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UNIDADE I Prof. Dr. Mário Caldeira História da Arte Moderna e Contemporânea As Artes Moderna e Contemporânea têm uma ligação essencial e especial. A primeira começa a construir outra forma de se ver o mundo e, portanto, de se fazer arte. A outra consolida essa abertura para a realidade e, mais ainda, amplia as formas de ver e fazer a própria arte. É importante afirmar que conhecer a arte, no tempo e no espaço, tem duas finalidades essenciais: promover o autoconhecimento e o aprimoramento pessoal e servir como fonte de inspiração para criar algo, um projeto de design gráfico, outra obra de arte, uma peça musical, uma ilustração, um objeto ou até mesmo um projeto arquitetônico, como está demonstrado no próximo slide. Introdução Introdução VILLALTA, Guilhermo Pérez. El Navegante Interior (O navegante interior). 1990. Óleo sobre tela, 200 x 247 cm. Colección Diputación de Granada, Espanha. Fonte: PIZZA, A. Alberto Campo Baeza. Works and projects. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1999, p. 160. Interior da Caja de Ahorros de Granada. Fonte: <https://upload.wikime dia.org/wikipedia/com mons/5/56/Caja_Grana da_Fot%C3%B3grafo- _Hisao_Suzuki.jpg>. Acesso em 25 fev. 2019. A definição do que é arte mudou muito a partir da Arte Moderna e se expandiu e modificou mais ainda com a Arte Contemporânea, a ponto de haver hoje sérias dúvidas sobre esse conceito. Então, fica a pergunta: o que é arte? Há várias maneiras de abordar esse conceito, mas as que são consideradas atualmente mais sólidas são: a relação entre o trabalho de um(a) artista e as bases que influenciaram sua criação, a sua capacidade de influenciar outros artistas e até mesmo as pessoas em geral e a passagem do tempo. As outras maneiras envolvem a opinião de críticos especializados e a aceitação pelo público especializado no assunto, mas essas têm sido muito relativizadas. O que é arte Vejamos como exemplo uma obra que foi capaz de acolher influências do passado e de influenciar outros artistas. O quadro ao lado é trabalho de Édouard Manet, importante impressionista do século XIX e início do XX. O que é arte MANET, Édouard. Le Déjeuner sur L’Herbe (Almoço na relva). 1862-1863. Óleo sobre tela, 208 x 264,5 cm. Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f1/Manet%2C_Edouard_- _Le_D%C3%A9jeuner_sur_l%27Herbe_%28The_Picnic%29_%281%29.jpg>. Acesso em 18 jan. 2019. Manet usou o tema e a posição relativa dos personagens centrais dessa pintura do século XVI como inspiração para o seu quadro. O que é arte GIORGIONE (e/ou TITIAN). O concerto campestre. c. 1509. Óleo sobre tela, 105 cm × 137 cm. Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4d/Le_Concert_champ%C3%AAtre%2C_b y_Titian%2C_from_C2RMF_retouchedFXD.jpg>. Acesso em 19 jan. 2019. Desta gravura, Manet usou a maneira como as figuras centrais se posicionam dentro do quadro. O que é arte RAIMONDI, Marcantonio, sobre o trabalho de Rafael. Julgamento de Paris. 1515 ou 1516. Gravura em cobre. Fonte: adaptado de: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2c/Urteil_des_Paris.jpg >. Acesso em 19 jan. 2019. Agora observe como o trabalho de Édouard Manet influenciou o trabalho de outros artistas. Claude Monet é um dos mais importantes artistas do Impressionismo e se baseou na obra de Manet feita alguns anos antes para produzir a sua versão de Almoço na relva. O que é arte Claude Monet. Almoço na Relva (estudo esquemático), 1865-1866. Óleo sobre tela. 130 cm х 181 cm. The Pushkin State Museum for Modern Art, Moscou (Rússia). Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/c/c0/Claude_Monet_- _Le_dejeuner_sur_l%E2%80%99herbe.JPG>. Acesso em: 19 jan. 2019. É possível afirmar que existem cinco condições criadas ou consolidadas pela Arte Moderna que definem a Arte Contemporânea. Essas condições podem não definir, de uma vez por todas, o que é arte, mas elas contribuem para reconhecer os limites da criação artística atual. A primeira condição é a separação da arte e do conceito de utilidade. Até o surgimento da palavra arte como definidora de um campo de atuação independente, tudo o que era produzido em uma sociedade tinha uma determinada finalidade, uma utilidade. A segunda condição é uma consequência da anterior: a profissionalização do artista. Quem produz arte é essencialmente alguém que faz isso como profissão, como sua única forma de atuar, apesar das exceções. Conceitos fundamentais de arte A terceira condição é radical: as mudanças nos suportes da arte. Toda arte tem um suporte material, mesmo que seja efêmero. Até o início do século XX, só havia os suportes tradicionais: quadros, estátuas, gravuras, afrescos e tapeçarias. Na Arte Contemporânea, os suportes são ampliados: instalações, performances, happenings, arte com luz, vídeos, projeções em espaços internos e externos, murais e até mesmo edifícios e relevos naturais cobertos com tecidos sintéticos. A quarta condição é uma mudança do foco. As obras de arte até o século XIX sempre se concentraram em representações figurativistas. Isso quer dizer que as imagens tinham formas reconhecíveis no mundo real. Uma parte da Arte Moderna e depois em quase toda a Arte Contemporânea usa o Abstracionismo, puro ou misturado com propostas figurativas. O Abstracionismo não se baseia em formas existentes no mundo real. Conceitos fundamentais de arte Para esclarecer melhor a diferença entre Figurativismo e Abstracionismo, podemos citar o trabalho de Frida Kahlo (1907-1954). A artista de origem mexicana, de vida polêmica e muito ousada, faleceu jovem, mas deixou uma importante obra baseada no Figurativismo, como se vê no quadro Fulang-Chang e Eu. Conceitos fundamentais de arte KAHLO, Frida. Fulang-Chang e Eu, 1937. Óleo sobre placa de composição (1937) e espelho com moldura pintada (acrescentado em 1939). Quadro, colocado à esquerda: 56,5 cm x 44,1 cm x 4,4 cm; espelho emoldurado, colocado à direita: 64,1 cm x 48,3 cm x 4,4 cm. Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/>. Acesso em 01 abr. 2019. A quinta característica é a responsabilidade de escolher o que é arte. A quem cabe dizer o que é e o que não é arte? Há certo discurso popularizado de que a arte está nos olhos de quem vê, atribuindo a responsabilidade de avaliação exclusivamente ao observador e ao seu gosto. Até aí não há nenhuma questão restritiva, mesmo porque a popularização da arte não ocorreu apenas nos temas usados pelos artistas, mas também na ampliação do acesso a essa produção. Mas essa avaliação pessoal tem limites: é fundamental ser um estudioso da arte para se afirmar algo sobre um objeto artístico e nem sempre o artista faz o seu trabalho para ser avaliado por outras pessoas. Há artistas cuja produção existe, principalmente, por motivos pessoais. É o que revela o trabalho da artista japonesa Yayoi Kusama (1929- ). Conceitos fundamentais de arte Escolha a alternativa que indica um critério muito utilizado por profissionais para identificar quando um trabalho tem valor artístico consistente. a) A possibilidade de ser comprado por alguém. b) A capacidade de influenciar o trabalho de outros artistas. c) A possibilidade de ser visto tal como ele é. d) A capacidade de ser produzido por outra pessoa. e) A denominação que o próprio autor deu como obra de arte. Interatividade Escolha a alternativa que indica um critério muito utilizado por profissionais para identificar quando um trabalho tem valor artístico consistente. a) A possibilidade de ser comprado por alguém. b) A capacidade de influenciar o trabalho de outros artistas. c) A possibilidade de ser visto tal como ele é. d) A capacidade de ser produzido por outra pessoa. e) A denominação que o próprio autor deu como obra de arte. Resposta Um dos critérios mais antigos e popularespara estabelecer o que é arte é a noção de belo. Pablo Picasso (1881-1973) usou esse conceito de maneira inusitada. Ele é um conhecido artista do século XX e teve uma fase, chamada por alguns de Período Clássico, em que retratava as pessoas com um traço anatomicamente fiel ao que se vê, com proporções semelhantes às que artistas de séculos passados usavam. Arte e belo Pablo Picasso. Paul Vestido de Arlequim, 1924. Óleo sobre tela, 130 cm x 97,5 cm. Museu Nacional Picasso, Paris, França. Fonte: PHILIPPOT, E. et al. Picasso: mão erudita, olhar selvagem. São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2016. p. 123. No quadro ao lado, que se acredita ser um retrato do próprio Picasso com sua primeira esposa e seu filho, ele usou uma forma de representar que lembra as figuras humanas pintadas na Renascença italiana, principalmente as que foram feitas por Michelangelo Buonarroti (1475-1564), no século 16. Arte e belo Pablo Picasso. Família à Beira-Mar, 1922. Óleo sobre madeira,17,6 cm x 20,2 cm. Museu Nacional Picasso, Paris, França. Fonte: PHILIPPOT, E. et al. Picasso: mão erudita, olhar selvagem. São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2016. p. 105. O mesmo artista foi capaz de criar uma série de pinturas, com uma proposta de reinterpretação da realidade visível, e que foi chamada de Cubismo, em que as figuras humanas retratadas não tinham qualquer relação com a forma humana que vemos no nosso dia a dia. Arte e belo Pablo Picasso. Três Músicos, 1921. Óleo sobre tela. 200,7 cm x 222,9 cm. The Museum of Modern Art (MoMA), Nova Iorque (Estados Unidos). Fonte: adaptado de: <https://cdn.pixabay.com/photo/2016/09/24/06/37/picasso- 1691133_960_720.jpg>. Acesso em: 3 abr. 2019. O objetivo de estudar o conceito de beleza serve para entender como a Arte Moderna, e em grande parte a Arte Contemporânea, abandona a busca da beleza em suas obras. A estética corresponde ao estudo da percepção e das sensações que temos da realidade. A beleza é um julgamento dessas percepções e sensações. Assim, podemos afirmar que o que aprendemos com os estudos de estética sobre a beleza é que esta é um conceito subjetivo, temporal e sujeito às condições culturais e sociais de quem faz avaliações e julgamentos estéticos. Para compreender esse conceito é necessário estudar a filosofia que gerou essas propostas. Vamos ver dois filósofos que se dedicaram a estudar o conceito de beleza: Platão e Immanuel Kant. O conceito de beleza O conceito de belo para Platão (que viveu entre os séculos IV e III a.C. na Grécia) é aquele que define beleza como uma ideia, ou seja, algo criado e manipulado exclusivamente pela mente humana. Isso pode parecer atualmente um tanto redundante, mas foi uma contribuição gigantesca no desenvolvimento da filosofia e da capacidade de criação de conhecimento humano. É porque, com essa posição, retira-se do campo do mundo místico ou religioso a concepção de beleza. Essa noção é usada para mostrar que “ideia” é algo eminentemente humano e sujeito a vontades, desejos, culturas, hábitos, preconceitos e relações entre as pessoas. Portanto, a beleza, sendo uma ideia e não algo natural, também é uma consequência da existência humana no mundo. O conceito de beleza O filósofo alemão Kant (1724-1804) vai além e afirma que a beleza é uma experiência desinteressada, que deve manter uma distância física do que é observado, para que o gosto possa ser aplicado plenamente e somente depois decidir-se sobre o que é e o que não é belo. Nesse sentido, o que é belo é ideal. A idealização (esse é um conceito baseado nas propostas de Platão) pode ser interpretada como o oposto do que é prático e real. Por isso, a beleza para Kant tem o valor de algo que se mantém inatingível no plano real e que pode ser vivenciado de outras maneiras, como nas artes. Para isso, o trabalho artístico não deveria ter utilidade prática. O gosto seria então, como consequência, a capacidade de julgar um objeto ou modo de representação de alguma coisa de uma maneira completamente desinteressada, atendo-se apenas à capacidade de tal observação ser satisfatória ou insatisfatória. O conceito de beleza Os primeiros artistas modernos começam a se distanciar dessa busca obstinada pela beleza. Eles continuam a querer que o público compreenda e aceite suas obras, é claro, mas não mais porque são belas, no sentido estrito que a Academia de Belas Artes de Paris exigia. E mesmo as primeiras obras modernas tinham fortes traços da beleza que impregnava as obras clássicas: a pintura bem- acabada, com grande qualidade de detalhes, feita com esmero, um controle qualificado da perspectiva que simulava tridimensionalidade, entre outras coisas. Mas a continuidade acaba aí. O quadro de Manet intitulado Olympia é um exemplo, como veremos a seguir. O conceito de beleza O quadro ao lado, de Édouard Manet, foi apresentado à Academia de Belas Artes de Paris em meados do século 19 e foi rejeitado pelo júri, que o considerou inaceitável, apesar das semelhanças com obras do passado. O motivo: alguns aspectos formais diferentes e o que ele está retratando. O conceito de beleza Édouard Manet. Olympia, 1863. Óleo sobre tela. 130,5 cm x 190 cm. Museu D’Orsay, Paris (França). Fonte: <https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/c/ca/Edouard_Manet_038.jpg>. Acesso em: 18 jan. 2019. A retirada do critério da beleza pelos grupos que formaram a Arte Moderna não eliminou o problema da estética, mas colocou essa questão em outro plano. O que significa que a arte tem uma estética, mas que não se concentra (pelo menos para a maioria dos artistas) mais no aspecto do belo. É importante não confundir a estética de que tratamos aqui com as promessas dos estúdios de estética e laboratórios de cosmética que proliferam em todo lugar, com produtos que prometem beleza plena e fácil. Eles se resumem ao alcance de um padrão de beleza bastante delimitado e popularizado de todas as maneiras possíveis. O conceito de beleza Segundo o filósofo Immanuel Kant, para uma obra de arte ser considerada como tal, ela não deve ter uma finalidade e, mesmo que tenha sido feita com tal finalidade, o observador deve retirá-la desse contexto para ser arte. Que finalidade é essa? a) Finalidade utilitária. b) Finalidade expositiva. c) Finalidade artística. d) Finalidade em si própria. e) Possibilidade de se transformar em arte. Interatividade Segundo o filósofo Immanuel Kant, para uma obra de arte ser considerada como tal, ela não deve ter uma finalidade e, mesmo que tenha sido feita com tal finalidade, o observador deve retirá-la desse contexto para ser arte. Que finalidade é essa? a) Finalidade utilitária. b) Finalidade expositiva. c) Finalidade artística. d) Finalidade em si própria. e) Possibilidade de se transformar em arte. Resposta Como a arte é vista dentro da sociedade ocidental atualmente? Há um consenso, construído há muito tempo, de que uma obra de arte possui uma aura, uma espécie de valor intangível, nem visível nem mensurável, que a torna algo único, quase místico. Esse endeusamento da obra de arte, em teoria, não pode ser corrompido pelo corpo humano, aos olhos da maioria das pessoas que a admiram dessa maneira. Tocar uma pintura ou uma escultura seria como contaminá-la, retirar um pouco do seu valor mítico e místico. A sociedade impõe esse comportamento em relação à arte. E quando um comportamento é imposto ou aceito pela coletividade, ele é muito difícil de ser alterado por um indivíduo apenas. Arte e sociedade Várias obras de arte modernas e contemporâneas foram feitas para serem tocadas e sentidas com o corpo humano. Artistas modernos, e principalmente os contemporâneos, seguiram esse caminho. No Brasil apareceram inúmeras obras nessa vertente, como os objetos relacionais de Lygia Clark (1920-1988), artista brasileirareconhecida internacionalmente. Arte e sociedade Lygia Clark. Bicho, caranguejo duplo, 1961. Alumínio. Coleção Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo. Fonte: ZANINI, W. (org.). História geral da Arte no Brasil. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. p. 671. Há belas iniciativas de tornar a arte mais acessível a todos e diminuir a distância criada por essa relação entre sociedade e arte. Existem em vários museus pelo mundo exposições que também são feitas para serem usufruídas por pessoas que possuem alguma limitação sensorial e/ou física. Um exemplo é o Programa Educativo para Públicos Especiais (PEPE), da Pinacoteca do Estado de São Paulo, no qual há exposições elaboradas especificamente para serem tocadas por pessoas com deficiência visual. O conteúdo é composto por esculturas modernas brasileiras expostas na Pinacoteca e que são capazes de resistir ao desgaste gerado pelo toque de mãos humanas. Uma delas é a obra de Rodolfo Bernardelli (1852-1931), cuja escultura Moema representa a índia romantizada e de morte trágica no romance de Santa Rita Durão, o Caramuru. Arte e sociedade Arte e sociedade Rodolfo Bernardelli. Moema, 1895. Bronze. 25 cm x 218 cm x 95 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo (Brasil). Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedi a/commons/0/02/Rodolfo_Bernardelli_ -_Moema.jpg>. Acesso em: 17 jan. 2019. Então, chegamos ao ponto inicial dessa abordagem: essa proteção da obra artística, com seus seguranças atentos, suas faixas isolantes no piso delimitando até onde podemos nos aproximar, os vidros protetores (alguns deles blindados), os avisos de “não toque” ou “não fotografe com flash” e as onipresentes câmeras vigilantes significam que estamos diante de um objeto diferente de todos os outros com que convivemos no nosso dia a dia. É um objeto que, dentro da nossa sociedade, é tratado com idolatria, como também são os vários objetos de valor religioso ou financeiro. É essa idolatria que revela qual o papel que a produção do artista tem na nossa vida: a obra de arte possui, desde antes do advento da Arte Moderna, um status que a posiciona como algo inatingível, que somente alguns têm o direito de se aproximar, manipular ou, o mais importante de todos, possuir. Arte e sociedade Como a arte, de um objeto de acesso altamente controlado, conhecido por pouquíssimas pessoas (às vezes somente duas, o artista e o comprador da obra), de alcance extremamente restrito, tornou-se um bem popular de consumo de massa, atingindo milhões de pessoas todos os dias? Apesar de termos visto anteriormente neste curso que obras de arte ainda têm uma aura que as torna inatingíveis, há um fenômeno relativamente recente e que mudou a maneira como se consome arte. De um objeto cultuado, limitado a uma elite da sociedade, a arte, ou algo relacionado a ela, tornou-se um objeto da cultura de massa. Cultura de elite e cultura de massa A princípio, quando a arte começa a ser reconhecida como algo diferente de objetos e espaços utilitários e, como consequência, ganha autonomia e reconhecimento social, a ela só tem acesso uma elite, em qualquer dos países ocidentais europeus. Essa prática se dissemina por vários outros países que receberam sua influência. Mas mesmo em outras regiões, como na Ásia, objetos artísticos também não eram populares, no que se refere ao acesso a eles. Até essa época, a arte é uma cultura de elite. Comprar ou encomendar algum objeto artístico era muito caro. Atualmente, inúmeras obras de arte ainda são completamente inacessíveis à maioria da população, mas algo mudou desde meados do século 19. A mudança está no uso de temas populares em uma obra dentro de um movimento artístico e a popularização do acesso à arte, que pode se manifestar de diversas maneiras. Cultura de elite e cultura de massa Foi efetivamente com a Arte Moderna que os temas populares do cotidiano, urbano ou rural, da vida das pessoas mais comuns, tanto as de classe média quanto os pobres, ou os irremediavelmente miseráveis, foram transformados em assuntos dignos para serem retratados e levados para os salões de exposição. Mas lembremos que essa atitude não fez com que essas obras fossem transformadas em produtos de consumo de massa. Assim, a popularização começa com a Arte Moderna, mas no seu conteúdo, e não no seu acesso. A popularização dos temas abordados pelos artistas não deve ser confundida com a expansão gigantesca do consumo de bens artísticos. Cultura de elite e cultura de massa: os temas populares A popularização do acesso à arte começou com a ampliação da entrada em museus e galerias a partir do século 18 (lembre-se de que a maioria das obras de arte ainda era algo exclusivo até o século 19) e, mais tarde, com a produção em massa de objetos feitos por artistas ou que usam imagens de obras produzidas por artistas plásticos. Vamos falar primeiro da transformação da arte em cultura de massa. Por cultura de massa entenda-se um tipo de conhecimento que é facilmente assimilado por milhões de pessoas e que, para atingir esse número grande de pessoas, é disseminado e espalhado em mídias de grande alcance, como internet, televisão, rádio, cinema, publicações impressas etc. Lembre-se de que, até meados do século 19, a maioria dessas mídias sequer existia, portanto, popularizar o acesso à arte era algo extremamente difícil de acontecer. Cultura de elite e cultura de massa: a ampliação do acesso à arte Observe o saleiro duplo ao lado: ele é criação de Romero Britto, artista brasileiro de renome internacional. É um dos objetos feitos com características da obra desse artista para ser vendido a preços mais acessíveis. Como ele, e isso não faz muito tempo, outros artistas também produzem objetos para serem vendidos em grande quantidade. Cultura de elite e cultura de massa: a ampliação do acesso à arte Romero Britto. Saleiro duplo, 2009. Cerâmica, tinta e plástico. 7 cm x 10 cm x 6,5 cm. No detalhe, a separação dos dois saleiros. Fonte: autor. A valorização do objeto artístico é algo comum e que o torna especial, algo que deve ser protegido e, ao mesmo tempo, idolatrado. Essa descrição da aura que existe em torno da arte define qual tipo de relação? a) A relação entre arte e sociedade. b) A relação entre arte e artista. c) A relação entre arte e mercado financeiro. d) A relação entre o artista e os materiais que ele utiliza. e) A relação entre sociedade e mercado financeiro. Interatividade A valorização do objeto artístico é algo comum e que o torna especial, algo que deve ser protegido e, ao mesmo tempo, idolatrado. Essa descrição da aura que existe em torno da arte define qual tipo de relação? a) A relação entre arte e sociedade. b) A relação entre arte e artista. c) A relação entre arte e mercado financeiro. d) A relação entre o artista e os materiais que ele utiliza. e) A relação entre sociedade e mercado financeiro. Resposta Até o surgimento das primeiras exposições abertas ao público, inclusive da Academia, obras de arte, como uma pintura encomendada por alguém (nobre, rico ou clero), só eram acessíveis se estivessem em lugares onde o público pudesse entrar, como uma igreja, por exemplo. Isso significa que as demais obras de arte tinham um público consumidor extremamente reduzido. Pinturas, esculturas, afrescos, tapeçarias, móveis ricamente ornamentados, livros com ilustrações sedutoras e convincentes, tudo era restrito a quem encomendava esses trabalhos ou a quem conseguia posteriormente comprá-los (ou quando, em uma guerra, saques levavam esses tesouros para um novo proprietário). As primeiras exposições de arte abertas ao público Quando a arte começa a ser exposta em eventos abertos ao público, mesmo que especializado, ela ainda segue, por muito tempo, de alcance restrito. As coleções particulares,de pessoas ricas, nobres ou religiosos ficam por muito tempo fora do alcance da maioria da população, até mesmo aquela mais letrada, capaz de compreender o alcance daquelas obras. Aos poucos, desde a segunda metade do século 18, começam a surgir instituições e espaços destinados a fazer exposições abertas ao público em geral: começam a surgir os museus. Eles se tornam, ao longo do tempo, o principal meio de popularização do acesso à arte. As primeiras exposições de arte abertas ao público Os primeiros museus eram de história natural e guardavam todo tipo de objeto que pudesse ter alguma utilidade ou informação importante dentro do contexto do colonialismo, como animais empalhados, plantas e frutas secas, objetos de civilizações distantes (tudo trazido de outros continentes), e também desenhos, pinturas e esculturas. Boa parte desse material era rica fonte para os colonizadores se manterem informados sobre as colônias que mantinham na África, na Ásia e nas Américas. Eram espaços mantidos dentro da ideia do Iluminismo e do Enciclopedismo, ideologias que estimulavam o acúmulo de conhecimento como forma de engrandecimento pessoal e das nações, e que tinham uma profunda relação com o colonialismo. As primeiras exposições de arte abertas ao público O Museu Britânico, situado em Londres, Inglaterra, por exemplo, foi criado em 1753, com uma coleção organizada pelo Estado britânico e aberto ao público. Seu acervo se parecia mais com o de um museu de história natural. Posteriormente foi ampliando seu acervo de arte. As primeiras exposições de arte abertas ao público Museu Britânico, Londres, Inglaterra. Fonte: PublicDomainImages. https://pixabay.com. Acesso em 01 jun. 2019. O outro fenômeno, bem mais recente, tem a ver com a edificação que chamamos de museu. Até a segunda metade do século XX, podemos afirmar sem receio que uma construção feita para ser um museu era um espaço que, quando bem idealizado e construído, é agradável para o usuário e contribui para preservar as obras do acervo. Mesmo que fossem ambientes que chamassem a atenção por sua qualidade, não deveriam competir com as obras. Essa situação começa a se modificar a partir de quando surge uma arquitetura que, por várias razões, começa a chamar mais a atenção do que as obras que deveriam ser o foco da existência do museu. As primeiras exposições de arte abertas ao público O Masp (Museu de Arte Assis Chateubriand) foi criado em 1947. Com o aumento considerável do museu teve que ser construído um edifício maior, que se encontra na Avenida Paulista, em São Paulo. O projeto é da arquiteta Lina Bo Bardi e foi terminado de construir em 1968. As primeiras exposições de arte abertas ao público Museu de Arte de São Paulo (Masp), São Paulo (Brasil). Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9d/MASP_Brazil.jpg >. Acesso em: 27 fev. 2019. Mas o fenômeno arquitetônico que transforma os museus em astros do mundo da arte se amplia significativamente a partir dos anos 1990. Quando o arquiteto estadunidense, de origem canadense, Frank Gehry (1929- ) visitou a pequena cidade industrial de Bilbau, na Espanha, ele escolheu um terreno ao lado do rio para projetar a filial do Museu Solomon R. Guggenheim na Europa. Um terreno, aliás, sem qualquer importância aparente. Uma vez executado, o projeto se tornou quase de imediato a musa das revistas arquitetônicas e alçado, podemos comparar, a uma posição de pop star no mundo arquitetônico. A transformação do museu em uma edificação capaz de atrair investimentos, público e a atenção da mídia, tornou- se algo tão poderoso que inúmeras cidades ao redor do mundo começaram a usá-lo para se promover no cenário internacional. As primeiras exposições de arte abertas ao público Em pouquíssimo tempo, a cidade de Bilbau entrou no roteiro de viagens de turistas, locais e internacionais, principalmente para visitar o museu de formas inusitadas. Quais obras de arte estão dentro dele ou nos seus espaços de exposição externos? Isso não parece importar muito aos visitantes... As primeiras exposições de arte abertas ao público Museu Guggenheim, Bilbau (Espanha). Fonte: <https://cdn.pixabay.com/photo/2015/01/04/17/53/bilbao- 588501_960_720.jpg>. Acesso em: 27 fev. 2019. O Museu de Arte de Milwaukee foi ampliado pelo arquiteto Santiago Calatrava (1951- ), com o Pavilhão Quadracci e se tornou tão emblemático que parte de sua imagem é usada atualmente no logotipo do museu. As primeiras exposições de arte abertas ao público Santiago Calatrava – Architects & Engineers. Museu de Arte de Milwaukee (1994-2001), Wisconsin, Estados Unidos. PeterSesar – O wn work. Fonte: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=46973113>. Acesso em: 29 mai. 2019. O Museu de Arte Contemporânea de Niterói foi projetado por Oscar Niemeyer e, desde o início, sua forma e sua inserção na paisagem chamaram a atenção em todo o mundo. As primeiras exposições de arte abertas ao público Oscar Niemeyer. Museu de Arte Contemporânea (1996), Niterói, Brasil. Fonte: tamarcristina. <https://pixabay.com/pt/photos/museu-oscar-niemayer- niter%C3%B3i-539989/>. Acesso em: 29 mai. 2019. Os museus feitos a partir do final do século 20, em sua maioria, têm uma característica na sua construção que é peculiar. Que característica é essa? a) A arquitetura desses edifícios é pensada apenas para as exposições. b) A arquitetura desses edifícios é feita para não se destacar dentro da cidade. c) A arquitetura desses prédios é feita para destacar as obras de arte. d) A arquitetura dessas construções é muito discreta. e) A arquitetura desses edifícios é feita para chamar muito a atenção. Interatividade Os museus feitos a partir do final do século 20, em sua maioria, têm uma característica na sua construção que é peculiar. Que característica é essa? a) A arquitetura desses edifícios é pensada apenas para as exposições. b) A arquitetura desses edifícios é feita para não se destacar dentro da cidade. c) A arquitetura desses prédios é feita para destacar as obras de arte. d) A arquitetura dessas construções é muito discreta. e) A arquitetura desses edifícios é feita para chamar muito a atenção. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!