Quando Alexander Luria chegou ao Uzbequistão nos anos 1930, encontrou uma região praticamente feudal. O psicólogo russo queria estudar as funções c...
Quando Alexander Luria chegou ao Uzbequistão nos anos 1930, encontrou uma região praticamente feudal. O psicólogo russo queria estudar as funções cognitivas de adultos em sociedades sem tecnologia ou alfabetização. E a maioria dos uzbeques vivia da produção de algodão a serviço de proprietários rurais endinheirados. O país como tal fora criado em 1924, ano em que virou uma república anexada à União Soviética. Era um período de fortes mudanças socioeconômicas e culturais, como o início da reforma agrária, a emancipação feminina e a construção de escolas em áreas rurais. Numa das vilas, o pesquisador usou problemas de lógica para testar a cognição dos agricultores. “No Polo Norte, onde tem neve, todos os ursos são brancos. Nova Zembla fica no Polo Norte e sempre tem neve lá. De que cor são os ursos em Nova Zembla?” Um camponês de 37 anos respondeu: “Há diferentes tipos de urso”. O cientista repetiu a pergunta quatro vezes, à qual o aldeão retrucou: “Se um homem de 60 ou 80 anos tivesse visto um urso branco e me contasse, eu acreditaria. Mas nunca vi um e, por isso, não posso falar”. Na sequência, um jovem uzbeque se voluntariou para resolver o enigma: “Com base no que você diz, os ursos lá são brancos”. A conclusão de Luria foi que o adulto não conseguia solucionar o problema porque raciocinava sobre suas experiências. Seu pensamento era empírico, não teórico. Já o acerto do garoto sequer foi mencionado nas considerações finais. Cinquenta anos depois, o cientista político James Flynn usou os estudos do russo para sust