as PCP das pessoas coletivas privadas que se dediquem ao exercício privado de funções públicas (ex. sociedades concessionárias);
Estas sociedades podem exercer poderes públicos, mesmo poderes de autoridade, mas fazem-no em nome de AP, nunca em nome próprio.
Espécies
As categorias de PCP: O Estado; Os institutos públicos; As empresas públicas, na modalidade de entidades públicas empresariais; As associações públicas; As autarquias locais; As regiões autónomas.
Esta lista está ordenada segundo o critério da maior dependência para a menor dependência do Estado, assim os institutos públicos e as empresas públicas são as categorias de PCP mais dependentes do Estado.
Uma coisa é enunciar quais as categorias de PCP: é o que fica agora dito, outra coisa é agrupá-las em tipos. Quais são os tipos de PCP a que essas categorias se reconduzem? São três:
a) Pessoas coletivas de população e território, ou de tipo territorial –onde se incluem o Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais;
b) Pessoas coletivas de tipo institucional –a que correspondem as diversas espécies de institutos públicos, bem como as empresas públicas;
c) Pessoas coletivas de tipoassociativo –a que correspondem as associações públicas.
Regime Jurídico
O regime jurídico das PCP não é um regime uniforme, não é igual para todas elas: depende da legislação aplicável.
No caso das autarquias locais, todas as espécies deste género têm o mesmo regime, definindo basicamente na Constituição e no Estatuto dos Municípios;
Mas, quanto aos institutos públicos, empresas públicas e associações públicas (apesar da existência de uma Lei-Quadro), o regime varia muitas vezes de entidade para entidade, conforme a respetiva lei orgânica.
Assim, quando se pretende saber qual é o regime aplicável a uma certa PCP, tem de se estudar concretamente a legislação aplicável a essa pessoa coletiva.
Da análise dos diversos textos que regulam as PCP, podemos concluir que os aspetos predominantes do seu regime são os seguintes:
1.Criação e extinção –são criadas por ato do poder central; mas há casos de criação por iniciativa pública local;
As PCP não têm o direito de se dissolver: elas não se podem extinguir a si próprias, ao contrário do que acontece com as pessoas coletivas privadas;
As PCP não estão sujeitas a falência ou insolvência: uma PCP não pode ser extinta por iniciativa dos respetivos credores, só por decisão pública;
2.Capacidade jurídica de direito privado e património próprio – todas as PCP possuem estas características, cuja a importância se salienta principalmente no desenvolvimento de atividade de gestão privada;
3.Capacidade de Direito Público – as PCP são titulares de poderes e deveres públicos. Entre eles, assumem especial relevância os poderes de autoridade, aqueles que denotam supremacia das PCP sobre os particulares e, nomeadamente, consistem no direito que essas pessoas têm de definir a sua própria conduta ou a conduta alheia em termos obrigatórios para terceiros, independentemente da vontade destes, o que naturalmente não acontece com as pessoas coletivas privadas;
Exemplos de poderes públicos de autoridade: o poder regulamentar, o poder tributário, o poder de expropriar, o privilégio da execução prévia, etc.;
4.Autonomia administrativa e financeira – as PCP dispõem de autonomia administrativa e financeira;
5.Isenções fiscais – é um traço característico e da maior importância;
6.Direito de celebrar contratos administrativos –as pessoas coletivas privadas não possuem, em regra, o direito de fazer contratos administrativos com particulares;
7.Bens do domínio público–as PCP são, ou podem ser, titulares de bens do domínio público e não apenas de bens do domínio privado;
8.Funcionários públicos–o pessoal das PCP está submetido ao regime da função pública, e não ao do contrato individual de trabalho;
Isto por via de regra, os institutos públicos e as empresas públicas constituem importante exceção a tal princípio;
9.Sujeição a um regime administrativo de responsabilidade civil–pelos prejuízos que causarem a outrem, as PCP respondem nos termos da legislação própria do Direito Administrativo, e não nos termos da responsabilidade regulada pelo Código Civil;
10.Sujeição da tutela administrativa–a atuação destas pessoas coletivas está sujeita à tutela administrativa do Estado;
11.Sujeição à fiscalização do Tribunal de Contas–as contas das PCP estão sujeitas à fiscalização do Tribunal de Contas;
12.Foro administrativo –as questões surgidas da atividade pública destas pessoas coletivas pertencem à competência dos tribunais do contencioso administrativo, e não à dos tribunais judiciais (PT).
Órgãos
Todas as PCP, enquanto pessoas coletivas, são dirigidas por órgãos.
A estes cabe tomar decisões em nome da pessoa coletiva ou, noutra terminologia, manifestar a vontade imputável à pessoa coletiva;
São centros de imputação de poderes funcionais.
Sobre a natureza dos órgãos das pessoas coletivas, debatem-se duas grandes conceções:
a) A primeira, que foi defendida no campo de DA por Marcello Caetano, considera que os órgãos são instituições, e não indivíduos;
b) A segunda, que foi designadamente defendida por Afonso Queiró e Marques Guedes, considera que os órgãos são os indivíduos, e não as instituições. 
Para a primeira conceção, os órgãos são instituições, são centros institucionalizados de poderes funcionais, a exercer polos indivíduos que neles estejam providos, com o objetivo de expressar a vontade juridicamente imputável à pessoa coletiva;
Ou seja, o órgão é o centro de poderes funcionais, o titular é o indivíduo que exerce esses poderes funcionais em nome da pessoa coletiva.
Portanto, o órgão é uma instituição; o titular do órgão é um indivíduo.
De acordo com a segunda conceção, o órgão não é o centro de poderes e deveres;
O conjunto de poderes funcionais chama-se competência, não se chama órgão: é a competência do órgão. 
Para estes autores, o órgão é o indivíduo;
Pois, os indivíduos é que são os órgãos; os conjuntos de poderes funcionais não são órgãos, são competências.
Há fundamentalmente três grandes perspetivas na teoria geral do DA:
1.A teoria da organização administrativa;
2.A teoria da atividade administrativa;
3.A teoria das garantias dos particulares.
A terceira teoria não tem a ver com a questão que se está a analisar;
Todavia, entre as duas primeiras, tudo depende de nos situarmos numa ou noutra das perspetivas indicadas.
Se nos colocarmos na perspetiva da organização administrativa –isto é, na perspetiva em que se analisa a estrutura da AP –é evidente que os órgãos têm de ser concebidos como instituições.
O que aí se analisa é a natureza de um órgão, a sua composição, o seu funcionamento, o modo de designação dos seus titulares, o estatuto desses titulares, os poderes funcionais atribuídos a cada órgão, etc.
Portanto, quando se estuda estas matérias na perspetiva da organização administrativa, o órgão é uma instituição e o indivíduo é irrelevante.
Mas, se mudar de posição e nos colocarmos na perspetiva da atividade administrativa – isto é, na perspetiva da Administração a atuar, a tomar decisões, nomeadamente a praticar atos administrativos, ou seja, por outras palavras, se deixarmos a análise estática da Administração e passarmos a sua análise dinâmica –, então veremos que o que aí interessa ao direito é o órgão como indivíduo: quem decide, quem delibera, são os indivíduos, não são os centros institucionalizados de poderes funcionais.
Para Freitas do Amaral, os órgãos da Administração (isto é, das PCP que integram a Administração) devem ser concebidos como instituições para efeitos de teoria da organização administrativa, e como indivíduos para efeitos de teoria da atividade administrativa.
Classificação dos Órgãos
Podem ser classificadas de várias maneiras, mas as mais importantes são:
a) Órgãos singulares e colegiais:
· São órgãos singulares aqueles que têm apenas um titular;
· São colegiais os órgãos compostos por dois ou mais titulares.
· Obs. o órgão colegial na atualidade tem, no mínimo, três titulares, e deve em regra ser composto por número ímpar de membros;
b) Órgãos centrais e locais:
· Órgãos centrais são aqueles que têm competência sobre todo o território nacional;
· Órgãos locais são os que têm a sua competência limitada a uma circunscrição administrativa, ou seja, apenas a uma parcela do território nacional;
c) Órgãos primários, secundários e vicários:
· Órgãos primários são aqueles que dispõem de uma competência própria para decidir as matérias que lhes estão confiadas;
· Órgãos secundários são os que apenas dispõem de uma competência delegada;
· Órgãos vicários são aqueles que só exercem competência por substituição de outros órgãos;
d) Órgãos representativos e órgãos não representativos:
· Órgãos representativos são aqueles cujos titulares são livremente designados por eleição;
· Os restantes são órgãos não representativos;
e) Órgãos ativos, consultivos e de controlo:
· Órgãos ativos são aqueles a quem compete tomar decisões ou executá-las;
· Órgãos consultivos são aqueles cuja função é esclarecer os órgãos ativos antes de estes tomarem uma decisão, nomeadamente, através da emissão de pareceres;
· Órgãos de controlo são aqueles que têm por missão fiscalizara regularidade do funcionamento de outros órgãos;
f) Órgãos decisórios e executivos:
· Os órgãos ativos podem, por sua vez, classificar-se em decisórios e executivos;
· São órgãos decisórios aqueles a quem compete tomar decisões;
· São órgãos executivos aqueles a quem compete executar tais decisões, isto é, pô-las em prática.
· Dentro dos órgãos decisórios, costuma reservar-se a designação de órgãos deliberativos aos que tenham carácter colegial;
g) Órgãos permanentes e temporários:
· São órgãos permanentes aqueles que segundo a lei têm duração indefinida;
· São órgãos temporários os que são criados para atuar apenas durante um certo período (comissões para estudo de um problema, grupos para a elaboração de um diploma, júris de exames ou concursos públicos, etc.);
h) Órgãos simples e complexos:
· Os órgãos simples são os órgãos cuja estrutura é unitária, a saber, os órgãos singulares (um só titular) e os órgãos colegiais cujos titulares só podem atuar coletivamente quando reunidos em conselho;
· Os órgãos complexos são aqueles cuja estrutura é diferenciada, isto é, aqueles que –como o Governo -são constituídos por titulares que exercem também competências próprias a título individual (Ministro) e são em regra auxiliados por adjuntos, delegados e substitutos (Secretários de Estado, Subsecretários de Estado).
Dos Órgãos Colegiais em Especial
As principais regras em vigor no direito cabo-verdiano sobre a constituição e funcionamento dos órgãos colegais estão reguladas no decreto-legislativo n.º 2/95, de 20 de junho.
Este diploma dedica o Capítulo III a regras gerais de funcionamento e deliberação dos Órgãos da Administração Pública, cuja Secção I é destinada aos órgãos colegiais.
Artigo 13.º - reuniões: espécies, convocação, ordem do dia;
Artigo 14.º - publicidade das reuniões;
Artigo 15.º - quórum;
Artigo 16.º - deliberação;
Artigo 17.º - acta.
Atribuições e Competência
As pessoas coletivas existem para prosseguir determinados fins. Os fins das PCP chamam-se atribuições. Atribuições que são os fins ou interesses que a lei incumbe as PCP de prosseguir.
Para o fazerem, as PCP precisam de poderes –são os chamados poderes funcionais. Ao conjunto de poderes funcionais chama-se competência.
Competência é, assim, o conjunto de poderes funcionais que a lei confere para a prossecução das atribuições das PCP. Atribuições pertencem às PCP. Competências pertencem aos órgãos.
A lei determina as atribuições de cada pessoa coletiva e, noutro plano, a competência de cada órgão.
Assim, qualquer órgão da Administração, ao agir, conhece e encontra pela frente uma dupla limitação:
· Por um lado, está limitado pela sua própria competência não podendo, nomeadamente, invadir a esfera de competência dos outros órgãos da mesma pessoa coletiva;
· Por outro, está também limitado pelas atribuições da pessoa coletiva em cujo o nome atua não podendo, designadamente, praticar quaisquer atos sobre matéria estranha às atribuições da pessoa coletiva a que pertence.
Atribuições e competências limitam-se, assim, reciprocamente uma às outras: nenhum órgão administrativo pode prosseguir atribuições da pessoa coletiva a que pertence por meio de competências que não sejam as suas, nem tampouco pode exercer a sua competência fora.
Tudo isto é assim, em geral, nas PCP. No entanto, no caso do Estado, a questão é mais complexa.
No Estado, o que separa juridicamente os Ministérios (que são órgãos) uns dos outros são as atribuições.
Enquanto, em geral, nas restantes PCP, os órgãos têm competências diferentes para prosseguir as mesmas atribuições (da PCP a que pertencem), no Estado os vários Ministros têm competências idênticas para prosseguirem atribuições diferentes.
A lei estabelece uma consequência diferente no caso de os órgãos da Administração praticaram atos estranhos às atribuições das PCP em que se integram ou fora da competência confiada a cada órgão:
Pois, os atos praticados fora das atribuições são atos nulos, os praticados apenas fora da competência do órgão que os pratica são, em regra, atos anuláveis.
Tudo depende de a lei ter repartido, entre os vários órgãos da mesma pessoa coletiva, apenas competência para prosseguir as atribuições desta, ou as próprias atribuições com a competência inerente.
Como o que distingue os vários Ministérios entre si são, não as competências, mas sim as atribuições, tal significa que se, por exemplo, o Ministro da Defesa praticar um ato sobre matéria incluída nas atribuições do Ministério das Finanças, esse ato é nulo por falta de atribuições.
Importa sublinhar que, não basta que o órgão atue dentro do domínio das atribuições da pessoa coletiva a que pertence e no âmbito das suas competências.
É necessário, ainda, que o órgão tenha legitimação. A legitimação é a qualificação específica do órgão para exercer a sua competência numa situação concreta.
Existem, assim, fatores de legitimação, que são, designadamente: a) A investidura do titular do órgão; b) Os casos de impedimento; c) As situações de falta de quórum nos órgãos colegiais; d) O decurso de um determinado lapso temporal; e) A autorização para agir.
Da Competência em Especial
O primeiro princípio que cumpre sublinhar no que se refere à competência, é o de que ela só pode ser conferida, delimitada ou retirada por lei ou regulamento. Isto corresponde ao princípio da legalidade da competência, também expresso às vezes, pela ideia de que a competência é de ordem pública. Cfr. o artigo 18.º, n.º 1, do Decreto-Legislativo n.º 2/95, de 20 de junho.
Deste princípio decorrem alguns corolários da maior importância:
a) A competência não se presume: isto quer dizer que só há competência quando a lei inequivocamente a confere a um dado órgão.
b) A competência é imodificável: nem a Administração nem os particulares podem alterar o conteúdo ou a repartição da competência estabelecidos por lei.
c) A competência é irrenunciável e inalienável: os órgãos administrativos não podem, em caso algum, renunciar aos seus poderes ou transmiti-los para outros órgãos da Administração ou para entidades privadas. Esta regra não obsta a que possa haver hipóteses de transferência do exercício da competência –designadamente, a delegação de poderes e a concessão –, nos casos e dentro dos limites em que a lei o permitir (art. 19º do RGOAA).
Critérios de Delimitação da Competência
A distribuição de competências pelos vários órgãos de uma pessoa coletiva pode ser feita em função de quatro critérios:
1.Em razão da matéria: a competência é distribuída em função de certo interesse especial ou grupo de interesses ao órgão que estiver em melhores condições de o realizar, ou mais vocacionado para o prosseguir, atendendo a sua estrutura ou qualidade;
2.Em razão da hierarquia: quando, numa hierarquia, a lei efetua uma repartição vertical de poderes, conferindo alguns ao superior e outros ao subalterno, estamos perante uma delimitação da competência em razão da hierarquia;
3.Em razão do território: a repartição de poderes entre órgãos centrais e órgãos locais, ou a distribuição de poderes por órgãos locais diferentes em função das respetivas áreas ou circunscrições, é uma delimitação da competência em razão do território;
4.Em razão do tempo: em princípio, só há competência administrativa em relação ao presente; em regra, a competência não pode ser exercida nem em relação ao passado, nem em relação ao futuro.
Um ato administrativo praticado por certo órgão da Administração contra as regras que delimitam a competência dir-se-á ferido de incompetência.
Obs: estes quatro critérios são cumuláveis e todos têm de atuar em simultâneo.
Regras Legais Sobre a Competência
Algumas regras em matéria de competência dos órgãos administrativos:
A competência fixa-se no momento em que se inicia o procedimento administrativo, sendo irrelevantes as modificações de facto e de direito que ocorram posteriormente (art.º 18º, n.º 2, do RGOAA). Quando o órgão competente em razão do território passar a ser outro, o processo deve ser-lhe remetido oficiosamente (n.º 3).
Se a decisão final de um procedimentodepender de uma questão que seja da competência de outro órgão administrativo ou dos tribunais (questão prejudicial), deve o órgão competente suspender a sua atuação até que aqueles se pronunciem, salvo se da não resolução imediata do assunto resultarem graves prejuízos (art.º 18º, n.º 4, do RGOAA).
Antes de qualquer decisão, o órgão administrativo deve certificar-se de que é competente para conhecer da questão que vai decidir (art.º 18º, n.º 5, do RGOAA); é o autocontrolo da competência.
Quando o particular, por erro desculpável e dentro do prazo legal, dirigir um requerimento a um órgão que se considere a si mesmo incompetente para tratar do assunto, a lei manda proceder de uma das formas seguintes (art.º 12.º, n.º 4, BGPA):
a) Se o órgão competente pertencer à mesma pessoa coletiva –incompetência relativa –, o requerimento ser-lhe-á enviado oficiosamente (por iniciativa da própria administração), e disso se notificará o particular;
b) Se o órgão considerado competente pertencer a outra pessoa coletiva –incompetência absoluta –, o requerimento é devolvido ao seu autor, acompanhado da indicação da entidade a quem se deverá dirigir. 
Se o erro do particular for qualificado como indesculpável, o requerimento não será apreciado, nem oficiosamente remetido à entidade competente, disto se notificando o particular no prazo máximo de 48 horas (art.º 12.º, n.º 5, BGPA).
Conflitos de Atribuições e de Competência
Disputas ou litígios entre órgãos da Administração acerca das atribuições ou competências que lhes cabe prosseguir ou exercer. Uns e outros, por sua vez, podem ser positivos ou negativos.
Assim, diz-se que há um conflito positivo quando dois ou mais órgãos da Administração reivindicam para si a prossecução da mesma atribuição ou o exercício da mesma competência; e que há conflito negativo quando dois ou mais órgãos consideram simultaneamente que lhes faltam as atribuições ou a competência para decidir um dado caso concreto. 
Por outro lado, entende-se por conflito de competência aquele que se traduz numa disputa acerca da existência ou do exercício de um determinado poder funcional; e por conflito de atribuições aquele em que a disputa versa sobre a existência ou a prossecução de um determinado interesse público.
Refira-se ainda que é costume falar em conflito de jurisdição quando o litígio opõe órgãos administrativos e órgão judiciais, ou órgãos administrativos e órgãos legislativos, isto é, quando o conflito se reporta ao princípio da separação dos poderes.
Como se solucionam esses conflitos?
Segundo o artigo 21.º do Decreto-Legislativo n.º 2/95, de 20 de junho,
Se envolverem órgãos de pessoas coletivas diferentes, os conflitos são resolvidos pelos tribunais administrativos, mediante recurso contencioso, na falta de acordo entre os órgãos em conflito;
Se envolverem órgãos de ministérios diferentes, na falta de acordo os conflitos serão resolvidos pelo Primeiro-ministro, porque é ele que constitucionalmente compete a coordenação interministerial;
Se envolverem órgãos do mesmo ministério ou pessoas coletivas autónomas sujeitas ao poder de superintendência do mesmo Ministro, na falta de acordo os conflitos são resolvidos pelo respetivo Ministro;
Se os conflitos envolverem órgãos subalternos integrados na mesma hierarquia, serão resolvidos pelo seu comum superior de menos categoria hierárquica;
A resolução administrativa dos conflitos pode ser promovida por duas formas diversas:
a) Por iniciativa de qualquer particular interessado, isto é, que esteja prejudicado pelo conflito;
b) Oficiosamente, quer por iniciativa privada suscitada pelos órgãos em conflito, “logo que dele tenham conhecimento”, quer pelo próprio órgãos competente para a decisão, se for informado do conflito.
OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
a) Subsidiariedade; 
b) Desconcentração;
c) Descentralização;
d) Racionalização;
e) Avaliação e controlo; 
f) Participação; 
g) Unidade e da Ação Administrativa.
A CRCV tomou uma posição relativamente à matéria da TGOA, versando sobre os princípios da organização administrativa cabo-verdiana. Esses princípios encontram-se consagrados no artigo 240.º, n.º 2, da CRCV.
SUBSIDIARIEDADE
O princípio da subsidiariedade se atribui preferência à Administração autónoma em detrimento da Administração estadual, trata-se de um princípio favorável à ampliação da esfera dos poderes públicos de entidades menores à custa de Estado. • O Estado deve, como posição de princípio, atuar subsidiariamente em relação às administrações intraestaduais. A subsidiariedade exprime a ideia de que um determinado poder público só deve atuar quando os objetivos da sua atuação não possam ser suficientemente realizados por um ente menor, também público ou privado.
DESCONCENTRAÇÃO
A desconcentração administrativa exige que as competências para a prossecução das atribuições de uma pessoa coletiva sejam repartidas por diversos órgãos, por oposição, impede a concentração, que restringe a um único órgão as competências decisórias para a prossecução das atribuições da pessoa coletiva a que está integrado uma forma da desconcentração é a hierarquia administrativa – cfr. artigo 185.º, in fine da CRCV. Artigo 9º - Princípio da desconcentração e da descentralização - RGOAA 
1. A Administração Pública deve ser estruturada de modo a aproximar os serviços das populações e de forma não burocratizada, a fim de assegurar a celeridade, a economia e a eficiência das suas decisões. 
DESCENTRALIZAÇÃO
A descentralização administrativa exige que o exercício da função administrativa seja cometido a diversas pessoas coletivas além do Estado-administração – cfr. artigo 230.º, n. 1 da CRCV. Por oposição, impede a centralização, ou seja, que tal exercício caiba apenas ao Estado-administração. Artigo 9º - Princípio da desconcentração e da descentralização - RGOAA 
2. Sempre que se mostre necessário ou conveniente para melhorar a eficácia e eficiência do serviço público, a prossecução de atribuições de pessoas coletivas de direito público e os correspondentes recursos devem ser transferidos para pessoas coletivas de direito público de âmbito territorial ou institucional mais restrito ou para organizações da sociedade civil, salvo disposição constitucional em contrário e sem prejuízo do direito de fiscalização e controlo.
DESCONCENTRAÇÃO Vs. DESCENTRALIZAÇÃO
A desconcentração distingue-se da descentralização administrativa, na medida em que respeita à repartição de competências por órgão de cada pessoa coletiva, enquanto a descentralização se reporta à divisão de atribuições entre pessoas coletivas.
PARTICIPAÇÃO
Artigo 10º - Princípio da colaboração com os particulares 
1. A Administração Pública deve assegurar a participação dos particulares na formação das decisões que lhes disserem respeito e no desempenho da função administrativa, designadamente garantindo-lhes o direito de audiência e de informação nos termos da lei. 
2. A Administração Pública deve apoiar e estimular as iniciativas dos particulares na prossecução do interesse coletivo e receber com interesse as suas sugestões e informações.
PRINCÍPIO DA UNIDADE E DA AÇÃO ADMINISTRATIVA 
Revelando uma tensão intrínseca no seio da organização do poder político, o artigo 2.º, n.º 2, da CRCV proclama simultaneamente a unidade do Estado e os princípios da autonomia do poder local e da descentralização, ao determinar o estabelecimento, por lei, de formas adequadas de descentralização e desconcentração administrativa, sem prejuízo da unidade da ação da administração, o artigo 240.º, n.º 2, da CACV mais não faz do que reproduzir este conflito a nível de organização administrativa.
O princípio da unidade da ação administrativa visa evitar que a descentralização e a desconcentração administrativa levem à perda da unidade do Estado por via de pulverização de centros de decisão potencialmente desencontrados dentro da administração. • O princípio da unidade da ação administrativa visa corrigir ou atenuar as desvantagens dos princípios da descentralização e da desconcentração. 
OSPRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA
a) Prossecução do interesse público;
b) Legalidade; 
c) Justiça; 
d) Transparência; 
e) Imparcialidade; 
f) Boa-fé; 
g) Direitos e interesses legítimos dos particulares.
PROSSECUÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO 
O Princípio da Prossecução do Interesse Público é um princípio motor da AP, a Administração atua, move-se, funciona para prosseguir o interesse público, o interesse público é o seu único fim. dele se faz eco o art. 240.º, n.º 1, da CRCV e o art. 8.º do RGOAA. O interesse público pode ser entendido como o interesse coletivo, o interesse geral de uma determinada comunidade, o bem-comum. A noção do interesse público pode traduzir também uma exigência de satisfação das necessidades coletivas.
Este princípio em DA tem numerosas consequências práticas, das quais importa citar as mais importantes: 
1. Só a lei pode definir os interesses públicos a cargo da Administração, pois não pode ser a Administração a defini-los, salvo se a lei a habilitar para o efeito, deferindo-lhe competência para concretizar certo tipo de conceitos indeterminados; 
2. A noção de interesse público é uma noção de conteúdo variável, não é possível definir o interesse público de uma forma rígida e inflexível; 
3. Definido o interesse público pela lei, a sua prossecução pela Administração é obrigatória; 
4. O interesse público delimita a capacidade jurídica das PCP e a competência dos respetivos órgãos: é o chamado princípio da especialidade, também aplicável às PCP;
5. Só o interesse público definido por lei pode constituir motivo principalmente determinante de qualquer ato da Administração. Assim, se um órgão da Administração praticar um ato que não tenha por motivo principalmente determinante o interesse público posto por lei a seu cargo, esse ato estará viciado por desvio de poder, e por isso será um ato ilegal, como tal anulável contenciosamente;
6. A prossecução de interesses privados em vez de interesse público, por parte de qualquer órgão ou agente administrativo no exercício das suas funções, constitui corrupção e como tal acarreta todo um conjunto de sanções, quer administrativas, quer penais, para quem assim proceder;
7. A obrigação de prosseguir o interesse público exige da AP que adote em relação a cada caso concreto as melhores soluções possíveis, do ponto de vista administrativo (técnico e financeiro): é o chamado dever de boa administração.
LEGALIDADE 
A AP tem de prosseguir o interesse público em obediência à lei: é o que se chama o princípio da legalidade. O princípio da legalidade é, sem dúvida, um dos mais importantes princípios gerais de direito aplicáveis à AP - art. 240.º, n.º 1 da CRCV e art. 5.º do RGOAA. Por força deste princípio, os órgãos e agentes administrativos estão subordinados à Constituição e à lei, os órgãos e agentes da AP só podem agir, no exercício das suas funções, com fundamento na lei e dentro dos limites por ela impostos. O princípio da legalidade aparece definido de uma forma positiva. Diz-se o que a AP deve ou pode fazer, e não apenas aquilo que ela está proibida de fazer.
O princípio da legalidade, cobre e abarca todos os aspetos da atividade administrativa, e não apenas aqueles que possam consistir na lesão de direitos ou interesses dos particulares. O princípio da legalidade visa também proteger o interesse público, e não apenas o interesse dos particulares. A lei não é apenas um limite à atuação da Administração é também o fundamento da ação administrativa. A regra geral, em matéria de atividade administrativa, não é o princípio da liberdade, é o princípio da competência. Segundo o princípio da liberdade, que constitui a regra no direito privado, pode fazer-se tudo aquilo que a lei não proíbe; segundo o princípio da competência, pode fazer-se apenas aquilo que a lei permite.
JUSTIÇA
Os princípios da Justiça e da Imparcialidade trata-se de uma série de limites ao poder discricionário da administração, vêm referidos nos arts. 240.º, n.º 1 da CRCV e art. 6.º do RGOAA. O Princípio da Justiça, significa que na sua atuação a AP deve harmonizar o interesse público específico que lhe cabe prosseguir com os direitos e interesses legítimos dos particulares eventualmente afetados. A justiça pode ser definida como o conjunto de valores que impõem ao Estado e a todos os cidadãos a obrigação de dar a cada um o que é devido em função da dignidade da pessoa humana – Freitas do Amaral.O Princípio da Justiça, tal como se encontra atualmente consagrado na Constituição, comporta, pelo menos três corolários, sob a forma de outros tantos “princípios”.
a) Princípio da justiça “strictu senso”: segundo este princípio, todo o ato administrativo praticado com base em manifesta injustiça é contrário à Constituição e, portanto, é ilegal, podendo ser anulado em recurso contencioso; 
b) Princípio da proporcionalidade: vem consagrado no art. 17.º, n.º 2 da CRCV, a propósito dos Direitos, Liberdades e Garantias, a lei ordinária só os pode restringir nos casos expressamente previstos na Constituição, “devendo as restrições limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos”. Também vem referido no art. 6.º, n.º 3 do RGOAA. 
a. O princípio da proporcionalidade proíbe sacrifício excessivo dos direitos e interesses dos particulares, pois, as medidas restritivas devem ser proporcionais ao mal que pretendem evitar. Se forem desproporcionadas, constituirão um excesso de poder e, sendo contrárias ao princípio da justiça, violam a Constituição e são ilegais.
TRANSPARÊNCIA
Trata-se de um princípio consagrado no art. 240.º, n.º 1 da CRCV e art. 7.º do RGOAA, pelo que a AP deve, no exercício da sua atividade, atuar com transparência, os particulares têm o direito de ser informados pela AP todas as pessoas têm o direito de acesso aos arquivos e registos da Administração, nos termos da lei.
IMPARCIALIDADE
Garantias de Imparcialidade da Administração Pública 
O Princípio da Imparcialidade consagrado no art. 240.º, n.º 1 da CRCV e art. 6.º do RGOAA, significa que a AP deve comportar-se sempre com isenção e numa atitude de equidistância perante todos os particulares, que com ela encontrem em relação, não privilegiando ninguém, nem discriminando contra ninguém. A AP não pode conferir privilégios, só a lei o pode fazer; e também não pode impor discriminações, só a lei o pode também fazer.
O princípio da imparcialidade tem os corolários seguintes: 
a) Proibição de favoritismo ou perseguições relativamente aos particulares; 
b) Proibição de os órgãos da Administração decidir sobre assuntos em que estejam pessoalmente interessados;
Casos de impedimento, art. 22.º, n.º 1 do RGOAA, a lei obriga o órgão ou agente da Administração a comunicar a existência de impedimento. A comunicação deve ser feita a superior hierárquico ou ao presidente do órgão colegial, conforme for o caso. Se isto não for feito qualquer interessado poderá requerer a declaração de que existe um impedimento - art. 22.º, n.º 2 do RGOAA. Deve o órgão em causa suspender imediatamente a sua atividade até à decisão do incidente, casos de escusa ou suspeição, são situações em que não existe proibição absoluta de intervenção absoluta mas em que esta deve ser excluída por iniciativa do próprio titular do órgão ou agente – a escusa – ou do cidadão interessado – a suspeição (art. 23.º, n.º 1 do RGOAA). Sanção, são anuláveis os atos ou contratos em que se verifique alguma das situações de conflito de interesses previstas no presente capítulo – art. 30.º do RGOAA.
BOA-FÉ
O Princípio da Boa-fé está consagrado no art. 240.º, n.º 1, da CRCV;
a) Deste princípio decorre que a AP não deve atraiçoar a confiança que os particulares interessados puseram num certo comportamento seu; 
b) No exercício da atividade administrativa e em todas as suas formas e fases, a AP e os particulares devem agir e relacionar-se segundo as regras de boa fé; 
c) A AP está obrigada a obedecer a boa fé nas relações com os particulares;
d) A AP não deve iniciar o procedimento legalmente previsto para alcançarum certo objetivo com o propósito de atingir um objetivo diverso, ainda que de interesse público.
DIREITOS E INTERESSES LEGÍTIMOS DOS PARTICULARES 
O princípio do respeito pelos direitos e Interesses legalmente protegidos dos particulares está consagrado no art. 240.º, n.º 1 da CRCV. Qual o sentido deste artigo? Significa, fundamentalmente, que a prossecução do interesse público não é o único critério da ação administrativa, nem tem um valor ou alcance ilimitado; Pois, há que prosseguir o interesse público, mas respeitando simultaneamente os direitos subjetivos e os interesses legalmente protegidos dos particulares, está aqui retratada a essência do DA, que se caracteriza pela necessidade permanente de conciliar as exigências do interesse público com as garantias dos particulares.
O princípio da legalidade nasceu como limite à ação da AP; a sua função era a de proteger os direitos e interesses dos particulares embora o princípio da legalidade continue a desempenhar essa função, o certo é que se conclui que, não basta o escrupuloso cumprimento da lei por parte da AP para que simultaneamente se verifique o respeito integral dos direitos subjetivos e dos interesses legalmente protegidos dos particulares. Essas outras formas de proteção que existem para além do princípio da legalidade, são muito numerosas. Destacamos as mais relevantes: 
a) Estabelecimento da possibilidade de suspensão jurisdicional da eficácia do ato administrativo (isto é, paralisação de execução prévia) – artigo 24.º, n.º 4, da LCA; 
b) Extensão do âmbito da responsabilidade da Administração por ato ilícito culposo, não apenas aos casos em que o dano resulte de ato jurídico ilegal, mas também aos casos em que o dano resulte de factos materiais que violem as regras de ordem técnica e de prudência comum que devam ser sentidas em consideração pela AP;
c) Extensão da responsabilidade da Administração aos danos causados por factos casuais, bem como por atos ilícitos que imponham encargos ou prejuízos especiais e anormais aos particulares;
d) Concessão aos particulares de direitos de participação e informação, no procedimento administrativo, antes de tomada de decisão final – cfr. art. 7.º, n.º 2 do RGOAA;
e) Imposição do dever de fundamentar em relação aos atos administrativos que afetem diretamente os interesses legalmente protegidos dos particulares – cfr. art. 43.º, n.º 2 do RGOAA;
f) Concessão do direito de acesso dos particulares ao Provedor de Justiça a fim de prevenir e reparar injustiças – cfr. art. 21.º, n.º 1 da CRCV;
Assim, é possível depreender que o princípio do respeito pelos direitos subjetivos e interesses legalmente protegidos dos particulares limita e subordina a AP muito para além da limitação que para ela constitui o princípio da legalidade.
OS SERVIÇOS PÚBLICOS
Preliminares 
A TGOA assenta sobre duas figuras fundamentais: 
1. A das PCP; 
2. A dos Serviços Públicos (SP). 
· Os SP constituem as células que compõem internamente as PCP; Por exemplo, o Estado é uma PCP e dentro dele há direções gerais, gabinetes, inspeções, repartições, etc. e tudo isso corresponde aos SP. 
· A PCP é o sujeito de direito, que trava relações jurídicas com outros sujeitos de direito, ao passo que o SP é uma organização que, situada no interior da PCP e dirigida pelos respetivos órgãos, desenvolve atividades de que ela carece para prosseguir os seus fins.
OS SERVIÇOS PÚBLICOS 
Conceito
Os SP são as organizações humanas criadas no seio de cada PCP com o fim de desempenhar as atribuições desta, sob a direção dos respetivos órgãos. Os SP são organizações humanas, isto é, são estruturas administrativas acionadas por indivíduos, que trabalham ao serviço de certa entidade pública; Os SP existem no seio de cada PCP: não estão fora dela, mas dentro; não gravitam em torno da pessoa coletiva, são as células que a integram; não são um anexo, apêndice ou elemento acidental, mas um componente, um elemento integrante, uma peça essencial.
Os SP são criados para desempenhar as atribuições da PCP: é pelas direções-gerais situadas no centro e pelas delegações, repartições e outros serviços colocados na periferia que o Estado realiza, na prática, as suas funções de polícia, educação, saúde, obras públicas, transportes, etc. O mesmo se passa com as demais PCP.
Os SP atuam sob a direção dos órgãos das PCP: quem toma as decisões que vinculam a PCP perante o exterior são os órgãos dela; e quem dirige o funcionamento dos serviços existentes no interior da pessoa coletiva são também os seus órgãos. Quem desempenha as tarefas concretas e específicas em que se traduz a prossecução das atribuições das PCP são os SP, é importante focar bem as relações que existem entre os órgãos das PCP e os SP, tais relações são de dois tipos: por um lado, os órgãos dirigem a atividade dos serviços; por outro, os serviços auxiliam a atuação dos órgãos.
Os SP desenvolvem a sua atuação quer na fase preparatória da formação da vontade do órgão administrativo, quer na fase que se segue à manifestação daquela vontade, cumprindo e fazendo cumprir aquilo que tiver sido determinado. Os SP são, pois, organizações que levam a cabo as tarefas de preparação e execução das decisões dos órgãos das PCP, a par do desempenho das tarefas concretas em que se traduz a prossecução das atribuições dessas pessoas coletivas.
Espécies
Os SP podem ser classificados segundo duas perspetivas diferentes – a perspetiva funcional e a perspetiva estrutural. 
a) Os SP como unidades funcionais: à luz de uma consideração funcional, os SP distinguem-se de acordo com os seus fins: por exemplo, serviços de polícia, serviços de educação, serviços de saúde, serviços de transportes, etc. 
b) Os SP como unidades de trabalho: segundo uma perspetiva estrutural, os SP distinguem-se não já segundo os seus fins, mas antes segundo o tipo de atividades que desenvolvem.
Regime Jurídico
Os princípios fundamentais do regime jurídico dos SP são os seguintes: 
a) O SP releva sempre de uma PCP: qualquer serviço público está sempre na dependência direta de um órgão da administração, que sobre ele exerce o poder de direção e a cujas ordens e instruções, por isso mesmo, o serviço público deve obediência; 
b) O SP está vinculado à prossecução do interesse público: os SP são elementos da organização de uma PCP. Estão, pois, vinculados à prossecução das atribuições que a lei puser a cargo dela; 
c) A criação e extinção de SP, bem como a sua fusão e reestruturação, são feitas por lei: qualquer serviço público, seja ele ministério, direção-geral ou outro, só por lei (em sentido material) pode ser criado ou extinto. 
d) A organização interna dos SP é matéria regulamentar: contudo, a prática portuguesa é no sentido de a organização interna dos serviços públicos do estado ser feita e modificada por decreto-lei, o que é responsável, pois devia ser usada para esse fim a forma de decreto regulamentar;
e) O regime de organização e funcionamento de qualquer SP é modificável: porque só assim se pode corresponder à natural variabilidade do interesse público, que pode exigir hoje o que ontem não exigia ou reprovava, ou deixar de impor o que anteriormente considerava essencial; 
f) A continuidade dos serviços públicos deve ser mantida: pode e deve ser assegurado o funcionamento regular dos SP, pelo menos essenciais, ainda que para tanto seja necessário empregar meios de autoridade, como por exemplo a requisição civil;
g) Os SP devem tratar e servir todos os particulares em pé de igualdade: trata-se aqui de um corolário do princípio da igualdade, constitucionalmente estabelecido (art. 24º CRCV). Isto é particularmente importante no que diz respeito às condições de acesso dos particulares aos bens, utilidades e prestações proporcionados pelos SP ao público em geral;
h) A utilização dos SP pelos particulares é em princípio onerosa: os utentes deverão pagar uma taxa como contrapartida do benefício que obtêm. Mas há SP que a lei, excecionalmente, declara gratuitos. Os SP não têm fim lucrativo, exceto se se encontrarem integrados em empresas públicas;