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Concausas relativamente independentes e absolutamente independente

Outro assunto que muitas vezes causa a maior confusão: Concausas absolutamente independente e relativamente independente.

São espécies de Concausas absolutamente independentes:

A) Preexistente: A causa efetiva (elemento propulsor do resultado) antecede o comportamento concorrente.

EX: Maria, por volta das 20 h, serve, insidiosamente, veneno para João, seu marido. Uma hora depois, João é atingido por um disparo efetuado por Antônio, seu desafeto. Socorrido, a vítima morre na madrugada do dia seguinte em razão dos efeitos do veneno. Neste caso, a pessoa que envenenou responde pelo homicídio consumado, já o atirador, não foi causa do resultado. Eliminando seu comportamento, a vitíma morreria envenenada do mesmo modo. Deve então responder por tentativa de homicído.

 

B) Concomitante: a causa efetiva (elemento propulsor do resultado) é simultâneo ao comportamento concorrente.

EX: Maria, por volta das 20h, serve, insidiosamente, veneno para seu marido. Na mesma hora, coincidentemente, a vitíma é alvo de um disparo efetuado por Antônio, seu desafeto, vindo a morrer. Antônio responde por homicídio consumado. A esposa, que ministrou o veneno, responde por tentativa de homicídio. É que, eliminando seu comportamento, a morte de João ocorreria como ocorreu.

 

C) Superveniente: a causa efetiva (elemento propulsor do resultado) é posterior ao comportamento concorrente.

Ex: Maria, por volta das 20h, serve, insidiosamente, veneno para seu marido João. Antes mesmo do veneno fazer efeito, cai um lustre na cabeça de João, que descansava na sala, causando  sua morte por traumatismo craniano. Maria responde por tentativa de homicídio, pois, eliminando seu comportamento do processo causal, a morte de João acorreira do mesmo modo.

O que podemos observar então nas Concausas absolutamente independente: não importa a espécie (preexistente, concomitante ou superveniente) o comportamento paralelo será sempre punido de forma tentada.

 

Agora diferente será nas Concausas Relativamente independentes que também podem ser:

A) Preexistentes: a causa efetiva (elemento propulsor que se conjuga para produzir o resultado) é anterior  à causa concorrente.

EX: João, portador de hemofilia, é vítima de um golpe de faca executado por Antônio. O ataque efetuado para matar, isoladamente considerado, em razão da sede e da natureza da lesão, não geraria a mote da vitíma que, entretanto, tendo dificuldade de estancar o sangue dos ferimentos, acaba morrendo. Antônio, responsável pelo ataque (com intenção de matar), responderá por homicídio consumado, pois eliminando seu comportamento  do processo causal, João não morreria.

 

B) Concomitante: a causa efetiva (elemento propulsor que se conjuga para produzir o resultado) ocorre simultaneamente à outra causa.

EX: Antônio, com intenção de matar, atira em João, mas não atinge o alvo. A vítima, entretanto, assustada, tem um colapso cardíaco e morre. Antônio responderá por homicídio consumado, pois, se não tivesse atirado, a vítima não sofreria a violenta perturbação emocional que gerou o colapso cardiaco.

C) Supervenientes: a causa efetiva (elmento propulsor que se soma para a produção do resultado) acontece após a causa concorrente. Está previsto no artigo 13 p.1º. CP que anuncia a causalidade adequada, preconizada por Von Kries. O que importa aqui é se há nexo normal atrelando o atuar do agente, como causa, ao resultado, como efeito.

É possível reconhecer duas hipóteses envolvendo concausa relativamente independende: a causa efetiva que NÃO POR SI SÓ e a que POR SI SÓ produziu o resultado.

Na NÃO POR SI SÓ, a causa efetiva (superveniente) se encontra na mesma linha de desdobramento causal (normal) da causa concorrente, tratando-se de evento previsível.

EX: João é vitíma de um disparo de arma de fogo efetuado por Antônio, que age com intenção de matar. Levado ao hospital, João morre em decorrência de erro médico durante a cirurgia. O atirador (que tinha a inteção de matar) responderá por homicídio consumado. O médico, conforme o caso, homicídio culposo.

Na concausa relativamente independente superveniente QUE POR SI SÓ produz o resultado, a conclusão é outra:

EX: Antônio, com vontade de matar, desfere um tiro em João, que segue em uma abulância até o hospital. Quando está convalescendo, todavia, o nosocômio pega fogo, matando o paciente queimado. Antônio responderá por tentativa, estando o incêndio no hospital fora da linha de desdobramento causal de um tiro e, portando imprevisível.

💡 9 Respostas - Contém resposta de Especialista

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Passei Direto

Causa é tudo que pode modificar o resultado do mundo exterior. É qualquer alteração naturalística entre um fato e o resultado. Abrange a condição e motivação. Este resultado, no campo jurídico-penal, pode ser um resultado material (físico) nos crimes materiais ou absolutamente valorativo no sentido jurídico para os crimes formais e os de mera conduta. De qualquer forma, considera-se não o resultado material unicamente, mas a ofensabilidade ao bem jurídico protegido pela norma.

O Código Penal adota a teoria da equivalência dos antecedentes causais e, portanto, não difere o que seja causa principal, próxima ou remota. Assim é que, no art. 13, diz que "causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido." Sem embargo, o parágrafo 1º do art. 13 do Código Penal traz uma exceção à equivalência das condições, passando a admitir a teoria da causalidade adequada, já que trabalha com a hipótese de causa superveniente e faz uma avaliação jurídico-formal sobre o que deva ser a causa superveniente relativamente independente que, por si só, produziu o resultado, excluindo-a do nexo causal.

Paralelamente à causa, existe o que se denomina, doutrinariamente, concausa. Ou seja, são outras causas que concorrem juntamente no fato então praticado e dão força, duma forma ou doutra, ao resultado.

As concausas absolutamente independentes podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes.

A causa é absolutamente independente se, no curso causal, o resultado advém de situação totalmente dispersa ao conteúdo volitivo do agente. Em nada pertence ao universo subjetivo do agente. Essa causa, por si só, produz o resultado.

causa absoluta preexistente ocorre no seguinte exemplo: A quer suicidar-se e ingere veneno. Durante o processo de intoxicação da substância ingerida, recebe um ferimento por parte de B, que quer matá-lo. Contudo, pouco depois vem a morrer, mas em conseqüência do veneno, não da lesão recebida. [4] Abstraindo-se a conduta de B, o resultado apareceria de qualquer forma. Logo, a ação de B não é causa, porque fora do alcance do art. 13 do Código Penal, já que causa é apenas a conduta sem a qual o o resultado não teria ocorrido. Restaria a tentativa, porque, a contrario sensu, pode-se aplicar o § 2º do art. 13. Deveras, tal tentativa é juridicamente irrelevante, pois não tinha mais o condão de ofender o bem jurídico que era a vida. É uma espécie de crime impossível.

Com a causa absoluta concomitante, no mesmo momento da conduta do agente, aparece outra causa que determina, por exclusividade, o mesmo resultado pretendido. B atiram contra (fora de co-autoria) e prova-se que o projétil de B é que causou a morte de C, atingindo-o no coração, enquanto a bala disparada por A alvejou, de leve, o braço de C. A morte apenas é imputada a B.

Na causa absoluta superveninete, após o esgotamento da conduta do agente, surge uma nova causa que determina também, o mesmo resultado intencionado, porém sem ingressar na linha do desdobramento causal do fato pretendido. Aenvenena B, mas, ainda sem que o veneno aja, ocorre a queda de uma viga sobre B, que então morre em razão dos ferimentos decorrentes da queda. Doutra banda, as causas podem ser relativamente independentes. Ou seja, não são exclusivamente determinantes do resultado, mas agregam-se ao fato praticado pelo agente, tendo sempre, uma relevância com a conduta praticada e a ocorrência do resultado. As causas relativamente independentes "que von Liszt denomina independentes aparentemente, são relativas no sentido que derivam do fato de outrem ou de um acontecimento estranho ao agente, mas se ligam ao processo causal posto em movimento pelo agente (tratamento errado, golpe desferido por terceiro, etc.)." [7] O conceito de relativamente independente é um pouco confuso pois dá a noção de separação, distanciamento do resultado. No entanto, é justamente o oposto. Podem ser também preexistentes, concomitantes e supervenientes.

Na causa o resultado é imputável ao agente, uma vez que, sendo excluída hipoteticamente, permanece o resultado. Ex: uma pessoa hemofílica é ferida e morre em face da complicação dos ferimentos decorrente da hemofilia. O resultado morte é imputado ao agressor uma vez que, pela eliminação hipotética, o resultado permaneceria, já que houve uma soma de esforços, ou de energias que serviram para incrementar a morte. [8]

Também não exclui o resultado, imputando-se o fato ao agente. atira em B, que está, naquele mesmo instante, sofrendo um ataque cardíaco, demonstrando-se, depois, que o tiro contribuiu diretamente para o resultado morte, acelerando o colapso.

Uma pessoa é ferida e socorrida numa ambulância. O veículo de socorro vem a capotar e a vítima morre.

Referências

Problemas básicos del derecho Penal, Reus, Madrid, 1996.

Manuel Jaén Vallejo, Los Principios Superiores del Derecho Penal, Cuadernos Luís Jiménez de Asúa, nº 5, Dykinson, Madrid, 1999.

  1. Frish, Tipo Penal e Imputación Objetiva, Colex, Madrid, 1995.

Damásio, Direito Penal, v.1, Saraiva, SP,1985.

Noronha, Direito Penal, v.1, Saraiva, SP, 1998.

Mirabete, Manual de Direito Penal, v.1, Atlas, SP, 1995.

 

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Rogers Cesar

Agora veja a questão que caiu em um concurso para Delegado: José Armando desferiu um disparo de arma de fogo contra Pedro Cassiano, com dolo de homicídio. Em decorrência do disparo, a vítima, que foi atingida em região não vital, foi posta em ambulância para ser levada ao Hospital. No trajeto em direção ao Hospital, a ambulância sofreu acidente, capotando três vezes. Em decorrência do acidente, a vítima teve a cabeça esmagada, vindo a falecer. Seu atestado de óbito acusa como causa mortis traumatismo craniano. José Armando deve responder por alguma conduta?

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Rogers Cesar

Cuidado, respondera sim, é um caso de concausa relativamente independente, no caso especifico o autor respondera por tentativa de homicidio.
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Diogo Quintino

Não
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