Text Material Preview
“livro” — 2007/8/1 — 15:06 — page 634 — #644 634 Fı́sica Matemática Arfken •Weber Figura 13.3: Contorno do polinômio de Laguerre. É exatamente isso que obterı́amos da série g(x, z) = e−xz/(1−z) 1− z = ∞∑ n=0 Ln(x)zn, |z| < 1, (13.56) se multiplicássemos g(x, z) por z−n−1 e integrássemos ao redor da origem. Assim como no desenvolvimento do cálculo de resı́duos (Seção 7.1), somente o termo z−1 da série sobrevive. Tendo isso como base, identificamos g(x, z) como a função geradora para os polinômios de Laguerre. Figura 13.4: Polinômios de Laguerre. Com a transformação xz 1− z = s− x ou z = s− x s , (13.57) Ln(x) = ex 2πi ∮ sne−s (s− x)n+1 ds, (13.58) o novo contorno que circunda o ponto s = x no plano s. Pela fórmula integral de Cauchy (para derivadas), Ln(x) = ex n! dn dxn ( xne−x ) (n inteiro), (13.59) “livro” — 2007/8/1 — 15:06 — page 635 — #645 13. MAIS FUNÇÕES ESPECIAIS 635 dando a fórmula de Rodrigues para polinômios de Laguerre. Por essas representações de Ln(x) encontramos a forma de série (para n inteiro), Ln(x) = (−1)n n! [ xn − n2 1! xn−1 + n2(n− 1)2 2! xn−2 − · · ·+ (−1)nn! ] = n∑ m=0 (−1)mn!xm (n−m)!m!m! = n∑ s=0 (−1)n−sn!xn−s (n− s)!(n− s)!s! , (13.60) e os polinômios especı́ficos listados na Tabela 13.2 (Exercı́cio 13.2.1). Está claro que a definição de polinômios de Laguerre nas Equações (13.55), (13.56), (13.59) e (13.60) é equivalente. Aplicações práticas decidirão qual abordagem usaremos como nosso ponto de partida. A Equação (13.59) é muito conveniente para gerar a Tabela 13.2, a Equação (13.56) para derivar relações de recorrência a partir das quais a EDO Equação (13.52) é recuperada. Tabela 13.2 Polinômios de Laguerre L0(x) = 1 L1(x) = −x+ 1 2!L2(x) = x2 − 4x+ 2 3!L3(x) = −x3 + 9x2 − 18x+ 6 4!L4(x) = x4 − 16x3 + 72x2 − 96x+ 24 5!L5(x) = −x5 + 25x4 − 200x3 + 600x2 − 600x+ 120 6!L6(x) = x6 − 36x5 + 450x4 − 2400x3 + 5400x2 − 4320x+ 720 Por diferenciação da função geradora na Equação (13.56) em relação a x e z, obtemos relações de recorrência para os polinômios de Laguerre, como descrevemos a seguir. Usando a regra do produto para diferenciação, verificamos as identidades (1− z)2 ∂g ∂z = (1− x− z)g(x, z), (z − 1) ∂g ∂x = zg(x, z). (13.61) Escrevendo os lados esquerdo e direito da primeira identidade em termos de polinômios de Laguerre usando a Equação (13.56), obtemos ∑ n [ (n+ 1)Ln+1(x)− 2nLn(x) + (n− 1)Ln−1(x) ] zn = ∑ n [ (1− x)Ln(x)− Ln−1(x) ] zn. Igualando coeficientes de zn, temos como resultado (n+ 1)Ln+1(x) = (2n+ 1− x)Ln(x)− nLn−1(x). (13.62) Para obter a segunda relação de recursão, usamos ambas as identidades das Equações (13.61) para verificar a terceira identidade, x ∂g ∂x = z ∂g ∂z − z ∂(zg) ∂z , (13.63) que, quando escrita da mesma forma em termos de polinômios de Laguerre, verificamos ser equivalente a xL′n(x) = nLn(x)− nLn−1(x). (13.64) A Equação (13.61), modificada para ser lida como Ln+1(x) = 2Ln(x)− Ln−1(x)− 1 n+ 1 [ (1 + x)Ln(x)− Ln−1(x) ] , (13.65) por razões de economia e estabilidade numérica, é usada para cálculo de valores numéricos de Ln(x). O computador começa com valores numéricos conhecidos de L0(x) eL1(x), Tabela 13.2, e prossegue passo a passo. Essa é a mesma técnica discutida para o cálculo de polinômios de Legendre, Seção 12.2. Além disso, pela Equação (13.56) encontramos g(0, z) = 1 1− z = ∞∑ n=0 zn = ∞∑ n=0 Ln(0)zn, “livro” — 2007/8/1 — 15:06 — page 636 — #646 636 Fı́sica Matemática Arfken •Weber que dá como resultado os valores especiais de polinômios de Laguerre Ln(0) = 1. (13.66) Como vemos pela forma da função geradora, pela forma da EDO de Laguerre ou pela Tabela 13.2, os polinômios de Laguerre não têm nem simetria ı́mpar nem simetria par sob a transformação de paridade x→ −x. A EDO de Laguerre não é auto-adjunta, e os polinômios de Laguerre Ln(x) por si mesmos não formam um conjunto ortogonal. Todavia, seguindo o método da Seção 10.1, se multiplicarmos a Equação (13.52) por e−x (Exercı́cio 10.1.1), obtemos ∫ ∞ 0 e−xLm(x)Ln(x) dx = δmn. (13.67) Essa ortogonalidade é uma conseqüência da teoria de Sturm-Liouville, Seção 10.1. A normalização resulta da função geradora. Às vezes é conveniente definir funções ortogonalizadas de Laguerre (com a função de peso unitária) por ϕn(x) = e−x/2Ln(x). (13.68) Nossa nova função ortonormal, ϕn(x), satisfaz a EDO xϕ′′n(x) + ϕ′n(x) + ( n+ 1 2 − x 4 ) ϕn(x) = 0, (13.69) que verificamos ter a forma (auto-adjunta) de Sturm-Liouville. Note que o intervalo (0 ≤ x <∞) foi usado porque as condições de fronteira de Sturm-Liouville são satisfeitas em suas extremidades. Polinômios Associados de Laguerre Em muitas aplicações, em particular em Mecânica Quântica, precisamos dos polinômios associados de Laguerre definidos por6 Lkn(x) = (−1)k dk dxk Ln+k(x). (13.70) Pela forma de série de Ln(x), verificamos que os polinômios associados de Laguerre mais baixos são dados por Lk0(x) = 1, Lk1(x) = −x+ k + 1, Lk2(x) = x2 2 − (k + 2)x+ (k + 2)(k + 1) 2 . (13.71) Em geral, Lkn(x) = n∑ m=0 (−1)m (n+ k)! (n−m)!(k +m)!m! xm, k > −1. (13.72) Pode-se desenvolver uma função geradora diferenciando a função geradora de Laguerre k vezes para obter como resultado (−1)k dk dxk e−xz/(1−z) 1− z = (−1)k ∞∑ n=0 dk dxk Ln+k(x)zn+k = ∞∑ n=0 Lkn(x)z n+k = ( z 1− z )k exz/(1−z) 1− z . Pelos dois últimos membros dessa equação, cancelando o fator comum zk, obtemos e−xz/(1−z) (1− z)k+1 = ∞∑ n=0 Lkn(x)z n, |z| < 1. (13.73) 6Alguns autores usam Lk n+k(x) = (dk/dxk)[Ln+k(x)]. Daı́, nossa Lk n(x) = (−1)kLk n+k(x). “livro” — 2007/8/1 — 15:06 — page 637 — #647 13. MAIS FUNÇÕES ESPECIAIS 637 Por essa expressão, a expansão binomial para x = 0, 1 (1− z)k+1 = ∞∑ n=0 ( −k − 1 n ) (−z)n = ∞∑ n=0 Lkn(0)zn resulta em Lkn(0) = (n+ k)! n!k! . (13.74) Podem-se derivar relações de recorrência a partir da função geradora ou por diferenciação das relações de recorrência do polinômio de Laguerre. Entre as numerosas possibilidades estão (n+ 1)Lkn+1(x) = (2n+ k + 1− x)Lkn(x)− (n+ k)Lkn−1(x), (13.75) x dLkn(x) dx = nLkn(x)− (n+ k)Lkn−1(x). (13.76) Assim, diferenciando a EDO de Laguerre uma vez, obtemos x dL′′n dx + L′′n − L′n + (1− x)dL ′ n dx + n dLn dx = 0, e, diferenciando a EDO de Laguerre k vezes, por fim obtemos x dk dxk L′′n + k dk−1 dxk−1 L′′n − k dk−1 dxk−1 L′n + (1− x) d k dxk L′n + n dk dxk Ln = 0. Ajustando o ı́ndice n→ n+ k, temos a EDO associada de Laguerre x d2Lkn(x) dx2 + (k + 1− x)dL k n(x) dx + nLkn(x) = 0. (13.77) Quando polinômios associados de Laguerre aparecem em um problema fı́sico, em geral é porque o problema em questão envolve a Equação (13.77). A aplicação mais importante é nos estados ligados do átomo de hidrogênio que são derivados no Exemplo 13.2.1 mais adiante. Pode-se obter uma representação de Rodrigues do polinômio associado de Laguerre Lkn(x) = exx−k n! dn dxn ( e−xxn+k ) , (13.78) substituindo a Equação (13.59) na Equação (13.70). Note que todas essas fórmulas para polinômios associados de Legendre Lkn(x) se reduzem às expressões correspondentes para Ln(x), quando k = 0. A equação associada de Laguerre, Equação (13.77), não é auto-adjunta, mas pode ser colocada em forma auto- adjunta, multiplicando por e−xxk, que se torna a função de peso (Seção 10.1). Obtemos∫ ∞ 0 e−xxkLkn(x)L k m(x) dx = (n+ k)! n! δmn. (13.79) A Equação (13.79) mostra o mesmo intervalo de ortogonalidade (0,∞) dos polinômios de Laguerre, mas, com uma nova função de peso, temos um novo conjunto de polinômios ortogonais, os polinômios associados de Laguerre. Fazer ψkn(x) = e−x/2xk/2Lkn(x), ψ k n(x) satisfaz a EDO auto-adjunta x d2ψkn(x) dx2 + dψkn(x) dx + ( −x 4 + 2n+ k + 1 2 − k2 4x ) ψkn(x) = 0. (13.80) As ψkn(x) às vezes são denominadas funções de Laguerre. A Equação (13.67) é ocaso especial k = 0 da Equação (13.79). Uma outra forma útil é dada definindo7 Φkn(x) = e−x/2x(k+1)/2Lkn(x). (13.81) 7Isso corresponde a modificar a função ψ na Equação (13.80) para eliminar a derivada de primeira ordem (compare com o Exercı́cio 9.6.11). “livro” — 2007/8/1 — 15:06 — page 638 — #648 638 Fı́sica Matemática Arfken •Weber Substituição na equação associada de Laguerre, resulta em d2Φkn(x) dx2 + ( −1 4 + 2n+ k + 1 2x − k2 − 1 4x2 ) Φkn(x) = 0. (13.82) A integral de normalização correspondente ∫∞ 0 |Φkn(x)|2 dx é∫ ∞ 0 e−xxk+1 [ Lkn(x) ]2 dx = (n+ k)! n! (2n+ k + 1). (13.83) Observe que as Φkn(x) não formam um conjunto ortogonal (exceto com x−1 como uma função de peso) por causa do x−1 no termo (2n+ k+ 1)/2x. (As funções de Laguerre Lµν (x) nas quais os ı́ndices ν e µ são não são inteiros podem ser definidas usando as funções hipergeométricas confluentes da Seção 13.5.) Exemplo 13.2.1 ÁTOMO DE HIDROGÊNIO A aplicação mais importante dos polinômios de Laguerre é na solução da equação de Schrödinger para o átomo de hidrogênio. Essa equação é − ~2 2m ∇2ψ − Ze2 4πε0r ψ = Eψ, (13.84) na qual Z = 1 para hidrogênio, 2 para hélio ionizado, e assim por diante. Separando variáveis, constatamos que a dependência angular de ψ são os harmônicos esféricos YML (θ, ϕ). A parte radial, R(r), satisfaz a equação − ~2 2m 1 r2 d dr ( r2 dR dr ) − Ze2 4πε0r R+ ~2 2m L(L+ 1) r2 R = ER. (13.85) Para estados ligados, R→ 0, quando r →∞, e R é finito na origem, r = 0. Não consideramos estados contı́nuos com energia positiva. Somente quando eles estiverem incluı́dos é que as funções de onda do hidrogênio formam um conjunto completo. Usando abreviações (resultantes de aumentar novamente r até a variável radial sem dimensão ρ) ρ = αr, com α2 = −8mE ~2 , E < 0, λ = mZe2 2πε0α~2 , (13.86) a Equação (13.85) se torna 1 ρ2 d dρ ( ρ2 dχ(ρ) dρ ) + ( λ ρ − 1 4 − L(L+ 1) ρ2 ) χ(ρ) = 0, (13.87) em que χ(ρ) = R(ρ/α). Uma comparação com a Equação (13.82) para Φkn(x) mostra que a Equação (13.87) é satisfeita por ρχ(ρ) = e−ρ/2ρL+1L2L+1 λ−L−1(ρ), (13.88) na qual k é substituı́do por 2L+ 1 por n by λ− L− 1, pela utilização de 1 ρ2 d dρ ρ2 dχ dρ = 1 ρ d2 dρ2 (ρχ). Devemos restringir o parâmetro λ impondo que ele seja um inteiro n, n = 1, 2, 3, . . .8 Isso é necessário porque a função de Laguerre de n não-inteiro divergiria9 como ρneρ, o que é inaceitável para nosso problema fı́sico, no qual lim r→∞ R(r) = 0. Essa restrição a λ, imposta por nossa condição de contorno, tem o efeito de quantizar a energia, En = − Z2m 2n2~2 ( e2 4πε0 )2 . (13.89) 8Essa é a notação convencional para λ. Esse n não é o mesmo ı́ndice n em Φk n(x). 9Isso pode ser mostrado, como no Exercı́cio 9.5.5.