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EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE BELO HORIZONTE/MG Autos nº xxxxxxxxxxxxxxx Joaquim, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por seu advogado e procurador que esta subscreve, conforme procuração já acostada nos autos, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 282, § 5 e 316 do Código de Processo Penal, requerer a REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA Pelos motivos de fato e de direito a seguir fundamentados. I. DOS FATOS Oferecida a denúncia pelo órgão ministerial – Parquet, foi apresentada a Resposta à Acusação em tempo hábil, e em sequência, o Ministério Público se manifestou pela ordem de decretação de prisão preventiva do réu. Fundamentada na garantida, o pedido de prisão preventiva foi acolhido pelo Juiz de piso, assim determinando a prisão preventiva de Joaquim das Couves. Far-se-á menção a fundamentação de decisão, que no mais, dentre sua peculiaridade, se dispõe um tanto quanto generalista: [...] A foto do réu encontra-se cadastrada em álbum de fotos na Delegacia de Polícia por já ter sido ele investigado pelo cometimento de furto e mesmo o inquérito policial tendo sido arquivado por falta de provas, a preservação da ordem pública se impõe e a prisão preventiva é a única medida a ser tomada, pois, além do crime cometido ser grave o réu demonstra periculosidade, já que o homicídio de João das Couves de Andrade não é o único delito atribuído a ele, além disso a ordem de prisão é necessária, inclusive para preservar-lhe a vida e a integridade física, já que a vítima era pessoa querida na região e a qualquer momento ele pode sofrer linchamento pela comunidade. Portanto, a prisão é urgente e necessária para que a ordem pública se restabeleça, não há possibilidade também em substituir a prisão preventiva por cautelares diversas, o réu precisa ser imediatamente retirado do meio social para evitar que volte a delinquir. Ato contínuo, apesar da não apreciação das preliminares de mérito elencadas por este causídico, o Magistrado reconheceu a incompetência relativa e enviou os autos à Comarca de Contagem, como determinava o pedido. Em referência a prisão preventiva, o Juiz do Tribunal do Juri competente manteve a decisão prolatada em momento anterior. II. DO DIREITO No sentido do atual sistema judiciário brasileiro, temos nos deparado cada vez mais com a decretação de prisões preventivas, muitas vezes infundadas, desnecessária, sem observância aos requisitos necessários, buscando tão somente, sanar os ensejos da sociedade e da pressão midiática. Ocorre que, dada a natureza cautelar da prisão, esta, somente se justifica quando preenchido os requisitos de extrema necessidade elencados pelo Código de Processo Penal. Incursas nos artigos 312 e 313 do CPP, as medidas cautelares, no caso em apreço, a prisão preventiva, deve seguir estritamente a lei, não deixando margem para flexibilização do verbo. Ante a sua natureza de excepcionalidade, deve-se observar o art. 313, § 2 do referido código de processo, qual enseja, que não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia. Ademais, é importante mencionar que a Constituição Federal apregoa em seu art. 5º, inciso LVII, que ninguém será privado de seus direitos fundamentais sem o devido processo legal, nesse caminho, apontando o princípio essencial da presunção de inocência. A prisão cautelar deve ser considerada exceção, já que, por meio desta medida, priva-se o réu de seu jus libertatis antes do pronunciamento condenatório definitivo, consubstanciado na sentença transitada em julgado. É por isso que tal medida constritiva só se justifica caso demonstrada sua real indispensabilidade para assegurar a ordem pública, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal, ex vi do artigo 312 do Código de Processo Penal” (HC nº 337.121, rel. Min. FELIX FISCHER, DJ. 10.03.16). No mais, percebe-se com o dispositivo do artigo 282 do Código de Processo Penal, um “trinômio” de requisitos que deve ser levado em consideração pelo Magistrado, qual seja, a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida cautelar aplicada ao caso. Questiona-se, qual a real necessidade da decretação da prisão preventiva, quando sequer evidenciado a autoria delitiva no caso em tela? Incomensurável é o prejuízo do constituinte, que paga por pena que não o pertence, e não há outro Norte se não a absolvição. Diante disso, não há que se falar em “necessidade” da medida cautelar, para proteger a vida ou a integridade física do próprio agente, suposto ofensor, vez que é totalmente desarrazoado limitar a liberdade de alguém, e aplicar tal medida gravosa, para proteger-lhe; violar um direito, para proteger outro incerto. Ressalta-se que desde que bem fundamentada, a prisão preventiva tem encalço para ser admitida no ordenamento jurídico, entretanto, quando evidente e implícitos seus elementos essenciais - a existência de Periculum Libertatis, que é o perigo gerado pela liberdade do agente; e Fumus Comissi Delicti, que são os indícios de autoria e certeza do crime. Leciona Norberto Avena: Como qualquer medida cautelar, a preventiva pressupõe a existência de periculum in mora (ou periculum libertatis) e fumus boni iuris (ou fumus comissi delicti), o primeiro significando o risco de que a liberdade do agente venha a causar prejuízo à segurança social, à eficácia das investigações policiais/apuração criminal e à execução de eventual sentença condenatória, e o segundo, consubstanciado na possibilidade de que tenha ele praticado uma infração penal, em face dos indícios de autoria e da prova da existência do crime verificados no caso concreto. (AVENA, 2020, p. 1054)[1] A respeito da doutrina elencada, far-se-á citação da legislação que determina, que a decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada. Visivelmente, tem-se no atual caso, um descumprimento primordial dos requisitos autorizadores para a decretação da prisão preventiva, qual versa até mesmo sobre uma possível ilegalidade. No mais, reforçando a doutrina majoritária, a garantia da ordem pública não pode ser o único elemento pilar para a aplicação da cautelar: Violam a ordem pública: aqueles que afetam a credibilidade do judiciário; os que contam com a divulgação pela mídia (não confundir com sensacionalismo, clamor público); os crimes cometidos com violência ou grave ameaça ou com outra forma de execução cruel; se o agente delitivo possui longa ficha de antecedentes etc. (ALVES, 2019, p. 117)[2] Da mesma forma, os tribunais superiores confirmam que a prisão preventiva não pode ser baseada em meros dados abstratos ou informações inconsistentes, por se tratar de medida excepcional, deve ser demonstrado concretamente que a liberdade do indivíduo, põe em risco a ordem pública, ou no mais, preenche algum dos requisitos do Código de Processo Penal. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. TRÁFICO DE DROGAS (1,8 G DE COCAÍNA E 4 G DE CRACK). GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. FUNDAMENTAÇÃO. EXISTÊNCIA DE REGISTROS CRIMINAIS. RECEIO DE PERIGO GERADO PELO ESTADO DE LIBERDADE DO IMPUTADO À ORDEM PÚBLICA NÃO EVIDENCIADO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. LIMINAR DEFERIDA. PARECER MINISTERIAL PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. 1. No caso, a despeito de apresentar prova da existência do delito e indício suficiente de autoria, o decreto preventivo não apontou elementos concretos de receio de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado à ordem pública, carecendo, assim, de fundamento apto a consubstanciar a prisão. Precedentes. 2. Registre-se que a quantidade de entorpecente apreendido (1,8 g de cocaína e 4 g de crack) não é expressiva. Nesse sentido: HC n. 614.770/SP, de minha relatoria, Sexta Turma, DJe 30/11/2020. 3. Então, conquanto o Juiz haja mencionado registros criminaisrecentes do paciente, a denotar a necessidade de garantir a ordem pública, a justificativa não se mostra bastante, em juízo de proporcionalidade, a motivar a cautela extrema, sobretudo porque foi encontrada com o suspeito quantidade de droga que não é elevada a ponto de, por si só, denotar a prática não ocasional do tráfico de drogas (HC n. 524.586/SP, Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 21/10/2019). 4. Ordem concedida, confirmando a medida liminar, para revogar a prisão preventiva imposta ao paciente nos Autos n. 0009251-14.2019.8.21.0132, da Vara Criminal da comarca de Sapiranga/RS, facultando-se ao Magistrado singular determinar o cumprimento de medidas cautelares alternativas à prisão. (HC 577.815/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 23/02/2021, DJe 26/02/2021) Por fim, em se tratando de matéria excepcional, o entendimento é de que o Magistrado deve analisar a possibilidade de cautelares diversas da prisão, de modo isolado ou cumulativamente, desde que flexibilizado e proporcional ao que demanda cada caso específico. Devendo somente determinar o recolhimento do agente em ergástulo público, quando as cautelares diversas se mostrarem insuficientes. Assim sendo, entende a defesa ser medida que se impõe, a revogação da prisão preventiva de Joaquim, forte nos artigos 282, § 5º, 316, todos do Código de Processo Penal, aplicando-se medidas diversas da prisão na forma do art. 319, do Código de Processo Penal, em especial um eventual monitoramento eletrônico deste último, a fim de demonstrar, cabalmente, que em nenhum momento o acusado pretende violar as futuras medidas impostas por este juízo. Passo aos pedidos formulados. III. DOS PEDIDOS Ante o exposto, postula-se a Vossa Excelência, nos termos dos artigos 282, § 5º e 316, todos do Código de Processo Penal, pela revogação da prisão preventiva de Joaquim, com a consequente expedição do alvará de soltura, aplicando-se, caso seja o entendimento de Vossa Excelência, algumas das medidas diversas da prisão, constantes no art. 319, do Código de Processo Penal, consoante ao acima destrinchado. Termos em que, Pede deferimento. Belo Horizonte - MG, 14/10/2021 RICHARD VIEIRA FERNANDES OAB/MG 512.852
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