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Examinaram a tendência que tinham certos indivíduos em se conformar com a opinião do grupo; uma destas experiências consistia em pedir aos sujeitos...

Examinaram a tendência que tinham certos indivíduos em se conformar com a opinião do grupo; uma destas experiências consistia em pedir aos sujeitos para comparar o comprimento e designar, a cada teste, entre três linhas diferentes, aquela que era do mesmo comprimento que a linha de referência. O procedimento se desenrolou de modo coletivo, mais um só indivíduo era o sujeito da experiência: os outros eram cúmplices do experimentador, devendo dar respostas erradas a certos itens. Media-se a conformidade do verdadeiro sujeito referindo-se a porcentagem de ensaios com os quais esse sujeito tivesse se conforma do com as respostas incorretas dos outros. Um estudo realizado com os pesquisadores mostrou que os mais criativos seguiam o grupo em torno de 10% das experiências, enquanto que os menos criativos o seguiam em 18% das experiências. Em um outro estudo, percebemos que os estudantes criativos seguiam os cúmplices em 23% e um grupo de estudantes pouco criativos os seguia em 41%. A tendência de correr riscos está necessariamente implicada, de uma maneira ou de outra, com a criatividade, visto que, em geral as ideias criativas destacam-se das ideias habituais do grupo a que se pertença. Elas oferecem possibilidades de recompensa, principalmente sociais ou financeiras, que estão juntas com o risco de perder ou de ser colocado em cheque. Vários estudos têm, entretanto, mostrado que o talento para correr gráfica; a capacidade de arriscar-se dentro do domínio literário ou dentro da vida cotidiana não está ligada à criatividade gráfica, indicando assim uma especificidade do domínio de relação entre a capacidade de arriscar-se e a criatividade. Mesmo que a criatividade das histórias não esteja significativamente ligada à capacidade de correr risco dentro da área literária, as histórias produzidas pelos sujeitos tinham um nível elevado de risco dentro dessa área, significativamente menos convencional (em particular eles mostram menos conformidade para com as regras sociais), que aqueles sujeitos que teriam um nível baixo de capacidade de tomada de risco. O Psicotismo O traço de psicotismo refere-se às relações de um indivíduo com a realidade. Esse traço, normalmente existente na população em geral, pode estar relacionado com a agressividade, a hostilidade e o egocentrismo. Mas o traço de psicotismo está mais presente no indivíduo com risco de desenvolver perturbações psicóticas como a esquizofrenia. Vários estudos indicam que o psicotismo está ligado à criatividade. Em alguns estudos sobre a população sã, observam-se as correlações entre o traço de psicotismo e a criatividade, avaliada com a ajuda das medidas do pensamento divergente de Torrance. Em 1977, por exemplo, Woody e Claridge aplicaram o questionário de personalidade de Eysenck (EPI) e cinco tarefas de produção de ideias divergentes. A correlação entre o traço psicótico e a fluidez da ideia era equivalente a r = 0,40. A correlação entre o psicotismo e o número de ideias idiossincráticas (isto é, únicas a cada sujeito) era igual a 0,65. Observaram-se os mesmos resultados com os artistas profissionais. Além disso, as pessoas que têm um escore do traço “psicotismo” elevado têm tendência a ter perturbações de inibição cognitiva. Essas perturbações estão ligadas à tendência a desenvolver associações distantes e, às vezes, estranhas. Os esquizofrênicos, por exemplo, têm dificuldade em ignorar as ideias que não têm nenhuma relação com o problema a resolver. Essas mesmas associações distantes, quando são controladas parecem importantes para o pensamento criativo. Em um estudo realizado por Heston (1966), as crianças nascidas de mães esquizofrênicas foram avaliadas seguidamente até a idade adulta. Cerca da metade destas crianças manifestou perturbações psicóticas: as outras eram adaptadas à vida normal, tinham êxito em seus trabalhos e tinham frequentemente profissões criativas no domínio artístico. Em um outro estudo, os parentes dos esquizofrênicos mostraram uma taxa de realização criativa muito elevada, contrariamente aos próprios esquizofrênicos. Conforme Eysenck (1995) o traço psicótico seria importante para a criatividade e explicaria o fato de a criatividade ser, às vezes, evidente nas doenças mentais. Nota-se frequentemente que o psicotismo não é idêntico à psicose, mas que um nível elevado de psicotismo pode conduzir a uma doença mental (ver Capítulo 9). OS ESTILOS COGNITIVOS E A CRIATIVIDADE Os estilos cognitivos - a saber, as preferências de um indivíduo por um dado modo de tratamento de informação - influenciam tudo, como os traços de personalidade, a quantidade e/ou a natureza das produções criativas (Guastello, Shissler, Driscoll e Hyde, 1998; Huteau, 1987; Martinsen e Kaufmann, 1999). Por exemplo, um “estilo global” caracteriza as pessoas que preferem se concentrar nos aspectos gerais de uma tarefa, enquanto que um “estilo de trabalho minucioso” encontra-se, sobretudo, entre aqueles que focalizam o seu pensamento sobre os detalhes de uma tarefa. O estilo global se supõe ser propício à criatividade, particularmente quando se trata de apreender a natureza de um problema e de defini-lo (Sternberg e Lubart, 1995). O estudo da ligação entre os estilos cognitivos e a criatividade é ainda muito recente, comparado ao exame de inteligência e de personalidade das pessoas criativas. Não é por nada que a partir da segunda metade da década de 1970 os autores criaram a hipótese de relações significativas entre a criatividade e certos estilos cognitivos (Goldsmith, 1987). Estas ligações podem ser de dois tipos. De um lado, podem ser de ordem qualitativa: contrariamente aos traços de personalidade e de inteligência, os estilos cognitivos não predizem o grau de criatividade (nível de criatividade), mas sua natureza. Os estilos cognitivos referem-se à maneira pela qual a pessoa criativa gera as ideias; fala-se então de estilo de criatividade (Goldsmith, 1987). Por outro lado, a relação entre os estilos cognitivos e a criatividade pode ser de ordem quantitativa: os estilos cognitivos predizem o grau de criatividade dos indivíduos. Determinados estudos têm associado os estilos cognitivos com o nível de criatividade dos indivíduos. Tendo sido o objeto de várias pesquisas, detalhamos a relação entre a dimensão “intuição-sensação” do estilo cognitivo e a criatividade. Segundo Henri Poincaré, é pela lógica que se demonstra e pela intuição que se inventa (Policastro, 1995). Para Jung, a intuição é “a percepção inconsciente (...) uma espécie de apreensão instintiva de qualquer conteúdo” (Jung, 1921, citado em Nuttin, 1965, p.145-146). Essa concepção, proposta no quadro de um sistema de tipos psicológicos, foi operacionalizada no teste Indicador de Tipos Psicológicos Myers-Briggs (MBTI-Myers-Briggs Type Indicator) (Myers e McCaulley, 1985). Duas grandes formas de estilo de funcionamento preferencial são distinguidas: o estilo “intuitivo”, onde a intuição prima; e o estilo “sensitivo” que se alimenta das percepções orientadas para o mundo exterior e das informações recolhidas pelos sentidos. Em outro trabalho sobre o tema, como os de Westcott, é efetuada uma concepção de intuição que releva os processos de pensamento subconsciente e coloca as informações diversas e idiossincráticas (dados perceptivos, lembranças, emoções, preocupações subconscientes) (Rouquette, 1973). Conforme Bowers e colaboradores (1990), a intuição se refere à percepção preliminar de uma coerência (estrutura simplificada, sentido, estrutura) que guia o pensamento. A intuição revela-se útil para a criatividade, pois, primeiramente, ela serve para guiar a pesquisa de ideias indicando uma direção “promissora” e, em segundo lugar, ela é um modo provavelmente mais individualizado de pensar que o pensar lógico. Na literatura empírica, vários estudos compararam o estilo junguiano (medido pelo MBTI) de pessoas muito criativas com o estilo daquelas pessoas pouco criativas. Entre os cientistas, os artistas e os escritores, entre outros, pensa-se que as pessoas criativas são caracterizadas por um estilo intuitivo mais frequente que o das pessoas pouco criativas. Por exemplo, Mackinnon (1962) observou que 100% do efetivo de um grupo de 40 arquitetos considerados criativos por seus pares têm um estilo intuitivo, contra 61% do grupo emparelhado de ar