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Linguagem Contemporânea: Performance e Vídeo Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Rita Garcia Jimenez Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades • Introdução • Vídeo + Arte = Nam June Paik • Arte e Tecnologias da Comunicação se Encontram • O Cinema como Referência • Videoarte no Brasil • Fotografia Expandida • Arte Postal: Primeira Forma de Arte em Rede • e-mail Art, a Arte Postal de Hoje? · Conhecer e explanar a Linguagem Contemporânea no âmbito da performance e do vídeo e suas proposições, especificamente a Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades. OBJETIVO DE APRENDIZADO Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Introdução “O mundo surge como uma coleção sem fim de imagens, textos e outras informações desestruturadas que são somente apropriadas se forem agrupadas em modelos de banco de dados. Mas também se torna hábil que queiramos desenvolver um banco de dados de maneira poética, estética e ética.” MANOVICH, 2001, In: GONTIJO, 2012, p.213. No link a seguir observe a videoarte Stolen kisses (2008), de Bill Lundberg: https://goo.gl/E2wkx4 Ex pl or Ao partirmos do princípio que o termo Linguagem pode ser descrito, sucinta- mente, como um sistema de signos que permite a comunicação entre os homens, chegamos ao mundo da Linguagem Audiovisual como sendo um sistema comunica- tivo resultado da composição de diferentes tipos de Linguagens – o áudio, o visual e o cinético (movimento), criando um único Sistema. A Linguagem audiovisual é produzida para ser perceptível ao corpo como um todo, vez que estimula todos os nossos sentidos: visão, audição, tato e paladar. No final do século XIX, o mundo foi surpreendido com as primeiras experiências de imagens em movimento. O Cinema, então, tratou de consolidar esse Sistema agregando o som a partir do final da década de 1920. Na mesma época, a Televisão – um dos mais importantes meios de comunicação já criados pelo homem – surge para levar a imagem em movimento para o conforto dos lares e revolucionar o Sistema Audiovisual no mundo, contribuindo para a comunicação de massa. Toda essa revolução não passou despercebida pelas Artes visuais. Toda a euforia frente aos novos inventos foi contestada, em parte, pelo artista alemão integrante do grupo Fluxus, Wolf Vostell (1932-1988), a partir de meados dos anos 1950. Por meio de sua obra, ele atestava inconformidade com o meio televisivo e agredia fisicamente aparelhos em suas performances e instalações como atirar com arma na tela de uma TV, amarrá-la com arame e enterrá-la em cimento... Todas essas ações simbolizavam sua oposição frente à televisão comercial e sua revolta com o novo meio de comunicação. 8 9 Figura 1 – The black room cycle (1958), de Wolf Vostell, instalação/Videoarte Fonte: Wikimedia Commons O cientista russo Constantin Perskyi (1854-1906) apresentou, em 1900, no Congresso Internacional de Eletricidade, em Paris (França), uma tese que descrevia o funcionamento de um equipamento com base nas propriedades fotocondutoras do selênio, transmitindo imagens a distância. O título do trabalho era Televisão, palavra que criou a partir da reunião de dois termos: tele, que pode ser traduzido do grego por longe, e videre, que, em latim, signifi ca visão. Em 1927, o norte-americano Philo Farnsworth patenteou um sistema dissecador de imagens por raios catódicos; porém, com nível de resolução não satisfatório, inventando a televisão eletrônica. No ano seguinte, o escocês John Baird realizou a primeira transmissão de Televisão transatlântica, ligando a Inglaterra aos Estados Unidos. Foi ele quem primeiro realizou experiências com a Televisão em cores, a partir da exploração das imagens com luz vermelha, verde e azul, princípios que regem a Televisão colorida até hoje. Também na Inglaterra, em 1930, foi inaugurada a emissora BBC, pioneira em realizar a primeira transmissão de um programa de Televisão no mundo com imagem composta por 240 linhas, padrão mínimo que os técnicos chamavam de “alta defi nição”, por garantir boa qualidade e nitidez. Na época, toda a programação era transmitida ao vivo. É importante destacar que a Televisão não foi uma invenção de somente uma pessoa. Inventores aperfeiçoaram diversas criações de outras pessoas até chegar ao que hoje se denomina Televisão, a transmissão de imagens a distância. Ex pl or Está no ar a televisão no Brasil. A frase foi proferida por uma criança vestida com roupas de índio, em alusão ao logotipo da TV Tupi, em 18 de setembro de 1950, e marca a primeira imagem veiculada pela televisão no país. Na foto, funcionários riscam o chão com giz para marcar os movimentos da câmera: https://goo.gl/NBdqtM Ex pl or 9 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Vídeo + Arte = Nam June Paik No início da década de 1960, o artista e músico sul-coreano Nam June Paik (1932-2006), outro integrante do Fluxus, também começa a incluir aparelhos de televisão em suas instalações e happenings. Ao contrário de Vostell, Paik apoia a Televisão. Em 1963, o artista realiza a individual Exposição de música, televisão eletrônica, em Wuppertal (Alemanha) (link a seguir). Esse momento mudaria para sempre a Arte do século XX. Na obra Televisores preparados (1963), apresentada na exposição, Paik amplia a capacidade desse meio de comunicação para além de uma banal reprodução eletrônica do real. A TV de Paik torna-se abstrata, seus pixels são transformados em matéria-prima para imagens que só a TV seria capaz de produzir. A informação é degradada e perturbada eletronicamente por meio de geradores de frequência, tornando-se aleatória e desregrada. Os 13 aparelhos de televisão foram colocados uns sobre os outros, na vertical ou em posição normal, enquanto transmitiam a mesma programação de uma emissora de TV alemã. Essa emissão de imagens ia sendo eletronicamente deformada pelo artista em cada TV que apresentava uma distorção diferente. À Paik é creditado o início da Videoarte, juntamente com Wolf Vostell. Imagens da“Exposição de música, televisão eletrônica (1963)”, realizada na Alemanha de Nam June Paik: https://goo.gl/QHxLvM Ex pl or A manipulação dos elementos eletrônicos para questioná-los passou a ser uma das característi- cas centrais na obra de Paik. Em TV Magnética (1965) (Figura 2), ele colocou um ímã ao lado de uma tela de TV, alterando completamente a ima- gem. E, em Jardim de TV, trabalho apresentado em 1975, na 13ª Bienal de São Paulo, misturou plantas em meio a aparelhos ligados, utilizando- -os como fontes luminosas. No fim da década de 1980, ele se transformaria em uma das estrelas da Arte mundial. Figura 2 – TV Magnética (1965), de Nam June Paik, instalação Fonte: arts.gov O parceiro de Paik no Fluxus, Wolf Vostell, também em 1963, cria Sun in your head (link a seguir) também a partir da apropriação de imagens geradas por emissoras de TV. O artista filmou, em 16 mm com baixa velocidade, a tela de um televisor na qual a troca constante de canais cria um bombardeio de imagens desreguladas. As imagens, na sua maioria desconfiguradas, mostram aviões, mulheres, homens, palavras e textos como “silêncio” e “gênio trabalhando”. Vostell divide com Paik a primazia pela criação da Videoarte. 10 11 Confi ra o vídeo Sun in your head (1963), de Wolf Vostell: https://youtu.be/q5bljNUUoLg Ex pl or Assim como a máquina fotográfica, a câmera de vídeo passa a ser não só registro, mas também Linguagem Artística. Esse recurso foi facilitado quando a Empresa japonesa Sony lançou no mercado um equipamento revolucionário: a primeira câmera de vídeo doméstica e o Vídeo Tape Recorder (VTR) (Figura 3), em 1967, batizados de Portapak. Nam June Paik adorou e mostrou ao mundo uma nova forma de fazer Arte. Figura 3 – Equipamento Sony AV 3400 Portapak, um dos primeiros lançamentos de vídeo doméstico da Empresa japonesa Fonte: Wikimedia Commons Com o vídeo, verifica-se uma mudança da relação da obra de Arte com o espaço físico em que ela se apresenta, conferindo-lhe novo sentido. O espectador é estimulado ao movimento, à participação. Seu campo de visão se amplia e o seu olhar transita entre o espaço circundante e as imagens transmitidas. A Videoarte incorpora inúmeros elementos da Pop Art, das HQs (histórias em quadrinhos), imagens da Publicidade, da Televisão e do Cinema, mas não deve ser confundida com programas de televisão e o Cinema experimental – estilo cinematográfico que não se enquadra como Cinema comercial e/ou industrial. A história da Videoarte mostra duas vertentes em seu início: de um lado, estão os artistas que usam câmeras de vídeo para simplesmente gravar seus filmes, como Bruce Nauman, Gilbert & George, Peter Campus, Vito Acconci, Gina Pane, Joseph Beuys e Wolf Vostell; e de outro lado, estão os que pesquisam possibilidades experimentais com o vídeo, como Nam June Paik – que modificava, subvertia e recriava as partes eletrônicas dos aparelhos de TV, Bruce Nauman, Antoni Muntadas, Denis Oppenheim, Bill Viola e Bill Lundberg, entre outros. Podemos identificar quatro categorias que contribuíram para o desenvolvimento da Videoarte: • As videoinstalações, videoesculturas e os vídeos ambientais, que envolvem o uso de câmeras, monitores e vídeos editados; 11 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades • O vídeo de guerrilha, que envolve a gravação nas ruas, usando equipamentos portáteis, com propósitos políticos e sociais; • As videoperformances, que ganharam impulso nos anos 1970 e se desen- volveram como formas de comunicação direta (ao vivo) ou indireta (registro); • A combinação do vídeo com as mídias digitais a partir dos anos 1990. A primeira geração de artistas da Videoarte apropriou-se da rica sintaxe da linguagem da Televisão como a espontaneidade, a descontinuidade e a diversão, com a intenção de denunciar os perigos de um meio de comunicação tão poderoso culturalmente. Paik, em particular, submeteu a Televisão a seu espírito irreverente, declarando: “Torno a tecnologia ridícula” (DEMPSEY, 2003, p.258). Gêneros da Videoarte A absorção da Linguagem Audiovisual pelos artistas fez com que rapidamente ela se desdobrasse em muitas outras possibilidades ao conectá-la aos elementos próprios do universo da Arte. Assim, foram criadas a videoinstalação, a videoperformance, a videoesculturas e o vídeo-objeto, entre tantos outros gêneros da Videoarte. • Videoinstalação: As qualidades estéticas do vídeo são ampliadas em questões do ambiente arquitetônico e em ações de cunho participativo e interativo do corpo na Arte. A proposição artística passa a ser uma experiência híbrida a partir da associação da representação videográfica com o ambiente e com eventos, mantendo estreita relação com o espaço. Há a tendência de abandono do uso do monitor e o uso da imagem projetada diretamente no espaço. “A videoinstalação compreende um momento da Arte de expansão do plano da imagem para o plano do ambiente e da supressão do olho como único canal de apreensão sensória para a imagem em movimento” (MELLO, 2008, p.169). Figura 4 – Circuladô (2014), de André Parente, videoinstalação interativa Fonte: funarte.gov.br Na obra, o próprio espectador controla, por meio de um giroscópio, o movimen- to e a velocidade das imagens projetadas de forma circular. Os vídeos foram extra- 12 13 ídos de filmes e mostram personagens em situações limites como Édipo, em Édipo Rei (1967), de Pier Paolo Pasolini; Corisco, em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha, e um dervish, monge muçulmano que gira em transe. Figura 5 – Planta baixa da videoinstalação Circuladô (2014), de André Parente, realizada na galeria Fayga Ostrower, Funarte/Brasília Fonte: Funarte/Brasília • Videoperformance: A ação registrada pela câmera ganha característica específica e possibilidades de diferentes pontos de vista. Entretanto, não basta ser uma performance com vídeo para se caracterizar como videoperformance. Nessa linguagem, o vídeo tem uma função tão importante quanto a do corpo, tanto integrante quanto inseparável da própria performance – do ponto de vista do espectador – de modo que o trabalho não pode ser assimilado na ausência do elemento vídeo. A edição, em geral, também é utilizada como uma ferramenta criativa na construção de uma videoperformance. A linguagem personifica um diálogo entre o espectador e o performer por meio do elemento vídeo. “Compartilha-se, atualmente, um momento em que o corpo natural e o corpo artificial confluem, e a tecnologia torna a comunicação entre o cérebro e o computador uma via de mão dupla” (MELLO, 2008, p.141). Figura 6 – Back to you (1974), de Chris Burden, videoperformance Fonte: whitecolumns.org 13 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Nessa obra, fica evidente o papel do espectador. O trabalho não se equaciona sem a participação do voluntário que se predispõe a entrar no elevador no qual o artista se encontra e espetar-lhe alfinetes no corpo. Os espectadores foram capazes de assistir Burden e o voluntário em um monitor. O vídeo é o que proporciona esse contato. • Videoescultura: Caracteriza-se pela utilização de um ou mais monitores de TV para a criação de esculturas tridimensionais. Baseia-se na relação entre elementos esculturais e o conteúdo de imagens mostrando monitores de TV. As emissões de televisão podem ser diversas: sinal direto de transmissões, imagens alteradas ou não geradas eletronicamente e imagens de câmeras de vigilância, entre outras fontes. Os avanços tecnológicos redefiniram o campo de trabalho, bem como os procedimentos e formas de produção. A incorporação das Tecnologias Digitais na criação de vídeo marca tendência para a interatividade, além da hibridação de gêneros. Figura 7 – Victoria (1987-1988), de Marie Jo Lafontaine, videoesculturas (19 estruturas de madeira em espiral e 19 monitores de vídeo) Fonte: artwiki.fr O espectador é conduzido ao centro da obra, onde ele se vê envolto em um turbilhão de emoções. Na obra,a artista mostra o triunfo da mente sobre o físico. Dois atores medem o olhar como uma provocação. Eles realizam uma espécie de dança próxima ao tango, permanecendo ameaçadores em suas ações. Cada protagonista está tentando tirar vantagem mental, procurando impressionar pela força de seus olhares. A tensão aumenta quando os dois se encontram, um tentando controlar o outro. Hipnótico. • Vídeo-objeto: O gênero nada mais é do que um objeto com um ou mais vídeos integrados. O objeto mais a imagem criam uma interdependência na elaboração de um discurso específico para a obra. No link a seguir confira o vídeo-objeto “Demolição (2013), de Lucas Bambozzi (projeção em vídeo sobre objeto). As imagens mostram o dia a dia de uma demolição, a desconfiguração da construção e os vestígios que vão restando: https://goo.gl/T98kQa Ex pl or 14 15 Arte e Tecnologias da Comunicação se Encontram O advento do videoteipe, no início dos anos 1950, nos Estados Unidos, mudou, mais uma vez, a forma da linguagem audiovisual, facilitando gravações, regravações e a reprise dos programas de televisão gravados. No campo da Ciência e da Tecnologia, vídeo é um dispositivo composto pelo processamento de sinais eletrônicos, analógicos ou digitais, com a finalidade de capturar, armazenar e veicular imagens em movimento. Ao longo do tempo, o vídeo ganhou novos significados e hoje se chama de vídeo desde a gravação de uma simples imagem até uma animação. Para cada tipo de imagem que se quer produzir, existe uma câmera correspondente, um aparelho gravador e outro reprodutor, com diferentes características técnicas, procedimentos operacionais e qualidade técnica de imagem e de som. Na edição, é possível alterar todo tipo de imagem. A Pop Art, Minimalismo, Novo Realismo, Arte Conceitual e Arte Povera, entre outros – capitaneados pelo Dadaísmo, uma das vertentes mais transgressoras das vanguardas estéticas no início do século XX, contribuíram para a ampliação das categorias de Arte e na queda das barreiras entre Arte e não Arte e Cultura Popular massificada. O período foi caracterizado pelo acesso dos artistas às Tecnologias de Comu- nicação com uma ampla disponibilização de equipamentos de gravação de som e imagem. Passa-se, então, a debater sobre os “novos meios de expressão” em Arte Contemporânea. O surgimento da câmera de vídeo portátil, no final da década de 1960, foi outro momento extremamente significativo com importantes efeitos em vários campos da atividade humana. Houve uma verdadeira transformação, por exemplo, na transmissão de notícias pela TV e na Publicidade, oferecendo maior agilidade e informalidade. O vídeo encaixou-se perfeitamente no clima de liberação sexual e de protesto político típicos do período e o fato de grande parte dos primeiros vídeos realizados por artistas concentrar-se nesses dois temas não surpreende. Uma das razões pelas quais o vídeo atraiu o mundo da Arte Contemporânea foi o fato de proporcionar um meio eficaz de preservar os happenings e as performances, por exemplo. Subitamente, o que era efêmero poderia se tornar permanente e ainda passível de repetição. Relativamente barata, sofisticada, onipresente e de fácil domínio, a Tecnologia do vídeo tornou-se uma ferramenta valiosa para os artistas. A partir dos anos 1980, é notável, vertiginoso e complexo o crescimento do campo da Comunicação. Para fazer frente a essa complexidade, a pesquisadora e escritora brasileira Lucia Santaella (Por que as comunicações e as Artes estão convergindo, 2005) utiliza como categorias a configuração das culturas humanas em seis grandes eras civilizatórias: 15 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades • Comunicação oral; • Comunicação escrita; • Comunicação impressa; • Comunicação pelos meios de comunicação de massa; • Comunicação midiática; • Comunicação digital. “Embora as eras sejam sequenciais, o surgimento de uma nova era não leva a anterior e anteriores ao desaparecimento. Elas vão se sobrepondo e se misturando na constituição de uma malha cultural cada vez mais complexa e densa”, afirma a autora (SANTAELLA, 2005, p.9). No início da década de 1970, artistas conceituais americanos começaram a praticar Videoarte, entre eles Bill Viola (1951-), Dan Graham (1942-), Vito Acconci (1940-) e Bruce Nauman (1941-). O vídeo em preto e branco A atenção dividida do futuro pretérito (1972), de Graham, por exemplo, registra seu projeto de reestruturação psicológica do espaço e do tempo. O vídeo mostra duas pessoas que se encontram em um mesmo espaço. Uma antecipa o comportamento da outra, enquanto a segunda pessoa narra como se lembra do comportamento da primeira. Do outro lado do Atlântico, os artistas performáticos, escultores e fotógrafos britânicos Gilbert & George (1943 -e 1942 -, respectivamente), reconheceram o potencial da Videoarte com obras como Gordon nos deixa bêbados (1972) (Figura 8), na qual dois homens bebem em uma mesa ao som de música clássica e repetem a frase “Gordon nos deixa bêbados”. Ao se apropriarem dos instrumentos da Tecnologia da Informação, os videoartistas buscaram abalar a autoridade dos estereótipos da mídia, sejam de gênero, sexualidade ou raça. Figura 8 – Gordon nos deixa bêbados (1972), de Gilbert & George, Videoarte. Fonte: tate.org.uk 16 17 Surgem, também, por volta dos anos 1970-1980, novos dispositivos tecnológicos que proporcionam uma apropriação produtiva por parte dos artistas como as máquinas fotocopiadoras, os slides, os filmes Super 8 e 16 mm, a impressão offset etc. Assim, a fotografia, as imagens digitalizadas, os vídeos, filmes e, especialmente, as várias formas de instalação, passaram a ocupar maior e legitimado espaço em museus e galerias. E, como não poderia deixar de ser, o computador pessoal que abriu um mundo inesgotável de novas possibilidades com o surgimento da Cultura Digital ou Cibercultura. O Cinema como Referência Com o aumento de seus recursos técnicos, o vídeo artístico tenta cada vez mais encontrar justificativas para sua presença numa galeria de arte e não no cinema ou na tela da TV. Uma delas se encontra nas mudanças nos próprios museus, que cada vez mais se tornam locais de entretenimento popular. Do ponto de vista dos responsáveis pelos museus, ao contrário de outras formas de expressão artística, o vídeo tem muitas vantagens – seu circuito não é oneroso e ele pode oferecer imagens espetaculares em troca de pequenos investimentos financeiros. Além disso, o público de massa que agora os museus precisam atrair considera os vídeos artísticos mais acessíveis que a maioria das outras formas de expressão de vanguarda porque pode relacioná-los à própria experiência anterior com o cinema e a televisão (LUCIE-SMITH, 2006, p.234-5). Vários vídeos famosos e discutidos da década de 1990 foram atos de apropriação. Houve trocas recíprocas entre o vídeo artístico e o filme, resultado de uma cultura saturada por imagens cinematográficas na qual falas e imagens de filmes famosos fazem parte de uma estrutura comum de referência entre os artistas visuais. Um dos vídeos mais famosos, na época, foi a versão (lentíssima) com 24h de duração do filme Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, feita pelo britânico Douglas Gordon (1966 -). Observação: pouquíssimas pessoas afirmam tê-lo assistido na íntegra. O também britânico Steve McQueen (1969 -) criou outro vídeo que também serve como exemplo: Deadpan (1997), com 4,5 minutos de duração, que reconstrói um truque da comédia muda de Buster Keaton, Steamboat Bill, Jr. (1928), no qual uma casa cai sobre o protagonista que, milagrosamente, sai ileso. Já na série Cremaster (1994-2002) (link a seguir), de Matthew Barney, é quase como se estivéssemos em um sonho, quase surrealista, lembrando o filme cult de Alejandro Jodorowski, El topo (1970), que cativou o mundo da Arte. Confi ra os cinco vídeos que compõem a série Cremaster em: http://www.cremaster.net/#Ex pl or 17 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoartee outras Possibilidades O artista norte-americano Gary Hill (195w1 -) é um dos pioneiros do vídeo in- terativo. “Essa parece ser a direção que a Videoarte deverá inevitavelmente seguir à medida que se torna cada vez mais fundamental em museus”, afirma o autor Edward Lucie-Smith (2006, p.237). Na videoinstalação Tall ships (1992) (Figuras 9), de Hill, há várias superfícies de projeção e as imagens que nelas aparecem são desencadeadas pela entrada de um espectador. Quando ele se move, as figuras surgem, aproximam-se dele, murmuram frases quase inaudíveis e depois desaparecem. Figuras 9 - Tall ships (1992), de Gary Hill, videoinstalação Fonte: dig.henryart.org Outro artista que passou a usar o vídeo em larga escala, a partir dos anos 1990, foi o norte-americano Bill Viola (1951 -). O artista tem realizado instala- ções sofisticadas de cenas e eventos que, muitas vezes, referem-se a experiências intensas, envolvendo grande emoção como cirurgias do coração e cenas de nas- cimento e morte. A capacidade de Viola evocar estados de consciência religiosa foi um importante motivo de sua popularidade. The Messenger (1996) (link a seguir) é, provavelmente, seu vídeo mais famoso e foi mostrado pela primeira vez na Catedral de Durham, na Inglaterra. No vídeo, um homem nu se ergue lentamente da água e depois volta a mergulhar. A intenção do artista é representar a repetição indefinida do ciclo de vida e morte. The Messenger (1996) (Figura 10), de Bill Viola, é, provavelmente, o vídeo mais famoso do artista. A obra foi apresentada pela primeira vez na Catedral de Durham, na Inglaterra. No vídeo, um homem nu se ergue lentamente da água e depois volta a mergulhar. A intenção do artista é representar a repetição indefinida do ciclo de vida e morte, em uma reflexão recorrente da temporalidade e transcendência. “Ele nos lembra de onde viemos. Toda vez que o homem emerge da água e respira, retornando ao nosso mundo, é como se houvesse um nascimento. E, todos na sala, assistindo à cena, nasceram daquele jeito; naquele momento, não importa se identificaram o fato conscientemente ou não”, afirmou Bill Viola sobre a obra (LUCIE-SMITH, 2006, p.237): https://youtu.be/WHoE01WKDhM Ex pl or 18 19 Figura 10 – Reprodução de The Messenger (1996), de Bill Viola, videoinstalação Fonte: guggenheim.org O refl exo do artista, captado no olho de uma coruja, tornou-se sua marca registrada com o vídeo I do not know what it is I am like (Não sei como sou), de 1986, baseado em um texto sânscrito que investiga a conexão de todos os seres vivos: https://youtu.be/jhv6dDRL-RI Ex pl or Essa busca profunda pelo eu também domina os vídeos do cineasta russo Alexandr Sokurov (1951 -), sobretudo em Oriental elegy (1996), uma paisagem que parece um sonho, filmada em uma ilha japonesa nebulosa e distante, na qual os personagens parecem estar suspensos em algum ponto entre a vida e a morte. Sokurov e Viola representam um grupo de artistas que realizam uma produção sofisticada, empregando tecnologia semelhante a dos filmes. A fusão do vídeo com o computador, que se desenvolveu desde o final dos anos 1980, juntamente com outros avanços tecnológicos relacionados à projeção, levou à criação de uma Videoarte mais ampla e mais complexa com projeções monumentais de Bill Viola e as criações inovadoras do americano Tony Oursler (1957 -) que dá vida a objetos inanimados ao projetar sobre eles cabeças falantes que conversam diretamente com o espectador. No projeto A máquina-influência (link a seguir), realizado em 2000, Oursler usou suas projeções em uma ambientação ao ar livre no Madison Square Park, em Nova Iorque, transformando a paisagem e invocando espíritos adormecidos. Árvores e prédios falantes e cabeças que conversam surgiam em meio a nuvens e fumaça, luzes, sons e espectros provocando um efeito combinado impressionante. Persona- gens do vídeo percorrem a paisagem e são projetados sobre árvores e edifícios. O artista descreve uma condição descoberta, em 1919, pelo psicanalista Viktor Tausk, na qual o paciente vê seu corpo como uma máquina de mudança constante: https://youtu.be/_YQoEgAyqp0 Ex pl or 19 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades No link a seguir confira a videoinstalação “A máquina-influência (2000), de Tony Oursler: https://goo.gl/ZpZihaEx pl or Hill, Viola, Grupo Studio Azzurro e Oursler têm aspectos importantes em comum, apesar das diferenças igualmente óbvias. Suas criações visam a atender o gosto contemporâneo pelo mágico e estranho, o que os desta- ca da primeira geração de videoartistas. Além disso, é muito mais lógico classificá-los como profissionais do entretenimento. A apresentação de suas obras em um contexto de museus e de galerias – e dificilmente elas conse- guiriam em outro espaço – redefine-os, aproximando-os mais do âmbito do entretenimento popular e afastando-os da atmosfera de análise intelectual ou visual. O paradoxo é que, na maioria das vezes, a Arte mais puramente tecnológica é aquela que estimula a emoção e a não reflexão. Aqueles que vão aos museus de Arte contemporânea em busca de magia provavelmente a encontram em obras desse tipo (LUCIE-SMITH, 2006, p.240). Figura 11 – Blue classic (2009), de Tony Oursler, Videoarte Fonte: artoffice.org Atualmente, o vídeo faz parte de diferentes estratégias artísticas, sendo usado desde o registro de uma ação à própria ação ao vivo, como o VJing – ação do VJ (videojockey) que apresenta imagens com interação no presente; a interatividade com ambientes imersivos e o videomapping (mapeamento de vídeo: projeção em objetos ou em superfícies não planas). Não existem limites para a criação artística em vídeo, que pode ser gravado, editado, manipulado, transmitido e visualizado em smartphones, câmeras fotográ- ficas, notebooks, videowall (parede de vídeo: monitores de TV conectados que formam uma única tela), cinema 3D e meros aparelhos de televisão. 20 21 Videomapping (mapeamento de vídeo) é um recurso que fi cou conhecido por sua utilização em campanhas publicitárias e vídeos de música eletrônica. Consiste na projeção de vídeo em objetos, fachadas de edifícios e estátuas, por exemplo. Para o efeito ser visto em superfícies irregulares como as construções, é necessário um programa específi co, em que a fachada ou objeto é mapeada. Com essas informações, o software pode ajustar as imagens a serem projetadas. Um exemplo é Shogyo Mujo (link a seguir), uma instalação-escultura mapeada de projeção realizada pelo artista norte-americano Joshua Harker (1970 -) e pelo estúdio de design BartKresa. Shogyo Mujo é uma expressão japonesa que representa o primeiro dos três princípios de Dharma, que sugere que todas as coisas são impermanentes. O conceito é que o crânio represente o nosso estado físico temporário de ser ao mesmo tempo a nossa imaginação e os sonhos representados nas animações projetadas. A obra é um “crânio tecni- color gigante”, que se eleva a nove metros, com superfícies multifacetadas, e se transforma em tempo real com texturas e padrões vibrantes projetados sobre todos os lados. https://goo.gl/q75118 Ex pl or Videoarte no Brasil Figura 12 – M 3x3 (1973), de Analívia Cordeiro, Videoarte. A obra é considerada a primeira obra de Videoarte realizada no Brasil. O vídeo mostra a automatização dos gestos, a relação mecânica entre as pessoas, a prioridade da mídia sobre a expressão pessoal e a artifi cialidade da representação das cores na televisão em preto e branco Fonte: pacodasartes.org.br As primeiras experiências em Videoarte no Brasil, realizadas no início da década de 1970, foram basicamente como registro de performances. A partir de meados da década, começam a ser identificadas pesquisas e trabalhos realmente efetivos em Videoarte. Surgem os nomes de Anna Bella Geiger, Sônia Andrade, Ivens Machado, Angelo de Aquino, Fernando Cocchiarale e Analívia Cordeiro como iniciadores dessas pesquisas. Esse grupo de artistas, por exemplo, com o equipamento defilmagem em preto- -e-branco Portapak, finalizou seus vídeos e os enviou à exposição Video Art do Institute of Contemporary Art, da Universidade da Pensilvânia (Estados Unidos), em 1974. 21 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Nos anos seguintes, o empenho do professor Walter Zanini, então diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP, em São Paulo, foi fundamental para a consolidação da Videoarte no Brasil. O museu adquiriu um Portapack colocado à disposição de um grupo cada vez mais extenso: Regina Silveira, Gabriel Borba Filho, Jonier Marin, Carmela Gross, Marcelo Nitsche, Júlio Plaza, Gastão Magalhães, Flávio Pons e Sônia Andrade. Formou-se assim, o Espaço B, um núcleo para a produção de audiovisuais. Foram também realizadas exposições importantes como a Video Art (mostra homônima a dos Estados Unidos, em 1975) e a Vídeo MAC (com a participação dos artistas do Espaço B, em 1977). Em 1978, o Museu da Imagem e do Som, também em São Paulo, realiza o I Encontro Internacional de Vídeo Arte, possibilitando uma mostra da produção realizada no Brasil até então. Letícia Parente, um Nome a ser Lembrado O vídeo Marca registrada (1975) (Figura 13), de Letícia Parente (1930-1991), é, também, uma das principais referências da primeira geração da produção videográfica brasileira. Na obra, a artista borda sobre a própria pele da sola de seu pé a frase Made in Brasil (Figura 13). Esse trabalho tornou-se um dos vídeos mais emblemáticos das experiências da primeira geração do vídeo brasileiro. Letícia também trabalhou com pintura, gravura, objetos, fotografia, projetos audiovisuais, Arte postal, xerox e instalações. Figura 13 – Marca registrada (1975), de Letícia Parente, videoperformance (9 min) Fonte: pacodasartes.org.br A presença crítica do corpo está registrada em vários trabalhos dos artistas que introduziram a Arte do vídeo no Brasil, em sua grande maioria em práticas performáticas captadas em tempo real e criadas especialmente para vídeo. Diferentemente de outros países, na década de 1970, nos quais performances e body art eram apresentas em espaços públicos, no Brasil, em pleno período ditatorial, essas ações eram realizadas em caráter privado em função da censura e registrados pelas câmeras de vídeo. 22 23 Uma nova geração, formada na década de 1980, por Roberto Sandoval, Rafael França, Walter Silveira e Tadeu Jungle, entre outros artistas, gerou um grupo de produtores independentes chamados de videomakers, que tentaram criar outra forma de fazer Televisão com maior criatividade e livre de imposições comerciais. Mesmo que essa intenção não tenha logrado êxito, contribuiu para que algumas mudanças visuais ocorressem na TV brasileira. Na década de 1980, o grande desenvolvimento dos centros de Tecnologia foram o diferencial da Videoarte na América do Norte e na Europa em relação à experiência brasileira. No nosso país, o processo de iniciação do vídeo se deu de forma muito particular com alguns artistas entre eles Antônio Dias e mais tarde Rafael França, que dispuseram de tecnologia desses grandes centros, na Itália (Art Tape 22) e na América (Instituto de Arte de Chicago), respectivamente. Entretanto, para os demais artistas, o processo intuitivo e a falta de recursos tecnológicos marcaram o vídeo brasileiro nos primórdios. Rafael França (1957-1991) foi precursor no Brasil de experiências que articulam Arte e Tecno- logia. O artista afastou-se dos meios tradicionais das Artes plásticas, inovou nos processos de elaboração da imagem-movimento ao utilizar novos meios em seus trabalhos, o que resultou em refl exões e debates sobre as relações entre palavra-imagem e sobre o corpo. Na mesma década, formou, com Hudinilson Jr. e Mario Ramiro, o coletivo 3Nós3, que realizou interven- ções, muitas vezes de forma anônima, no espaço urbano com forte caráter político. Confi ra a obra After a deep sleep (Getting out) (link a seguir), de 1984, de Rafael França: https://goo.gl/YCDEX8 Ex pl or Consolidação da Arte do Vídeo Os anos 1990 são considerados como o período de consolidação da Arte do vídeo no país. Diferentemente das gerações anteriores que trabalharam em tempo real do vídeo, agora os artistas tendem a fragmentar as imagens e decompô-las em ritmos alucinantes. A partir dos recursos tecnológicos interativos disponíveis em grande escala, as experiências de Arte partilham ainda mais o gesto criador do artista com o receptor, reconfigurando diálogos em tempo real. No início do século XXI, o vídeo no Brasil já se encontra consolidado como linguagem, possui um caminho próprio no circuito das Artes e é uma das tecnologias mais próximas e acessíveis aos artistas. Insere-se plenamente no contexto digital, com câmeras leves, uma variedade de aplicativos de edição, bem como enorme difusão e atualização tecnológica propiciada por sua associação ao computador e às redes de comunicação digital. Não se trata mais – como no período pioneiro – da exploração de uma inovação tecnológica, mas de um campo de passagens expandido para as mais diferentes áreas (MELLO, 2008, p.148). 23 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades A videoperformance Desenho-corpo (2001) (link a seguir), de Lia Chaia (1978-), constitui um repertório de visão crítica sobre o corpo na contemporaneidade. Na obra, a artista está nua diante da câmera em um ambiente privado em uma relação direta com a câmera, que constrói a ação narrativa. A artista desenha sobre seu próprio corpo, com uma caneta esferográfica de cor vermelha, ao ritmo de uma música. A ação está submetida à duração da tinta na caneta. O trabalho termina depois de 51 minutos, no exato momento em que termina a tinta. No link a seguir confira a videoperformance de Lia Chaia, Desenho-corpo (2001) (51 min – Até a carga da caneta acabar): https://goo.gl/cgU3hqEx pl or A professora, pesquisadora e artista Maria Beatriz de Medeiros, em suas ações com o grupo Corpos Informáticos, na Universidade de Brasília, pesquisa as relações entre o corpo e as tecnologias, tendo como referências a História da Arte e a Filosofia. O grupo vem desenvolvendo, desde 1992, trabalhos teóricos e práticos visando a confrontar corpo humano e tecnologias em performances realizadas na Internet, videoinstalações, net art (Arte da Internet, Arte da rede, Arte telemática) e telepresença. Performances em telepresença acontecem centradas em galerias, teatros ou unicamente na Internet. O local é apenas a base. As performances em telepresença acontecem na rede mundial de computadores e são abertas a todo internauta, artista ou não. Todo participante é criador da obra. A instalação Estar (2005) (Figura 14), do Corpos Informáticos, foi apresentada na 5ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (Rio Grande do Sul). A partir de uma sala de estar real montada em um dos locais da Bienal, os artistas do grupo interagiram em telepresença com diversos internautas durante o evento. Figura 14 – Tela de um computador com a instalação Estar (2005), do grupo Corpos Informáticos, apresentada na 5ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (Rio Grande do Sul) 24 25 Wired City, a Cidade e a Arte Conectadas Outra característica do século XXI é a intensidade de trabalhos com as novas mídias. As práticas tecnológicas se inserem acentuadamente nas práticas sociais e, consequentemente, acabam sendo apropriadas pelos artistas que realizam intervenções digitais de toda ordem. São as poéticas da wired city (cidade conectada). Artistas passam a pesquisar sistemas complexos de linguagem, criando disposi- tivos e atuando na elaboração de regras e procedimentos lógicos específicos com o objetivo de experimentação de novas formas de expressão. “Como um movimento de inteligência coletiva, as poéticas da wired city articulam intervenções num am- biente cultural em que as novas mídias já se encontram disseminadas nas práticas sociais e no contexto urbano”, afirma Christine Mello (2008, p.220). A autora cita JulioPlaza e Mônica Tavares (1998, p.97), que analisam métodos de criação artística: “Eles analisam cerca de dez modos de operar as novas Tecnologias. Entre eles, o método dos limites, que consiste em ‘explorar as leis, normas e regras que definem um projeto, na tentativa de nelas reconhecer as fronteiras do seu campo de atuação para, a partir daí, poder transgredi-las’”. São Paulo é, provavelmente, a cidade que mais compreende a dinâmica digital no país. É uma cidade conectada, um gigantesco e dinâmico aparelho cultural com suas contradições, como qualquer grande metrópole: local x global e inclusão x exclusão digital. Um exemplo é o coletivo A revolução não será televisionada, que atuou entre 2002 e 2005, na capital paulista, com seus projetos de intervenção em programas de televisão e também nos sistemas públicos como o trabalho Cubo (2005) (link a seguir), intervenção urbana feita com telas de sete metros e produção audiovisual, montado no centro de São Paulo. No link a seguir confi ra a intervenção urbana com telas de 7 metros e produção audiovisual do coletivo “A revolução não será televisionada” Cubo (2005): https://goo.gl/9CkbofEx pl or O coletivo nasceu em 2002, como um programa de Televisão que buscava intervir nessa mídia, mesclando elementos jornalísticos e artísticos. O grupo era composto por Daniel Lima, Daniela Labra, André Montenegro e Fernando Coster. O programa foi veiculado por TV a cabo durante três meses, em oito episódios de vinte e cinco minutos cada, contando com a colaboração de cerca de cinquenta artistas, tanto jovens quanto já estabelecidos, como André Komatsu, Regina Silveira, Ricardo Basbaum, Tiago Judas e Lia Chaia, entre outros. Cada capítulo contemplava experimentações visuais e sonoras e, posteriormente, os trabalhos dos participantes foram catalogados separadamente. 25 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Vejamos o que o professor Eduardo de Jesus, doutor em Artes pela Escola de Comunicação e Artes da USP, fala sobre a Videoarte hoje e como ela dialoga com outras expressões artísticas: Hoje, tudo mudou muito. O próprio vídeo, como suporte, não existe mais. A expressão Videoarte tem sido substituída por outras, como “linguagem audiovisual” ou “experimentação de imagem em movimento”, para dar conta dos mais diversos suportes disponíveis hoje. Não faz mais sentido falar em vídeo. Aliás, hoje não nos fixamos mais no suporte. Não importa se uma proposta foi realizada com fotografia ou numa câmera digital, numa Super 8, numa 16 mm ou até numa pinhole. O que importa é: o que virou o trabalho? Dialoga com questões contemporâneas? Vivemos a era do pós-mídia, que é o pós-suporte. Essa sensação reposiciona o lugar das coisas. A Videoarte deixou um legado de visualidade, seja para o cinema, o videoclipe, a televisão. E essa herança tem de se reposicionar de acordo com os novos contextos onde a Arte está. A videoarte está totalmente absorvida. Não existe nenhuma exposição de arte contemporânea sem a linguagem audiovisual! Ela foi levada para outros patamares. Chega ao universo do entretenimento e das festas, com o trabalho dos VJs. Há inúmeros exemplos de colaboração com a dança, quando o cenário é um vídeo ou até de forma mais intrínseca, quando possibilita o encontro entre dois bailarinos, através do vídeo. A coisa mais interessante é que o vídeo e a videoarte eram fortemente ligados à arte de forma marginal. Hoje, ocupam a centralidade (JESUS, 2013). Cinemas ao Vivo Cinemas ao vivo são caracterizados por peças audiovisuais experimentais, perten- centes à dimensão do Cinema expandido e que incorporam, por meio da justaposi- ção de sequências fílmicas, seja ela ao vivo, pré-gravada ou generativa, a edição de imagens em tempo real. O artista se apresenta editando o seu trabalho diante da pla- teia como se fosse um ato performático. A maioria das obras é mediada por laptops que utilizam softwares específicos como Max, Isadora, Modul8 ou outros. As ima- gens tendem a ser mais estilizadas e menos realistas e se aproximam, dessa maneira, a outras tradições do Cinema como os de vanguarda, underground e experimental. Gontijo (2012, p.212) destaca que produções de Cinemas ao vivo podem conter tendências como Cinema do Banco de Dados, Cinema em Circuito Fechado e Cinema Generativo. Elas podem ser identificadas individualmente ou estar presentes simultaneamente em uma obra, “ainda que uma delas sempre se sobressaia como tônica dominante”. • Cinema do Banco de Dados: Organização em tempo real de recortes fílmicos armazenados no computador, sendo sua principal característica a utilização de imagens previamente concebidas em outro espaço-tempo. Esses vídeos de pequena duração, sem começo ou fim determinados, são acessados 26 27 e recombinados entre si durante a performance, propondo construções de novas sequências e significados. The Tulse Luper VJ Performance (2005) (link a seguir), de Peter Greenaway (1942-), é um bom exemplo do que é o Cinema do Banco de Dados. Um monitor sensível ao toque foi desenvolvido especialmente para este trabalho, permitindo o acesso rápido ao banco de dados do computador para, em um simples clique, ordenar as cenas e sequências da apresentação. Greenaway se apresenta sempre com um músico convidado que executa ao vivo as trilhas sonoras. Na obra, o artista conta as aventuras do escritor Tulse Luper durante o período de 1921 a 1989, que cobre os principais acontecimentos do século XX. The Tulse Luper VJ Performance (2005), de Peter Greenaway, performance, Cinema do Banco de Dados: https://goo.gl/oprQ1oEx pl or • Cinema em Circuito Fechado: Uma câmera de vídeo capta imagens ao vivo, transmite seu sinal para um computador e, por meio de softwares de edição de imagens em tempo real, o artista dá novos significados aos conteúdos recebidos. Este tipo de cinema é o que propõe um diálogo mais próximo com outras manifestações artísticas, tais como, performance, dança contemporânea, teatro e música ao vivo. Em alguns casos, atores ou bailarinos tornam-se protagonistas do filme experimental que acontece juntamente com a ação performática. O registro é manipulado e editado, descolando gradualmente a imagem do re- gistro original. Manipulações de cor, velocidade (atrasos), distorções e movimentos também são utilizados. Um exemplo de Cinema em Circuito Fechado é a per- formance Eile (2009) (Figura 15), do artista francês Yroyto (Elie Blanchard): “O cinema produzido em Eile é efêmero pois todas as imagens são criadas ao vivo, já que não existe nenhuma imagem armazenada em seu computador” (GONTIJO, 2012, p.223). Figura 15 – Eile (2009), de Yroyto (Elie Blanchard), performance, Cinema em Circuito Fechado Fonte: Yroyto, 2009 27 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades • Cinema Generativo: Surge em ambientes digitais nos quais o computador (softwares) atua como um filtro para produzir variações de elementos, transformando inputs (entradas) em novos outputs (saídas). Ao captar um som, por exemplo, algoritmos binários referentes a determinados parâmetros sonoros (frequência, timbre ou volume) são transformados em algoritmos relacionados a imagens abstratas que se constroem numa relação direta com a música, criando múltiplas e novas sensações. O termo generativo vem de Arte Generativa, ou Arte que gera Arte, resultado de um Sistema autônomo capaz de determinar as características (formas, sons, cores etc.) de um trabalho. Ryoji Ikeda (1966-) é um músico minimalista e artista visual japonês que desen- volve trabalhos de Cinemas ao vivo, a partir de sistemas generativos que reconhe- cem os parâmetros de suas composições eletrônicas transformando-as em linhas, gráficos, códigos numéricos e pontos que se deslocam pelo espaço da projeção em ritmos e andamentos propostos pela música. A performance Test pattern (2008) (Figura 16) surgiu a partir de um sistema que converte, com extrema rapidez, di- versos tipos de dados (sons, textose fotos) em códigos de barra e padrões binários. As imagens em preto e branco pulsam freneticamente na escuridão acompanhadas por uma intensa trilha sonora altamente sincronizada, provocando os sentidos e alterando a percepção sensorial nesse ambiente imersivo. Figura 16 – Test pattern (2008), de Ryoji Ikeda, performance, Cinema Generativo Fonte: isea2013.org Fotografia Expandida A produção fotográfica, dentro de um projeto estético contemporâneo, livre dos conceitos da fotografia convencional é caracterizada de Fotografia Expandida – ou fotografia experimental, construída, contaminada, manipulada, criativa, híbrida, precária, entre tantas outras denominações. O certo é que a ênfase está 28 29 na importância do processo de criação e nos procedimentos utilizados pelo artista. A finalidade é a produção de imagens que sejam essencialmente perturbadoras, desafiadoras, que subvertem os modelos e desarticulam referências. Figura 17 – Antecâmara da máscara VIII (2001), de Odires Mlászho, fotografi a Fonte: itaucultural.org.br A nova produção imagética deixa de ter relações com o mundo visível imediato, pois não pertence mais à ordem das aparências, mas sugere diferentes possibilidades de suscitar o estranhamento em nossos sentidos... Atualmente, podemos realizar qualquer tipo de intervenção na produção de imagens fotográficas, em qualquer momento de seus diferentes estágios de produção, e em qualquer nível. Não se questiona mais a veracidade da fotografia... Liberados que estão da preocupação testemunhal, os artistas justapõem a aparência da “realidade” da fotografia com sua grande capacidade de intervenção e magia, fazendo-nos aproximar e vislumbrar um reino que está bastante próximo da razão e da experimentação, simultaneamente (FERNANDES JR., 2006, p.17). Fernandes Jr. Cita o artista e editor alemão Andreas Müller-Pohle (1951-) que, em 1985, identifica três níveis de intervenção da fotografia contemporânea: 1. O artista e o objeto: Inclui tudo, desde naturezas mortas “arranjadas” até a autoencenação com o próprio fotógrafo diante da câmera. Entre os muitos procedimentos possíveis, Müller-Pohle destaca: o cut paper (fotografia recortada); a produção de imagens por apropriação de outras imagens; a encenação do autorretrato; a nova natureza morta (still life); as construções por miniaturas; a construção de “realidades”; a direção de cenas; as instalações e as esculturas e os diários íntimos, entre outros. 29 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Figura 18 – Autorretrato (1994), de Rubens Mano, fotografia (matriz-negativo) Fonte: itaucultural.org.br 2. O artista e o aparelho: Uso dos equipamentos contrariamente à sua função preestabelecida, ou seja, ao seu programa de funcionamento. Exemplos: movi- mento (horizontal, vertical, circular) da câmera durante o registro, gerando imagem trêmula e nem sempre reconhecível imediatamente; câmera cega (blind camera); uso de filtros sem intenções corretivas; superposição de imagens; desfoque como estratégia de representação; câmera pinhole (buraco de agulha); uso de câmeras Artesanais, câmeras amadoras, câmeras de foco fixo com lentes de baixa qualidade e fotografia sem o aparelho (sem câmera), entre outras. Operação A3-1 (2014), da série Operação Aranhas/Arapongas/Arapucas, de Rosângela Rennó, três impressões digitais sobre papel a partir de fotografias realizadas por José Inacio Parente (Rio de Janeiro, 1968), Rosângela Rennó (Belo Horizonte, 1984) e pela Cia. de Foto (São Paulo, 2013), papel de seda, acrílico e objetivas antigas (141 x 80 x 6 cm): https://goo.gl/3nCtLn Ex pl or 3. O artista e a imagem: Interferência no suporte (negativo e/ou positivo). O processo produtivo após fotografar implica, nessa estratégia, pelo menos uma etapa de processamento envolvendo a integração da fotografia em um “organismo visual” mais complexo, combinando-a com outras mídias ou transferindo-a para outros suportes. Exemplos: solarização, fotograma, fotomontagens e superposições (sanduíches), revelação forçada; as alterações de processos químicos; reprodução de processos primitivos, heliografia, fotogravura, platina e paládio, manipulação da matriz após ser digitalizada via scanner. 30 31 Figura 19 – Sem título (2010), de Denise Cathilina, fotografi a (30 x 50 cm) Fonte: Denise Cathilina, 2010 Holografia Considerada por muitos como o futuro da fotografia, a holografia não se desenvolveu como o esperado. Sua base teórica foi criada em 1948, pelo cientista húngaro Dennis Gabor, quando tentava melhorar a precisão de um microscópio eletrônico. Mas, a técnica só foi colocada realmente em prática quando da introdução da tecnologia laser, na década de 1960. A holografia usa um raio laser dividido em duas partes para criar um padrão complexo de interferência sobre o negativo fotográfico sem a necessidade do uso de lentes. Esse padrão forma o registro da aparência tridimensional dos objetos em direção ao qual uma parte do raio é apontada. A técnica de captação e impressão fotográfica possibilita a reprodução da tridi- mensionalidade e da posição do objeto no espaço em relação ao raio de luz inci- dente sobre ele e, ainda, a visualização em uma superfície bidimensional, oferecen- do diferentes espectros de cores e perspectivas conforme a posição do espectador. Embora vários artistas como, por exemplo, Salvador Dali (1904-1989) e o norte-americano Chuck Close (1940-) tenham realizado diversos experimentos com a holografia como meio artístico, ela nunca decolou, especialmente por causa do custo e da dificuldade de utilização. 31 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Figura 20 – Cérebro de Alice Cooper (1973), de Salvador Dalí e Selwyn Lissack, holografia Fonte: spie.org Os retratos holográficos – trabalhos artísticos mais comuns – são possíveis mediante o uso de filme cinematográfico como processo intermediário. A produção de hologramas de grande porte é difícil e onerosa. Na década de 1970, estúdios e escolas norte-americanas começaram a difundir técnicas diferentes às das aplicações industriais da holografia – hoje, por exemplo, ela é usada nas notas de dinheiro (papel-moeda) e em cartões de crédito para dificultar a falsificação. No Brasil, o Masp – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, realizou, em 1975, a mostra do artista visual alemão Dieter Jung (1941-) com trabalhos holográficos e, quatro anos depois, a 15ª Bienal Internacional de São Paulo expôs trabalhos da artista Setsuko Ishii (1946-). Figura 21 – Ping-pong (2000), de Dieter Jung, holografia Fonte: Dieter Jung 32 33 Figura 22 – Floating 1 (1997), de Setsuko Ishii, holograma gerado por computador Fonte: Setsuko Ishii, 1997 No início da década de 1980, o artista brasileiro Moysés Baumstein (1931- 1991), fascinado com o estudo de imagens em três dimensões, de forma autodidata e com equipamentos improvisados, inicia pesquisa sobre holografia. Em 1983, realiza workshop com Dieter Jung, passando a aprimorar sua técnica. O artista propõe, então, uma abordagem técnica/poética para o uso da holografia como um desenvolvimento natural a partir de seu interesse cinético. Ao desenvolver novos sistemas de controle cromático para os hologramas, cria um parâmetro inédito para a técnica em todo o mundo. A obra Voyeur (1987), de Baumstein, mostra com espírito cômico as possibi- lidades da holografia. Em uma fechadura projetada, uma caverna com caveiras é visualizada pelo espectador, mas, ao se aproximar – ato necessário para a visuali- zação do holograma na placa holográfica – a imagem desaparece numa poeira de luz, deixando o espectador/voyeur preso à fechadura. Após ter sucesso em difundir o uso comercial do meio no país e realizar, em 1984, uma exposição individual de hologramas no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo/SP, Baumstein passa a trabalhar, em 1985, em conjunto com o artista gráfico e professor Julio Plaza (1938-2003), os poetas Augusto de Campos (1931-), DécioPignatari (1927-2012), a pesquisadora Rozélia Medeiros (1950-) e o artista multimídia e arquiteto José Wagner Garcia (1956-). 33 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Figura 23 – Poema-bomba (1987), de Moysés Baumstein, com participação de Augusto de Campos, holografia Fonte: Moysés Baumstein, 1987 O técnico em holografia Fernando Eugenio Catta Preta (1956-) e o artista visual e poeta Eduardo Kac (1962-) também produziram vários trabalhos conjuntos em holografia. Catta Preta e Kac colaboraram pela primeira vez em 1983, quando o técnico auxiliou o poeta carioca a holografar o poema HOLO/OLHO. Kac é um dos artistas mais persistentes na utilização dessa Arte, realizando cerca de 23 poemas no período de 1983 a 1993, produção que denominou Holopoesia. Esse trabalho foi reconhecido, em 1995, pelo Shearwater Foundation Holography Award, prêmio de maior prestígio no campo da Arte holográfica na época. Figuras 24 e 25 – Imagens de Maybe then, if only as (1993), de Eduardo Kac, holografia computadorizada Fonte: ekac.org e art-in-holography.org 34 35 Xerografia (Arte Xerox) Xerografia ou Arte xerox surgiu desde que as primeiras máquinas fotocopiado- ras apareceram no Mercado, nos anos 1960. Os primeiros artistas reconhecidos em fazer a Arte da cópia são os norte-americanos Charlie Arnold Jr. (1922-2011) e Wallace Berman (1926-1976). Arnold Jr., instrutor no Rochester Institute of Technology, fez as primeiras fotocópias com intenção artística em 1961, usando uma grande câmera Xerox em uma base experimental, e Berman usou uma má- quina fotocopiadora Kodak para fazer cópias das imagens que ele iria justapor em um formato de grade. Figura 26 – Sem título (c. 1960), de Wallace Berman, fotografi a, letraset, fragmento fotocopiado, aquarela, grafi te e selo em papel (20 × 26,7 cm) Fonte: Wallace Berman, 1960 As impressões em xerografia são criadas a partir da colocação de objetos sobre o vidro de uma máquina de copiar. Se o objeto não for plano, ou a tampa não cobrir totalmente o objeto, ou o objeto for movido, a imagem resultante será dis- torcida. Importante destacar que cada máquina pode ter ajustes diferentes, criando resultados diferentes. Apresentamos, aqui, algumas técnicas básicas em xerografia: • Imagem direta: cópia de itens colocados no cilindro (cópia normal); • Colagem: variação de imagem direta, com itens colocados no cilindro em várias camadas, focando no elemento que está em primeiro plano; • Sobreimpressão: criação de camadas de informação, uma sobre a anterior, imprimindo na mesma folha de papel mais de uma vez; • Separação de cores: interfere no mecanismo de separação de cores de uma copiadora em cores; 35 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades • Coloração: variar a densidade de cor e matiz ajustando os controles de exposição e equilíbrio de cor; • Degeneração: cópias sucessivas de uma cópia que desintegram a imagem; • Cópia de movimentos: criação de efeitos movendo um item ou imagem no cilindro durante o processo de digitalização. Em 1991, o cineasta norte-americano Chel White (1959-) realizou o filme de animação em xerografia com quatro minutos Choreography for copy machine (Photocopy cha cha) (Figura 27), no qual todas as imagens foram criadas exclusivamente usando as capacidades fotográficas únicas de uma fotocopiadora. Foram geradas imagens sequenciais de mãos, rostos e outras partes do corpo. Cores em camadas foram criadas. O filme alcança uma estética de sonho com elementos do sensual e do absurdo. O curta foi apresentado em importantes festivais de cinema e recebeu prêmios. Detalhe: fabricantes de máquinas copiadoras realizam investimentos para a experimen- tação artística como o empréstimo de equipamentos, patrocinam apresentações e progra- mas de residência artística. Confira Choreography for copy machine em: http://www.chelwhite.com/ Ex pl or Figura 27 – Cena de Choreography for copy machine (Photocopy cha cha) (1991), de Chel White, xerografia e vídeo (4 min) Fonte: Wikimedia Commons Arte Xerox no Brasil A conjuntura política, social e das Artes no Brasil, no final dos anos 1970 e início da década seguinte, serviu como mote para que artistas inconformados encontrassem alternativas para contestar o discurso autoritário da maioria das instituições de Arte e assumir uma postura de desafio ao circuito tradicional. E a xerografia foi um desses meios. Com raízes na Arte Conceitual, que privilegiava 36 37 a desmaterialização da obra, a Arte efêmera e a performance, a nova Arte abriu a possibilidade de reprodução de imagens a um custo muito baixo, tornando-as acessíveis a um público maior, por exemplo. As imagens podiam ser reproduzidas com distorções, combinações e sobreposições, como se pode ver na série Yoko, de Bené Fonteles (1953-). Grande parte dessa produção era experimental e possuía boa dose de informalidade e imprevisibilidade. Pouco comercializadas, as obras eram trocadas ou doadas. Figura 28 – Yokos (1981-1987), de Bené Fonteles, xerografi a colada sobre papel (57,9 x 168,6 cm) Fonte: mam.org.br Figura 29 – Yokos (1981), de Bené Fonteles, xerografi a colada sobre papel (46,3 x 30,6 cm) Fonte: mam.org.br Figura 30 – Jonh II (1981), de Bené Fonteles, xerografi a colada sobre papel (43,3 x 29,6 cm). Fonte: mam.org.br Mas, talvez, ninguém tenha transgredido tanto nessa Arte quanto o artista paulistano Hudinilson Urbano Jr. (1957-2013), ou simplesmente Hudinilson Jr., um dos pioneiros da Arte xerox no Brasil. Ele reverteu o uso convencional desse meio, fotocopiando seu próprio corpo na série Exercícios de me ver, a partir de 1982, em que retratou a si mesmo simulando um ato sexual com uma fotocopiadora. 37 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Figura 31 – “Narcisse” Exercício de Me Ver (1983), de Hudinilson Jr., xerografia Fonte: Hudinilson Jr., 1983 Além da xerografia, Hudinilson Jr. experimentou múltiplas expressões artísticas como desenho, pintura, mail-art (Arte postal), grafite, performance e intervenções urbanas, nas quais o corpo humano masculino é tema recorrente. Em 1979, funda o grupo 3nós3 com os artistas Rafael França (1957-1991) e Mário Ramiro (1957-), que até 1982 realiza intervenções artísticas na paisagem urbana de São Paulo. Em 1984, Hudinilson Jr. participa da primeira edição da Bienal de Havana (Cuba) e da exposição Arte Xerox Brasil, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, da qual foi o curador. Expõe na 18ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1985, e na 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul (Porto Alegre), em 2001. No link a seguir confira a xerografia Le Pape/The Pope (1983), de Hudinilson Jr: https://goo.gl/5vxMMZEx pl or Arte Postal: Primeira Forma de Arte em Rede Figura 32 – Convite da Mostra Internacional de Arte Postal realizada no Museu Postal e Telegráfico (atual Museu Nacional dos Correios), em 1992, em Brasília/DF. Arte: Zélio Visconti Fonte: Zélio Visconti, 1992 38 39 Nascida oficialmente na década de 1960, a Arte postal já era conhecida por futuristas e dadaístas no início do século XX, por meio de experiências e trabalhos de Pablo Picasso (1881-1973), Henri Matisse (1869-1954), Marcel Duchamp (1887- 1968), Kurt Schwitters (1887-1948), Max Ernst (1891-1976) e Francis Picabia (1879-1953), entre outros. Duchamp, por exemplo, trocava correspondências com finalidades estéticas, além de acreditar que qualquer um poderia intervir em uma criação – o que se assemelha, em muito, à lógica da Arte postal e à possibilidade de intervenção em uma obra por várias pessoas. O ano de 1962 é tido como o marco do surgimento da Arte postal com a criação da New York Correspondance School of Art, pelo artista neodadaísta americano Ray Johnson (1927-1995). A partir desse momento, o correio é formalizado como veículo que serve como meio de expressão e integração cultural entre artistas das mais diversas partes do Globo. Tendo como base também valores da Arte Conceitual, surge,então, o que é considerada a primeira grande forma de Arte em rede, uma rede anterior ao advento das redes telemáticas. Em 1963, foi criado pelo artista integrante do grupo Fluxus, Robert Filliou (1926-1987), o conceito de eternal network, rede que lida com listas de endereços dos participantes, sendo que qualquer um pode sair ou entrar a qualquer momento que desejar, mantendo o fluxo e movimento dos circuitos artísticos. Arte postal de Ray Johnson (s/d): https://goo.gl/Z1oi3T Ex pl or Os trabalhos produzidos nos anos 1960 e 1970, em Arte postal, marcam um conceito no qual as criações não privilegiam mais as obras como mercadoria, mas sim como um produto de comunicação no qual se destacam os elementos da interatividade, da produção coletiva que gera a possibilidade de coautoria, da obra em constante modificação, diante de redes que privilegiam o intercâmbio político e cultural. Na América Latina, as primeiras manifestações de Arte Postal datam de 1969, na Argentina, por meio de Liliana Porter (1941-) e Luis Camnitzer (1937-), e no Uruguai, por Clemente Padín (1939-). No Brasil, o poeta visual Pedro Lyra (1945) publica, em 1970, o Manifesto de Arte Postal. Em 1974, o movimento ganha força no continente sul-americano, pois nesse ano é realizada em Montevidéu o Festival de la Postal Creativa – primeira exposição documentada de Arte Postal na América Latina. Uma data importante nesse cenário é dezembro de 1975, quando foi realizada, em Recife (Pernambuco), a Exposição Internacional de Arte Postal, organizada por Paulo Bruscky (1949-) e Ypiranga Filho (1936-), envolvendo um grande número de artistas. O curioso é que os trabalhos foram expostos no salão de entrada de um hospital público, local nada tradicional em relação a exibições artísticas. 39 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Importante! Como desdobramento de sua Arte Postal, da ampla utilização de materiais baratos e da criação de circuitos alternativos para circulação de suas obras, Paulo Bruscky realiza uma performance nas ruas do Recife (Pernambuco). O artista confeccionou um envelope de 1,80 m x 0,90 m contendo uma carta de cinco metros. O objeto foi conduzido pelas ruas da cidade até chegar ao edifício central dos correios, onde foi enviada para uma Galeria de Arte de Buenos Aires (Argentina), juntamente com os registros da performance. Trocando ideias... Figuras 33 – Ação postal (1975), de Paulo Bruscky, performance Fonte: Paulo Bruscky, 1975 Em 1976, Paulo Bruscky e Daniel Santiago (1939-) organizam a Exibição Internacional de Arte Postal, também em Recife, que foi fechada pelos militares uma hora após sua abertura, com a prisão de seus organizadores. Esse ato repercutiu internacionalmente, mostrando para o mundo a repressão ditatorial e o porquê do papel de luta e denúncia assumido, a partir de então, pelos artistas latino-americanos. Figura 34 – Arte postal de Paulo Bruscky (s/d) Fonte: Paulo Bruscky, 1975 40 41 e-mail Art, a Arte Postal de Hoje? Após a década de 1990, com a popularização da Internet e das novas formas de comunicação, a Arte postal migrou em grande parte para a Internet, tornando- -se e-mail art. Alguns artistas acreditam que essa digitalização da Arte seria uma nova forma de Arte, havendo grandes distinções entre mail art e e-mail art. Outros acreditam que esse movimento só se atualizou, que continua com os mesmos conceitos, mudando apenas a plataforma de envio. Com a Internet, um maior número de cópias em PDF, fotografias, criações digitais passaram a ser os principais conteúdos do e-mail art, além da performance, que tem sido uma vertente de conteúdo com bastante presença nessa nova forma de envio de Arte. As performances são documentadas em vídeo e transmitidas por meio de filmes para Internet. O artista norte-americano Chuck Welch (1948-), ou Crackerjack Kid, expôs pela primeira vez suas obras de Arte Postal, em 1973. A partir desse momento, tornou-se ativamente envolvido com essa Arte. Welch foi aluno da New York Correspondance School of Art, de Ray Johnson. Além de ser um participante ativo na Arte Postal por aproximadamente duas décadas, Welch também publicou dois livros importantes: Networking currents (1986) e Eternal network: a mail art anthology (1995). Na medida em que a Internet começou a evoluir, Welch explorou a relação entre Arte Postal e a Internet por meio do projeto Telenetlink (1991). Ele também criou o Emma – Electronic Museum of Mail Art (Museu Eletrônico de Arte Postal) (Figura 35), o primeiro site baseado na web dedicado à Arte Postal e a primeira Galeria de Arte Virtual de E-mail Art. https://goo.gl/dBd6nA Ex pl or O Museu Eletrônico de Arte Postal, de Crackerjack Kid, reúne obras de artistas de vários países como Estados Unidos, França, Itália, Espanha, Bélgica, Ingla- terra, Canadá, Suíça, Polônia, Uruguai, Argentina, México e Alemanha. Confira a seguir alguns trabalhos pos- tados no museu: Hoje, a Arte Postal e a E-mail Art contam não só com artistas visuais, mas também com poetas, músicos, arquitetos, fotógrafos – renomados ou anônimos, que encontraram nesse meio uma manei- ra particular e especial de expressão. Figura 35 – E-mail art de Jaime Weitzman, Estados Un idos (s/d). E-mail art de Crackerjack Kid, Estados Unidos (s/d). E-mail art de Giorgio Di Donfrancesco, Itália (s/d). E-mail art de Clemente Padin, Uruguai (s/d) Fonte: Museu Eletrônico de Arte Postal, de Crackerjack Kid, S/D 41 UNIDADE Arte Tecnológica – Videoarte e outras Possibilidades Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Associação Cultural Videobrasil Fundada por Solange Farkas, em 1991, a Associação Cultural Videobrasil é fruto do desejo de acolher institucionalmente um acervo crescente de obras e publicações, que vem sendo reunido desde a primeira edição do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, em 1983. Desde então, a Associação trabalha sistematicamente no sentido de ativar essa Coleção, que reúne obras do Sul geopolítico do mundo – América Latina, África, Leste Europeu, Ásia e Oriente Médio, clássicos da Videoarte, produções próprias e uma vasta coleção de publicações sobre Arte. http://site.videobrasil.org.br/ Blog sobre Nam June Paik https://goo.gl/DbVGeY Livros Videobrasil: Três Décadas de Vídeo, Arte, Encontros e Transformações FARKAS, S.; MARTINHO, T (org.). Videobrasil: três décadas de vídeo, Arte, encontros e transformações. São Paulo: SESC São Paulo/Associação Cultural Videobrasil, 2015. Videoarte, Videoclipe YOSHIURA, E. V. Videoarte, videoclipe. São Paulo: Porto de Ideias, 2007. 42 43 Referências COHEN, R. Performance como linguagem – Criação de um tempo-espaço de experimentação. São Paulo: Perspectiva, 2002. COSTA, C. T. Arte no Brasil 1950-2000 – Movimentos e meios. São Paulo: Alameda, 2004. DEMPSEY, A. Estilos, escolas & movimentos. São Paulo: Cosac Naify, 2003. DOMINGUES, D. (org.). A Arte no século XXI – A humanização das tecnologias. São Paulo: Unesp, 2003. LUCIE-SMITH, E. Os movimentos artísticos a partir de 1945. São Paulo: Martins Fontes, 2006. MELLO, C. Extremidades do vídeo. São Paulo: Senac São Paulo, 2008. PLAZA, J.; TAVARES, M. Processos criativos com os meios eletrônicos: poéticas digitais. São Paulo: Hucitec, 2008. SANTAELLA, L. Culturas e Artes do pós-humano – Da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003. ________. Por que as comunicações e as Artes estão convergindo. São Paulo: Paulus, 2005. RUSH, M. Novas mídias na Arte contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2006. Sites visitados BRITTO, L. S. R. de. A poética multimídia de Paulo Bruscky. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-Graduação em Artes visuais - Universidade Federal da Bahia. 2009. 220 f. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ ri/9824>. Acesso em: 5 jan. 2017. COHEN, Renato. 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