Uma adolescente de 15 anos está sendo obrigada por decisão judicial a receber a visita de seu pai, embora tenha se negado a fazê-lo na propria audiencia.
Qual o limite da autonomia dela, perante o Judiciário, considerando a disciplina dos arts. 1º, III; 5º, II e 227 da CF/88, e do art. 15, do ECA e, ainda, do art. 1º do Dec 99.710/90 (que promulgou a Convenção sobre os Direitos da Criança)?
A meu ver, se trata de uma obrigação natural, a qual não pode ser imposta única e exclusivamente por uma decisão judicial, sem que se tome em consideração a realidade fática do núcleo familiar. Em caso de conflito entre pai e filho, deve ser acionada uma equipe multidisciplinar, no sentido de tentar dirimir a situação e retomar a harmonia familiar. Não há como se predifinir o direito de um ou outro às visitas. A solução deve tomar por base o benefício advindo do regime de convivência. Se não se vislumbrar benefício, não há como se manter um regime de convivência forçado.
A propósito, existe interessante decisão do TJDFT sobre o assunto:
DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS. OBRIGAÇÃO DE VISITAS. DESINTERESSE DO GENITOR. OBRIGAÇÃO NATURAL. IMPOSSIBILIDADE DE IMPOSIÇÃO JUDICIAL.
A manutenção dos lações afetivos depende da vontade das partes e não pode ser imposta pelo julgador. Não pairam dúvidas sobre o direito do filho de ter garantido o convício com seu genitor, mas há desinteresse do pai em visitar o filho, em manifesto descaso com a prole. Se o pai mostra desinteresse de conviver com o filho, não pode o Poder Judiciário obrigá-lo a cumprir com essa obrigação natural, sob pena de prejudicar o próprio filho, pois a visitação forçada terminaria por estabelecer uma convivência de má qualidade e até traumática. O apelado declarou que não tem nenhuma intenção de visitar o filho, que não quer nenhum contato com o filho e não quer que a criança sofra mais do que está sofrendo. O amor compulsório manifestado na indiferença, pode se revelar mais danoso ao filho que a ausência do genitor. O ordenamento jurídico não prevê a obrigatoriedade de sentimentos que normalmente vinculam um pai a seu filho, sendo lamentável a constatação de relações familiares que não se nutrem pelo afeto verdadeiro e espontâneo. Apelação desprovida. (https://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/340731750/apelacao-civel-apc-20130110133313).
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