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Monalisa Cirqueira - MEDUFOB Monalisa Cirqueira - MEDUFOB PRÉ-ECLÂMPSIA/ECLÂMPSIA PRÉ-ECLÂMPSIA: a HA surge após 20s de gestação + proteinúria e/ou outros sinais e sintomas de disfunção orgânica, por má adaptação do organismo materno devido a uma série de fatores genéticos, imunológicos e, principalmente, uma segunda onda trofoblástica inadequada ou inexistente. Desaparece em até 12s após o parto Obs.: o aumento rápido de peso, edema facial ou outros sintomas sugestivos da doença requerem um rastreamento para pré-eclâmpsia! FATORES DE RISCO · Primiparidade 2x maior · Extremos de idade (adolescentes e +35 anos) · Obesidade · História familiar de DHEG (3x) e em gestação pregressa (8x) · Hipertensão crônica · Gestação múltipla · Doença trofoblástica gestacional pode surgir antes de 20s · Hidropsia fetal · DM · Doença renal crônica · Colagenoses · Trombofilias · Mulheres negras · Longo intervalo interpartal · Troca de parceiro e nova gravidez OBS.: a exposição ao sêmen do parceiro diminui o risco de pré-eclâmpsia. Ao passo que, a troca de parceiro e o uso de preservativo (pela menor exposição ao antígeno do pai) aumentam a probabilidade da doença. PROFILAXIA PARA AS PACIENTES DE RISCO AUMENTADO Profilaxia com AAS: em baixas doses (75-150mg/dia) introduzido no 1 trimestre até 16 semanas (após isso não tem benefício) e mantém até o parto. Cálcio sérico baixo: 1-2g de cálcio por dia. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS I – HIPERTENSÃO · PAS ≥ 140 mmHg · E/OU · PAD ≥ 90 mmHg As medidas devem ser feitas em dois tempos, com a paciente sentada e em repouso, com um intervalo mínimo de 4 horas entre elas e, no máximo de 7 dias, para confirmação. II – PROTEINÚRIA · Urina de 24hrs: proteinúria ≥ 300mg/L/24h · Proteína em fita: + em pelo menos duas aferições OU 2+ ou mais em qualquer amostra isolada · Relação proteinúria/creatinúria: valores > 0,3g em coleta única de urina E na ausência de proteinúria? Considerar pré-eclâmpsia quando a elevação da PA vir acompanhada de cefaleia, alterações visuais, dor abdominal, plaquetopenia e aumento de enzimas hepáticas. Mas, e o EDEMA? Algumas literaturas não consideram mais como critério diagnóstico, mas é importante observar, principalmente, edema de mãos e face. Além disso, o ganho ponderal súbito ≥ 500g/semana chama atenção para o sinal de edema oculto. FISIOPATOLOGIA Sabe-se que é multifatorial e não está totalmente conhecida, tendo sido descrito fatores imunológicos, genéticos e psicológicos, como o estresse. TEORIA DA PLACENTAÇÃO ANORMAL NORMALMENTE nas gestações, as artérias espiraladas uterinas deixam de ser vasos de alta resistência e passam a ser vasos de baixa resistência para permitir uma adequada implantação e crescimento do feto. Isso ocorre pela invasão trofoblástica da camada muscular das artérias, pelo sinciciotrofoblasto até, aproximadamente, o final da 20s. Na pré-eclâmpsia, a invasão trofoblástica deixa de ocorrer ou ocorre inadequadamente. Isso faz com que os vasos fiquem com alta resistência e a circulação placentária fique com baixo fluxo isquemia placentária e a hipóxia causam lesões endoteliais, agregação plaquetária e obstrução do fluxo sanguíneo placentário. · Além disso, a síntese de prostaciclina (vasodilatador) e de óxido nítrico está prejudicada · Pode evoluir para manifestações graves: · Eclampsia: surgem convulsões tônico-clônicas generalizadas e/ou coma · Sx HELLP: hemólise + elevação das enzimas hepáticas + plaquetopenia Tabela adaptada - Zugaib APRESENTAÇÃO CLÍNICA DHEG LEVE Possui hipertensão, proteinúria, edema e/ou hiperuricemia (ácido úrico >/= 6mg/dL), sem a presença de sinais e sintomas característicos da DHEG grave (ver abaixo). DHEG GRAVE É a DHEG com a presença de qualquer um dos seguintes sinais e sintomas (iminência de eclampsia): · PA ≥ 160 x 110 mmHg – persistindo em duas medidas com intervalo mínimo de 1 a 2 horas · Proteinúria ≥ 2g/24h ou 2+ na proteína de fita Ministério da Saúde · Oligúria < 500mL/24h ou 25 mL/h Ministério da Saúde · Creatinina sérica ≥ 1,2 mg/dL · Manifestações cerebrais e visuais: cefaleia, torpor, turvação, escotomas, diplopia, amaurose encefalopatia hipertensiva · Edema agudo de pulmão ou cianose · Dor epigástrica ou em hipocôndrio direito · Evidência clínica ou laboratorial de coagulopatia · Plaquetopenia (< 100.000) · Achados característicos de Sx HELLP · Presença de esquizócitos em esfregaço sanguíneo Outros sinais que podem sugerir o diagnóstico: AVE, sinais de insuficiência cardíaca ou cianose; presença de RCIU e/ou oligohidrâmnio Cefaleia + epigastralgia + alterações visuais iminência de eclâmpsia! ECLÂMPSIA Surgimento de crise convulsiva tônico-clônica generalizada e/ou coma em pacientes com qualquer quadro hipertensivo, afastando qualquer outra doença convulsiva. · Pode ocorrer na gravidez, no parto e no puerpério imediato · Algumas pacientes podem entrar em coma sem antes apresentarem convulsão eclâmpsia branca; · As convulsões são autolimitadas, com duração de 2-3 min, precedidas de sinais como cefaleia, alterações visuais, epigastralgia e dor no QSD do abdome. Medidas importantes: colocar a paciente em decúbito lateral esquerdo (DLE), ofertar oxigênio e proteger contra traumas. SÍNDROME HELLP É considerada uma complicação da pré-eclâmpsia e deve ter uma avaliação serial de 12-24h ou mais frequente, se necessário. I – HEMÓLISE · BT > 1,2mg%; DHL > 600 U/I; Esfregaço periférico anormal esquizócitos hemólise microangiopática II – ELEVAÇÃO DAS ENZIMAS HEPÁTICAS · TGO ou TGP > 70 U/I MS usa o valor de 60 como referencial III – PLAQUETOPENIA · Plaquetas < 100.000/mm3 · Nesse cenário de plaquetopenia, solicitar TP, TTPA e fibrinogênio CONDUTA · Se feto viável e >/= 34s parto vaginal ou cesárea em 24h · Se entre 24s e 34s devem fazer uso de corticoide, mesmo se o parto não puder ser adiado em 24-48h parto abdominal · Plaquetas abaixo de 50.000, indica-se reposição com 6 UI de plaquetas se parto abdominal CONDUTA Depende da gravidade e da idade gestacional! PRÉ-ECLÂMPSIA LEVE O parto pode acontecer em 40s. Não há indicação de cesárea! No momento do diagnóstico, é preciso internar por 24-48h para avaliação laboratorial e investigar a Sx HELLP. Devem ser mantidas com dieta normossódica e repouso relativo. · Se exames normais, pode dar alta e acompanhar ambulatorialmente de forma semanal. EXAMES DE ROTINA · PA de 4/4h durante o dia · Pesagem diária · Pesquisa de sintomas de iminência de eclâmpsia: cefaleia, distúrbios visuais e dor abdominal · Hiperreflexia · Urina de 24hrs e/ou proteína de fita · Hemograma · Ureia e creatinina · Ácido úrico · DHL · AST e ALT · BT e frações · Coagulograma OBS.: o hemograma pode vir com Hb e Ht elevados, devido a hemoconcentração resultante do edema e perda de plasma para o interstício. AVALIAÇÃO DE ACOMPANHAMENTO MATERNO · Consultas semanais · Repouso relativo · Pesar diariamente pela manhã, proteinúria na fita semanalmente pela manhã · Monitorização da PA pelo menos 1x ao dia · Exames laboratoriais semanais: hemograma, ureia, creatinina, ácido úrico, BT e frações e transaminases AVALIAÇÃO FETAL · Contagem de movimentos fetais diariamente · USG seriada: ver crescimento fetal e volume de líquido amniótico · Cardiotocografia semanal · Dopplerfluxometria das artérias umbilicais e cerebral média quinzenal medir a velocidade do fluxo, resistência vascular e as condições circulatórias materno-fetal OBS.: O DOPPLERFLUXOMETRIA avalia as condições maternas por meio das artérias uterinas; as condições feto-placentária por meio das artérias umbilicais; e a análise fetal a partir das artérias: cerebral média, aorta abdominal, renais, ducto venoso e seio transverso. Na insuficiência placentária: · Ausência de fluxo na diástose – DZ · Fluxo diastólico reverso – DR na artéria umbilical · Essas alterações indicam um significativo grau de insuficiência placentária e recomenda-se a interrupção da gestação, independentemente da idade gestacional Lembra da centralização fetal? É aquele processo em que o feto,em situação de hipóxia, redistribui o seu fluxo sanguíneo para órgãos nobres, principalmente o cérebro. Contudo, esse fenômeno é autolimitado. Quando indicar retorno imediato ao hospital? Na presença dos seguintes sinais e sintomas: · PA >/= 150/100 · Proteinúria acima de 2+ · Aumento exagerado de peso · Sintomas de iminência de eclampsia · Sangramento vaginal · Presença de contrações uterinas regulares · Náuseas ou vômitos persistentes · Diminuição dos movimentos fetais TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: alguns autores (MS) não indicam o tratamento anti-hipertensivo para a pré-eclâmpsia leve. OBS.: nas gestantes com HAS crônica que já fazia tratamento antes da gestação, são contraindicados os fármacos: IECA e BRA. INDICAÇÕES PARA O PARTO: o parto é o único tratamento definitivo para a pré-eclâmpsia! · Evolução para DHEG grave · Maturação pulmonar presente · CIUR/oligohidramnia · Sx HELLP · Sofrimento fetal DHEG GRAVE As gestantes devem ser internadas p/ realizar exames de rotina e avaliar as condições maternas e fetais estabilização inicial e analisar transferência para unidade de referência. Indicação do parto com 34s por via obstétrica ou se <24 semanas. Se entre 24s e <34s de idade gestacional: · Monitorização materna e fetal rigorosa · Uso de sulfato de magnésio + agentes anti-hipertensivos · Internar e observar por 24h para determinar a conduta NA INTERNAÇÃO · Sulfato de magnésio (ver adiante) · Anti-hipertensivo de ação rápida: hidralazina ou nifedipina · Solução de RL a 100-125 mL/h · Hemograma com contagem de plaquetas; Avaliação hepática: AST, ALT, BT e frações e LDH; Função renal: ureia, creatinina e ácido úrico; proteinúria · Dieta suspensa: apenas pequenas ingestões de líquidos claros e medicação oral · Uso de corticoide: betametasona 12mg 1x/dia, duas aplicações IM Após avaliar a possibilidade de conduta expectante, prosseguir com monitorização rigorosa e se estável, interromper com 34s, senão, interromper independentemente da idade gestacional. VITALIDADE FETAL · Cardiotocografia · Perfil biofísico fetal - PBF: volume do líquido amniótico, movimento respiratório fetal, movimento fetal e tônus fetal · Dopplerfluxometria PROFILAXIA ANTICONVULSIVANTE Usar Sulfato de Magnésio 50% - ampola 10mL. O antídoto para intoxicação é o Gluconato de cálcio 10% primeiras 24h da internação. · Ataque de 4g: 8mL EV, diluído em 12mL de ABD, em infusão lenta de 15 min o máximo é até 4 doses · OU 5g; 10mL de sulfato de magnésio a 50% IM em cada nádega · Manutenção de 1g/hora: · É importante manter a sulfatoterapia por 24h após o parto ou após a última convulsão Quais são os sinais de intoxicação pelo sulfato de Mg? · Reflexos patelares diminuídos · Diurese ≤ 30mL/h · FR ≤ 16 Deve-se interromper o sulfato de magnésio e introduzir gluconato de cálcio para evitar a parada respiratória! TERAPIA ANTIHIPERTENSIVA AGUDA – EMERGÊNCIA HIPERTENSIVA NA GESTAÇÃO · Manter a paciente em DLE e dorso elevado · Manter acesso venoso com SG a 5% · Reduzir os níveis pressóricos em 20-30% de PAM · Cardiotocografia fetal Obs.: adolescentes jovens, cujo nível de PAD < 75 mmHg, considerar terapia quando acima de PAD > 100 mmHg. PRESCRIÇÃO 1. Dieta 0 2. Acesso venoso 3. Medicação anti-hipertensiva 4. Sulfato de magnésio 5. Gluconato de cálcio 10% EV se necessário ECLÂMPSIA Estabilizar o quadro materno, avaliar a vitalidade fetal e antecipar o parto (em qualquer idade gestacional)!!! · Manter a paciente em DLE e com o dorso elevado · Oxigenação O2 5L/min por cateter nasal · Evitar trauma materno – proteger a cabeça · Minimizar risco de aspiração · Manter acesso venoso com SG a 5% · Corrigir acidose e hidratar adequadamente a gestante · Colher urina e manter sondagem vesical de demora · OBS NÃO levar ao centro cirúrgico antes de 4hrs do último episódio convulsivo TERAPIA ANTICONVULSIVANTE: na eclâmpsia, pré-eclâmpsia grave para avaliar conduta expectante nas primeiras 24h OU pré-eclâmpsia grave que considera interrupção da gestação; ou em casos de pré-eclâmpsia com indicação de interrupção da gestação e existe dúvida quanto ao uso da terapia anticonvulsivante. Sulfato de Magnésio · Ataque: 4-6g · Manutenção: 1-3g/hora · Administração da mesma forma da profilaxia, ver acima! · Se convulsões persistentes fenil-hidantoína! Deve ser feito antes do parto, durante o parto e após o parto 24h, se foi iniciado no puerpério, deve ser mantido até 24h da primeira dose. Por que não usar benzodiazepínicos? Porque é uma convulsão autolimitada e o uso de BNZ compromete o grau de consciência da gestante, dificultando a avaliação clínica, além de aumentar o risco para depressão respiratória materna e fetal. Além disso, a depressão neurológica pode diminuir os reflexos laríngeos e favorecer a aspiração de conteúdo gástrico. MOMENTO DO PARTO Depende das condições clínica e laboratorial materna, da idade gestacional e da vitalidade fetal. A via vaginal é preferível à cesárea. · Se longe do termo e o parto é indicado, com condições maternas estáveis, indica-se prolongar a gestação por 48h para a administração de corticoides para acelerar a maturidade pulmonar fetal · Se o parto vaginal não puder ser feito dentro de um período razoável de tempo, deve-se realizar a cesariana. Na pré-eclâmpsia leve o ideal é esperar mais de 37 semanas. Sendo que, se o feto estiver em boas condições, a espera de 40 semanas para o parto é o ideal via obstétrica. · Cesárea se: · 2 cesáreas prévias; · Sofrimento fetal; A anestesia deve ser a técnica de escolha para o parto (vaginal ou cesárea). Se Sx Hellp, adotar anestesia geral. SEGUIMENTO PÓS-PARTO Espera-se que a hipertensão e os outros sinais e sintomas de disfunção orgânica desapareçam dentro de 6s após o parto. Se persistirem, as gestantes devem ser reexaminadas após esse período para avaliar a cronificação da condição.
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