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Em que sentido o desemprego pode ser vantajoso para as empresas?

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Bárbara Oliveira

O que Marx chamou de exército de reserva, quanto mais mão de obra disponível, mais barara eka é. Veja por exemplo o caso atual do Brasil, um índice altíssimo de desemprego, situação perfeita para aprovar reformas que alteram as leis trabalhistas, beneficiando as empresas. Quem pode provar que essa alta no desemprego não foi produzida sistematicamente?
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LR

Há no capitalismo uma polarização que tende a se tornar cada vez mais absoluta e que representa o grande antagonismo do sistema. Enquanto o capitalista “dispõe dos meios de produção” (ABBAGNANO, 2007: 735), o proletário “dispõe unicamente de sua própria energia de trabalho e é obrigado a ‘vender-se’ no mercado, em troca do salário, para sobreviver” (ABBAGNANO, 2007: 735). O proletariado representa então o grupo de “trabalhadores assalariados e produtivos que, não detendo a propriedade dos meios de produção com que operam, estão sujeitos, no processo de laboração, ao controle do capitalista, por quem, como figura do capital, são expropriados da mais-valia por eles produzida, vindo assim a assegurar a valorização do capital e sua reprodução, como força de trabalho submetida ao capital.” (BOBBIO, 1993: 1016). Existe uma diferenciação interna na categoria ‘proletariado’, o proletário, ou seja, o assalariado, e o desempregado que Marx diz ser o “subproletariado (lumpenproletariat)” (BOBBIO, 1993: 1016). O subproletariado trata-se de uma camada marginal, alheia ao modo de produção capitalista, são tanto os desocupados quanto os ocupados precarizados. É inerente ao sistema capitalista a existência de algum nível de desemprego, porque esse grupo de pessoas representa uma reserva de capital humano a disposição do capital. Os desempregados, na condição de mão de obra disponível, é importante para a manutenção do sistema por dois motivos, primeiro pois havendo a necessidade de ampliar a quantidade de operários contratados, o capitalista deve encontrar facilmente candidatos desocupados, e segundo porque o desemprego é também um elemento de barganha, se há uma grande quantidade de mercadorias disponíveis consequentemente o valor referente a uma unidade dessa mercadoria tende a ser menor.

O capital se organiza pela logica do capital constante versus capital variável. O capital constante representa o custo da produção de uma mercadoria desconsiderando-se neste calculo o lucro. Para produzir qualquer mercadoria é necessário calcular o custo da matéria prima, o custo do uso das ferramentas (maquinários) e o custo da força de trabalho. Dessa forma, para produzir 100 metros de tecido é necessário possuir 10kg de algodão que o capitalista adquiriu pagando R$10,00. Na produção têxtil o uso de maquinas de fiar é indispensável, o desgaste dos fusos da máquina na produção dos 100 metros de tecido é de R$2,00. São também necessárias 6 horas de trabalho que o proletário vende ao capitalista ao custo total de R$3,00. Assim para produzir 100 metros de tecido o gasto será de R$10,00 (custo do algodão/matéria prima) + R$2,00 (custo do desgaste dos fusos/manutenção do maquinário fabril) + R$3,00 (salário do proletário/custo da força de trabalho), gerando um custo final de R$15,00. O capital constante refere-se aos meios de produção, isto é, o algodão e o desgaste do maquinário fabril, é o “capital investido nas máquinas e em todo aquilo que a fábrica precisa para funcional efetivamente” (ABBAGNANO, 2007: 735). O capital variado refere-se ao valor da força de trabalho, o que é equivalente a dizer ser o custo do tempo, no nosso exemplo as 6 horas, de trabalho que o proletário está oferecendo em troca de um determinado valor, é o “capital móvel investido em salários” (ABBAGNANO, 2007: 735). A soma entre o capital constante e o capital variável seria então de R$15,00.

Nesta mesma lógica, se um trabalhador (Marcos) produz em 6 horas 100 metros de tecido ao custo de R$15,00, dois trabalhadores (Marcos e Pedro) trabalhando 6 horas cada, somando entre o trabalho de ambos 12 horas no total, produziriam 200 metros de tecido ao custo de R$30,00.

Mas nesta soma não há previsão de lucro. A soma segundo a logica capitalista deve então ser outra. Para produzir 200 metros de tecido é necessário possuir 20kg de algodão que o capitalista adquiriu pagando R$20,00. Na produção têxtil o uso de maquinas de fiar é indispensável, o desgaste dos fusos da máquina na produção dos 100 metros de tecido é de R$4,00. São também necessárias 12 horas de trabalho que o proletário vende ao capitalista ao custo total de R$3,00. Assim para produzir 200 metros de tecido o gasto será de R$20,00 (custo do algodão/matéria prima) + R$4,00 (custo do desgaste dos fusos/manutenção do maquinário fabril) + R$3,00 (salário do proletário/custo da força de trabalho), gerando um custo final de R$27,00.

A única diferença entre esta conta e a conta anterior é o tempo de trabalho. Para produzir 200 metros de tecido é necessário o dispêndio de 12h de força de trabalho. Se um dia dura 14h, a pergunta que o capitalista se faz é quantas horas diárias um trabalhador é capaz de trabalhar. Lembrando que há entre os proletariados a condição de subproletariado, que é o capital humano reserva, a massa de desempregados. Segundo a lógica do capitalismo, havendo uma grande oferta de pessoas desocupadas o valor da força de trabalho diminui. Também é do capitalismo a regra que diz que a taxa de lucro jamais poderá diminuir, deve sempre aumentar. De acordo com essa perspectiva são duas as situações geradas. A primeira é a de não é possível diminuir o custo dos meios de produção, o valor a ser pago pelo algodão e pelo maquinário será sempre constante. Mas o ganho precisa ser obtido de alguma forma, o que gera a segunda situação. Havendo uma grande quantidade de capital humano disponível é possível que o capitalista contrate o proletário por um custo muito menor do que o valor real de sua força de trabalho. Se a força de trabalho custa R$3,00 a cada 6 horas, a proposta feita pelo capital é que o proletário trabalhe por 12 horas e ganhe apenas por 6 horas de trabalho. Dessa forma o proletário deixa de receber 6 horas de trabalho, é nessas 6 horas excedentes e não remuneradas que está a chave do lucro do capitalista. Mais valor (ou mais valia) é a quantidade de trabalho exercida pela trabalhador e não paga pelo capitalista.

O capital que o capitalista investe, que Marx chama de capital adiantado, é a somatória entre o capital variável e o capital constante, no nosso exemplo seria um total de R$27,00. A soma do capital adiantado com o valor que o capitalista não repassa ao proletário, o que já nomeamos como mais valor, é representa o custo real da mercadoria produzira. Assim o capitalista adianta um capital de R$27,00 para produzir 200 metros de tecido cujo valor final é de R$30,00.

A teoria marxista explica que “o capital não desempenha função produtiva própria” (ABBAGNANO, 2007: 736), que o mais valor é o “trabalho não pago pelo capitalista ao assalariado” (ABBAGNANO, 2007: 735), e que a taxa de mais valor é “a taxa de exploração do proletariado” (ABBAGNANO, 2007: 735) pelo capitalista. O capital não produz valor, quem produz valor é o proletariado. Não é possível qualificar ‘valor’ como propriedade material pois não é verificar concretamente o valor de uma mercadoria. O valor é então um elemento socialmente constituído e localizável na medida em que valores são valores de troca. Uma determinada quantidade de trabalho é necessária para produzir uma mercadoria específica. O tempo de trabalho é uma grandeza variável pois quanto menor o tempo maior é a capacidade de produção. Se o valor de troca se reduz, o valor de uso não necessariamente apresentará o mesmo comportamento, por exemplo, o valor de uso, a utilidade de uma mesa não se altera no sentido de quem uma mesa será sempre útil. Entretanto o valor do trabalho pode sofrer redução facilmente, na medida que por diversos motivos é possível que um mesa tenha despendido em um momento 4 horas de trabalho para ser produzida, e em outro momento histórico é possível construir a mesma mesa em 2 horas de trabalho.

A taxa de mais valor é derivada da taxa de lucro. A lógica de acumulação do capital exige que a taxa de lucro apresente sempre um crescimento, e para tal o capitalista pode aumentar a produtividade ampliando a jornada de trabalho do operário sem alterar o salário pago, o que caracteriza a mais valor absoluto, ou aumentar a produtividade através da mecanização e não da geração de novos postos de trabalho, e tampouco diminuindo a taxa de exploração, o que caracteriza o mais valor relativo. Apesar da taxa de mais valor derivar da taxa de lucro, não são termos iguais. A taxa de mais valor não leva em consideração o capital constante, apenas o capital variável, e por isso não pode ser considerada sinônimo de taxa de lucro. A taxa de mais valor é o resultado da divisão (relação) entre o valor produzido pelo trabalhador e o valor que o capitalista paga ao trabalhador, o capital variável. Se o capitalista pagasse ao trabalhador o exato valor que o trabalhador produz, não haveria a relação de exploração do trabalhador pelo capitalista. A taxa de lucro é resultado da diferença entre o que o trabalhador produz e a soma dos capitais (variável e constante) a serem investidos.

Diante desse cenário o desemprego não apenas beneficia o capitalismo, como tem uma função na manutenção desse sistema. Entretanto os elementos que mantém os mecanismos do capital em movimento são os mesmos que tornam o sistema contraditório a ponto de se tornar insustentável a longo prazo. A célula do modo de produção capitalista, segundo Marx, é a mercadoria. Tudo o que se produz no capitalismo é mercadoria. Mercadoria são os objetos capazes de se satisfazer as necessidades humanas, e categorizáveis segundo suas propriedades, seus ‘valores de uso’. A satisfação das nossas necessidades só se dá quando adquirimos a mercadoria, ou seja, mediante ‘valores de troca’. O valor de troca não é em princípio dinheiro, em verdade é a manifestação dos valores de uso. O objetivo primordial da produção é a venda, a mercadoria é produzida tendo a troca como finalidade. Entretanto a questão humana está acima da propriedade de uma mercadoria, pois a questão humana é o trabalho em si, e o trabalho é a propriedade puramente social e por isso possui um grau de importância sempre anterior a propriedade de um objeto. Por trabalho, Hegel compreende ser o elemento que diferencia o homem do animal. O animal busca na natureza um abrigo ponto, uma caverna em tempos de chuva, uma árvore em tempos de sol, já o homem derruba uma árvore e construí seu abrigo. O animal quando tem fome caça e come sua presa crua, o homem cozinha a carne antes de comer. Nesse sentido trabalho é a modificação da natureza pelo homem, se por um lado os animais, é natural ao homem o trabalho, ou seja, uma ‘mediação entre o homem e seu mundo’” (ABBAGNANO, 2007: 1148 – 1149). Dessa forma a reprodução material da vida do homem deve ser compreendida neste exato termo, o trabalho. A materialidade é indispensável elemento na manutenção da vida. O homem precisa se abrigar e precisa comer, caso contrário padecerá. Sua sobrevivência, a satisfação das necessidades materiais da vida do homem então é mediado pela trabalho, pelo esforço humano de adaptação da natureza. “É só na satisfação das necessidades por meio do T. que o ser humano é realmente humano: porque se educa tanto teoricamente, através dos conhecimentos que o T. exige, quanto na prática, por se habituar à ocupação, adequando sua própria atividade à natureza da matéria e adquirindo aptidões universalmente válidas.” (ABBAGNANO, 2007: 1148 – 1149). Hegel também contempla em sua descrição as particularidades dos marcos culturais de uma sociedade complexa, o que produz no debate categorias como ‘costume’ e ‘ocupação’, “o homem civilizado é educado no costume e na necessidade da ocupação” (ABBAGNANO, 2007: 1148 – 1149), mas é em Marx que encontramos a continuidade teórica dessas categorias. Assumindo em larga medida o conceito Hegeliano de trabalho, Marx vai além. Em Hegel o princípio do trabalho é a sobrevivência, em Marx o trabalho adquire um pesa muito maior pois passa a ser “a própria realização ou produção de sua vida, é um modo de vida determinado” (ABBAGNANO, 2007: 1149), no sentido de que “‘Produzindo seus meios de subsistência, os homens produzem indiretamente sua própria vida material’” (ABBAGNANO, 2007: 1149). Segundo Marx, o homem é em si o seu trabalho e o que o seu trabalho é produz, o que torna também possível afirmar o caráter social do homem, o seu ser social, pois seu trabalho e sua produção está em relação direta com o que lhe é externo (a natureza / a fábrica) e com os demais indivíduos que compartilham este mesmo espaço.

A condição de sujeito só é possível nos termos da não-alienação, “as relações de T. [ler trabalho] e de produção constituem a trama ou a estrutura autêntica da história, da qual são reflexo as várias formas da consciência” (ABBAGNANO, 2007: 1149). Entretanto a sociedade organizada segundo a lógica capitalista-burguesa é mediada pela existência de um grupo de pessoas que detém os meios de produção e um grupo de pessoas que detém apenas sua capacidade de trabalhar. Assim o trabalho passa a ser encarado como mercadoria e como elemento alienante por ser tratar da “condição de vida que lhe é imposta pelas relações das quais participa como objeto, e não mais como sujeito” (ABBAGNANO, 2007: 1149), e nessa condição o proletariado se despersonaliza e perde sua condição de sujeito da própria história. Se as ideias é condição da consciência humana, também é condição do ser social, do sujeito. Se é verdade que “Até hoje, a história de toda a sociedade é a história das lutas de classe.” (Marx, 1999: ), também é verdade que as ideias, que a consciência, e a condição de sujeito são mediadas pela luta de classes, ou seja, pela exploração, alienação, subjugação de uma classe por outro: “O que demonstra a história das ideias senão que a produção intelectual se reconfigura com a produção material? As ideias dominantes em todas as épocas sempre foram aquelas das classes dominantes.” (Marx, 1999: 66).

As contradições do sistema capitalista tornam-no insustentável, e essa insustentabilidade expressa-se em suas crises cíclicas. A lógica capitalista-burguesa prezará sempre o lucro acima de tudo, e essa sociedade não se predispôs a ser justa pois o capital em abundância está estruturalmente destinado a permanecer ao alcance de poucos. O antagonismo entre o pouco que tem muito e o muito que tem pouco expressamente presente na oposição capital versus trabalho, é o cerne das contradições do capitalismo. Já foi mencionado que não é possível qualificar o ‘valor’ na categoria de propriedade material pela dificuldade de se verificar concretamente o valor de uma mercadoria. Esclarece-se assim que o valor é um elemento socialmente constituído e localizável na medida em que valores são valores de troca, ou seja apenas é possível atribuir valor em relação a algo. A gênese do dinheiro é justamente essa. O valor de uma mesa se torna concreto quando se coloca em relação a algo, ao dinheiro por exemplo, a mesa passa a valer uma certa quantidade de dinheiro. É elementar no dinheiro a possibilidade de ser universalmente trocável, é possível trocar qualquer mercadoria por dinheiro, basta apenas saber qual é a quantidade de dinheiro necessária para efetuar a troca do dinheiro pelo objeto necessário. O dinheiro concentra em si o significado do fetichismo da mercadoria, na medida em que torna a troca visível, e o mundo das coisas que decorrem do trabalho humano passa a ter vida própria e o movimento das coisas revela-se sempre externo, hostil e incontrolável. A vida do homem passa a escapar do próprio homem na medida em que este se estabelece coisificação liberal das formas de sociabilidade: nós vivemos para vender, ainda que apenas a nossa força de trabalho, e para comprar coisas. A mercadoria passa assim por uma metamorfose dividida em duas fases dependentes, a primeira é a da venda, a segunda é a da troca. Troca-se a mercadoria pelo dinheiro em na condição de medida de valor, e em posse do dinheiro o homem tem a capacidade de adquirir a mercadoria. Essa é a primeira fase:[mercadoria1] por [dinheiro] por [mercadoria2]. O proletário vende sua força de trabalho em troca de um salário, ou seja, em troca de dinheiro, e posteriormente troca o dinheiro por outras mercadorias. A segunda fase trata-se da fórmula geral do capital: [dinheiro] por [mercadoria] por [dinheiro + mais valor]. Esta segunda fase trata-se do debate feito acima. O capitalista troca seu capital adiantado, que é o capital variável (valor da força de trabalho/salário) somado ao capital constante (custos dos meios de produção), recebe em troca uma mercadoria, e troca essa mercadoria por dinheiro (capital constante) acrescido do mais valor (tempo de trabalho excedente/exploração do trabalhador pelo capital). O capitalista para pela força de trabalho e recebe o direito de fazer o sujeito trabalhar, então o que o capitalista recebe em si é o próprio trabalho, e está é exatamente onde Marx centraliza sua crítica ao capitalismo. Se o homem é em si o seu trabalho e o que o seu trabalho é produz (mercadoria), o capitalista ao trocar o trabalho por dinheiro e receber em troca a direito sobre o trabalho do homem e o que o trabalho do homem é capaz de produzir, o capitalista em realidade recebe em troca o direito de possuir o homem em si. Quando caracterizamos o fetiche como algo externo, hostil e incontrolável é sobre essa dinâmica que estamos nos referindo. Não significa exatamente uma falta de consciência do homem a respeito do mundo em que vive, mas sim uma realidade de mundo (externo) que simplesmente se impõe (hostil e incontrolável), e que paira em todas as classes sociais, se manifestando de formas diferentes em cada uma delas. As fases metamórficas da mercadoria revelam o antagonismo capital versus trabalho, essas contradições inerentes ao sistema capitalista mantes uma relação de dependência uma da outra. A fase do proletariado troca o trabalho (mercadoria) por dinheiro pra depois trocar por uma mercadoria outra, e a fase do capitalista que troca o dinheiro por mercadoria para depois trocar novamente pela quantidade de dinheiro inicial acrescida do valor excedente produzido por seu direito de explorar outros homens, existe uma em função da outra, é aqui que nasce a oportunidade das crises econômicas. As condições para a produção capitalista não foram criadas pelo capitalista. O capital tem sua origem na sociedade que lhe é anterior, ou seja, na acumulação primitiva herdada do sistema feudal, e assim no modo de produção escravista, nas guerras, nas expropriações. A revolução que o capitalismo produz é a elaboração de um sistema onde condição do capital é o ilimitado processo de valorização do valor. A burguesia herda o capital adquirido através da acumulação primitiva e supera o feudalismo na medida em que supera o antigo modo de produção e generaliza o modo de produção capitalista. De um lado consta-se que o modo de produção capitalista é insustentável, o capital é elementarmente desmedido e fadado a colapsar o mundo pois é estruturado pelo processo ilimitado e implacável de valorização do valor. O crescimento do capital só é possível mediante a existência do mais valor, ou seja, da exploração do homem pelo homem. O Capital é o capital adiantado somada ao mais valor, e por isso se diz que capital é a valorização do valor. Então seria impossível supor que o mais valor tenha sua origem na circulação de mercadorias, ou seja, na primeira fase da mercadoria, no proletário que troca sua mercadoria (trabalho) ou dinheiro (salário) e depois por outra mercadoria. Mas também não é possível afirmar que a mais valor não está presente na circulação pois a quantidade de dinheiro necessária para adquirir uma mercadoria é a soma feita pelo capitalista do capital adiantado acrescido do mais valor. Quando se diz que taxa de lucro deve sempre crescer e nunca diminuir quer se referir a esta descrição de capital, à valorização do valor. Retomando o conceito de mais valor relativo e mais valor absoluto. Se a lógica de acumulação do capital exige que a taxa de lucro apresente sempre um crescimento, o a valorização do valor apenas é possível aumentando a taxa da mais valia, ou seja, a grau de exploração do proletariado pelo capital, o capitalista pode aumentar a produtividade através da mecanização (mais valor relativo), ou aumentar a produtividade ampliando a jornada de trabalho sem aumentar o salário pago (mais valor absoluto). A contradição capital versus trabalho está presente em ambos os casos, o que significa dizer que a crise econômica é inevitável.

Vamos pensar sobre o mais valor relativo. Mais maquinas gera por um lado mais produtividade, menos trabalhadores (desemprego) já que as maquinas passam executar de forma mais eficiente o que antes era executado por uma quantidade determinada de trabalhadores. Mas vimos que o capital (valorização do valor) depende do mais valor, o investimento em maquinário gera diminuição do capital adiantado, ou seja, diminui o investimento que o capitalista deve fazer para produzir uma determinada mercadoria. O capital adiantado trata-se do capital já existente. Para produzir 400 metros de tecido o capitalista tira do próprio bolso R$54,00 (capital constante + capital variável). Se o capitalista vender a mercadoria por R$54,00 o capital investido não foi valorizado. O capitalista soma ao valor total da mercadoria o valor da força de trabalho não paga. Marcos e Pedro trabalham por 12 horas cada mais recebem apenas por 6 horas. O capitalista não paga a Marcos e Pedro pela produção das 6 horas diárias de trabalho excedente. O capitalista se apropria então do que Marcos e Pedro produzem nessas 6 horas de trabalho não pago. Então ao investir R$54,00 do capital já existente, o capitalista recebe de volta R$60,00. Neste caso o lucro de R$6,00 é exatamente o valor gerado pela força de trabalho do proletário e que o capitalista deixou de repassar a Marcos e Pedro. Para otimizar a produção o capitalista investe em maquinário, assim não é mais necessário 2 proletários para produzir 400 metros de tecido. Neste caso o capitalista adiante o valor de R$47,00. A impressão que se tem é que ao diminuir o custo da produção de 400 metros é vantajoso para o capitalista, mas é também um motivo potencial de crise. Primeiro porque a lucro não cresce. Com dois proletário o capitalista investia R$54,00 e recebia R$60,00 (R$6,00 é o lucro). Com o investimento em maquinário e a demissão de um proletário de um melhor o capitalista investe R$ 47,00 e recebe R$50,00. O lucro cai pela metade, o que provoca uma crise econômica. Mas a crise também pode se estabelecer por outra via, a da superprodução. Se mais valor gera mais lucro, ampliar a jornada de trabalho e ao mesmo tempo diminuir o salário (mais valor absoluto) ou ampliar a produtividade investindo em maquinário teoricamente gera mais lucro. Mas mais produtividade somada a um menor (ou igual) poder de compra (subconsumo) gera o fenômeno da superprodução. A superprodução significa menos lucro, menos lucro obriga o capitalista a diminuir os salários e demitir pessoas, essa redução de custos inevitavelmente produz uma redução do potencial de consumo das mercadoras. Em qualquer dos casos, todos eles reflexos das contradições do capitalismo, tendem uma produção insustentável de mercadorias, isto é, tente a um dado excesso de mercadorias a disposição impossível de efetuar sua vender/trocar.

Por todas as vias citadas aqui, mas não apenas estas, a burguesia é revolucionária pela capacidade de transformar initerruptamente o processo de produção. É essa capacidade que tornou possível primeiramente a superação do mundo feudal. Entretanto o modo de produção capitalista em si é de natureza insustável. A obrigatoriedade de valorização do valor que obriga o capitalista a pensar em formas de diminuição de custos e ampliação da taxa de mais valor é um a expressão do processo ininterrupto de transformação da produção e são as crises do capitalismo que geram esse processo ininterrupto. A produção é insustentável, dessa forma gera-se de tempos em tempos crise econômica, o capitalismo precisa responder as crises econômicas transformando a produção, a questão é que o repertório de ação não mundo, pois a burguesia transforma não alterando o modo de produção em si, e sim expandindo o mercado e aumentando da demanda de proletariado disponível. O aumento da demanda de proletariado disponível provoca a proletarização do substrato médio da população, e ao mesmo tempo comprova o fato de que o capitalismo precisa do seu capital humano reserva, o desemprego é importante nos momentos em que o capitalismo busca solução para suas crises cíclicas.

Mas a demanda por capital humana disponível gera uma aguda polarização entra as classes, ou seja, o progressivo esgotamento de uma classe intermediária. De uma lado, a burguesia constituída por uma minoria detentora dos meios de produção. Do outro lado, o proletariado constituído por uma maioria operária. Esse é o limite do capitalismo, uma minoria que promoveu a aniquilação de uma classe intermediária, e relegou a maioria da população a uma condição de vida de desumanidade. A práxis revolucionário ao qual o Proletariado está destinado deverá destruir as “cadeias de opressão e da exploração do homem pelo homem” (BOBBIO, 1993: 1017), de modo a produzir a “abolição da propriedade privada”(BOBBIO, 1993: 1017) e instaurar o socialismo, ou seja, uma “sociedade sem classes” (BOBBIO, 1993: 1017), mediada pela “socialização da produção e a concentração da propriedade e do controle das forças produtivas” (BOBBIO, 1993: 1017). Por práxis revolucionária compreende-se ser a própria consciência proletária: “uma consciência de classe que se ajuste à compreensão e finalização da ação política do Proletariado, de acordo com o movimento necessário da história.” (BOBBIO, 1993: 1017). Esta seria a transformação “da classe em si à classe por si” (BOBBIO, 1993: 1017). O ciclo das crises inevitáveis se findará quando o capitalismo atingir seu limite, ou seja, quando o nivelamento da sociedade chegar em um ponto onde as classes intermediárias deixarão de existir, e quando o processo de acumulação de riquezas nas mãos da classe dominante culminar no padecimento (na miséria extrema, na fome e na morte) da classe operária, “para ele [Marx] a revolução proletária pode realizar uma transformação comunista da sociedade somente quando a evolução capitalista tiver atingido seu cume; qualquer tentativa de apressar arbitrariamente os tempos da revolução levaria somente ao insucesso ou à adoção de medidas terroristas, que descaracterizariam a própria revolução.” (BOBBIO, 1993: 209).Quando não houver mais por onde o capitalismo se expandir, ou seja, quando a burguesia não possuir mais as armas necessárias para postergar a crise final, a maioria criada pela própria burguesia aniquilar as classes intermediárias e nivelar a população em uma única classe de operários, tomará inevitavelmente o poder. Marx aponta que a sociedade sairá de uma espécie de ditatura burguesa para se tornar uma ditadura do proletariado: “Este caráter largamente majoritário do movimento proletário assegura, segundo Marx, que a revolução socialista e a fase da ‘ditadura do proletariado’, que a ele se seguirá, embora caracterizadas por medidas violentas e coercitivas (em primeiro ligar da destruição da máquina estatal burguesa, instrumento da ditadura da burguesia), serão sustentadas pela grande maioria da população; e que as próprias medidas coercitivas terão uma área de aplicação, restrita em termos gerais, e serão, portanto, temporárias.” (BOBBIO, 1993: 209). A sociedade socialista, segundo a teoria marxista, trata-se de uma sociedade de transição. Em resumo, o ponto final da teoria marxista é o comunismo, marcado por uma sociedade regulada o bastante para não necessitar do Estado. O ponto intermediário da teoria marxista é o socialismo, marcado por um período onde a sociedade deixa de viver uma ditadura da burguesia e passa a viver uma ditadura do proletariado. Ou seja, onde o poder coercitivo do Estado deixa de estar nas mais da burguesia, composta de uma parcela minoritária na sociedade, e passa a estar nas mais da classe operária, que em virtude do progressivo nivelamento da sociedade, ou seja, do aniquilamento das classes intermediária, passam a compor a parcela majoritária da sociedade. O Estado gerido pela maioria é o que marca o socialismo. O processo evolutivo que culmina na extinção do Estado, representa um fase onde a sociedade encontra-se regulada, é apenas neste momento que é possível afirmar a existência em uma sociedade, de fato, comunista. (LIGUORI; VOZA: 739).

Referências bibliográficas:

MARX, Karl. A ideologia alemã: Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stiner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845 – 1846). São Paulo: Boitempo, 2007.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. Rio de Janeiro: Vozes, 1999, 9ª ed.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993.

LIGUORI, Guido; VOZA, Pasquale. Dicionário Gramsciniano: 1926 - 1937. São Paulo: Boitempo, 2017. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993

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thiago luiz

fazendo essa analise pode ser seguido alguns pontos de vista, o pagamente somente de um salario minimo, pois quando o trabalho é escasso a exigencia em escolher emprego é menor .


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