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Modulo 9 Factores Humanos Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 2 de 258 Intencionalmente em branco Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 3 de 258 Este material de apoio ao módulo de Factores Humanos – Módulo 9, encontra-se de acordo com o especificado no regulamento Comunitário 2042/2003, Parte 66, Apêndice 1 – Requisitos de Formação Básica, pelo que a numeração dos diversos capítulos coincide com a numeração dos seus equivalentes do "sílabus" lá existente. Este material de apoio visa dar o devido apoio aos alunos no decorrer da formação básica. Este material de apoio não pode ser distribuído, reproduzido ou copiado sem a autorização prévia da Organização CENFORTEC, PARTE 147 Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 4 de 258 Índice 9.1 NECESSIDADE DE TER EM CONTA OS FACTORES HUMANOS............ 11 9.1.1 O QUE SÃO FACTORES HUMANOS ....................................................... 13 9.1.1.1 DESENVOLVIMENTO DO INTERESSE PELOS FACTORES HUMANOS ............................ 15 9.1.1.1.1 Estatísticas ............................................................................................................................... 16 9.1.1.1.2 Taxa de Acidentes e Óbitos por Ano ....................................................................................... 18 9.1.1.2 INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES ............................................................................................ 21 9.1.1.3 MODELO SHELL ........................................................................................................................ 21 9.1.1.4 DESAJUSTE NAS LIGAÇÕES DO MODELO SHELL .............................................................. 24 9.1.2 INCIDENTES / ACIDENTES ATRIBUÍDOS A FACTORES HUMANOS . 25 9.1.2.1 INCIDENTES E ACIDENTES – UMA RUPTURA AO NÍVEL DOS FACTORES HUMANOS 25 9.1.2.1.1 NTSB/AAR-84/04. Eastern Airlines, L-1011, N334EA, Miami, May 1983 ........................... 25 9.1.2.1.2 NTSB/AAR-89/03. Aloha Airlines, B737-200, N73711, Hawaii, April 1988 ........................ 26 9.1.2.1.3 AAIB/AAR 1/92, British Airways BAC 1-11, G-BJRT, Didcot, June 1990 ........................... 26 9.1.2.1.4 NTSB/AAR-92/04. Britt Airways, (d/b/a Continental Express), EMB-120, N33701, Eagle Lake, September 1991 ................................................................................................................................ 27 9.1.2.1.5 AAIB/ AAR 2/95, Excalibur Airways, A320-212, G-KMAM, Gatwick, August 1993 .......... 27 9.1.2.1.6 NTSB/SIR-94/02. Northwest Airlines, B747, N637US, Narita, March 1994 ......................... 27 9.1.2.1.7 AAIB/ AAR 3/96, British Midland, B737-400, G-OBMM, Daventry, February 1995 ........... 28 9.1.2.1.8 AAIB Bulletin 5/97, British Airways, B747, GBDXK, Gatwick, November 1996 ................. 28 9.1.2.1.9 AAIB Bulletin 7/2000. Airbus A320; G-VCED; 20/1/2000 .................................................... 28 9.1.2.1.10 Lufthansa A320 incident, 20 March 2001 ............................................................................. 29 9.1.2.2 BREVE RESUMO DAS CONCLUSÕES .................................................................................... 29 9.1.2.2.1 Estudo Desenvolvido do Caso do Pára-Brisas do AAIB/AAR 1/92, British Airways BAC 1- 11, G-BJRT, Didcot, June 1990 .................................................................................................................. 29 9.1.2.3 FACTORES CAUSAIS IDENTIFICADOS ................................................................................. 33 9.1.2.4 INCIDENTES E ACIDENTES ATRIBUÍDOS A "FACTORES HUMANOS" / “ERROS HUMANOS” .................................................................................................................................................. 33 9.1.3 A LEI DE MURPHY ................................................................................... 33 9.2 PERFORMANCE HUMANA E SUAS LIMITAÇÕES ................................... 38 9.2.1 O DESEMPENHO HUMANO COMO PARTE DO SISTEMA DE ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO ....................................................................... 38 9.2.2 VISÃO ......................................................................................................... 38 9.2.2.1 VISÃO CROMÁTICA .................................................................................................................. 41 9.2.3 O RUÍDO .................................................................................................... 41 9.2.3.1 O OUVIDO ................................................................................................................................... 41 9.2.3.2 FREQUÊNCIA, AMPLITUDE E VOLUME ............................................................................... 43 9.2.3.3 A SURDEZ ................................................................................................................................... 44 9.2.3.3.1 Impacto do Ruído no desempenho humano ............................................................................. 45 9.2.3.3.2 Perda de Audição..................................................................................................................... 45 Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 5 de 258 9.2.3.3.3 Protecção dos ouvidos ............................................................................................................. 46 9.2.4 PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO .................................................. 46 9.2.5 CLAUSTROFOBIA, ACESSOS DIFÍCEIS E MEDO DAS ALTURAS ....... 49 9.2.5.1 AS FOBIAS .................................................................................................................................. 49 9.2.5.1.1 Claustrofobia ........................................................................................................................... 50 9.2.5.1.2 cleitrofobia ou cleisiofobia – medo dos acessos difíceis ......................................................... 51 9.2.5.1.3 Acrofobia - Medo de Altura .................................................................................................... 52 9.3 PSICOLOGIA SOCIAL .................................................................................... 54 9.3.1 AMBIENTE SOCIAL .................................................................................. 54 9.3.2 MOTIVAÇÃO E DESMOTIVAÇÃO ........................................................... 55 9.3.2.1 A HIERARQUIA E A PIRÂMIDE DAS NECESSIDADES DE MASLOW ............................... 55 9.3.2.1.1 Os diferentes paradigmas do sucesso pessoal .......................................................................... 56 9.3.2.2 MOTIVAÇÃO .............................................................................................................................. 56 9.3.2.3 DESMOTIVAÇÃO ....................................................................................................................... 57 9.3.3 A PRESSÃO DOS PARCEIROS ................................................................. 59 9.3.4 CULTURAS SOCIAIS ................................................................................. 60 9.3.4.1 AS DIVERSIDADES CULTURAIS ............................................................................................. 60 9.3.4.2 CULTURA ORGANIZACIONAL E GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS ........................... 63 9.3.5 PERSONALIDADE – TIPOS E COMPORTAMENTO .............................. 69 9.3.5.1 PERSONALIDADE ...................................................................................................................... 70 9.3.5.2 VALORES E ATITUDES .............................................................................................................73 9.3.5.3 FACTORES CULTURAIS ........................................................................................................... 75 9.3.5.4 PERSONALIDADE E O MUNDO PERCEBIDO ........................................................................ 76 9.3.5.5 CIRCUNSTÂNCIAS .................................................................................................................... 77 9.3.5.6 FACTORES PESSOAIS E PERCEPÇÃO .................................................................................... 78 9.3.6 O TRABALHO DE GRUPO ....................................................................... 78 9.3.6.1 O QUE É UM GRUPO? ................................................................................................................ 79 9.3.6.2 FORÇAS DO GRUPO .................................................................................................................. 80 9.3.6.3 OBJECTIVOS DO GRUPO .......................................................................................................... 81 9.3.6.4 VANTAGENS DO GRUPO ......................................................................................................... 82 9.3.6.5 DESVANTAGENS DO GRUPO .................................................................................................. 82 9.3.6.6 PENSAMENTO DO GRUPO ....................................................................................................... 83 9.3.6.7 TRABALHO DE EQUIPA ........................................................................................................... 84 9.3.6.7.1 Competência e regras .............................................................................................................. 85 9.3.6.7.2 Vantagens / desvantagens do trabalho em equipa .................................................................... 85 9.3.6.7.3 Elementos importantes para o trabalho de equipa ................................................................... 86 9.3.6.7.4 Responsabilidade ..................................................................................................................... 86 9.3.6.8 O QUE É A LIDERANÇA? .......................................................................................................... 87 9.3.6.8.1 ABORDAGENS CONTINGENCIAIS À LIDERANÇA ........................................................ 88 Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 6 de 258 9.3.6.8.2 Características dos Líderes ...................................................................................................... 88 9.3.6.8.3 Estilos de Liderança (Llpplt & Whyte).................................................................................... 90 9.3.6.8.4 Tentativas de classificação: ..................................................................................................... 91 9.3.6.9 PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO .................................................................................. 93 9.3.6.9.1 O PAPEL DE GESTÃO .......................................................................................................... 93 9.3.6.9.2 O PAPEL DE SUPERVISÃO ................................................................................................. 94 9.3.6.10 GESTÃO DOS RECURSOS DE MANUTENÇÃO (MRM - MAINTENANCE RESOURCE MANAGEMENT) .......................................................................................................................................... 94 9.4 FACTORES QUE AFECTAM O DESEMPENHO HUMANO - LIMITAÇÕES 96 9.4.1 EXERCÍCIO FÍSICO E SAÚDE ................................................................. 96 9.4.2 STRESS ..................................................................................................... 103 9.4.2.1 FONTES DE “STRESS” ............................................................................................................. 104 9.4.2.1.1 Melo Ambiente ...................................................................................................................... 104 9.4.2.1.2 O corpo .................................................................................................................................. 105 9.4.2.1.3 Os pensamentos ..................................................................................................................... 105 9.4.2.1.4 Reacções mais comuns ao “Stress” ....................................................................................... 105 9.4.2.1.5 Sintomas Emocionais do “stress” .......................................................................................... 106 9.4.2.1.6 Sintomas Psicológicos do “stress” ......................................................................................... 107 9.4.2.1.7 Sintomas Físicos do “stress”.................................................................................................. 107 9.4.2.1.8 Sintomas Comportamentais do “stress” ................................................................................. 108 9.4.2.1.9 A Gestão do “stress” nas Organizações ................................................................................. 108 9.4.2.1.10 Estatísticas ........................................................................................................................... 109 9.4.2.1.11 Sintomas Comportamentais do “stress” ............................................................................... 109 9.4.3 PRESSÃO DO TEMPO E PRAZOS.......................................................... 114 9.4.4 CARGA E SOBRECARGA DE TRABALHO ............................................ 115 9.4.4.1 GESTÃO DA CARGA DE TRABALHO ................................................................................... 115 9.4.5 O SONO A FADIGA E O TRABALHO POR TURNOS ............................ 117 9.4.5.1 O SONO ...................................................................................................................................... 117 9.4.5.2 CANSAÇO, FADIGA E EXAUSTÃO ....................................................................................... 120 9.4.5.2.1 Tipos de Fadiga ..................................................................................................................... 121 9.4.5.2.2 Causas da fadiga: ................................................................................................................... 122 9.4.5.2.3 Sintomas de fadiga: ............................................................................................................... 122 9.4.5.3 TRABALHO POR TURNOS ...................................................................................................... 124 9.4.5.3.1 Vantagens do trabalho por turnos .......................................................................................... 126 9.4.5.3.2 Inconvenientes do trabalho por turnos ................................................................................... 126 9.4.5.3.3 Como Eliminar os Inconvenientes do Trabalho por Turnos .................................................. 126 9.4.5.3.4 Conselhos para quem está em Turnos ................................................................................... 127 9.4.6 ÁLCOOL, MEDICAMENTOS E DROGAS .............................................. 129 9.4.6.1 ÁLCOOL..................................................................................................................................... 129 Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 7 de 258 9.4.6.2 MEDICAÇÃO ............................................................................................................................. 130 9.4.6.3 DROGAS: ................................................................................................................................... 131 9.4.7 DIETA E NUTRIÇÃO ...............................................................................131 9.4.7.1 SAÚDE E BEM-ESTAR ............................................................................................................. 131 9.4.7.2 DIETA - ALIMENTAÇÃO ........................................................................................................ 131 9.4.7.3 MEDIDAS POSITIVAS DA DIETA / ALIMENTAÇÃO .......................................................... 132 9.4.7.4 BOA FORMA FÍSICA ................................................................................................................ 132 9.5 AMBIENTE FÍSICO ....................................................................................... 133 9.5.1 RISCOS NO LOCAL DE TRABALHO ..................................................... 133 9.5.1.1 O RUÍDO .................................................................................................................................... 134 9.5.1.2 FUMOS, POEIRAS GASES E VAPORES ................................................................................. 138 9.5.1.2.1 Fumos .................................................................................................................................... 138 9.5.1.2.2 Poeiras ................................................................................................................................... 138 9.5.1.2.3 Gases e Vapores .................................................................................................................... 139 9.5.1.3 ILUMINAÇÃO ........................................................................................................................... 140 9.5.1.3.1 Iluminação Natural ................................................................................................................ 141 9.5.1.3.2 Iluminação Artificial ............................................................................................................. 141 9.5.1.4 AMBIENTE TÉRMICO ............................................................................................................. 142 9.5.1.5 MOVIMENTO E VIBRAÇÕES ................................................................................................. 142 9.5.1.6 ESPAÇOS CONFINADOS ......................................................................................................... 143 9.5.1.6.1 Por onde Começar um trabalho? ........................................................................................... 145 9.5.1.6.2 Ambiente de Trabalho ........................................................................................................... 145 9.6 TAREFAS ....................................................................................................... 148 9.6.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS ............................................................. 148 9.6.1.1 EVOLUÇÃO ............................................................................................................................... 148 9.6.1.2 Perfil do Técnico de Manutenção de Aeronaves ......................................................................... 153 9.6.1.2.1 Objectivo global da actividade do técnico de manutenção de aeronaves ............................... 153 9.6.2 TRABALHO FÍSICO ................................................................................ 156 9.6.3 TAREFAS ROTINEIRAS / COMPLACÊNCIA ......................................... 156 9.6.4 INSPECÇÃO VISUAL .............................................................................. 158 9.6.5 SISTEMAS COMPLEXOS ........................................................................ 159 9.7 COMUNICAÇÃO ........................................................................................... 161 9.7.1 COMUNICAÇÃO INTRAPESSOAL ......................................................... 162 9.7.2 COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL ......................................................... 162 9.7.2.1 O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO ....................................................................................... 162 9.7.2.1.1 O “feedback” ......................................................................................................................... 163 9.7.2.1.2 Mensagem Inacabada e sua Distorção ................................................................................... 164 9.7.2.1.3 Barreiras à Comunicação ....................................................................................................... 165 9.7.2.1.4 Diferenças Culturais .............................................................................................................. 166 Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 8 de 258 9.7.2.1.5 Níveis de Comunicação ......................................................................................................... 167 9.7.2.1.6 A Linguagem Corporal .......................................................................................................... 167 9.7.2.1.7 A Passividade ........................................................................................................................ 169 9.7.2.1.8 A Agressividade .................................................................................................................... 170 9.7.2.1.9 A Manipulação ...................................................................................................................... 172 9.7.2.1.10 A Assertividade ("Assertiveness") - a Resposta Eficaz ....................................................... 172 9.7.3 COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL ................................................... 176 9.7.3.1 A INFORMAÇÃO DESCENDENTE ......................................................................................... 177 9.7.3.1.1 Apresentação da empresa ...................................................................................................... 177 9.7.3.2 A INFORMAÇÃO ASCENDENTE ........................................................................................... 178 9.7.3.3 SISTEMA DE COMUNICAÇÃO DENTRO DA ORGANIZAÇÃO FORMAL ....................... 178 9.7.3.4 COMUNICAÇÃO ELECTRÓNICA .......................................................................................... 179 9.7.3.5 REGISTOS DOS TRABALHOS EFECTUADOS ..................................................................... 179 9.7.3.6 MANTER-SE ACTUALIZADO ................................................................................................. 180 9.7.3.7 DISSEMINAÇÃO DA INFORMAÇÃO .................................................................................... 181 9.7.3.8 O MÉTODO MEDA ................................................................................................................... 182 9.7.3.8.1 incidentes e Acidentes - Como quebrar a cadeia de eventos.................................................. 183 9.8 O ERRO HUMANO ........................................................................................ 185 9.8.1 CATEGORIAS DE ERROS: ..................................................................... 186 9.8.2 MODELOS E TEORIAS ........................................................................... 186 9.8.2.1 MODELO DO “QUEIJO SUÍÇO” .............................................................................................. 187 9.8.2.2 FALHAS ACTIVAS E FALHAS LATENTES .......................................................................... 188 9.8.2.2.1 Falhas activas ........................................................................................................................ 189 9.8.2.2.2 Falhas lactentes ..................................................................................................................... 189 9.8.3 TIPOS DE ERROS EM TAREFAS DE MANUTENÇÃO.......................... 190 9.8.3.1 ERROS INDUZIDOS .................................................................................................................191 9.8.3.2 ERROS REVERSÍVEIS E IRREVERSÍVEIS. ........................................................................... 191 9.8.3.3 ERROS SISTEMÁTICOS........................................................................................................... 191 9.8.3.4 ERROS DE MANUTENÇÃO .................................................................................................... 192 9.8.3.4.1 Erros relacionados com a frequência das tarefas de manutenção: ......................................... 193 9.8.3.4.2 Erros relacionados com hábitos e práticas individuais: ......................................................... 193 9.8.3.4.3 Erros associados à inspecção visual ...................................................................................... 193 9.8.3.5 OMISSÕES, INSTALAÇÕES INCORRECTAS E COMPONENTES ERRADAS ................... 193 9.8.3.6 VIOLAÇÕES .............................................................................................................................. 194 9.8.3.6.1 Infracções menores ................................................................................................................ 194 9.8.3.6.2 Violações excepcionais ......................................................................................................... 194 9.8.4 IMPLICAÇÕES DOS ERROS .................................................................. 194 9.8.5 EVITAR E GERIR ERROS ........................................................................ 195 9.8.6 ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DO ERRO ......................................... 195 Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 9 de 258 9.8.7 FIABILIDADE DO COMPORTAMENTO HUMANO ............................. 196 9.8.8 DIRTY DOZEN (Os doze patifes) ............................................................. 197 9.8.8.1 COMUNICAÇÃO ....................................................................................................................... 197 9.8.8.2 COMPLACÊNCIA ..................................................................................................................... 198 9.8.8.3 FALTA DE CONHECIMENTO ................................................................................................. 199 9.8.8.4 DISTRACÇÃO ........................................................................................................................... 200 9.8.8.5 FALTA DE TRABALHO EM EQUIPA ..................................................................................... 201 9.8.8.6 FADIGA/CANSAÇO .................................................................................................................. 202 9.8.8.7 FALTA DE RECURSOS ............................................................................................................ 203 9.8.8.8 PRESSÃO ................................................................................................................................... 204 9.8.8.9 FALTA DE ASSERTIVIDADE ................................................................................................. 205 9.8.8.10 STRESS .................................................................................................................................. 206 9.8.8.11 FALTA DE CONSCIÊNCIA .................................................................................................. 207 9.8.8.12 PROCEDIMENTOS ............................................................................................................... 208 9.8.9 PRÁTICAS DE SEGURANÇA CONTRA OS «DIRTY DOZEN» ............. 209 9.8.9.1 PROFISSIONALISMO E INTEGRIDADE ................................................................................ 210 9.8.10 OUTROS PARÂMETROS IMPORTANTES .......................................... 211 9.8.10.1 A ATENÇÃO ......................................................................................................................... 211 9.8.10.1.1 Tipos de Atenção ................................................................................................................. 211 9.8.10.1.2 Leis da Organização Perceptiva........................................................................................... 214 9.8.10.2 ESTADOS DE CONSCIÊNCIA ............................................................................................. 226 9.8.10.3 MEMÓRIA ............................................................................................................................. 227 9.8.10.3.1 Acto da Memória ................................................................................................................. 228 9.8.10.3.2 Como Melhorar a Memória ................................................................................................. 231 9.8.10.3.3 Manter e desenvolver a memória ......................................................................................... 233 9.8.10.3.4 Manter a Forma Física ......................................................................................................... 235 9.8.10.3.5 SELECÇÃO DA RESPOSTA ............................................................................................. 239 9.8.10.4 CATEGORIAS DO COMPORTAMENTO ........................................................................... 240 9.8.10.5 TOMADA DE DECISÃO ...................................................................................................... 240 9.9 FACTORES DE PERFORMANCE HUMANA ............................................. 243 9.9.1 FISIOLOGIA HUMANA ........................................................................... 243 9.9.1.1 SISTEMA RESPIRATÓRIO ...................................................................................................... 243 9.9.1.2 SISTEMA CIRCULATÓRIO ..................................................................................................... 245 9.9.2 HIGIENE PESSOAL E SOCIAL ............................................................... 247 9.9.2.1 O SISTEMA MUSCULAR ......................................................................................................... 248 9.9.2.1.1 Tipos de músculos ................................................................................................................. 248 9.9.2.1.2 O trabalho muscular .............................................................................................................. 250 9.9.2.1.3 A fadiga muscular ................................................................................................................. 250 9.9.2.1.4 Músculos e fibras................................................................................................................... 250 9.9.3 RISCOS NO LOCAL DE TRABALHO ..................................................... 251 Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 10 de 258 9.9.3.1 PRINCÍPIOS GERAIS DE PREVENÇÃO ................................................................................. 251 9.9.3.2 METODOLOGIA PARA IDENTIFICAÇÃO, AVALIAÇÃO E CONTROLO DOS RISCOS . 253 9.9.3.3 LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO ................................................................................................. 253 9.9.4 RECONHECER E EVITAR - RECONHECER RISCOS ........................... 254 9.9.4.1 FLUXOGRAMA DE AVALIAÇÃO E CONTROLO DE RISCOS ........................................... 255 9.9.5 PREVENÇÃO E SEGURANÇA ................................................................ 256 9.9.5.1 FACTORES FISIOLÓGICOS .................................................................................................... 257 9.9.5.2 FACTORES PSICOSSOCIOLÓGICOS ..................................................................................... 257 9.9.5.3 GESTÃO DA SEGURANÇA ..................................................................................................... 257 9.9.5.4 FORMAÇÃODOS TRABALHADORES .................................................................................. 258 Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 11 de 258 9.1 NECESSIDADE DE TER EM CONTA OS FACTORES HUMANOS Quantas pessoas voam em simultâneo e por dia, nos céus de todo o mundo? O National Air Traffic Controllers Association dos USA, diz no seu site que há, em média, entre 25.000 a 30.000 voos de passageiros por dia, só nos EUA.. E isto sem contar com a aviação militar que não dá satisfações a civis. Considerando o valor mais baixo, de 25000 voos, e estimando que, cada avião tem, em média, 20 linhas de cadeiras, (é claro que há aviões muitíssimo maiores, mas de facto a maioria são pequenos) considerando ainda que cada linha pode conter, em média, 5 pessoas e finalmente estimando uma taxa média de utilização, por voo, de 75% de cheio, tem-se: 25.000 * 20 * 5 * 0,75 = 1.500.000 pessoas por dia A FAA estima todavia que durante os períodos de ruptura (como o dia de Acção de Graças) e segundo as suas previsões, se espera um movimento superior a 2 milhões de pessoas em cada dia. Fazendo umas contas elementares, verifica-se que um total de 62.500 passageiros se encontra a voar, em cada hora, nos céus dos USA. Extrapolando, não será disparate pensar-se em pelo menos três vezes mais para o resto do mundo, ou seja haverá no ar, por dia, 4.500.000 ou cerca de 187.500 pessoas a voar em cada hora. É um número espantoso que, certamente, peca por defeito, pois não estão nele contabilizados os voos militares e os de ultraleves. Considerando tal volume de pessoas em movimento, é ainda mais espantoso ser raro acontecer um acidente aéreo. De facto o voo é o transporte mais seguro que existe, com uma percentagem de acidentes praticamente igual a zero. Mas eles acontecem e, em elevada percentagem, atribuídos a erros humanos. É por isso necessário estudar as implicações que os factores humanos têm na segurança de voo. Há já algum tempo que a importância dos factores humanos na aviação tem sido considerada, mas o foco nos factores humanos no desempenho humano ao nível da manutenção aeronáutica é recente e advém da investigação das causas dos acidentes (como o de ALOHA em 1988 e o do BAC 1-11 em 1990) e da avaliação das tendências da indústria aeronáutica (aumento da utilização das aeronaves e aumento do uso de tecnologia e de equipamentos complexos) que fizeram emergir a necessidade de abordar os temas de factores humanos neste contexto, o que não significa que tais factores não tivessem estado presentes ou que o erro humano não tenha contribuído para outros incidentes/acidentes anteriores. Uma melhor compreensão de como as nossas condições físicas e psíquicas interagem com os vários aspectos das operações de manutenção e, a aplicação desse Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 12 de 258 conhecimento, melhora o desempenho humano e a segurança, permitindo ainda um aumento de satisfação no cumprimento dessa tarefa e são os conceitos básicos dos factores humanos. A formação nesta área pretende mostrar, como as capacidades e limitações humanas, podem influenciar o desempenho e a segurança no ambiente de manutenção. O objectivo da formação em factores humanos é o aumento da segurança, qualidade e eficiência das operações de manutenção de aeronaves, através da redução de erros humanos e do seu impacto, ou seja, permitir aos TMA’s reconhecer as limitações humanas em si próprios e nos outros, tornando-os capazes de evitar, detectar e corrigir erros ou comportamentos e práticas de propensão para o erro. Isto é possível através da integração do pessoal em categorias apropriadas, do conhecimento técnico e das competências e da promoção de uma atitude positiva de segurança, envolvendo: Conhecimento e compreensão da informação que deverá ser adquirida ao longo do curso, permitindo uma consciencialização acerca dos temas de factores humanos, individuais e organizacionais, positivos e negativos, que podem afectar a navegabilidade aérea; Desenvolvimento de Competências que possam ser aplicadas ao local de trabalho, como as de comunicação, resolução de problemas, tomada de decisão, consciência da situação, trabalho de equipa, gestão da tarefa e da carga de trabalho, estratégias de cópia, escrita de procedimentos, etc.; Encorajamento de Atitudes positivas e desencorajamento de práticas e comportamentos pouco seguros, procurando o desenvolvimento ou reforço de Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 13 de 258 uma atitude consciente de segurança, como seguir procedimentos, usar dados referenciados em vez de usar a memória, verificar o trabalho em vez de assumir que este foi correctamente desenvolvido, resistir à pressão para “abreviar” quando há limitações de tempo, etc. De acordo com investigações recentes sobre segurança na aviação (JAA, 2001), cerca de 70 a 80% dos acidentes estão relacionados com factores humanos. Numa parte significativa, os erros de manutenção são uma das causas apontadas ou, pelo menos, um factor contributivo. Com os avanços da tecnologia ao longo dos tempos verificou-se uma redução de acidentes de aviação. No entanto, nos últimos anos, este nível tem-se mantido sem reduções significativas. Assim, com o aumento do tráfego aéreo previsto para os próximos anos, o n.º de acidentes fatais irá certamente aumentar, transmitindo a impressão errada de que o “céu” se tornou menos seguro. De forma a estabilizar o n.º de acidentes fatais/ano, as principais autoridades mundiais em segurança na aviação têm tomado uma série de iniciativas, incluindo levar em consideração os factores humanos na manutenção. O termo factores humanos é utilizado de muitas formas diferentes na indústria aeronáutica. Talvez seja mais conhecido no contexto do “design” do “cockpit” e da gestão de recursos do cockpit (CRM – Crew Ressource Management), contudo, estas actividades constituem apenas uma pequena parcela dos factores humanos na aviação, dado que estes se referem a todas as actividades humanas. 9.1.1 O QUE SÃO FACTORES HUMANOS Genericamente, podemos definir Factores humanos pelo o estudo da forma como as pessoas interagem com os seus ambientes: o seu relacionamento com máquinas, com procedimentos e no ambiente que as rodeia e também no seu relacionamento com outras pessoas. No contexto da manutenção aeronáutica, refere-se ao estudo das capacidades e limitações humanas no local de trabalho, envolvendo o estudo da interacção do pessoal da manutenção com o equipamento utilizado, regras e normas que seguem, procedimentos escritos ou orais e condições ambientais. O objectivo é a optimização da relação entre o pessoal da manutenção e os sistemas com que interagem, tendo em vista uma melhoria da segurança, eficiência e bem-estar (CAA, 2002). Factores humanos é uma expressão utilizada em termos de segurança de voo, para designar uma disciplina que estuda pessoas trabalhando em grupo, conjuntamente com máquinas. Esta disciplina visa a segurança e eficiência nos trabalhos executados, mediante a optimização do papel das pessoas cujas actividades estão relacionadas com sistemas arriscados e complexos, como a aviação. É também um campo multidisciplinar dedicado à optimização do desempenho humano e à redução de erros humanos, e ele incorpora os métodos e princípios das ciências comportamentais e sociais e também da fisiologia e da engenharia. Observamos que a aviação é um dos meios de transporte mais seguros do mundo. E por Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 14 de 258 é que tantos acidentes ainda são catalogados e estudados? Verificamos que a maior aventura tecnológica do homem foi pilotar as máquinas voadoras, pois, desde a mitologia, com Ícaro e Dédalo, até os dias de hoje, dominar o espaço aéreo faz parte da realidadehumana. Como não nascemos com asas, pilotar as grandes máquinas voadoras traz um "glamour" e uma sensação de poder. O poder de liberdade, de sentir-se como um pássaro que vai a busca do infinito. Porém isto tem um preço. O acto de pilotar uma aeronave exige muito do piloto. Ele deve reagir a estímulos, elaborar julgamentos, analisar alternativas possíveis para decidir qual a mais adequada e, executá-las através de uma resposta motora, a qual, frequentemente o leva a recorrer à sua memória. Os aspectos cognitivos envolvem grande limitação, principalmente em final de jornada ou em missão que exija mais do piloto. Influências relacionadas às condições individuais de sua personalidade, que podem ser tanto fisiológicas quanto psicológicas, podem ser encontradas, somando a estas, as características do tipo de missão executada, as quais aumentam as limitações do intelecto nesse momento. Observamos que o homem é a parte mais flexível e a mais valiosa do sistema aeronáutico, porém, é o mais vulnerável às influências que podem afectar negativamente seu comportamento. E quando ocorre um incidente ou acidente aeronáutico, o júri popular de imediato delega a culpa no piloto, mas esquecem-se dos factores subjacentes que envolvem as verdadeiras evidências do facto. Então, o psicólogo passou a ter outro papel, não só de seleccionador, mas também de auxiliar nas investigações, levantando os factores contribuintes que levaram ao acidente, ou seja, as causas que encobriam a suposta falha do piloto. Ao se estudar estes factores observou que a psicologia poderia contribuir muito mais. Com a leitura dos CVR's (Cockpit Voice Recorder), constatou-se que, 70% a 80% dos acidentes aconteceram por falha humana, ou seja, houve uma sequência de falhas que estavam relacionadas com Factores Humanos, das quais podemos citar: Falta de comunicação clara e precisa entre tripulantes e com as demais pessoas envolvidas com a operação. Falhas no relacionamento interpessoal que dificultam a sinergia da equipe, principalmente em situações de emergência. Comprometimento do processo decisório em situações de emergência. Falta de percepção de todos os elementos que envolvem uma determinada situação em um curto espaço de tempo, faltando por vezes consciência situacional. Falta de liderança, surgindo dificuldade em delegar tarefas em situações de emergência. Através das investigações dos acidentes e das pesquisas feitas pela NASA (National Aeronautics and Space Administration), concluiu-se que o ideal seria que o piloto passasse por formação em Factores Humanos como CRM (Crew Resource Management) e posteriormente acompanhamento psicológico, dando-lhe (piloto) a Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 15 de 258 oportunidade de se auto-conhecer, de identificar seus sentimentos e atitudes possíveis de "panes psicológicas" que a sua máquina (homem) pode apresentar, com a finalidade de quebrar o elo antes de se tornar um comprometimento maior para a sua conduta, colocando-se dessa forma em risco a segurança do voo. Com isto a psicologia de aviação tem o objectivo de auxiliar a segurança de voo, dando suporte ao tripulante e todos os demais envolvidos directa, ou indirectamente, com a actividade aérea, a fim de minimizar factores que poderiam ser possíveis causadores de incidentes e acidentes. 9.1.1.1 DESENVOLVIMENTO DO INTERESSE PELOS FACTORES HUMANOS O tema factores humano diz respeito á interacção do homem com os utensílios, os equipamentos, os meios, os procedimentos e o meio ambiente do trabalho. A antropometria é o estudo das medições do corpo humano. Os estudos dos factores humanos têm dois grandes objectivos: o primeiro tem a ver com a eficiência do trabalho, com a redução dos erros e o aumento da produtividade; o segundo objectivo diz respeito aos valores humanos, o que inclui o incentivo da segurança, a redução da fadiga e do “stress”, o incremento ao conforto, à satisfação no trabalho e ao aumento da qualidade de vida. A aproximação aos factores humanos relaciona-se com a aplicação sistemática das informações relevantes acerca das capacidades, limitações, características, comportamentos e motivação dos trabalhadores de forma a garantir o aumento da produtividade, segurança e conforto. Partimos do princípio que as máquinas e os equipamentos são construídos para servir os homens e têm de ser desenhados e desenvolvidos de forma a simplificar e facilitar o trabalho a executar. O ser humano tem capacidades e limitações individuais que têm de ser levadas em conta. Existe a convicção que os procedimentos influenciam o comportamento humano e o seu bem-estar. Podemos dizer que o interesse petos factores humanos começou quando o homem iniciou a usar ferramentas e utensílios, e que o seu desenvolvimento tecnológico se deu com a revolução industrial, no fim de 1800 e princípios de 1900. É implícita a consideração do parâmetro dos factores humanos quando compatibilizamos as exigências com as capacidades humanas. Podemos atender a um exemplo bastante linear, simples e prático, relativamente ás alterações nos procedimentos com o objectivo de simplificar os métodos do trabalho como por exemplo é o caso do cirurgião procurava o instrumento necessário de um tabuleiro onde estavam todos dispostos, despendendo mais tempo a olhar para os instrumentos do que a olhar para o paciente; hoje em dia o cirurgião pede o instrumento de que necessita á enfermeira, bastando para isso falar e estender a mão. Nos primórdios da aviação com motor, a concepção, a construção e os controlos do avião eram os factores predominantes. Os principais atributos de um piloto eram a sua coragem e o domínio de um conjunto de técnicas que lhe permitiam comandar o avião. Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 16 de 258 À medida que os aspectos técnicos foram sendo melhorados e as dificuldades ultrapassadas, o papel das pessoas envolvidas nas actividades da operação, controlo e manutenção de aviões foi ganhando cada vez mais uma maior exposição e a necessidade de ser considerado numa perspectiva de análise do desempenho humano. Estas questões são desde há vários anos formalmente abordadas nas actividades de operação de voo, quer ao nível da concepção e desenvolvimento de cockpits quer ao nível da forma como a tripulação técnica e de cabine interage (CRM - Crew Resource Management), bem como no que diz respeito ás actividades de controlo de tráfego aéreo. No entanto estas não são, com toda a certeza, os únicos intervenientes que contribuem para a segurança operacional de um avião nem as únicas onde os conceitos de "Factores Humanos" têm aplicação. A utilização dos conceitos de "Factores Humanos" na indústria de Manutenção e Engenheira de aviões, e seus componentes, é relativamente recente. Acidentes de aviação, como o avião da ALOHA nos E.U.A. em 1998 e o BAC 1-11 no Reino Unido em 1990, deram grande ênfase à necessidade de ter em consideração os conceitos de "Factores Humanos" nas actividades de manutenção. Isto não significa que, anteriormente, estes mesmos conceitos não fossem abordados na indústria de manutenção nem tão pouco que erros humanos com origem em actividades de manutenção não tivessem já contribuído para acidentes anteriores; apenas quer dizer que o ponto de viragem para abordar estes conceitos de uma forma sistemática e iniciar os processos de regulamentação, nas actividades de manutenção, se deu após trágicos acidentes e exposição mediática de acidentes. Ergonomia significa: "Adequar o Trabalho ao Ser Humano". No contexto da manutenção de aviões os "Factores Humanos" dedicam-se ao estudo das capacidades e limitações humanas no seu local de trabalho. Os investigadores destas matérias analisam o desempenho do sistema. Isto é, analisam as interacções dos trabalhadores da manutenção, o equipamento/ferramentasutilizadas, os procedimentos verbais e escritos utilizados, e as condições do meio onde as actividades são desenvolvidas. O objectivo principal da preocupação com os "Factores Humanos" é a optimização das relações entre o técnico de manutenção e os sistemas onde estes actuam, de forma a melhorar a segurança, a eficiência e o bem-estar. O erro humano é uma decisão ou comportamento inapropriado e indesejável, que reduz a segurança, a eficácia e o rendimento de trabalho. Na aviação comercial a maioria dos incidentes são atribuídos a factores humanos, ou numa visão mais radical ao erro humano. 9.1.1.1.1 Estatísticas Em 1940 foi calculado que aproximadamente 70% dos acidentes de aviação eram atribuíveis à performance humana, ou seja a erro humano. 35 anos mais tarde a International Air Transport Association (IATAL reviu a situação, verificando a ausência de qualquer redução (CAA, 2002. A partir de uma análise detalhada, conduzida por Sears, de acidentes ocorridos entre 1959 e 1983 foram apontadas, em 1986, as principais causas de acidentes e a sua presença em percentagens: Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 17 de 258 Causas % Desvio do piloto de procedimentos padronizados 33 Cross-check inadequado pelo 2º piloto 26 Falhas de concepção 13 Deficiências de manutenção e inspecção 12 Falta de guia de aproximação 10 Desprezo do comandante em relação a inputs da restante tripulação 10 Erro/falha do controle de tráfego aéreo 9 Resposta inapropriada da tripulação durante condições anormais 9 Informação meteorológica insuficiente ou incorrecta 8 Perigo na pista 7 Decisão para aterrar inadequada 6 Deficiências de comunicação tripulação / ATC 6 % das causas de acidentes aéreos 22% 17% 9%8% 7% 7% 6% 6% 5% 5% 4% 4% Piloto desvia-se de procedimentos 2º piloto erra verificação cruzada Falhas de concepção Manutenção / inspecção deficientes Falha de guia na aproxição Comandante despreza inputs da tripulação Erro/falha controle de tráfego aéreo Reacção errada tripulação em anormalidades Inform. meteorológica insufic./incorrecta Perigos na pista Decisão de aterragem inadequada Comunicação deficiente tripulação / ATC Através da análise de ocorrências documentadas numa companhia, no período de 1989 a 1991, envolvendo erros humanos relacionados com a manutenção verificou-se que as principais categorias de erros de manutenção foram: Causas % Omissões 56% Instalações incorrectas 30% Componentes erradas 8% Outras 6% % das causas de acidentes aéreos 56%30% 8% 6% Omissões Instalações incorrectas Componentes erradas Outras Somando as causas exclusivamente atribuíveis a factores humanos temos o gráfico seguinte: Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 18 de 258 % atribuível a falhas humanas 70% 30% Humanas Outras Torna-se óbvio, a partir destes dados que os problemas envolvendo factores humanos na manutenção aeronáutica são um tema importante, que exige sérias considerações. 9.1.1.1.2 Taxa de Acidentes e Óbitos por Ano Os relatórios dos acidentes surgidos no decurso de trabalhos na manutenção de aeronaves estão a aumentar de ano para ano. Os acidentes com aviões são actualmente muito menos frequentes do que há 20 anos atrás. Infelizmente porém, o enorme aumento de aviões a operar em simultâneo, cada vez com maiores capacidades de transportar passageiros desse aumento não se traduziram em menos fatalidades; aircraft in operation and their increasing capacity cannot result in a reduction of onboard fatalities. 1959-2008 1999-2008 Número de acidentes 1 630 370 Número de fatalidades no interior das aeronaves 27 877 4 717 Número de fatalidades no exterior das aeronaves 1 171 253 (*) As fatalidades no exterior, incluem as fatalidades também as provocadas nas outras Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 19 de 258 aeronaves envolvidas. É importante referir o inevitável aumento do tráfego aéreo com consequente aumento do número de unidades de avião fabricadas para a aviação comercial. Os incidentes / acidentes devidos à manutenção, tendo como causa o erro humano, são principalmente atribuídos a erros organizacionais. Geralmente um acidente é um resultado de muitos incidentes que coincidem num dado momento. Em seguida apresentam-se dois gráficos que pretendem ilustrar essa mesma evolução. Na verdade o número total de acidentes tem aumentado todos os anos. Isto deve-se a um aumento regular de tráfego aéreo como podemos verificar através dos gráficos. Podemos igualmente dizer que a indústria da aviação tem feito grandes progressos na segurança de voo e que a taxa de acidentes não apresenta alterações significativas desde os anos 60/70. Número de fatalidades a bordo, versus número de acidentes por milhões de horas de voo Infelizmente isso não significa que o número total de acidentes se tenha mantido. Se a taxa de acidentes não for reduzida, e se a taxa de crescimento de transporte aéreo aumentar, tal como se espera, então é previsto que exista pelo menos um grande acidente por semana, e os acidentes de aviação não custam apenas vidas. O seu impacto na comunidade é considerável, sendo mesmo dramático na comunidade ligada à actividade de transporte aéreo. Fabrico de aviões comerciais a jacto, acima dos 2.700 kg de peso A causa de acidentes é frequentemente devida a quebras no desempenho humano do Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 20 de 258 grupo. Em 1940 foi calculado que aproximadamente 70% de todos os acidentes de aviação tinham na sua origem falhas no desempenho humano, ou seja em erros humanos. 35 anos depois, a IATA (International Aviation Transport Association) fez de novo os cálculos, chegando à conclusão de que não se apresentavam reduções destes valores (figura abaixo). Outras causas Factores Humanos Importância do desempenho humano em acidentes na aviação civil (IATA, 1975) Como se verifica acima, falhas a nível de manutenção/ inspecção de aviões é um dos principais factores na origem dos acidentes de aviação. Existem diversos estudos semelhantes, e todos eles colocam este factor no designado Top 10. Desta forma, fica bem expresso a necessidade de ter em consideração os conceitos de "Factores Humanos" nas actividades de manutenção e engenharia de aviões e seus componentes. De acordo com dados fornecidos pela Boeing, os erros de manutenção e inspecção estão em segundo lugar na incidência dos acidentes de aviação. Nick McDonald, da Aerospace Research Group do Trinity Colige de Dublin, referiu que em resultado de estudos que efectuaram, o erro ou falha pode aumentar por diversas razões: Complexidade do trabalho; Alterações de tecnologia; Pressão do tempo; Pressões comerciais, downsizing, reengenharia. Seleccionou como erros mais comuns: Falha do seguimento dos procedimentos comuns; Instalação incorrecta de componentes; Discrepância nas ligações eléctricas; Objectos deixados no avião; Deficiente informação na mudança de turnos; Não existência de auditorias do desempenho humano da tarefa. Reconheceu no sentido da melhoria no desempenho: O operador cumprir cabalmente a regulamentação; Demonstrar um desempenho humano efectivo que garanta a segurança; Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 21 de 258 Existe uma tendência entre os humanos para a complacência. A ideia de que um acidente só acontece aos outros pode ser um problema quando se pretende alertar indivíduos ou organizações, da necessidade de considerar os factores humanos, reconhecer os riscos e implementar melhorias. 9.1.1.2 INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES Os investigadores devem ser capazes de recolher informação que lhes permita a elaboração de um "plano cronológico" que possibilite saber os acontecimentos importantes ocorridosantes do acidente. Estes ditos "planos cronológicos" têm uma particular relevância na descoberta do contexto comportamental que estiveram na sequência que conduziu á ocorrência. Em suma, os investigadores devem ser capazes de reter toda a informação que lhes permita obter uma resposta sobre "o que" aconteceu e "o porquê" de ter acontecido, na perspectiva dos factores humanos. Esta informação recolhida deve considerar as decisões, as acções e comportamentos de todas as pessoas envolvidas numa determinada ocorrência, e não apenas as acções e falhas activas do pessoal operacional. É, então, prioritário uma análise sistemática de todas as falhas latentes no sistema, para que se possa obter um profundo conhecimento e melhorar algo a partir das investigações. Para facilitar a recolha de dados, o modelo SHELL, que se desenvolve a seguir, constitui uma mais valia. A sigla SHELL é constituída pelas iniciais das seguintes S = Software (producers, symbology. etc.) H - Hardware (machine, equipment, etc.) E = Environment (internal and externa) L = Liveware (humans) 9.1.1.3 MODELO SHELL Um diagrama prático para ilustrar este modelo conceitual utiliza blocos para representar os diversos elementos componentes dos Factores Humanos. O modelo pode então construir-se, bloco a bloco, oferecendo-se uma impressão gráfica da necessidade de se ajustar os elementos. O conceito SHELL, cuja concepção gráfica é semelhante a um jogo de “puzzle”, deve o seu nome às letras iniciais dos seus componentes, em inglês: Software (suporte lógico); Hardware (equipamento máquina); Environment (ambiente); Liveware (elemento humano) foi concebido inicialmente por Edwards em 1972, e posteriormente, modificado por Hawkins em 1975. Para aqueles familiarizados com o já clássico homem-meio-máquina, se sugerem as seguintes interpretações: elemento humano (ser humano), suporte lógico (procedimentos, simbologias etc.), ambiente (situação na qual deve funcionar o sistema L-H-S). Este diagrama de blocos não envolve as ligações que se encontram fora dos factores humanos (máquina-máquina; máquina-ambiente; suporte lógico-máquinal e só se apresenta como uma ajuda básica para a compreensão dos factores humanos. Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 22 de 258 SHELL – Um modelo conceptual dos factores humanos S = Software (procedimentos de manutenção, manuais de manutenção, símbolos, normas e regras, checklists, etc.) H = Hardware (avião, seus sistemas e equipamentos, ferramentas, equipamentos de teste, etc.) E = Environment (ambiente interno e externo: ambiente físico, político, organizacional, económico) L = Liveware (pessoas: os técnicos e o pessoal com que interagem). L = Liveware - indivíduo, na sua dimensão física, fisiológica, psicológica e psicossocial, constituindo a peça central do modelo em interacção com todos os outros componentes. O Liveware, corresponde ao indivíduo único, ele constitui a peça central de todo o modelo e comunica com todos os outros elementos. Tem quatro dimensões: a física, a fisiológica, a psicológica e a psicossocial. Elemento humano (Liveware) - No centro do modelo proposto encontra-se o indivíduo, o componente mais crítico e mais flexível do sistema. Entretanto as pessoas estão sujeitas a consideráveis variações em seu desempenho e sofrem muitas limitações, a maioria das quais são actualmente previsíveis, em termos gerais. As superfícies de contacto desses blocos não são componentes do sistema devem ajustar-se cuidadosamente ao bloco central se pretende evitar tensões no sistema e sua eventual ruptura. A fim de lograr êxito neste ajustamento, é indispensável compreender as características deste componente central do modelo. Algumas das características individuais mais importantes: Tamanho e forma física - Na concepção de qualquer lugar de trabalho e de maior parte dos equipamentos, desempenha uma função vital as medidas e movimentos do corpo, que variarão de acordo com a idade, os grupos étnicos e o sexo. As respostas e decisões nesta área podem advir da Antropometria e da Biomecânica. Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 23 de 258 Necessidades físicas - As necessidades de alimento, água e oxigénio que têm as pessoas são estudadas pela Fisiologia e a Biologia. Características contribuintes - Os seres humanos estão dotados de um sistema sensorial que lhes permite perceber e sentir informações do mundo que os rodeia e os faculta para responder aos efeitos externos e para realizar as tarefas necessárias. Porém, todos os seus sentidos estão sujeitos à degradação por uma razão ou outra, e neste caso, as fontes de conhecimento são a Fisiologia, a Psicologia e a Biologia. Tratamento da informação - Esta capacidade humana tem graves limitações. Frequentemente, a concepção deficiente de instrumentos e sistemas de advertência, tem sido resultado de não se ter levado em conta a capacidade e limitações do sistema humano de tratamento da informação. Neste aspecto, se vêem incluídas a memória a curto e longo prazo, assim como a motivação e o “stress”. A Psicologia é a fonte de conhecimentos básica para este assunto. Características salientes - Uma vez detectada e processada a informação, mensagens são enviadas aos músculos para se iniciar a resposta desejada, seja um movimento de controlo físico ou princípio de alguma forma de comunicação. É necessário conhecer as forças de controlo aceitáveis e a direcção do movimento, e isto é do campo da Biomecânica, da Fisiologia e da Psicologia, ciências que gerem os conhecimentos requeridos. Tolerâncias ambientais - A temperatura, a pressão, a humidade, o ruído, a hora, a luz e a escuridão são elementos que podem reflectir-se no comportamento e no bem-estar das pessoas. Também cabe prever que as alturas, os espaços fechados e um ambiente de trabalho cheio de tensões influenciam no comportamento e no rendimento. Nesse caso, a informação é obtida na Fisiologia, na Biologia e na Psicologia. O Indivíduo é o núcleo central da actividade do modelo SHELL sobre os Factores Humanos. Os componentes restantes devem adaptar-se e ajustar-se a este componente central. Liveware – Liveware - todas as relações existentes entre a pessoa e as outras pessoas. Algumas deficiências podem ser detectadas a este nível, como por exemplo a falta de recursos humanos, falta de supervisão, falta de apoio dos gestores. A ligação entre Liveware e Liveware diz respeito a todas as relações existentes entre a pessoa e todas as outras pessoas com quem se comunica, e que estão envolvidas com ele no local de trabalho. Liveware – Hardware - sistema Homem–Máquina. Exemplos de uma má ligação são a falta de ferramentas e o uso de equipamento inadequado, A ligação Liveware-Hardware diz respeito à relação entre o indivíduo e a máquina. Tem a ver com o sistema Homem- Máquina. A ligação Elemento Humano-Equipamento (relação Homem-Máquinal é a mais correntemente considerada, quando falamos de sistemas Indivíduo-Máquina: o projecto dos assentos para ajustá-los às características do corpo humano sentado, dos ecrãs que se ajustem às características sensoriais, de controlo dotados de movimento, codificação e localização apropriados. Pode ser que o utilizador nunca se dê conta de uma deficiência na ligação Homem-Máquina, mesmo que desta deficiência resulte um desastre, porque a característica humana natural de se adaptar aos desajustes Homem- Máquina encobrirá esta deficiência, mas não eliminará sua existência. Isto constitui um perigo potencial dos quais devem estar advertidos os projectistas. Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 24 de 258 Liveware – Software - relação entre o Homem e os sistemas de suporte existentes no seu local de trabalho, como os manuais. As discordâncias envolvem, nomeadamente uma má interpretação de procedimentos,manuais mal escritos e checklists mal concebidas. A terceira relação tem a ver com conjunção entre o homem e os sistemas de suporte existentes no posto de trabalho, como sejam os manuais, o checklist, etc. No Elemento Humano-Suporte Lógico, esta relação envolve o ser humano e os aspectos não físicos do sistema, tais como procedimentos, apresentação geral de manuais e listas de verificação, simbologias e os programas de computador. Nesta ligação, os problemas são menos palpáveis e, em consequência, de resolução mais difícil (a má interpretação de manuais, procedimentos, programas de manutenção, dificuldade em interpretar diagramas etc.). Liveware – Environment - interface entre o indivíduo e os ambientes, tanto externos (ambiente organizacional, político e económico) como internos (temperatura, luz, ruído), ou seja, a situação em que L-S-H tem que funcionar, nem sempre adequados, como a fraca iluminação, ruído excessivo, temperaturas extremas, local de trabalho desconfortável, etc. Por último o interface entre a pessoa e os ambientes, tanto internos como externos. Nos internos encontramos factores como a temperatura, o barulho, a qualidade do ar, as vibrações, entre outras. Como características externas temos a visibilidade, a turbulência, as condições do terreno, etc. No Elemento Humano- Ambiente, a ligação entre o ser Indivíduo e o Ambiente foi uma das que primeiro se reconheceu nos Factores Humanos. Inicialmente, todas medidas adoptadas tinham por objectivo adaptar o ser humano para fazer face ao ambiente (na pilotagem, por exemplo, trajes de voo, facto anti-G, máscaras, etc.). Mais tarde a tendência foi inverter este procedimento, adaptando o ambiente às necessidades humanas (pressurização e sistemas de ar condicionado, isolamento acústico). Novos desafios têm surgido hoje sobre outros perigos como os problemas relacionados com a perturbação dos ritmos biológicos e os correspondentes transtornos pela falta de sono, cansaço etc.. Dado que as ilusões e a desorientação constituem a raiz de muitos acidentes de aviação, na ligação L-E (Individuo-Ambiente) deve considerar os erros de percepção provocados pelas condições ambientais, por exemplo, as ilusões experimentadas durante as fases de aproximação e aterragem. Ainda que a possibilidade de modificar estas influências esteja fora do alcance dos profissionais dos factores humanos, sua incidência é central, e deveriam ser foco de atenção e preocupação por aqueles que têm a responsabilidade de conduzir as acções voltadas aos Factores Humanos. 9.1.1.4 DESAJUSTE NAS LIGAÇÕES DO MODELO SHELL Cada uma das ligações do modelo SHELL tem um potencial de erro quando ocorre um desajuste entre os seus componentes. Por exemplo: • A ligação entre o elemento humano e a máquina (Indivíduo-Máquina) é uma fonte frequente, de erros: os botões e as alavancas mal localizadas ou que necessitam de identificação adequada provocam os desajustes nesta ligação. • Na ligação Indivíduo-Suporte Lógico, podem produzir-se erros ao procurar informações vitais, devido a que as documentações e as cartas são confusas, enganosas, ou compostas de excessivos elementos. A automatização também pode conduzir a falhas nesta ligação. • Os erros correspondentes à ligação Individuo-Meio ambiente originam-se nos Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 25 de 258 factores ambientais (o ruído, o calor, a luz e a vibração), e na alteração dos ritmos biológicos resultantes de padrões irregulares de trabalho e de sono. • Na ligação Individuo-Outros Indivíduos, a focagem reside na interacção entre pessoas, uma vez que este processo afecta a deficiência da população. Esta interacção inclui também a liderança e o comando, e os defeitos nesta ligação reduzem a eficiência operacional e são causa de equívocos e erros. 9.1.2 INCIDENTES / ACIDENTES ATRIBUÍDOS A FACTORES HUMANOS 9.1.2.1 INCIDENTES E ACIDENTES – UMA RUPTURA AO NÍVEL DOS FACTORES HUMANOS Como em muitos acidentes e incidentes, todos os exemplos mencionados envolveram uma serie de problemas relacionados com factores humanos, os quais constituíram uma cadeia de erros, sendo os erros de manutenção um elo na cadeia dos acontecimentos. Se algum elo tivesse quebrado a cadeia, o acidente não teria acontecido. Se quebrarmos a cadeia ao nível da manutenção, o acidente não se dá! Vários incidentes e acidentes tiveram o erro humano de manutenção como factor contributivo (www.aaib.gov.uk). Vejam-se as seguintes descrições (optou-se pelo original em inglês): 9.1.2.1.1 NTSB/AAR-84/04. Eastern Airlines, L-1011, N334EA, Miami, May 1983 During maintenance, technicians failed to fit O-ring seals on the master chip detector assemblies. This led to loss of oil and engine failure. The aircraft landed safely with one engine. Local na aeronave e peça responsável pelo incidente Cadeia de erros (Boeing, 1993) Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 26 de 258 Technicians had been used to receiving the master chip detectors with O-ring seals already fitted and informal procedures were in use regarding fitment of the chip detectors. This problem has occurred before, but no appropriate action had been carried out to prevent a re-occurrence. 9.1.2.1.2 NTSB/AAR-89/03. Aloha Airlines, B737-200, N73711, Hawaii, April 1988 The Aloha accident involved 18 feet of the upper cabin structure suddenly being ripped away, in flight, due to structural failure. The Boeing 737 involved in this accident had been examined, as required by US regulations, by two of the engineering inspectors. One inspector had 22 years experience and the other, the chief inspector, had 33 years experience. Neither found any cracks in their inspection. Foto da aeronave após aterragem ainda com passageiros a bordo Post-accident analysis determined there were over 240 cracks in the skin of this aircraft at the time of the inspection. The ensuing investigation identified many human-factors- related problems leading to the failed inspections. 9.1.2.1.3 AAIB/AAR 1/92, British Airways BAC 1-11, G-BJRT, Didcot, June 1990 In 1990, in the UK, a BAC1-11 was climbing through 17,300 feet on departure from Birmingham International Airport when the left windscreen, which had been replaced prior to flight, was blown out under the effects of cabin pressure when it overcame the retention of the securing bolts, 84 of which, out of a total of 90, were smaller than the specified diameter. The commander was sucked halfway out of the windscreen aperture and was restrained by cabin crew whilst the co-pilot flew the aircraft to a safe landing at Southampton Airport The Shift Maintenance Manager (SMM), short-handed on a night shift, had decided to carry out the windscreen replacement himself. He consulted the Maintenance Manual (MM) and concluded that it was a straightforward job. He decided to replace the old bolts and, taking one of the bolts with him (a7D), he looked for replacements. The Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 27 de 258 storeman advised him that the job required 8Ds, but since there were not enough 8Ds, the SMM decided that 7Ds would do (since these had been in place previously). However, he used sight and touch to match the bolts and, erroneously, selected 8Cs instead, which were longer but thinner. He failed to notice that the countersink was lower than it should be, once the bolts were in position. He completed the job himself and signed it off, the procedures not requiring a pressure check or duplicated check. 1.3.3 There were several human factors issues contributing to this incident, including perceptual errors made by the SMM when identifying the replacement bolts, poor lighting in the stores area, failure to wear spectacles, circadian effects, working practices, and possible organisational and design factors. The fulltext of the investigation can be found in AAIB relato 1/92 and in the AAIB website, and an indepth discussion of the human factors aspects of this accident can be found in the book “Beyond Aviation Human Factors”1, by Maurino et al. 9.1.2.1.4 NTSB/AAR-92/04. Britt Airways, (d/b/a Continental Express), EMB-120, N33701, Eagle Lake, September 1991 The EMB-120 suffered in-flight structural break up and crashed with no survivors. The accident occurred because the attaching screws on the top of the left side leading edge of the horizontal stabiliser had been removed during maintenance, leaving the leading edge/de-ice boot assembly secured to the horizontal stabiliser by only the bottom attachment screws. The report of this accident is of particular interest to human factors because, although the wording of the accident report placed the blame upon the individual technician(s) who failed to refit the horizontal stabiliser de-ice boots correctly, there was a dissenting statement by John Lauber (then of the NTSB) which referred to corporate culture being partially to blame, in addition to the many contributory factors leading to the incorrect re-fitment. 9.1.2.1.5 AAIB/ AAR 2/95, Excalibur Airways, A320-212, G-KMAM, Gatwick, August 1993 Another incident in August 1993 involved an Airbus 320 which, during its first flight after a flap change, exhibited an undemanded roll to the right after takeoff. The aircraft returned to Gatwick and landed safely. The investigation discovered that during maintenance, in order to replace the right outboard flap, the spoilers had been placed in maintenance mode and moved using an incomplete procedure; specifically the collars and flags were not fitted. The purpose of the collars and the way in which the spoilers functioned was not fully understood by the technicians. This misunderstanding was due, in part, to familiarity of the technicians with other aircraft (mainly 757) and contributed to a lack of adequate briefing on the status of the spoilers during the shift handover. The locked spoiler was not detected during standard pilot functional checks. The full text of the investigation can be found in AAIB relato 2/952 and a synopsis can be found in the AAIB website. 9.1.2.1.6 NTSB/SIR-94/02. Northwest Airlines, B747, N637US, Narita, March 1994 On March 1st, 1994, a B747 landed at Narita Airport, Japan, with the front of the No.1 engine touching the ground. A fire developed but was quickly extinguished and there Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 28 de 258 were no casualties. During maintenance, the No.1 pylon aft diagonal brace primary retainer had been removed but not re-installed. The NTSB special investigation relato3 findings included: a) “maintenance and inspection personnel who worked on the airplane were not adequately trained and qualified to perform the required maintenance and inspection functions. Critical functions had been taught by on-the-job training and were not standardized or formalized in an initial or recurrent training program”. b) “The ‘OK to close’ inspection of the pylon area was hampered by inadequate lighting and perceived dangers of the scaffolding”. c) “The CITEXT used by [the airline] was inadequate”. d) “The work environment for the heavy maintenance of the airplane was inadequate and contributed to an error-producing situation for the workers”. 9.1.2.1.7 AAIB/ AAR 3/96, British Midland, B737-400, G-OBMM, Daventry, February 1995 In February1995, a Boeing 737-400 suffered a loss of oil pressure on both engines. The aircraft diverted and landed safely at Luton Airport The investigation discovered that the aircraft had been subject to borescope inspections on both engines during the preceding night and the high pressure (HP) rotor drive covers had not been refitted, resulting in the loss of almost all the oil from both engines during flight. The line engineer was originally going to carry out the task, but, for various reasons, he swapped jobs with the base maintenance controller. The base maintenance controller did not have the appropriate paperwork with him. The base maintenance controller and a fitter carried out the task, despite many interruptions, but failed to refit the rotor drive covers. No ground idle engine runs (which would have revealed the oil leak) were carried out. The job was signed off as complete. The full text of the investigation can be found in AAIB relato 3/961 and in the AAIB website2. A detailed discussion of the incident can be found in Professor James Reason’s book “Managing the Risks of Organizational Accidents”3. 9.1.2.1.8 AAIB Bulletin 5/97, British Airways, B747, GBDXK, Gatwick, November 1996 The 4L door handle moved to the ‘open’ position during the climb. The Captain elected to jettison fuel and return to Gatwick. An investigation revealed that the door torque tube had been incorrectly drilled/fitted. The Maintenance Manual required a drill jig to be used when fitting the new undrilled torque tube, but no jig was available. The LAE and Flight Technical Liaison Engineer (FTLE) elected to drill the tube in the workshop without a jig, due to time constraints and the operational requirement for the aircraft. The problem with the door arose as a result of incorrectly positioned drill holes. 9.1.2.1.9 AAIB Bulletin 7/2000. Airbus A320; G-VCED; 20/1/2000 As the A320 rotated for take-off, both fan cowl doors detatched from the No 1 engine and struck the aircraft. It is likely that the doors had been closed following maintenance but not latched. There are no conspicuous cues to indicate an unlatched condition, and Módulo 09 – Factores Humanos Revisão 01 Página 29 de 258 no flight deck indication. Similar incident have occurred on at least 7 other occasions. 9.1.2.1.10 Lufthansa A320 incident, 20 March 2001 During maintenance, two pairs of pins inside one of the elevator/aileron computers were cross connected. This changed the polarity of the Captain’s side stick and the respective control channels, bypassing the control unit which might have sensed the error and would have triggered a warning. Functional checks post maintenance failed to detect the crossed connection because the technician used the first officer’s side stick, not the pilot’s. The pilots’ pre-flight checks also failed to detect the fault. The problem became evident after take-off when the aircraft ended up in a 21° left bank and came very close to the ground, until the co-pilot switched his sidestick to priority and recovered the aircraft. 9.1.2.2 BREVE RESUMO DAS CONCLUSÕES Em vários destes casos, concretamente no do BAC 1-11, A320 e B-737, os técnicos envolvidos eram considerados pelas respectivas companhias como qualificados, competentes e fiáveis e os incidentes foram caracterizados por : Haver pouco pessoal; Existirem pressões de tempo; Todos os erros terem ocorrido no período da noite; Envolvimento de alternância de turnos ou de tarefas; Envolvimento de supervisores a realizar tarefas longas; Ocorrência de interrupções; Existência de um elemento de “pode ser feito”; Falha em utilizar informação ou procedimentos aprovados; Existência de manuais confusos; Inadequação de pré-planeamento, equipamento ou componentes 9.1.2.2.1 Estudo Desenvolvido do Caso do Pára-Brisas do AAIB/AAR 1/92, British Airways BAC 1-11, G-BJRT, Didcot, June 1990 Acidente com o BAC1-11, voo 5390 da British Airways, no Reino Unido, 10 de Junho de 1990, durante um voo regular de Birmingham, Inglaterra, para Málaga, Espanha, com 81 passageiros e 6 tripulantes. Uma vez em linha de subida, ambos os pilotos tiraram o cinto dos ombros e o comandante alargou o cinto de segurança. Às 07:33 o avião estava ainda a 17.300 pés quando se ouviu um grande estrondo e a fuselagem encheu-se com névoa de condensação. O para
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