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REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA - ESTÁGIO SUPERVISIONADO II

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE-MG
Processo nº:
JOAQUIM DAS COUVES, brasileiro, por sua advogada que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, requerer a REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, com fulcro no artigo 316 do CPP, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:
1.DOS FATOS
O Requerente foi preso preventivamente no dia , pela prática do crime previsto no art. 121 do CP, após reconhecimento facial da irmã da vítima.
Ocorre que conforme a respeitável decisão retro de fls., este juízo entendeu pela a necessidade da custódia preventiva em razão da garantia da ordem pública para fins de resguardar o meio social, ante a suposta gravidade do delito, abstratamente considerada, e a sua forma de execução, sendo que haveria indícios de que o requerente conduzia o veículo em alta velocidade e embriagado, bem como em razão da comoção social, estando a população deste município revoltados com o fato criminoso, clamando por justiça.
Assim, o juízo, por entender presentes os pressupostos da custódia cautelar, com fulcro nos arts. 311 e 312, c/c o art. 310, II, todos do CPP, para fins de assegurar a garantia da ordem pública e manutenção da própria credibilidade da Justiça, decretou a prisão preventiva do requerente.
2.DO DIREITO
De acordo com o art. 312, do CPP: “A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado."
Observa-se que, no caso em tela, não há presente nenhum dos fundamentos que ensejam prisão preventiva, uma vez que:
a) o Requerente é primário e portador de bons antecedentes, conforme comprova os
documentos em anexo, logo não há risco à ordem pública se em liberdade o Postulante;
b) não há que se falar pela condição pessoal do Requerente, bem como do tipo penal em
questão que haja risco à ordem econômica;
c) não há indícios de que o Postulante em liberdade ponha em risco a instrução criminal
nos autos;
d) tem o Requerente residência fixa, e trabalha, conforme fazem prova as cópias do comprovante de endereço e da carteira de trabalho e previdência social, portanto não há risco à aplicação da lei penal já que o Requerente mantém vínculos.
Portanto, verifica-se que estão ausentes os requisitos autorizadores da prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP, razão pela qual requer seja revogada nos termos do art. 316 do CPP. Nesse sentido, não obstante a decisão tenha decretado a prisão preventiva como garantia da ordem pública, a doutrina entende que não existe um conceito elucidativo do que seria a ordem pública.
Oliveira (2015) afirma que a jurisprudência, hodiernamente, não possui um conceito definido e preciso do que seria ordem pública, utilizando o fundamento de garantia da ordem pública, ora em razão do risco ponderável da repetição da ação delituosa objeto do processo, acompanhado do exame acerca da gravidade do fato e de sua repercussão, ora em razão unicamente da gravidade do crime praticado.
Nucci (2013) pensa que a ausência de definição ou detalhamento do que seria garantir a ordem pública, tem por finalidade evitar que haja qualquer interferência externa no uso da prisão cautelar por parte dos magistrados, fazendo com que os mesmos, possam utilizá-la com ampla liberdade. Nesse diapasão, percebe-se que essa ausência de detalhamento legal, do que seria a ordem pública, dá margem para que os magistrados atuem com ampla liberdade, decretando, assim, por vezes, prisões arbitrárias sob o pretexto de garantir a ordem pública.
Conforme dito, essa ampla liberdade conferida aos magistrados, dá ensejo à decretação de prisões arbitrárias, fundamentadas em um conceito impreciso e vago, que não estabelece, de forma taxativa, quais são as condutas que põem em risco à ordem pública. A garantia da ordem pública envolve a própria segurança pública, não sendo necessário abranger toda uma cidade, bastando um bairro, uma região ou uma comunidade. Demanda quesitos básicos como gravidade concreta do crime, repercussão social, maneira destacada de execução, condições pessoais negativas do autor e envolvimento com quadrilha, bando ou organização criminosa (NUCCI, 2013, p. 88).
Por ordem pública, devem-se entender a paz e a tranquilidade social, que devem existir no seio da comunidade, com todas as pessoas vivendo em perfeita harmonia, sem que haja qualquer comportamento divorciado do modus vivendi em sociedade. Assim, se o indiciado ou o acusado em liberdade continuar a praticar ilícitos penais, haverá perturbação da ordem pública, e a medida extrema é necessária se estiverem presentes os demais requisitos legais. (RANGEL, 2015, p. 810). Nota-se que não há consenso em relação a quais fatores abalam a ordem pública, como também não há em relação ao conceito de ordem pública propriamente dito. Ora a ordem pública é propagada como segurança da sociedade, ora como paz social, não possuindo assim, um conceito unânime.
Em virtude dessa imprecisão, não se sabe o que se visa garantir com a decretação da prisão preventiva sob tal fundamento. Ademais, esse conceito aberto de ordem pública, dá margem para que a prisão preventiva seja decretada em razão das mais diversas e incontroláveis circunstâncias.
Nesse diapasão:
EMENTA: HABEAS CORPUS. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. PRISÃO CAUTELAR. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. DELIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL DESSE FUNDAMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA. ORDEM DENEGADA. 1. Muito já se escreveu sobre esse fundamento específico da prisão preventiva, previsto no art. 312 do CPP. Para alguns estudiosos, serviria ele de instrumento para evitar que o acusado, em liberdade, praticasse novos crimes ou colocasse em risco a vida das pessoas que desejassem colaborar com a Justiça, causando insegurança no meio social. Outros preferem associar a ordem pública à credibilidade do Poder Judiciário e das instituições públicas. Por fim, há também aqueles que encaixam no conceito de ordem pública a gravidade do crime ou a reprovabilidade da conduta, sem falar no proverbial “clamor público”, muitas vezes confundido com a repercussão, na mídia, causada pelo suposto delito[…]. (HC nº 111.244, Relator (a) Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, Julgado em: 10/04/2012).
Percebe-se, assim que o conceito de ordem pública é bastante vago e impreciso, podendo ser associado a diferentes circunstâncias, o que possibilita que o juiz decrete a segregação preventiva do acusado, utilizando-se das mais diversas argumentações, em virtude da amplitude conceitual que é inerente ao conceito (ou falta de conceito) do que é ordem pública.
A prisão como garantia da ordem pública rompe com o princípio da legalidade, pelo seu conceito indefinido, subjetivo, vago e amplo. É exatamente nesse conceito de conteúdo ideológico que se verifica a possibilidade do exercício arbitrário das prisões, em desrespeito aos direitos fundamentais, tornando legítimas decisões injustas e ilegais (KATO, 2005. p. 117).
Assim, percebe-se que, o que sem tem por prisão preventiva para garantir a ordem pública é algo muito abstrato; intangível, o que é totalmente incompatível com o processo penal democrático, pois essa subjetividade inerente ao conceito de ordem pública, dá margem e ensejo para decretações de prisões arbitrárias, violando-se, dessa forma, direitos fundamentais, e, sobretudo, o princípio da legalidade.
O brocardo “não há crime ou pena sem lei prévia, escrita, estrita e certa”, proíbe obscuridades e incertezas nas leis que limitam a esfera individual do cidadão. Assim, na medida em que a definição de garantia da ordem pública não é certa, o princípio da legalidade estará sendo violado.
Sabe-se ainda que a prisão é preventiva é uma medida de caráter excepcional, e que só deve ser utilizada quando não for cabível outra medida menos restritiva, pois restringir a liberdade de alguém, que é presumidamente inocente,por meio da prisão, deve ocorrer apenas nos casos em que a utilização de outras medidas menos restritivas, se mostrem ineficientes.
Sendo assim, a decretação da prisão preventiva por meio de um fundamento subjetivo e vago, viola o princípio da legalidade, pois todas as hipóteses que restringem a liberdade do indivíduo devem estar expressas na lei, de forma precisa, não havendo, portanto, espaço para subjetividade.
Vale ressaltar ainda que, a legalidade é princípio informador de todo o processo penal, e a prisão preventiva, como medida restritiva de liberdade que é, deve se submeter ao filtro da legalidade, evitando, assim, que os magistrados interpretem a seu bel prazer o significado do termo garantia da ordem pública.
Ademais, de acordo com Lima (2003), a prisão preventiva como garantia da ordem pública, em última análise, viola o contraditório e a ampla defesa, já que impossibilita o exercício pleno da defesa, uma vez que a amplitude e a subjetividade do termo impossibilita a realização da contraprova.
3.DO PEDIDO
Diante do exposto, requer seja concedido os auspícios da justiça gratuita, a intimação do Ministério Público para se manifestar no feito, bem como a revogação da prisão preventiva, por ausentes os requisitos dos arts. 312 do CPP, com a expedição do alvará de soltura.
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
Local, data
Adv.

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