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Essas propostas insistem sobre o papel da adaptação na criatividade. Neste capítulo, tentaremos dar os elementos de resposta à questão da existênci...

Essas propostas insistem sobre o papel da adaptação na criatividade. Neste capítulo, tentaremos dar os elementos de resposta à questão da existência de um princípio de continuidade entre a criatividade diária e a criatividade histórica. Um princípio de continuidade? O debate sobre a ideia de um espaço comum entre criatividade histórica e criatividade psicológica é antigo. Entre os primeiros autores favoráveis a essa concepção de criatividade, podemos citar Ribot (1900, p.129 e 130): Todo homem normal cria pouco ou muito. Pode, em sua ignorância, inventar o que já existe mil vezes; se não é mais uma criação para espécie, continua a ser tal para o indivíduo. Diz-se sem razão que a invenção “é uma ideia nova e importante”; somente a novidade é essencial, é a marca psicológica... Restringe-se, por conseguinte, injustamente, a invenção apenas atribuindo-a aos grandes inventores. Entretanto, certos autores opuseram-se à ideia de que a criatividade poderia ser concebida fora das produções dos criadores eminentes. Nicholls (1972) prosseguiu uma abordagem psicométrica da criatividade na população “minério bruto”, porque essa forma de avaliação, que ele nomeou “pseudo-criatividade” não tem nada de comum com a “criatividade verdadeira”. Nicholls não propôs, contudo, nenhum critério para proceder a essa distinção, somente sublinha o interesse heurístico do estudo da criatividade entre os criadores ilustres. Esse ponto de vista expõe, uma vez mais, o problema da eminência da subjetividade mais elevada, que permanece relacionada aos fatores culturais e históricos. A título de exemplo, a maior parte dos críticos assistindo à première do Sacre du printemps de Stravinsky estava longe de considerar essa composição como uma obra grandiosa na história da música. A história está cheia de criadores totalmente ignorados em vida, verdadeiramente aprisionados ou executados por sua criatividade, julgada perigosa para a sociedade. A posição de Ghiselin (1963), igualmente a favor de uma dicotomia, é mais detalhada. Segundo esse autor, existem duas formas qualitativamente diferentes de produção artística: a primeira, seria a criatividade “secundária” que apenas estende um dos conceitos conhecidos em uma nova área de aplicação e, de outra, a criatividade “primária” que provoca uma mudança fundamental na nossa percepção da realidade. Essa distinção parece extremamente estrita e segui-la equivaleria, sem dúvida, tratar como secundária a imensa maioria das produções criativas. Brown (1989) observa que os dois exemplos apresentados por Ghiselin para ilustrar a criatividade primária são as descobertas da teoria quântica e da teoria da relatividade. Desse ponto de vista, prossegue, a tese de Ghiselin seria uma extensão, a todas as áreas da criatividade, das posições de Khun (1962) sobre as descobertas científicas. Kuhn propôs, com efeito, que a ciência funciona de duas maneiras: a ciência “normal”, que implica o desenvolvimento de teorias conforme um paradigma existente, por oposição à ciência “revolucionária” que supõe a rejeição do paradigma existente para a elaboração de um novo paradigma. No entanto, é possível que um trabalho científico, também menor ou “normal” (se retomarmos o termo utilizado por Khun) possa trazer ao paradigma existente uma nova iluminação que tenha consequências maiores na área. (Sternberg, Kaufman e Pretz, 2002). Os pontos de vista de Nicholls e Ghiselin descritos acima deixam, por conseguinte pouco lugar para a ideia de criatividade “no cotidiano”, dado que esta pode dificilmente se inscrever em uma perspectiva histórica (revolucionando um campo de expressão, segundo a definição de Nicholls). Outros autores consideraram que era mais parcimonioso afirmar que a criatividade psicológica e a criatividade histórica eram sustentadas pelos mesmos processos psicológicos (ver, por exemplo, Bink e Marsh, 2000; Carlier, 1973; Guilford, 1950; Rieben, 1978; Runco e Charles, 1997). Segundo a abordagem múltipla, vários fatores contribuem para a criatividade. Por exemplo, o fato de ter as capacidades cognitivas, de ser perseverante e de encontrar um ambiente que valoriza a criatividade pode gerar um nível de criatividade mais elevado do que reduzido, se levarmos em consideração os fatores de modo isolado. Há um efeito multiplicador, combinatório, tal que o resultado é superior à soma das partes. A raridade dos níveis de criatividade excepcional na população provém do fato de ser pouco comum reunir em um mesmo indivíduo um nível elevado de cada fator. De modo metafórico, é pouco provável ganhar um grande prêmio na Loteria porque é raro acertar todos os números. Pelo contrário, é mais fácil ter algum número correto e ganhar uma pequena soma. Mais recentemente, uma tipologia das contribuições criativas foi proposta por Sternberg, que mostrou a diversidade da criatividade, além de uma simples oposição entre criatividade primária e secundária, criatividade revolucionária e criatividade ordinária. A tipologia que apresenta Sternberg (Sternberg, Kaufman e Pretz, 2002) para dar conta dos diferentes tipos de contribuições criativas apoia-se sobre uma metáfora, às vezes, espacial e dinâmica, onde a atividade criativa é definida conforme o movimento que vai imprimir em seu campo de expressão. Podem-se distinguir oito formas de contribuições criativas, conforme elas aceitem o paradigma atual do campo (1 a 4), rejeitem-no (5 a 7) ou sintetizam vários paradigmas provenientes de campos diferentes (8). 1. Replicação: esse tipo de contribuição criativa mostra que um domínio dado encontra-se onde deveria estar, trazendo, do mesmo modo, as adaptações ao paradigma existente (uma replicação integral não seria, com efeito, uma simples cópia). A utilização, depois de alguns anos, nos países ocidentais, de métodos tradicionais de acupuntura chinesa ou os remakes de filmes de sucesso são alguns exemplos de replicação. 2. Redefinição: graças a esse tipo de contribuição, o movimento se efetua de qualquer maneira para o exterior do campo. Embora esse não se desloque, a contribuição criativa modifica sua definição trazendo-lhe um ponto de vista novo. Na área artística, as obras de Roy Lichtenstein podem ser consideradas como uma ilustração de certa forma de criatividade: o trabalho de Lichtenstein tem, com efeito, conduzido à redefinição do grafite como uma forma artística integral. 3. Incrementação: aqui o campo de conhecimentos se desloca, na direção que já era seu, até um ponto tolerável do ponto de vista dos especialistas desse campo. Essa forma de criatividade é ilustrada pelos progressos sucessivos, efetuados por vários pesquisadores na fabricação da lâmpada incandescente, diante da descoberta final do filamento de tungstênio por Edson. 4. Incrementação avançada: o movimento do campo se efetua sempre em sua direção atual, mas a contribuição desloca o campo além das expectativas. Em consequência, esse avança rapidamente; a contribuição e seu autor são raramente reconhecidos como criativos. Nessa área da psicologia, Sternberg cita como exemplo os trabalhos de Alfred Binet, sobre sua avaliação dos malogros e sobre a validade dos testemunhos oculares, ainda hoje amplamente ignorados. 5. Redireção: a contribuição criativa rejeita o paradigma existente e dirige, assim, o campo em uma direção nova. As composições de Schonberg, por sua rejeição às formas tonais clássicas, exemplificam essa forma de criatividade. 6. Reconstrução/redireção: a contribuição recoloca o campo no lugar onde se encontrava em um determinado momento, em seguida relança-o em uma nova direção. A descoberta do princípio da circulação sanguínea por Harvey evoca um instante de reconstrução, voltando a dar, ao mesmo tempo, um lugar central à observação direta no domínio da biologia e ao centro da fundamentação fisiológica. 7. Reiniciação: o campo é retomado desde um ponto desconhecido até então e se desenvolve a partir desse ponto, em direção à uma nova evidência. No campo da psicologia, pode-se ainda citar Alfred Binet como exemplo, em seu trabalho de redefinição da medida da inteligência, avaliado anteriormente pelas medidas psicológicas elementares. 8. Integração: a contribuição criativa sintetiza vários aspectos de contribuições passadas, consideradas até então como distintas ou mesmo opostas. Newton, para integração de sua

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