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RESUMO PARA A PROVA Aula 1: Perspectiva histórica da psicologia do desenvolvimento / O que é a psicologia do desenvolvimento. O desenvolvimento humano envolve o estudo de variáveis afetivas, cognitivas, sociais e biológicas em todo ciclo da vida. Desta forma faz interface com diversas áreas do conhecimento como: a biologia, antropologia, sociologia, educação, medicina entre outras. Tradicionalmente o estudo do desenvolvimento humano focou o estudo da criança e do adolescente, ainda hoje muitos dos manuais de psicologia do desenvolvimento abordam apenas esta etapa da vida dos indivíduos (Bee, 1984; Cole & Cole, 2004). O interesse pelos anos iniciais de vida dos indivíduos tem origem na história do estudo científico do desenvolvimento humano, que se inicia com a preocupação com os cuidados e com a educação das crianças, e com o próprio conceito de infância como um período particular do desenvolvimento (Cairns, 1983; Cole & Cole, 2004; Mahoney, 1998). No entanto, este enfoque vem mudando nas últimas décadas, e hoje há um consenso de que a psicologia do desenvolvimento humano deve focar o desenvolvimento dos indivíduos ao longo de todo o ciclo vital. Ao ampliar o escopo de estudo do desenvolvimento humano, para além da infância e adolescência, a psicologia do desenvolvimento acaba por fazer interface também com outras áreas da psicologia. Só para citar algumas áreas temos: a psicologia social, personalidade, educacional, cognitiva. Assim surge a necessidade de se delimitar esse campo de atuação, definindo o que há de específico a psicologia do desenvolvimento humano. A necessidade de se integrar ao estudo do desenvolvimento humano uma perspectiva interdisciplinar, que adote uma metodologia de pesquisa própria, faz com que alguns autores sugiram que o estudo desenvolvimento humano constitua um campo de atuação independente da Psicologia, que tem sido chamado de “ Ciência do Desenvolvimento Humano” (Aspesi, Dessen & Chagas, 2005; Bronfrenbrenner & Evans, 2000). Pesquisadores do desenvolvimento humano concordam que um dos objetos de estudo do psicólogo do desenvolvimento é o estudo das mudanças que ocorrem na vida dos indivíduos. Papalia e Olds (2000), por exemplo, definem desenvolvimento como “ o estudo científico de como as pessoas mudam ou como elas ficam iguais, desde a concepção até a morte” (Papalia & Olds, 2000, p.25). A definição destes autores salienta o fato de que psicólogos do desenvolvimento estudam as mudanças, mas não nos oferece nenhuma informação sobre questões fundamentais ao estudo do desenvolvimento humano. O que muda? Como muda? E quando muda? Estas são perguntas frequentes nas pesquisas sobre o desenvolvimento, e são frequentemente abordadas de forma distintas pelas diferentes abordagens teóricas que descrevem o desenvolvimento humano. Dizer que ao longo do tempo mudanças ocorrem na vida dos indivíduos não nos esclarece estas questões. O tempo é apenas uma escala, não é uma variável psicológica. Portanto, é preciso entender como as condições internas e externas ao indivíduo afetam e promovem essas mudanças (Biaggio, 1978). As mudanças no desenvolvimento são adaptativas, sistemáticas e organizadas, e refletem essas situações internas e externas ao indivíduo que tem que se adaptar a um mundo em que as mudanças são constantes (Papalia & Olds, 2000). Variáveis internas podem ser entendidas como aquelas ligadas à maturação orgânica do indivíduo, as bases genéticas do desenvolvimento. Recentemente, os processos inatos que promovem o desenvolvimento humano voltam a ser discutidos por teóricos do desenvolvimento humano (Cole & Cole, 2004). As variáveis externas são aquelas ligadas à influência do ambiente no desenvolvimento. As abordagens sistêmicas de investigação do desenvolvimento humano há muito chamam atenção para a importância de se entender as diversas interações que ocorrem nos múltiplos contextos em que o desenvolvimento se dá. Incluindo-se nesta discussão uma análise do momento histórico em que o indivíduo se desenvolve. Biaggio (1978) argumenta que a especificidade da psicologia do desenvolvimento humano está em estudar as variáveis externas e internas aos indivíduos que levam as mudanças no comportamento em períodos de transição rápida (infância, adolescência e envelhecimento). Teorias contemporâneas do desenvolvimento aceitam que as mudanças são mais marcadas em períodos de transição rápida, mas mudanças ocorrem ao longo de toda a vida do indivíduo, não só nestes períodos. Portanto, é preciso se ampliar o escopo do entendimento do que é o estudo do desenvolvimento humano. Evolução Histórica da psicologia do desenvolvimento A evolução histórica da psicologia do desenvolvimento humano é comumente sistematizada em fases, cada fase engloba um período de cerca de 10 anos. A seguir segue a divisão de cada fase: 1- Período formativo (1882-1912) O estabelecimento da data de nascimento da psicologia do desenvolvimento é motivo de alguma controvérsia. Em 1882, Preyers (1841-1897) publicou o livro “ The mind of the child” que segundo Cairns (1983) impulsionou as pesquisas na área de desenvolvimento. O autor considera essa publicação como um marco no nascimento da psicologia do desenvolvimento, mas ressalta que as primeiras sociedades para o estudo do desenvolvimento foram criadas também no final do século XIX, e quase ao mesmo tempo em que as primeiras publicações especializadas na área surgiram, tanto na França como nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, Stanley Hall funda o “ Child Research Institute at Clark” e o periódico “ Pedagogical Seminars” em 1891. Na França Binet funda em 1899 a “ Société Libre pour l`Étude de l´Énfant” e o periódico “ LÁnnée Psychologique” . Os interesses de pesquisa nesta época envolviam principalmente a psicobiologia, psicologia da personalidade e desenvolvimento cognitivo. 2- Primeira fase (1920-1939 aproximadamente) Os principais interesses de estudo nesta época foram: o desenvolvimento intelectual, maturação e crescimento. Começa-se a criticar os métodos existentes de pesquisa na área do desenvolvimento humano. Sendo que a maioria das pesquisas ainda usa métodos descritivos e normativos. Há um aumento do interesse por estudos longitudinais e começa-se a discutir a importância do uso deste tipo de metodologia para o estudo do desenvolvimento. Na prática o interesse por esse tipo de delineamento não se concretiza. 3- Segunda fase (1940-1959 aproximadamente) Esta fase foi grandemente influenciada pela depressão de 30 e pelas Guerras que levam a uma escassez de investimentos em pesquisa. O interesse nesta época ainda se concentra no estudo da criança, especialmente no estabelecimento de relações entre variáveis que afetam o desenvolvimento (Cairns, 1983). Desta forma os principais métodos de pesquisa utilizados nesta fase foram os métodos correlacionais. Os avanços teóricos ficam limitados, pois como todos sabem métodos correlacionais não permitem que se estabeleçam relações de causa e efeito entre variáveis (Biaggio, 1978). 4- Terceira fase (1960-1989 aproximadamente) Cairns (1983) afirma que nesta fase verificou-se uma re-emergência das pesquisas no campo do desenvolvimento. Até meados da década de 60 a psicologia do desenvolvimento sofre grande influência da Teoria Behaviorista e dos conceitos de Aprendizagem Social. Observa-se também a re-emergência da Teoria Piagetiana como arcabouço teórico das pesquisas neste campo o conhecimento (Biaggio & Monteiro, 1998). A Revolução Cognitiva atinge a psicologia do desenvolvimento. Vários aspectos da cognição são investigados dentro da Abordagem do processamento de informação. Há um crescente interesse pela psicobiologia e pelas bases biológicas do comportamento. No que diz respeito à metodologia de pesquisa utilizada nesta fase busca-se o estabelecimento das causas do desenvolvimento. Há um aumentoda utilização do método experimental e do uso de técnicas correlacionais associadas a estudos longitudinais. 5- Quarta fase (1990-dias atuais) Novos paradigmas na psicologia do desenvolvimento emergem. O caráter interdisciplinar da disciplina, a importância de se discutir e incorporar nas pesquisas os diversos contextos em que os indivíduos se desenvolvem, inclusive a dimensão histórica do desenvolvimento começa a ser discutida (Dessen & Costa Jr, 2006; Seidl de Moura & Moncorvo, 2006). Cada vez mais o desenvolvimento é estudado ao longo do ciclo vital, ao invés da tradicional ênfase na infância e adolescência. Magnusson e Cairns (1996 apud Aspesi, Dessen & Chagas, 2005) propõem que as mudanças de perspectivas de estudo no desenvolvimento humano constituem uma Ciência do Desenvolvimento Humano, uma disciplina independente que engloba conhecimentos não só da psicologia, mas de outras áreas afins. No Brasil funda-se em 1998 a “ Sociedade Brasileira de Psicologia do Desenvolvimento” . Os objetos de pesquisa anteriores permanecem, mas observa-se um maior interesse por estudos no curso da vida e por abordagens contextuais e sistêmicas como a teoria ecológica de Bronfrebrenner. Quanto aos métodos de pesquisa propõem-se novos paradigmas metodológicos, estudos sistêmicos, longitudinais, transculturais, transgeracionais e multimetodológicos. Vídeo sugerido: https://www.youtube.com/watch?v=XyiN7D9ioqA Aula 2: Infância, Juventude e Adultez enquanto categorias sociais e históricas / Aspectos históricos, sociais e políticos dos paradigmas de proteção de crianças e adolescentes no contexto brasileiro O conceito de infância variou, consideravelmente, ao longo da história universal. Os significados atribuídos a esta fase da vida foram distintos no decorrer do tempo e nas diferentes culturas. Consequentemente, as medidas tomadas em relação a este grupo populacional também assumiram muitas facetas. Já o conceito de adolescência surgiu apenas no século XX, denominado como o “século da adolescência” (ARIÈS, 1981). Por esta razão, a maior parte dos relatos históricos aborda a situação da infância, desconhecendo a especificidade da adolescência tal qual a conhecemos hoje. Como nos revela Áries (1981), em seu clássico livro História social da criança e da família, se na Grécia antiga havia um sentido de mediação entre a fase infantil e a fase adulta, na Idade Média não se observa mais esta passagem. Até o fim da Idade Média, os termos designativos de criança e adolescente eram empregados sem muito critério para meninos e meninas de diferentes idades. Não raro se via em textos da época rapazes de 18 a 20 anos serem denominados de crianças. Para o autor, as concepções de criança e adolescência eram amalgamadas ao sentido de dependência e subalternidade. A concepção de criança era, portanto, bem diferente da atual. Até meados do século XII, por exemplo, as crianças eram representadas nas pinturas e obras de artes como homens em miniatura, com corpos e faces pouco infantis e musculatura adulta. Durante a Idade Média, a criança, tão logo não precisasse mais dos cuidados vitais da mãe ou ama, era incorporada ao universo adulto. Certamente isto não pode ser traduzido como falta de afeição, mas como uma forma de socialização considerada normal para os padrões da época. Como pontua outro historiador da infância, Heywood (2004), houve várias “descobertas” sobre a infância que atribuíram um sentido peculiar a essa fase da vida, como “ondas” de diferenciação social (séculos VI a VII, XII a XIV, XVII ao XX). No embate entre as concepções religiosas e laicas ocorridas ao longo desses séculos, a criança ora foi considerada símbolo da pureza (há um sem-número de representações artísticas nas quais os anjos são caracterizados como crianças gorduchas e rosadas), ou considerada naturalmente inocente, ora vista como fruto do pecado ou potencialmente impura, necessitando ser socializada com rigor e constantemente vigiada em seu desenvolvimento moral. Até mesmo o valor de sua vida era relativo. Ao longo de muitos séculos, e em épocas de altíssima mortalidade infantil, a morte de crianças muito pequenas não era fato inusitado ou mobilizador. As crianças menores “não contavam”, isto é, não eram consideradas, devido ao fato de ser muito provável que morressem. É apenas a partir do século XVII que, nas famílias abastadas francesas e em outros países europeus, com a valorização da vida nas cidades e seus modos corteses, a criança passa a ter um status diferenciado, sendo considerada como “distração” da família. Suas gracinhas, gestos e balbucios seriam vistos como fonte de entretenimento e valorizados por amas e familiares. Entretanto, esta fase era curta, aproximadamente até entre cinco e https://www.youtube.com/watch?v=XyiN7D9ioqA sete anos de idade; logo em seguida, a criança era incorporada ao mundo adulto. As meninas, por exemplo, tinham pouca ou nenhuma educação escolar e, desde muito cedo, eram treinadas para serem esposas, casando-se a partir dos 11 ou 12 anos de idade. Na Idade Média, era comum enviar crianças após os sete anos para serem aprendizes, quando serviriam em casas estranhas, realizando tarefas domésticas e demais afazeres. No que diz respeito à infância, o diferenciador da Modernidade foi a revalorização da educação. O projeto escolar se confundia, em boa parte, com o projeto da reforma religiosa e seus preceitos moralistas. Algumas ordens católicas passaram, também, a se dedicar exclusivamente à missão do ensino. A escola, a partir do final do século XVII, incorporou a disciplina como eixo central da interlocução com os educandos e como mecanismo de adesão das famílias ao projeto escolar, cujo ciclo envolveria cerca de quatro anos. Dessa maneira, a infância seria agora prolongada enquanto durasse tal ciclo. Na Linha do tempo, anexada ao final deste capítulo, detalhamos, com base na trajetória histórica da criança e do adolescente no Brasil, os caminhos traçados e as mudanças de paradigmas que hoje se manifestam na proteção e na garantia dos direitos infanto-juvenis. Como vemos, inegáveis avanços são hoje notados e garantidos em tratados e leis de abrangência internacional. Porém, tais avanços convivem com inúmeras formas de violação da infância e da adolescência, que são banalizadas e reproduzidas no cotidiano de muitas sociedades. Portanto, não podemos pensar no passado como se fosse uma fase superada e extinta. A depender da cultura ou de determinado grupo social, tradições seculares são ainda hoje mantidas, mesmo à revelia dos padrões contemporâneos ocidentais de proteção à infância e à adolescência. Uma vez que a noção sobre a infância tem variado profundamente ao longo dos séculos e nas diferentes culturas, e que a concepção de adolescência só foi elaborada mais recentemente, as maneiras de atender às necessidades e demandas sociais relacionadas a essas fases da vida também têm sido variáveis. Video sugerido: https://www.youtube.com/watch?v=c0L82N1C7AQ Aula 3: Introdução à Psicologia do Desenvolvimento Esta área de conhecimento da Psicologia estuda o desenvolvimento do ser humano em todos os seus aspectos: físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e social — desde o nascimento até a idade adulta, isto é, a idade em que todos estes aspectos atingem o seu mais completo grau de maturidade e estabilidade. Existem várias teorias do desenvolvimento humano em Psicologia. Elas foram construídas a partir de observações, pesquisas com grupos de indivíduos em diferentes faixas etárias ou em diferentes culturas, estudos de casos clínicos, acompanhamento de indivíduos desde o nascimento até a idade adulta. Dentre essas teorias, destaca-se a do psicólogo e biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), pela sua produção contínua de pesquisas, pelo rigor científico de sua produção teórica e pelas implicações práticas de sua teoria,principalmente no campo da Educação. A teoria deste cientista será a referência, neste capítulo, para compreendermos o desenvolvimento humano, para respondermos às perguntas como e por que o indivíduo se comporta de determinada forma, em determinada situação, neste momento de sua vida. https://www.youtube.com/watch?v=c0L82N1C7AQ O desenvolvimento humano refere-se ao desenvolvimento mental e ao crescimento orgânico. O desenvolvimento mental é uma construção contínua, que se caracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Estas são formas de organização da atividade mental que se vão aperfeiçoando e solidificando até o momento em que todas elas, estando plenamente desenvolvidas, caracterizarão um estado de equilíbrio superior quanto aos aspectos da inteligência, vida afetiva e relações sociais. Algumas dessas estruturas mentais permanecem ao longo de toda a vida. Por exemplo, a motivação está sempre presente como desencadeadora da ação, seja por necessidades fisiológicas, seja por necessidades afetivas ou intelectuais. Essas estruturas mentais que permanecem garantem a continuidade do desenvolvimento. Outras estruturas são substituídas a cada nova fase da vida do indivíduo. Por exemplo, a moral da obediência da criança pequena é substituída pela autonomia moral do adolescente ou, outro exemplo, a noção de que o objeto existe só quando a criança o vê (antes dos 2 anos) é substituída, posteriormente, pela capacidade de atribuir ao objeto sua conservação, mesmo quando ele não está presente no seu campo visual. - A importância do estudo do desenvolvimento humano A criança não é um adulto em miniatura. Ao contrário, apresenta características próprias de sua idade. Compreender isso é compreender a importância do estudo do desenvolvimento humano. Estudos e pesquisas de Piaget demonstraram que existem formas de perceber, compreender e se comportar diante do mundo, próprias de cada faixa etária, isto é, existe uma assimilação progressiva do meio ambiente, que implica uma acomodação das estruturas mentais a este novo dado do mundo exterior. Estudar o desenvolvimento humano significa conhecer as características comuns de uma faixa etária, permitindo-nos reconhecer as individualidades, o que nos torna mais aptos para a observação e interpretação dos comportamentos. Todos esses aspectos levantados têm importância para a Educação. Planejar o que e como ensinar implica saber quem é o educando. Por exemplo, a linguagem que usamos com a criança de 4 anos não é a mesma que usamos com um jovem de 14 anos. - Fatores que influenciam o desenvolvimento humano Hereditariedade — a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não se desenvolver. Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos da inteligência. No entanto, a inteligência pode desenvolver-se aquém ou além do seu potencial, dependendo das condições do meio que encontra. Crescimento orgânico — refere-se ao aspecto físico. O aumento de altura e a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos e um domínio do mundo que antes não existiam. Pense nas possibilidades de descobertas de uma criança, quando começa a engatinhar e depois a andar, em relação a quando esta criança estava no berço com alguns dias de vida. Maturação neurofisiológica — é o que torna possível determinado padrão de comportamento. A alfabetização das crianças, por exemplo, depende dessa maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo como nós, é necessário um desenvolvimento neurológico que a criança de 2, 3 anos não tem. Meio — o conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito intensa, uma criança de 3 anos pode ter um repertório verbal muito maior do que a média das crianças de sua idade, mas, ao mesmo tempo, pode não subir e descer com facilidade uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua experiência de vida. - Aspectos do desenvolvimento humano Aspecto físico-motor — refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo. Exemplo: a criança leva a Chupeta à boca ou consegue tomar a mamadeira sozinha, por volta dos 7 meses, porque já coordena os movimentos das mãos. Aspecto intelectual — é a capacidade de pensamento, raciocínio. Por exemplo, a criança de 2 anos que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo que está embaixo de um móvel ou o jovem que planeja seus gastos a partir de sua mesada ou salário. Aspecto afetivo-emocional — é o modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências. É o sentir. A sexualidade faz parte desse aspecto. Exemplos: a vergonha que sentimos em algumas situações, o medo em outras, a alegria de rever um amigo querido. Aspecto social — é a maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas. Por exemplo, em um grupo de crianças, no parque, é possível observar algumas que espontaneamente buscam outras para brincar, e algumas que permanecem sozinhas. Se analisarmos melhor cada um desses exemplos, vamos descobrir que todos os outros aspectos estão presentes em cada um dos casos. E é sempre assim. Não é possível encontrar um exemplo “puro”, porque todos estes aspectos relacionam-se permanentemente. Por exemplo, uma criança tem dificuldades de aprendizagem, repete o ano, vai-se tornando cada vez mais “tímida” ou “agressiva”, com poucos amigos e, um dia, descobre-se que as dificuldades tinham origem em uma deficiência auditiva. Quando isso é corrigido, todo o quadro reverte- se. A história pode, também, não ter um final feliz, se os danos forem graves. Todas as teorias do desenvolvimento humano partem do pressuposto de que esses quatro aspectos são indissociados, mas elas podem enfatizar aspectos diferentes, isto é, estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos aspectos. A Psicanálise, por exemplo, estuda o desenvolvimento a partir do aspecto afetivo- emocional, isto é, do desenvolvimento da sexualidade. Jean Piaget enfatiza o desenvolvimento intelectual. Vídeo sugerido: https://youtu.be/7GEV7HOsETM Aula 4: Sigmund Freud e o desenvolvimento da Psicanálise Sigmund Freud é conhecido como o “pai da psicanálise”, por conta da sua extensa contribuição para o surgimento desse campo clínico que tem enfoque na psique humana. Formulou teorias como a do “id, ego e superego” e a do “complexo de Édipo”, que até hoje possuem enorme importância e são extensamente debatidas pelos psicanalistas. https://youtu.be/7GEV7HOsETM As contribuições de Freud, porém, não se resumem ao campo da psicanálise, uma vez que suas teorias repercutiram bastante no campo científico e influenciaram diretamente áreas como a psicoterapia. A obra de Freud também repercutiu até em campos como a filosofia e a literatura. Até hoje alguns dos métodos de tratamento criados por Freud são utilizados por psiquiatras. - Psicanálise Depois de ter contato com a hipnose como forma de tratamento, Freud procurou utilizá-la em seus pacientes. Isso aconteceu depois de ter aberto um consultório em Viena para tratar de “doenças nervosas”. O contato com a hipnose levou Freud a concluir, tempos depois, que as doenças mentais eram, de fato, causadas por distúrbios em uma parte que ele chamou de inconsciente. Freud passou a defender a ideia de que a forma de tratar essas doenças deveria acontecer por meio das palavras. Inicialmente, Freud hipnotizava seus pacientes e os incentivava a falar sobre todos os seus traumas. Esse procedimento ficou conhecido como “cura pela palavra” e foi resultado da influência de um neurologista chamado Josef Breuer. Breuer era um dos mais importantes neurologistas de Viena, e o relato dele a respeito de uma de suas pacientes teve grande impacto em Freud. Essa paciente, que sofriade depressão, era Bertha Pappenheim, também conhecida como Anna O. Breuer hipnotizava sua paciente e a orientava a falar sobre os seus sintomas e traumas, tendo como resultado a melhora do quadro de Anna O. Após esse caso, Freud passou a aplicar a “cura pela palavra” em seus próprios pacientes. Ele os incentivava a falar sobre os traumas e anotava tudo o que era dito pelos seus pacientes. Com o tempo, começou a identificar que a parte consciente da mente humana não tinha acesso a todas as lembranças e grande parte dos pensamentos ficava reprimida no “inconsciente”. Assim, o tratamento por meio da psicanálise só seria de fato eficaz se fosse possível acessar os pensamentos e traumas do inconsciente, levando-os para a consciência do paciente. Os atendimentos realizados por Freud aconteciam em um apartamento localizado no mesmo prédio (Berggasse 19) que ficava sua casa. Freud colocava seus pacientes em um sofá (chamado de divã), em uma posição em que não havia contato visual com os pacientes. Os resultados foram mostrando-se satisfatórios, e Freud começou a ganhar popularidade. Esses resultados foram importantes porque conseguiram provar a teoria de Freud a respeito da existência do inconsciente na mente humana. - Teoria do desenvolvimento psicossexual - Fase Oral (nascimento até 1 ano de vida): No primeiro estágio do desenvolvimento da personalidade, a libido é centrada na boca do bebê. Ele fica muito satisfeito ao colocar todo tipo de coisa em sua boca para satisfazer a libido. Isso significa que nesta fase da vida, seus prazeres são orais ou orientados para a boca, como sucção, mordida e amamentação. Como vimos, Freud disse que a frustração em obter esta satisfação, ou a estimulação oral exagerada pode levar a uma fixação oral mais tarde na vida. As pessoas que podem ter esta “personalidade oral” seriam os fumantes, os roedores de unhas e chupadores de polegar. Estas pessoas se envolvem em tais comportamentos orais, principalmente quando estão sob estresse. - Fase anal (1 à 3 anos): Segundo Freud, nesta fase a libido se concentra no ânus, e a criança sente grande prazer em defecar. A criança agora está plenamente consciente de que é uma pessoa por si só, e que seus desejos podem colocá-la em conflito com as demandas do mundo exterior (ou seja, seu ego se desenvolveu). Freud acreditava que esse tipo de conflito tende a surgir no treinamento do uso do vaso sanitário, no qual os adultos impõem restrições sobre quando e onde a criança pode defecar. A natureza desse primeiro conflito com a autoridade pode determinar o futuro relacionamento da criança com todas as formas de autoridade. O treinamento precoce ou rigoroso com o vaso sanitário pode levar a criança a se tornar uma personalidade anal- retentiva. Este tipo de personalidade é a que odeia a bagunça, é obsessivamente arrumada, pontual e respeitosa da autoridade. Eles podem ser teimosos e rígidos no trato com o dinheiro e suas posses. Tudo isso está relacionado ao prazer de segurar as fezes quando crianças. A mãe então insiste que a criança se livre dessas fezes de modo adequado, colocando-a no vaso sanitário até que se aliviem! Perceba que este conceito não é tão tolo quanto parece. A personalidade anal-expulsiva, por outro lado, passou por um regime liberal de treinamento do banheiro durante o estágio anal. Na idade adulta, o anal expulsivo é a pessoa que deseja compartilhar as coisas com você. Eles gostam de doar coisas. Em essência, eles não estão retendo de si, mas expulsando e ‘compartilhando’ de si com o mundo. Interessante notar que, se essa liberalidade for demasiada, esta pessoa anal- expulsiva pode se tornar confusa, desorganizada e rebelde. - Fase fálica (3 à 6 anos): A sensibilidade agora na fase fálica se concentra nos órgãos genitais, e a masturbação (em ambos os sexos) se torna uma nova fonte de prazer. A criança toma consciência das diferenças anatômicas sexuais, que desencadeiam o conflito entre atração erótica, ressentimento, rivalidade, ciúme e medo. Freud chamou isso de complexo de Édipo nos meninos, e complexo de Electra nas meninas. Esse conflito é resolvido através do processo de identificação, no qual a criança adota as características dos pais do mesmo sexo. “Complexo de Édipo” O aspecto mais importante da fase fálica é o complexo de Édipo. O nome do complexo de Édipo deriva do mito grego em que Édipo, um jovem, mata seu pai e se casa com sua mãe. Ao descobrir isso, ele abre os olhos e fica cego. Este Édipo é o termo genérico (isto é, geral) para os complexos Édipo e Electra. No menino, o conflito de Édipo surge porque ele desenvolve desejos sexuais (agradáveis) para com sua mãe. Ele quer “possuir” sua mãe exclusivamente. Para isso, ele deseja (irracionalmente) se livrar do pai para que possa atender a esse desejo. O garoto então (inconscientemente) entende que, se o pai descobrisse tudo isso, o pai levaria o que mais ama. Durante a fase fálica, o que o garoto mais ama é o pênis. Portanto, o menino desenvolve ansiedade de castração. O menino então decide resolver esse problema imitando, copiando e participando de comportamentos masculinos do pai. Isso se chama identificação, e é assim que o menino de três a cinco anos resolve seu complexo de Édipo. Identificação significa adotar internamente os valores, atitudes e comportamentos de outra pessoa. A consequência disso é que o menino assume o papel de gênero masculino e adota um ideal e valores do ego que se tornam o superego. Freud ofereceu o estudo de caso Little Hans como evidência do complexo de Édipo. - Período de latência (6 a 11 anos): Latente significa “oculto”. Isso significa que nesta fase não há mais desenvolvimento psicossexual. A libido está adormecida. Freud pensou que a maioria dos impulsos sexuais é reprimida durante o estágio latente. Assim, a energia sexual é sublimada. Isso quer dizer que grande parte da energia da criança é canalizada para o desenvolvimento de novas habilidades e a aquisição de novos conhecimentos. E nesta fase, as brincadeiras são feitas em sua maioria com outras crianças do mesmo sexo. - Fase genital (puberdade para adulto): Este é a última fase da teoria do desenvolvimento psicossexual de Freud e começa na puberdade. É um momento de experimentação sexual adolescente, cuja resolução bem- sucedida é estabelecer um relacionamento amoroso com outra pessoa nos nossos 20 anos. O instinto sexual é direcionado ao prazer heterossexual, ao invés do prazer próprio, como no estágio fálico. Para Freud, a saída apropriada do instinto sexual em adultos era por meio de relações heterossexuais. Fixação e conflito podem impedir isso, tendo como consequência as perversões sexuais. Por exemplo, a fixação no estágio oral pode resultar em uma pessoa obtendo prazer sexual principalmente por beijos e sexo oral, em vez de relações sexuais. Vídeo Sugerido: https://www.youtube.com/watch?v=uJcEEdD1g4c / https://www.youtube.com/watch?v=faalNbchEos Aula 5: Erik Erikson: Teoria do desenvolvimento psicossocial https://www.youtube.com/watch?v=uJcEEdD1g4c https://www.youtube.com/watch?v=faalNbchEos A Teoria Psicossocial surgiu no seio da corrente psicanalítica, compartilhando importantes conceitos e fundamentos psicanalíticos, sendo apresentada nos livros de Bee (2003) e Papalia e Feldman (2013) em capítulos que tratam da Teoria Psicanalítica. Essa proximidade com a teoria freudiana é inegável, sendo necessário retornarmos a ela para avançarmos na compreensão da teoria eriksoniana. A tradição psicanalítica compreende o comportamento como processos subjacentes a psique (termo grego que pode significar alma, espírito ou mente), tendo Sigmund Freud como principal referência.O pensamento chave dessa tradição é que “o comportamento é governado por processos tanto inconscientes como conscientes. Segundo Bee (2003, p. 46): “alguns desses processos inconscientesestão presentes no nascimento, outros se desenvolvem ao longo do tempo”. Nessa tradição, a personalidade tem uma estrutura psíquica que se desenvolve, segundo o referido autor (idem), ao longo do tempo, dividida em três partes: [...] o id, que é o centro da libido [impulso sexual instintivo]; o ego, elemento mais consciente, o executivo da personalidade; e o superego, que é o centro da consciência e da moralidade, uma vez que incorpora as normas e as limitações morais da família e sociedade. Essas três partes estão presentes desde o nascimento, contudo, se manifestam à medida que o corpo passa por um processo natural de maturação do sistema nervoso central (à medida que crescemos). Ao nascer somos puramente id, guiados pelos instintos básicos de sobrevivência; por volta dos dois anos começamos a desenvolver o ego, quando começamos a nos diferenciar do restante do mundo; posteriormente desenvolvemos o superego, à medida que internalizamos as regras, valores e costumes da nossa sociedade. Esse desenvolvimento se dá em fases, sendo caracterizadas pelo desvio da libido para regiões diferentes do corpo mais estimuladas em idades específicas (oral, anal, fálica, latência e genital) (BEE, 2003). Para reforçar a proximidade do pensamento eriksoniano com a psicanálise Bee (2003, p. 305) destaca quatro proposições que são comuns às duas teorias: Para Carpigiani (2010), o desenvolvimento, segundo Erikson, ocorre como resultado da integração de três dimensões inerentes ao homem: a dimensão biológica; a dimensão social e a dimensão individual. A dimensão biológica é a base para o desenvolvimento, é ela que alicerça o desenvolvimento de qualquer ser vivo, é sobre essa base que ocorre o desenvolvimento das demais dimensões, em um processo chamado por ele de Principio Epigenético, afirma Carpigiani (2010, p. 4): [a] o comportamento é governado por processos conscientes e inconscientes [...]; [b] a estrutura da personalidade se desenvolve ao longo do tempo, como resultado da interação entre impulsos/necessidades inatas da criança e respostas das pessoas essenciais ao seu mundo [...]; [c] o desenvolvimento da personalidade se dá fundamentalmente em estágios [...]; e [d] a personalidade que uma criança desenvolve depende do grau de sucesso que alcança ao avançar esses vários estágios. [...] Epigênese significa que algo se desenvolve sobre outra coisa no espaço e no tempo. [...]Significa dizer que todo ser vivo está apoiado sobre uma base que proporciona potencialmente o desenvolvimento de funções determinadas. É o suporte biológico que sustenta o plano psicológico. A dimensão social se desenvolve nas relações culturais em que o bebê está inserido. A satisfação de suas necessidades iniciais, seus instintos se dará na relação com o outro. Conforme o referido autor (idem, p. 5): “esse processo de organização das pulsões se dá de diferentes formas de acordo com a família, sociedade e cultura”. A dimensão individual é responsável por articular os elementos que constituem a dimensão biológica e a dimensão social, é essa articulação pessoal que garantirá ao sujeito a sua identidade. Essa dimensão está ligada ao conceito de ego, indispensável para a fundamentação da teoria eriksoniana. Para Carpigiani (ibidem), a ideia das três dimensões [...] nos ajuda a compreender o desenvolvimento psicológico saudável e a explicação para a infinita capacidade de adaptabilidade do ser humano. [...] O homem evolui porque precisa manter-se em equilíbrio, portanto, deve estabelecer continuidade e sentido para os conflitos que experimenta ao longo de sua vida. O ego assumiu uma posição central na teoria psicossocial. Erikson compreende que ele se desenvolve na relação de interdependência entre a organização interna e a social, integrando a história vivenciada e estabelecendo continuidade nas experiências afetivas desde muito cedo, caracterizando a capacidade do homem de unificar de modo adaptativo sua experiência e sua ação. Para Rabello e Passos (2001), o principal avanço apresentado por Erikson foi a compreensão do ser humano como um ser social, antes de tudo, que vive em grupo, sofre pressão e influência deste. Ele desviou o foco da sexualidade para as relações sociais, propondo que o desenvolvimento ocorre em estágios psicossociais que vão além da infância, pois a personalidade não é totalmente desenvolvida nessa etapa, sendo modificada em etapas posteriores Eles acrescentam que para Erikson o indivíduo cresce articulando exigências internas do ego com existências externas do meio em que vive. Em cada estágio, o ego passa por uma crise que nomeia esse estágio. Quando o desfecho é positivo ocorre uma ritualização do comportamento, gerando um ego mais forte e rico, pronto para encarar situações de crise semelhantes, quando o desfecho é negativo ocorre um ritualismo, fragilizando o ego, tornando-o pouco apto para situações de crise. A personalidade se forma no decorrer das crises, reformulando-se de acordo com as experiências vividas. - Estágios do Desenvolvimento de Erik Erikson: O primeiro estágio – Confiança básica versus Desconfiança básica – psicossocial corresponde ao período entre o nascimento e os primeiros 18 meses de vida do bebê. A atenção dele está voltada para a mãe, que satisfaz suas necessidades e desejos em uma margem de tempo suportável fazendo-o compreender que não está abandonado à própria sorte (em alguns casos outra pessoa assume esse papel). Quando o bebê vivencia essa fase de forma harmoniosa, recebendo carinho e atenção dos seus provedores ele desenvolve o sentimento de confiança básica, quando esses anseios não são correspondidos de maneira satisfatória o sentimento desenvolvido é o da desconfiança básica. O segundo estágio – Autonomia versus Vergonha, dúvida – psicossocial ocorre entre os primeiros 18 meses de vida e os 03 anos de idade. Nessa fase, a criança está com maior mobilidade, iniciando o desenvolvimento do senso de independência e/ou autonomia. Esse período necessita de orientação dos pais para evitar que a criança vivencie sucessivos fracassos gerando um sentimento de vergonha (raiva de si mesmo) e dúvida ao invés do autocontrole e autovalor (BEE, 2003). Rabello e Passos (2001) acrescentam que nessa etapa a criança começa a assimilar regras sociais compreendendo alguns privilégios, obrigações e limitações, aprendendo a se controlar. Novamente os autores reforçam a importância do equilíbrio entre experimentações positivas e negativas para o desenvolvimento saudável do ego. É esperado que nessa etapa a criança desenvolva a força básica da vontade. O terceiro estágio – Iniciativa versus Culpa – se dá entre os 03 e 06 anos de idade, quando a crianças ingressa na escola. Nessa etapa, é esperado que a criança tenha desenvolvido a confiança, o controle e a autonomia, presentes nas etapas anteriores. Unindo confiança e autonomia a criança desenvolve a determinação, imprescindível para o senso de iniciativa. De acordo com Rabello e Passos (2001), a criança tem um crescimento intelectual, reflexo do seu ingresso na escola, que é essencial para a sua capacidade de planejamento e organização, desenvolvendo como virtude o propósito. Quando seus planos não se concretizam a criança tende a direcionar sua energia para a fantasia, tentando compensar, de algum modo, a culpa por não os realizar. Normalmente, tais objetivos se dão no plano sexual e na fase adulta essa frustração pode resultar em patologias ou ser expressa pela somatização dos conflitos. A criança, ao se sentir culpada pode também desenvolver ansiedade por atividades futuras. Assim, Rabello e Passos destacam a importância de os pais explicarem às crianças que algumas atividades não podem ser desenvolvidas por elas, ainda, estimulando o treino dessas atividades na infância para quando estiverem aptas. O quarto estágio– Diligência versus Inferioridade – ocorre entre os 06 anos de idade e a puberdade. Nesta etapa do desenvolvimento, a criança começa a desenvolver o controle pela atividade, tanto física quanto intelectual, adaptando-se às regras e métodos do sistema formal de ensino, tendo suas principais relações sociais na escola. Ela aprende o que é valorizado no mundo adulto, e tenta se adaptar a ele, projetando-se no futuro. Assim, ela desenvolve a ideia de perseverança, compreendendo que podem existir recompensas em longo prazo. Nesse contexto, ele começa a se interessar pelo trabalho, realizando diferentes tarefas e sentindo que adquiriu habilidade quando consegue fazer com competência e sentindo prazer por tal. É essa sensação de prazer que impede o ego de regredir ou se sentir inferior. O quinto estágio – Identidade versus Confusão de Papéis – aborda a crise de identidade vivenciada durante a adolescência. Essa etapa é marcada por transformações físicas e psicológicas requerendo do adolescente segurança para passar por todas elas (RABELLO e PASSOS, 2001). Essa segurança vem da integração realizada pelo ego na forma da identidade do ego, que é mais que a soma das identificações da infância e diz respeito, segundo Carpigiani (2010, p. 16): “à experiência acumulada da capacidade do ego para integrar todas as identificações realizadas mais as aptidões naturais da pessoa mais as oportunidades oferecidas pelas funções sociais”. Rabello e Passos (2001) concordam com Bee (2003) ao afirmar que a confusão de identidade tem início com a necessidade de encontrar um papel social, o que faz o adolescente mudar sua atitude muitas vezes e remodelar sua personalidade em um curto período de tempo, buscando integração em algum grupo de seu interesse. Durante essa etapa, ele pode se sentir vazio, isolado, ansioso, o que pode levá-lo a uma regressão, ou fazê-lo projetar suas tendências em outras pessoas por não suportar sua identidade. Quanto melhor ele tiver passado pelas etapas anteriores, maior a possibilidade de estabilização da sua identidade. No sexto estágio – Intimidade versus Isolamento – o indivíduo, agora um adulto jovem, deve estar pronto para unir a sua identidade a de outra pessoa sem se sentir ameaçado. Para isso, é preciso que ele tenha vivenciado as fases anteriores de forma positiva, construindo um ego forte, saudável e autônomo que aceite conviver com outro ego sem se sentir anulado ou ameaçado. Quando o ego não está suficientemente seguro, o indivíduo pode preferir o isolamento em detrimento da intimidade. O risco nessa etapa é o adulto jovem desenvolver o elitismo, restringindo seus contatos sociais a indivíduos com personalidades parecidas. Para Carpigiani (2010), Erikson compreendia que o adulto jovem precisava estar preparado para a intimidade, estabelecendo ligações afetivas duradouras e com força ética suficiente para ser fiel a essas ligações, mesmo que elas imponham compromissos significativos, desenvolvendo a virtude do amor. Ela salienta que o isolamento é importante, o adulto jovem precisa suportar estar sozinho, assim como estar em um relacionamento. O sétimo estágio – Generatividade versus Estagnação – diz respeito à vida adulta intermediária sendo, talvez, o período mais longo entre os oito estágios. Nessa etapa, o dilema existente é entre generatividade e estagnação. De acordo com Carpigiani (2010, p. 17), quando o desenvolvimento do ego se deu de forma saudável nas etapas anteriores o indivíduo deve estar apto para “enfrentar desafios, cuidar dos bens conquistados e fazer a manutenção das relações afetivas”. É nessa etapa que ocorre a construção da família, a expansão profissional e o envolvimento e cuidado com uma nova geração (definido como generatividade). Contudo, à medida que o indivíduo envelhece o seu envolvimento com as novas gerações pode se perder, o que gera o sentimento de estagnação, por não se sentirem mais necessários. O oitavo e último estágio – Integridade do Ego versus Desespero – corresponde à vida adulta tardia. Nesse momento da vida Erikson compreendia que o ser humano refletia sobre sua vida, o que fez e o que deixou de fazer. Rabello e Passos (2001) escrevem que esse processo se dá de duas formas: a pessoa pode entrar em desespero ao ver que a morte está mais próxima, compreendendo que seu tempo acabou que não pode fazer mais nada pela família e pela sociedade, vivenciando a velhice em eterna nostalgia e tristeza; ou, a pessoa sente que cumpriu com seu dever, experimentando os sentimentos de dignidade e integridade. Carpigiani (2010) salienta que esses sentimentos podem ser maximizados ou minimizados pela cultura, dependendo do papel que o velho ocupa em cada sociedade e sua importância. A virtude desenvolvida nessa etapa é a sabedoria. Vídeo Sugerido: https://www.youtube.com/watch?v=0QsY7Pf8v8Q https://www.youtube.com/watch?v=0QsY7Pf8v8Q
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