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Módulo 1 Esquizoanálise é uma proposta filosófica, não uma abordagem. Instituição: Pode ser um estabelecimento e pode ser uma entidade, algo que se materialize em lugar público. A instituição também é lógica, é algo culturalmente acordado. É um combinado social. É gerado e criado por 2 conceitos: ● Instituído: algo que foi e está cristalizado, fixado, organizado; mas não parado. É o estabelecido. Ex: o pix foi instituído, feminicídio é instituído ● Instituinte: É o que gera ou transforma a instituição. É a oxigenação do que tá acontecendo. ex: manifestações, lei maria da penha Processo de institucionalização: Processo do instituinte sobre o instituído, esse processo se dá em movimento Implicação: É parar para pensar no COMO das experiências, das relações. É o como se está e não o porquê ou quanto. É a percepção da posição. É como eu estou agora, uma autopercepção. É como você se posiciona. É parar para pensar e perceber sobre. Qual seu lugar no mundo, como são as suas relações. É pensar sobre os processos de vinculação. ex: lugar de fala é um exemplo de implicação Esquizoanálise tem um núcleo em comum na filosofia da diferença (Foucault, Deleuze e guattari, Espinoza), mas as pontas vão ser conectadas através da prática. Não é uma abordagem, mas uma proposta filosófica transdisciplinar que mistura filosofia, psicanálise, música, dança etc. Sobreimplicação: É não perceber o que te produz, o que te move. É seguir numa esteira, só agindo. É uma ausência de reflexão. A análise não é só feita pelo analista, ela é feita no encontro considerando analisadores que vem da vida da pessoa e que ela produz. Não é o analista só que faz a análise, são os encontros e os analisadores que fazem a análise. Ou seja a história, fatos, marcos, desejos, afetos, conexões Analisador: Pode ser uma pessoa, algo ou situação que põe luz ao, faz analisar/questionar/problematizar uma situação. Não é função apenas do analista, acontece em movimento, na vida. Traz luz às situações, permitindo se apropriar da sua realidade. O analisador pode produzir análise de implicações. O analisador faz a gente olhar para alguma coisa e olhando para esta coisa faz a gente questionar a nossa própria realidade texto do espinoza sobre a teoria dos afetos: Transcendência: Veio de descartes Dualista, estruturada em dicotomias: Razão X Emoção, Corpo X Mente, Bem X Mal Para descartes existe um deus (uma força) criador(a) e tudo o que vem depois dele são produtos e criaturas dele (da força). Ou seja, tem um deus criador e tem os seus efeitos. É sobre algum tipo de separação em relação à criação. Tem o criador X criatura. Imanência: Pensamento não é causa e efeito, não é antes e depois é uma coisa só, é um fluxo, é um processo. Não tem um criador e uma criatura, tem autoprodução. Ele vai dizer que esse pensamento transcendente é muito hierárquico. A criação é imanente. Ou seja, Deus não é um ser poderoso, uma força que cria e as coisas vem depois dele, Deus é a natureza. A natureza é uma só. Deus não é soberano, não é um rei, somos nós. Deus é tudo que é produção, criação, movimento. A substância é uma só, necessária, eterna, infinita. É como se cada um de nós carregassem à força criadora dentro de si. Não há uma causa externa do mundo, o processo de produção da vida está contida na própria vida. Quando se pensa em algo externo que governa a vida é um pensamento transcendente. Por ex: minha vida vai começar quando passar a pandemia. A vida se faz no agora Potência: Todo ser tem potência, todo o ser persevera na própria existência. É uma força que nunca cessa. Somos potência, ou seja, ela não é algo externo a nós e sim algo que temos em si. Não somos um corpo X mente e sim somos um corpo, uno, único. Não existe divisão entre razão e emoção. Temos capacidade de afetar e sermos afetados, ao mesmo tempo. Ele (spinoza) vai dizer que se matar, matar o outro ou desejar morrer vai falar dos encontros, fala sobre como a noça potencia é afetada pelo outro. Em si não existe o desejo de autodestruição, mas que isso vai ser provocado pelo outro. Ou seja, o mundo me produz afetos tristes, me produz baixa potência que dá vontade, da desejo de matar o outro ou me matar. Encontro: A todo o tempo as nossas potências estão se comunicando com o mundo. Encontro é com tudo, todos e a todo tempo. Tudo que nos acontece são comunicações de forças que produzem marcas. A vida é feita a partir desses encontros que estão a todo tempo se comunicando. Não tem melhores ou piores encontros. A vida só acontece em experimentação. A vida acontece nos encontros e nos fatos, no momento. Os encontros podem aumentar ou diminuir a potência. A gente vai se formando ser humano, se social por esses acúmulos e consequências dos encontros. Vamos criando nossas características, nossas marcas a partir do movimento e do repouso dos encontros, ou seja, das repetições que são sempre indiferentes. Para o Spinoza não existe uma personalidade inata, que a gente nasce com, é de acordo com os encontros, nossa subjetividade vai sendo constituída ao longo da vida e de acordo com o que a gente vai passando e agindo. Através do tempo e do hábito, o corpo se faz. Os encontros nos constrói e nos subjetiva. Os encontros podem ser bons e maus/ruins no contexto Afetos: São as marcas desses encontros. É o COMO as forças do mundo nos tocam, nos atingem, nos estabilizam e desestabilizam, é o modo. O afetam é quando a potência de agir é aumentada ou diminuída, estimulada ou refreada. É afeto de afetar e não de afeição. É um encontro pontual de um corpo com o outro. É importante para entender quem nós somos, o que que a gente faz, como a gente pensa; o que nós sentimos. Sentir E pensar andam juntos. A partir dos meus afetos eu ajo, a partir das minhas ações eu sinto. Potência - encontro - afeto - potência (um ciclo) Nós temos uma potência, essa potência encontra outras potências ao longo da vida que geram afetos/marcas e esses afetos/marcas modificam/alteram a nossa potência. ● Afetos Alegres: É quando aumenta a nossa potência, nos compõe, nos aumenta, nos eleva. Acontece quando uma afecção nos leva a uma potência maior de agir e ser no mundo. Produto de bons encontros ● Afetos Tristes: é quando um afeto diminui a nossa potência, nos refreia, nos diminui, nos sufoca, nos intoxica. Nossa força de existir e agir, afetar e ser afetado diminui. Produtos de maus/ruins encontros. Afetos tristes e alegres podem estar presentes (e muitas vezes estão) no mesmo encontro. Despotencialização: Vida tomada de afetos tristes, em que humanos não teriam acesso às causas dos padecimentos, apenas reféns dos efeitos no corpo. Alienação. O afeto possui uma realidade física e uma realidade psicológica. Ética X Moral; Liberdade X Servidão Uma vida baseada na transcendência é uma vida Moral Spinoza vai dizer que faz parte dessas coisas finitas que nós somos, dentro dessa potência infinita, uma certa conservação/manutenção que constituem essas formas. A manutenção dessas formas/conservações finitas tem algo de uma servidão. Liberdade não pode ser atrelado a uma vontade, um livre-arbítrio, um querer Para atingir a liberdade é preciso elevar-se ao conhecimento, de que encontros sucedem à potência. Aprendemos a aceitar a servidão sem questionar. Spinoza nos ensina que é possível libertar-se, desde que busquemos formas de afirmar a vida. Ser livre é efetivar sua própria natureza para além de constrangimentos de forças externas. Esse estado de liberdade é contextual e momentâneo, processual. Muitas vezes seguimos num modelo de moral e servidão e a liberdade acontece aos poucos e muito pouco. A liberdade vem junto com movimentos de potência, de autonomia, movimentos imanentes, de criação e experimentação. Que é o passo que você constrói suas próprias regras, tem atenção e crítica ao que tá acontecendo. Se tem então uma construção momentânea de liberdade para com o seu coletivo. Não tem como ter liberdade individual se a liberdade é sempre social e coletiva, ela depende de um contexto inteiro. Ser livreé existir de uma maneira cautelosa e prudente. A prudência é a arte da dose, ou seja, entender medidas sobre as relações. É entender quem é essa pessoa, quem sou eu que fui construído nessa época, como eu me relaciono com os meus, como eu me potencializo, o que que me sufoca. Autoconhecimento e noção da realidade que nos cerca. Ou seja, questionar como podemos produzir outros corpos, isto é, corpos não mais tutelados por um ser superior, não mais destinados a alcançar uma finalidade moral; mas, sim, corpos engajados em uma produção crítica da existência humana moderna. Ou seja, dentro dessa realidade que estamos inseridos como produzir mais autonomia e liberdade crítica? Essa é a bússola Ética. O plano da imanência é um plano que aposta na autonomia, numa vida livre do pecado e da culpa. É um exercício diário. Temos relações de hierarquia e obediência diárias, como eu lido com isso. Para acessar esse grau de conhecimento, temos que buscar as causas, ou seja, sentir, perceber e analisar seus afetos. Efeitos do capital, do patriarcado simbólico, do racismo etc. Questionar a realidade imposta/instituida. 3 teses práticas de denúncia: 1) Crítica à Consciência: Diverge da noção transcendente e dicotômica que dizia que em algum momento a gente ia ter consciência de tudo. Desvaloriza a consciência, pois a gente não vai ter ciência de tudo, a gente não vai saber de tudo. A gente tem uma certa apropriação num determinado momento do nosso corpo, das nossas relações. 2) Desvalorização dos valores: É pensar nos encontros, nas contingências, nos afetos e que cada pessoa se afeta de uma forma e não algo moral, que todos tem que se encaixar. 3) Trindade moralista A sociedade foi criada e estruturada a partir da consequência moral e servil dos afetos tristes, ou seja, a gente tem uma construção social que faz a gente obedecer, seguir e ser disciplinado. A trintade moralista é: ● O tirano - ditador - fascista: aquele que hierarquicamente oprime os outros. O tirano precisa da tristeza das almas para triunfar, do mesmo modo que as almas tristes, precisam de um tirano para se prover e propagar. O que os une é o ódio à vida. O tirano é aquele que se alimenta de afetos tristes. ● O servo: É o ser desses afetos tristes. É aquele que é tomado por essas obediências, por essas docilizações, esse ódio à vida e só segue, só obedece, só continua. Não questiona. ● O padre - O psicanalista: É o ser que explora esses afetos tristes, o tirano precisa dele para que a condição do humano continue triste, continue servil. Alguém que pensa a obediência para uma transcendência. Para Deleuze e Guattari os padres contemporâneos são os psicanalistas, que perseveram escutando a culpa, o ressentimento, a obediência, o complexo familiar. O anti édipo: Não é a família que explica o social, não é o trauma primário, essa lógica familiarista - mamãe, papai e filhinho, triângulo edípico - que explica o depois. É a sociedade que explica a família, é o fora, são as relações, cultura etc que explica o que acontece dentro da nossa casa. Crítica à psicanálise egocêntrica baseada na culpa A crítica à psicanálise é sobre ser um inconsciente teatral, por ser uma repetição, uma falsa colocação, pois a vida não é uma eterna repetição, não é um eterno padrão repetido de convivências. Não é tudo por causa da relação primária. Inconsciente maquínico/fabril/usina: É inventado de acordo com um tempo, ou seja, o seu inconsciente maquínico é composto por suas peças. Isso produz localizações sobre as suas relações (indivíduo). Então cada pessoa nasceu em um local, em uma época, em um momento, em um país e isso compõe o inconsciente maquínico de cada pessoa. O inconsciente maquínico se altera, como uma máquina/uma usina/uma fábrica, que produz coisas diferentes, que quebra, que avança. Pode-se pensar em relações de produção e não um roteiro que se repete, com uma única fórmula. o inconsciente maquínico estrutura a nossa subjetividade. É uma colcha de retalhos. A gente nasce numa estrutura social e isso marca. Tem mobilidade, mas tem certa concretude. Desconstrói a serialidade, de ser o mesmo para todos, como na psicanálise é. O inconsciente maquínico é formado por 3 linhas (?) O inconsciente não é familiarista, fechado, individual, estruturado; é social, coletivo, político, sistema aberto. Se compõem de acordo com uma época, uma geração, uma região do país e do mundo etc. Tem a ver com autoprodução. Desejo Desejo não é falta, como diz a psicanálise. Para a esquizoanálise desejo é potência, é movimento, não é falta. Aqui o desejo está pensado como produção, ou seja, como um envolvimento social que se conecta e te move, e te faz fazer - que pode ter a ver com reproduções (ou seja, com o que não se sabe, não se tem noção que se está fazendo); produção (ou seja o que a gente faz) e criação (o que a gente inventa, imagina, cria, experimenta). Não é o que falta, não é o que se complementa, não é o que se não tem. Desejo é se conectar com o que há. O que move o desejo são as relações, são os encontros. A gente só deseja porque se encontra, pois o ser humano só funciona em sociedade. Desejo é uma conjunção do que o mundo faz comigo e o que eu faço com o mundo indivíduo/rizoma: A filosofia clássica e as ciências modernas estruturaram um modo de pensar sobre os seres humanos de uma maneira arborescente, ou seja, que a “origem” é a semente - já que para plantar algumas árvores, como a macieira, só se pode plantar pela semente. Eles vão argumentar (deleuze e guattari) que uma das formas da vida se proliferar é de maneira arborescente e que muitos autores utilizaram esse modo de explicar o indivíduo, como Freud, por exemplo e a psicanálise que acredita que para se entender o indivíduo é preciso voltar na semente, ou seja, na origem - trauma primário, complexo de édipo, infância. Deleuze e Guattari acreditam que esta não é a única maneira de se compreender o indivíduo, mas sim uma das formas possíveis. O indivíduo como um rizoma/raiz/teia: Um rizoma não tem origem, não tem semente, ele germina a partir do meio ou de qualquer parte dele, estando em contato com terra e água, ele germina vida. Ou seja, somos compostos por nossas conexões e encontros. Temos que analisar partes para entender um contexto e não uma origem, uma raiz originária, vamos sempre conectar com certas pontas, com certos encontros. Para cada contexto fala-se de uma relação. O sujeito é sempre um nós, portador da experiência, não um EU que recebe o modelo. É preciso voltar-se em direção à experiência. Ir sempre do modelo à experiência. MÁQUINAS DESEJANTES : Não há máquinas sociais sem as máquinas desejantes Nós somos as máquinas desejantes e somos organizados dentro das máquinas sociais. Somos máquinas desejantes movidas por um inconsciente bastante produtivo. As Máquinas Desejantes são estes sistemas abertos de recorrência involuntária em que tudo se produz, inclusive a Natureza, a Sociedade e a suposta oposição entre ambas. Segundo a visão esquizo, tudo funciona através das máquinas, dentro e fora dos corpos. O bebê no seio materno, alguém comendo ou fazendo xixi - não importa: a subjetividade maquínica independe de ferramentas. Somos apenas engrenagens de um sistema semi-mecânico do universo - a mecanosfera! Máquinas desejantes porque produtoras de si e de sua própria realidade.
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