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www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 04.05.2014 Charlisson Mendes Gonçalves 1 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt GUATTARI E A PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE 2014 Charlisson Mendes Gonçalves Mestrando em Psicologia pela PUC-Minas. Psicólogo graduado pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Brasil) E-mail de contato: charlissonpsi@gmail.com RESUMO O presente artigo busca discorrer acerca da produção da subjetividade de acordo com as ideias de Guattari. O autor coloca em questão a oposição clássica entre o sujeito individual e a sociedade. Nesse ínterim o autor expõe a sua concepção de subjetividade. Palavras-chave: Moderno, modernidade, modernismo. A PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE Guattari (1992) entende a subjetividade como algo produzido por instâncias individuais, coletivas e institucionais. No momento em que a subjetividade é considerada como produção ela pode ser entendida de maneira plural. Ao falar sobre a produção da subjetividade, o autor faz uma crítica ao modelo clássico que separa o sujeito individual da sociedade e explicita três problemas que sinalizam a necessidade de ampliar a discussão desta temática. No decorrer do texto será possível ampliar a compreensão acerca destes problemas. Acerca deste assunto, Leite e Dimenstein (2002, online) afirmam: [...] autores como Foucault, Deleuze e Guattari apresentaram grandes contribuições ao refletirem a questão da subjetividade, especialmente pela crítica radical que teceram sobre os modos hegemônicos de seu tratamento. Puderam lançar luz no debate e o fizeram destacando o caráter processual e produtivo da subjetividade, possibilitando, portanto, sua desnaturalização. www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 04.05.2014 Charlisson Mendes Gonçalves 2 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt Primeiramente, os fatores subjetivos foram elevados a um lugar preponderante na história atual. A história contemporânea está repleta de eventos que corroboram com o aumento da singularidade subjetiva. A psicanálise tradicional reforça isso quando reduz fatos sociais a questões relacionadas com mecanismos psicológicos. Existe então a proposta de uma concepção transversal da subjetividade, respondendo desde os territórios existenciais até universos incorporais, tendo implicações sociais e culturais (GUATTARI, 1992). O segundo problema é referente ao crescente desenvolvimento de subjetividades produzidas de maneira maquínicas. Guattari (1992) aponta que as máquinas oriundas da tecnologia responsáveis pela informação e comunicação atuam diretamente na produção da subjetividade humana. O grande erro do estruturalismo foi buscar abranger tudo que é relativo à psique em uma fortaleza do significante linguístico. Há uma obrigação, que é imposta pela tecnologia, que visa uma homogenização universalizante que reduz a subjetividade, ao mesmo tempo que um reforço a heterogeneidade e singularização. Esta produção maquínica pode operar visando o melhor ou o pior, tudo depende dos agenciamentos que serão feitos. Através da evolução da tecnologia ainda é possível reapropriar e re-singularizar o uso da mídia. O terceiro e último problema apontado por Guattari (1992) diz respeito ao destaque que tem sido dado a aspectos etológicos e ecológicos que se relacionam com a subjetividade humana. O autor não considera o caráter da psicogênese freudiana, tomado como universal, mas agrega valor ao caráter trans subjetivo no qual a subjetividade se encontra em estado nascente. A Clínica La Borde entra como exemplo de re-singularização, por permitir múltiplos sistemas de atividade, libertando os sujeitos da serialidade e permitindo uma re-apropriação do sentido de sua existência. Guattari (1992) propõe uma definição abrangente, porém afirma ser provisória, acerca da subjetividade: [...] o conjunto das condições que torna possível que instâncias individuais e/ou coletivas estejam em posição de emergir como território existencial auto-referencial, em adjacência ou em relação de delimitação com uma alteridade ela mesma subjetiva. Despois desta primeira definição, Guattari (1992, p. 19) segue afirmando que a subjetividade, em alguns momentos, se individualiza e, em outros, se faz coletiva. O autor mostra que a subjetividade não é fabricada apenas por fases psicogenéticas, ou matemas, mas também por máquinas sociais, e por influências não-humanas. A escolha ética que deve ser feita na época atual acerca da subjetividade é entre torná-la científica e objetiva, ou apreendê-la em sua dimensão de criatividade processual. Em um processo analítico seria importante dar atenção à afirmações ligadas a pequenas atitudes que poderiam alterar o comportamento do paciente e, até mesmo, abrir-lhe novos campos de virtualidade. A análise não consistiria mais em interpretações feitas sob transferência, mas em www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 04.05.2014 Charlisson Mendes Gonçalves 3 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt ampliar possibilidades de existência. Há uma aposta maior na poesia do que na reunião das ciências econômicas, ciências sociais e psicanálise (GUATTARI, 1992). No decorrer de sua construção teórica, Guattari (1992) sugere tirar a dimensão do sujeito do centro para colocar a subjetividade. O autor investe em uma escolha ética que abranja a riqueza do possível. Silva e Francisco (2010, online) apontam possibilidades para profissionais que atuem com esta noção de subjetividade: Para os profissionais do social, referindo-nos aqui aos psicólogos, assistentes sociais, educadores e outros que participam, de alguma maneira, na produção social de subjetividades, a responsabilidade na capacidade de se articular com os agenciamentos de enunciação no plano micropolítico onde estão inseridos. No contexto organizacional, essa possibilidade de articulação favorece a abertura para a compreensão de que a saúde do trabalhador é, também, resultado da sua inserção no mundo e do sentido que ele dá às atividades que executa. www.psicologia.pt ISSN 1646-6977 Documento produzido em 04.05.2014 Charlisson Mendes Gonçalves 4 Siga-nos em facebook.com/psicologia.pt REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GUATTARI, Félix. Da produção da subjetividade. In: ________. Caosmose: um novo paradigma estético. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. LEITE, Jáder F. e DIMENSTEIN, Magda. Mal-estar na psicologia: a insurreição da subjetividade. Rev. Mal-Estar Subj. [online]. 2002, vol.2, n.2 [citado 2014-04-02], pp. 9-26 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518- 61482002000200002&lng=pt&nrm=iso>. SILVA, Regina Coeli Araujo da e FRANCISCO, Ana Lúcia. Cultura, subjetividade e as organizações na contemporaneidade. Rev. Mal-Estar Subj. [online]. 2010, vol.10, n.3 [citado 2014-04-02], pp. 735-756 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518- 61482010000300003&lng=pt&nrm=iso>.
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