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Quais as considerações de Platão sobre velhice?

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Leandro Custodio

DIALÉTICA NOS DIÁLOGOS DA VELHICE: MODELO DE EXPLICAÇÃO DE PLATÃO Miguel Pereira Neto Mestrando do PPGFil-UFRN Resumo Pretende-se articular o método de explicação platônico por excelência, a dialética, em suas contribuições para as compreensões da diversidade das representações e entendimentos da “natureza” com as temáticas dos seguintes diálogos da velhice: O Sofista e O Político. O modelo de análise empregado, discutirá as explicações que Platão forja em seus escritos da maturidade para assuntos filosófico-epistêmicos do próprio fazer filosófico e da interferência das técnicas e saberes diverso do mundo helênico na formação “proto-científica” dos saberes da hélade. Palavras-chave: dialética; explicação; Platão e epistemologia É uma concepção bastante usual a do entendimento dos postulados científicos e mesmo vários outros tipos de formulações serem baseadas na simples relação entre 2 termos que são chocados como possibilidades argumentativas e que se segue por um deles para se continuar chocando dois termos posteriormente e essa rede de choques de 2 termos criar possibilidades interpretativas ad infinitum. Como vemos hoje, a programação de computadores, por exemplo, opera em sistemas binários que se reconhecem a partir das premissas de 0 ou 1 e criam coisas imensas como imagens ou dados colossais que fundamentam o entendimento e o processamento de várias coisas no mundo. A tentativa que irá se esboçar aqui é demonstrar nos diálogos da velhice o quanto a Filosofia Antiga já partilhava desses procedimentos e como Platão pensava essas formulações para o desenvolvimento de saberes. O trabalho tem 3 etapas de conceituação: heranças de Platão sobre essa questão dialética; importância dentro da evolução teórica que os diálogos apresentam e a História de Platão interferindo na composição de seus saberes e a contribuição dos diálogos de velhice especificamente sobre a questão. Analisando a partir de teóricos da educação grega como Werner Jaeger (JAEGER, 1994), Bruno Snell (SNELL, 2005) e até Jean Pierre Vernant (VERNANT, 1992, 1994) fica evidente o discurso de que Platão seria um herdeiro discursivo de métodos lançados principalmente com a produção literária, fundada principalmente por Homero, em que os elementos discursivos que permitem o diálogo das diferenças parecem uma reapropriação de elementos presenciados e narrados novamente com finalidades outras. Também é crescente a idéia de que antes de Sócrates teríamos o crescimento da tragédia e da sofística como modelos de explicação do mundo. Platão nesse sentido seria também um poeta, mas principalmente um dramaturgo que teria muito das tragédias como inspiradoras de seu método de discussão filosófica e até de sofísta. A literatura enquanto primeiro escopo explicativo na História da Filosofia Ocidental, seria o primeiro modelo para pensar as estratégias de Platão para composição de seu modelo explicativo. Todos os tipos de personagens que inspiraram o modelo grego descritos acima como antecessores da filosofia platônica, figuram como modos de apresentar opiniões dentro dos diálogos platônicos. Não é em vão que o modelo básico que Platão mais utiliza como parâmetro em seus diálogos de velhice deriva da dicotomia ser e não ser instaurada principalmente com Parmênides, mas também com outros grandes pensadores da História do pensamento como Protágoras e Górgias. Segundo o modelo interpretativo do professor Gabriel Trindade em sua análise sobre o Parmênides, nós podemos depreender que o sentido do ser e do não ser é um sentido também epistemológico onde parafraseando Parmênides: “o mesmo é pensar e ser”. O sentido do ser é a possibilidade de pensar coisas que são e a busca pela verdade última é a grande motivação epistemológica desse tipo de pesquisa, mas uma pesquisa impossível para meros mortais que não podem chegar ao conhecimento puro por não terem naturezas divinas. A possibilidade do não dito em Parmênides não ser nem possível de comentar na perspectiva de que o não ser não é e não pode ser dito como algo pertinente aos seres, se assemelha com a ótica herdada da matemática árabe que contempla uma nulidade numérica essencial para o entendimento do mundo que é o zero. Pretendo aqui apresentar que Parmênides apresenta o não ser como uma perspectiva de não participação e de impropriedade de qualquer número, mas a dicotomia necessária para construção de seu poema tentando definir o que Trindade reforça em seus estudos como um princípio de identidade forte não contempla as diferenças. As coisas que são devem ser mencionadas e perscrutadas em detrimento das que não são, para fornecer um conhecimento das coisas, mas o próprio Parmênides ao reforçar esse modelo entra em contradição por de algum modo falar sobre o não ser. Se as coisas que não são, evidentemente não podem ser nomeadas, faladas e nem reconhecíveis, Parmênides destrói a possibilidade do não ser auxiliar no processo do saber. A solução que Platão desenvolve é feita ao revisitar Eléia através de um estrangeiro no diálogo Sofista e representar de um eleata, como Parmênides, o confronto de idéias inspiradas nas concepções sofísticas do que é saber a partir de Protágoras e principalmente de Górgias (ainda que Platão não os referencie no diálogo Sofista). A teoria do não ser é reabilitada e o ponto de vista de Parmênides se apresenta como insuficiente e insustentável em relação à teoria de que o não ser de algum modo é. Há uma disputa acerca dos conceitos de ser como é especificado por Romeyer-Dherbey (ROMEYER-DHERBEY, 1999) onde a escola sofística que opera analisando o logos tem nas figuras de Górgias e de Protágoras os grandes teóricos de uma teoria relativista do ser e uma possibilidade relativa do saber. Se na máxima de Protágoras o Homem é medida de todas as coisas, isso implica que todo o saber não assa de critérios estabelecidos pelos homens e se para Górgias é possível um tratado sobre o não-ser os critérios das lacunas do logos e criando e fazendo sentidos são os mais relevantes nessa escola. Platão evidentemente nos diálogos socráticos, se estabelece a partir de Sócrates contra um criteriologia de saber que não se vincule ao esforço das coisas que são hierarquicamente superiores aos homens em suas buscas de poder. Para se chegar a essa contribuição “onto-epistemológica”(SANTOS, 2008 ) também no Sofista, o xénos circunscreve um escopo investigativo sobre os ofícios ligados a caça e seus objetivos por uma estratégia dialética num esquema de 2 enunciados que são contrapostos e que em 1 deles a proposição é transitiva e a outra intransitiva, promovendo uma opção que vai continuar no debate e outra que será descartada. O interessante é que o processo de aprendizado e principalmente de explicação se dá pela confrontação de modelos em Platão, para através do contato estabelecer qual opinião persevera. Assim, o uso das técnicas é o primeiro ponto para estabelecer conhecimento sobre as coisas que são e as coisas que não são, mas não são descartáveis um em relação à outra. O complexo de 1 e 0 que se notabiliza como uma linguagem que forma a multiplicidade das coisas na linguagem da informática não apresenta o zero como uma falsidade, mas como uma etapa para a construção de coisas mais elaboradas. Platão fundamenta seu modo de explicação usando erros e ficções grotescas das opiniões não discutidas (doxai) para contrapor com opiniões corretas (orthodoxai) para chegar a um conhecimento sério dos assuntos episteme. Essa aproximação seria o recurso de Platão para formar uma noção que chamo de “proto-científica” por compreender que Ciência é um modelo de explicação forjado a posteriore da Filosofia e com pressupostos teóricos de discurso sobre a verdade (apesar de ser um ponto bastante passível de discussão atualmente). Um conhecimento sério sobre os assuntos mais diversos que é representado pela episteme possui pressupostos comuns para a Filosofia e para as Ciências: uma aproximação através de experiência que se consiste na relação de diferenças para compreensão de normas ou regras do universo ou das verdades últimas, representadas no modelo de ascese para o conhecimento platônico pelo nous, pela segunda parte da linha dividida ou o Sol na Alegoria da Caverna nos livros VI e VII da República. A ciência seria segundo o argumento que se tece aqui, uma aglomeração de elaborações devidamente testadas que visam alcançar o saber das coisas que estão sendo investigadas e o próprio processo de investigação, constituído por várias technai, se torna o modo como as possibilidades de saber se concretizam e dispositivo de explicar o conceito que originou aquela regra. O teste científico se daria por experiência que comprova a validade de uma hipótese, enquanto o teste filosófico como expõe Platão e a fricção de 2 modelos para extrair a partir de argumentação e análise dos argumentos algum conhecimento. Não seria em vão que Platão teria disposto antes de uma pesquisa acerca do ser, mas principalmente acerca do Sofista, uma explicação das técnicas a partir de contrastes múltiplos de um modo de fazer e seus objetivos para com outro modo e assim sucessivamente. No presente ponto (a validação em determinado das teorias sofísticas m detrimento das teorias parmenídeas), Platão estariam forjando um distanciamento da literatura que o amparou nos diálogos eminentemente socráticos para depurar seu método para além dos pressupostos antes aceitos. Platão estaria fortificando uma teoria que compreende as diversidades como auxiliares das compreensões de mundo que se pode desenvolver e que todas precisam ser testadas e pensadas, pois em outros momentos teorias antes refutadas podem apresentar aspectos de opinião correta para corresponder em relações outras que podem ser feitas. Mesmo nas Leis, a figura do espartano que outrora teria sido objeto de elogios, começa a ser rechaçada pela impossibilidade de reflexão dos lacedemônios sobre suas leis. A possibilidade da busca por conceitos mais adequados força o método dialético a ir mais longe em suas acertivas e discordar do antes aceito, ou apresentar pontos que apresentam nuances mais voltadas para um acirramento no diálogo constante com a diferença para compreender aspectos maiores do que os antes contemplados apenas em Atenas. O método dialético também se referencia por contrapor genos distintos e demonstrar uma comunidade de gêneros em idéias antes pensadas como díspares por outros autores como Parmênides. A evolução do método dialético tem relação com o acirramento do diálogo com as diferenças que se manifestam no diálogo também em seus aspectos dramáticos: Sócrates lança a proposta de definição do Sofista, do Político e do Filósofo como um desafio ético e epistemológico para o xénos. Pensando na contraposição clássica que apresentam de Sócrates em relação aos denominados “pré-socráticos”, a continuação das indagações do conjunto que se pretende aqui enquanto continuação do Sofista é um diálogo sobre a ética da política. A physis que traduziremos de forma insuficiente por natureza que Platão se refere é a natureza dos homens e não escrever “Peri physeos” como os pensadores anteriores foram notabilizados por escrever. Platão não se estabelece como alguém que busca nos elementos as causas do modo de ser do universo, mas nas idéias e principalmente naqueles que são os partícipes mais próximos delas: os homens em suas ações políticas voltados para a justiça de entendimento. A quebra do autor seria nos diálogos de velhice mais acentuada para uma teoria política voltada para como os homens reagem às situações, mas mesmo sendo uma quebra, não é uma quebra total no seguinte sentido: a relação que se estabelece para entender a gestão de homens para com os homens é a relação do pastor com o gado e do gado para com o pastor está ligado ao conceito de agathon que foi motivador das reflexões na República por exemplo. Quando o conceito daquilo que deve ser o bem é entendido pela multiplicidade dos homens, a reflexão para alcançar o bem enquanto ações práticas da sociedade e que motivam a epistemologia. Não são esferas separadas nos escritos de Platão a ética, a epistemologia, a ontologia, a política e a Filosofia, pois o fazer pensar é através de exposições dialéticas é motivado para ação dos homens para com o saber e para consigo enquanto participantes de conceitos essenciais. As semelhanças dos diálogos em aspectos metodológicos são claras nos seguintes pontos: o personagem central é alguém sem nome dialogando com um rapaz que possui alguma semelhança com Sócrates, como afirma Benoit (BENOIT, 1996); a elação com o divino também aparece como baliza do texto, já que no Sofista o xénos e dito como divino e no Político o tempo de Chronos é dito como o tempo onde as coisas aconteciam na ordem que deviam ser; o método de discussão dos pontos ainda é o de exposição e contraposição das diversas vertentes num caminho que se assemelha ao exercício dialético no começo do Sofista e a problemática anunciada no Sofista ainda aparece esparsamente no Político (Sobre a definição daquilo que vem a ser o Sofista o Político e o Filósofo). A relação desses diálogos mostra que o pensamento ao redor dos modelos de explicação das coisas, fato que fomenta a episteme, perpassa pela esfera literária (heranças da poesia Parmenídea), artístico-técnica (pela ocorrência da explicação das diferentes technai de profissões variadas), retórica, científica (se entendermos política enquanto uma ciência) e filosófica. A conclusão que se pretende é a de que o modelo grego não contempla diferenças entre os saberes em seus métodos explicativos, mas compreende que eles partilham de um mesmo sentido de progressão na diferenciação daquilo que se conhece e de um processo de definição das coisas que não são pertinentes ao tema, formulando um caminho de entendimento que ao mesmo tempo é uma explicação. As ciências como conhecemos, definidas por paradigmas e modelos de conhecimento que se sobrepõe aos outros, tem o mesmo modelo de exposição e explicação que qualquer outro saber humano possa ter. O esquema que Thomas Khun (KHUN, 2006) revela para as ciências, pode ser tomado para a literatura e para várias outras áreas, pois a sobreposição de procedimentos é o esquema de perpetuação e de explicação que os saberes fornecem para os homens. Platão se insere em seu período de velhice, cada vez mais, como um pensador da diferença se parafrasearmos o professor Marcelo Pimenta Marques (MARQUES, 2006) ao tornar seu léxico cada vez mais preparado para dialogar com as diferenças que nascem no processo de conceituação e entendimento das cosias ou no processo de compreensão dos saberes que o grego entenderia por episteme. O que tentou-se descrever aqui, foi um processo em que as aproximações das diversas áreas de saber tocadas pela discussão filosófica em Platão são estabelecidas por um método: a dialética. O método dialético é base para muitos modelos científicos mesmo hoje, apesar de suas reapropriações e mudanças, mas é uma base sólida para entender como o ser humano processa novos conhecimentos pela relação das diferenças. A ciência seria para o grego um saber dentre vários e os saberes seriam caracterizáveis pela possibilidade de se conhecer pela acertiva das especificidades que os compõe e pelas acertivas dos aspectos que são díspares deles mesmos. A epistemologia platônica de entendimento das diferenças é adequada para todos os entendimentos humanos e demonstra como esses gêneros de saberes em um sentido bastante forte partilham de modos comuns de operar e que suas diferenças são meramente quanto ao modo e objetivos, mas são todos parcelas da tentativa humana de expressão das diferenças e das similitudes que aparecem no processo de conhecimento.

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