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Biomedicina UFPE Imunologia e Sorologia – 2021.1 Ana Beatriz Chalegre Pastick 1 ANTÍGENOS Introdução • Molécula estranha ao organismo • Induz o início da resposta imune • Gera anticorpos e atividade celular específica para que seja eliminado • É formado por diversos componentes simples e pequenos, que geram a especificidade do anticorpo • O anticorpo, através de seu parátopo, liga-se ao determinante antigênico (epitopo), que é uma pequena fração comum a ambas as moléculas. • A ligação antígeno-anticorpo, a depender do tipo, pode desencadear uma série de ações biológicas diferentes, como ativação do sistema complemento, neutralização, estimulação de células imunocompetentes, fagocitose etc. Conceitos Básicos • Imunógeno: material que estimula a resposta imune e combina-se com o produto formado. • Antígeno (Ag): Substâncias estranhas que induzem respostas imunológicas específicas, e que são reconhecidas pelos receptores de linfócitos T (receptor TCR) ou por linfócitos B (anticorpos – imunoglobulinas), gerando a resposte imune. Há uma grande variedade de substâncias antigênicas (ex: carboidratos complexos, fosfolipídeos, ácidos nucleicos, proteínas, açúcares, lipídeos, hormônios). Além disso, há um repertório de linfócitos suficientemente grande para reconhecer e responder a esses diversos antígenos. • Hapteno: partículas extremamente simples, de um peso molecular desprezível, que, isoladamente, não tem condições de induzir a resposta imune. Entretanto, ao ligar-se a uma proteína sérica ou tecidual, mudam de conformação, tornando-se uma substância complexa e podendo levar a uma atividade imunológica imunogênica contra si próprio. o Ex: a penicilina é um hapteno. Isoladamente, não tem ação imunológica. Contudo, ao ligar-se às proteínas autólogas, adquire capacidade imunogênica, compondo um complexo maior, que é capaz de desencadear uma resposta imune robusta, levando até mesmo a morte, em alguns casos, devido à hipersensibilidade. • Epitopo ou Determinantes Antigênicos: qualquer formato ou superfície do antígeno que pode ser reconhecida pelos receptores de células B (anticorpos) e células T (TCR). Através do estudo dos receptores antigênicos, é possível identificar a melhor forma de combater o microrganismo, descobrindo qual deverá ser o alvo do processo de imunização (ex: tipo específico de proteína). o Natureza do determinante antigênico na proteína ▪ Lineares: epítopos formados por diversos resíduos de aminoácidos adjacentes. Podem estar acessíveis apenas quando a proteína está desnaturada. ▪ Conformacionais: são formados por resíduos de aminoácidos que não estão em sequência, mas passam a ser espacialmente justapostos na proteína dobrada. ▪ Neoantigênicos: epítopos que passam a existir após alguma modificação na proteína. Ex: glicosilação, fosforilação, acetilação, proteólise etc. ▪ As mudanças na estrutura dos antígenos podem aumentar ou diminuir a resposta imunológica. • Anticorpo (Ac): fundamental para o diagnóstico, controle da doença no organismo e processo de imunização. • Adjuvantes: substâncias que potencializam a ação de antígenos. Fazem com que o material antigênico injetado no organismo passe um período maior na circulação do indivíduo imunizado. Não é uma substância imunogênica, mas facilita a ação do imunógeno frente ao organismo, liberando lentamente o material, induzindo melhor apresentação dele às células imunocompetentes e, consequentemente, aumentando o número de células de memória. Atualmente, os adjuvantes mais utilizados são os lipossomos. Antígeno x Imunógeno A interação entre os antígenos e seus receptores específicos pode ou não determinar uma resposta imunológica. Já os imunógenos, quando são reconhecidos, geram, necessariamente, uma resposta imunológica. Antígeno x Epítopo • Qualquer anticorpo se liga apenas a uma porção da macromolécula (antígeno/imunógeno), que é chamada de determinante antigênico ou epítopo. Biomedicina UFPE Imunologia e Sorologia – 2021.1 Ana Beatriz Chalegre Pastick 2 • Macromoléculas podem possuir vários epítopos, inclusive repetitivos (polivalência ou multivalência), gerando diversos anticorpos, que atuam em partes diferentes do antígeno. • Imunodominância: antígenos que induzem uma resposta imunológica mais robusta do que outros. Antígenos Reconhecidos pelos Linfócitos B • Os receptores das células B são o IgM e o IgD • Esses antígenos podem ser compostos por: proteínas, polissacarídeos, ácidos nucleicos, determinantes sequenciais lineares e determinantes conformacionais. • Geralmente possuem o tamanho de 4 a 8 resíduos (menor complexidade) • O número de determinantes antigênicos são limitados. Localizam-se em superfícies externas ao antígeno e podem apresentar epítopos imunodominantes • Antígenos T-independentes o Os polissacarídeos estimulam diretamente as células B, ou seja, não precisam do linfócito T para serem apresentados às células imunológicas o O reconhecimento desses antígenos é importante para produção de vacinas (ex: Polissacarídeo Pneumocócico, Lipopolissacarídeos, Flagelo) Antígenos Reconhecidos pelos Linfócitos T • A maioria dos linfócitos T reconhece apenas peptídeos lineares curtos, formados por pequenas sequências de aminoácidos • Respostas imunes mediadas por células T são habitualmente induzidas por antígenos proteicos estranhos • Existem algumas populações de células T que têm a capacidade de reconhecer antígenos não proteicos • Antígenos T-dependentes o Proteínas microbianas, proteínas non-self ou proteínas self alteradas o Precisam ser apresentados às células T para gerarem uma boa resposta o São mais complexas, com 8 a 15 resíduos Complexo Maior de Histocompatibilidade (MHC) • Quando o material antigênico entra no organismo ele será fagocitado, processado e então apresentado às células, através do complexo maior de histocompatibilidade (MHC), que pode ser da classe I ou II. • Existe a necessidade de uma interação entre o receptor da célula T, MHC e substâncias co- ativadoras do material, para que a resposta imune aconteça com maior eficácia. Células Apresentadoras de Antígenos (APC) • São encontradas nos órgãos linfoides, epitélios da pele e dos tratos gastrointestinal e respiratório • As células dendríticas capturam, processam e apresentam a fração antigênica aos linfócitos T nos gânglios linfáticos • São mais eficientes para iniciar respostas primárias de células T • Estão estrategicamente localizadas nos locais comuns de entrada de microrganismos e antígenos exógenos (em epitélios) e em tecidos que podem ser colonizados por microrganismos • Expressam receptores que lhes permitem capturar e responder aos microrganismos • Migram preferencialmente pela via linfática dos epitélios e tecidos para as zonas de células T dos linfonodos, assim como os linfócitos T virgens • As células dendríticas maduras expressam altos níveis de complexos peptídeo-MHC coestimuladores e citocinas, que são necessários para ativar os linfócitos T virgens Biomedicina UFPE Imunologia e Sorologia – 2021.1 Ana Beatriz Chalegre Pastick 3 Imunógenos • Imunogenicidade: capacidade que uma substância tem de induzir e reagir com os produtos de uma resposta imunológica específica, ou seja, é capaz de gerar e se combinar com o anticorpo. (imunógeno) • Exposições secundárias ao imunógeno conduzem a respostas mais enérgicas e rápidas (respostas secundárias ou de memória) • Antigenicidade: capacidade que uma substância tem de se ligar a um dos componentes do sistema imune, mas, por si só, não estimula resposta imune (antígeno) o Ex1: a penicilina tem a propriedade de antigenicidade,ou seja, capacidade de se combinar com o anticorpo anti-penicilina formado, mas não é capaz de gerar, por si só, uma resposta imune, sendo, portanto, classificada como um hapteno. o Ex2 – Penicilina e Choque Anafilático: o hapteno penicilina combina-se com uma proteína autóloga, tornando-se imunogênica. Dessa forma, indivíduos com hipersensibilidade têm essa resposta exacerbada, podendo levar ao choque anafilático. Hapteno • Quando se liga a um “imunógeno maior” pode gerar respostas tanto contra o imunógeno, como contra o hapteno. • Exposições só do hapteno são incapazes de estimular a resposta imune • Repetidas imunizações imunógeno-hapteno conduzem a respostas enérgicas e rápidas Tolerógenos • São, por si só, capazes de serem reconhecidos pelo sistema imune. • Exposições repetidas aos tolerógenos conduzem a respostas cada vez menores (processos de dessensibilização) • A depender da via de inoculação, o tolerógeno gera respostas imunológicas diferentes o Ex: indivíduos com alergia a ácaro (alergia respiratória), geram anticorpos IgE. Contudo, se o ácaro fosse inoculado via intradérmica, seria gerada uma resposta IgG bloqueadora, que impede a produção de IgE. Imunógeno vs. Tolerógeno Para determinar se o antígeno é um imunógeno ou tolerógeno, é necessário analisar diversos fatores como: estado físico, genético do indivíduo, pré-tratamento físico- químico do material e via de inoculação. Fatores que influenciam a Imunogenicidade • Seres estranhos o Ex – Esterilidade Autoimune: o espermatozoide é formado após a maturação do sistema imune e não entra em contato com os anticorpos. A produção de anticorpo anti-espermatozoide pode acontecer por causa de doenças ou vasectomia, em que o espermatozoide continua sendo produzido, mas não é mais liberado. Dessa forma, o espermatozoide (antígeno) entra em contato com o organismo (extravasamento) e passa a ser reconhecido pelo sistema imune. • Peso molecular: quanto maior o peso molecular, maior a capacidade da molécula de estimular a resposta imune. o < 1.000 Da: não imunogênicos o 1.000 e 6.000 Da: pode ser imunogênica o > 6.000 Da: são imunogênicas, mas facilmente fagocitadas • Complexidade Química: homopolímeros não são imunogênicos, mas os heteropolímeros sim, pois são estruturas mais complexas. • Forma física: imunógenos particulados são mais eficientes que solúveis, já os desnaturados são mais eficientes que os nativos. • Genética • Idade: recém-nascidos e idosos respondem com menor intensidade que adultos aos imunógenos. • Método de administração o Dose apropriada ➝ ótima antigenicidade o Baixa dose ➝ baixa zona-tolerância O "universo" dos Antígenos Imunógenos Tolerógenos Haptenos Biomedicina UFPE Imunologia e Sorologia – 2021.1 Ana Beatriz Chalegre Pastick 4 o Alta dose ➝ alta zona-tolerância • Via de Administração: subcutânea > intravenosa > intragástrica • Adjuvantes: substâncias que têm capacidade de potencializar a resposta imune ao antígeno. Conjugado Hapteno-Carreador Refere-se a um complexo de proteínas que se ligam ao hapteno, tornando ele uma substância capaz de estimular a resposta imunológica Interação APC – Antígeno – Célula T Existem substâncias, chamadas de cofatores, que se ligam ao antígeno e podem induzir o aumento ou diminuição da ativação e adesão Entrada de Agentes Exógenos Superantígenos • Proteínas produzidas por patógenos, capazes de ativar múltiplos clones de Linfócitos T. Essa ativação pode ser benéfica ou não • Não são processados APC • Ligam-se a proteína intacta à região variável da cadeia β do TCR das células T e ao MHC de classe II em APC • Ativos em baixas concentrações (promove grande produção de citocinas) • Método de estimulação inespecífico (não promove imunidade adquirida) • Enterotoxinas do Estafilococos, Toxinas do choque tóxico do Estafilococos, Exotoxinas piogênicas do Estreptococos • Muitos células T ativadas promovem a liberação de citocinas com efeitos patológicos Vias de penetração do Antígeno • Trato Digestório (placas de Pyer) • Linfonodo • Baço • Diferentes portas de entrada geram diferentes respostas imunológicas Circulação de Antígenos • 1ª Exposição o Fase de Equilíbrio o Fase de Decaimento Catabólico o Fase da Eliminação Imune o Quanto mais imunizado o indivíduo estiver, mais rápido chegará a fase de eliminação imune o Indivíduos imunodeficientes permanecem durante mais tempo na fase de equilíbrio, pois seu sistema imunológico não é adequado para eliminar o material, causando, portanto, doença. Ag. Autólogos: mesmo indivíduo Ag. Singênicos: indivíduo geneticamente idêntico Ag. Alogênicos: indivíduos diferentes geneticamente. Ag. Xenogênicos: indivíduos de espécies diferentes. Termos Biomedicina UFPE Imunologia e Sorologia – 2021.1 Ana Beatriz Chalegre Pastick 5 Resposta Imune – Antígenos – Doença • A análise dos anticorpos permite determinar em qual fase da doença o indivíduo está • A PCR não é utilizada para diagnóstico em qualquer fase da doença. Durante a fase inicial, é a técnica de escolha, entretanto com o avançar da doença, prefere-se a pesquisa de anticorpos. Tipos de Vacinas • Vacinas Combinadas: são aquelas que duas ou mais vacinas são combinadas. Ex: difteria e tétano (bivalente) e difteria, tétano e coqueluche (trivalente). • Vacinas Conjugadas: são aquelas produzidas para combater diferentes tipos de doenças causadas por bactérias encapsuladas (que possuem capa protetora composta por polissacarídeos). Ex: meningococo C e Haemophilus influenzae B • Vírus Morto Inativado: utilizam o vírus inteiro, mas foi inativada por agentes químicos ou físicos. A resposta imune é menor e normalmente são necessárias doses de reforço. São mais indicadas para gestantes e imunossuprimidos. Ex: COVID-19 (Coronavac), poliomielite injetável, hepatite A, gripe, raiva • Vacinas de Ácidos Nucleicos (DNA ou RNA): o material genético do patógeno, correspondente a produção das proteínas chaves de imunização, é modificado por engenharia genética e nanopartículas, como os lipossomos, são utilizados como carreadores para levar esse material para dentro das células, onde são transcritas e/ou traduzidas em proteínas virais. A resposta imune é bem elevada. Ex: COVID-19 (Moderna) • Vacina de Vetor Viral: o princípio é o mesmo das vacinas de ácidos nucleicos, porém ao invés de usar nanotecnologia para levar esse material genético para dentro das células, são utilizados vetores virais. Ex: COVID-19 (Sputnik, AstraZeneca) • Vacinas de Subunidades (Recombinantes): também chamadas de vacinas recombinantes, por serem obtidas por engenharia genética. Neste tipo de vacina é possível produzir proteínas-chaves do patógeno para garantir a imunização, através de clonagem plasmidial, utilizando leveduras como sistema de expressão. Ex: hepatite B, papilomavírus humano (HPV). • Vírus Vivos Atenuados: os vírus encontram-se vivos, porém sofreram processos que os tornam incapazes de causar doença. A resposta imune é elevada, como se fosse uma infecção real. São contraindicadas para gestantes e imunossuprimidos. Ex: poliomielite, caxumba, febre amarela, sarampo, varicela.
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