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​Como você já estudou, a dramaturgia tem um papel muito importante na literatura, principalmente a contemporânea. Um autor muito importante para o ...

​Como você já estudou, a dramaturgia tem um papel muito importante na literatura, principalmente a contemporânea. Um autor muito importante para o gênero foi Arthur Miller e a sua obra “A Morte do Caixeiro Viajante”. Leia o trecho abaixo e compare o contexto da obra com a atualidade global, no contexto capitalista. Willy: Bom, vou lhe dizer a verdade, Howard. Decidi não viajar mais. Howard: Não vai mais viajar! E o que é que vai fazer? Willy: Você se lembra da festa de Natal, aqui? Você disse que ia pensar num lugar pra mim aqui na cidade. Howard: Aqui na companhia? Willy: Claro. Howard: Ah, é mesmo, eu me lembro, sim. Mas, não achei nada para você, Willy. Willy: Olhe, Howard, os meus filhos já estão adultos, eu não preciso de muito. Se pudesse levar pra casa... Sessenta e cinco dólares por semana, eu já me arranjaria. Howard: Eu sei, Willy, mas olhe... Willy: Eu lhe explico por que, Howard. Falando francamente, e só aqui entre nós... Eu me sinto um pouco cansado. Howard: Eu compreendo, Willy. Mas você é um caixeiro-viajante, e o que a companhia precisa é de caixeiros-viajantes. Aqui na loja nós só temos uma meia dúzia de vendedores. Willy: Howard, Deus sabe que nunca pedi favor a ninguém. Mas eu já trabalhava aqui quando seu pai ainda carregava você no colo. Howard: Sei disso, Willy, mas... […] Willy (desesperado): Deixe-me contar-lhe uma história, Howard. Howard: Porque você tem que admitir, negócios são negócios. Willy (zangado): Eu sei que negócios são negócios, mas escute um minutinho só. Você não entende a situação. Quando eu ainda era um menino - dezoito, dezenove anos - eu já era viajante. E eu ficava me perguntando se essa profissão tinha futuro. Porque naquela época eu andava pensando em ir para o Alaska. Houve três corridas de ouro no Alaska, e eu quase fui. Howard (sem interesse): Não diga. Willy: É mesmo, meu pai viveu muitos anos no Alaska. Era um homem que gostava de aventuras. Na nossa família nós temos confiança em nós mesmos. Eu pensei que poderia ir com meu irmão mais velho e encontrar meu pai, e talvez ficar com ele lá no Alaska. E eu estava quase decidido a ir, quando conheci um caixeiro-viajante na Parker House. Chamava-se Dave 130 Singleman. Tinha oitenta e quatro anos e já tinha vendido mercadorias em trinta e um Estados. O velho Dave subia pro quarto, compreende, botava os chinelos de veludo verde - nunca vou me esquecer disso -, pegava o telefone e chamava os compradores. E mesmo sem sair de seu quarto, com oitenta e quatro anos, ganhava a vida. Quando eu vi isso, percebi que a carreira de um viajante era a maior carreira que um homem podia desejar. Por acaso há no mundo alguma coisa mais formidável de que uma pessoa viajar por vinte, trinta cidades diferentes, e ser lembrado, amado e ajudado por tantas pessoas diferentes? Sabe? Quando ele morreu - e por falar nisso, morreu a morte de um caixeiro-viajante, com seus chinelos de veludo verde, no vagão de fumar do trem de Nova York - Nova Haven - Hartford, a caminho de Boston -, quando morreu, centenas de caixeiros-viajantes e de compradores foram a seu funeral. Durante meses falou-se dele em todos os trens. (Levanta-se. Howard nem olhou para ele.) Naquele tempo, essa profissão tinha personalidade. Havia respeito, companheirismo e gratidão. Hoje, tudo é seco, agressivo. Não há chance para se cultivar a amizade... Nem há mais personalidade. Entende o que eu digo? Ninguém me conhece mais. Howard (andando para a direita): Esse é o problema, Willy. Willy: Se eu ganhasse quarenta dólares por semana. É só o que eu preciso, Howard. Quarenta dólares. Howard: Mas, rapaz, eu não posso tirar leite de pedra, eu... Willy (agora já está desesperado): Howard, no ano que Al Smith foi candidato, seu pai me disse... Howard (começando a sair): Há gente me esperando, Willy. Willy (impedindo que ele saia): Eu estou falando de seu pai! Foram feitas promessas aqui nesta mesa! Você não pode me dizer que há gente esperando, Howard! Eu dei trinta e quatro anos da minha vida a esta companhia e agora não posso nem pagar o meu seguro! Um ser humano não é igual a uma laranja, que você chupa e joga o bagaço fora! (MILLER, 1983, p.361-5).44
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