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ANA CLARA GUIMARÃES VENTURI – MED UFR – T4 - INTERNATO Dermatofitoses ▪ São infecções cutâneas superficiais causadas por fungos denominados genericamente de dermatófitos ▪ Micoses causadas por hifas hialinas (esbranquiçadas) septadas – identificadas pelo exame micológico direto Epidemiologia ▪ As micoses cutâneas estão entre as infecções fúngicas mais comuns. ▪ Principalmente causadas por fungos filamentosos queratinofílicos, que utilizam a queratina como nutriente durante a infecção de pele, cabelos e unhas. ✓ Como tem afinidade por queratina, infectam a pele e anexos. ✓ Não conseguem levar a quadros sistêmicos ▪ Estados de imunossupressão, como diabetes, HIV e transplantados causam aumento da incidência ▪ 10- 15% da população humana pode ser infectada por dermatófitos no decorrer de sua vida ▪ A transmissão das dermatofitoses ocorre pelo contato direto com animais e humanos infectados, ou indireto por fômites contaminados/banhos públicos Etiologia ▪ Os fungos podem ser: Antropofílicos, Zoofílicos e Geofílicos ▪ Estão classificados em 3 gêneros: Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton ▪ Os fungos antropofílicos estão melhor adaptados à pele do ser humano, sendo os responsáveis pela maioria das infecções ▪ Fungos zoofílicos e geofílicos podem desencadear uma reação inflamatória mais proeminente, devido a sua pouca adaptação ▪ As formas clínicas variam de acordo com o agente etiológico (espécie) e o sítio anatômico acometido: ANTROPOFÍLICOS (adaptados): Trichophyton rubrum ✓ Trichophyton rubrum ✓ Trichophyton sp. ✓ Epidermophyton sp. (regiões não pilosas) GEOFÍLICOS: Microsporum gypseum ZOOFÍLICOS: Microsporum canis ✓ Microsporum gallinae ➢ PELE: Pode ter qualquer um! ➢ CABELOS: Não tem epidermophyton ➢ UNHAS: Não tem Microsporum Fisiopatologia ▪ Um mecanismo importante na defesa do organismo contra agentes infecciosos que acometem sítios superficiais é a queratinização. ✓ Processo de renovação do estrato córneo realizado pelos queratinócitos que leva à descamação epitelial e consequentemente à possível remoção do fungo ✓ Se a pele estiver lesada, facilita a infecção. ▪ O patógeno se adere à epiderme, o esporo germina e a hifa deve penetrar rapidamente no estrato córneo, evitando que o fungo seja eliminado com a descamação do epitélio. ▪ Após a adesão, os agentes liberam uma variedade de enzimas, como a queratinases. Isso é um dos fatores de virulência mais bem caracterizados dos dermatófitos ▪ A umidade é importante para a colonização. ▪ As lesões decorrem da presença do próprio fungo ou de reação de sensibilidade ao agente ou seus produtos (dermatofitides). ▪ Fatores protetores do hospedeiro à infecção: 1. A própria queratinização 2. Alguns ácidos graxos saturados têm ação anti-fúngica 3. Transferrina insaturada 4. alfa-2-macroglobulina 5. Resposta TH1 é importante para o controle de infecção fúngica Diagnóstico ▪ CLÍNICO ▪ Se falha ao tratamento ou dúvida diagnóstica, pode- se solicitar exame micológico direto ▪ Cultura: leva ao agente causador. ▪ Lâmpada de Wood: fluorescência verde-azulada em infecções por M. canis e M. audouinii ANA CLARA GUIMARÃES VENTURI – MED UFR – T4 - INTERNATO Tinea do couro cabeludo (tinea capitis) ▪ É uma infecção fúngica do couro cabeludo que ocorre mais em crianças em idade pré-escolar. ▪ Pode estar relacionada a hábitos precários de higiene (comum no meio rural). ▪ É dividida em: TINEA TONSURANTE ▪ Uma das mais frequentes apresentações clínicas das dermatofitoses; ▪ Acomete preferencialmente as crianças no período escolar (4 a 10 anos). ▪ Lesões levemente eritematosas, descamativas, pruriginosas, com quebra de cabelo. ▪ Podem ocorrer mícides (pápulas foliculares na pele, particularmente no tronco, por hipersensibilidade) ▪ O fungo invade o cabelo, quebrando-o perto da base e deixando uma área tonsurada (alopecia focal) ✓ Se causada por Microsporum= placa única e grande ✓ Se causada por Trichophyton= várias placas pequenas Microspórica x Tricofícia TINEA FAVOSA ▪ É uma lesão essencialmente crônica causada pelo Trichophyton Schönleinii; ▪ Ocorre como microendemias nas comunidades rurais e interioranas. ▪ É considerada de maior gravidade, pois pode determinar alopecia definitiva. ▪ Persiste através dos anos nos adultos atuando como fonte de infecção para as crianças. ▪ Inicia-se por eritema perifolicular com cabelos íntegros, evoluindo com a formação de escútulas fávicas e o início da perda de cabelo. ▪ FAVO = Crostas espessas, amarelas (compostas por hifas) e debris de pele (“escútula”) KERION CELSI ▪ É uma complicação da tinea capitis ✓ Placa inflamatória, bem delimitada e dolorosa, com pústulas e abcessos com tendência supurativa - Promover a expulsão dos pêlos parasitados. ▪ Formam-se áreas cicatriciais fibróticas que podem condicionar zonas de alopécia definitiva ▪ Quadro clínico agudo: Febre e tumefação ganglionar regional. ▪ Geralmente é causado por um fungo zoofílico. ✓ No Brasil, os agentes são Trichophyton verrucosum, Trichophyton mentagrophytes, Microsporum canis e o Microsporum gypseum DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS ▪ Nas crianças: Psoríase e a pseudotinha amiantácea ▪ Nos adultos: Dermatite seborreica e psoríase TRATAMENTO ▪ O tratamento sempre deve ser realizado com antifúngicos sistêmicos + tópico ▪ As medicações de primeira escolha são a GRISEOFULVINA E A TERBINAFINA. ▪ Fluconazol e itraconazol apresentam indicação limitada visto que possuem eficácia inferior às medicações de primeira linha. ▪ Cetoconazol sistêmico não deve ser utilizado para o tratamento, pois possui alta hepatotoxicidade. ✓ Utilizar shampoo de cetoconazol ou solução de ciclopirox olamina 1% (Loprox) Griseofulvina 500 mg (Fulcin): ▪ Dose Adultos e crianças: 20 a 25 mg/kg 1 vez ao dia (dose máxima diária de 1000 mg). ▪ Duração do tratamento: 6 a 12 semanas. ▪ Efeitos adversos: Sintomas gastrointestinais, cefaleia e erupções cutâneas. Raramente apresenta toxicidade hepática ou hematológica. ▪ Não é necessário solicitar exames laboratoriais antes de iniciar a medicação em pessoas sem comorbidades. ▪ Se tratamento persistir por mais de 8 semanas, sugere-se realizar hemograma, plaquetas, TGO e TGP. Terbinafina 125 ou 250 mg (Funtyl) ▪ Dose Adultos: 250 mg 1 vez ao dia ▪ Crianças: ANA CLARA GUIMARÃES VENTURI – MED UFR – T4 - INTERNATO 10 a 20 kg: 62,5 mg 1 vez ao dia 20 a 40 kg: 125 mg 1 vez ao dia > 40 kg: 250 mg 1 vez ao dia ▪ Duração do tratamento: 4 a 6 semanas. ▪ Efeitos adversos: Sintomas gastrointestinais, alteração no paladar, cefaleia, aumento de transaminases e erupções cutâneas. ▪ Deve-se solicitar exames de função hepática prévio ao tratamento (não deve atrasar o tratamento em pessoas sem doença hepática conhecida) Cetoconazol shampoo 2%: ▪ Aplicar no couro cabeludo, deixar agir 5-10 min e enxaguar ▪ 2-3x/semana por 4 semanas MEDIDAS PREVENTIVAS ▪ Examinar os familiares que moram com a pessoa infectada ▪ Recomenda-se que os familiares assintomáticos utilizem shampoo com antifúngico por 2 a 4 semanas para diminuir o risco. ▪ Lavar roupas de cama da pessoa infectada e evitar que a mesma as compartilhe ▪ Orientar avaliação do animal de estimação por médico veterinário. Tinea da barba (tinea barbae) ▪ A tinha da barba atinge a pele e os pêlos faciais da zona da barba ▪ Afeta homens adultos e mulheres hirsutas ▪ Placas eritematodescamativas, clareamento central e com bordas elevadas/bem delimitadas ▪ Pode, também, existir alopécia no centro das lesões CLÍNICA ▪ Lesão primária é a vesícula. ▪ Evolui com fusão de vesículas e posterior exulceração (crostas). ▪ Progressão centrífuga. ▪ Esta forma é bastante inflamatóriae pode evoluir para cura espontânea 1. Tipo inflamatório: ▪ Lesões exsudativas e supurativas circunscritas lembrando o kerion. 2. Tipo herpes circinado: ▪ Lesões anulares eritemato-pápulo-vesicoescamosas nas bordas com tendência à cura central. 3. Tipo sicosiforme: ▪ Idêntica à foliculite bacteriana. ▪ Pústulas foliculares com posterior formação de crostas DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS 1. Foliculite bacteriana 2. Dermatite perioral 3. Pseudofoliculite da barba 4. dermatite de contato 5. herpes simples TRATAMENTO ▪ Casos locais: cremes de imidazólicos ✓ Cetoconazol ou isoconazol ▪ Casos disseminados: ✓ Medicações sistêmicas: Terbinafina (250 mg 1X/D) Tinea do corpo (tinea corporis) ▪ Pode desenvolver em qualquer parte do corpo, mas é mais frequente nas áreas cutâneas expostas e de pele glabra (sem pelos) ▪ Geralmente causada por espécies de Tricophyton, mais especificamente o T.rubrum. ▪ Fatores de risco: História pessoal ou Contato próximo com tinha do couro cabeludo ou do pé CLÍNICA ▪ 1 ou Múltiplas lesões anulares descamativas, com borda ligeiramente elevada e eritematosa. ▪ A borda pode ter pústulas ou pápulas foliculares ▪ Prurido é variável. ▪ O crescimento da lesão é centrífugo com tendência ao clareamento central. ▪ Com o aumento do número das lesões e seu agrupamento, assume um padrão circinado ▪ O uso prévio de corticosteróides pode alterar a aparência das lesões, situação designada como tinea incógnita 1. Forma anular: Lesão eritematopapulosa, escamativas, com clareamento central, bordas circinadas, crescimento centrífugo. As lesões podem ser múltiplas, ocorrendo frequentemente sua confluência. Associadas a prurido. Tende a cura espontânea. 2. Forma em placas: As placas são descamativas, eritematosas e aumentam tanto em tamanho que podem chegar a comprometer extensas áreas do tegumento, podendo simular quadros de dermatite seborreica ou de psoríase. Não tende à cura espontânea DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 1. Eczema numular 2. Pitiríase rosada 3. Doença de Lyme 4. Pitiríase versicolor ANA CLARA GUIMARÃES VENTURI – MED UFR – T4 - INTERNATO 5. Dermatite de contacto 6. Granuloma anular TRATAMENTO: ▪ INICIAL: Antifúngico tópico a 1% na lesão e 2 cm ao redor da mesma, 2x ao dia por 1 a 3 semanas. ✓ O tempo de tratamento varia conforme a resposta clínica, mantendo-se até a resolução da infecção. ▪ Em lesões muito extensas ou na falha do tratamento tópico pode-se utilizar antifúngico sistêmico. 1° escolha: terbinafina 250mg/dia e o itraconazol 100mg/dia. 2° escolha: fluconazol 150mg/sem e griseofulvina (por maior tempo e menor chance de resposta) ▪ Aconselhar evitar o contato direto com outros indivíduos (prevenir a transmissão) Tinea do pé (tinea pedis) ▪ É comum em adolescentes e adultos e rara em crianças antes da puberdade; “pé de atleta”; “frieira” ▪ É a dermatofitose mais frequente ▪ A sua incidência, juntamente com a das onicomicoses, tem vindo a crescer: ✓ Utilização de banhos comuns ✓ Calçado oclusivo; ✓ Aumento da incidência da diabetes e da infecção pelo HIV ▪ O diagnóstico diferencial inclui: Dermatite de contato, Eczema e a Psoríase. CLÍNICA 1. Interdigital ▪ Lesão pruriginosa e eritematosa nas regiões interdigitais dos pés; ▪ Fissuras associadas podem causar dor ▪ Pode haver infecção bacteriana 2ªria que leva à secreção purulenta ▪ É a mais habitual 2. Hiperceratótica/ Escamosa Crônica ▪ Normalmente causada pelo T. rubrum ▪ Pode afetar as regiões plantares com espessamento e descamação, acompanhando-se de eritema e hiperqueratose dos calcanhares, plantas e faces laterais dos pés – tipo “mocassin” 3. Vesiculobolhosa ▪ Erupções vesiculobolhosas pruriginosas, com eritema; ▪ Geralmente acomete a região medial do pé. TRATAMENTO ▪ O tratamento da tinea pedis e tinea mannum é semelhante 1° escolha: Antifúngicos tópicos 1% 2 vezes ao dia por 1 a 4 semanas ✓ EX: Miconazol, clotrimazol, itraconazol, terbinafina ou ciclopirox olamina ✓ Até a resolução da infecção. ▪ O creme de cetoconazol a 2% pode melhorar a adesão terapêutica (Apenas uma aplicação diária) ▪ Nistatina tópica não é efetiva para o tratamento de dermatofitoses e, portanto, não deve ser utilizada. ▪ Se infecção crônica ou recidivante ou quando a área afectada é extensa: Terbinafina . ▪ Pode ter celulite estreptocócica: Adição de um antibiótico quando houver sinais de sobre-infecção bacteriana PREVENÇÃO ▪ Utilização de chinelos em piscinas e balneários públicos ▪ Controle da hiperidrose com pós antimicóticos e/ou antimicrobianos (Lysoform) ▪ Desinfecção dos sapatos com sprays anti-sépticos. ▪ Os pés devem ser secos ▪ Calçado fechado: evitar ou alternar a cada 2-3 dias a fim de reduzir a umidade local Tinea crural (tinea cruris/coceira de Dhobi) ▪ Tínea da região perineal ou inguinocrural, acometendo a partir da dobra, o períneo, a coxa proximal e o abdome. ▪ É uma infecção dermatófita que ocorre predominantemente no sexo masculino (na faixa etária de 18 a 30 anos), principalmente obesos e diabéticos. ▪ Eczema marginado de Hebra ▪ Poupa o escroto e não apresenta lesões satélites: mais comum da candidíase das pregas ▪ O acometimento geralmente é bilateral e a doença é extremamente pruriginosa ▪ A tinea cruris encontra-se frequentemente associada à tinea pedis. CLÍNICA ▪ Início: Placa eritematosa, macerada, evolui de forma centrífuga, com clareamento central. ▪ Bordas elevadas, descamativas e eritematosas, bem delimitadas e com pequenas vesículas. ▪ Pode haver prurido moderado a intenso e ardor, muitas vezes perturbando o sono. ANA CLARA GUIMARÃES VENTURI – MED UFR – T4 - INTERNATO TRANSMISSÃO ▪ Contato íntimo com roupas contaminadas, salas de ginástica e vestiários públicos DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS ▪ Psoríase inversa ▪ Eritrasma ▪ Dermatite seborreica ▪ Candidíase inguinal. TRATAMENTO Inicial: Antifúngico tópico 2 vezes ao dia por 1 a 3 semanas. ▪ O tempo de tratamento varia conforme a resolução da infecção. ▪ Os corticosteróides tópicos em baixa dose podem ser usados como adjuvantes nos primeiros dias, para reduzir a inflamação da pele envolvida. ▪ Em lesões muito extensas ou na falha do trat. tópico: Terbinafina ou Itraconazol ▪ Para evitar recorrência, deve-se avaliar e tratar pacientes com tinea pedis e onicomicose ▪ Aconselhar: O uso de vestuário pouco apertado e a perda de peso Tinea da unha (onicomicose) 1. Infecção da lâmina ungueal (rica em queratina) 2. Frequentemente progride para o leito ungueal 3. Muito frequente na população em geral, mais comum em idosos 4. Unhas dos pés são de 8 a 10 vezes mais acometidas do que as das mãos CLÍNICA 1. Superficial BRANCA ▪ Manchas esbranquiçadas na superfície da lâmina → forma mais leve e de fácil tratamento. 2. Distal: ▪ Forma mais comum ▪ Dermatófito penetra pelo hiponíquio, levando à onicólise e à queratose subungueal ▪ Associadas a estrias subungueais esbranquiçadas ou amareladas. 3. Proximal: ▪ Forma rara ▪ Muito associada à imunossupressão/HIV. ▪ O agente penetra pela dobra ungueal proximal, causando descoloração esbranquiçada na região subungueal proximal. ▪ Pensar em candida 4. Total: ▪ Forma evolutiva das apresentações descritas ▪ Unha totalmente distrófica, impossibilitando detectar-se a forma de penetração do agente. TRATAMENTO ▪ É longo e deve ser sistêmico, exceto nos casos da branca superficial. Associar terapia tópica Terbinafina 250mg/dia por 4 a 6 meses Itraconazol 200mg/dia por 4 a 6 meses ▪ Esmaltes tópicos com ciclopirox olamina 8% (Loprox, Micolamina) ou amorolfina 5% (Loceryl) são usados para complementar o tratamentosistêmico e na profilaxia das recidivas ▪ Unhas de coloração esverdeada sugere contaminação secundária por Pseudomonas ▪ Se houver ceratose ungueal intensa: ✓ Desbastar a unha com lixa ✓ Cremes ceratoliticos: Ureia 30-40% manipulada em creme (aplicar sobre na unha e ocluir 1x/ semana) ou Á. Salicílico 5-10% manipulado em creme (aplicar sobre na unha e ocluir 1x/ semana)
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