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Trabalho T.O. Social A atuação da T.O social e possíveis intervenções O século XX foi marcado por diversas problemáticas e diante dessas questões, a medicina tinha uma forte influência sobre os padrões exercidos na sociedade. O modelo biomédico era muito presente, onde para entender a doença de uma pessoa, este conceito excluía os fatores psicológicos e sociais e incluía apenas fatores biológicos. Para Basaglia F. e Basaglia F. O. (1977), era necessário pensar em estratégias que mudassem a concepção da saúde e doença, compreendendo que os profissionais devem olhar para o sujeito como um todo, de uma forma biopsicossocial. Através desse olhar, é importante levar em consideração as reais necessidades do sujeito, ou seja, resgatar seus valores para além da enfermidade. Diante desse contexto, a terapia ocupacional no âmbito social iniciou seu trabalho na década de 1970 e inicialmente, a atuação profissional se dava em instituições para crianças e adolescentes que cometiam a prática de atos infracionais, além de abrigar em asilos os idosos pobres. Com isso, ao se deparar com demandas diferentes dos costumes da época, como a reabilitação física, a Terapia Ocupacional Social surgiu como forma de suprir essas demandas que eram represadas. De acordo com Lopes e Malfitano (2016), a profissão dentro do campo social passou de um adaptador social para um articulador social, com a intenção de superar os papéis profissionais tradicionais da época. Apesar dos profissionais exercerem as práticas de institucionalização, a insatisfação diante das situações inadequadas que as pessoas viviam ainda perdurava. Logo, durante um tempo, os terapeutas ocupacionais buscaram alternativas de tratamento terapêutico e se tornaram personagens importantes em relação às transformações institucionais no Brasil desde o fim da década de 70. De acordo com Oliver e Barros (1999), as ações territoriais impulsionaram a questão social dentro da terapia ocupacional, onde: Nele, podem-se observar diferentes maneiras de existir, sonhar, viver, trabalhar e realizar trocas sociais. Essa noção exige que se compreenda uma intervenção em saúde que supere a noção de risco, que vá além de isolar e escolher determinadas variáveis, geralmente de ordem biológica, para o desenvolvimento das ações de saúde. A intervenção em saúde deve estar pautada pela noção de chances de vida, buscando trabalhar a partir de uma visão do ambiente ecológico e social em que as vidas em questão se tecem. Dessa maneira, entende-se que as chances de vida determinam as chances de saúde das pessoas (BARROS et al., 1999, p. 100). Perante o exposto, ocorria na mesma época a Reforma Psiquiátrica Brasileira, onde se iniciaram debates em relação ao tratamento que era dado às pessoas com transtornos mentais, a fim de humanizar esse tratamento. Até então, as instituições psiquiátricas brasileiras utilizavam o método do tratamento moral, que tinha como objetivo corrigir as atitudes e padrões anormais das pessoas com sofrimentos psíquicos, punindo-os e afastando-os da sociedade. A desinstitucionalização e a crítica drástica aos manicômios que ocorreu na Itália foi modelo de inspiração para o Brasil, a fim de quebrar com os antigos paradigmas utilizados até então na psiquiatria. A Reforma Psiquiátrica ficou marcada por diversos desafios, mas que deram direitos, autonomia e cidadania para essas pessoas, além de criar uma rede de saúde mental de qualidade que promovia a inclusão social (AMARANTE, 2014). Com isso, os terapeutas ocupacionais ainda tentavam buscar alternativas para lidar com as questões da exclusão social, mesmo não obtendo intervenções que trabalhassem de acordo com a realidade. Logo, utilizavam as ações que costumavam trabalhar, como: ação centrada e com foco disciplinar nos conceitos de função/disfunção ou de normal/problemático (GALHEIGO, 1999). Dessa forma, segundo Barros (2002), os terapeutas ocupacionais não estavam satisfeitos com os espaços ocupados até então, pois gostariam de atuar como atores de transformações sociais, em busca da equidade. Porém, para isso ocorrer, era necessário que a profissão saísse do viés único de saúde que se vincula ao processo saúde-doença e consequentemente, à medicalização. A partir disso, a terapia ocupacional passou a integrar outros componentes aos campos de ação, com novas propostas. No campo social, essas ações partiram de um espaço social de acordo com a cultura e as relações humanas, através da participação individual na vida coletiva, do desenvolvimento de projetos de vida e do sentimento de pertencimento à comunidade, ou seja, fatos que não podem ser atingidos através do viés da segregação (BARROS, 2004). Portanto, os campos de intervenção da terapia ocupacional social são bem amplos, como por exemplo, a assistência social, educação, trabalho, cultura, lazer, justiça, habitação e saúde, ou seja, atua nas dimensões macro e microssocial da vida em sociedade. Além disso, destacam-se os públicos-alvo atendidos que estão agrupados dentro desses campos citados, como: pessoas que vivem excluídas socialmente devido a um processo de institucionalização (indivíduos isolados em manicômios, hospitais psiquiátricos, asilos, prisões, abrigos) e grupos sociais que vivem à margem da sociedade, devido às transformações sociais (precarização do trabalho, qualidade de vida, moradia, educação, cultura, etc.). Diante dessas demandas, cabe ao profissional adotar estratégias para promover a inclusão e reinserção social desses indivíduos na comunidade, através de grupos que visem a geração de renda, oficinas de atividades com artesanato, produção artística e cultural desses sujeitos, a fim de valorizar suas potencialidades. Há também dinâmicas grupais que tem como objetivo promover a aproximação dos sujeitos, entendendo suas demandas e fortalecendo os vínculos. Além dos trabalhos grupais, o TO atua no Acompanhamento Singular e Territorial, onde é possível compreender quais as questões e problemáticas em relação ao acesso a serviços sociais e como estes interferem no cotidiano dessas pessoas, através de uma escuta qualificada e ativa. É importante ressaltar que o terapeuta ocupacional também atua na estimulação da rede de atenção, pois através do trabalho multiprofissional é possível integrar diferentes setores e níveis de intervenção, melhorando a qualidade dos atendimentos (BARROS, et al. 2002). Com isso, vemos a importância da Terapia Ocupacional, pois ela auxilia o processo da Tecnologia Social por meio da reabilitação psicossocial, já que em suas intervenções objetiva a prevenção e promoção de saúde, reabilitação e inclusão social, contribuindo para que a rede de apoio seja ampliada e para que haja uma garantia de direitos e cidadania para esses indivíduos. E é através do trabalho que se busca a autonomia e a independência dessas pessoas, reinserindo-as na sociedade. REFERÊNCIAS AMARANTE, P. (Org.). Psiquiatria Social e Reforma Psiquiátrica. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2014. BARROS, Denise Dias; GHIRARDI, Maria Isabel Garcez; LOPES, Roseli Esquerdo. Terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v. 13, n. 3, p. 95-103, 2002. BARROS, Denise Dias. Terapia ocupacional social: o caminho se faz ao caminhar. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v. 15, n. 3, p. 90-97, 2004. BARROS, Denise Dias; DE ALMEIDA, Marta Carvalho; VECCHIA, Talita Camila. Terapia ocupacional social: diversidade, cultura e saber técnico. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v. 18, n. 3, p. 128-134, 2007. Bezerra WC, Santos CF. Tecnologias de intervenção em Terapia Ocupacional Social: reflexões a partir de uma oficina de produção de fanzine no contexto prisional. Rev. Inter. inst. Bras. Ter. Ocup. Rio de Janeiro. 2017. v.1(3): 414-426 MALFITANO, Ana Paula Serrata. Campos e núcleos de intervenção na terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, v. 16, n.1, p. 1-8, 2005.
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