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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA APOSTILA DE ANGIOLOGIA Vitor Luiz Back Teló FRANCISCO BELTRÃO 2020 SUMÁRIO Resumo de Angiologia – Anatomia e Semiologia Vascular ........................................................ 3 Resumo de Angiologia – Insuficiência Arterial ......................................................................... 11 Resumo de Angiologia – Doença Carotídea Aterosclerótica .................................................... 15 Resumo de Angiologia – Aneurisma de Aorta Abdominal ....................................................... 17 Resumo de Angiologia – Pé Diabético ...................................................................................... 21 Resumo de Angiologia – Insuficiência Venosa Crônica ............................................................ 28 Resumo de Angiologia – Linfedema ......................................................................................... 31 Resumo de Angiologia – Trombose Venosa Profunda ............................................................. 33 Resumo de Angiologia – Embolia Pulmonar ............................................................................ 37 Resumo de Angiologia – Varizes de Membros Inferiores ........................................................ 40 Resumo de Angiologia – Trauma Vascular ............................................................................... 43 Resumo de Angiologia – Anticoagulação ................................................................................. 46 Resumo de Angiologia – Anatomia e Semiologia Vascular Autor: Vitor Luiz Teló – Referência: Angiologia Básica (Capítulo 01 e 02) Introdução ▪ A angiologia é a especialidade médica que estuda as patologias dos vasos sanguíneos e seu tratamento. Em alguns locais, a especialidade de cirurgia vascular é dissociada da angiologia, ficando a cargo do especialista em cardiologia. Este resumo abordará os principais pontos relacionados a anatomia e semiologia vascular. Arco Aórtico ▪ Considera-se o arco aórtico como o primeiro grande vaso humano. Saindo do coração (VE), o arco aórtico possui logo no início de seu trajeto a válvula aórtica¸ uma estrutura composta por três valvas (direita, esquerda e posterior). Seu curto trajeto é dividido em três porções, (1) a aorta ascendente, (2) o arco aórtico propriamente dito e (3) a aorta descendente. • Ramos do Arco Aórtico ▪ Artéria Coronária Esquerda ▪ Artéria Coronária Direita ▪ Tronco Braquiocefálico: forma as artérias subclávia e carótida comum direitas ▪ Artéria Carótida Comum Esquerda ▪ Artéria Subclávia Esquerda Sistema Carotídeo ▪ O sistema carotídeo compreende os ramos das artérias carótidas comuns e outras estruturas como o seio carotídeo e o glomo carotídeo. As carótidas comuns têm como ramos: • Artéria Carótida Interna: é o ramo posterior da a. carótida comum. Ele penetra na caixa craniana através do canal carótico e ajuda a formar o circuito de irrigação do SNC • Artéria Carótida Externa: é o ramo anterior da a. carótida comum, localizado na parte externa da caixa craniana. É dela que saem os ramos que irão irrigar as vísceras anteriores do pescoço, bem como toda a face. ▪ Artéria Tireóidea Superior ▪ Artéria Faríngea Ascendente ▪ Artéria Lingual ▪ Artéria Facial ▪ Artéria Occipital ▪ Artéria Auricular Posterior ▪ Artéria Temporal Superficial ▪ Artéria Maxilar Círculo Arterial de Willis ▪ O polígono de Willis ou Círculo Arterial de Willis é um sistema de vasos arteriais conectados entre si, responsável pelo fornecimento de sangue para o SNC. Essa estrutura é composta pela união da circulação carotídea com a circulação vinda das artérias vertebrais. ▪ Essa estrutura permite a anastomose entre os vasos, possibilitando que, numa situação de oclusão, o suprimento arterial possa ser desviado através de outros vasos. • Circulação Carotídea: é responsável pela maior parte da circulação do polígono de Willis. Seus ramos são: ▪ Artérias Cerebrais Anteriores ▪ A. comunicante anterior ▪ Artérias Cerebrais Médias: é sem sombra de dúvida a mais acometida em quadros de AVC devido ao seu calibre maior que as demais. • Circulação Vertebral: as duas artérias vertebrais se fundem na linha média formando a artéria basilar. Seus ramos são: ▪ Artéria Cerebral Posterior ▪ A. comunicante posterior Artérias dos MMSS ▪ A partir do tronco braquiocefálico (direito) e do arco da aorta (esquerdo) saem as artérias subclávias, os principais vasos dos membros superiores. De trajeto curto abaixo da clavícula, elas logo se transformam em artérias axilares e quando saem da axila se tornam artérias braquiais. • Artéria Subclávia -> Artéria Axilar -> • Artéria Braquial: corre paralela ao úmero, ramificando-se na fossa cubital. Quando se mede a PA no braço, é a artéria braquial que está sendo avaliada. ▪ Artéria Radial: forma principalmente o arco palmar profundo ▪ Artéria Ulnar: forma principalmente o arco palmar superficial ▪ Uma manobra semiológica importante para avaliar as anastomoses dos arcos palmares é o chamado Teste de Allen. Esse teste consiste na oclusão da artéria radial para avaliação do arco superficial (ulnar) seguido pela oclusão da artéria ulnar para avaliação do arco profundo (radial) Artérias do Tórax e Abdome ▪ Após a emergência dos vasos que irrigam os membros superiores e a cabeça, a aorta não possui nenhum ramo calibroso até chegar ao abdome. No tórax, os únicos ramos diretos da aorta são os 13 pares de artérias intercostais posteriores. ▪ A irrigação arterial da porção anterior do tórax é feita pelas artérias torácicas internas (ramo da artéria subclávia) que dão os 13 pares de artérias intercostais anteriores. ▪ Ao passar pelo diafragma, a aorta passa a ser denomina aorta abdominal. Essa porção tem como principais ramos: • Tronco Celíaco ▪ Artéria Esplênica ▪ Artéria Gástrica Esquerda ▪ Artéria Hepática Comum • Artéria Mesentérica Superior: responsável por grande parte da irrigação do trato gastrointestinal. Oclusões de grande parte da luz dessa artéria são condições incompatíveis com a vida. • Artérias Lombares • Artérias Renais: é importante lembrar que a artéria renal esquerda é mais alta que a direita • Artéria Mesentérica Inferior: responsável pela irrigação do colo descendente e sigmoide. • Artérias Gonadais ▪ A palpação dos vasos abdominais é possível nos pacientes longilíneos, magros ou com diástases do músculo reto abdominal. Artérias da Pelve ▪ As artérias da pelve derivam da ramificação da artéria aorta a nível de L4 em artérias ilíacas comuns. Estas têm um trajeto curto dentro da pelve, já se ramificando em artéria ilíaca interna (supre as vísceras pélvicas a parte posterior da coxa) e artéria ilíaca externa (supra o restante do membro inferior) • Artéria Ilíaca Interna ▪ Ramos Viscerais: artéria umbilical, artéria vesical inferior, artéria retal média e artéria uterina ▪ Ramos Parietais Anteriores: artéria obturatória e artéria pudenda interna ▪ Ramos Parietais Posteriores: artéria ileolombar, artéria sacral lateral, artéria glútea superior e artéria glútea inferior Artérias do MMII ▪ Ao entrar no membro inferior, através do canal inguinal, a artéria ilíaca externa forma a artéria femoral comum cujo primeiro ramo é a artéria femoral profunda. Após formar esta, ela se continua como artéria femoral superficial. A artéria femoral é facilmente palpada na região inguinal. • Artéria Femoral Profunda: responsável por toda a irrigação do fêmur e musculatura da coxa • Artéria Femoral Superficial: não possui nenhum ramo importante na coxa, apenas seguindo seu trajeto pelo canaldos adutores até formar a artéria poplítea • Artéria Poplítea: seu trajeto genicular possui 4 ramos (artéria superior lateral do joelho, artéria superior medial do joelho, artéria inferior lateral do joelho e artéria inferior medial do joelho). Após deixa a fossa poplítea ela se ramifica em: ▪ Artéria Tibial Anterior: atravessa a membrana interóssea da perna e corre pela face latera da tíbia até formar a artéria pediosa no pé ▪ Tronco Tibiofibular: é um segmento curto que se ramifica em artéria fibular e artéria tibial posterior ▪ Artéria Fibular: percorre a fíbula posteriormente ▪ Artéria Tibial Posterior: segue posteriormente a tíbia, passando por baixo do maléolo medial (local de palpação de pulso) e entrando na planta do pé Sistema Venoso ▪ Ao contrário do sistema arterial, o sangue venoso não tem uma bomba capaz de impulsionar o sangue das extremidades para o coração. O retorno venoso depende de vários fatores, como a (1) pressão venosa, (2) a contração muscular em MMII, a (3) presença de válvulas competentes, a (4) pressão negativa intratorácica e a (5) movimentação do diafragma. • Pressão Venosa: ao contrário da PA, a PV é máxima nas extremidades, diminuindo conforme se aproxima do AD. • Contração Muscular: os músculos sóleo e gastrocnêmio atuam comprimindo as veias e impulsionando o sangue para cima. • Válvulas: o sistema valvular no interior das veias impede o refluxo de sangue para baixo. • Pressão Negativa Intratorácica: os movimentos respiratórios inspiratórios também auxiliam a “puxar” o sangue para o coração. • Contração Diafragmática: a movimentação do diafragma atua como os músculos dos MMII para espremer as veias e empurrar o sangue para o coração. Propedêutica Vascular – Doenças Arteriais ▪ Quando pensamos em doenças vasculares, especificamente as doenças arteriais, pensamos imediatamente em AVC (neurologia) e no IAM (cardiologia). Na angiologia, porém, são mais frequentes os distúrbios obstrutivos periféricos, agudos ou crônicos, mais comumente nos membros inferiores. ▪ Os principais sinais e sintomas observados em doenças arteriais são a (1) dor, (2) as alterações de cor, (3) as alterações de temperatura, as (4) alterações tróficas e o (5) edema. • Dor: a principal queixa dolorosa é a claudicação intermitente. Nesses casos a obstrução parcial do vaso, quando em repouso, não gera sintomas. A partir do movimento e da maior necessidade de oxigênio, a obstrução leva a hipóxia e acúmulo de substâncias inflamatórias que geram a dor • Alterações de Cor: existem 5 alterações de cor importantes ▪ Palidez ▪ Cianose: fluxo lentificado ▪ Eritrorubor: a obstrução arterial crônica leva a circulação colateral, gerando vermelhidão. ▪ Fenômeno de Raynoud: vasoespasmo que produz alterações de cor de na ordem de palidez -> cianose -> rubor. Ocorre em situações de frio, estresse emocional e doenças reumatológicas. ▪ Livedo Reticular: cianose com aparência de malha rendilhada ou mármore, ocorrendo mais no frio e em doenças sistêmicas (Lúpus, Crioglobulinemia, Choque Séptico) • Alterações de Temperatura: geralmente, com a redução do aporte sanguíneo, há redução da temperatura do membro afetado. • Alterações Tróficas: a redução de aporte sanguíneo leva a atrofia dos mais diversos anexos epidérmicos. As principais são: ▪ Atrofia da Pele: torna-se delgada, fina, brilhante, lisa e se rompe com facilidade. ▪ Atrofia Subcutânea: perda do panículo adiposo ▪ Queda de Pelos ▪ Alterações Ungeais: onicodistrofia, onicólise ou unhas hiperqueratósicas. ▪ Calos: o edema leva ao surgimento de bolhas que podem ulcerar, levando a gangrena do membro. • Úlceras: tecnicamente as úlceras se enquadram como alterações tróficas, porém as distinções entre as úlceras venosas e arteriais fazem com que seja necessário maiores descrições. As principais diferenças entre as úlceras arteriais e venosas são: • Edema: o edema pode ocorrer por múltiplas causas, dentre elas destacam-se o (1) aumento da permeabilidade capilar, (2) a posição ortostática prolongada, (3) a inflamação sistêmica e (4) alterações venosas como incompetência valvular ou trombose. ▪ O exame físico em angiologia compreende a (1) inspeção, (2) a palpação e (3) a ausculta. • Inspeção: deve ser feita com o paciente em pé ou deitado, preferencialmente despido a fim de avaliar toda a extensão do corpo. ▪ Avalia-se as alterações de coloração, atrofias, presença de edema e assimetrias de grupos musculares. ▪ Micoses interdigitais são importantes fontes de infecção e devem sempre ser investigadas, principalmente nos pacientes com DM. • Palpação: avalia-se a temperatura, consistência da pele e principalmente os pulsos. Estes SEMPRE DEVEM SER COMPARADOS ENTRE OS DOIS MEMBROS QUANTO A RITMO, FREQUENCIA E AMPLITUDE ▪ Pulso Radial: entre o processo estiloide do rádio e os tendões flexores ▪ Pulso Carotídeo: na borda anterior do músculo ECM abaixo do ramo da mandíbula. Evitar compressão forte e simultânea entre os dois lados para não gerar reflexo vagal nem ocluir o sangue para o SNC ▪ Pulso Braquial: no sulco bicipital, mais facilmente em seu terço distal ▪ Pulso Axilar: no oco axilar, através da compressão contra o colo do úmero ▪ Pulso Femoral: na região inguinal, logo abaixo do ligamento, na região medial ▪ Pulso Pedioso: entre o 1° e 2° MTT ▪ Pulso Tibial Posterior: na parte posterior do maléolo medial • Ausculta: a principal artéria auscultada é a a. carótida. Pode-se auscultar sopros que devem ser classificados em leves ou rudes Sintoma Venosa Arterial Local Maléolo medial e terço inferior da perna Dedos do pé, calcâneo e região lateral da perna Evolução Lenta Rápida Aparência Bordas irregulares e elevadas, de grande tamanho Margens definidas, com leito pálido e escaras, geralmente circular e pequena Exsudato Normalmente elevado Mínimo Aparência do Membro Aquecido, com varizes e eczema, podendo apresentar hiperpigmentação Brilhante, frio e descorado com atrofia de anexos Edema Presente ao final do dia Ausente Dor Dolorosa quando edemaciada ou infectada Altamente dolorosa e impactante. Cursa com claudicação intermitente Pulsos Presentes Abolidos HPP TVP, varizes ou flebite DM, HAS ou outras DCV Propedêutica Vascular – Doenças Venosas ▪ Durante a anamnese do paciente vascular, algumas informações são extremamente importantes para ajudar o diagnóstico, dentre elas: • Sexo: mulheres são mais acometidas por doenças venosas (insuficiência venosa periférica, TVP). Gestantes e mulheres em menopausa também têm mais chance de desenvolver essas condições • Idade: quanto mais velho, maior a incidência • Profissão: pacientes que passem longos períodos sentados ou em pé. • Viagens Recentes: período sentado prolongado (viagem de avião) ou infecções • Cirurgias Prévias • Medicamentos em Uso: ACO é um fator de risco grande para TVP • Antecedentes Familiares ▪ Os principais sinais e sintomas das doenças venosas consistem em (1) dor e (2) alterações tróficas da pele e anexos • Dor: as queixas dolorosas são distintas das arteriais, não ocorrendo a claudicação intermitente. São dores que pioram ao final do dia, ditas como uma sensação de peso, queimação, ardência e cansaço. ▪ Quadros agudos de TVP cursam com dor intensa, associada a edema e hiperemia ▪ Ao contrário das doenças arteriais, a dor venosa é aliviada pela elevação dos membros • Alterações Tróficas: as principais são o (1) edema ▪ Edema: geralmente pior ao final do dia que alivia com a elevação dos membros. Apresenta consistência amolecida e depressível, ocorrendo principalmente em regiões distais. ▪ Celulite: o edema crônico leva a inflamação do panículo adiposo. É diferente da celulite infecciosa por ser mais arrastado e não tão intenso/eritematoso. ▪ Hiperpigmentação: a estase sanguínea leva ao acúmulo de hemossiderina, levandoao surgimento de máculas acastanhadas. ▪ Eczema de Estase: lesões vesiculosas intensamente pruriginosas associadas à estase. ▪ Dermatofibrose: é o estágio final da hiperpigmentação. São lesões benignas geradas pela cicatrização e fibrose de pequenos traumatismos da pele já fragilizada. ▪ O exame físico do sistema venoso compreende a (1) inspeção e (2) a palpação. • Inspeção: com o paciente em pé, são feitas duas observações, uma distante e outra mais próxima. Deve-se avaliar toda a extensão do membro. ▪ São avaliadas as assimetrias, presença de varizes e circulação colateral ▪ As manchas quando presentes são avaliadas quanto a forma, extensão, coloração e presença de úlceras ou eczema ▪ Alterações de coloração como eritema, cianose e palidez ajudam a diferenciar os quadros venosos dos arteriais • Palpação: avalia-se a temperatura do membro, sua sensibilidade e as características do edema (quando presente) ▪ Geralmente o membro apresenta-se aquecido ou quente, característico de doenças venosas (doenças arteriais cursam com pele fria) ▪ A presença de trombos recentes pode refletir em dor intensa a palpação, bem como empastamento das panturrilhas. Resumo de Angiologia – Insuficiência Arterial Autor: Vitor Luiz Back Teló – Referência: Angiologia Básica (Capítulos 3 e 4) Definição e Epidemiologia ▪ A insuficiência arterial ou doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) é o nome da condição clínica caracterizada pela obstrução aterosclerótica da circulação, principalmente para os membros inferiores. ▪ Ela faz parte de um distúrbio sistêmico de formação de placas ateroscleróticas que afeta outras circulações do corpo. A hipóxia causada pela obstrução parcial ou total da luz do vaso leva a redução da perfusão da pele e dos músculos. ▪ Sua incidência é semelhante entre homens e mulheres, havendo mínima predominância no sexo masculino (H: 61/10000 e M: 54/10000). A melhora da qualidade de vida e aumento da expectativa e vida permitiu o maior aparecimento das doenças crônicas. • Os principais fatores de risco relacionados são a DM (4x mais risco), os níveis reduzidos de HDL e aumento de triglicerídeos. • O tabagismo é um dos mais importantes fatores de risco para progressão da DAOP, graças aos efeitos vasoconstritores e anti-angiogênicos da nicotina. Fisiopatologia ▪ A ocorrência da DAOP está intimamente relacionada a doenças sistemas e crônicas. As principais etiologias relacionadas, não listadas por frequência, são a (1) diabetes mellitus, a (2) doença aterosclerótica, (3) as dislipidemias, (3) o tabagismo e (5) o sedentarismo. • Essas condições levam ao surgimento das placas nos vasos (estenose arterial) que cursa com redução do aporte de sangue. Os pontos mais comuns de surgimento das placas são as bifurcações, graças a redução do calibre e ao turbilhonamento do sangue. • Apesar do fluxo ainda existir, sua redução leva a hipóxia das extremidades pela redução luminal. Esta se torna relevante clinicamente quando ultrapassa 70% da luz do vaso. • Nas situações iniciais, o fluxo é suficiente para manter o membro são quando em repouso. Se o paciente pratica exercícios físicos, o aumento da demanda por oxigênio não pode ser suprido (claudicação intermitente), causando dor. ▪ É importante quantificar a claudicação do paciente, para avaliar o melhor tratamento e o prognostico. • Quando a dor surge no repouso, dizemos que o paciente entrou em isquemia crítica, havendo alto risco de amputação. É comum que os pacientes deixem o membro pendente. • Após entrar no quadro de isquemia crítica, surgem as lesões atróficas, principalmente as úlceras que podem evoluir para gangrena. ▪ A evolução ocorre com perda sensitiva (denervação axonal difusa) e redução da força muscular. Quadro Clínico e Diagnóstico ▪ A obstrução arterial só passa a ter sintomas e significado clínico quando ultrapassa os 70% da luz do vaso. Os quadros dolorosos de insuficiência arterial são clássicos e a claudicação intermitente é quase patognômonicos. As queixas clássicas consistem em dor, geralmente nos membros inferiores, que surge com a atividade física. • O acúmulo de lactato após as contrações musculares leva ao surgimento da dor. Quando o paciente repousa e dá tempo para o lactato ser metabolizado, a dor passa e o paciente se sente confortável para andar novamente. • A claudicação da panturrilha é a ocorrência mais comum. Quando ela atinge nádegas e coxas, provavelmente trata-se de uma obstrução de artérias ilíacas. • Ao contrário da oclusão aguda, alguns pacientes com oclusões crônicas podem permanecer totalmente assintomáticos mesmo com uma oclusão total. Isso se dá graças a formação de circulações colaterais ao longo do período de deposição da placa. ▪ O diagnóstico é feito usando uma manobra conhecida como Índice Tornozelo-Braço. Essa manobra consiste em mensurar a PA no braço e no tornozelo e compará-las. No indivíduo saudável, a PAS dos MMSS é igual a PAS dos MMII e o índice deve ser igual a 1. • Na anamnese, devem ser questionados a respeito de doenças sistemas, principalmente HAS ou arritmias. • No exame físico, deve-se observar a pele e os pelos do membro em busca de alterações atróficas, alterações de coloração e temperatura. A presença de úlceras e gangrena indica um quadro mais agravado. • Pulsos femorais e braquiais devem ser palpados para comparação • A redução da PA em algum dos membros indica uma obstrução por uma possível placa aterosclerótica . Um índice menor que 0,9 é diagnóstico para DAOP. • Os exames laboratoriais são inespecíficos. Em geral cursam com aumento de hematócrito, baixa saturação de O2 além de outras alterações características das doenças sistêmicas, como aumento da glicemia (DM) ou proteinúria (DRC). ▪ Associado a anamnese e exame físico, alguns exames complementares são importantes para avaliação da progressão do paciente. Os principais exames indicados são o (1) ultrassom/ecodoppler vascular, (2) a angiotomografia 3D e (3) a arteriografia. • O ultrassom/ecodoppler é o exame mais acessível e utilizado, porém as melhores imagens são geradas pela angiotomografia 3D. Tratamento ▪ O manejo é inicialmente clínico para os pacientes menos graves, onde a isquemia não atingiu níveis críticos. São aqueles cuja claudicação é maior que 100 metros, onde ainda não há lesões atróficas e o índice tornozelo/braço é maior que 0,5. • Medidas Comportamentais: cessação do tabagismo, controle da HAS, DM e prática de atividades físicas para aumentar a circulação colateral. • Medidas Farmacológicas: vasodilatadores (CILOSTAZOL – 100MG VO 12/12hrs), anti- agregantes plaquetários (AAS e CLOPIDOGREL), anticoagulantes e drogas hemorreológicas (alteram o formato da hemácia) ▪ Os pacientes com índice tornozelo/braço menor que 0,5 são candidatos para o tratamento cirúrgico. Esses procedimentos consistem em by-passes e pontes usando próteses artificiais ou autólogas para reestabelecer o fluxo de sangue. ▪ Quadros graves e avançados de gangrena úmida, onde o membro já se tornou inviável e a dor é considerada clinicamente intratável, são indicados para amputação. • Esse procedimento tem que ser realizado numa altura adequada para garantir que os tecidos estejam viáveis e possam cicatrizar adequadamente. • As duas alturas mais comuns para a amputação são a infracondiliana (abaixo do joelho) e a supracondiliana (acima do joelho). Essas alturas aceitam a instalação de próteses que permitem o paciente ter uma vida relativamente normal Oclusão Arterial Aguda Definição ▪ São quadros de deficiência aguda no aporte de sangue para os tecidos devido a (1) ruptura e trombose de placas ateroscleróticas, (2) embolia de aorta torácica ou abdominal, (3) síndrome compartimental aguda e ainda (4) dissecação aórtica. ▪ A obstrução subida, sem nenhuma circulaçãocolateral, cursa com hipóxia e morte tecidual. Diferentes tecidos têm diferentes tempos de resposta a hipóxia antes de haver uma lesão irreversível. Após 24hrs começam a surgir as bolhas e a partir de 48hrs o membro afetado entra em necrose. • Músculos: 8 a 10 horas • Nervos: 20 a 30 horas Quadro Clínico e Diagnóstico ▪ O quadro clínico clássico são os 5 P’s, que correspondem a dor intensa (pain), associada a frio ou sensação polar (polar sensation) no membro, parestesias, palidez e ausência de pulsos palpáveis (pulselessness). ▪ Pode se estimar a localização da oclusão como sendo na primeira bifurcação arterial abaixo do último pulso palpável (Ex: bifurcação da femoral comum quando pulso femoral é palpado) ▪ A oclusão arterial aguda é uma emergência médica, devendo ser abordada o quanto antes a fim de minimizar possíveis sequelas. Geralmente o diagnóstico é clínico, apoiado em exames de imagem que confirmem a posição da oclusão • O melhor exame para avaliação é a angiotomografia 3D e a arteriografia, porém a realização destes pode retardar a intervenção cirúrgica. É mais indicado, neste contexto, a utilização de ultrassom e ecodoppler, uma vez que se trata de um exame mais rápido e fácil de ser executado. Tratamento ▪ A intervenção cirúrgica é mandatória a fim de reestabelecer o fluxo de sangue adequado para o membro. Os procedimentos mais usados são a (1) embolectomia (cateter de Fogarty ou direta), a (2) trombólise (t-PA e uroquinase) e as (3) cirurgias de revascularização. Síndrome de Reperfusão ▪ Um efeito paradoxal visto em pacientes vítimas de oclusão com isquemia é a síndrome de reperfusão. É sabido que durante a isquemia, há extensa formação de radicais livres e disfunções de membrana. No momento da reperfusão, o influxo de oxigênio e cálcio leva a um edema celular e intersticial que libera íons intracelulares e proteínas para a circulação. ▪ As principais consequências dessa condição são a (1) mioglobinúria, as (2) arritmias cardíacas causadas pela liberação de K+ e (3) as Síndromes Compartimentais. Esta última merece um destaque especial devido ao risco de evolução para necrose e amputação. • Síndrome Compartimental: o aumento da pressão no espaço osteofascial pelo edema leva a compressão dos capilares e artérias, reduzindo a perfusão local. São emergências que devem ser abordadas com fasciotomias descompressivas (corretivas ou profiláticas) que devem ser mantidas abertas por pelo menos 48hrs, a fim de permitir o desinchaço. • Amputações: as amputações são elencadas para os membros inviáveis, a fim também de preservar órgãos como o rim numa possível situação de choque séptico Resumo de Angiologia – Doença Carotídea Aterosclerótica Autor: Vitor Luiz Back Teló – Referência: Slide de Aula Definição e Epidemiologia ▪ A doença aterosclerótica carotídea é uma das condições presentes no espectro da aterosclerose. Seu reconhecimento é vital, uma vez que as repercussões cerebrovasculares dessa condição podem ser extremamente grandes. ▪ É uma condição degenerativa crônica caracterizada pela proliferação de tecido conjuntivo com sucessivas camadas de depósito gorduroso nas paredes das artérias que levam a oclusão parcial ou total da luz. Trata-se de uma situação em que o dano endotelial culmina com a produção da placa, através principalmente de: • (1) Reendotelização (estimula a proliferação da média e acúmulo de lipídios) • (2) Adesão de monócitos (liberam fatores quimiotáticos que estimulam a proliferação celular) • (3) Exposição do colágeno em traumas (leva a adesão plaquetária com liberação de fatores de crescimento). ▪ A incidência dos casos de aterosclerose é sem dúvida superior em pacientes com comorbidades sistêmicas ou maus-hábitos de vida. A hereditariedade é um fator de risco importante, porém incapaz de ser controlado. As principais condições de risco a essa doença são: DM, hipercolesterolemia, tabagismo e obesidade. Quadro Clínico e Diagnóstico ▪ Podem haver quadros assintomáticos, descobertos ao acaso por exames de imagem ou durante o exame físico (sopro carotídeo), como também há quadros sintomáticos abundantes decorrentes do baixo fluxo de sangue para o cérebro, comumente agrupados em 4 conjuntos, os sintomas (1) relacionados a visão, os (2) relacionados a sensibilidade, os (3) relacionados a força muscular e (4) os relacionados a fala e comunicação. • Sintomas da fala: afasia • Sintomas da sensibilidade: parestesias • Sintomas da visão: perda visual ▪ Quadros assintomáticos, descobertos durante o exame clínico, devem ser submetidos a exames de imagem para confirmação e localização precisa das placas. Os principais exames indicados são: • Ultrassonografia e Doppler Vascular: exame não invasivo, simples e barato que permite confirmar a presença ou não da estenose. É a primeira escolha para avaliação de suspeitas. • Angiotomografia 3D e Arteriografia: são exames mais complexos, indicados apenas para pacientes com placas confirmadas na US, servindo para fornecer dados mais precisos a respeito da anatomia e da extensão das lesões. Tratamento ▪ Tal qual a insuficiência arterial e outras manifestações da doença aterosclerótica, o alvo do tratamento é reduzir a progressão de crescimento da placa aterosclerótica. Ele é feito através da combinação de medidas educativas com uso de fármacos. • Medidas Educativas: controle dos fatores de risco como DM, hipercolesterolemia, cessação do tabagismo, controle do estresse e da alimentação • Medidas Farmacológicas: são indicadas as estatinas e os fibratos (SINVASTATINA, ROSUVASTATINA, FENOFIBRATO E BEZAFIBRATO) para controle do colesterol e triglicerídeos, bem como a associação de anti-agregantes (AAS ou CLOPIDOGREL). ▪ A indicação cirúrgica serve para evitar a progressão para um AVC. Pacientes assintomáticos com obstruções maiores que 70% ou aqueles sintomáticos com obstruções maiores que 60% são fortes candidatos aos procedimentos cirúrgicos. • A cirurgia, apesar de sua indicação para evitar a progressão do AVC, apresenta risco de AVC no intraoperatório. • O procedimento de escolha é a endarterectomia, onde a artéria é aberta longitudinalmente para remoção da placa e reconstrução com lâminas de pericárdio bovino. • A angioplastia carotídea é outro procedimento possível, porém ele é menos usado devido ao maior risco de AVC. A aplicação do stent gera atrito com a placa, liberando fragmentos de tecido que podem embolizar no SNC. ▪ O stent para angioplastia de carótida possui uma espécie de filtro em sua extremidade, que bloqueia parcialmente os fragmentos celulares, porém o risco de AVC ainda existe. ▪ Apesar de sua utilidade, o stent tem mais risco de evolução para microembolias. A superfície do stent predispõe a aderência de plaquetas que cursam como microembolias crônicas. Pacientes mais idosos ou com maior risco cirúrgico tem preferência pela angioplastia em detrimento a endarterectomia. Resumo de Angiologia – Aneurisma de Aorta Abdominal Autor: Vitor Luiz Back Teló – Referências: Angiologia Básica (Capítulo 7) Introdução e Definição ▪ Os aneurismas são patologias de extrema importância, não só por sua incidência crescente mas como também pelo risco de evolução para rotura e óbito. O termo aneurisma é usado para descrever dilatações focais, permanentes e que ultrapassem 50% do calibre regular da artéria afetada, ao passo que as dilatações menores que isso dão denominadas ectasias. ▪ O start na formação do aneurisma é a lesão e o enfraquecimento das paredes arteriais, em especial a camada média muscular que passa a ser incapaz de acomodar a distensão arterial produzida pela pressão do sangue no interior do vaso. • Segundo a lei de Laplace, a tensão na parede do vaso (tubo) é igual a pressão de seu líquido multiplicada pelo raio do tubo. Com exceção das situações em que há tratamento,a tendência é que, com o aumento do diâmetro (dilatação), a tensão torne- se cada vez maior, até haver a rotura. ▪ As situações em que há perfuração da parede arterial e formação de um hematoma pulsátil, dizemos que se trata de um falso ou pseudoaneurisma. Nessas situações, o sangue extravasado é contido pelas estruturas adjacentes. Diferente do aneurisma real, no falso ou pseudoaneurisma, parede da área dilatada é composta por sangue coagulado e pelas estruturas adjacentes. Classificações dos Aneurismas ▪ Os aneurismas podem ser classificados por diferentes pontos de vista: • Classificação quanto a etiologia: ▪ Aneurismas Congênitos: são geralmente intracranianos e assintomáticos, frequentemente diagnosticados no momento da rotura; ▪ Aneurismas Degenerativos: decorrem de uma lesão parietal com formação de placas ateroscleróticas; ▪ Aneurismas Infecciosos: também chamados de micóticos, são relacionados a endocardite bacteriana e sífilis. São mais observados no paciente com AIDS. ▪ Aneurismas Anastomóticos: são causados pela deiscência das suturas e infecções em próteses arteriais que formam um pseudoaneurisma. ▪ Aneurismas Inflamatórios: são os de causa desconhecida ou inflamatória, incluindo os causados pelas arterites ou angeiites como a arterite de Takayasu (artérias renais). ▪ Aneurismas Traumáticos: são aqueles causados por uma lesão parietal por projetil de arma de fogo e armas brancas. Traumas por desaceleração frequentemente cursam com formação de aneurismas traumáticos. ▪ Aneurismas Iatrogênicos: causados pela manipulação das artérias. ▪ Aneurismas Pós-Estenóticos: surgem devido ao turbilhonamento de sangue que ocorre após pontos de estenose ou compressão externa. • Classificação quanto a fisiopatologia: classificados em verdadeiros ou falsos • Classificação quanto a ocorrência: classificados em isolados ou múltiplos • Classificação quanto à forma ▪ Aneurisma Fusiforme: quando há uma dilatação concêntrica de toda a parede arterial ▪ Aneurisma Sacular: quando há dilatação de apenas um ponto, formando uma espécie de divertículo. • Classificação quanto a evolução ▪ Crônicos ▪ Crescentes ▪ Rotos • Classificação quanto a localização ▪ Aórticos: podem ser torácicos, toracoabdominais ou abdominais (suprarrenais e infrarrenais) ▪ Visceral: quando acometem artérias viscerais (a. renal; a. mesentérica; tronco celíaco) ▪ Periféricos: quando acometem artérias periféricas como os ramos extracranianos das carótidas e demais ramos aórticos não viscerais (subclávias e ilíacas) Quadro Clínico ▪ Frequentemente os aneurismas são assintomáticos (60-75%) e se manifestam apenas no momento da rotura. Os assintomáticos podem ser descobertos ao acaso em exames de imagem ou durante procedimentos cirúrgicos. Aneurismas crônicos podem produzir sintomas compressivos, porém estes são totalmente inespecíficos (náuseas, vômitos, dor abdominal e lombar). • Sintomas isquêmicos como dor periférica, palidez, redução de temperatura e ausência ou alterações de pulso podem ser vistos. • Em alguns pouquíssimos pacientes emagrecidos, longilíneos ou com diáteses de músculo reto, a aorta pode ser palpada. ▪ No momento da rotura, ou nas expansões agudas, são vistos quadros mais floreados. Os pacientes queixam de dores abdominais e lombares extremamente intensas e agudas, há formação de hematomas e equimoses e alterações hemodinâmicas. • A rotura do aneurisma ocorre geralmente em dois tempos, no (1) há ruptura do vaso e extravasamento de sangue que pode ser contido pela periferia. Logo em seguida o (2) bloqueio é rompido e inicia a hemorragia intensa que pode cursar com choque hipovolêmico. • Os pacientes com rotura de aneurisma estão geralmente pálidos, com sudorese, hipotermia ou sensação de frio, taquicardia e podem evoluir para o choque. ▪ Ademais estas manifestações, os aneurismas podem se manifestar através de eventos tromboembólicos arteriais, venosos e periféricos. A trombose é comum nos aneurismas devido ao turbilhonamento de fluxo. Em alguns casos a placa de trombose pode progredir a ponto de ocluir o lúmem da artéria, levando a isquemia distal aguda e severa. • A fragmentação do trombo é extremamente comum e os eventos microembólicos distais podem ser simples – embolia periférica de artérias digitais dos pés que cursa com cianose e palidez fixa, além de dor e possivelmente evolução para necrose – ou atingir vasos encefálicos levando a quadros de AVCi mais graves e potencialmente fatais. Diagnóstico e Exames Complementares ▪ Alguns poucos casos podem ser diagnosticados ainda no exame físico, ao se observarem massas pulsáteis, que podem ser palpadas e geralmente indolores, no trajeto das artérias. As vezes isso é percebido pelo próprio paciente, porém é raro em aneurismas pequenos ou pacientes obesos. • A ausculta pode ser de algum valor ao revelar a presença de sopros, porém eles também são inespecíficos. ▪ Quanto aos exames complementares, a despeito dos usados na investigação de etiologias ou no pré-operatório, apenas alguns poucos exames de imagem têm real valor nessa patologia, sendo mais usados os exames de (1) US vascular com doppler, (2) tomografia, (3) ressonância e (4) angiografia. • US Vascular com Doppler: amplamente utilizado em diversos serviços devido ao baixo custo, facilidade de acesso e poucos efeitos colaterais. As vezes é o único exame solicitado pois é capaz de fornecer informações sobre as paredes do aneurisma, estruturas adjacentes, presença de coágulos ou placas e seu tamanho. • TC com contraste: é um exame mais acurado, requisitado junto ao US. Fornece excelente visualização das paredes e seu conteúdo, presença de trombos, além de permitir medições precisas. É mais dispendiosa e perigosa devido a exposição à radiação e contrastes iodados (anafilaxia e nefrotoxicidade). • Angiorresonância Magnética: é a alternativa a TC, menos perigosa devido à ausência de radiação e contrastes iodados (é usado gadolínio), porém é muito mais cara e menos acessível. • Angiografia: não encontra indicação rotineira devido a presença da TC e ARNM. É usada para correções endovasculares e caso seja necessário avaliar a circulação visceral ou se há doença oclusiva associada. Tratamento ▪ O único tratamento efetivo é a correção cirúrgica que pode ser indicada em diversos momentos da evolução do paciente. Considera-se que quanto maior o diâmetro (ø) maior o risco de rotura. Aneurismas com ø > 5,0 a 5,5cm são classicamente de indicação cirúrgica, ao passo que os menores podem ser acompanhados com US rotineiro (semestral). • No manejo clínico, é obrigatório o controle das patologias associadas como a HAS, DM e dislipidemia, incluindo prática de atividades físicas leves e supervisionadas e cessação imediata do tabagismo. ▪ Aneurismas crescentes (↑>0,5cm em 6 meses), sintomáticos ou rotos são de indicação cirúrgica independentemente do tamanho. Apesar do atual nível da cirurgia endovascular, qualquer cirurgia deve ser pesada frente ao risco operatório do paciente (idade, perspectiva de vida, distúrbios mentais, neoplasias ou outras doenças graves). Em linhas gerais, a cirurgia pode ser dividida em (1) métodos convencionais e (2) métodos endovasculares. • Cirurgia Convencional: é feita por laparotomia xifopúbica, com interrupção transitória de fluxo e instalação de próteses de dacron, PTFE. Tem como vantagem adicional a “cura” pela remoção definitiva da lesão, porém são cirurgias mais invasivas, com maior risco e maior tempo de recuperação, necessitando de CTI na maioria dos casos. • Cirurgia Endovascular: é feita por cateterismo de artérias femorais onde são inseridas endoproteses cujo posicionamento é controlado pela radiologia. É menos invasiva porém não é possível em todos os aneurismas. Há ainda o risco de recorrência devido a não remoção da lesão. ▪ Podem ocorrer complicaçõesdevido a grande quantidade de contraste usado, além dos vazamentos e da fadiga estrutural da prótese que não se acomoda a continua progressão da dilatação da artéria. Resumo de Angiologia – Pé Diabético Autor: Vitor Luiz Back Teló – Referências: Angiologia Básica (Capítulo 8) Introdução e Epidemiologia ▪ O termo pé diabético foi cunhado na década de 1970 e corresponde a um conjunto de alterações que atingem os pés de pacientes diabéticos do tipo I e II, caracterizado pela presença de neuropatia, doença vascular e infecções que compartilham semelhanças entre si. • Pode haver progressão para morte celular e gangrena, caracterizando uma gangrena diabética. ▪ Essas alterações formam um conjunto de sinais e sintomas (síndrome) que atingem as extremidades dos diabéticos. Só no Brasil, estima-se que mais de 7% da população tenha diabetes, havendo estudos que afirmar que mais de 96% dos pacientes com diabetes irão ter a ocorrência de lesões e necessidade de internações devido ao pé diabético. Distúrbios Metabólicos no Diabético ▪ Os pacientes com diabetes apresentam distúrbios no metabolismo dos glicídios, tendo em consequência a hiperglicemia, glicosúria e poliúria, além dos sintomas específicos do quadro como a fome, sede, fraqueza e distúrbios do metabolismo dos lipídios. A DM1 é uma doença com forte componente genético e ambiental. As alterações da DM levam a três complicações principais que levam ao surgimento do pé diabético: I. Isquemia devido a arterioesclerose obliterante oclusiva crônica II. Neuropatia motora (sensitiva e autônoma) III. Infecções Principais Lesões e Classificações do Pé Diabético ▪ Algumas deformidades mais frequentes dos pacientes diabéticos permitem o diagnóstico sem exames complementares, porém isso não exclui a necessidade de uma avaliação completa desse paciente. Algumas das lesões frequentes nos diabéticos são: ▪ Sindactilia ▪ Atrofia do coxim dermoadiposo plantar ▪ Dedos em martelo ▪ Dedos sobrepostos ▪ Hálux valgo ▪ Subluxações articulares ▪ Proeminências dos metatarsos ▪ Redução da convexidade mediana ▪ Queda de pelos ▪ Anidrose ▪ Anomalias de unhas ▪ Hálux caído ▪ Micoses interdigitais e ungueais ▪ Calosidades ▪ Fissuras de calcâneo ▪ Ulcerações superficiais ▪ Em consequência da vulnerabilidade, o pé diabético é uma vítima fácil de agressões traumáticas e bacterianas, podendo apresentar evoluções agressivas dessas condições como o granuloma piogênico, celulites e linfangite, infecções de pele e necrose tecidual. ▪ Os sintomas subjetivos são geralmente os primeiros e podem estar presentes anos antes das primeiras lesões. Eles surgem após a instalação da hiperglicemia, e consistem em: ▪ Hipoestesia: redução da sensibilidade ▪ Anestesia: ausência total de sensibilidade ▪ Parestesia: alterações da sensibilidade (formigamento, ardência, caibras) ▪ Urgência cutânea: dor forte ou média localizada na pele com curta duração ▪ Dor fulgurante: dor intensa ou média, localizada na pele, com longa duração ▪ Distúrbios vasomotores: palidez, caibras, alterações de cor (cianose e rubor), sudorese excessiva e rubor fácil constante. ▪ A complexidade do pé diabético faz com que suas diferentes lesões tenham que ser classificadas para facilitar a organização e entendimento. As principais classificações são: ▪ Classificação de Duque/IEDE: as lesões ulceradas dos pés e pernas diabéticos são agrupadas em: ▪ Macroangiopáticas: são lesões isquêmicas, geralmente localizadas nos dedos que sofreram algum tipo de trauma. Comumente dolorosas (exceto na presença de neuropatia) e sem sinais de infecções. São úlceras pálidas, com bordas irregulares e por vezes necróticas com cicatrização lenta e demorada. ▪ Microangiopáticas: são lesões pequenas, bem localizadas e delimitadas, geralmente dolorosas, com difícil cicatrização, bordas atróficas e indefinidas, sem tecido cicatricial ou de granulação. Não são associadas a pontos de pressão. ▪ Infecciosas: são lesões purulentas onde além deste há presença de edema, rubor, dor a compressão a sinais a distância como febre, alterações de hemograma, descompensação do DM e linfonodomegalias. Podem ocorrer em vários sítios, não somente nos pés (mãos, braços e pênis). ▪ Neuropáticas: lesões cutâneas localizadas, geralmente atróficas, com espessamento de camada cutânea e associadas a pontos de pressão, sendo o mal perfurante plantar (MPP) um excelente exemplo. ▪ Mistas: quando há combinação desses tipos de lesões supracitadas. ▪ Classificação de Wagner: é uma forma de classificar as lesões de acordo com a profundidade, separando-as em 0 (ausência de úlcera), 1 (ulcera de pele), 2 (ulcera profunda atingindo músculos ou ligamentos sem abcesso), 3 (úlcera profunda com abcesso e/ou celulite), 4 (gangrena localizada) e 5 (gangrena extensa). ▪ Classificação da IDSA: divide as feridas conforme o grau de infecção em ausente (sem infecção), leve (presença de 2 ou + formas de infecção superficial), moderada (infecção em pacientes sistemicamente bens, porém com celulite, linfangite, necrose extensa) e grave (infecção com toxicidade sistêmica). ▪ Classificação de Szilagyi: quantifica a gravidade da lesão vascular em I (claudicação intermitente) , II (dor em repouso) e III (lesão pré-necrótica ou isquêmica). Fisiopatologia do Pé Diabético ▪ As lesões cutâneas nos pacientes diabéticos têm inúmeras causas que devem ser investigadas para melhor orientar o tratamento. Sabe-se hoje que o pé diabético surge da interação entre três situações: a (1) neuropatia sensitiva que reduz a sensibilidade e dor da lesão, não alertando o paciente de sua gravidade; a (2) arteriopatia oclusiva crônica que cursa com isquemia; a (3) predisposição a infecção locais (micoses, rachaduras e impetigo) e sistêmicas (queda da imunidade, formação de abcesso). • Outros fatores muito associados são a obesidade e sedentarismo. Os níveis de glicemia e Hba1 são peças chaves na evolução das lesões e devem ser cuidadosamente manejados. Segundo a ADA, a glicemia normal deve ser ≤ 110mg/dl, ao passo que a Hba1 deve ser ≤ 6 -8%. ▪ A aterosclerose é um dos eventos mais importantes na evolução das complicações vasculares do diabetes. A lesão endotelial leva a adesão de macrófagos e plaquetas, sendo que os macrófagos passam a acumular lipídios em seu interior (resultado do dismetabolismo glicídico). • O ambiente de hipoinsulenemia levam ao aumento dos triglicerídeos (TGC) e reduzem o HDL. Vale lembrar que os TGC são muito mais aterogênicos no diabético que o colesterol. • Em pacientes femininas pós-menopausa (não somente nestas, porém são mais intensos) os efeitos da hiperlipidemia e hiperglicemia ocorrem mais rapidamente. A glicosilação das células leva a um aumento dos níveis séricos dos fatores de coagulação e do fibrinogênio. • As plaquetas encontram-se com aderência elevada e o sangue apresenta-se mais viscoso (visto também em patologias como AR). ▪ A fisiopatologia da neuropatia é muito mais complexa e menos entendida que as demais. As principais hipóteses incluem a obstrução dos vasa nervorum, os vasos responsáveis pela nutrição dos nervos periféricos. • Outras hipóteses incluem a redução do mioinositol, que levaria a uma redução da velocidade de condução do nervo (VCN). É possível também que a hiperglicemia cause alterações nas proteínas intraneuronais, afetando as sinapses e a transmissão nervosa. Diagnóstico e Manejo do Pé Diabético ▪ O diagnóstico de lesões do pé diabético é essencialmente clínico e deve ser feito através da anamnese + exame físico, podendo-se lançar mão de exames complementares como as radiografias do pé/perna, US com doppler de veias e artérias e a angiorresonância. O tratamento deve ser individualizado e apontado para as causas específicas e fatores predominantes. Tratamento das Lesões Isquêmicas ▪ As lesões isquêmicas ocorrem devidoa oclusão arterial, podendo se apresentar como lesões macroangipáticas ou microangiopáticas. De modo geral, as oclusões de grandes artérias cursam com lesões necróticas distais ou de todo o pé, ao passo que as oclusões de microcirculação cursam com úlceras tórpidas e arredondadas, muito dolorosas e de difícil tratamento. ▪ Na avaliação do paciente, devem-se palpar e comparar os pulsos distais, bem como analisar todas e quaisquer lesões cutâneas. O uso do US com doppler pode fornecer importantes informações sobre o fluxo de sangue. • É importante lembrar que o índice tornozelo-braço (ITB) pode estar alterado devido a calcificação das artérias. Para um resultado mais preciso, deve-se usar manguitos nos pododáctilos. ▪ A origem da oclusão arterial é pela aterosclerose. O ambiente metabólico favorável (diabéticos tem evolução muitíssimo mais acelerada) leva a um maior risco desses pacientes, principalmente os do sexo feminino. Os diabéticos são especialmente sujeitos as lesões estenosantes do território popliteotibial (lesões esparsas e múltiplas). Esses pacientes são mais sujeitos a aterosclerose de Mönckeberg, uma forma de aterosclerose calcificante que permite as vezes visualizar a artéria da radiografia simples. Os demais fatores associados a progressão da aterosclerose são: • ↑ LDL e ↓HDL • Glicosilação não-enzimática de proteínas • Alteração de plaquetas e ↑ do fibrinogênio (hipercoagulabilidade) • ↓ do NO ▪ Os principais aspectos que tangem ao tratamento clínico e cirúrgico das lesões isquêmicas são: • Tratamento Clínico: é muito importante, associado ao tratamento cirúrgico. É feito com as seguintes classes de medicamentos e terapias: ▪ Bombas autoinfláveis: comprimem os membros no sentido proximal-distal, ajudando o fluxo de sangue até as extremidades. São úteis em pacientes sem possibilidade de revascularização ▪ Pulsoterapia endovenosa: é feita injeção retrógrada de medicamentos pelas veias do pé durante a compressão das artérias. É útil para melhorar a cicatrização de lesões difíceis e nos pacientes com lesões infecciosas. ▪ Câmara Hiperbárica: o ambiente com ↑O2 ajuda na cicatrização possui ação bactericida e cicatrizante • Tratamento Cirúrgico ▪ Considerações: a amputação deve ser evitada ao máximo. Deve-se avaliar o fluxo através de US com doppler e arteriografia/ARNM/ATC. Quando necessária, a amputação deve ser o mais distal possível, pensando sempre na recuperação futura. Deve-se dar preferência ao uso de enxertos autólogos nas revascularizações. ▪ Amputações: deve ser feita com delicadeza. Os nervos devem ser seccionados de modo reto, o osso deve ser lixado para remover lascas ou protuberâncias. Abcessos devem ser drenados e as vezes é mais indicado fazer várias intervenções para limpeza/debridamento do que uma única intervenção. ▪ Cirurgia Convencional: quando há oclusão a nível da bifurcação das artérias ilíacas (Síndrome de Leriche) a revascularização é feita preferencialmente com pontes de dacron (aortoilíaca ou aortofemoral); Pode ser usada a veia safena magna para obstruções mais baixas. É importante remover as válvulas e deve-se atentar ao endurecimento das artérias durante o procedimento. ▪ Cirurgia Endovascular: objetiva aumentar a luz arterial por meio de implantes. É feita através da dissecção e punção de artéria femoral, com posicionamento de fios- guia por meio de arteriografia. Pode ser feita a colocação de stents, balões de angioplastia, líquidos trombolíticos ou enxertos para aneurismas. Tratamento das Lesões Neuropáticas ▪ A neuropatia do diabético pode ser sensitiva ou motora, localizada ou difusa. A forma mais associada as úlceras é a forma sensitiva e difusa. As lesões cutâneas provocadas pela neuropatia são muito características e na grande maioria das vezes o diagnóstico é feito apenas pela inspeção. Elas surgem mais frequentemente em pontos de pressão na região plantar, especialmente na base do hálux e calcanhar. • São lesões que se apresentam inicialmente como uma calosidade circular espessa. Conforme ela progride, seu centro se torna amolecido e infectado, produzindo secreção purulenta e malcheirosa (olho de peixe). O pé pode demonstrar fraturas, reabsorção óssea e queda do arco plantar. ▪ O diagnóstico deve incluir o exame físico e palpação dos pulsos distais para exclusão de doença isquêmica. Exames de US com doppler são úteis. As lesões possuem geralmente bordas elevadas, são hiperqueratósicas, tipicamente indolores e associadas a pontos de pressão. • É indicado o uso dos estesiômetros para avaliar a sensibilidade em diferentes pontos do pé. • Eletroneuromiografia é usada em casos mais avançados, uma vez que os iniciais podem apresentar uma ENM normal. ▪ As principais estratégias de tratamento são: • Antidepressivos e Anticonvulsivantes: são usados principalmente os ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS, anticonvulsivantes como a CARBAMAZEPINA (100-400mg/dia) e para a dor intensa (hiperestesia) pode-se usar analgésicos e sedativos. • Tratamento Cirúrgico: ressecção e debridamento dos tecidos necróticos e curativos locais. Pode-se optar também pela osteotomia da cabeça do 1° MTT e/ou por enxertos de pele. • Injeção de Silicone: pode-se optar pela injeção de silicone médico para reduzir as zonas de pressão. São feitas aplicações de 0,2ml no espaço abaixo da cabeça do 1° MTT. Tratamento das Lesões Infecciosas ▪ As gangrenas úmidas (lesões infeciosas) são de difícil tratamento e muitas vezes requerem o uso de antibióticos e antimicóticos até mesmo como profilaxia. São lesões de evolução rápida e podem levar o indivíduo a quadros de sepse e até mesmo óbito. ▪ O padrão de apresentação dessas lesões é quase sempre similar. Em geral há formação de pus e/ou abcessos, enquanto os sinais flogísticos estão todos presentes, com exceção da dor (apenas em pacientes com neuropatia). Pode haver formação de abcessos profundos que devem ser confirmados pela transiluminação, uso de US com doppler e punção com agulha. ▪ As formas mais graves de infecções do pé diabético são a (1) fasciíte plantar e os (2) abcessos plantares. A flora microbiana dessas infecções é geralmente mista e inclui germes aeróbios e anaeróbios. • Abcessos Plantares: podem ocupar toda a região plantar do pé, levando a compressão das veias e artérias dos arcos plantares, causando necrose dos pododáctilos. • Fasciíte Plantar: infeção da fáscia que provoca intensa destruição muscular. É tratada através de fasciotomias plantares, devendo-se preservar ao máximo os tendões e arcos plantares. Cirurgias sequenciais regulares podem ter bom benefício devido a rápida evolução dessa afecção. ▪ Algumas das principais opções terapêuticas para as lesões infecciosas são: • Amputação: faz parte da rotina desses paciente, o que não a torna menos impactante. Deve-se optar por técnicas com menos impacto a marcha. Amputações a nível da coxa devem ser evitadas devido a alteração dramática na qualidade de vida desses pacientes, indicando-se a realização de amputações infrageniculares ou transmetatarsianas. • Câmara Hiperbárica: é microbicida e promove a cicatrização. Indicada especialmente para germes anaeróbios. • Bombas de Vácuo: promove rápida epitelização e morte dos microorganismos, porém, tem custo elevado. • Injeção de Fatores de Crescimento: pode-se optar pela injeção de fator estimulante de colonização de granulócitos que promovem uma rápida cicatrização. Profilaxias e Programas de Prevenção ▪ No pé diabético vale a máxima de que “é melhor prevenir do que remediar”. O trabalho de prevenção engloba a (1) educação do paciente, (2) cuidado interdisciplinar e (3) correção das doenças de base e da dieta. • Educação: deve-se informar ao paciente sobre suas limitações, promovendo ações como a cessação do tabagismo, cortar as unhas retas, inspecionar diariamente os pés, não usar calçados apertados, não usarsubstâncias químicas fortes nos pés, combater infecções locais e procurar o médico precocemente. • Cuidado Interdisciplinar: deve-se ter participação do médico, enfermeiros responsáveis pelos curativos e fisioterapia. • Correção de Doenças de Base e Dieta: o bom controle da HAS e da própria DM é parte fundamental no tratamento dessas lesões. Resumo de Angiologia – Insuficiência Venosa Crônica Autor: Vitor Luiz Back Teló – Referências: Angiologia Básica (Capítulo 14) Introdução ▪ É a condição patológica na qual a hipertensão venosa leva a estase sanguínea nos MMII. Microcirculação na Pele ▪ É a menor unidade do sistema cardiovascular, responsável pelas trocas metabólicas entre sangue e tecidos. As funções básicas são (1) a nutrição tecidual, (2) termorregulação e (3) manutenção da PA ou promover aumento da resistência ao sangue. ▪ A microcirculação é composta pelas seguintes estruturas: • Arteríola: segmento distal do sistema arterial, sendo o ponto de maior resistência. Sua camada muscular lisa permite o controle da resistência. • Meta-arteríola: semelhante a arteríola, porém com camada muscular descontínua • Esfíncter Pré-Capilar: pequeno esfíncter que regula o fluxo naquele setor capilar • Capilar: vasos com 5µm formados por uma parede com uma única camada de células endoteliais que realiza as trocas metabólicas. É um vaso curto de fluxo lento. Os subtipos de capilares são: ▪ Capilares Contínuos: pulmão, pele, tecido conjuntivo e sistema nervoso. O endotélio é justaposto e firme ▪ Capilares Fenestrados: túbulos renais, glândulas endócrinas e mucosa intestinal. O endotélio é perfurado por diversos pequenos tubos. ▪ Capilares Descontínuos: baço, fígado e medula óssea. Os maiores espaços permitem a circulação de proteínas plasmáticas e células. • Vênulas: vasos que ligam os capilares as veias • Linfáticos: vasos que fazem a drenagem de proteínas, fluido e escórias do interstício. São formados em fundo cego “dedo de luva” e tem sua parede formada por endotélio semelhante aos demais vasos. • Fístulas AV: são vasos musculares que ligam diretamente as artérias e veias, permitindo grandes fluxos de sangue. ▪ A microcirculação é controlada pelo balanço entre os fatores (1) simpáticos, (2) metabólicos locais, (3) humorais e (4) hormonais. • Regulação Simpática: a vasoconstrição é resultado da ativação simpática, ao passo que a vasodilatação é resultado da inibição simpática. • Regulação Metabólica: a acidificação do meio leva a vasodilatação (↓pH = dilatação) e a alcalinização do meio leva a vasoconstrição (↑pH = contração) • Regulação Humoral: a liberação de catecolaminas leva a vasoconstrição • Regulação Hormonal: ocorre pela liberação de angiotensina II e vasopressina são dois vasoconstritores. ▪ É importante relembrar os motores das trocas da microcirculação, a (1) pressão oncótica (PO) e a (2) pressão hidrostática (PH). Na extremidade arterial, a PH é maior, causando extravasamento de líquido para o interstício e ↑ a [ ] de proteínas no sangue. Isso acarreta um ↑ da PO na extremidade venosa, que causa reabsorção de parte do fluido difundido anteriormente. • O excedente que não for reabsorvido, bem como as proteínas que possam extravasar, são captados pelo sistema linfático e devolvidos a circulação. ▪ Outro aspecto importante que deve ser relembrado são os motores do retorno venoso. Eles são resumidos na (1) palmilha plantar, (2) válvulas venosas, (3) músculos da perna, (4) diafragma e (5) caixa torácica. • Palmilha Plantar: plexo venoso plantar que é comprimido a cada passo, promovendo o retorno de sangue. • Válvulas: orientam o fluxo e impedem o retorno quando competentes. • Músculos da Perna: atuam como um coração periférico, contraindo e expulsando o sangue, elevando toda a coluna líquida do sistema venoso para o coração • Diafragma: sua contração/relaxamento atua sobre a veia cava como se fosse um rodo. • Caixa Torácica: a expiração produz pressão negativa na caixa torácica, o que aspira o sangue para o coração. Etiologia ▪ A IVC decorre de fatores que levem a hipertensão venosa, que podem ser divididos em (1) fatores próprios da patologia venosa e (2) outros fatores: • Fatores Próprios: obstrução venosa profunda, insuficiência valvar profunda, fistulas AV e flebodisplasias congênitas. • Outros Fatores: alterações de arco plantar; alterações de marcha; hipertensão intrabdominal (visceromegalias), distúrbios de função pulmonar e ICC Fisiopatologia ▪ A IVC ocorre devido a hipertensão venosa, que cursa com aumento da PH nos capilares. Isso leva a uma diminuição do retorno do líquido extravasado para o capilar, dando origem ao edema. Além do edema, a estase leva a anóxia e sofrimento celular. • O sofrimento celular pode se refletir em lesões endoteliais e rompimento de hemácias. A liberação do conteúdo das hemácias (globina + grupo heme) para o interstício leva ao acúmulo e a hiperpigmentação • A má nutrição decorrente da anóxia cursa com dermatite de estase, uma dermatite pruriginosa e eczematosa. • Infecções de repetição levam a celulite e surtos de linfangite que forma o linfedema (abordado no próximo resumo). A formação de úlceras venosas completa o quadro de IVC. Quadro Clínico e Diagnóstico ▪ O quadro clínico característico compreende como primeiro sintoma o edema em terço inferior de pernas, mais tardiamente surgimento da hiperpigmentação parda que usualmente poupa a face posterior (pigmentação em polaina). Com a evolução, surgem os sinais de dermatite de estase, formação de úlceras e dor/desconforto se houver infecções. ▪ Durante a anamnese, um histórico de doenças vasculares ou outras patologias (inclusas no grupo de outros fatores) podem aparecer. Durante o exame físico, a causa mais frequentemente observada de IVC é a TVP, que se manifesta principalmente pelo empastamento das panturrilhas e pelo apagamento do S itálico formado pelo músculo sóleo e músculos da coxa na borda interna desta. • Presença de varizes abdominais falam a favor de obstrução iliofemoral ou de VCI. • Deve ser avaliado também o grau do edema, da hiperpigmentação, além de descrever as lesões. • As úlceras de estase ocorrem mais frequentemente na região maleolar medial e possuem bordas irregulares e fundo recoberto por fibrina ou tecido de granulação, quando não infectada. As infecções são frequentes e dificultam o tratamento. Exames Complementares ▪ São usados principalmente o (1) US com doppler colorido e a (2) flebografia: • US com doppler colorido: fundamental para avaliar as alterações hemodinâmicas. Ajuda na diferenciação de IVC por obstrução distal, parcial ou por refluxo (incompetência valvar) • Flebografia: indicado apenas se o doppler for inconclusivo ou para pacientes com perspectiva de tratamento cirúrgico Tratamento ▪ O tratamento da IVC compreende diversas etapas: • Controle do Fator Etiológico: resolução das obstruções ou refluxo, avaliação abdominal, pulmonar e cardíaca e controle farmacológico das patologias. • Controle do Edema: elevação dos membros e uso de meias compressivas • Dermatite de Estase: cremes a base de CTC e anti-H2 orais • Controle das Úlceras ▪ Infecções: frequentemente causadas por gram (-), sendo tratadas frequentemente com penicilina ou eritromicina ▪ Manejo Geral: indica-se a remoção da fibrina com cremes fibrinolíticos (Contractubex®), uso de violeta genciana e assepsia com soluções antissépticas diluídas para impedir irritação da pele • Analgesia: uso de analgésicos leves caso haja dor • Mobilização: deve-se mobilizar ativamente a articulação tibiotársica. Resumo de Angiologia – Linfedema Autor: Vitor Luiz Back Teló – Referência: Angiologia Básica (Capítulo 16) Introdução e Classificações ▪ O linfedema é um tipo específico de edema com características clínicas especiais,que deriva de alterações primárias ou secundárias do sistema linfático. Pode ser classificado de acordo com aspectos clínicos e patogênicos: • Classificação Clínica ▪ Primários: onde há alteração congênita dos coletores – agenesia, ectasia ou hipoplasia- diferindo apenas na época de aparecimento dos sintomas. Considera-se que exista uma patologia dos coletores, com uma circulação linfática no limiar da normalidade, que pode ser perturbada pelas alterações hemodinâmicas da puberdade e/ou por fatores externos como traumas, infecções etc. • Congênito: desde o nascimento • Precoce: geralmente na época da puberdade • Tardio: aparece até por volta dos 35 anos. ▪ Secundários Inflamatórios: associado a capilarite e infecções dos coletores/linfonodos. Pode ser causada por comprometimento ganglionar tuberculoso (tuberculosa), em casos de tromboflebite (flebítico), por obstrução e inflamação em casos de filariose (filariótica) ou ainda por surtos infeciosos (linfangítica). ▪ Secundários Não-Inflamatórios: ocorrem classicamente devido a ocupação neoplásica, ressecção cirúrgica ou por fibrose devido a irradicação. Uma forma especial é o linfedema pós-mastectomia. • Classificação Patogênica ▪ Patologia Capilar: capilarite difusa ▪ Patologia dos Ductos Coletores: agenesia, hipoplasia, ectasia, inflamação, traumatismo e compressão ▪ Patologias dos Linfonodos: ocupação, ressecção e destruição Quadro Clínico e Diagnóstico ▪ O quadro clínico clássico é o edema frio, branco e indolor, de consistência firme, frequentemente localizado nos MMII. A etiologia mais comum é a linfangite capilar recorrente. • A maioria dos pacientes tem um edema compressível nas fases iniciais, porém conforme evolui, ele se torna mais firme devido a fibrose decorrente do acúmulo proteico e de líquidos. • Ele raramente poupa os dedos e calcâneo, sendo a hiperqueratose outro sintoma frequente, assim como a formação de verrugas e condilomas. ▪ Durante a anamnese, é importante averiguar como foi o desenvolvimento do edema, isto é, se ele surgiu na porção distal do membro (lesão de capilares coletores de pequeno calibre) ou na raiz deste, denominado nesses casos de edema rizomélico (lesão de linfonodos – comumente neoplasias). • Antecedentes de eripsela de repetição, filariose, câncer ou procedimentos cirúrgicos com linfadenectomia, irradiação ou trauma ganglionar; Exames Complementares ▪ Os dois principais exames utilizados são a (1) linfocromia e a (2) linfografia. • Linfocromia: injeção de azul patente que é seletivamente capturado pelos vasos linfáticos. Quando há formação de mancha sem visualização dos troncos (refluxo dérmico) é um sinal forte de existência de bloqueio linfático. Serve também para guiar injeção contraste iodado para a linfografia. • Linfografia: injeção de contraste iodado oleoso que permite registrar o sistema superficial, e após 24hrs, os linfonodos . Tratamento ▪ O tratamento do linfedema é sempre de longa duração e envolve uma equipe multidisciplinar e diversas intervenções. • Medidas Gerais ▪ Orientações: informar ao paciente sobre a dificuldade de cura e incentivar a permanência no tratamento para evitar a progressão para fibredema. ▪ Tratamento postural: é uma das medidas mais necessárias. O repouso deve ser absoluto em fases iniciais, durante linfangite ou em preparo cirúrgico, com os pés da cama elevados. Fora dessas situações, o repouso deve ser relativo, alternando atividades diárias com repouso na cama com as pernas elevadas. ▪ Tratamento de Intertrigo: tratar micoses para evitar surtos de linfangite. • Terapia Medicamentosa ▪ Linfocinéticos: Venalot® via IM 2x ao dia por 1 semana, seguido de 2 comprimidos também 2x ao dia por tempo indeterminado ▪ Diuréticos: pouca utilidade, apenas para redução inicial do edema ▪ Enzimas Proteolíticas: injeção EV diária de hialuronidase na dose de 2.000UI • Fisioterapia: consiste na execução de massagens superficiais e centrípetas de deslizamento para empurrar os fluidos. O uso de compressão intermitente por aparelhos pneumáticos, ataduras e bandas elásticas também são muito usados. • Tratamento Cirúrgico: existem múltiplas técnicas cirúrgicas, sendo mais frequentes as anastomoses linfovenosas, as linfangioplastias e as ressecções de tecido subcutâneo. Resumo de Angiologia – Trombose Venosa Profunda Autor: Vitor Luiz Back Teló – Referências: Angiologia Básica (Capítulo 13) Introdução ▪ O termo doença tromboembólica engloba os acontecimentos da trombose venosa profunda (periférica) que culmina na ocorrência de eventos embólicos. É uma doença potencialmente fatal que atinge tanto pacientes hospitalares quanto sadios. Trombose Venosa ▪ A trombose pode ocorrer em qualquer tipo de veia, e a intensidade dos sintomas depende do (1) tipo de veia acometida (superficial ou profunda), se o (2) comprometimento é local ou extenso e (3) se é uma obstrução parcial ou total. ▪ O diagnóstico de TVP ocorre nos pacientes com alterações da Tríade de Virchow. Descrita em 1856 pelo Dr. Rudolph Virchow, a tríade compreende o (1) fator endotelial, o (2) fator hemodinâmico e (3) o fator hemático. • Fator Endotelial ou Parietal: a lesão do endotélio expõe o colágeno da MB levando a deposição de plaquetas. Os TVP causados por alterações parietais decorrem de: ▪ Traumatismos Mecânicos: manipulação cirúrgica, manipulação obstétrica, acidentes, fraturas, venóclise prolongada e uso de cateteres EV. ▪ Traumatismos Químicos: intencionais (escleroterapia); ocasionais (uso de vasoconstritores, soluções hipertônicas e irritantes). ▪ Infecções: obstétricas, feriadas operatórias, septicemia, tifo e pneumonias. • Fator Hemodinâmico: paciente com estase sanguínea ou redução da velocidade que cursam com empilhamento globular, marginação de plaquetas, sofrimento endotelial por anóxia e concentração de fatores de coagulação. ▪ Causas Gerais: ICC, retenção hídrica, respiração superficial, obesidade, distensão abdominal e insuficiência respiratória. ▪ Causas Locais: imobilidade no leito, compressão venosa, posição de Fowler, posição do membro pendente, varizes volumosas e aparelho gessado prolongado. • Fator Hemático: alterações da coagulação que pode ocorrer por: ▪ ↑ Elementos figurados: hiperplaquetose, policetemia e leucemia. ▪ ↑ Viscosidade: hiperglobulias, hemoconcentração, hipovolemia, desidratação e ↑ globulinas plasmáticas. ▪ ↑ Coagulabilidade: hiperplaquetose, policetemia, ACO e quimioterapia. ▪ A formação do trombo ocorre pela existência de um ou mais fatores da tríade. Pode ocorrer em grandes cirurgias, grandes descolamentos teciduais, imobilização no leito e em pacientes com dificuldade respiratória. Ocorre mais frequentemente nos plexos venosos dos membros inferiores. Flebotrombose e Tromboflebite ▪ O tromboflebite e a flebotrombose são dois eventos coevolutivos do processo de trombose venosa profunda. A diferença entre eles reside na aderência do trombo e evolução clínica: • Flebotrombose: coágulo pobremente aderido à parede do vaso, sem alterações inflamatórias iniciais, ou seja, com quadro clínico discreto e altíssimo risco de embolia pulmonar. As alterações inflamatórias locais ocorrem secundariamente, com adesão firme do trombo. • Tromboflebite: coágulo firmemente aderido à parede do vaso e com inflamação abundante e quadro clínico agudo e forte. Apesar da aderência firme, a cabeça do coágulo pode se desprender e causar embolia. ▪ As diversas etiologias da TVP permitem a organização em uma classificação etiopatogênica: • Causas Cirúrgicas: em pacientes de pós-operatório, por via de regra, de qualquer procedimento, nos períodos de 4 a 12 dias de pós. • Causas Obstétricas: gestação, puerpério e pós-abortamento • Causas Traumáticas: contusões, compressões prolongadas, fraturas e esforço físico intenso • Causas Médicas: ICC (estase sanguínea), infecções(imobilidade no leito e estados de hipercoagulabilidade), neoplasias (liberação de substâncias tromboplásticas), uso de medicamentos por via EV, nas hemopatias e em varizes muito volumosas. Quadro Clínico ▪ As manifestações clínicas da TVP são extremamente diversas, organizadas em manifestações sistêmicas e manifestações locais, estas que variam de acordo com o vaso acometido pelo evento tromboembólico. • Manifestações Sistêmicas: são inespecíficas, porém tem grande importância para o diagnóstico precoce. As mais frequentes são o mal-estar, ansiedade, inquietação, taquicardia e febre baixa. • Manifestações Locais: variam de acordo com a localização do trombo. ▪ TVP do membro inferior: os MMII são os locais mais comuns de TVP. Clinicamente os sinais principais são o aumento do volume da panturrilha, dor espontânea que piora com a marcha e com a manipulação da panturrilha. • Pode-se notar aumento de temperatura da pele, maior destacamento da rede venosa superficial e cianose discreta nos dedos principalmente. • A dor pode irradiar para região poplítea e parte posterior e face interna da coxa, dependendo da altura da trombose. • Quando restrita ao plexo plantar, os sintomas restringem-se ao pé. Quando a obstrução é mais alta (nível iliofemoral) os sinais podem se estender por todo o membro afetado. ▪ TVP da pelve: o acometimento dos plexos pélvicos acarreta edema pubiano e de genitália, disúria sem hematúria, retenção ou incontinência urinária, meteorismo, tenesmo e dor a defecação. ▪ TVP de VCI: caracteriza-se por edema intenso dos MMII, região genital e regiões lombares inferiores. A dor é principalmente no abdome e lombar, dificilmente irradiando para coxa. ▪ TVP de VCS: caracteriza-se por edema e cianose de face, dilatação de veias superficiais, alterações oculares (exofaltmia e edema de papila), alterações da deglutição (disfagia, disfonia e dispneia) e alterações neurológicas (cefaleia, tontura e vertigem). ▪ Trombose de esforço: caracterizado principalmente pela Síndrome de Paget- Schrotter, onde ocorre edema, aumento de temperatura, cianose e turgência de veias. Ela ocorre principalmente no segmento axilossubclávio devido a movimentos intensos, principalmente de adução. ▪ Trombose superficial: consequência de traumas mecânicos, infecções ou injeções EV de medicamentos. É caracterizada pela formação de nódulos ou cordões, dolorosos, que exibem sinais flogísticos na pele. Estes costumam regredir, enquanto os nódulos permanecem e raramente podem causar eventos embólicos de alguma importância. ▪ Trombose séptica: tipo raro de tromboflebite associada a invasão infectante. ▪ Trombose gangrenante: rara, decorrente de dois mecanismos principais, da (1) trombose venosa maciça (bloqueio total do retorno venoso/flebite azul) e (2) arterioespasmos tromboflebíticos (espasmo arterial decorrente da trombose na veia homônima, em mesma altura) Diagnóstico ▪ Pode ser difícil de realizar pois alguns pacientes têm quadros clínicos discretos (acamados ou imobilizados com gesso). Deve-se suspeitar de TVP em quaisquer pacientes com alterações na tríade de Virchow, o que obriga um exame físico completo diário. Os sinais e sintomas foram descritos acima. Exames Complementares ▪ São indicados exames laboratoriais e de imagem. Os principais indicados são: ▪ Exames Laboratoriais: hemograma (leucocitose), ↑ VHS, ↑ monômeros de fibrina ou de produtos de degradação (D-dímero). O VHS é muito útil na avaliação da progressão da doença e eficácia da terapia. ▪ Exames de Imagem: o mais usado é o US com doppler, que permite a visualização da obstrução do fluxo (veia perde a espontaneidade do som). TC também pode ser utilizada. Tratamento ▪ O tratamento da TVP é organizado em 3 etapas distintas, performadas em ambiente hospitalar e doméstico. Os pontos centrais de cada uma das etapas estão descritos abaixo: I. Inclui o repouso no leito com elevação dos membros, mobilização ativa e passiva e uso de compressas quentes para aliviar a dor. Deve ser iniciada heparinoterapia (preferencialmente contínua) associada a AINES. II. Com a regressão dos sintomas, o paciente pode começar a deambular cuidadosamente com o membro enfaixado. Ainda durante a heparinoterapia, suspende-se os AINES e inicia- se a anticoagulação oral com cumarínicos até atingir sua plena ação terapêutica (Atividade de protrombina de 25% e INR 3) quando a heparina deve ser suspensa. III. Pode-se permitir a deambulação livre com uso de meias elásticas que podem ser substituídas por faixas caso o paciente não suporte as meias. A duração do tratamento com os cumarínicos pode chegar até 6 meses. Profilaxia ▪ A prevenção da TVP se apoia em estratégias de prevenção nos três componentes da tríade de Virchow: • Fator Parietal ou Endotelial: evitar traumatismos, pinçamento ou torção dos vasos, manuseio delicado dos tecidos durante cirurgias e evitar terapias endovenosas se possível. • Fator Hemodinâmico: preservar as funções cardíaca e respiratória, exercícios de respiração, mobilização precoce no leito, deambulação precoce, uso de meias e faixas compressivas além de elevação dos pés da cama. • Fator Hemático: manejar as hiperglobulinemias, prevenir ou corrigir hemoconcentração, controlar estados de hipercoagulabilidade e instituir heparinoterapia se necessário. Resumo de Angiologia – Embolia Pulmonar Autor: Vitor Luiz Back Teló – Referência: Angiologia Básica (Capítulo 13) Introdução ▪ A embolia é a complicação mais importante e grave da TVP, responsável por mais de 200.000 mortes/ano nos EUA. É de difícil diagnóstico por apenas 1/3 dos pacientes tem quadro clínico. A embolia pulmonar é a oclusão da artéria pulmonar ou de um de seus ramos por trombos originados do sistema venoso periférico, menos frequentemente das câmaras cardíacas e ainda mais raramente, por gordura da medula óssea. • Cerca de 80% das embolias são causadas por trombose de membros inferiores, em segundo lugar, com 15%, estão as por tromboses pélvicas. Fisiopatologia ▪ O quadro clínico e consequências da embolia dependem principalmente da (1) magnitude da obstrução, da (2) magnitude dos reflexos vasomotores associados, (3) do histórico de episódios cardiopulmonares e (4) do histórico de episódios embólicos. • Para que haja repercussões importantes é necessária uma obstrução de mais de 50% do lúmem. Caso haja uma obstrução completa de um dos ramos (D ou E), o fluxo é inteiramente desviado para o lado oposto, havendo repercussões graves quando mais de 75% da circulação total esteja comprometida. • O embolo possui trombina em sua superfície, o que resulta em: ▪ Ação sobre o fibrinogênio local e trombose secundária ▪ Agregação plaquetária com degranulação de substâncias vasoativas, especialmente a serotonina, que levam a arterioespasmos e broncoespasmos. • A obstrução de um ramo importante da artéria é seguida de uma dilatação de seu tronco, que reflete em aumento da pressão no coração direito, dilatando suas câmaras e ↑ a pressão venosa. Isso se manifesta com dilatação jugular e hepatoesplenomegalia. ▪ Obstruções muito agudas cursam com insuficiência aguda do ventrículo direito, cor pulmonale e óbito. • Na área pulmonar acometida, a ventilação continua. A nutrição inadequada leva a redução do surfactante, com consequente colapso alveolar e desenvolvimento de atelectasia. O infarto pulmonar não ocorre em todos os casos, porém quando ocorre se reflete em pleurite fibrinosa. • No coração esquerdo, a diferença de pressão entre as cavidades resulta em desvio do septo cardíaco para a esquerda, redução de tamanho das câmaras, ↓ do débito cardíaco e da PAM. Pode haver reflexo vagal que leva a hipotensão sistêmica, choque e por fim a morte. Quadro Clínico ▪ Conforme dito anteriormente, a intensidade dos sintomas depende do (1) tamanho do embolo, (2) grau de espasmo,
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