O domicílio é o local em que a pessoa habita (ou reside) com ânimo definitivo. Nesse sentido, “habitar” ou “residir” é um requisito objetivo para a constituição do domicílio (é fato material), enquanto “ânimo definitivo” é subjetivo. Nas palavras de Carlos Roberto Bittencourt, domicílio “é a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para efeitos de direito e onde pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos.” (2012 p. 119).
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. [CC/02]
O código civil também prevê a pluralidade de domicílios, ou seja, se a pessoa natural possui mais um lugar em que habite com ânimo definitivo, considera-se domicílio cada um deles. No que segue:
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. [CC/02]
Não é o mesmo que morada, essa refere-se ao lugar em que ocupa-se esporadicamente, como um hotel na estrada ou uma casa de campo. Residência é também diversa, até compõe o domicílio, porém este é mais amplo; enquanto aquela é um estado de fato, esse é uma situação jurídica. O código também acolhe a ideia de atividades externas concernentes à pessoa para dispor sobre o domicílio profissional:
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem. [CC/02]
Ainda, pode-se citar pessoas que não tenham residência habitual, por exemplo, artistas de circo ou ciganos. Nesse caso, pode-se chamar de “domicílio aparante”, no qual o código dispõe que
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada. [CC/02]
O domicílio pode ser voluntário ou necessário/legal. Voluntário é escolhido livremente e pode, ainda, ser especial, no qual as partes de um contrato definem um foro de eleição/contratual para tal. Ainda no que concerne ao domicílio da pessoa natural, pode ter-se o caso em que a lei o determina. Diz-se, então, do domicílio legal ou necessário , em contraponto com o domicílio voluntário (que é livremente escolhido).
Tem domicílio necessário (Arts. 76 e 77):
No caso de domicílio voluntário especial, os contratantes podem especificar o domicílio para que cumpram-se as obrigações contraídas:
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.
Importante elucidar que, mesmo que o contrato de uma empresa especifique um único local para ser reclamada em juízo, constitui-se abuso se a empresa não dispor de um foro em cada estabelecimento que esteja instalada, a fim de evitar que o reclamante consiga processá-la, e assim esquive-se de suas obrigações. A situação é a seguinte: uma empresa X que funciona em todos os Estados do país especifica, em contrato, que sua sede é no Rio de Janeiro, e apenas nesse foro pode ser reclamada, visando evitar que o consumidor Y consiga processar a empresa, vez que reside em local diverso. Por isso, todo local em que a empresa estiver instalada consiste em um foro (domicílio) para que responda por suas obrigações.
O código dispõe claramente o domicílio das pessoas jurídicas:
Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I — da União, o Distrito Federal;
II — dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III — do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV — das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
§ 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados.
§ 2º Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.
Portanto, da pessoa jurídica, podem os atos constitutivos definir o domícilio. Também é considerado domícilio onde esteja a administração ou o local de estabelecimento.
a) Voluntariamente (vontade manifesta):
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.
b) Legal: determinado pela lei. Ex.: exercício de cargo público efetivo (em cidade diversa da qual se é domiciliado), cumprimento de sentença.
c) Convencional: eleição de foro (reiterando: cláusula abusiva é vedada). Art. 78.
Observação: o domicílio civil NÃO se confunde com o domicílio eleitoral.
Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta
Pinto, C.a.m. Teoria Geral do Direito Civil
•UNIP
Pinto, C.a.m. Teoria Geral do Direito Civil
•UNIP
Compartilhar