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Apostila Bens

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DOS BENS
I - Conceito – bens são coisas materiais ou concretas, úteis aos homens e de expressão econômica, suscetíveis de apropriação.
OBS: 1) Coisa x bem – no CC 1916 não fazia a distinção entre bens e coisas, ora usando a expressão coisa, ora usando o palavra bem. O Código Civil, ao contrário, utiliza sempre a expressão bens, evitou-se a expressão coisa, que é conceito mais amplo do que bem. Com efeito, coisa é gênero do qual bem é espécie. Coisa é tudo que existe objetivamente, com exclusão do homem (ex.: sol, lua, animais, etc.). Já bens são coisas que, por serem úteis e raras, são suscetíveis de apropriação e contêm valor econômico.
2) Bens corpóreos e bens incorpóreos – os romanos faziam a diferença entre bens corpóreos e bens incorpóreos. Tal classificação, contudo, não foi acolhida pela nossa legislação. Bens corpóreos são os que têm existência física, material e podem ser tocados pelo homem. Bens incorpóreos são os que têm existência abstrata, mas valor econômico, como o direito autoral, a sucessão aberta, o crédito. Os primeiros (bens corpóreos) podem ser objeto de compra e venda e os segundos (bens incorpóreos), somente de cessão. Ambos integram o patrimônio da pessoa.
3) Patrimônio – em sentido amplo, é conjunto de bens, de qualquer ordem, pertencentes à pessoa. Em sentido estrito, tal expressão abrange apenas as relações jurídicas ativas e passivas de que a pessoa é titular, aferíveis economicamente. Restringe-se, assim, aos bens avaliáveis em dinheiro, não se inserindo no conceito de patrimônio as qualidades pessoais, o conhecimento, a reputação etc., porque são considerados simples fatores de obtenção de receitas, quando utilizados para esses fins, apesar da sua lesão poder acarretar a devida reparação.
4) Coisas comuns – certas coisas, insuscetíveis de apropriação pelo homem, são chamadas de coisas comuns (ex.: o ar atmosférico, o mar, etc.). Não podem ser objeto de relação jurídica, salvo sendo possível a sua apropriação em porções limitadas, hipótese em que se tornam objeto do direito (gases comprimidos, água fornecida pela Administração Pública, etc.).
5) Res nullius – são as coisas sem dono, porque nunca foram apropriadas (ex.: caça solta, peixes no mar, etc.), podem sê-lo, pois acham-se à disposição de quem as encontrar ou apanhar, embora essa apropriação possa ser regulamentada (ex.: leis de proteção ambiental).
6) Res derelicta – é a coisa móvel abandonada, que foi objeto de relação jurídica mas o seu titular a lançou fora, com a intenção de não mais tê-la para si. Nesse caso, pode ser apropriada por qualquer outra pessoa.
II - Classificação dos Bens – a classificação dos bens é feita segundo critérios de importância científica, pois a inclusão de um bem em determinada categoria implica a aplicação automática de regras próprias e específicas, visto que não se podem aplicar as mesmas regras a todos os bens.
II.1) Bens considerados em si mesmos – sob esta ótica, podem ser:
1) Bens móveis e imóveis – é a mais importante classificação, fundada na efetiva natureza dos bens:
1.1) Bens imóveis –
Conceito – bens imóveis são as coisas que não podem ser removidas de um lugar para outro sem destruição. Esse conceito, porém, não abrange os imóveis por determinação legal. Para o CC (art. 79), bens imóveis são o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente, bem como os que a lei assim considerar (art. 80).
Classificação – os bens imóveis em geral podem ser classificados da seguinte forma:
- Imóveis por natureza – a rigor, somente o solo, com sua superfície, subsolo e espaço aéreo, é imóvel por natureza. Tudo o mais que a ele adere deve ser classificado como imóvel por acessão. OBS: Subsolo e espaço aéreo – embora se considerem propriedade o subsolo e o espaço aéreo, tais pontos apenas se consentirão presos à propriedade na medida de sua utilização pelo proprietário do solo. A utilização do solo e do espaço aéreo não pode ser ilimitada. A lei só ampara o direito de propriedade enquanto de utilidade para o titular. Nesse sentido, o art. 1229 dispõe que “a propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las”.
- Imóveis por acessão natural – incluem-se nessa categoria as árvores e os frutos pendentes, bem como todos os acessórios e adjacências naturais. OBS: 1) Árvores destinadas ao corte – são considerados bens móveis por antecipação. 2) Árvores plantadas em vasos – são considerados bens móveis, porque removíveis.
- Imóveis por acessão artificial ou industrial – acessão significa justaposição ou aderência de uma coisa a outra. Acessão artificial ou industrial é a produzida pelo trabalho do homem. São as construções e plantações. É tudo quanto o homem incorporar permanentemente ao solo, de modo que se não possa retirar sem destruição, modificação, fratura ou dano. Logo, nesse conceito não se incluem as construções provisórias, que se destinam a remoção ou retirada, como os circos e parques de diversões, as barracas de feiras, pavilhões, etc. Entretanto, não perdem o caráter de imóveis: a) as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local (casas pré-fabricadas); b) os materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se reempregarem (art. 81).
- Imóveis por determinação legal – o art. 80 assim considera:
a) Os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram – os direitos são bens imateriais e, destarte, não poderiam ser entendidos como coisas móveis ou imóveis. Contudo, para maior segurança das relações jurídicas, a lei considera os direitos sobre imóveis (enfiteuse, servidões, usufruto, uso, habitação, rendas constituídas sobre imóveis, penhor, anticrese e hipoteca, além da propriedade) como imóveis, e, como tal, as respectivas ações, que são a própria dinâmica desses direitos (ações de reivindicação, confessória e negatória de servidão, hipotecárias, pignoratícias, de nulidade ou rescisão de compra e venda, etc.).
b) O direito à sucessão aberta – o direito à sucessão aberta é o complexo patrimonial transmitido pela pessoa falecida a seus herdeiros. É considerado bem imóvel, ainda que a herança seja composta apenas de móveis. Não cogita a lei das coisas que compõem a herança, porém do direito a elas. Somente com a partilha e sua homologação judicial deixa de existir a herança, passando os bens a serem encarados individualmente. A sucessão aberta abarca tanto os direitos reais como os pessoais. Dessa ficção legal deflui que a renúncia da herança é renúncia de imóvel, devendo ser feita por escritura pública ou termo nos autos, conforme art. 1806, mediante autorização do cônjuge, se o renunciante for casado. 
OBS: 1ª) Imóveis por acessão intelectual ou destinação do proprietário – assim eram denominados, no regime do CC 1916, aqueles bens que o proprietário imobilizava por sua vontade, mantendo-os intencionalmente empregados em sua exploração industrial, aformoseamento, ou comodidade, como as máquinas (inclusive tratores) e ferramentas, os objetos de decoração, os aparelhos de ar-condicionado, etc. No art. 79 do CC, entretanto, não há alusão a estes bens. A razão é que o Código Civil acolhe, seguindo a doutrina moderna, o conceito de pertença, que se encontra no art. 93.
2ª) Imobilização de partes cujo proprietário é distinto do proprietário do solo – nem sempre a imobilização das partes que se aderem ao solo serão de propriedade do titular do domínio do solo. Habitualmente ocorre isso. Assim, pode acontecer que a semente lançada ao solo seja de proprietário diverso, assim como os materiais de construção do edifício. Nesse caso, haverá perda dos móveis em favor do proprietário do solo, com direito à indenização a quem construiu ou plantou em terreno alheio de boa-fé (art. 1254), ou sem nenhum direito em caso de má-fé.
1.2) Bens móveis –
Conceito– o art. 82 considera móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.
Espécies – os bens móveis dividem-se em:
a) Propriamente ditos – são os que admitem remoção por força alheia, sem dano, como os objetos inanimados, não imobilizados por sua destinação. OBS: Navios e aviões – são bens móveis, entretanto, são imobilizados para fins de hipoteca (art. 1473, VI e VII).
b) Semoventes – são os que se movem por força própria (ex.: animais).
Classificação – os bens móveis podem ser classificados:
- Móveis por determinação legal – são bens incorpóreos ou imateriais que adquirem a qualidade de bens móveis por expressa previsão em lei. Estes bens estão enumerados no art. 83, a saber:
a) As energias que tenham valor econômico.
b) Os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes.
c) Os direitos pessoais de caráter patrimonial e as ações correspondentes (ex.: créditos, direito de autor, etc.).
- Móveis por antecipação – são os bens incorporados ao solo, mas com a intenção de separá-los oportunamente e convertê-los em móveis (ex.: árvores destinadas ao corte), ou então os que, por sua ancianidade, são vendidos para fins de demolição.
Importância prática da distinção entre bens móveis e imóveis – os principais efeitos práticos da distinção são:
- Quanto à aquisição:
Móveis – são adquiridos por simples tradição, independentemente de outorga uxória.
Imóveis – demandam escritura pública e registro no Cartório de Registro de Imóveis e dependem, em regra, de outorga uxória (salvo se o regime for o da separação de bens, em que a outorga uxória é dispensada).
- Quanto ao prazo para usucapião – a usucapião de bens imóveis exige prazos maiores do que o de bens móveis.
- Quanto ao direito de superfície – só os imóveis são sujeitos à concessão da superfície (art. 1369).
- Quanto ao direito real de garantia:
Móveis – o penhor é reservado aos bens móveis.
Imóveis – a hipoteca é destinada aos bens imóveis.
- Quanto aos efeitos tributários:
Móveis – estão sujeitos ao ICMS.
Imóveis – estão sujeitos ao ITBI.
2) Bens fungíveis e infungíveis – 
2.1) Bens fungíveis – são os móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade (art. 85), como os metais preciosos, o dinheiro, os cereais, etc.
2.2) Bens infungíveis – são os que não têm o atributo de poderem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade; porque são encarados de acordo com as suas qualidades individuais, como o quadro de um pintor célebre, uma escultura famosa, etc.
Importância prática da distinção entre bens fungíveis e infungíveis – os principais efeitos práticos da distinção são:
a) Mútuo x comodato – o mútuo só recai sobre bens fungíveis, ao passo que o comodato tem por objeto bens infungíveis.
b) Compensação – a compensação só se efetua entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis (art. 369).
OBS: 1ª) Excepcionalidade da fungibilidade de bens imóveis – a fungibilidade é característica dos bens móveis, como menciona o art. 85. Pode ocorrer, no entanto, em certos negócios, que venha a alcançar os imóveis, como por exemplo no ajuste entre sócios de um loteamento, sobre eventual partilha em caso de desfazimento da sociedade, quando o que se retira receberá certa quantidade de lotes. Enquanto não lavrada a escritura, será ele credor de coisas determinadas apenas pela espécie, qualidade e quantidade.
2ª) Fungibilidade ou infungibilidade como resultado da vontade das partes – a fungibilidade ou infungibilidade resultam não só da natureza do bem, como também da vontade das partes. A moeda é um bem fungível. Determinada moeda, porém, pode tornar-se infungível para um colecionador. Da mesma forma, um boi emprestado a um vizinho para serviços de lavoura é infungível e deve ser devolvido. Se, porém, foi destinado ao corte, poderá ser substituído por outro da mesma espécie e qualidade. Como último exemplo, uma cesta de frutas é bem fungível, mas emprestada para ornamentação, transforma-se em infungível. Vale destacar, no entanto, que há autores que sustentam que não é possível que um bem infungível se torne fungível. Sustentam, pois, que a fungibilidade resulta da própria coisa, de seu sentido econômico e não físico e do número de coisas iguais encontráveis. Para esta corrente, a fungibilidade é qualidade objetiva da própria coisa e não é dada pelas partes, que não podem arbitrariamente alterar a natureza dos objetos.
3ª) A falta de conceituação de bem infungível no CC – o Código Civil adotou a orientação de só conceituar o indispensável, não fazendo alusões a noções meramente negativas, como as de bens infungíveis, inconsumíveis e indivisíveis. Não é, porém, pelo fato do art. 85 só haver definido bem fungível que, por isso, deixam de existir os bens infungíveis, mesmo porque se define o bem fungível para distingui-lo do infungível.
3) Bens consumíveis e inconsumíveis – levam em consideração o sentido econômico dos bens.
3.1) Bens consumíveis – podem ser:
- Consumíveis de fato, natural ou materialmente consumíveis – são os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância (ex.: gêneros alimentícios).
- Consumíveis de direito – são os destinados à alienação (ex.: dinheiro).
3.2) Bens inconsumíveis – são os que admitem uso reiterado, sem destruição de sua substância (ex.: liquidificador, batedeira, televisão, rádio, etc.).
Importância prática da distinção entre bens consumíveis e inconsumíveis – os principais efeitos práticos da distinção são:
Usufruto impróprio ou quase-usufruto – certos direitos não podem recair, em regra, sobre bens consumíveis. É o caso do usufruto. Quando, no entanto, tem por objeto bens consumíveis, passa a chamar-se “usufruto impróprio” ou “quase-usufruto”, sendo neste caso o usufrutuário obrigado a restituir, findo o usufruto, os que ainda existirem e, dos outros, o equivalente em gênero, qualidade e quantidade, ou, não sendo possível, o seu valor, estimado ao tempo da restituição (art. 1392, §1º).
OBS: 1ª) Possibilidade do bem ser consumível ou inconsumível por força da vontade das partes – pode um bem consumível tornar-se inconsumível pela vontade das partes, como um comestível ou uma garrafa de bebida rara emprestados para uma exposição. 
2ª) Possibilidade de um bem inconsumível ser consumível de direito – um bem inconsumível pode transformar-se em juridicamente consumível, como os livros (que não desaparecem pelo fato de serem utilizados) colocados à venda nas prateleiras de uma livraria.
4) Bens divisíveis e indivisíveis –
4.1) Bens divisíveis – são divisíveis os bens que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor ou prejuízo do uso a que se destinam (art. 87). São divisíveis, portanto, os bens que se podem fracionar em porções reais e distintas, formando cada qual um todo perfeito. 
 
OBS: Critério da diminuição considerável do valor – o Código Civil introduziu, na indivisibilidade dos bens, o critério da diminuição considerável do valor, seguindo a melhor doutrina e por ser, socialmente, o mais defensável, no dizer da Comissão Revisora, cujo relatório adverte: “Atente-se para a hipótese de 10 pessoas herdarem um brilhante de 50 quilates, que, sem dúvida, vale muito mais do que 10 brilhantes de 5 quilates; se esse brilhante for divisível (e, a não ser pelo critério da diminuição sensível do valor, o será), qualquer dos herdeiros poderá prejudicar todos os outros, se exigir a divisão da pedra”.
4.2) Bens indivisíveis – podem ser:
a) Indivisíveis por natureza – são os que se não podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor ou prejuízo do uso a que se destinam. A indivisibilidade, nesse caso, é física ou material.
b) Indivisíveis por determinação legal – são aqueles que a lei não admite divisão (ex.: as servidões, as hipotecas, etc.). A indivisibilidade, nessa hipótese, é jurídica.
c) Indivisíveis por vontade daspartes – são os transformados em indivisíveis por convenção das partes. Nessa caso, a indivisibilidade é convencional e o acordo tornará a coisa indivisa por prazo não superior a 5 anos, suscetível de prorrogação ulterior (art. 1320, §1º). Se a indivisão for estabelecida pelo doador ou testador, não poderá exceder de 5 anos (art. 1320, §2º).
OBS: A divisão dos bens indivisíveis (condomínio) – devemos ter em mira, no entanto, que uma coisa material ou legalmente indivisível pode ser dividida em partes ideais (pro indiviso), mantendo-se as partes em condomínio, sem ocorrer a decomposição. 
- Importância prática da distinção entre bens divisíveis e indivisíveis – os principais efeitos práticos da distinção são:
a) Direito das obrigações – as obrigações são divisíveis ou indivisíveis, conforme a natureza das prestações; cada caso dirá se a prestação pode ser fracionada (art. 259).
b) Condomínio – na extinção do condomínio, se divisível o bem, cada consorte receberá o seu quinhão, mas se indivisível, ante a recusa de os comunheiros adjudicarem o bem a um só deles, indenizando os demais, o bem será vendido e o preço repartido entre eles (art. 1322). Na venda, o condômino em coisa indivisível não poderá vender a sua parte sem dar direito de preferência aos demais condôminos (art. 504), obrigação que não persiste se a coisa for divisível.
5) Bens singulares e coletivos – 
5.1) Bens singulares – são os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais (art. 89).
5.2) Bens coletivos – são os resultantes da união de diferentes objetos, em um só todo, sem que desapareça a condição particular de cada um. São chamados também de universais ou universalidades e abrangem as universalidades de fato e as universalidades de direito. Estas constituem um complexo de direitos ou relações jurídicas. 
- Universalidade de fato – é a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária (ex.: rebanho, biblioteca, etc.) (art. 90). Os bens que formam a universalidade de fato podem ser objeto de relações jurídicas próprias (art. 90, parágrafo único).
- Universalidade de direito – é o complexo de relações jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor econômico (ex.: herança, patrimônio, fundo de comércio, etc.).
II) Bens reciprocamente considerados – depois de haver classificado os bens considerando-os em si mesmos, muda o legislador de ponto de vista e os separa, tendo em conta a relação entre uns e outros. Sob esta ótica, podem ser:
- Principal – é o bem que tem existência própria, que existe por si só, abstrata ou concretamente (ex.: solo – existe por si, concretamente, sem qualquer dependência; contratos de locação e compra e venda – existem por si só) (art. 92).
- Acessório – é aquele cuja existência depende do principal (ex.: árvore – é acessório porque sua existência supõe a do solo onde foi plantada; fiança e cláusula penal – são acessórios porque derivam, dependem de um contrato principal). Na grande classe dos bens acessórios compreendem-se:
a) Produtos – são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a quantidade, porque não se reproduzem periodicamente (ex.: pedras que se extraem das pedreiras, minerais que se extraem das minas, etc.).
b) Frutos – são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e renascem da coisa, sem acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte (ex.: café, cereais, frutos das árvores, leite, crias dos animais, etc.). Dividem-se:
- Quanto a origem:
1) Naturais – são os que se desenvolvem e se renovam periodicamente, em virtude da força orgânica da própria natureza (ex.: frutas, leite, cria dos animais, etc.).
2) Industriais – são os que aparecem pela mão do homem, isto é, os que surgem em razão da atuação do homem sobre a natureza (ex.: produção de uma fábrica).
3) Civis – são os rendimentos produzidos pela coisa, em virtude de sua utilização por outrem que não o proprietário (ex.: juros, aluguéis, etc.).
- Quanto ao estado:
1) Pendentes – consideram-se pendentes os frutos enquanto unidos à coisa que os produziu.
2) Percebidos ou colhidos – consideram-se percebidos ou colhidos os frutos depois de separados da coisa que os produziu. OBS: 1) Terminologia “percebido” e “colhido” – emprega-se o temo “percebido” para os frutos civis (ex.: juros aluguéis), ao passo que se utiliza o temo “colhido” para os frutos naturais (ex.: frutas, leite, cereais). 2) Momento em que se reputam colhidos ou percebidos os frutos – os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos tão logo sejam separados; os civis reputam-se percebidos dia a dia (art. 1215).
3) Estantes – são os frutos separados e armazenados ou acondicionados para venda.
4) Percipiendos – são os frutos que deviam ser mas, não foram colhidos ou percebidos.
5) Consumidos – são os frutos que não existem mais porque foram utilizados. 
c) Benfeitorias – são obras ou despesas feitas na coisa, para o fim de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la. Portanto, são obras decorrentes da ação humana, excluindo-se da sua noção os acréscimos naturais ou cômodos, que se acrescem à coisa sem intervenção humana (art. 97). As benfeitorias podem ser:
1) Necessárias – são as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore (ex.: reparos na coluna de um edifício). Além disso, consideram-se necessárias as benfeitorias destinadas a permitir a normal exploração econômica do bem (ex.: adubação, esgotamento de pântanos, etc.).
2) Úteis – são as que aumentam ou facilitam o uso do bem (ex.: aumento de área de estacionamento em um edifício). 
3) Voluptuárias – são as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor (ex.: substituição de um piso comum de um edifício por mármore).
OBS: 1) Necessidade de avaliação casuística para classificação – a classificação das benfeitorias em necessárias, úteis ou voluptuárias não tem caráter absoluto, dependendo de análise casuística, pois uma mesma benfeitoria pode enquadrar-se em uma ou outra espécie, dependendo das circunstâncias (ex.: uma piscina pode ser considerada benfeitoria voluptuária numa casa residencial, mas útil ou necessária numa escola de natação).
2) Benfeitorias x acessões industriais ou artificiais – as benfeitorias não se confundem com acessões industriais ou artificiais, previstas nos arts. 1253 a 1259 e que constituem construções e plantações. Benfeitorias são obras ou despesas feitas em bem já existente. As acessões industriais são obras que criam coisas novas e têm regime jurídico diverso, sendo um dos modos de aquisição da propriedade imóvel.
d) Pertenças – o Código Civil incluiu, no rol dos bens acessórios, as pertenças, ou seja, os bens móveis que, não constituindo partes integrantes (como o são os frutos, produtos e benfeitorias), estão afetados por forma duradoura ao serviço, uso ou ornamentação de outro (ex.: trator destinado a uma melhor exploração da propriedade agrícola, os objetos de decoração de uma residência, as máquinas utilizadas numa fábrica, etc.). Assim, as pertenças conservam a sua identidade e não se incorporam à coisa a que se juntam. 
OBS: 1) Pertença x parte integrante – pertença e parte integrante (frutos, produtos e benfeitorias) distinguem-se porque a pertença não completa a coisa, por isso a coisa principal não se altera com a sua separação. 2) Regime jurídico próprio da pertença – contrariamente ao que ocorre com as partes integrantes (frutos, produtos e benfeitorias), os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade das partes ou das circunstâncias do caso concreto (art. 94).
OBS: 1) Regime jurídico dos frutos e produtos – dispõe o art. 95 que, apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico.
2) Exceções que não configuram acessórios – não se consideram bens acessórios: a pintura em relação à tela, a escultura em relaçãoà matéria-prima e a escritura ou qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima que os recebe, considerando-se o maior valor do trabalho em relação ao do bem principal (art. 1270, §2º).
 	A regra segundo a qual o bem acessório segue o principal, aplicável somente às partes integrantes (frutos, produtos ou benfeitorias) – como a existência do acessório supõe a do principal, tem-se por consequência que o bem acessório segue o principal. Para que tal não ocorra, é necessário que tenha sido convencionado o contrário (ex.: venda de um veículo, convencionando-se a retirada de alguns acessórios), ou que de modo contrário estabeleça algum dispositivo legal (ex.: art. 1284, pelo qual os frutos pertencem ao dono do solo onde caíram e não ao dono da árvore). As principais consequências da regra são:
a) A natureza do acessório é a mesma do principal (ex: se o solo é imóvel, a árvore a ele anexada também o é).
b) O acessório acompanha o principal em seu destino (ex: se é extinta a obrigação principal, extingue-se também a acessória; mas o contrário não é verdadeiro).
c) O proprietário do principal, salvo exceção legal ou convencional, é proprietário do acessório (como corolário da acessoriedade, presume-se que o proprietário do principal seja também dono do acessório, embora essa presunção admita prova em contrário – ex: art. 1232)
III) Bens quanto ao titular do domínio – podem ser:
III.1) Bens públicos – são os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno (art. 98). Os bens públicos podem ser classificados segundo a sua destinação, da seguinte forma:
a) Bens de uso comum do povo – são os que podem ser utilizados por qualquer um do povo, sem formalidades (ex.: rios, mares, estradas, ruas, praças, etc.). Não perdem essa característica se o Poder Público regulamentar o seu uso, ou torná-lo oneroso (ex.: instituição de pedágio nas rodovias) (art. 103). A Administração pode também restringir ou vedar o seu uso, em razão da segurança nacional ou de interesse público (ex.:interdição de rodovia, proibição de trânsito em determinado local, etc.). O povo somente tem o direito de usar tais bens, mas não tem o seu domínio. O domínio pertence à pessoa jurídica de direito público. Mas é um domínio com características especiais, que lhe confere a guarda, administração e fiscalização dos referidos bens, podendo ainda reivindicá-los. Segundo alguns autores, não haveria propriamente um direito de propriedade, mas um poder de gestão.
b) Bens de uso especial – são os que se destinam especialmente à execução dos serviços públicos (ex.: edifícios em que se encontram instaladas as repartições públicas, escolas, secretarias, ministérios, etc.). São utilizados exclusivamente pelo Poder Público. Assim, distinguem-se dos bens de uso comum do povo porque o Poder Público não tem apenas a titularidade, mas também a sua utilização. Seu uso pelos particulares é regulamentado, e a Administração tanto pode permitir que os interessados ingressem em suas dependências, como proibir.
c) Bens dominicais – são os que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal ou real de cada uma dessas entidades (art. 99, III). Sobre eles o Poder Público exerce poderes de proprietário (ex.: terras devolutas, estradas de ferro, oficinas e fazendas pertencentes ao Estado, etc.). Se nenhuma lei houvesse estabelecido normas especiais sobre esta categoria de bens, seu regime jurídico seria o mesmo que decorre do Código Civil para os bens pertencentes aos particulares, pois enquanto os bens de uso comum e de uso especial são bens do domínio público do Estado, os dominicais são do domínio privado do Estado. OBS: Art. 99, § único – não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado.
OBS: 1) Característica dos bens de uso comum do povo e dos bens de uso especial – inalienabilidade – os bens de uso comum do povo e os de uso especial apresentam a característica da inalienabilidade e, como consequência desta, a imprescritibilidade, a impenhorabilidade e a impossibilidade de oneração. Mas a inalienabilidade não é absoluta, a não ser com relação àqueles bens que, por sua própria natureza, são insuscetíveis de valoração patrimonial, como os mares, as praias, os rios, etc. Os suscetíveis de valoração patrimonial podem perder a inalienabilidade que lhes é peculiar pela desafetação (na forma que a lei determinar – art. 100)
2) Característica dos bens dominicais – alienabilidade – os bens dominicais, por sua vez, não estado afetados a finalidade pública específica, podem ser alienados por meio de institutos de direito privado ou de direito público, observadas as exigências da lei (art. 101). Contudo, a alienabilidade não é absoluta, porque podem perdê-la pelo instituto da afetação (ato ou fato pelo qual um bem passa da categoria de bem do domínio privado do Estado para a categoria de bem do domínio público).
3) Impossibilidade de se usucapir qualquer espécie de bem público – nenhum bem público, nem mesmo o dominical, está sujeito a usucapião (art. 102 e Súmula 340 STF).
III.2) Bens particulares – são definidos por exclusão pelo art. 98: “todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem”.
- Bens quanto a possibilidade de serem ou não comercializados – embora o Código Civil não tenha dedicado um capítulo aos bens que estão fora do comércio, como o fizera o CC 1916 no seu art. 69, encontram-se nessa situação:
a) Bens naturalmente indisponíveis – são aqueles insuscetíveis de apropriação pelo homem (ex.: a totalidade do ar atmosférico, as águas dos mares, o sol, etc.).
b) Bens legalmente indisponíveis – são aqueles que normalmente poderiam ser alienados, mas a lei proíbe (ex.: bens públicos de uso comum do povo, os bens públicos de uso especial, os bens de incapazes, etc.). Além destes, incluem-se na categoria de legalmente indisponíveis os direitos de personalidade, preservados em respeito à dignidade humana, como a liberdade, a honra, a vida, etc (art. 11), bem como os órgãos do corpo humano, cuja comercialização é expressamente vedada pela CF (art. 199, §4º).
c) Bens indisponíveis pela vontade humana – são aqueles bens aos quais se apõe a cláusula de inalienabilidade, em virtude de doações ou testamentos. Ninguém pode gravar os próprios bens; só nos atos de disposição mencionados (doação e testamento) o interessado poderá gravá-los. Prescreve o art. 1911 que a cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade (vide também Súmula 49 STF). 
OBS: 1) Limite temporal da cláusula de inalienabilidade – essa cláusula tem como limite temporal a vida do herdeiro ou do donatário; não pode ultrapassar esse lapso, mas pode ser fixada para tempo menor. 
2) Exigência de justa causa para estabelecimento de cláusula de inalienabilidade sobre a legítima – é uma novidade do Código Civil e tem como objetivo evitar abusos, exigindo que o testador decline expressamente a justa causa para a decisão de gravar os bens com a cláusula de inalienabilidade (art. 1848). 
3) Exceções em que não é respeitada a cláusula de inalienabilidade – a alienação dos bens gravados com cláusula de inalienabilidade só é admitida nos casos de desapropriação, hipótese em que o quantum da indenização fica sub-rogado na cláusula até que os interessados adquiram novo bem que ficará clausulado; no caso de execução de dívidas referentes ao próprio bem (ex.: tributárias, condomínio, etc.), hipótese em que, se houver saldo na alienação judicial, este ficará sub-rogado na cláusula; e, finalmente, mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados os bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados no ônus da inalienabilidade (art. 1848, §1º e 1911, § único).

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