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o que é representação social para Sarges Moscovici

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sheila gabriele

A Abordagem Estrutural das representações sociais define uma representação social como uma organização, que é atravessada por diferentes dimensões e não como um conjunto de eventos e processos puramente cognitivos. No estado atual da teoria, propomos o princípio que a dimensão afetiva observa uma relação não-aleatória com o núcleo central. Dois estudos anteriores são brevemente descritos, assim como os resultados acerca de três representações, (menino de rua, estudos superiores e família), com o intuito de apresentar uma perspectiva de estudo que parece indicar que as relações entre elementos semânticos e afetivamente carregados não são aleatórias. Os dados corroboram a tese de que o Núcleo Central das representações organiza igualmente a distribuição das cargas afetivas no conjunto da representação social. As pesquisas, aqui apresentadas, correspondem a uma primeira aproximação exploratória das relações existentes entre a estrutura e a impregnação afetiva dos elementos de uma representação. 

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LR

Sarges Moscovici (1928-2014), importante psicólogo social, “define uma representação social como uma organização, que é atravessada por diferentes dimensões e não como um conjunto de eventos e processos puramente cognitivos” (CAMPOS; ROUQUETTE, 2003: 435). Para Moscovici deve-se compreender a representação social, “tanto na medida em que ela possui uma contextura psicológica autônoma como na medida em que é própria de nossa sociedade e de nossa cultura” (MOSCOVICI, 1978: 45). Para a psicanálise, a questão da representação social vinculação da “inter-relação entre sujeito e objeto e como se dá o processo de construção do conhecimento, ao mesmo tempo individual e coletivo na construção (...) [de] um conhecimento de senso comum” (CRUSOÉ, 2004: 106).

Quanto ao Sujeito e a Sociedade, pode-se afirmar que “não existe separação entre o universo externo e o universo interno do sujeito: em sua atividade representativa, ele não reproduz passivamente um objeto dado, mas, de certa forma, o reconstrói e, ao fazê-lo, se constitui como sujeito, na medida em que, ao apreendê-lo de uma dada maneira, ele próprio se situa no universo social e material” (ALVES-MAZZOTTI, 2000: 59)

Quando ao senso comum: “Tal conhecimento [para Moscovici o senso comum é uma espécie de conhecimento dado] é visto por ele como um conhecimento verdadeiro, e não como um disfuncionamento do conhecimento científico. A grande questão é que esse conhecimento de senso comum, por ser um conhecimento circunscrito, se diferencia do conhecimento científico, que busca a generalização e a operacionalização. Assim, a teoria das Representações Sociais é uma proposta científica de leitura do conhecimento de senso comum e, nesse sentido, preocupa-se com o conteúdo das representações.” (CRUSUÉ, 2004: 107).

O processo de construção de representações sociais, “é responsável pelo enraizamento social da representação e de seu objeto” (SÁ, 1995: 38). Dessa forma, sobre a objetificação, diz-se da concretude de tal atitude, pois “faz com que se torne real um esquema conceptual, com que se dê a uma imagem uma contrapartida material” (MOSCOVICI, 1978: 110). Por exemplo, “ao objetivar o conteúdo científico da Psicanálise, a sociedade já não se situa com vistas à Psicanálise ou aos psicanalistas, mas em relação a uma série de fenômenos que ela toma a liberdade de tratar como muito bem entende” (MOSCOVICI, 1978: 112).

Deve-se ainda considerar, para além da objetificação, a atitude de ancoragem, que é “a integração cognitiva do objeto representado no sistema de pensamento preexistente” (ALVES-MAZZOTTI, 2000: 60), “sua inserção orgânica em um repertório de crenças já constituído” (ALVES-MAZZOTTI, 2000: 60). É “através da ancoragem tornamos familiar o conceito ou objeto representado” (CRUSUÉ, 2004: 108).

“A representação, como sistema contextualizado, nos remete à questão da significação, um dos elementos fundamentais de uma representação, justamente porque tal elemento é determinado pelo contexto, que pode ser discursivo ou social. De acordo com Abric (1994), a significação de uma representação deve ser observada primeiramente pela natureza das condições do discurso, pelo contexto ideológico e pelo lugar que ocupa o indivíduo ou o grupo no sistema social a partir do qual foi produzida tal representação (ABRIC, 1994, p. 14-15).” (CRUSUÉ, 2004: 109-110).

“Dentre as funções das representações sociais, podemos citar, conforme Abric (1994), as funções de saber, de identidade, de orientação e justificação das condutas. A função de saber das representações permite aos sujeitos compreenderem e explicarem uma determinada realidade, em consonância com o funcionamento do seu sistema cognitivo e com seu universo de valores e crenças. A função de identidade da representação funciona como uma proteção à especificidade dos grupos na medida em que situa os indivíduos ou grupos no campo social (ABRIC, 1994, p. 15-16).” (CRUSUÉ, 2004: 110).

“A representação, ao exercer sua função de orientação, atua como guia de comportamentos e práticas. Nesse sentido, a representação funciona como uma antecipação das ações, quando intervém na finalidade da situação, no tipo de atitude cognitiva a ser adotada pelos sujeitos sociais, revelando, assim, sua natureza prescritiva (ABRIC, 1994, p. 16-17).” (CRUSUÉ, 2004: 110).

“A função justificadora da representação atua “a posteriori” no sentido de justificar os comportamentos e tomadas de posição dos grupos e indivíduos numa ação ou com relação aos seus parceiros (ABRIC, 1994, p. 17-18). Dessa forma, a adoção do referencial da Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici nas pesquisas em educação implica assumirmos uma perspectiva que considera que as representações sociais têm um papel fundamental na dinâmica das relações sociais e nas práticas e que o conhecimento do senso comum é um conhecimento legítimo condutor de transformações sociais e que, de certa forma, “direciona” a produção do conhecimento científico.” (CRUSUÉ, 2004: 110).

“Sendo assim, o referencial teórico das Representações Sociais, ao atuar na dinâmica entre o conhecimento de senso comum e o conhecimento científico, oferece amplas possibilidades de investigação sobre a realidade educacional, numa perspectiva que contempla a compreensão do individual/social, enquanto elementos que só podem existir em sua inter-relação.” (CRUSUÉ, 2004: 110).

Ainda sobre o assunto é possível o seguinte debate:

“Em um texto recente, Moscovici (2002) reafirma que as representações sociais têm uma estrutura particular, composta de crenças-nucleares que geram e gerenciam outras em uma seqüência, por assim dizer infinita. Esta estrutura explica como os sujeitos podem armazenar e partilhar crenças básicas (estruturantes), e, ao mesmo tempo, integrar as experiências individuais, a riqueza das diversidades individuais. Esta diversidade, uma vez introduzida no campo da representação, pode vir a ser partilhada e, assim explicar como as representações sociais se transformam.” (CAMPOS; ROUQUETTE, 2003: 443-444).

“São, como denominadas por Dennet, crenças-nucleares, que são armazenadas e produzem uma massa de outras quando necessário, assim como, a partir de um pequeno número de frases que conhecemos, nós produzimos uma grande quantidade de frases novas. (Moscovici, 2002, p.19)” (CAMPOS; ROUQUETTE, 2003: 444).

“Para ele, então as questões fundamentais que se colocam são relativas aos processos pelos quais certas crenças se fixam e se tornam nucleares, enquanto outras se tornam periféricas; relativas também aos processos cognitivos e sociais que difundem certas crenças e proposições no espaço público. De nossa parte, podemos afirmar que uma questão fundamental, no campo da Teoria da Representações Sociais, é a de compreender aquilo que, de forma genérica, Flament (1994, 2002) designa como a dinâmica das representações sociais. Focando estas idéias no objetivo proposto pelo presente trabalho, podemos então destacar que, evidentemente, o processo de engajamento dos sujeitos nas práticas relativas a um determinado objeto social, não é um processo aleatório, ao acaso; nem poderia sr explicado por uma espécie de associacionismo básico, a exemplo do behaviorismo social. Se este engajamento é claramente marcado por processos sociais (produzidos pela estrutura social), ele é marcado também por uma ou várias motivações. Assim, voltamos ao ponto de início de nossas interrogações: as representações são marcadas por cargas afetivas, as quais não podem ser consideradas meros epifenômenos. Podemos afirmar que, os trabalhos aqui descritos (Campos & Rouquette, 2000; Giraud-Herault, 1998) e os resultados empíricos apresentados, indicam que as cargas afetivas, identificadas pelos próprios sujeitos, não se encontram distribuídas de forma aleatória na estrutura das representações estudadas. Considerando a natureza exploratória destes estudos, os resultados têm alcance reservado. Contudo, eles parecem apontar para o fato que um ou mais elementos centrais aglutinam, em torno de si, os elementos mais carregados afetivamente. A investigação das relações entre significação e atribuição de intensidade afetiva nos elementos (e, sobretudo, entre os elementos centrais e os de periferia próxima) poderá permitir uma melhor compreensão das relações entre estrutura e cargas afetivas.” (CAMPOS; ROUQUETTE, 2003: 444).

“É preciso salientar que, quando se trata de um objeto mais marcado socialmente por sua carga afetiva (Ex.: família, multidão) os resultados parecem mais difusos, uma vez que mais de um elemento central são fortemente carregados; entretanto, são também resultados mais instigadores, visto que a concentração de elementos no núcleo ou próximos a ele, reforçam as perspectivas de uma partilha social das emoções e de não se tratar as representações como estruturas cognitivas no sentido restrito do termo cognitivo.” (CAMPOS; ROUQUETTE, 2003: 444).

“Os trabalhos apresentados parecem também indicar a possibilidade de se estudar a dimensão afetiva, sem necessariamente estarmos restritos aos pesados recursos metodológicos do tipo coleta de indicadores fisiológicos (das emoções), observações comportamentais ou entrevistas do tipo clínico. Não se trata de recusar o valor de tais recursos na pesquisa empírica, mas de produzir instrumentos que articulem de modo satisfatório e objetivo, os dados cognitivos e os dados relativos particularmente às cargas afetivas. Evidentemente, sob este aspecto, o campo de pesquisa aqui apresentado deve ser ainda consolidado.” (CAMPOS; ROUQUETTE, 2003: 444).

“Os resultados descritos (sobretudo aqueles representados nas Figuras 1, 2 e 3) parecem indicar que a distribuição dos elementos intensamente impregnados de cargas afetivas, mantém uma relação não-aleatória com o núcleo central das representações estudadas. Assim, nos parece pertinente propor que, o núcleo central, sendo resultado de uma partilha histórica de valores (Abric, 2002) e responsável pela gestão do significado do conjunto da representação, seria também o resultado da partilha histórica das emoções associadas aos valores e práticas desenvolvidas. Em todo caso, podemos afirmar que nossos dados vão na direção já apontada por outros pesquisadores citados neste trabalho, de que significado (significado das representações sociais) e afetividade não se encontram dissociados no interior da representação. É claro que as relações, entre núcleo central e dimensão afetiva, estão ainda por serem estudadas; embora nossos dados, apesar de provisórios, pareçam corroborar a nossa hipótese de que o sistema central e elementos afetivamente carregados, componham uma estrutura sóciocognitivo-afetivo coerente.” (CAMPOS; ROUQUETTE, 2003: 444).

 

 

Referências bibliográficas:

CAMPOS, P. H, F.; ROUQUETTE, M. L. A abordagem Estrutural e Componente Afetivo das Representações Sociais. In Psicologia: Reflexão e Critica, 16(3), 2003.

MOSCOVICI, S. A representação social da psicanálise. Tradução de Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

SÁ, C. P. Representações sociais: o conceito e o estado atual da teoria. In: SPINK, M. J. (Org). O conhecimento do cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1995.

CRUSUÉ, N. M. C. A teoria das representações sociais em Moscovici e sua importância para a pesquisa em educação. In APRENDER Cad. De Filosofia e Psc. da Educação, Vitória da Conquista, ano II, n.2, 2004.

ALVES-MAZZOTTI, A. J. Representações sociais: desenvolvimentos atuais e aplicações à educação. In CANDAU, V. M. (Org). Linguagem: espaços e tempo no ensinar e aprender. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO (ENDIPE), 10., Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: LP&A, 2000.

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