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Tema Podemos falar de vitimização de “grupos sociais” no Brasil?

Tema Podemos falar de vitimização de “grupos sociais” no Brasil?

💡 1 Resposta

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Jussimeire Oliveira

  • Vitimologia e Vitimização de Grupos Sociais no Brasil 

    A vitimologia é uma espécie de filha da Criminologia, ou seja, parte dela. E tem por finalidade estudar as características, fatos e comportamentos da pessoa vitimada em relação aos perpetradores e vice-versa. Tendo em vista a análise de itens, biológicos, psicológicos e sociais, relacionados à consecução do ato delituoso, bem como os de sua proteção social e jurídica e também os meios de vitimização, incluindo-se ainda aspectos comparativos e interdisciplinares. 

    Segundo Lola Anyar de Castro (1969) o objeto da vitimologia resume-se a cinco itens: 
    Estudo da personalidade da vítima, tanto vítima de delinqüente, ou vítima de outros fatores, como conseqüência de suas inclinações subconscientes; 
    Descobrimento dos elementos psíquicos do "complexo criminógeno" existente na "dupla penal", que determina a aproximação entre a vítima e o criminoso, quer dizer: "o potencial de receptividade vitimal"; 
    Análise da personalidade das vítimas sem intervenção de um terceiro - estudo que tem mais alcance do que o feito pela Criminologia, pois abrange assuntos tão diferentes como os suicídios e os acidentes de trabalho; 
    Estudo dos meios de identificação dos indivíduos com tendência a se tornarem vítimas. Seria possível a investigação estatística de tabelas de previsão, como as que foram feitas com os delinqüentes pelo casal Glueck, o que permitiria incluir os métodos psicoeducativos necessários para organizar a sua própria defesa; 
    Importância na busca dos meios de tratamento curativo, a fim de prevenir a recidiva da vítima. 
    Se nos é revelado a tendência de vitimização ao nível individual, também devemos atentar para o nível grupal. A vitimização de grupos é mais séria que ao nível individual. Mais explicitamente referimo-nos a vitmização de grupos sociais. Aqui no Brasil existe uma tendência muito grande de certos grupos sociais serem vitimizados. Tais grupos por suas características e histórico social estão mais suscetíveis, como é o caso de jovens do sexo masculino com idades entre 15 e 24 anos, vitimizados em grande parte por envolvimento com grupos criminosos, acidentes de trânsito e uso de drogas. Também destacamos a vitimização da mulher, explorada por salário menor, desrespeitado o principio da isonomia constitucional, ou constrangida a ceder no terreno sexual para conseguir ascender na carreira, além das mulheres espancadas e oprimidas. Nesse contexto também vale ressaltar a vitimização do idoso com o afastamento às vezes precoce do trabalho e do poder decisório; acusações gratuitas de senilidade, alcunhas de “esclerosado”, recusa de mercado de trabalho da sua mão de obra experiente e ridicularização da condição de “velho” (que deveria estar no asilo, esperando a morte), além da própria violência domestica sofrida por eles. A vitimização da criança também muito comum, consta de lesões corporais, lesões psíquicas em crianças indefesas, constatados em poucos casos, a tempo de salvar de conseqüências funestas. 
    Um grupo que merece atenção são os policiais, a vitimização se materializa em traumas, lesões ou mortes ocorridos na defrontação com a criminalidade e na manutenção da ordem. Do ponto de vista comparativo: as informações evidenciam que os policiais militares e civis do Rio de Janeiro, além de viverem o risco como profissão são as maiores vítimas do desempenho de suas atividades. Policiais que sofreram elevado risco decorrente do trabalho são aqueles que mais vivenciaram violências do tipo: ferimento por projétil de arma de fogo ou por arma branca, agressão física, violência sexual, tentativa de suicídio e tentativa de homicídio. Diferentes variáveis se associam à vivência de risco nas duas corporações, destacando-se especialmente nas condições de trabalho, o exercício de outras atividades sem descanso, indicando sua importância para se pensar formas de prevenir os riscos vividos. 

    Para ilustrar a utilização da vitimologia, o caso “Doca Street” demonstra no aspecto jurídico a criminalização da vítima, utilização artificiosa da vitimologia para absolver o acusado da culpabilidade do crime. Esta classificação de vítima provocadora revela que a própria vítima provocou ou causou, como que obrigando alguém ou o agente do deleito a atuar contra ela mesma. Nesse caso em particular a vítima Ângela Diniz ao supostamente trair o seu companheiro Doca Street, motivou-o a cometer o homicídio no qual alegou a “defesa da honra” e assim foi absolvido no primeiro julgamento. Na época foi difundido na mídia a frase “ele matou por amor”. Esse exemplo é considerado muito abrangente, pois, demonstra o escopo da vitimização de uma maneira controversa do que a maioria das pessoas entende por vítima. Colocando em pauta as várias abordagens da vitimologia em referencia as situações da vida cotidiana. Demonstrando supostamente nesse caso que a vitima também é culpada. 

    Conclusão: 

    Estudar o processo de vitimização de indivíduos não é uma tarefa fácil, pois esse “ramo da criminologia” é muito vasto e correlacionado com diversas variáveis sociais. A vitimização de grupos sociais é ainda mais grave. E no Brasil temos vários grupos sociais vitimizados, como por exemplo, os afrodescendentes de periferia, os jovens masculinos em idade de risco, os idosos, os LGBTs, Bullying, policiais entre outros. Característica de um país com dimensões continentais e abriga uma grande diversidade de grupos sociais por fatores históricos e desigualdade na distribuição de renda. 
    O estudo da vítima, sob seus variados aspectos constitui um dos grandes desafios das ciências criminais. 
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