Como podemos interpretar a expressão “Dialética domesticada” ?
Márcia Regina Schulz
“Se a tomada de consciência abre o caminho à expressão das insatisfações sociais, se devem a que estas são componentes reais de uma situação de opressão”. Paulo Freire
Todo homem teme perder sua liberdade, mas até que ponto sua falta de consciência sobre a realidade, o faz crer em coisas que não existem?
Para Paulo Freire quando o sujeito é portador de uma consciência em uma situação existencial concreta, este não se deixará conduzir a um “fanatismo destrutivo” ou a uma “sensação de desmoronamento total do mundo em que se encontra”.
Quando o indivíduo tem consciência ele se insere no processo histórico, como sujeito, evitando os fanatismos e busca sua afirmação. Seguindo os pensamentos de Paulo Freire pode-se constatar que: se existe uma insatisfação social se deve a componentes reais de opressão.
Os indivíduos temem perder sua liberdade e é nesta falta de consciência crítica e racional onde impera o senso comum, o sujeito começa a ver o que não existe. Refugiando-se como diria Hegel citado por Paulo Freire em uma segurança vital, optando pela liberdade arriscada.
Este receio de liberdade tende a se manifestar em um jogo de palavras camuflado, manhoso e em algumas vezes inconsciente, onde o que parece é a defesa da liberdade e não como temida.
Liberdade não pode ser com confundida com o status quo, pois se existe uma insatisfação social real é necessária e primordial a discussão consciente deste estado inicial e ameaça a liberdade.
Assim como é preciso diferenciar a informação da notícia: a informação é a matéria-prima da notícia, esta não é o reflexo do real, as notícias são produzidas, por sua vez sofrem mutações no seu processo de produção.
A sectarização para Freire é castradora pelo fanatismo que a nutre, enquanto a radicalização é criadora pela criatividade que a alimenta. A sectarização mítica e irracional transforma a realidade em uma falsa realidade, portanto alienante, em contrata partida a radicalização é crítica, por tanto para o educador, Libertadora – não raros os revolucionários que se tornam reacionários pela sectarização em que se deixam cair.
A objetividade e a subjetividade se encontram em uma unidade dialética que resulta em um conhecer solidário com o atuar. A irracionalidade cega e faz com que os indivíduos sectários não percebam ou não podem perceber a dinâmica da realidade, ou ainda se a percebem é de forma equivocada.
O que ocorre é uma “dialética doméstica”, para Paulo Freire, o indivíduo deixasse cair em posições fundamentalistas fatalistas. Busca domesticar o presente para que o futuro, na melhor das hipóteses repita o presente “domesticado”. Fechando assim em um círculo de segurança em que consideram que não podem sair e estabelecem suas verdades.
Há uma nítida impressão nestes indivíduos de apropriação do tempo, sentem-se proprietários do saber, em “suas” verdades, encerram-se é negam a si mesmo. Sentem-se abalados na sua segurança se alguém a discute e sofrem de falta de dúvidas.
Os indivíduos comprometidos com a libertação da sociedade não se deixam prender em “círculos de segurança”, nos quais aprisione a realidade.
Buscam inscrever-se na realidade para conhecê-la melhor e buscar a melhor forma de transforma-la. Não temem: o desvelamento do mundo, o enfrentar, o ouvir, o encontro com o outro, o diálogo, pois, sabe que o resultado será o desenvolver-se de todos.
Tem a humilde consciência de que não são donos do tempo, nem dos homens, tão pouco libertadores dos oprimidos, apenas se comprometem em buscar o bem para todos, afirmando a conscientização crítica e não a domesticação.
“Enquanto o conhecimento teórico permanecer como privilégio de uns, este se encontrará em grande perigo e fracasso”. (Rosa Luxemburgo)
Fonte: FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA DO OPRIMIDO. 56ª ed. ,Paz e Terra - Rio de Janeiro. 2014
Notas:
Pedagogia do Oprimido foi escrita em 1968 e proibida na Ditadura Militar, permanecendo inédita no Brasil até 1974. Paulo Freire educador Brasileiro, sua ideia está em que a amplitude humana está na educação como pratica da liberdade aonde ocorre a dominação, e este processo constitui a conquista histórica do homem em sua própria forma.
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