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FACULDADE SANTA MARCELINA MEDICINA NEONATOLOGIA E PEDIATRIA GERAL BEATRIZ BENTO GAIA DA SILVA BEATRIZ GENTILE LUCENA DE MEDEIROS COSTA MARIANNE CARNEIRO BARONE BOMFIM RENATO NAKAHARA Cuidados Hospitalares da Criança e Adolescente Vítima de Violência Orientado por Dra. Débora Holanda São Paulo/SP 2021 Sumário 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 4 2. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE O CUIDADO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 4 3. FORMAS DE VIOLÊNCIA ................................................................................................. 7 3.1 Apresentações da violência doméstica ........................................................................ 7 3.2 Formas peculiares de violência ................................................................................... 7 4. CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS ..................................................................... 8 5. COMO FAZER O ATENDIMENTO DE UMA VÍTIMA ........................................................ 8 5.1. Anamnese .................................................................................................................. 9 5.2. Exame físico ............................................................................................................... 9 5.2.1. Pele ...................................................................................................................... 9 5.2.2. Ossos/Fraturas................................................................................................... 10 5.2.3. Sistema Nervoso Central ................................................................................... 10 5.2.4 Outros ................................................................................................................. 10 5.3. Exames Complementares ........................................................................................ 10 5.3.1 Exames laboratoriais ........................................................................................... 10 5.3.2 Exames de imagem ............................................................................................ 10 5.4. Diagnóstico diferencial .............................................................................................. 11 5.5. Diagnóstico ............................................................................................................... 11 6. ABORDAGEM E ASSISTÊNCIA ..................................................................................... 11 6.1. Abrangência ............................................................................................................. 11 6.2. Atendimento integral ................................................................................................. 11 6.3. Atribuições dos profissionais .................................................................................... 12 6.4. Atendimento médico ................................................................................................. 12 6.5. Encaminhamentos .................................................................................................... 12 7. ASPECTOS LEGAIS ....................................................................................................... 13 7.1. Notificação ................................................................................................................ 13 7.2. Sigilo médico ......................................................................................................... 14 8. VIOLÊNCIA SEXUAL: ATENDIMENTO, EXAME FÍSICO, PROFILAXIA ........................ 14 8.1 Atendimento .............................................................................................................. 14 8.2. Exame físico ............................................................................................................. 17 8.3. Profilaxia ................................................................................................................... 18 8.3.1. Esquema para PEP na pediatria ........................................................................ 20 8.3.2 Esquema para PEP para Adultos ou >12 anos ................................................... 20 8.3.3 Posologia das medicações ARV na população pediátrica ................................... 21 9. ACOMPANHAMENTO .................................................................................................... 21 10. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 22 11. REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 23 1. INTRODUÇÃO A Constituição Federal brasileira e a Organização das Nações Unidas consideram criança, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. As violências contra crianças e adolescentes são consideradas problemas de saúde pública e violação dos direitos humanos, e incluem além do abuso sexual, maus-tratos físicos e emocionais e negligência. São muitos os números do drama social que abate vidas e trajetórias dos mais frágeis e vulneráveis. Dados do Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (ONDH/MMFDH) revelam que 81% dos casos de violência contra crianças e adolescentes ocorrem dentro de casa, embora também ocorra entre colegas e nas relações íntimas. No primeiro semestre de 2021 foram 50.098 denúncias. Mais de 93% das denúncias (30.570) são contra a integridade física ou psíquica da vítima, mas também contam com restrições de algum tipo de liberdade ou direito individual da criança e do adolescente, além da retirada de direitos sociais básicos, como proteção e alimentação. As violências estão entre as maiores causas de mortes de crianças e adolescentes e jovens de 1 a 19 anos, no Brasil. De acordo com a ABRASCO, a violência mais atendida nas unidades de saúde, contra crianças e adolescentes de 0 a 13 anos, é o estupro, embora de 0 a 4 anos a negligência prevaleça. O sexo masculino é o gênero mais atingido e o agressor geralmente costuma ser um membro da família, sendo a mãe a principal agressora. Entre aqueles com 10 a 19 anos, a violência sexual é igualmente a mais sofrida, na maioria contra as meninas. As consequências vão desde distúrbios emocionais, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez não desejada, até a morte da adolescente, que tira sua própria vida ou falece na tentativa de um aborto clandestino. Isso demonstra a necessidade de se identificar precocemente todos os tipos de violência, de notificar, cuidar e amparar esse grupo vulnerável. 2. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE O CUIDADO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE A Constituição Federal de 1988, expõe em seu artigo 227 que: “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão". Em 13 de julho de 1990, foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA) no Congresso Nacional, sendo este um conjunto de normas que buscam regulamentar os princípios estabelecidos pelo artigo 277 da Constituição com o objetivo de garantir e proteger direitos básicos de crianças (até os 12 anos) e adolescentes (até os 18 anos)e, em casos excepcionais e quando disposto na lei, os mesmos direitos são aplicáveis até os 21 anos de idade (artigos 121 e 142). Ele foi instituído pela lLei Nº8.069, e neste documento existe uma descrição detalhada sobre os direitos desses indivíduos, entre eles são citados o Direito à vida e à saúde, como no seguinte artigo: • Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos. • § 1o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado do parágrafo único pela Lei no 13.257, de 2016) • Também são citados, no Capítulo II, o Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade: • Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. • Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. • Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. (Incluído pela Lei no 13.010, de 2014) Em resumo, essa lei assegura o direito à segurança, física e psíquica da criança e do adolescente, bem como o direito à vida, saúde, alimentação, lazar, educação, dignidade, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária. Além disso, o ECA prevê, sobre o Conselho Tutelar, órgão responsável por assegurar o cumprimento dos artigos descritos na lei. Há, também, artigos que garantem e prevê pena para quem transgredir os direitos das crianças e adolescentes. Desde quando foi promulgada em 1990, a Lei Nº8.069 sofreu algumas mudanças e foram adicionadas legislações complementares que aprimoraram o Estatuto da Criança e do Adolescente, como por exemplo: • Lei da Primeira Infância (Lei no 13.257, de 8 de março de 2016) implica o dever do Estado de estabelecer políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância que atendam às especificidades dessa faixa etária, visando a garantir seu desenvolvimento integral; • Lei Menino Bernardo (lei no 13.010, de 26 de junho de 2014) estabelece o direito da criança e do adolescente de serem educados sem o uso de violência/ e ou degradação física, moral ou psicológica; • Lei que instituiu a Escuta Especializada (Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017) - estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). • Lei nº 13.798, de 3 de janeiro de 2019: instituição da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência • Lei nº 13.812, de 16 de março 2019: alterou a idade mínima para viagens de crianças e adolescentes sem acompanhantes ou responsáveis de 12 para 16 anos. Também criou o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas. Em 2020, o Estatuto da Criança e do Adolescente completou 30 anos, e desde a sua criação o Brasil vivenciou importantes avanços, entre eles: • A redução histórica da mortalidade infantil, fazendo com que 827 mil vidas fossem salvas de 1996 a 2017. • Os avanços no acesso à educação. Em 1990, quase 20% das crianças de 7 a 14 anos (idade obrigatória na época) estavam fora da escola. Em 2009, a escolaridade obrigatória foi ampliada para 4 a 17 anos. E, em 2018, apenas 4,2% de 4 a 17 anos estavam fora da escola (1,7 milhão). • E a redução do trabalho infantil. Entre 1992 e 2016, o Brasil evitou que 6 milhões de meninas e meninos de 5 a 17 anos estivessem em situação de trabalho infantil. Entretanto, os avanços não foram suficientes para reduzir significativamente as desigualdades. Atualmente, milhões de crianças e adolescentes não tem acesso aos seus direitos no Brasil. Em relação a educação, os dados demonstram que milhares de estudantes passam pela escola porém não aprendem. Em 2018, 2,6 milhões de estudantes de escolas estaduais e municipais foram reprovados no País. As populações preta, parda e indígena tiveram entre 9% e 13% de estudantes reprovados, enquanto entre brancos esse percentual foi de 6,5%. Os dados de trabalho infantil também são bem expressivos. Segundo a PNAD continua de 2016, último dado disponível, há mais de 2,4 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil no País Com a Pandemia do COVID-19, espera-se que as desigualdades ampliem-se ainda mais, tendo em vista as limitações de acesso à internet e o aumento da violência domestica em períodos de isolamento social, onde crianças e adolescentes correm o risco de estarem mais expostos a situações de violência física, sexual e psicológica. 3. FORMAS DE VIOLÊNCIA A violência doméstica contra crianças ou adolescentes, também conceituada como abuso ou maus-tratos é definida como toda ação ou omissão que prejudique o bem- estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de pessoas da família. 3.1 Apresentações da violência doméstica • Negligência: omissão de cuidados básicos para o desenvolvimento físico, emocional e social da criança ou adolescente. Ex.: falta de atendimento aos cuidados necessários com a saúde e descuido com a higiene. Sua forma extrema caracteriza o abandono. • Violência ou abuso físico: consiste no uso da força física intencional, praticada com o objetivo de ferir, lesar ou destruir a vítima. • Violência ou abuso sexual: uso da criança ou adolescente para qualquer tipo de gratificação sexual. • Violência psicológica: submissão da criança ou adolescente a atos de ação ou omissão, agressivos, de caráter repetitivo, extensivo e deliberado. • Alienação parental: é uma forma de violência psicológica que consiste na interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores. • Síndrome de Munchausen: causada por terceiros, é uma forma de violência na qual o paciente é trazido para cuidados médicos, mas os sintomas e sinais que apresentam são inventados, simulados ou provocados por cuidadores. 3.2 Formas peculiares de violência • Violência química: administração de substâncias psicoativas, com o intuito de conter, controlar, inibir, dominar, subjugar, menosprezar ou culpabilizar a vítima. • Intoxicações e envenenamentos (raro): praticadas para causar dor, aquietar ou até mesmo matar. • Filicídio: é o assassinato de uma ou mais crianças por um ou ambos os pais, independentemente da idade da vítima. • Bullying é uma forma de violência psicológica praticada entre iguais (estudantes, por exemplo) que causa angústia ou humilhação a outro. 4. CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS Dentre as diversas formas de violência que atingem crianças e adolescentes, algumas são reconhecidas como enfermidades, estando identificadas no Código Internacional de Doenças (CID 10): T74 Síndromes de maus-tratos 74.0 Abandono 74.1 Sevícias físicas e síndrome da criança espancada 74.2 Abuso sexual 74.3 Abuso psicológico 74.8 Outras síndromes especificadas de maus-tratos 74.9 Síndrome não especificada de maus-tratos F68 .1 Produção deliberada ou simulação de sintomas ou de incapacidades, físicas ou psicológicas. Z61 Problemas relacionados com eventosnegativos de vida na infância 61.0 Perda de relação afetiva na infância 61.1 Remoção do lar na infância 61.2 Padrão alterado de relações familiares na infância 61.3 Eventos que originam a perda de autoestima na infância 61.4 Problemas relacionados com abuso sexual alegado de uma criança por uma pessoa de dentro de seu grupo 61.5 Problemas relacionados com abuso sexual alegado de uma criança por pessoa de fora de seu grupo 61.6 Problemas relacionados com abuso físico alegado da criança 61.7 Experiência pessoal amedrontadora na infância 61.8 Outros eventos da vida pessoal negativos na infância 61.9 Evento pessoal negativo não especificado na infância Z71 .1 Pessoa com medo de uma queixa para a qual não foi feito diagnóstico Afecção não provada; “O problema era estar normal”; “Sadio problemático”. A vítima de maus-tratos ou abuso pode ainda, apresentar como diagnóstico associado traumas físicos, lesões de pele e sequelas neurológicas e psíquicas. É preciso complementar a codificação conforme o suposto agressor (esposo ou companheiro, pais, conhecido ou amigo, autoridades oficiais ou outra pessoa seja especificada ou não) e o local da ocorrência (residência, habitação coletiva, escolas, ou outros locais). 5. COMO FAZER O ATENDIMENTO DE UMA VÍTIMA O atendimento a crianças e adolescentes deve ser embasado em: anamnese, exame físico, exames complementares, atuação da equipe multiprofissional, preenchimento do prontuário, classificação dos casos, encaminhamentos e notificação caso seja necessário. 5.1. Anamnese O exame físico nem sempre apresenta alterações que evidenciem violência, sendo a anamnese crucial para coletar informações e observar o comportamento da criança e do acompanhante. A partir disso, é possível suspeitar do diagnóstico de violência. Para entender se o trauma ou o ferimento é intencional ou acidental é importante solicitar a descrição detalhada do que aconteceu com a criança e ficar atento para discrepâncias e incompatibilidades entre a história e os achados no exame físico. Deve-se conversar em separado com cada responsável para que cada um dê sua versão, inclusive com a criança, se possível buscando sempre entender condições sociais da família, tratamento inadequado, medos, explicações contraditórias, omissões. 5.2. Exame físico No exame físico inicial algumas atitudes do paciente podem chamar atenção: apatia, tristeza, temerosa, indefesa, agressividade, isso tudo pode funcionar como uma resposta aos maus tratos sofridos. Além de observar se há atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e desnutrição, que também podem estar associados com a violência. 5.2.1. Pele Costuma ser acometida com grande frequência, podendo ser encontradas equimoses, queimaduras e escoriações. A localização, o número, o tamanho e a coloração das lesões podem auxiliar na diferenciação entre lesões provocadas e acidentais. O formato da lesão sugere o objeto utilizado na agressão e a coloração dessa lesão é indicativo do tempo de ocorrência dela, sendo a lesão roxa mais recente (menos de 3 dias), a lesão amarela esverdeada entre 3 e 7 dias e a lesão amarelo-amarronzada mais tardia (entre 7 e 30 dias). A atividade humana é predominantemente frontal, assim os traumas não intencionais costumam provocar lesões nas áreas de extensão e extremidades, como cotovelo, palma das mãos, parte anterior das coxas e pernas, região frontal e mento. Uma das causas mais comuns de queimaduras acidentais na infância é o escaldo, sendo as áreas de flexão as mais acometidas. Quando esse tipo de queimadura afeta mais nádegas, áreas de flexão, pés e mãos, suspeita-se de violência. Lesões de formato numular podem sugerir queimaduras por cigarro. 5.2.2. Ossos/Fraturas As fraturas devem ser condizentes com o desenvolvimento neuropsicomotor da criança e com o estágio de consolidação das fraturas: dor e edema até 10 dias, formação periostal entre 1 e 2 semanas, formação de calo mole em 2 a 3 semanas e calo duro em 3 a 6 semanas. São sugestivas de maus-tratos quando: múltiplas, bilaterais e em diferentes estágios de consolidação. 5.2.3. Sistema Nervoso Central Hematomas, lacerações ou escoriações em couro cabeludo devem alertar para trauma craniano e lesão do sistema nervoso central. Convulsões, letargia ou coma sugerem hemorragias epidural, subdural ou subaracnóidea com risco de morte. A síndrome do bebê sacudido caracteriza-se por lesões do sistema nervoso central provocadas por chacoalhamento em crianças abaixo de 3 anos, tendo o exame de fundo de olho importância no diagnóstico. 5.2.4 Outros Tórax agredido pode resultar em pneumotórax e hemotórax, enquanto que abdome agredido pode causar perfuração de vísceras ocas e ruptura de fígado e baço. Na cabeça os olhos funcionam como indicativo de lesão intencional em caso de aparecimento de edemas e hematomas, assim como deformidades na orelha (“orelha em lata”), lesões da mucosa oral e amolecimento dos dentes. 5.3. Exames Complementares 5.3.1 Exames laboratoriais • Hemograma completo com plaquetas; • Bioquímicos: CPK (quase sempre aumentado em casos de traumas); amilase e Gama-GT (trauma abdominal); TGO; TGP; • Exame qualitativo de urina: urina tipo I; • Sangue e Urina para intoxicações exógenas. 5.3.2 Exames de imagem Quando se suspeita de violência contra crianças menores de 2 anos e que não se comunicam, todas as radiografias devem ser realizadas mesmo não havendo evidências de trauma esquelético ao exame físico. Em crianças maiores que se expressam verbalmente as radiografias só devem ser realizadas nas áreas suspeitas doloridas ou com limitação de movimento. Ultrassom transfontanelar e/ou de abdome apenas se houver suspeita de agravo, assim como tomografia computadorizada de tórax, crânio e/ou abdome. Ressonância nuclear magnética de crânio caso seja necessário. 5.4. Diagnóstico diferencial • Hematomas: considerar os traumas acidentais que podem causar hematoma como distúrbios de coagulação, meningococcemia, sepse, erros inatos do metabolismo, envenenamento por monóxido de carbono. • Fraturas: traumatismo de parto, osteomielite, intoxicação por vitamina A, osteogênese imperfeita, sífilis congênita, hiperostose cortical infantil (Doença de Caffey ou Síndrome de Caffey-Silverman) e escorbuto. • Hemorragias retinianas: trauma de parto, acidentes automobilísticos; • Hemorragia intracraniana: rotura de vasos da subaracnóide por malformações ou aneurisma é muito rara em crianças abaixo de três anos. A ausência de hemorragia retiniana e a localização de hemorragia na bainha do nervo óptico distinguem casos de hemorragia por malformação vascular da síndrome do bebê sacudido. 5.5. Diagnóstico Depois de relacionar a anamnese, a suspeita clínica e os achados do exame físico e laboratorial chega-se ao diagnóstico médico de abuso ou violência física. 6. ABORDAGEM E ASSISTÊNCIA 6.1. Abrangência Há sempre duas ou mais vítimas envolvidas na violência contra criança ou adolescente: essencialmente a vítima e a pessoa que praticou o ato. Os profissionais responsáveis pelo atendimento utilizam disso para elaborar um plano de abordagem que se adapta a cada situação. 6.2. Atendimento integral O atendimento de situações com suspeita de maus-tratos a crianças e adolescentes deve ser realizado, necessariamente, por uma equipe multiprofissional (assistente social, saúde mental, enfermagem), capacitada, integrada, institucionalizada, ciente de suas atribuições e capaz de interagir com outras instituições. 6.3. Atribuições dos profissionais • Acolhimento: ouvir atentamente, não julgar e discutir o caso com outros profissionais da equipe. • Proteção: não agir precocemente ou de maneira impulsiva, pensar em formas de intervenção e encaminhamento (medidas protetivas) junto à equipe. • Intervenção:a violência deve ser vista como problema familiar e social, portanto cabe à equipe interprofissional decidir a melhor forma de intervenção e encaminhamento dos casos. • Prevenção: apesar de difícil alterar o comportamento de alguém, é crucial implementar ações de prevenção primária no atendimento às vítimas de maus-tratos na intenção de reduzir a incidência da violência contra crianças e adolescentes. • Sigilo e confidencialidade: são princípios éticos de valor inquestionável previstos no Código de Ética Médica, e também previstos na legislação civil e criminal. 6.4. Atendimento médico Não existe impedimento legal ou ético para o atendimento imediato de vítimas de violência. Diante de uma situação de violência contra a criança é dever do médico: identificar ou levantar suspeita de violência, prestar o atendimento emergencial e/ou ambulatorial e interagir com os demais membros da equipe interprofissional. 6.5. Encaminhamentos Todos os casos suspeitos devem receber Todos os casos suspeitos devem receber: avaliação do domicílio e da dinâmica familiar, levantamento da situação escolar, encaminhamentos da vítima e agressores para atendimentos psicoterapêutico, social e de proteção legal quando necessário, reavaliação em tempo breve da situação de violência e do resultado dos encaminhamentos. Os casos suspeitos ou confirmados de violência podem ser divididos em níveis de gravidade havendo uma conduta adequada para cada situação. • Lesões leves ou sem risco de revitimização: a suposta vítima de violência apresenta lesões leves, a agressão não necessita de tratamento ambulatorial ou hospitalar e não é detectado risco de revitimização. A conduta inclui: orientação sobre as consequências da violência e retorno para a moradia com os responsáveis legais. • Lesões graves ou com risco de revitimização: considerada quando a vítima se encontra em regular estado geral, o agressor tem antecedentes de violência e/ou a família é incapaz de proteger a vítima. Nesse caso é importante garantir atendimento, internação sob medida de proteção para afastamento do agressor, avaliação geral da criança, levantamento de ocorrências anteriores e possibilidade de tratamento do agressor e das consequências da vítima. Além de notificar ao CT e/ou Ministério Público (MP), SINAN e Vara da Infância e Juventude (VAJ), sendo que a alta hospitalar depende da decisão do juiz da vara. • Violência gravíssima e risco de morte: a vítima se encontra em mal estado geral, o agressor possui transtorno de comportamento, é necessário tratamento hospitalar ou acompanhamento psicológico e a família incapaz de proteger a vítima. Nesse caso é preciso realizar o atendimento imediato, internação hospitalar com afastamento do agressor, notificar ao SINAN, CT ou MP e VAJ, além de solicitar presença do membro do CT. Independentemente do nível de gravidade, por ser causa justa e dever legal, os casos suspeitos de violência devem ser notificados ao Conselho Tutelar (CT) do local de moradia da suposta vítima e ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN. Além disso, toda vítima de violência deve ser encaminhada para tratamento psicoterapêutico, devido a alta possibilidade de deixar marcas psicológicas profundas. Em caso de violência doméstica, a família deve ser avaliada e trabalhada como um todo para que seja possível extinguir o problema. 7. ASPECTOS LEGAIS 7.1. Notificação Notificar um caso, mesmo que só suspeito, é um dever legal do profissional. E para que isso ocorra da melhor maneira possível para a vítima é preciso analisar o momento oportuno para tal atitude, e também é aconselhável que seja feita pelos próprios responsáveis legais ou pela instituição. Por ser um dever legal do médico previsto no artigo 28 do Código de Ética Médica, a notificação deve ser feita em noma da instituição onde a vítima está sendo atendida, para se evitar que o agressor intimide ou ameace o profissional. Além disso, o artigo 245 do ECA relata como infração administrativa a não comunicação de tais à autoridade. Vale lembrar que a notificação não é uma denúncia policial, tendo apenas a função de solicitar que o Poder Público cumpra com a sua responsabilidade. Todos os casos devem ser notificados ao Conselho Tutelar, e em casos de omissão, a notificação deverá ser encaminhada para a Vara Infância e Juventude do local onde a vítima reside, ou ao Ministério Público, SINAN por meio da ficha de notificação/ Investigação individual de violência doméstica, sexual e outras. É muito importante que após a alta hospitalar a vítima seja encaminhada para acompanhamento multiprofissional, assim como seus familiares. Vale ressaltar que esse acompanhamento deve ser feito da maneira mais próxima possível, para assegurar que novos casos de violência não venham a ocorrer enquanto as medidas legais não são efetuadas. 7.2. Sigilo médico O sigilo (Capitulo 1 - inciso XI e arts, 73, 74 e 78 do Código de Ética Médica, 2010) e confidencialidade (art. 5°, inciso X, da Constituição Federal) são princípios éticos de valor inquestionável para o melhor atendimento. As informações contidas no prontuário devem ser resguardadas por todos que tenham acesso a elas. Compreende as informações relatadas ao profissional, percebidas no decorrer do atendimento e descobertas e que o paciente não tinha intenção de revelar. Pode ser rompido em caso de autorização expressa do paciente, justa causa e dever legal. 8. VIOLÊNCIA SEXUAL: ATENDIMENTO, EXAME FÍSICO, PROFILAXIA 8.1 Atendimento O Manual de Atendimento as Crianças e Adolescente Vítimas de Violência de 2011 define a violência sexual como “é qualquer tipo de atividade de natureza erótica ou sexual que desrespeita o direito de escolha de um dos envolvidos. O direito de escolha pode ser por coação, ascendência ou imaturidade”. Pode ser manifestada através de carícias, manipulação de genitália, mama ou ânus, “voyerismo”, pornografia, favorecimento de prostituição, exibicionismo, formas de exploração sexual ou até o ato sexual em si, com penetração vaginal ou anal. A violência sexual pode ser dividida em forma aguda e forma crônica: • Violência sexual aguda: acomete, principalmente, mulheres adultas e adolescentes, em que o agressor geralmente é desconhecido ou está distante do núcleo familiar, sendo um principal exemplo deste os assaltos sexuais que ocorrem em espaços públicos, estando associados a ameaças ou violência física. Este tipo demanda um atendimento em serviço médico de urgência quase que imediato, para início de profilaxias contra as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e gestações indesejadas; • Violência sexual crônica: são aquelas situações que ocorrem por períodos de tempo mais extensos e de forma progressiva, acometendo principalmente crianças, com o agressor sendo próximo da criança e, geralmente, faz parte da família e, raramente tem demandas de atendimento em pronto-socorro, por não terem tanta incidência de violência física. O atendimento inicial pode ser feito em serviço ambulatorial A ocorrência de violência ou abuso sexual estão sempre expondo a vítima a riscos de contaminação por ISTs ou gestação indesejada, desta forma, é necessário o início dos protocolos relacionados a exposição do paciente a HIV, HPV, Sífilis, Hepatite B, Tétano entre outras, além do preenchimento obrigatório da Ficha de Notificação Individual do SINAN, que é parte da investigação de violência doméstica, sexual ou outras. O atendimento dos profissionais deve ser de forma multidisciplinar, em equipe, institucionalizada, com maior clareza dos papéis evitando invasões de área de atuação e com relação a outras instituições, como as áreas jurídica e social. De todas as áreas que podem se envolverem na investigação de violência sexual, o atendimento médico deverá sempre ter uma prioridade, visandomanter a vida e integridade física do paciente, sendo prestado imediatamente, independente de confirmação de violência ou acionamento prévio de autoridade policial e judicial, não devendo nunca ser negado. A equipe de saúde deve estar bem-preparada, ciente dos protocolos envolvidos neste atendimento e estabelecendo uma boa comunicação entre os envolvidos, buscando preservar a integridade moral, psicológica e física do menor de idade. A coleta de história e exame físico devem ser registrados no prontuário do paciente, preservando a confidencialidade e sigilo do paciente, ao mesmo tempo que bem descritos para fornecerem dados para a elaboração do laudo indireto de exame de corpo de delito, estando o mais próximo possível daquilo que foi relatado, anotando observações sobre o comportamento dos envolvidos (antes, durante e depois da anamnese). O acolhimento deve ser isento de julgamento por parte do profissional, em um espaço físico adequado que permita privacidade e evite uma exposição desnecessária desse paciente, com uma escuta aberta, atenciosa e acolhedora. Em caso de gravidez infantil, se caso suspeito, deve-se tomar medidas para evitar sua confirmação, administrando-se 2 comprimidos de Levonorgestrel de 0,75mg VO em até 72 horas após a relação. Caso seja confirmada, tem-se a autorização para realização do aborto legal, que pode ser negado caso não seja feito um boletim de ocorrência sendo esta uma decisão da vítima, após explicar os riscos e benefícios, havendo um preenchimento do Termo de Consentimento Livre, registrando de forma clara a decisão da vítima, que deve estar acompanhada de um responsável. Segundo Portaria n° 1.508 de 2005, de Procedimento ao Aborto Legal, é dever: - I. Menores de 18 anos grávidas com direito ao aborto legal, devem ser acolhidas e esclarecidas sobre o seu direito à escolha da opção do abortamento, sendo necessária a autorização de responsáveis ou tutores para a solicitação do procedimento. - II. Menores de 14 anos, necessita adicionalmente de uma comunicação ao Conselho Tutelar e acompanhamento do processo, com sua solicitação de agilização. 8.2. Exame físico Deve-se examinar o corpo inteiro da vítima, buscando por lesões ou cicatrizes que indiquem violência física, como hematomas, queimaduras entre outros. Nas crianças muito pequenas, deve-se ter um apoio a partir de outros métodos diagnósticos pela maior dificuldade de avaliar sinais de irritação na região peritoneal. É necessário que, na urgência, tenha-se uma avaliação da diurese, visto que, por conta da anatomia genital da criança, tem-se uma maior probabilidade de lesões do trato urinário, devendo-se excluir a hematúria. O exame físico deve abranger o corpo todo, com muito cuidado, identificando as lesões se presentes, porém, ainda que obrigatório, não deve ser mais um trauma para a criança, devendo o profissional ser compreensivo com as angústias do paciente e, se necessário, o exame deverá ser realizado sob narcose em centro cirúrgico. A avaliação de sinais de irritação peritoneal deve ser realizada principalmente em crianças de sexo feminino, que possuem maiores alterações em caso de violência (sendo mais bem visualizado e diagnosticado em exames de imagem), sendo o diagnóstico importante visto que ruturas perineais pequenas podem significar grandes lacerações no fundo de saco vaginal, podendo causar hemorragia abdominal. O exame ginecológico pode ser feito sob narcose em centro cirúrgico, se necessário, sendo obrigatório na urgência, permitindo a exclusão de lesões sangrantes ao avaliar o fundo do saco vaginal em crianças, avaliando secreções, DSTs, a presença de gestação, se houve rotura de hímen recente e avalia a região anal, e, caso precise, são indicadas intervenções cirúrgicas imediatas. A colpovirgoscopia deve ser realizada apenas por profissional com experiência nesse tipo de procedimento. 8.3. Profilaxia As medidas profiláticas devem ser tomadas até 72 horas após o coito suspeito, e devem ser adotadas o mais precocemente possível, não havendo necessidade de esperar o resultado de exame de coleta cérvico-vaginais para se iniciar os tratamentos necessário. Passadas as 72 horas, as medidas são consideras ineficazes, assim como nos casos de abusos repetidos. Em relação as IST’s causadas por vírus, como Herpes Simples ou HPV (papiloma vírus humano), não há uma profilaxia pós exposição eficaz. Quando há traumatismo físico, a profilaxia de tétano deve ser feita. As medidas para IST’s não virais são: • Sífilis: penicilina benzatina intramuscular em dose única, e para alérgicos eritromicina via oral por 15 dias • Clamídia: azitromicina via oral em dose única • Cancro mole: azitromicina via oral em dose única • Gonorreia: ceftriaxona intramuscular em dose única • Tricomoníase: metronidazol via oral por 7 dias • Hepatite B: profilaxia deve ser feita somente em casos em que houve exposição a fluidos corporais (sêmen, sangue, muco vaginal). Pacientes que não foram vacinados ou desconhecem sua situação vacinal é necessário a administração de imunoglobulina anti-hepatite B (0.06 ml/ kg, intramuscular em dose única) e complementação do esquema vacinal. As medicações de quimioprofilaxia antirretroviral do HIV na Pediatria necessitam de uma avaliação mais criteriosa antes de serem indicadas, pois o seu uso é, relativamente, longo e apresenta efeitos colaterais significativos. Entre os critérios para a indicação de uso estão: somente em casos onde houve penetração vaginal ou anal, menos de 72 horas entre a exposição e início da medicação, status sorológico do agressor, quando o mesmo for conhecido, como indicado no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), podendo ser observado no fluxograma abaixo: Devido a toxicidade dos antirretrovirais é necessária à coleta dos seguintes exames: hemograma, AST, ALT, bilirrubinas, uréia, creatinina e glicemia no primeiro atendimento e repetir os exames após 15 dias e 30 dias do início dos ARV. Os tempos de coleta dos exames são: • 1º atendimento: hemograma, plaquetas, AST, ALT, bilirrubinas, glicemia, ureia e creatinina, HIV, AHbs-Ag, Anti-Hbs, Anti-HCV, Teste Treponêmico, VDRL; • 15 dias: apenas hemograma, plaquetas, AST, ALT, bilirrubinas, glicemia, ureia e creatinina; • 30 dias: hemograma, plaquetas, AST, ALT, bilirrubinas, glicemia, ureia e creatinina, HIV, AHbs-Ag, Anti-HCV, Teste Treponêmico, VDRL; • 90 dias: HIV, AHbs-Ag, Anti-HCV, Teste Treponêmico, VDRL; • 180 dias: HIV, AHbs-Ag, Anti-HCV. 8.3.1. Esquema para PEP na pediatria 8.3.2 Esquema para PEP para Adultos ou >12 anos 8.3.3 Posologia das medicações ARV na população pediátrica 9. ACOMPANHAMENTO As situações de violência, em especial de criança e adolescente, têm efeito duplo, pois além do fato agressivo em si, vai quebrar a relação do estímulo ao desenvolvimento. Podem exceder a possibilidade de compreensão e elaboração intelectual e afetiva desta criança ou adolescente, que toma culpa pelo ato agressivo do adulto em questão. Como consequência, há uma perda progressiva de seu amor-próprio e autoconfiança, passando a um processo de embrutecimento emocional, com a quebra do desenvolvimento psicossocial. Portanto é de extrema importância haver um acompanhamento e um acolhimento, ouvindo atentamente, sem julgar a partir de seus preconceitos, refletir sobre o caso e avaliá-lo com os outros profissionais da equipe. A escuta deve ser atenta, e a atitude, neutra, sem fazer perguntas em demasia ou questionar o que está sendo relatado, com observação de detalhes, sem se deixar influenciar por suas interpretações do ocorrido. Deixando claro para a vítima que ela não deve se sentir culpada ou envergonhada pelas situações sofridas. Além de documentar toda a avaliação de forma detalhada. Deve-seacompanhar o caso em todas as suas interfaces, participando das decisões quanto ao tratamento, encaminhamentos e medidas de proteção legal. Para dar continuidade ao acompanhamento, é preciso que os serviços de saúde e profissionais estejam capacitados para os cuidados clínicos e psicológicos de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violência, com protocolos e fluxos definidos, e rede de saúde com reuniões da equipe de saúde e intersetorial para avaliar a evolução e o prognóstico clínico e social do caso, entre outras ações para as crianças/adolescentes/família, para garantir eficácia nas ações de proteção, de cuidados e de prevenção. Atuar em equipe multiprofissional é recomendado e necessário nas situações de violência, uma vez que nenhuma instituição, indivíduo ou disciplina dispõe de todo o conhecimento, habilidades ou recursos para prover as necessidades das vítimas e suas famílias. Nos casos de violência doméstica é importante ressaltar que a família deve ser também avaliada quanto à pertinência do acompanhamento psicológico, a fim de que a questão seja trabalhada como um todo, para que se torne possível quebrar a perpetuação desse problema familiar. 10. CONCLUSÃO A violência sexual contra crianças e adolescentes é uma realidade de todo o Brasil e do mundo, mas poucas pessoas sabem lidar com a situação quando se deparam com ela. Inclusive profissionais da saúde, que contam com uma pequena abordagem da problemática na maioria nos cursos de graduação. Sendo assim, diante dos impactos sociais, emocionais psicológicos e cognitivos na saúde de crianças e adolescentes trazidos pela violência sexual, falar sobre tal, é fundamental para alertar as pessoas que o problema existe, e é através das denúncias que se consegue mensurar o problema e criar mecanismos para a proteção da criança e adolescente, e punição para os agressores. Portanto é de extrema importância identificar e denunciar casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, além de estar capacitado para atender as necessidades de amparar a vítima e por meios legais ser um colaborador para uma punição do agressor. A violência contra a criança e adolescente deve sempre ser investigada com cuidado e nunca descartada quando uma vítima que violência chega à unidade de saúde. O atendimento dessas vítimas deve ser feito de acordo com protocolos implementados para trazer segurança a elas e assegurar que todas as possíveis repercussões sejam remediadas. Os conceitos de violência e suas formas de manifestação buscam realçar os aspectos e as relações entre seus diferentes tipos e naturezas, de maneira a despertar a atenção dos profissionais para a identificação e a compreensão mais aprofundada do cuidado em quatro dimensões: acolhimento, atendimento, notificação e seguimento na rede de cuidados e de proteção social. Logo, os profissionais de saúde devem estar atento para suspeitar da violência doméstica e outras formas, assim como ter competência para os encaminhamentos devidos e a atenção às crianças, adolescentes e suas famílias. Ao orientá-los sobre as dimensões do cuidado, este trabalho busca compreender e auxiliar nossos colegas em relação ao tema e na busca por estar capacitado e oferecer uma rede que lhes dê não apenas suporte para o atendimento das crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências, mas também apoio técnico e emocional para uma atuação integral e integrada em seus serviços de saúde. 11. REFERÊNCIAS • Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Lei No 8.069 [S. l.], 13 jul. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 3 out. 2021. • Sobre Violência Contra Crianças e Adolescentes e Jovens no Brasil. [S. l.], 2019. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/noticias/posicionamentos-oficiais- abrasco/sobre-a-violencia-contra-criancas-adolescentes-e-jovens- brasileiros/40061/. Acesso em: 3 out. 2021.Nunes, Antonio Jakeulmo e Sales, Magda Coeli VitorinoViolência contra crianças no cenário brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2016, v. 21, n. 3 [Acessado 6 Outubro 2021] , pp. 871-880. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413- 81232015213.08182014>. ISSN 1678-4561. https://doi.org/10.1590/1413- 81232015213.08182014 • Pediatras ganham protocolo de abordagem da criança vítima de violência doméstica. Sociedade Brasileira de Pediatria, 27 set. 2018. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/pediatras-ganham-protocolo-de- abordagem-da-crianca-vitima-de-violencia-domestica/. Acesso em: 3 out. 2021. • Brasil. Presidência da República. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 [citado em 2017 nov. 7]. Disponível em: bit.ly/1TYdQOXSBP • Waksman RD, Hirschheimer MR, coordenadores. Manual de atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência. Sociedade de Pediatria de São Paulo. Brasília, DF: CFM; 2011. • Brasil. Departamento Científico de Segurança de Criança e do Adolescente. Protocolo de Abordagem da Criança ou Adolescente Vítima de Violência Doméstica. Sociedade Brasileira de Pediatria. Nº 2, setembro de 2018. https://doi.org/10.1590/1413-81232015213.08182014 https://doi.org/10.1590/1413-81232015213.08182014
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