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resumo do texto: O teste clínico A ideia de que, para determinar os benefícios (ou malefícios) reais de uma conduta, tratamento ou medicamento para...

resumo do texto:

O teste clínico A ideia de que, para determinar os benefícios (ou malefícios) reais de uma conduta, tratamento ou medicamento para a saúde humana, é preciso realizar uma comparação entre grupos é aceita, de forma intuitiva, desde a Antiguidade. É fácil ver por quê: testar o tratamento num número grande de pessoas reduz o risco de vermos benefícios ou problemas aparecendo por acaso (um paciente pode ter sorte de sarar por conta própria logo depois de tomar o remédio, mas o mesmo acontecer com dezenas ou centenas é mais difícil), e a existência de um grupo de comparação, o chamado “controle”, permite cotejar a evolução dos pacientes tratados com a dos que adotaram uma estratégia alternativa, ou não receberam nenhuma intervenção. Para ser realmente válida, no entanto, a comparação precisa ser justa. Por exemplo, não faz sentido testar, por comparação, o efeito de certa dieta na saúde se um grupo é composto de jovens atléticos, e o outro, de idosos obesos. Em termos bem abstratos, o ideal seria que os grupos envolvidos na comparação fossem exatamente o mesmo grupo, formado exatamente pelas mesmas pessoas, vivendo em mundos paralelos – e a única diferença entre os mundos fosse a existência ou ausência do tratamento. Como não somos capazes de manipular universos paralelos, um modo de simular isso é a randomização, isto é, a destinação de voluntários para um ou outro grupo de forma aleatória. A ideia de comparar grupos semelhantes para testar uma intervenção começa a ganhar relevância em saúde na metade do século XVIII, com um médico naval inglês chamado James Lind. Naquela época, o escorbuto – que hoje sabemos ser causado por deficiência de vitamina C – matava mais marinheiros do que as guerras. Os períodos prolongados no mar, sem acesso a alimentação saudável com frutas e verduras, eram o ambiente ideal para o desenvolvimento da doença. Vitamina C é essencial para a formação de colágeno, que por sua vez compõe o tecido conjuntivo. Também é necessária em vias metabólicas para produção de energia. A falta de vitamina C causa anemia, fraqueza, dores musculares, dificuldade de cicatrização, enegrecimento das gengivas e perda de dentes. A Medicina da época era baseada na teoria dos humores: o sangue, a fleuma, a bile amarela e a bile negra, que correspondiam também aos quatro elementos da natureza (terra, fogo, ar e água), e às estações do ano. O sangue estava associado à vitalidade e ao bom humor; a fleuma (cérebro), à calma e à compostura; a bile amarela, ao ódio e ao temperamento forte; a bile negra, à depressão e à tristeza. Quando esses humores estavam em desequilíbrio, a pessoa ficava doente – do que se origina a expressão “mal-humorada”. Para curá-la, obviamente, bastava equilibrar os humores. Com esse objetivo, usava-se a sangria, além de métodos purgativos, para provocar diarreia e vômitos. James Lind questionou se tudo aquilo fazia sentido e resolveu juntar toda a informação que havia sobre o escorbuto. Grande parte estava descrita em diários de bordo, e Lind encontrou descrições de cura com sucos de frutas e vegetais frescos, feitas por quatro cirurgiões de bordo durante a Guerra dos Sete Anos, que opôs as alianças militares lideradas por França e Inglaterra em meados do século XVIII. Ele fez o que chamamos hoje de uma revisão da literatura. Assim, com a autorização do capitão do HMS Sallisbury, Lind planejou seu primeiro experimento com 12 marinheiros em estágio avançado da doença. Os marinheiros foram divididos em seis grupos, e cada par foi alimentado com a mesma dieta básica, ficou alojado no mesmo local, e recebeu os mesmos cuidados. As diferenças eram que um par recebeu um quarto de copo de cidra por dia; outro recebeu vitríolo (uma combinação de compostos de enxofre); outro recebeu uma colher de vinagre; outro recebeu 150ml de água do mar; outro recebeu um limão e duas laranjas por dia, e o último, um preparado de nozmoscada. Lind possivelmente foi a primeira pessoa na Medicina a realizar um “teste clínico controlado”. O teste ainda era imperfeito, se pensarmos nos parâmetros de hoje: o número de sujeitos experimentais (marinheiros) era absurdamente pequeno, não havia grupo controle, e muito menos um grupo placebo. Mas a ideia básica, de uma comparação justa entre grupos, estava ali. O resultado: a dupla que recebeu limões e laranjas, que hoje sabemos ser boas fontes de vitamina C, sarou de uma forma que pareceu quase mágica! Foram adotados, ao longo da história, o grupo placebo e os chamados protocolos de cegamento. O grupo placebo – que recebe um produto idêntico em aparência ao medicamento que está sendo testado, mas que não contém nenhuma substância ativa de fato – tenta isolar qualquer efeito que não possa ser atribuído especificamente ao medicamento testado, incluindo cura espontânea ou mero acaso. Os protocolos de cegamento visam a evitar que tanto os voluntários envolvidos no teste quanto os profissionais de saúde em contato com eles saibam quem faz parte do grupo controle ou do grupo de teste, a fim de que os resultados não sejam influenciados por sugestões ou expectativas. É com a adoção dessas estratégias que as ciências da saúde buscam se manter fiéis à atitude científica e, portanto, fazer por merecer o respeito e o prestígio social com que a sociedade trata as afirmações e recomendações que se dizem científicas.


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O texto fala sobre a importância dos testes clínicos para determinar os benefícios ou malefícios de condutas, tratamentos ou medicamentos para a saúde humana. Destaca a necessidade de comparação entre grupos, a randomização para simular grupos semelhantes e a história do médico James Lind, que realizou um experimento com marinheiros para estudar o escorbuto. Lind foi possivelmente o primeiro a realizar um "teste clínico controlado". O resultado mostrou que o grupo que recebeu limões e laranjas, ricos em vitamina C, teve uma melhora significativa. O texto também menciona a evolução dos testes clínicos, com a introdução de grupos placebos e protocolos de cegamento para garantir a validade dos resultados.

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