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AO JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA DA COMARCA DE RIO DE JANEIRO

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AO JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA DA COMARCA DE RIO DE JANEIRO- RJ
Processo nº XXXXXXXX-XXX
Condomínio Bosque das Araras, devidamente qualificado nos autos da ação de indenização por Danos Materiais e Morais, vem mui respeitosamente
à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 335 e seguintes do CPC,
apresentar:
CONTESTAÇÃO
Nos autos da ação de indenização por Danos Materiais e Morais, movida por JOÃO, já devidamente qualificado, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.
PRELIMINARMENTE
DA ILEGITIMIDADE DO CONDOMINIO BOSQUE DAS ARARAS
 Preliminarmente, cumpre ressaltar que o réu é parte ilegítima para figurar
no feito nos termos do art. 337, XI, do CPC. Isso porque, conforme se verifica as informações nos autos da ação trazida ao processo, o autor identificou de onde caíra o objeto em sua cabeça, segundo consta na petição inicial, do apartamento de número 601. 
 Como sabemos a responsabilidade objetiva será do habitante do prédio, que venha deixar cair ou lance objeto em lugar indevido, afirmativa que decorre da literalidade do Código Civil, artigos 927 e 938. 
 Dessa forma vê-se prejudicada a presente demanda em razão da ilegitimidade passiva (NCPC, ART. 337, XI), por este motivo pleiteia a sua substituição na lide, em cumprimento do art. 339, NCPC, por: 
 FULANO DE TAL, nacionalidade, estado civil, portador da cédula de RG XXXXXX, e CPF XXXXXXXXXX, legitimo possuidor do apartamento 601, no Condominio Bosque das Araras, Rua Tal, Bairro Tal, na cidade do Rio de Janeiro – RJ. 
 Eximindo assim, a responsabilidade objetiva do condomínio. Desta forma, requer a extinção do processo sem julgamento do mérito, nos termos do art. 485, VI, do CPC.
 DOS FATOS
 João, andava pela calçada da rua onde mora, quando foi atingido por um pote de vidro em sua cabeça, que caiu do apartamento 601, do condomínio Bosque das Araras, cujo síndico é o Sr. Marcelo Rodrigues. João desmaiou com impacto e após ser socorrido, foi levado ao Hospital X, no qual passou por uma cirurgia, pois o acidente lhe causara uma hemorragia interna. Onde ficou internado por 30 dias, o que lhe fez descumprir um contrato de frete de R$ 20,000 (Vinte mil reais), tendo em vista que exerce a profissão de caminhoneiro autônomo. 
 Acontece que 20 dias após retornar do período de internação, teve que passar por outra cirurgia devido a uma infecção craniana, causada por uma gaze cirúrgica deixada no seu corpo por ocasião do último procedimento. João permaneceu mais 30 dias internado, deixando de executar mais contratos, o que lhe causou um prejuízo de R$ 10,000 (Dez mil reais. 
O que levou João a entrar com ação de indenização por danos materiais e morais contra o condomínio Bosque das Araras, pedindo R$ 30,000 (trinta mil reais) a título de lucro cessantes, e mais 50 salários mínimos, a título de danos morais, pela violação de sua integridade física. 
DO DIREITO
 A contestante impugna todos os fatos articulados na petição inicial o que se contrapõe com os termos desta contestação, esperando a IMPROCEDENCIA DA AÇAO PROPOSTA, pelos seguintes motivos:
 Impugnação ao pedido de indenização material por lucro cessante
	Conforme relatado, o autor, após a alta da internação da primeira cirurgia, voltou a realizar novos fretes na sua função como caminhoneiro. Vinte dias após o retorno de suas atividades, passou mal, voltando ao hospital, onde, então, foi constatada a necessidade de realização de uma segunda cirurgia, em decorrência de uma infecção no crânio causada por gaze cirúrgica deixada no seu corpo por ocasião da primeira cirurgia. 
	Requereu, do lucro cessante do primeiro período em que ficou internado R$ 20 mil reais (em razão da queda do pote) e, pelo segundo período de internação, R$ 10 mil reais, a títulos de danos materiais.
	Com isso, não incumbe ao réu ressarcir o autor pelo prejuízo sofrido da segunda internação, pois, essa segunda internação foi necessária, tão somente, em virtude de erro medico hospitalar cometido no primeiro período em que o autor ficou internado.
	Logo, incumbiria ao autor pretender do Hospital ou do medico que o atendeu a reparação por tal ato ilícito, e não do réu, o qual não concorreu de maneira dolosa, culposa e nem objetiva pelo agravamento dos danos sofridos pelo autor, pois não houve nexo causal do ilícito quanto ao réu, mas sim quanto ao medico que realizou a operação, respondendo, este, objetivamente pelo dano que causou.
	Assim, nesse segmento:
“INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. ERRO MÉDICO (...) ESQUECIMENTO DE COMPRESSA DE GAZE (...) RESPONSABILIDADE OBJETIVA. NEXO CAUSAL (...). Os conflitos entre hospital e paciente devem ser examinados sob a égide da responsabilidade civil objetiva, sendo que para o reconhecimento do dever de indenizar do hospital é necessário verificar a existência do dano e do nexo causal entre o procedimento realizado pelos médicos e o dano sofrido pelo paciente, independente da demonstração de culpa do hospital (TJMG - proc. 1.0344.07.039333-7/002, Rel. Des. Irmar Ferreira Campos, DJ de 10/12/2009)”.
 Impugnação aos valores de dano material
	O réu também impugna todos os valores pretendidos pelo autor a titulo de danos materiais, pois não ficou comprovado que no período em que estava internado, cumpria contratos de fretes no valor de R$ 30 mil.
	Com isso, inexistindo provas de lucros cessantes, é demonstrado inviável a concessão do montante de R$ 30 mil reias, pretendido pelo autor a titulo de reparação material, sob pena de enriquecimento ilícito. Haja vista, que a faixa salarial do Caminhoneiro CBO 7825-05 fica entre R$ 1.826,55 (média do piso salarial 2020 de acordos, convenções coletivas e dissídios), R$ 1.983,00 (salário mediana da pesquisa) e o teto salarial de R$ 3.271,86, levando em conta profissionais com carteira assinada em regime CLT de todo o Brasil.
 Impugnação ao dano moral
	Sem prejuízo da impugnação ao pedido do dano material, bem como deste, convém impugnar, igualmente o dano moral supostamente sofrido pelo autor.
	Conforme assegura Carlos Roberto Gonçalves, em seu livro Direito civil brasileiro, volume 4, p. 353:
“(...) Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a intimidade, a imagem (...) e que acarreta ao lesado (...) tristeza, vexame e humilhação (...)”.
	Logo, para configuração do dano material, há a necessidade de lesão de um dos direitos de personalidades, o que data vênia, não há no presente caso.
 Impugnação ao valor do dano moral
	Em face ao principio da eventualidade, caso o Dr. Juízo acolha a pretensão de dano moral do autor, impõe a minoração do valor do referido dano para 20%, o equivalente a 10 salários mínimos, pois o valor pleiteado pelo autor é exorbitante, o que produzia enriquecimento ilícito, vedado no direito brasileiro. Conforme descreve COELHO Fabio Ulhoa, em seu livro “Curso direito civil”, p.497:
“(...) Enriquecimento sem causa é a vantagem patrimonial auferida por um sujeito de direito sem fundamento jurídico (...)”.
 DOS PEDIDOS
	Por todo exposto, requer o réu:
1. O reconhecimento da ausência de legitimidade passiva, com a substituição do polo passivo por Fulano de tal, qualificação supra, e ainda declaração da extinção do processo quanto ao réu Condomínio Bosque das Araras;
1. Julgamento improcedente do pedido, em relação ao pagamento de dano material e dano moral, por não comprovação e condenação do autor ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios sucumbênciais.
1. Não sendo indeferido o dano material, requer que seja apurado apenas com base no lucro cessante por 30 dias e inatividade do autor, e não com base em 60 dias, como também a minoração do dano material para o valor de R$ 3.809,55 (três mil e oitocentos e nove reais e cinquenta e cinco reais), correspondente a ponderação entre o valor mínimo e máximo da cota para aprofissão de caminhoneiro, e persistido no indeferimento do dano moral;
1. Em caso de deferimento do dano material, no quantum acima, opte também deferir o dano moral, no tocante máximo de 10 salários mínimos;
1. Protesta por todos os meios de prova, para comprovar os fatos alegados.
Nestes termos, pede deferimento.
Rio de Janeiro, 01 de Abril de 2020.

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