Ao contrário do que se acredita, não foi o educador pernambucano Paulo Freire quem primeiro publicou uma cartilha para alfabetização de adultos. Em 1932, quase três décadas antes dos ensinamentos e publicações de Freire, a educadora e também nascida em Pernambuco Débora Feijó inovou com a elaboração de uma cartilha que fugia da linguagem infantil adotando temas do cotidiano de ‘gente grande’ para ensinar a ler e a escrever.
Enquanto Paulo Freire utilizava o despertar da consciência política e social como ponto de partida da sua pedagogia, a educadora apenas utilizava textos sem o questionamento da realidade, finalizados com frases que traziam lições como “quem se esforça sempre alcança”. Para prender a atenção dos alunos e ser útil no dia-a-dia, a cartilha ensinava também a fazer requerimentos, recibos e referências de trabalho, documentos de extrema importância para a época, além de contas básicas e receitas de culinária.
DIDÁTICA - Responsável por preencher uma carência do ensino daquela época, a Cartilha para Adultos tornou o estudo noturno muito mais interessante porque eliminava dos adultos o constrangimento de se basear no universo infantil para se alfabetizar.
Ao invés das palavras bola, casa, bolo e *****, a publicação utiliza textos simples, com frases curtas, que falavam sobre profissões como costureira, marceneiro, calunga de caminhão e ama de menino (como se chamava babá na época).Adotada nas escolas públicas da primeira metade do século 20, ela foi responsável pelo aprendizado de numerosos alunos, assim como escreveu na apresentação da segunda edição da cartilha o então diretor Técnico de Educação de Pernambuco, Aníbal Bruno.
A didática da professora Débora Feijó seria seguida mais adiante pelo Movimento de Cultura Popular (MCP), existente na década de 60 durante o primeiro governo de Miguel Arraes, pouco antes da ditadura. Foi justamente nessa época que o educador Paulo Freire começou a pregar a educação com ensinamentos baseados no cotidiano, sofrimento e motivos de luta do povo. Com a “educação para a liberdade”, Freire fez uma reviravolta no ensino e tornou-se referência no mundo.
BIBLIOTECA - A Cartilha para Adultos da educadora Débora Feijó está entre os mais de 300 títulos de publicações populares colecionados pelo pesquisador Liêdo Maranhão. As edições, além de serem verdadeiras relíquias da literatura brasiliera, são referências históricas da pedagogia pernambucana. E só recentemente, revendo seu próprio acervo, foi que Liêdo Maranhão se deu conta da importância de Débora Feijó na primeira metade do século passado.
“Pesquiso publicações populares há 30 anos, em sete Estados do Nordeste, mas nunca encontrei ajuda para abrir o Museu da Memória Popular”, lamenta. “É preciso resgatar esse assunto porque, além de ser pernambucana quem primeiro fez uma cartilha para adultos, é uma mulher”, ressalta.
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