a aplicação do princípio da insignificância pelo afastamento da tipicidade material, pressupõe a concomitância de quatro vetores: a) mínima ofensiv...

a aplicação do princípio da insignificância pelo afastamento da tipicidade material, pressupõe a concomitância de quatro vetores: a) mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma periculosidade social da ação; c) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e d) inexpressividade da lesão jurídica provocada (HC 84.412/SP, rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU 19.04.04). Para além disto, conforme afirma o ministro Gilmar Mendes, "(...) para chegar à tipicidade material há que se pôr em prática juízo de ponderação entre o dano causado pelo agente e a pena que lhe será imposta como consequência da intervenção penal do Estado. A análise da questão, tendo em vista o princípio da proporcionalidade, pode justificar, dessa forma, a ilegitimidade da intervenção estatal por meio do Direito Penal" (HC 144551/RS, rel. Min. GILMAR MENDES, DJe 27.04.2018). grifo nosso Diante do exposto, a subtração, sem violência ou grave ameaça, do vidro de shoyo mostra-se despida de significação social. O valor do item furtado R$2,45 é bem inferior ao do salário mínimo e o mesmo foi devolvido à vítima, o que evidencia a total ausência de risco de dano relevante ao patrimônio da vítima, configurando a incidência do princípio da insignificância "sobretudo porque a consequência nuclear do crime patrimonial é acrescer o patrimônio do autor e minorar o da vítima" (AGR/SP, rel. Min. GILMAR MENDES DJe 25.05.2020). Ressalta-se que, no caso analisado, mesmo não constando informações sobre da conduta do agente para que seja feita uma análise criteriosa sobre a inexpressiva lesividade da conduta, ainda sim poderia ser aplicado o princípio da insignificância, posto que o entendimento jurisprudencial não é unânime sobre casos de agente contumaz, de forma que reincidência ou maus antecedentes não impedem, por si sós, a aplicação do princípio da insignificância. Embora a habitualidade delitiva tem sido compreendida como obstáculo inicial à tese da insignificância, há entendimento que possa ser ressalvada a excepcional peculiaridade do caso penal. Cita-se o julgamento conjunto dos HCs 123.108, 123.533 e 123.734 (Rel. Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, DJe 1º.2.2016), AgInt no AREsp 948.586/RS, rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA DJe 29.8.2016; AgRg no RECURSO ESPECIAL 1.715.427/MG, rel. Min. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO; HC 18.1389 AGR/SP, rel. Min. GILMAR MENDES DJe 25.05.2020). No que diz espeito a aplicação do princípio da ofensividade ao caso em questão, nos termos do ministro Gilmar Mendes: "Em uma leitura conjunta do princípio da ofensividade com o princípio da insignificância, estaremos diante de uma conduta atípica quando a conduta não representar, pela irrisória ofensa ao bem jurídico tutelado, um dano (nos crimes de dano), uma certeza de risco de dano (nos crimes de perigo concreto) ou, ao menos, uma possibilidade de risco de dano (nos crimes de perigo abstrato), conquanto haja, de fato, uma subsunção formal do comportamento ao tipo penal. Em verdade, não haverá crime quando o comportamento não for suficiente para causar um dano, ou um perigo efetivo de dano, ao bem jurídico – quando um dano, ou um risco de dano, ao bem jurídico não for possível diante da mínima ofensividade da conduta." (AGR/SP, rel. Min. GILMAR MENDES DJe 25.05.2020). Assim, a tipicidade material do fato pode ser afastada tanto pela aplicação do princípio da insignificância, como pelo princípio da ofensividade, uma vez que a conduta concreta do agente não representou uma efetiva lesão ou uma possibilidade de lesão ao bem jurídico.