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“Quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando não é favorável devemos transformá-la e quando não pode ser transformada, devemos transf...

“Quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando não é favorável devemos transformá-la e quando não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos.” Viktor Frankl Em janeiro de 2020 li uma reportagem da BBC sobre o diário de uma mulher residente na cidade de Wuhan em meio à ainda epidemia de COVID-19. Janeiro é o mês do meu aniversário e enquanto eu celebrava mais um ano de vida, aquela mulher em Wuhan protegia-se da morte isolando-se em casa. Senti um arrepio na espinha ao imaginar-me em seu lugar. Apesar do sentimento de solidariedade pelo que ela e os demais residentes de Wuhan estavam passando, tudo aquilo soava como uma realidade muito distante da minha, que vivo na Espanha onde faço doutorado. No mês de março, a mídia começou a informar sobre a chegada do novo coronavírus em território europeu. Dias após a emblemática marcha do Dia Internacional da Mulher em Madrid, noticiou-se um aumento explosivo nos casos de COVID-19 na cidade, o que impactou o sistema de saúde que não estava preparado para tal demanda. Barcelona, que é a cidade onde moro e um dos principais destinos turísticos europeus, registrou um enorme número de casos em curto espaço de tempo. Nas ruas, comércios fecharam as portas, a universidade onde estudo suspendeu as atividades presenciais e a minha rotina foi abruptamente modificada. Houve uma corrida aos supermercados onde pessoas, em pânico, acotovelavam-se para comprar o máximo que podiam. O cenário era de prateleiras vazias e filas enormes de rostos assustados e impacientes. Senti-me confusa e incrédula. O medo tomou conta de mim ao imaginar que poderia me contaminar, passar fome, não ver mais a minha família, morrer. As ruas estavam desertas. Tive um total sentimento de desamparo e incerteza sobre o futuro em um país que embora tenha me acolhido de braços abertos e pelo qual sinto um carinho especial, não é a minha terra natal. Envolta em um turbilhão de sentimentos decidi voltar ao Brasil, às pressas, na véspera da declaração de estado de emergência na Espanha. A tensão acompanhou-me até o último minuto antes da decolagem, que tardou bastante devido à fila de aeronaves na pista aguardando autorização de voo. Muitos estrangeiros retornavam a seus países de origem. Chegando ao Brasil coloquei-me em autoquarentena. Apesar do isolamento, a sensação era de alívio total! Porém não tardaram a aparecer os primeiros sintomas: ansiedade, pesadelos, tremores, compulsão por higiene e limpeza a ponto de me causar tendinite nas mãos de tanto esfregar a casa e manusear ferramentas de limpeza. O medo de adoecer e de morrer me assombrava cada vez que lia as notícias. O temor pela minha própria saúde e pela vida de parentes e amigos eram uma constante, o que fazia com que eu os checasse frequentemente por videochamada. Pensei que eu fosse perder o controle sobre mim mesma. O que me ajudou a lidar melhor com essa avalanche de sentimentos foi o acesso a informações precisas e de fontes confiáveis que me ajudaram a diminuir o medo da contaminação e da propagação da doença, além de contribuir para a melhor aceitação, aprendizado e adesão às condutas de autocuidado e protocolos de higiene e prevenção. A aproximação das redes de apoio psicossocial como família, amigos e instituições - que no meu caso incluem os colegas psicólogos e os Conselhos Regional e Federal - tem sido de fundamental importância para fomentar a solidariedade, a sensação de pertencimento, o sentimento de acolhimento e cuidado. Estratégias de relaxamento e estímulo à criatividade também me ajudaram a aproveitar melhor o tempo livre sem cobranças de performance nem prazos. A realização de pequenos prazeres antes não atendidos devido à desculpa da falta de tempo como cursos on-line, jardinagem, leituras e releituras de livros que pacientemente aguardavam na estante há anos formaram parte importante do meu autocuidado psicológico. A vivência da pandemia contribuiu para tornar-me mais resiliente. Entendi que eu não posso mudar a realidade, mas posso mudar a forma como lido com ela e com as pessoas ao meu redor.

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748 pág.

Gestão Hospitalar

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