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Módulo 13
OS ANOS DE CHUMBO: Ditadura Militar
(1964 – 1985)
Aulas 32 a 35
Contexto: Guerra Fria
Processo de construção da democracia a partir de 1945: atuação de sindicatos, Ligas Camponesas, MCP, movimentos estudantis.
Mundo bipolarizado: De um lado capitalistas, liderados pelos EUA, de outro os comunistas, liderados pela URSS.
Em toda a América Latina eclodiram movimentos de esquerda reprimidos pela elite, e que acabaram culminando em golpes de Estado e ditaduras militares, justificados pela ameaça comunista ( Argentina: 1966-1983; Chile: 1973 – 1989).
João Goulart (1961-1964)
A fama de “comunista” e “subversivo” de João Goulart dificultou sua posse. A solução encontrada para o cumprimento da Constituição – a posse do vice presidente – foi a adoção do sistema parlamentarista de governo.
O governo de Jango, portanto, seria subordinado a um primeiro ministro. Em 1965, um plebiscito decidiria a manutenção ou não do parlamentarismo.
As divergências entre o presidente e os primeiros-ministros dificultavam resoluções do governo. Em 1963, Jango antecipou o plebiscito e ocorreu a volta do presidencialismo.
Jango propôs o Plano Trienal e as Reformas de Base (agrária, administrativa, bancária, tributária, eleitoral e educacional) reduzindo a inflação e as desigualdades. 
Reformas de Base: reforma agrária, sistema bancário, eleitoral, legislativa, tributária:
“... propriedades rurais superiores a quinhentos hectares, marginais às estradas federais numa faixa de dez quilômetros.“ "... seriam desapropriadas para fins de reforma agrária as áreas superiores a trinta hectares, marginais dos açudes e obras de irrigação financiadas pelo Governo."
“... eram sujeitas a desapropriação e encampação das refinarias privadas em favor da Petrobras".
"... concessão aos inquilinos que assim desejassem, o direito de comprar o imóvel ocupado, no caso sua residência, resguardando-se o direito do proprietário de manter sua própria residência excluída de qualquer concessão.“ “... ao Estado competia avaliar essa compra dentro de preços médios praticados pelo mercado, garantindo o pagamento do imóvel ao seu proprietário nos prazos ajustados entre as partes, com base em uma prestação mensal mínima correspondente a 1% sobre o preço total do imóvel, em valores médios do mercado.“
João Goulart (1961-1964)
 
Comício pelas Reformas de Base, em 13/03/1964, na Central do Brasil, quando o presidente João Goulart fala pela última vez ao país, anunciando a Reforma Agrária 
João Goulart (1961-1964)
Multidão se reúne em frente à catedral da Sé, na região central de São Paulo, durante a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em 19 de março de 1964. O movimento foi uma reação do clero conservador, do empresariado e da direita, em geral, contra as reformas do então presidente João Goulart. O presidente acabou deposto no dia 31 de março no golpe militar. 
	O período foi marcado pela iminência de um golpe, e em 1964 apoiadas pelos latifundiários, empresários e políticos conservadores, que temiam grandes mudanças - e o comunismo – as Forças armadas deram um Golpe Militar que destituiu João Goulart da presidência. 
“Revolução necessária”
O maior acontecimento do Brasil neste 64 que se finda foi, sem dúvida, a revolução de 31 de março.
Uma Revolução branca, graças a Deus, pois sem derramamento de sangue, fratricida. Uma Revolução Branca, promissora de paz para a família brasileira. Uma Revolução ao mesmo tempo, verde–amarela de autêntico nacionalismo, de verdadeiro patriotismo. Uma Revolução de salvação da Terra de Santa Cruz.
Não fora o movimento patriótico de 31 de março, o seguinte 1° de Maio “Dia do Trabalho” teria sido talvez um de trabalho e de padecimentos, de lágrimas de sangue, com a terrível ditadura comunista no Brasil (...)
“Houve mão mais poderosa” a de nossas forças armadas, a de heróicos cidadãos de todas as classes, que não mediram sacrifícios naqueles dias de apreensão e angústias. E o Brasil respirou! E as famílias se tranquilizaram, e o homem rural não teve que temer. E a Igreja exultou.		
“O arquidiocesano”
Golpe Militar de 1964
Sob o pretexto de proteção contra a ameaça comunista e prometendo superar a crise econômica, os militares assumiram o governo através do Golpe. 
Entretanto, diferente da proposta inicial, de governo provisório, de caráter emergencial, com a instituição do AI-1, os militares deram o sinal de que a intervenção militar perduraria.
Ditadura Militar Brasileira - Consolidação
O golpe militar contou com o apoio de parte da burguesia, que desejava expansão econômica; dos latifundiários, que temiam a reforma agrária e a mobilização camponesa; dos banqueiros, que temiam um controle maior do Estado sobre sua área; e de setores da classe média, assustados com o discurso de que o comunismo estava prestes a ser instalado no Brasil .
As organizações populares não contavam com a participação massiva do povo brasileiro. A omissão de grande parte da população permitiu aos golpistas realizarem seus planos.
Os militares suspenderam parcialmente a Constituição de 1946 através da edição de Atos Institucionais (AI). 
Atos Institucionais
Após a deposição de João Goulart, vieram os atos institucionais (AI), mecanismos jurídicos criados para dar legitimidade a ações políticas contrárias à Constituição Brasileira de 1946 que consolidaram o novo regime político implantado. Pela própria redação eram mandados cumprir, diminuindo assim liberdades do cidadão.
AI 1(1964): dava ao Executivo poder para cassar parlamentares, suspender direitos políticos de cidadãos por 10 anos, decretar estado de sítio sem necessidade de aprovação do Congresso Nacional.
AI 2 (1965): extinguia diversos partidos políticos adotando o bipartidarismo. Determinou eleições indiretas e aumentou o número de cassações políticas.
AI 3 e AI 4 (1966): estabeleciam as normas para a constituição dos dois novos partidos políticos – ARENA favorável ao governo militar e o MDB, a oposição permitida.
Em 1967, os militares impuseram uma nova Constituição, em substituição à de 1946, na qual se incorporou grande parte das determinações dos Atos Institucionais. “Legalizava-se”, assim, a ditadura. 
Pouco a pouco, os militares montaram uma gigantesca máquina de repressão. Foi criado o Serviço Nacional de Informações (SNI), incumbido de detectar e sufocar eventuais manifestações contrárias ao regime, por meio de um sistema de espionagem e vigilância. Uma onda de perseguição a supostos simpatizantes do comunismo teve início e atingiu professores, intelectuais, artistas, sindicalistas, pessoas comuns.
Entre 1964 e 1973, 4 841 pessoas perderam direitos políticos ou foram cassadas. Muitos dos que foram considerados “comunistas”.
Estabeleceu-se a censura aos meios de comunicação, e somente podiam ser divulgadas informações que não fossem consideradas inadequadas pelo governo.
Ditadura militar: Resistências
Movimento estudantil;
Resistência artística: festivais de MPB, música engajada; tropicalismo; jovem guarda.
Frente Ampla: ação de oposição contra o regime militar com lideranças políticas importantes (Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart)
Ditadura militar: Resistências
Passeata dos Cem Mil: Em março de 1968, o estudante Edson Luis foi morto por forças repressivas. Seu enterro tornou-se em um dos mais importantes atos contra a ditadura, reunindo cerca de 100 mil pessoas.
Passeata dos Cem Mil
No Congresso, parlamentares criticavam as ações contra civis. Em dezembro, deputados afrontaram o governo militar ao negar processar o deputado Marcio Moreira Alves.
O governo fechou o Congresso e decretou o AI 5, o mais arbitrário de todos eles.
AI - 5
O AI – 5 autorizava:
o fechamento do Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais;
a suspensão dos direitos políticos de qualquer cidadão;
a censura prévia dos meios de comunicação;
a intervenção e cassação de mandatos políticos em estados e municípios;
o decreto do estado de sítio por tempo indeterminado;
a suspensão do direito dehabeas corpus.
Assim, aumentaram o número de prisões, torturas e cassações políticas.Com o AI – 5 consolidava-se a ditadura e estabelecia-se o Estado de Segurança Nacional.
Anos de Chumbo (1968 – 1973)
Anos após a aprovação do AI – 5: a suspensão do habeas corpus limitava a proteção contra prisões ilegais e dava carta branca aos militares;
Crescimento da luta armada:roubos e sequestros.
Aumento da censura e repressão;
Criação do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) 
Nos porões, a tortura era considerada necessária para derrotar o “inimigo” e a morte virava “acidente de trabalho”.
Com o AI-5, a repressão à população ficou muito mais violenta. Foram criadas organizações paramilitares que prendiam, torturavam e matavam os suspeitos de subversão. Organizações subordinadas ao governo também praticavam atos abusivos. Era o caso da Oban (Operação Bandeirantes), subordinada ao DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) e mantida financeiramente por muitos empresários. Leia a seguir o relato de uma das vítimas da Oban.
[...] fomos levados para o Opala sob a mira das referidas armas, sob ameaça de morte em caso de resistência, onde verifiquei que já se encontrava dentro do veículo meu amigo Carlos Danielli, [...] denotando ter sido espancado; [...] já mesmo ao entrar no pátio desse departamento policial, ao descer do carro, Carlos Danielli foi espancado à vista de centenas de pessoas que ali se aglomeravam. [...] Fomos levados, em seguida, para o interior do edifício, onde, ao entrar, ouvi de imediato gritos lancinantes que reconheci serem de Carlos Danielli, no pavimento térreo. [...] Nesse meio-tempo e até o quarto dia, Danielli continuou sendo torturado barbaramente, e, à medida que o tempo passava, seus gritos se transformavam em lamentos, e, finalmente, constatamos o seu silêncio, apesar de que ouvíamos o barulho de espancamentos. No quinto dia foram apresentadas a mim e à minha esposa manchetes de jornais que anunciavam a morte de Carlos Danielli, como tendo tombado num tiroteio com agentes policiais. Sob os nossos protestos de que ele havia sido morto como consequência das torturas que sofreu na Oban, fomos ameaçados de ter o mesmo destino. ARNS, Dom Paulo Evaristo. Brasil: nunca mais. Rio de Janeiro: Vozes, 1985. p. 253.
Em 2007, em um livro elaborado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o governo federal reconheceu pela primeira vez ter havido no Brasil, durante o regime militar, prisões ilegais, tortura e morte de prisioneiros, bem como a ocultação de seus corpos.
Driblando a censura
Apesar de Você – Chico Buarque
	Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
A oposição: Luta armada
Sem conseguir fazer oposição legal, os movimentos de esquerda passaram a enfrentar o governo militar através da luta armada.
 Adotavam táticas de guerrilha com o intuito de derrubar o governo militar.
Entretanto, o governo utilizava da guerrilha como desculpa para intensificar a repressão.
Governo Médici (1969 – 1974) 
e o auge da ditadura
Milagre econômico: Capital estatal, multinacionais e empresas privadas brasileiras
Ampliação do papel do Estado como investidor, criação de obras de infra estrutura e empresas estatais.
Propagação de empresas multinacionais.
Classe alta: Aquisição de automóveis, Tv em cores e tecnologias
Controle dos meios de comunicação através da censura.
Slogans : “Brasil país do futuro”, “Este é o país que vai pra frente”, “Ninguém segura este país”, “Brasil ame-o ou deixe-o”.
Desigualdade social e concentração de renda. 
Apelidadas de “obras faraônicas” pela imprensa da época, neste período foram construídas a rodovia Transamazônica (BR-230), as hidrelétricas de Tucuruí, Balbina e Itaipu (a maior do Brasil), a ponte Rio-Niterói, as usinas nucleares de Angra, a Ferrovia do Aço 
Copa de 1970
O foi espetáculo transmitido pela primeira vez para o povo brasileiro através da televisão. Com forte cobertura na mídia de então, a vitória da seleção brasileira em 1970 foi usada como instrumento de propaganda do regime militar. Nunca o futebol seria tão bem explorado como propaganda de um governo no Brasil como o foi em 1970. A taça Jules Rimet foi erguida pelo próprio presidente de então, Emílio Garrastazu Médici. Enquanto o povo delirava com os gols, a economia atingia o auge do que se chamou “Milagre Econômico”, mostrando um país próspero e feliz. Nas celas os presos eram torturados, mortos e desaparecidos. Nas rádios o hino da copa ecoava para os noventa milhões de brasileiros: “Pra frente Brasil!”
Copa de 1970
O sucesso do hino e a empolgação do povo, fizeram com que o governo começasse a usar a seleção como objeto de propaganda política.
Noventa milhões em ação,
Pra frente Brasil,
Do meu coração...
Todos juntos vamos,
Pra frente Brasil,
Salve a Seleção!
De repente
É aquela corrente pra frente,
Parece que todo o Brasil deu a mão...
Todos ligados na mesma emoção...
Tudo é um só coração!
Todos juntos vamos,
Pra frente Brasil!
Brasil !
Salve a Seleção!!! 
Modernização Conservadora
Milagre econômico: Modernização sem concessões: 
 - grande concentração de renda e estagnação do mercado interno;
 - aumento da dívida externa;
 - crise do petróleo e falência do milagre econômico (aumento do preço dos barris de petróleo, o Brasil passou a gastar mais com a importação do petróleo e os empréstimos estrangeiros se tornaram escassos.)
Documentário: O dia que durou 21 anos- https://www.youtube.com/watch?v=ltawI64zBEo
Governo Geisel (1974-1979) e a abertura política – lenta, gradual e segura
Processo de transição para o regime democrático
Promessa de flexibilização e distensão.
Falência do “milagre econômico” após a crise do petróleo em 1973 com o crescimento da dívida externa, diminuição do crescimento econômico e aumento da inflação.
Crise econômica e vitória do MDB nas eleições parlamentares.
1978: revogação do AI -5
Governo Figueiredo (1979 – 1985)
1979: Lei da Anistia (presos e exilados políticos foram anistiados e concedeu perdão aos que participaram dos órgãos repressivos) .
Volta de líderes da oposição.
Reforma partidária: extinção do bipartidarismo e permissão para a criação de novos partidos políticos.
Campanha pelas Diretas Já: a partir de 1983 a oposição se mobilizou para o restabelecimento das eleições diretas para presidente.
Emenda Dante de Oliveira: proposta para eleições diretas, entretanto a emenda não foi aprovada. O presidente seria eleito pelo Congresso.
Embora por voto indireto, da aliança entre PMDB e dissidentes do PSD, a Frente Liberal - Aliança Democrática, Tancredo Neves (Sarney candidato a vice) foi eleito pelo Congresso. O primeiro presidente civil após 21 anos de ditadura militar.

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