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1 Figura 1 O piruvato é o produto final da glicólise, ele pode seguir diferentes vias metabólicas dependendo do organismo considerado e das condições metabólicas em que se encontra. Universidade Estadual do Ceará / Faculdade de Veterinária Bioquímica Veterinária II Prof. Dr. Genário Sobreira Santiago GLICÓLISE: Visão Geral e Reações 1. INTRODUÇÃO A glicólise é a via central do catabolismo da glicose de forma quase universal, não apenas em animais e vegetais, mas também na maioria dos microrganismos. A sequência de reações da glicólise difere de uma espécie para outra apenas na forma em que sua velocidade é regulada e no destino metabólico do piruvato formado. Existem três vias importantes que podem ser tomadas pelo piruvato formado na glicólise. Nos organismos aeróbicos a glicólise é apenas o primeiro estágio da degradação aeróbica completa da glicose a CO2 e H2O (figura 1). O piruvato assim formado é oxidado, com perda do seu grupo carboxila na forma de 2 CO2, formando o grupo acetil da acetil coenzima A. Este grupo acetil é, a seguir, completamente oxidado a CO2 e H2O pelo ciclo do ácido cítrico, com a intervenção do oxigênio molecular. Esta é a via tomada pelo piruvato nas células aeróbicas animais e vegetais. A segunda via possível ao piruvato é a sua redução a lactato. Quando alguns tecidos animais precisam funcionar anaerobicamente, em especial o músculo esquelético em contração vigorosa, o piruvato formado na glicólise não pode ser oxidado devido à falta de oxigênio. Nestas condições o piruvato produzido pela glicólise é reduzido a lactato. No músculo esquelético, este processo é chamado de glicólise anaeróbia, e é uma importante fonte de ATP durante a atividade física muito intensa. O lactato também é produto da glicólise nos microrganismos anaeróbios que desenvolvem a fermentação lática (figura 1). A terceira via principal aberta ao piruvato leva à formação de etanol. Em alguns microrganismos, como a levedura de cerveja, o piruvato é convertido anaerobicamente em etanol e CO2, um processo chamado fermentação alcoólica (figura 1). Fermentação é um termo geral que significa degradação anaeróbia da glicose ou de outros nutrientes orgânicos em produtos variados, com o propósito de obtenção de energia na forma de ATP. Como os primeiros organismos vivos apareceram em uma atmosfera sem oxigênio, a degradação anaeróbia da glicose é a mais antiga forma de mecanismo biológico para obtenção de energia das moléculas dos combustíveis orgânicos. 2. TRANSPORTE DE GLICOSE NAS CÉLULAS 2.1. Transporte facilitado A glicose não pode se difundir diretamente na célula, mas ela penetra através de dois mecanismos de transporte. O primeiro mecanismo para a penetração de glicose nas células, o transporte facilitado, é mediado por uma família de no mínimo cinco 3 transportadores de glicose na membrana celular, denominados GLUT-1 a GLUT-5 (quadro 2). Os transportadores de glicose mostram homologia significativa em sua sequência primária, mas apresentam um padrão de expressão com especificidade tecidual. Por exemplo, GLUT-4 é abundante no tecido adiposo e músculo esquelético, enquanto GLUT-1 é abundante no eritrócito, mas baixo no músculo. O número e atividade dos GLUT no movimento da glicose estão a favor do gradiente de concentração – isto é, de uma elevada concentração de glicose fora da célula para uma concentração menor dentro da célula. Postula-se que exista um transportador na membrana, com dois estados de conformação. A glicose extracelular liga-se ao transportador, o qual então altera sua conformação, descarregando a glicose dentro da célula (figura 2). 2.2. Cotransporte O segundo mecanismo para a entrada de glicose nas células é o cotransporte, um processo requerendo energia que transporta a glicose contra um gradiente de concentração – isto é, de baixas concentrações de glicose fora da célula para concentrações maiores dentro da célula. O cotransporte é um processo mediado por transportador, no qual o movimento da glicose é acoplado ao gradiente de concentração de Na+, o qual é transportado na célula ao mesmo tempo. Este tipo de transporte ocorre, por exemplo, nas células epiteliais do intestino e túbulos renais. 3. FASES DA GLICÓLISE Antes de examinarmos os passos enzimáticos individuais da glicólise é interessante termos uma visão geral dela. A quebra da glicose com seis átomos de Figura 2 Representação esquemática do transporte de glicose (Fonte: CHAMPE & HARVEY, 1996) 4 carbonos em duas moléculas de piruvato, cada uma com três átomos de carbono, é realizada pela ação de 10 enzimas em sequência (figura 3). Os primeiros cinco passos enzimáticos constituem a fase preparatória. Nestas reações, glicose é fosforilada enzimaticamente, primeiro no carbono 6 e depois no carbono 1, para a obtenção da frutose-1,6-difosfato, a qual é, então quebrada ao meio, produzindo duas moléculas com três átomos de carbono, o gliceraldeído 3- fosfato, o produto da primeira fase da glicólise. Duas moléculas de ATP precisam ser investidas para ativar, ou preparar, a molécula de glicose deixando-a pronta para ser clivada em dois pedaços de três átomos de carbono; mais tarde haverá um bom retorno deste investimento. Outras hexoses, principalmente D-frutose, D-galactose e D- manose, também podem entrar na fase preparatória glicólise depois de sofrerem o processo de fosforilação. A fase preparatória da glicólise serve para coletar as cadeias carbônicas de todas as hexoses metabolizadas na forma de um único produto comum: o gliceraldeído 3-fosfato. A segunda fase da glicólise, catalisada pelas cinco enzimas restantes, representa o pagamento do rendimento da glicólise, nela a energia liberada pela transformação de duas moléculas de gliceraldeído 3-fosfato em duas moléculas de piruvato é conservada através do acoplamento da fosforilação de quatro moléculas de ADP a ATP (figura 3). Embora quatro moléculas de ATP sejam formadas na segunda fase da glicólise, o rendimento líquido final é de apenas duas moléculas de ATP por moléculas de glicose degradada, uma vez que duas moléculas de ATP foram gastas na primeira fase da glicólise. Figura 3 Fases da glicólise 5 Três tipos diferentes de transformação química ocorrem durante a glicólise: (1) a degradação do esqueleto carbônico da glicose formando piruvato, ou seja, a via dos átomos de carbono; (2) a fosforilação do ADP a ATP pelos compostos fosfatados de alta energia formados durante a glicólise, ou seja, a via dos grupos fosfato; (3) a transferência dos átomos de hidrogênio ou elétrons. Na maioria dos tipos celulares as enzimas que catalisam a glicólise estão dissolvidas no citosol, o meio aquoso contínuo do citoplasma. Já as enzimas que promovem a fase de oxidação dos carboidratos com consumo de oxigênio estão localizadas na membrana mitocondrial das células eucarióticas e na membrana plasmática das células procarióticas. 4. FUNÇÕES DOS GRUPOS FOSFATOS NA GLICÓLISE O primeiro fato importante a chamar a atenção quando examinamos a via glicolítica é a constatação de que cada um dos seus nove intermediários é um composto fosforilado. Parece haver três funções desempenhadas pelos grupos fosfato: (1) Os grupos fosfato estão completamente ionizados em pH 7,0, isto confere carga líquida negativa a cada um dos intermediários da via. Como, em geral, as membranas celulares são impermeáveis a moléculas carregadas eletricamente, os intermediários da glicólise não podem escapar da célula. A glicose pode entrar nas células e lactato ou piruvato podem sair, porque as membranas celulares possuem sistemas transportadores específicos que permitem a passagem destas moléculas; (2) A segunda função dos grupos fosfato é óbvia: eles são componentesessenciais na conservação enzimática da energia metabólica já que são, afinal, transferidos para o ADP para formar o ATP; (3) Os grupos fosfatos servem como estruturas de reconhecimento ou ligação necessárias ao ajuste adequado dos intermediários glicolíticos ao sítio ativo das enzimas correspondentes a cada um deles. 6 Quase todas as enzimas glicolíticas necessitam de Mg2+ para serem ativas. Como o Mg2+ forma complexos com os grupos fosfato dos intermediários glicolíticos, com o ADP e com o ATP, o sítio de ligação do substrato de muitas enzimas glicolíticas parece ser específico para o complexo de Mg2+ com os intermediários fosforilados. 5. REAÇÕES DA GLICÓLISE – PRIMEIRA FASE 5.1. Fosforilação da glicose No primeiro passo a molécula de glicose é preparada para as reações subsequentes através da fosforilação na posição 6 e formação da glicose 6-fosfato (figura 4), às expensas do ATP. Esta reação é irreversível nas condições intracelulares e é catalisada pela hexoquinase, uma enzima encontrada na maioria das células animais, vegetais e microbianas. A hexoquinase catalisa a fosforilação não só da glicose, mas também de outras hexoses como a manose. Em organismos ou tecidos diferentes a hexoquinase ocorre em formas isoenzímicas diferentes. Embora todas elas catalisem a reação indicada na figura 4, elas diferem em suas propriedades cinéticas (quadro 1 e figura 5). Nas células musculares, por exemplo, a hexoquinase tem um 𝑘𝑚 para a glicose de valor baixo e, desta forma, fosforilará a glicose do sangue (4 a 5 mM) com velocidade máxima. A hexoquinase é fortemente inibida pelo seu produto, glicose 6-fosfato. Essas evidências levaram a conclusão de que a hexoquinase é uma enzima reguladora, na qual a glicose 6-fosfato é tanto o substrato como o regulador alostérico: sempre que a concentração de glicose 6-fosfato no interior da célula sobe acima do seu nível normal, ela passa a inibir temporária e reversivelmente a hexoquinase, levando a velocidade de sua formação a um equilíbrio com a velocidade de sua utilização. 7 Quadro 1. Propriedades da hexoquinase e glicoquinase Hexoquinase Glicoquinase Distribuição tecidual Maioria dos tecidos Fígado e células-β 𝑘𝑚 Baixo (0,1𝑚𝑚𝑜𝑙𝐿 −1 = 2𝑚𝑔%) Alto (10𝑚𝑚𝑜𝑙𝐿−1 = 200𝑚𝑔%) 𝑣𝑚á𝑥 Baixa Alta Inibição pelo produto Sim Não Fonte: CHAMPE & HARVEY (1996) No fígado (e nas células β do pâncreas), a glicoquinase é a enzima predominante para fosforilação da glicose. A glicoquinase difere da hexoquinase por requerer uma concentração muito maior de glicose para atingir metade da saturação. Assim, a glicoquinase somente funciona quando a concentração intracelular de glicose no hepatócito está elevada, como durante o breve período após o consumo de uma dieta rica em carboidratos, quando níveis elevados de glicose são enviados para o fígado Figura 4 Fase de investimento energético: fosforilação da glicose Figura 5 Efeito da concentração da glicose sobre a velocidade de fosforilação catalisada pela hexoquinase e glicoquinase 8 através da veia porta. A glicoquinase possui 𝑘𝑚 para glicose elevada, permitindo ao fígado remover efetivamente este afluxo de glicose do sangue portal. Isto impede que grandes quantidades de glicose penetrem na circulação sistêmica após uma refeição rica em carboidratos e, assim, minimiza a hiperglicemia durante o período absortivo. Outro aspecto importante da glicoquinase: sua deficiência na doença diabetes mellitus. Nesta doença o pâncreas não secreta insulina em quantidades normais, a glicose sanguínea atinge níveis muito altos e pouco glicogênio é formado. 5.2. Isomerização da glicose 6-fosfato A enzima fosfoglicose isomerase catalisa a isomerização reversível de glicose 6-fosfato, uma aldose, em frutose 6- fosfato, uma cetose. Esta reação envolve o deslocamento do oxigênio carbonílico do carbono 1 para o carbono 2 (figura 6). 5.3. Fosforilação da frutose 6-fosfato Esta é segunda das duas reações preparatórias da glicólise. A fosfofrutoquinase 1 catalisa a reação de transferência de um grupo fosfato do ATP para a posição 1 frutose 6-fosfato formando a frutose-1,6-bifosfato. Figura 6 Fase de investimento energético: conversão da glicose 6-fosfato em trioses fosfato 9 Nas condições existentes na célula, a reação da fosfofrutoquinase 1 é essencialmente irreversível. Esta reação é o segundo ponto importante da regulação da glicólise. A atividade da fosfofrutoquinase 1 é acelerada sempre que o suprimento celular de ATP torna-se baixo ou há um excesso dos produtos de hidrólise do ATP, ADP e AMP, principalmente este último. Ela é inibida sempre que a célula dispõe de ATP suficiente e está bem suprida de outros combustíveis, como o citrato e os ácidos graxos. A ação reguladora da fosfofrutoquinase 1 será discutida mais amplamente no segundo módulo sobre glicólise. 5.4. Clivagem da frutose 1,6-bifosfato Esta reação é catalisada pela enzima frutose difosfato aldolase, geralmente chamada simplesmente de aldolase. A frutose 1,6-bifosfato é clivada reversivelmente em duas trioses fosfato diferentes gliceraldeído 3-fosfato (G3P), uma aldose, e diidroxiacetona fosfato (DHAP), uma cetose. 5.5. Interconversão das trioses fosfato Apenas uma das trioses fosfato formadas pela aldolase, o G3P, pode ser degradada pelos passos subsequentes da glicólise. Entretanto, a DHAP pode ser convertida rápida e reversivelmente em G3P pela quinta enzima da sequência glicolítica, a triose fosfato isomerase. Assim, esta isomerização resulta na produção de duas moléculas de G3P a partir da clivagem da frutose 1,6-difosfato. 6. REAÇÕES DA GLICÓLISE – SEGUNDA FASE 6.1. Oxidação do gliceraldeído 3-fosfato 10 Esta é a primeira das duas reações da glicólise preservadoras de energia e que levam à síntese de ATP (figura 7), sendo catalisada pela gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase. O aceptor de hidrogênio na reação da gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase é o NAD+, a forma oxidada da nicotinamida adenina dinucleotídeo, a qual contém a vitamina nicotinamida. A reação com o NAD+ ocorre pela transferência enzimática de um íon hidreto (:H-) do grupo aldeído do G3P para a posição 4 do anel da nicotinamida do NAD+, levando a sua redução nas posições 1 e 4 do anel e produzindo a coenzima reduzida NADH. O outro átomo de hidrogênio da molécula do substrato aparece no meio como H+. Por esta razão a redução enzimática do NAD+ é escrita incluindo o hidrogênio formado: Substrato reduzido + NAD+ ⇌ substrato oxidado + NADH + H+ Uma vez que existe somente uma quantidade limitada de NAD+ na célula, o NADH formado deve ser reoxidado em NAD+ para que a glicólise continue. Dois importantes mecanismos para oxidar o NADH são (1) a conversão ligada ao NADH do piruvato em lactato e (2) a oxidação via cadeia respiratória. 6.1.1. Fosforilação em nível de substrato Figura 7 Fase geradora de energia: conversão do G3P em 2-fosfoglicerato 11 A oxidação do grupo aldeído do G3P até um grupo carboxila está acoplada à adesão do grupo 𝑃𝑖 ao grupo carboxila. O grupo fosfato de alta energia do carbono 1 do 1,3-difosfoglicerato conserva muito da energia livre produzida pelo G3P. A formação do 1,3-difosfoglicerato é um exemplo de fosforilação em nível de substrato na qual a produção de um fosfato de alta energia está acoplada diretamente à oxidação de um substrato, ao invés de resultar da fosforilação oxidativa via cadeia de transporte de elétrons. A energia deste fosfato de alta energia conduz a síntese do ATP na reação seguinte da glicólise. 6.1.2. Síntese do 2,3-difosfoglicerato O 1,3-difosfoglicerato é convertido em 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG) pela ação da difosfoglicerato mutase.O 2,3-DPG, que é encontrado apenas em pequenas quantidades na maioria das células, está presente em alta concentração nos eritrócitos. O 2,3-DPG é hidrolisado por uma fosfatase até 3-fosfoglicerato, que também é um intermediário da glicólise. Na hemácea a glicólise é modificada pela inclusão dessas reações de shunt. 6.2. Formação do ATP a partir do 1,3-difosfoglicerato e ADP O grupo fosfato de alta energia do 1,3-difosfoglicerato é usado para sintetizar ATP a partir de ADP em uma reação catalisada pela fosfoglicerato quinase, a qual, ao contrário da maioria da maioria das outras reações catalisadas por quinases, é reversível. Duas moléculas de 1,3-difosfoglicerato são formadas a partir de cada molécula de glicose. Assim, esta reação da quinase repõe as duas moléculas de ATP consumidas na formação anterior de glicose 6-fosfato e frutose 1,6-difosfato. 6.3. Conversão do 3-fosfoglicerato em 2-fosfoglicerato 12 Esta reação é catalisada pela fosfoglicerato mutase; nela ocorre um deslocamento reversível do grupo fosfato no interior da molécula do substrato. 6.4. Desidratação do 2-fosfoglicerato a fosfoenolpiruvato (PEP) A desidratação do 2-fosfoglicerato é a segunda reação da sequência glicolítica na qual é gerado um composto fosfatado de alta energia. Esta reação é catalisada pela enolase e consiste na remoção reversível de uma molécula de água do 2-fosfoglicerato com a produção de fosfoenolpiruvato (figura 8). Figura 8 Fase geradora de energia: conversão do 2-fosfoglicerato em lactato 13 Embora o 2-fosfoglicerato e o PEP tenham quase que a mesma quantidade de energia, a perda da molécula de água pelo 2-fosfoglicerato provoca uma redistribuição da energia no interior da molécula de tal forma que ocorre um decréscimo maior de energia livre quando o grupo fosfato do PEP é hidrolisado. 6.5. Formação do piruvato O último passo da glicólise é a transferência do grupo fosfato de alta energia do PEP para o ADP e é catalisada pela piruvatoquinase. Esta reação é outro exemplo de fosforilação em nível de substrato. 6.5.1. Regulação para frente (feed-forward) No fígado, a piruvatoquinase é ativada pela frutose 1,6-difosfato, o produto da reação da fosfofrutoquinase. Esta regulação para frente, ao invés de regulação retroativa (feedback), tem o efeito de ligar as atividades das duas quinases: a atividade aumentada da fosfofrutoquinase, resultando em níveis elevados de frutose 1,6-bifosfato, ativa a piruvatoquinase. 6.5.2. Modulação covalente da piruvatoquinase A fosforilação por uma proteína quinase dependente de AMPc leva à inativação da piruvatoquinase no fígado (figura 9). Quando os níveis de glicose no sangue estão baixos, o glucagon elevado aumenta os níveis de intracelulares de AMPc, o qual favorece a fosforilação e inativação da piruvatoquinase. Assim, o PEP é incapaz de continuar na glicólise mas, ao invés, entra na rota gliconeogênica. 14 Figura 9 A modificação covalente da piruvatoquinase resulta na inativação da enzima 7. LEITURA “Uma família de transportadores permite à glicose entrar nas células animais e sair delas” Vários transportadores de glicose participam no movimento termodinamicamente favorável da glicose através das membranas citoplasmáticas das células animais. Cada membro desta família de proteínas, chamados de GLUT1 a GLUT5 (do inglês glucose transporter) é constituído de uma única cadeia polipeptídica com cerca de 500 aminoácidos (quadro 2). Quadro 2. Família de transportadores de glicose 15 Nome Localização em tecido 𝐾𝑚 Comentários GLUT1 Todos os tecidos de mamíferos 1 mM Captação basal de glicose GLUT2 Fígado e células β do pâncreas 15-29 mM No pâncreas desempenha um papel na regulação da insulina GLUT3 Todos os tecidos de mamíferos 1 mM Captação basal de glicose GLUT4 Células musculares e adiposas 5 mM A quantidade na membrana citoplasmática do miócito aumenta durante um treinamento de resistência GLUT5 Intestino delgado _ Principalmente um transportador de frutose Os membros desta família têm papéis distintos: 1. GLUT1 e GLUT3, presentes em quase todos as células de mamíferos, são responsáveis pela captação basal de glicose. Sua 𝑘𝑚 para a glicose é cerva de 1 mM, significativamente menor do que o nível normal de glicose no soro, que tipicamente varia de 4 a 8 mM. Por isso, GLUT1 e GLUT3 transportam continuamente glicose numa velocidade essencialmente constante. 2. GLUT2, presente no fígado e células β do pâncreas, é diferente por ter alta 𝑘𝑚 para a glicose (15-20 mM). Por isso, a glicose só entra nesses tecidos com velocidade biologicamente significativa quando houver muita glicose no sangue. Portanto, o pâncreas pode, desse modo, perceber o nível de glicose e ajustar de acordo com isso a velocidade de secreção de insulina. A insulina sinaliza a necessidade de remover glicose do sangue para armazená-lo como glicogênio ou convertê-la a lipídeos. A alta 𝑘𝑚 da GLUT2 assegura também que a glicose somente adentre rapidamente o fígado no período de saciedade. 16 3. GLUT4, que tem 𝑘𝑚 de5 mM, transporta glicose para dentro das células musculares e adiposas. O número de transportadores GLUT4 na membrana citoplasmática aumenta rapidamente na presença de insulina, que sinaliza o estado de saciedade. Por isso, a insulina promove a captação de glicose pelo músculo e pelo tecido adiposo. O treinamento de resistência a exercícios aumenta a quantidade desse transportador presente nas membranas das células musculares. 4. GLUT5, presente no intestino delgado, funciona primariamente como transportador de frutose. (Fonte: BERG et al., 2008) 8. BIBLIOGRAFIA BERG, J.M., TYMOCZKO, J.L., STRYER, L. Bioquímica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008, 1114p. CHAMPE, P.C., HARVEY, R. A. Bioquímica Ilustrada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, 446p. HELPERN, M. J. Bioquímica. Lisboa: LIDEL. 1997, 619p. LEHNINGER, A. L. Princípios de bioquímica. São Paulo: Sarvier, 1985. 725p. LEHNINGER, A. L., NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de bioquímica. São Paulo: SARVIER. 1995, 839p. MARZZOCO, A., TORRES, B,B. Bioquímica Básica. São Paulo: Guanabara Koogan, 2007. 386p. NELSON, D.L., COX, M.M. Princípios de bioquímica. São Paulo: Sarvier, 2002. 975p. 17 PRATT, C. W., CORNELY, K. Bioquímica essencial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006, 716p.
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