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ridiculariza, segundo parece, um dos seus funcionários da Fazenda (encarregado do caderno), que amealhou dinheiros que herdeiros desbaratam em frescatas, enquanto o 'infiel' esturrica no inferno" (IN: LAPA, M.R. Cantigas de escarnho e mal dizer dos cancioneiros medievais galego portugueses. Lisboa: Editorial Galáxia, 1970.) A estrofe final esclarece moralisticamente que o mal pecado (ganho ilícito) do funcionário desonesto foi dilapidado, enquanto " anda bem guiado", quem "sempre o seu guardou" e "jaz atormentado o que o ganhou" (ilicitamente). Fonte [1] CANTIGA DE MALDIZER A cantiga de maldizer é a sátira direta, em que o trovador não poupa o nome da pessoa criticada pelos seus versos. Sem preocupação com as convenções do mundo cortês, há lugar para palavras de baixo calão e mesmo para a pornografia. Como o próprio nome indica, a sátira é direta e marcada pela maledicência. Essas cantigas utilizam, pois, temas eróticos, recorrendo por vezes à obscenidade, quando trata de prostituição, de imoralidade e de maus costumes. Clique aqui para ler um exemplo de Cantiga de maldizer. (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) DÚVIDA CANTIGA ESCÁRNIO OU DE MALDIZER? Nem sempre é fácil distinguir-se com precisão a diferença entre as duas espécies do gênero satírico. É o que ocorre na seguinte cantiga de Dom Dinis. Trata-se de uma crítica a alguém doente que o trovador atribui o mal "que o come" ao fato de o sujeito ter o hábito de rogar pragas e imprecações contra os demais. Seja pela ironia, seja pelo fato de o nome do criticado não ser revelado, a composição é considerada uma cantiga de escárnio, mas pelo uso de palavra de baixo calão, como se lê na última estrofe, pode ser vista também como de maldizer. EXEMPLO Disse-m' hoj' um cavaleiro Disse-m' hoj' um cavaleiro que jazia feram[e]nte um seu amigo do[e]nte, e buscava-lhi lorbaga. Díxi-lh' eu: "- Seguramente come-o praga por praga que el muitas vezes disse per essa, per que o come, 15