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Esses movimentos exploram e potencializam, também, os preconceitos, o ma- chismo, o racismo e a homofobia, arraigados e estimulados na mentalidade de parte da população, mas se voltam principalmente para os setores pequeno-burgueses, ou de classe média, que se veem como as principais vítimas das crises econômicas e sociais. Ou seja, para os grupos mais ricos da sociedade, é útil fomentar movimen- tos e ideologias conservadoras e antidemocráticas, para que seu controle econômi- co sobre a população seja mantido e reforçado em momentos de crise. De modo geral, o fascismo defende a monopolização da representação política centrada no culto e na idealização do chefe, na exaltação da nacionalidade, no despre- zo pelas liberdades individuais e na oposição frontal ao socialismo e ao comunismo. Uma vez no poder, o chefe fascista mobiliza as massas em organizações total- mente favoráveis ao regime, ataca e aniquila as oposições usando a violência e o terror, persegue os meios de comunicação que tentam ser independentes e faz uma intensa propaganda ideológica do próprio governo difundindo mentiras em massa e controlando a educação e as informações que podem ou não ser divulgadas. Fascismo italiano Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Itália atravessava forte crise eco- nômica, social e política. O desemprego aumentava nas cidades e a miséria crescia nas áreas rurais. Essa situação gerava constantes greves e levantes de trabalhadores operários, além de ocupação de terras pelos camponeses. Neste contexto, os grupos políticos de esquerda (socialistas, comunistas e anar- quistas) ganhavam mais expressão. Para combatê-los, surgiram os grupos paramili- tares de direita, comandados por militares que haviam servido na Primeira Guerra Mundial. Esses grupos – entre os quais os chamados camisas-negras – eram for- mados por jovens das elites e da classe média. Benito Mussolini (1883-1945) se tornou o chefe principal desses grupos cujo objetivo era reprimir violentamente os protestos da população mais pobre e impedir o crescimento dos partidos políticos que a representava. Em 1922, os grupos fascistas realizaram a chamada “marcha sobre Roma”, pres- sionando o rei italiano Vitor Emanuel III (1869-1947) a nomear Mussolini como parte do governo. Após uma reforma eleitoral que ajudou os interesses do Partido Nacional Fascista e de uma eleição suspeita em 1924, os fascistas conquistaram dois terços dos lugares no Parlamento e iniciaram seu projeto dita- torial: toda forma de oposição ao governo foi proibida e os líderes oposicionistas foram mor- tos ou presos. Assim, Mussolini governou a Itá- lia durante mais de 20 anos (1922-1943) e con- duziu o país (que ainda sofria as consequên- cias da Primeira Guerra Mundial) para mais uma guerra de destruição nacional. Mussolini posa para a revista Signal, publicada pelos nazistas, em 1940. Gramsci em Moscou, Rússia, em meados de 1930. Junto com amigos intelectuais e militantes, fundou, em 1919, a revista L’Ordine Nuovo [A Nova Ordem], que tratava da cultura, das lutas e dos problemas dos trabalhadores italianos, além de criticar duramente o fascismo. Antonio Gramsci (1891- 1937) foi jornalista, político e filósofo italiano. Mili- tante do Partido Socia- lista, em 1921 foi um dos fundadores do Partido Comunista da Itália, mais tarde Partido Comunis- ta Italiano (PCI). Entre os anos de 1919 e 1920, perío- do em que os operários italianos ocuparam as fá- bricas em protesto contra a crise social provocada pelo capitalismo do pós- -guerra na Itália, Gramsci organizou cursos e deu aulas para os trabalhado- res. Em 1924, ele foi eleito deputado pelo PCI. Em 1926, preso pelo regime fascista de Benito Mus- solini, foi condenado a 20 anos de prisão por um tribunal especial fascista. Enquanto esteve preso, ele escreveu sua principal obra, Cadernos do cárcere, que contém uma das mais profundas teorias políticas do século XX. Com gra- ves problemas de saúde, Gramsci morreu em abril de 1937, quando se encon- trava sob liberdade condi- cional vigiada. Perfil C u lt u re C lu b /G e tt y I m a g e s L a s k i D if fu s io n /G e tt y I m a g e s 97 V5_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap4_088-111.indd 97V5_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap4_088-111.indd 97 18/09/2020 11:4418/09/2020 11:44 Fascismo e desigualdade No âmbito de uma crise econômica profunda e de longa duração, a desigualda- de social se acentua. Deste cenário, resulta a radicalização dos movimentos popula- res da classe trabalhadora e, em contrapartida, o desenvolvimento de movimentos políticos de direita, como as Tropas de Choque do nazismo, por exemplo, que re- crutaram, entre 1930 e 1932, um exército de 300 mil homens entre os desemprega- dos alemães. Na Itália, a crise econômica e social provocada pela guerra criou condições favoráveis ao fascismo que surgia, pela primeira vez, enquanto movimento organi- zado. Mussolini, em 1914, fundou o jornal II Popolo d’Italia, que viria a ser o principal órgão de comunicação fascista e uma das principais organizações defensoras da participação da Itália na Primeira Guerra, que durou de 1914 a 1918. Em 1915, a Itália entrara ao lado de França, Inglaterra e Rússia contra a Alemanha e o Império Austro-Húngaro. O jornal e o movimento de Mussolini foram financiados por grandes empresá- rios italianos, como o Giovanni Agnelli, dono da empresa Fiat na época – durante a Primeira Guerra, a empresa multiplicou seu capital em dez vezes. Empresas siderúrgicas e químicas também ampliaram seus capitais, uma vez que suas produções se direcionaram à guerra. Em razão dessa concentração do mercado em gran- des empresas, as pequenas faliram, seus donos empo- breceram e, consequentemente, seus empregados fo- ram demitidos. A inflação aumentou e a moeda desva- lorizou criticamente: entre 1914 e 1920, a perdeu 80% de seu valor. A inflação e o desemprego impactaram a vida dos trabalhadores e da classe média. Com o aumento da desigualdade social, acentuou-se o descontentamento e a insegurança da população. Após 1918, Mussolini começou a reunir os ex-sol- dados desempregados no movimento fascista, sob o pretexto de que os grandes inimigos internos da Itália eram a democracia e o socialismo. A crise e a desigual- dade social, provocadas pela guerra e pela concentra- ção da riqueza italiana nas mãos dos grandes capitalis- tas do país, criaram condições para que o movimento fascista crescesse e recebesse o apoio das diferentes camadas da população. Em 1922, havia apoio de ban- queiros, industriais, comerciantes, ex-soldados, de ope- rários desempregados e da classe média empobrecida. No final de 1922, Mussolini chegou ao poder liderando o movimento fascista, que apresentava duas características principais: sua base de militantes e simpati- zantes era, predominantemente, de pessoas de classe média; e seu suporte finan- ceiro e estrutural provinha dos mais ricos empresários italianos. Assim, explorando a profunda desigualdade causada pela crise econômica do pós-Primeira Guerra, o movimento fascista conseguiu se fortalecer, ganhando o apoio dos grandes capita- listas, principalmente para reprimir a organização e os protestos dos trabalhadores, chegando ao governo da Itália. Capa de caderno de exercício escolar italiano, de 1941. O material didático ilustra Mussolini, ao fundo, e meninos marchando com rifles. D e A g o s ti n i/ G e tt y I m a g e s 98 V5_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap4_088-111.indd 98V5_Cie_HUM_Igor_g21Sc_Cap4_088-111.indd 98 18/09/2020 11:4418/09/2020 11:44