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Gramática histórica da língua inglesa Organizador Thomas Daniel Finbow Doutorado (D.Phil.) e Mestrado (M.Phil.) em Filologia Comparativa e Linguística Geral pela Universidade de Oxford Professor Doutor de Linguística Histórica Departamento de Linguística (FFLCH) na Universidade de São Paulo Book 1.indb 1 17/11/16 19:14 © 2017 by Pearson Education do Brasil Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Pearson Education do Brasil. Diretora de produtos: Gabriela Diuana Supervisora de produção editorial: Silvana Afonso Coordenador de produtos: Vinícius Souza Editor: Casa de Ideias Redação: Julia Coachman e Thomas Daniel Finbow Projeto gráfico e diagramação: Casa de Ideias Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Nononononononono-- São Paulo : Pearson Education do Brasil, 2016. ISBN 978-85-xxx-xxx-x 1. Nonono CDD-000.0 00-00000 -000.00 Índice para catálogo sistemático: 1. Nononononononon 0000000 2016 Direitos exclusivos para a língua portuguesa cedidos à Pearson Education do Brasil Ltda., uma empresa do grupo Pearson Education Avenida Santa Marina, 1193 CEP 05036-001 – São Paulo – SP – Brasil Fone: 11 3821-3542 universidades.atendimento@pearson.com Book 1.indb 2 17/11/16 19:14 sumário Apresentação ..........................................................................................VII Prefácio ....................................................................................................... IX Unidade 1 Inglês antigo .......................................................................1 Linguística histórica ..................................................................................3 Famílias linguísticas ................................................................................3 Método de reconstrução comparada ..............................................7 A família indo-europeia ..................................................................... 21 A família germânica ............................................................................. 26 Mudança linguística ............................................................................... 29 História interna versus história externa ........................................ 29 Mudança fônica..................................................................................... 30 Mudança gramatical ............................................................................ 31 O inglês antigo ......................................................................................... 34 História externa: as migrações germânicas à Grã -Bretanha .... 34 História interna: a estrutura do inglês antigo ............................ 37 Os dialetos anglo-saxões ................................................................... 45 Inglês antigo em contato com outras línguas ............................ 50 História externa: os reinos anglo-saxões ..................................... 50 Contato com as línguas celtas ......................................................... 52 Contato com o latim ............................................................................ 53 Contato com o norreno ...................................................................... 54 História externa: os séculos IX e X .................................................. 56 Fontes textuais ......................................................................................... 59 Beowulf ..................................................................................................... 59 The Dream of the Rood ......................................................................... 60 The Anglo-Saxon Chronicle ................................................................. 60 Beda, Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum ................................ 61 Unidade 2 O inglês médio ................................................................ 67 História externa da Inglaterra medieval ....................................... 71 A conquista normanda e o século XII ............................................ 71 O século XIII: o império angevino ................................................... 78 O século XIV: a Guerra dos Cem Anos e a Peste Negra ........... 83 O século XV e a Guerra das Rosas ................................................... 98 Book 1.indb 3 17/11/16 19:14 IV Influências estrangeiras .....................................................................100 Contato com o francês normando e o francês de Paris ........100 Contato com outras línguas ...........................................................108 História interna: mudanças estruturais .......................................109 Fonologia...............................................................................................109 Morfologia e sintaxe ..........................................................................115 Diversidade dialetal .............................................................................120 Os dialetos medievais do inglês e do escocês .........................122 Literatura medieval ..............................................................................130 Peterborough Chronicle ..................................................................131 Sir Gawain and the Green Knight .................................................... 133 Geoffrey Chaucer ................................................................................135 The Paston letters ................................................................................. 137 Unidade 3 O inglês pré-moderno ................................................147 História externa: a Renascença, a Reforma, a Guerra Civil Inglesa, a Restauração da monarquia e a “Revolução Gloriosa” ...............................................................................................151 Henry VII .................................................................................................153 Henry VIII ...............................................................................................156 Edward VI ...............................................................................................161 Mary I ......................................................................................................163 Elizabeth I ..............................................................................................164 James I ....................................................................................................168 Charles I ..................................................................................................170 Charles II ................................................................................................176 James II ...................................................................................................177 História interna: mudanças estruturais .......................................178 Fonologia...............................................................................................178 Morfossintaxe ......................................................................................191 Léxico ......................................................................................................207 Ortografia, gramáticas e dicionários ............................................217 Ortografia ..............................................................................................217 Gramáticas e dicionários .................................................................221Textos pré-modernos ..........................................................................227 Poesia e teatro elizabetanos ...........................................................228 Shakespeare e a Bíblia King James ...............................................238 Ben Jonson e os poetas metafísicos ............................................243 John Milton e John Bunyan ............................................................246 Daniel Defoe e Jonathon Swift ......................................................252 Unidade 4 O inglês moderno ........................................................269 Variação e mudança na América do Norte .................................274 Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 4 17/11/16 19:14 Sumário V A constituição do inglês americano ............................................274 Inglês no Canadá ................................................................................278 Diferenças entre o inglês americano e o inglês britânico ...280 Variação global ......................................................................................285 Inglês no Caribe ..................................................................................285 Inglês na África ....................................................................................290 Inglês na Ásia .......................................................................................298 Austrália e Nova Zelândia ................................................................301 Variação nas ilhas britânicas e na Irlanda ..................................305 Inglaterra ...............................................................................................305 Escócia ....................................................................................................310 País de Gales .........................................................................................313 Irlanda .....................................................................................................315 Referências .............................................................................................323 Book 1.indb 5 17/11/16 19:14 Book 1.indb 6 17/11/16 19:14 apresentação Nos catálogos de livros universitários há vários títulos cuja pri- meira edição saiu há 40, 50 anos, ou mais. São livros que, graças à identificação da edição na capa (e somente a ela), têm sua idade re- velada. E, ao contrário do que muitos podem imaginar, isso não é um problema. Pelo contrário, são obras conhecidas, adotadas em diversas instituições de ensino, usadas por estudantes dos mais diferentes per- fis e reverenciadas pelo que representam para o ensino. Qual o segredo de sucesso desses livros? O que eles têm de diferente de vários outros que, embora tenham tido boa aceita- ção em um primeiro momento, não foram tão longe? Em poucas palavras, esses livros se adaptaram às novas realidades ao longo do tempo, entendendo as mudanças pelas quais a sociedade – e, consequentemente, as pessoas – passava e as novas necessidades que se apresentavam. Para que isso fique mais claro, vamos pensar no seguinte: a maneira como as pessoas aprendiam matemática na década de 1990 é igual ao modo como elas aprendem hoje? Embora os ali- cerces da disciplina permaneçam os mesmos, a resposta é: não! Nesse intervalo de tempo, ocorreram mudanças significativas – a Internet se consolidou, os celulares se popularizaram, as redes so- ciais surgiram etc. E todas essas mudanças repercutiram no modo de vida das pessoas, que se tornou mais rápido e desafiador, trans- formando os fundamentos do processo de ensino/aprendizagem. Foi com base nisso que nasceu a Bibliografia Universitária Pear son (BUP). Concisos sem serem rasos e simples sem serem simplistas, os livros que compõem esta série são baseados na premissa de que, para atender sob medida às necessidades tan- to dos alunos de graduação como das instituições de ensino – independente mente de eles estarem envolvidos com ensino presen- cial ou a distância –, é preciso um processo amplo e flexível de construção do saber, que leve em conta a realidade em que vivemos. Assim, as obras apresentam de maneira clara os principais conceitos dos temas propostos, trazendo exatamente aquilo que o estudante precisa saber, complementado com aprofundamentos Book 1.indb 7 17/11/16 19:14 VIII e discussões para reflexão. Além disso, possuem uma estrutura didática que propõe uma dinâmica única, a qual convida o leitor a levar para seu dia a dia os aspectos teóricos apre- sentados. Veja como isso funciona na prática: A seção “Panorama” aprofunda os tópicos abordados ao mostrar como eles funcionam na prática, promovendo interessantes reflexões. Inglês antigo 57 Os avanços vikings e a ascensão do reino de Wessex As invasões dos vikings, principalmente do grande exército dinamarquês, desestruturaram a geografi a social e política da Grã- -Bretanha e da Irlanda. No entanto, em 878, a famosa vitória do rei Alfredo sobre os vikings, em Edington, freou a investida di- namarquesa. Porém, a Nortúmbria já se tornara um reino viking, enquanto a Mércia foi partida ao meio e a Ânglia Oriental já não mais era um território político anglo-saxão. Os reinos pictos, es- coceses (imigrantes do norte da Irlanda que fundaram um reino na costa sudoeste da futura Escócia – em latim, os irlandeses eram chamados Scotti) e galeses também foram abalados pelos ataques vikings, que certamente também contribuíram para a constituição do Reino de Alba, que mais tarde formaria a Escócia. Rio Tees R io T re nt Rio Thames Rio Tam ar Rio Severn Rio Tyne Rio Ouse Ri o O us e 0º 55º N OCEANO ATLÂNTICO Mar do Norte Mar da Irlanda Canal da Manc ha York Carlisle Eamont Ilha de Man Ilha de Wight W E S S E X ÂNGLIA ORIENTAL MÉRCIA INGLESA Cambridge Lincoln Fronteira inglesa, 917 Fronteira inglesa, 920 English Frontier, 927 Cedido à Escócia c. 975 Thetford Bedford London Cricklade Buckingham Gloucester Tamworth Chester Manchester Dublin Thelwall Eddisburg Runcorn Stafford Davenport Bakewell Bath Malmesbury Wallingfdord Winchester Porchester WarehamExeterLydford Southhampton Chichester Canterbury Hastings Maldon Hertford Bamburgh STRATHCLYDE NORTH U M B R IA LOTHIAN TERRA DOS CINCO BURGOS REINO DE YORK Assentamento norueguês Assentamento dinamarquês Fronteira do reino de Guthrum Figura 1.10 Divisão da Inglaterra no século X. Fonte: adaptada de Blair (1984, p. 89). Ao longo do livro, o leitor se depara com vários hipertextos. Classificados como “Saiba mais”, “Exem plo”, “Fique atento” e “Link”, esses hipertextos permitem ao aluno ir além em suas pesquisas, oferecendo-lhe amplas possibi- lidades de aprofundamento. A linguagem dialógica aproxima o es- tudante dos temas abordados, eliminando qualquer obstáculo para seu entendimento e incentivando o estudo. A diagramação contribui para que o estu- dante registre ideias e faça anotações, intera- gindo com o conteúdo. Todas essas características deixam claro que os livros da Bibliografia Universitária Pearson constituem um importante aliado para estudantes conectados e professores ob- jetivos – ou seja, para o mundo de hoje – e certamente serão lembrados (e usados) por muito tempo. Boa leitura! Inglês antigo 63 Diferenças entre linguagem, línguas e dialetos Em português, há distinção entre linguagem, lín- guas e dialetos. Possivelmente você já deve ter ouvi- do falar sobre os três termos, não é mesmo? São três palavras distintas que cumprem uma mesma fi na- lidade: promover a comunicação entre os falantes.Contudo, embora linguagem, língua, idioma e dia- leto sejam termos corriqueiros, os sociolinguistas, aqueles que estudam a relação entre a língua e a sociedade, tendem a evitá-los, já que, especial- mente linguagem, língua e dialeto, pressupõem algumas relações hierárquicas que carecem de bons fundamentos científi cos, e seu uso quotidia- no pode causar mal-entendidos. Linguagem Para os linguistas, a linguagem é a faculdade ge- nérica e inata que todo ser humano possui para aprender alguma língua ou algumas línguas nati- vamente. Tal capacidade é específi ca à nossa espé- cie, uma herança genética que possibilita qualquer criança a adquirir qualquer língua natural apenas por exposição a pessoas falando-a, sem nenhuma instrução formal. Por mais que um fi lhote de gato, cachorro ou papagaio conviva com seres huma- nos, embora possa aprender a reconhecer diversas palavras e expressões (e até enunciar algumas, no caso do papagaio), ele nunca aprenderá a dominar a língua dos donos da mesma maneira que uma criança se tornar um falante nativo, capaz de pro- duzir sentenças inteiramente originais, nunca an- tes ouvidas, e de interpretá-las. Língua Uma língua é uma manifestação da Linguagem. Não podemos acessar a Linguagem, nossa capacidade linguística geral, de forma direta, pois ela sempre é veiculada em alguma língua específi ca, adquirida pelos indivíduos no processo de aquisição da língua materna. A língua é, sobretudo, um instrumento re- lacional que estrutura o sistema de comunicação de algum grupo e possibilita a formação de signos linguísticos (morfemas, palavras, frases e sentenças), e permite a transmissão de mensagens entre indiví- duos (codifi cação e descodifi cação de signifi cado), que é a sua maior fi nalidade. Ou seja, uma língua é um “princípio estruturador” ou, em outras palavras, é uma certa organização de conceitos, do sistema sonoro e dos elementos gramaticais que é com- partilhada pelos membros de determinado grupo social por terem-na aprendido. Os falantes de uma língua servem-se dela para estabelecer interações com a sociedade em que vivem. Quando dizemos que a língua é um instrumento do povo, dizemos que, embora existam normas gramaticais, de signifi cado e de pronúncia (as normas reais reveladas nas práticas linguísticas cotidianas da comunidade de falantes nativos, não as normas prescritivas da gramática tradi- cional), cada falante desenvolve uma forma de expressão própria, originando aquilo que cha- mamos de fala. No entanto, qualquer fala, em- bora possa ser individual, distintiva e criativa, é regida sempre por regras maiores e mais gerais (as normas da língua). Caso contrário, cada um de nós acabaria criando sua própria língua, o que impossibilitaria a comunicação, porque nin- guém compartilharia as normas para decifrar as mensagens transmitidas. Na fala encontramos muitas variações linguísticas, que jamais devem ser vistas como transgressões, mas como prova de que a língua é viva e dinâmica, a não ser que as variantes consideradas “erradas” ocorram na boca Panorama 2 Temas 1 – Linguística histórica Neste tema, conheceremos o conceito de família linguística, as aplicações da reconstrução comparada e as mudanças sonoras que ocorreram na família indo-europeia. Exploraremos tam- bém as línguas germânicas, aprendendo quais são suas raízes e classifi cações. 2 – Mudança linguística No segundo tema, aprenderemos as diferenças entre história interna e história externa, conhecendo os aspectos sonoros das línguas e as principais alterações linguísticas em relação a morfologia, sintaxe, léxico e semântica. 3 – O inglês antigo Em seguida, estudaremos a história externa da estruturação do inglês, avaliando o contexto histórico das migrações germâni- cas na Grã-Bretanha. Analisaremos também os principais diale- tos anglo-saxões: Northumbrian, West Saxon, Mercian e Kentish. 4 – Inglês antigo em contato com outras línguas Aprenderemos, neste tema, o que foi a heptarquia, relacionan- do os aspectos particulares de cada um dos sete grande reinos anglo-saxões: Sussex, Kent, Wessex, East Anglia, Essex, Mercia e Northumbria. 5 – Fontes textuais Por fi m, avaliaremos algumas das mais relevantes obras do in- glês antigo, reconhecendo seu enorme valor para as pesquisas linguísticas e sua importância para a literatura inglesa. Introdução Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras. (William Shakespeare) Nesta unidade trataremos da linguística histórica. Iniciaremos nossos estudos aprendendo o conceito de família linguística e como funciona o método da reconstrução comparada de linguagens. Conheceremos também as modifi cações sonoras ocorridas na família indo-europeia, além de investigar as origens e classifi cações das línguas germânicas. Gramática histórica da língua inglesa Fique atento Link Saiba mais Exemplo Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 8 17/11/16 19:14 prefácio Este livro não pretende oferecer aos leitores não especialistas ape- nas uma introdução ao percurso histórico do inglês traçada em termos das modificações das estruturas linguísticas. Também buscamos, no entanto, fornecer aos interessados os fundamentos da linguística his- tórica descritiva e comparada, além de um embasamento em aspectos da sociolinguística variacionista, além de determinados elementos da filologia e noções da história dos povos anglófonos. Nosso objetivo é, portanto, ambicioso, motivado pelo desejo de proporcionar aos estu- dantes uma base geral em linguística, por meio da linguística histórica do inglês. Por conseguinte, visamos ir além do tratamento oferecido nos compêndios clássicos de “gramática histórica”, juntando à história interna e à história externa da língua inglesa diversas reflexões acerca de várias questões teórico-práticas ligadas à pesquisa linguística em uma capacidade mais genérica, para enfatizar a importância de se enxergar a situação linguística em qualquer momento da perspectiva mais ampla possível. Esperamos que o aluno conclua seus estudos com uma noção de quão multifacetado é o trabalho do linguista na hora de lidar com a fantástica diversidade e a riqueza da linguagem humana, apresentada sob o viés de uma das línguas mais faladas no mundo. É inegável que o inglês é uma língua importantíssima ao redor do mundo. Por isso, ela merece o interesse dos cientistas e das pessoas de modo geral. Por outro lado, jamais podemos perder de vista a maneira pela qual a língua inglesa chegou a tal posição: mais por casualidade his- tórica que por qualquer outro mérito próprio. Ninguém que contemplasse os dialetos germânicos migrantes no leste da Grã-Bretanha no século VI d.C. apostaria que alguns de seus descendentes se tornariam uma força global. Em outras palavras, toda e qualquer língua é um objeto de análise interessante e que vale a pena conhecer e investigar, pois todas elas são incrivelmente ricas e é muito difícil deduzir como as coisas vão se desen- volver no futuro! Iniciamos a Unidade 1 com a identificação das relações de parentes- co na família indo-europeia. Depois, apresentamos os diferentes tipos de mudança que impactam as estruturas linguísticas. Descrevemos o ramo germânico do indo-europeu, ao qual o inglês pertence e as características Book 1.indb 9 17/11/16 19:14 X do inglês antigo, como o contexto histórico que levou os povos litorâneos do noroeste europeu a se deslocar para a ilha da Grã-Bretanha e se estabelecer por lá. Abordamos como o contato com os povos e as línguas dessa ilha influen- ciou na evolução e diversificação do inglês antigo. Finalmente, oferecemos uma breve amostra literária (em prosa e em verso) doinglês antigo. Abrimos a Unidade 2 com uma apresentação panorâmica da história da In- glaterra medieval com foco em quatro períodos: a primeira dinastia normanda; a constituição do Império angevino sob Henrique II e Eleonora de Aquitânia; a Guerra dos Cem Anos entre a Inglaterra e a França; e a guerra civil conhecida como a “Guerra das Rosas”. Além dos acontecimentos políticos, destacamos as diferentes contribuições socioculturais de cada período histórico e o im- pacto nas questões linguísticas. A segunda parte da Unidade 2 se concentra na enorme contribuição da língua francesa à formação do léxico inglês. O terceiro tema explica as mudanças que afetaram as demais estruturas da língua inglesa (os sons e a gramática) durante o período medieval. E o quarto tema segue exemplificando a grande diversidade dialetal que caracteriza o inglês médio. Encerramos com alguns monumentos literários medievais. A Unidade 3 apresenta o período pré-moderno e começa com a aci- dentada história externa, fundamental à construção da identidade britânica moderna. A seguir, apresentamos as mudanças estruturais que converteram os dialetos medievais em algo que nos é reconhecível como inglês. A ter- ceira parte proporciona um panorama dos debates sobre a melhor maneira de regular e codificar a língua em dicionários, gramáticas e tratados de ortografia. Novamente, fechamos a unidade com uma passagem pelos mais conceituados autores da língua inglesa do período: Shakespeare, John Milton, Daniel Defoe e Jonathan Swift. A Unidade 4 fala da diversidade do inglês como um idioma global. Co- meçamos com o estabelecimento do inglês em territórios norte-americanos e a evolução dos vários tipos de inglês falados nos Estados Unidos e no Ca- nadá. Seguimos em frente, comparando o padrão britânico ao padrão ame- ricano. No terceiro tema descrevemos as variedades do inglês pelo mundo. Por fim, voltamos às origens para tratar da diversidade dialetal nas Ilhas Britânicas e na Irlanda. Concluindo, nosso objetivo é fundamentar os principais aspectos da lin- guística geral, linguística histórica e sociolinguística para o leitor não espe- cialista e sem conhecimentos prévios por intermédio da evolução da língua inglesa. Esperamos que o presente livro tenha algo a oferecer para qualquer pessoa que deseja se iniciar no instigante mundo da linguística sócio-históri- ca e da fascinante história do inglês. Bons estudos! Thomas Finbow Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 10 17/11/16 19:14 u n i d a d e 1 Objetivos de aprendizagem Explorar o campo da linguística histórica, compreendendo o caráter mutável das línguas e as relações existentes entre elas. Descobrir as chamadas famílias linguísticas, aprendendo como fun- ciona o método de reconstrução comparada e analisando os pa- drões de alterações sonoras na família indo-europeia. Conhecer as origens e a classificação tradicional das línguas germânicas. Diferenciar história interna e história externa e aprender como a fo- nética e a fonologia formam o panorama sonoro das diversas línguas. Investigar as transformações linguísticas possíveis nos contextos morfológico, sintático, lexical e semântico-pragmático. Conhecer a história externa da formação da língua inglesa, abordan- do principalmente as migrações germânicas às ilhas britânicas. Analisar a estrutura do inglês antigo e explorar os quatro principais dialetos anglo-saxões da época: Northumbrian, West Saxon, Kentish e Mercian. Estudar a chamada heptarquia, conhecendo os sete maiores rei- nos anglo-saxões: Kent, Sussex, Wessex, East Anglia, Essex, Mercia e Northumbria. Reconhecer a influência das línguas celtas, do latim e do norreno na formação da língua inglesa. Pesquisar a história externa do inglês antigo, analisando a trajetória das invasões vikings e a unificação do reino da Inglaterra. Conhecer as principais fontes textuais do inglês antigo, descobrindo a importância dessas obras para o estudo da linguística. Inglês antigo Book 1.indb 1 17/11/16 19:14 2 Temas 1 – Linguística histórica Neste tema, conheceremos o conceito de família linguística, as aplicações da reconstrução comparada e as mudanças sonoras que ocorreram na família indo-europeia. Exploraremos tam- bém as línguas germânicas, aprendendo quais são suas raízes e classificações. 2 – Mudança linguística No segundo tema, aprenderemos as diferenças entre história interna e história externa, conhecendo os aspectos sonoros das línguas e as principais alterações linguísticas em relação a morfologia, sintaxe, léxico e semântica. 3 – O inglês antigo Em seguida, estudaremos a história externa da estruturação do inglês, avaliando o contexto histórico das migrações germâni- cas na Grã-Bretanha. Analisaremos também os principais diale- tos anglo-saxões: Northumbrian, West Saxon, Mercian e Kentish. 4 – Inglês antigo em contato com outras línguas Aprenderemos, neste tema, o que foi a heptarquia, relacionan- do os aspectos particulares de cada um dos sete grande reinos anglo-saxões: Sussex, Kent, Wessex, East Anglia, Essex, Mercia e Northumbria. 5 – Fontes textuais Por fim, avaliaremos algumas das mais relevantes obras do in- glês antigo, reconhecendo seu enorme valor para as pesquisas linguísticas e sua importância para a literatura inglesa. Introdução Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras. (William Shakespeare) Nesta unidade trataremos da linguística histórica. Iniciaremos nossos estudos aprendendo o conceito de família linguística e como funciona o método da reconstrução comparada de linguagens. Conheceremos também as modificações sonoras ocorridas na família indo-europeia, além de investigar as origens e classificações das línguas germânicas. Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 2 17/11/16 19:14 Inglês antigo 3 Em seguida, definiremos os conceitos de história interna e história externa, compreendendo como o padrão sonoro de uma língua é formado a partir da fonologia e da fonética. Abordaremos também as mudanças linguísticas que podem ocorrer nos campos sintático, morfológico, semântico-pragmático e lexical. Além disso, analisaremos a história externa da construção da língua inglesa, estudando a chegada germânica ao território britânico e co- nhecendo os quatro principais dialetos anglo-saxões. Aprenderemos ainda o que foi a famosa heptarquia, descobrindo como as línguas celtas, latim e norreno contribuíram com a formação do inglês antigo. Por fim, examinaremos o contexto histórico das invasões vikings, que acompanhou o processo de consolidação do reino inglês, além de explorarmos as mais importantes fontes textuais do inglês antigo. Linguística histórica Famílias linguísticas Ao explorarmos o vasto campo da linguística histórica, deve- mos ter em mente uma de suas características fundamentais: a na- tureza dinâmica e mutável das línguas humanas. Essas mudanças que as línguas sofrem ao longo do tempo, contudo, não descarac- terizam seu potencial semiótico ou sua plenitude estrutural. Ou seja, apesar das variações geográficas, socioculturais, cronológi- cas e de uso, as línguas mantêm sempre uma organização básica, viabilizando seu uso contínuo e desimpedido pelos falantes e pre- servando, assim, sua funcionalidade social. O fim do século XVIII foi marcado por diversas pesquisas científicas dedicadas a investigar a história das línguas ao redor do mundo. Nessa época, foram realizadas análises pioneiras dos diversos grupos de línguas, em um padrão sistemático e específico, visando fundamentalmente descobrir correlações entre eles que pu- dessem demonstrar relações de parentesco entre as línguas. A espe- rança dos estudiosos era que, caso fossem encontradas evidências contundentes nesse sentido, seria possível comprovar a existênciade uma fonte comum, uma língua-mãe global que teria originado todas as demais, tal como narra a história bíblica da torre de Babel. No continente europeu, já se sabia da evidente origem latina das línguas italiana, francesa e espanhola, entre outras. Contudo, a principal dificuldade para os estudiosos que se interessavam pe- las relações de parentesco entre as línguas era metodológica: eles Book 1.indb 3 17/11/16 19:14 4 não tinham desenvolvido nenhum método sistemático para deci- dir quais semelhanças eram relevantes e quais não tinham impor- tância. Além disso, não houve consenso sobre a regularidade da mudança estrutural ou, inclusive, se as línguas podiam mudar de forma independente, por gerar inovações, ou se as diferenças eram o resultado da “mistura” de línguas de tipos diferentes. Porém, com o emprego de novas técnicas capazes de solucio- nar parte desses problemas em grupos mais extensos de línguas, foram encontrados fortes indícios da existência de uma língua pré-histórica que teria gerado a maioria das línguas da Eurásia. Essa língua passaria a ser conhecida como protoindo-europeu e, a partir de então, vários outros grupos de línguas passaram a ser estudados com base no mesmo método de pesquisa. Fique atento Por meio da comparação entre várias línguas, os pesquisadores conseguiram identificar relações sistemáticas entre sua estrutura linguística (os sons, os pa- radigmas flexionais de declinação de caso nos nomes e adjetivos e na conju- gação dos verbos), deduzindo que, por existir tantos paralelos repetidos com tanta frequência, elas devem ser originadas de uma fonte em comum. O pa- norama linguístico da Europa teve grande importância nesse processo, com a percepção de importantes similaridades e diferenças, por exemplo, entre palavras nas línguas italiana, francesa, espanhola e portuguesa. Um exemplo disso são as expressões para “caro” e “campo” em algumas línguas neolatinas: Francês Italiano Espanhol Português cher caro caro caro champ campo campo campo Nestas palavras, o fonema francês /ʃ/, representado por ch, apresenta clara relação de correspondência com o fonema /k/, simbolizado por c em vocá- bulos italianos, espanhóis e portugueses. A partir dessa comparação, é possível dizer que ao menos alguns termos com o fonema francês /ʃ/ são derivados do fonema mais antigo /k/, passan- do por mudanças fonéticas e fonológicas até estabelecer-se em sua forma atual /ʃ/. Essa teoria pode ser confirmada por outros exemplos, tais como: Francês Italiano Espanhol Português Latim chandelle candela candela candeia candela chez casa casa casa casa Fonte: adaptado de Lehmann (1992, p. 6-7). Saiba mais O prefixo “proto” significa que a língua não está atestada em nenhum livro ou inscrição, pois existia muito antes da invenção da escrita (ou, após a invenção da escrita, significa que os falantes não a conheciam), mas sua estrutura fônica, gramatical e seu vocabulário foram reconstruídos por meio do método comparativo aplicado às descendentes dessa língua ancestral, das quais temos registros escritos. Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 4 17/11/16 19:14 Inglês antigo 5 É frequente a alusão a árvores genealógicas ou famílias lin- guísticas nesse processo de análise de laços históricos entre as línguas. No caso das línguas românicas, como o espanhol, o fran- cês, o italiano etc., elas são consideradas línguas “filhas” da língua “mãe”, o latim. Assim, o italiano pode ser entendido como uma língua “irmã” do francês e do espanhol. De modo similar, a língua protoindo-europeia (PIE) representa a língua-mãe na família indo- -europeia, tendo o latim, o grego, o sânscrito e muitas outras como línguas-filhas (CRYSTAL, 1992). Saiba mais Teoria da árvore genealógica ou família linguística A teoria da árvore genealógica ou família linguística (Stammbaumtheorie) foi desenvolvida pelo linguista austríaco August Schleicher. Embora Schleicher utilizasse o conceito da evolução, sua interpretação dessa noção ainda in- cluía muitos princípios da ciência natural pré-Darwiniana. Ele introduziu o conceito de linguagem como um organismo que pode nascer, evoluir, en- trar em decadência e morrer, sujeito a transformações que podemos analisar por meio de métodos do campo da biologia. Por esse motivo, em meados do século XIX os linguistas consideravam apropriado descrever as relações entre línguas com a terminologia do parentesco biológico. Para cada “ramo” ou “galho” que se separa dos demais na árvore genealógica, a bifurcação cor- responde a uma ou várias mudanças que separa as filhas de determinada língua-mãe entre si e da sua antecessora comum. Embora a metáfora das famílias linguísticas seja útil para a compreensão do fenômeno das relações de parentesco entre línguas e para a cronologia da formação de novas línguas, é importante reconhecer que essa abordagem não corresponde a uma sequência linear e padronizada. Ou seja, uma língua-mãe pode deixar de existir após o “nascimento” de línguas-filhas, pode coexistir com suas filhas e até sobrevivê-las, pode inte- ragir com suas filhas, ou pode desenvolver-se de modo relati- vamente autônomo. A trajetória de constituição de uma nova língua, portanto, é repleta de pequenas e constantes transfor- mações, influenciadas pelas diferentes reações dos diversos grupos sociais e pelas inovações que surgem constantemente entre seus membros. Book 1.indb 5 17/11/16 19:14 6 Exemplo Não são apenas as línguas indo-europeias que podem ser agrupadas em fa- mílias e subfamílias. Aproximadamente 7.000 famílias linguísticas vivas já fo- ram identificadas (ainda há outras muitas já extintas). As línguas urálicas são um exemplo típico do conceito de família linguística. Elas formam uma família de línguas euroasiáticas oriundas dos Montes Urais e faladas por aproximada- mente 20 milhões de pessoas. O estoniano, o finlandês e o húngaro são as três línguas dessa família com maior quantidade de falantes. No caso brasileiro, podemos citar o tupi, que é composto por 10 famílias, algumas delas, como o tupi-guarani, com até 40 línguas. Figura 1.1 Família de línguas urálicas. Fonte: Anttila (1972, p. 301). Finlandês Lude Ingriano Estoniano Livônio Carélio Vepsa Votiano Estoniano meridional Urálico (c. 4000 a.C.) Fino-úgrico (c. 3000 a.C.) Fínico (c. 1500 a.C.) Fínico báltico (c. 500 a.C.) (Divisão c. 1 d.C.) Norte Samoieda Sul Ob-úgrico Úgrico Permiano Fínico volgaico Lapão (Divisão c. 750 d.C.) Samoieda yurak Samoieda do Yenisei Tavgi Selcupe (Camassiano) (etc.) Ostíaco Vógul Montes Urais Húngaro Votiáco Ziriano Mordoviano Cheremise Lapão oriental Lapão setentrional Lapão meridional O século XX trouxe novas nomenclaturas e classificações para esse processo. O termo “família” ainda é utilizado como uma Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 6 17/11/16 19:14 Inglês antigo 7 designação genérica para grupos de línguas que apresentam correla- ções históricas, porém em algumas classificações é estabelecida uma diferenciação quanto à intensidade dessas relações. Assim, o termo “família” geralmente é empregado para nomear línguas muito próxi- mas, enquanto a expressão “filo” ou “tronco” diz respeito a línguas com conexões mais superficiais. O termo “macrofilo” ou “superfamí- lia”, por sua vez, é utilizado para descrever grupos de línguas com li- gações ainda mais indefinidas e fracas do que as observadas nos filos. As línguas aborígenes da Austrália, por exemplo, embora se- jam claramente relacionadas entre si, não apresentam evidências históricas de conexões claras acimado nível da família – diferente do indo-europeu, em que os ramos podem ser agrupados em fa- mílias sucessivamente maiores –, razão pela qual costumam ser classificadas como filo ou macrofilo australiano, em vez de fa- mília australiana, pois algumas famílias menores não se deixam aglomerar no bloco maior chamado “pama-nyungano”. Portanto, embora os linguistas suspeitem que a relação genealógica entre essas famílias linguísticas exista, ainda não foi possível compro- vá-la definitivamente pelo método comparativo e fala-se de “filo” ou “macrofilo”, já que esses termos apontam para uma relação possível, porém, menos segura. No Brasil, as línguas indígenas do grupo macro-jê apresentam uma situação parecida. Na classificação genética das línguas, as relações linguísticas são determinadas quanto ao grau de “parentesco”; assim, temos as cha- madas “línguas-mães”, “línguas-filhas”, “línguas-irmãs” e “famílias de línguas”. Desse modo, se o processo de reconstrução obtiver êxito, serão comprovadas as relações existentes entre as línguas abordadas. Método de reconstrução comparada No ano de 1808, foi publicada a obra Über die Sprache und die Weisheit der Indier, do alemão Friedrich Schlegel, reconhecida como marco inicial das pesquisas comparativistas. Nela, Schlegel realiza comparações sistemáticas entre línguas antigas europeias e o sânscrito, e propõe métodos de classificação entre as diversas línguas, buscando determinar seu parentesco e descobrir sua as- cendência comum. De acordo com Crystal (1992), o método comparativo é um modo de comparar sistematicamente uma série de línguas, visando provar relações históricas entre elas. Primeiro, partindo do nível dos sons, os pesquisadores descobrem uma série de similaridades Book 1.indb 7 17/11/16 19:14 8 e divergências entre as línguas, buscando em seguida reconstruir uma fase inicial de evolução comum a todas elas. Essa prática é chamada de reconstrução comparada. Nela, línguas que provam ter a mesma ancestral são conhecidas como cognatas. Essa relação é mais facilmente constatada quando a existência da língua-mãe é comprovada, como no exemplo das várias pala- vras para pai nas línguas indo-europeias: Protoindo- -europeu Latim Grego clássico Sânscrito Gótico Irlandês antigo Esquimó pǝtér páter patḗr pitā fádar áthir ataataq Como podemos ver, todas as formas acima, exceto a palavra esquimó, podem ser derivadas regularmente da palavra em PIE *pǝtér. O esquimó se deixa excluir por não ser possível estabelecer correspondências sistemáticas entre os fonemas que compõem a palavra /ata:taq/ e as formas fonológicas dos demais vocábulos. Assim, mesmo que o PIE não existisse mais, seria viável recons- truir sua estrutura a partir desse tipo de comparação entre várias palavras. Essa técnica comparativa é empregada de modo análogo quando a língua-mãe foi extinta, como no caso da língua indo- -europeia. Nesse caso, as formas em latim, grego, sânscrito, eslavo antigo, armênio etc. para pai, por exemplo, são comparadas visan- do a reconstrução do termo original indo-europeu, *pǝter. Cabe ressaltar que, no estudo de linguística histórica, o uso de asterisco precedendo uma palavra significa que esse termo é uma reconstru- ção, não apresentando comprovação escrita em registros históricos. A pronúncia dos termos reconstruídos é um tema extensamente debatido entre os linguistas; enquanto alguns atribuem característi- cas fonéticas a eles e os pronunciam dessa forma, outros defendem que isso não é adequado, dado o grau de abstração de tais termos e a natureza hipotética e probabilística das formas propostas. Abordagem genética das linguagens Podemos dizer que duas línguas de uma mesma família de línguas são geneticamente relacionadas, ou seja, são cognatas, quando elas se originam ou “descendem” da mesma língua origi- nal; e quando essa língua-mãe é reconstruída, ela é então chama- da de protolíngua. Quer dizer, o latim e o inglês antigo não são protolínguas, apesar de serem a mãe do português e do inglês, Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 8 17/11/16 19:14 Inglês antigo 9 respectivamente, por serem línguas atestadas em manuscritos e inscrições, mas o PIE ou o protogermânico são protolínguas, por serem fruto de reconstrução. A reconstrução de linguagens por meio do método comparati- vo objetiva recuperar o máximo possível da língua ancestral ou da protolíngua, comparando as línguas descendentes e buscando esta- belecer quais foram as transformações sofridas por elas. A fonologia costuma ser o primeiro aspecto analisado nesse processo, que tenta inicialmente reconstruir o sistema sonoro. Em seguida, são estudadas características inerentes ao vocabulário e à gramática da protolíngua. Por meio da comparação entre as características herdadas por cada língua-irmã românica, por exemplo, almeja-se reconstruir os aspectos linguísticos da língua protorromânica – que não é idên- tica ao latim devido às formas presentes no latim que desaparece- ram totalmente na passagem às línguas-filhas sem deixar nenhum rastro e que, portanto, não podem ser reconstruídas. Um exemplo disso é o fato de sabermos que o latim tinha /h/ apenas porque os romanos nos contaram, esse som não continuou em nenhuma lín- gua neolatina. A língua protorromânica apresenta os aspectos mais falados do latim na época em que começou a sofrer suas primeiras variações e fragmentações, que posteriormente se converteram em suas línguas “descendentes”. O êxito nessa trajetória de pesquisa depende de uma série de fatores, como evidências de características originais da língua- -mãe nas línguas-filhas e a habilidade no emprego de técnicas do método comparativo. Exemplo No caso de línguas amplamente documentadas, como o latim, é possível veri- ficar se as características que descobrimos por meio do método comparativo são compatíveis com os registros escritos. Quando pesquisamos muitas famí- lias de linguagens, porém, esse recurso de conferir as reconstruções não está disponível. A língua protogermânica, originadora da família à qual pertence o inglês, é um exemplo disso, uma vez que não existe qualquer documentação escrita dela, que é reconhecida apenas por meio de reconstrução comparada. Todas as línguas existentes atualmente que possuem línguas-parentes apre- sentam um histórico nas famílias de línguas. Por meio da aplicação do méto- do comparativo às línguas-parentes das quais possuímos registros é possível reconstruir a língua-mãe original. Book 1.indb 9 17/11/16 19:14 10 Assim sendo, é realizado um processo de comparação entre a língua inglesa e suas línguas-parentes, tais como o alemão, o sueco, o dinamarquês e o islan- dês, visando compreender as características da protolíngua protogermânica. O inglês, portanto, representa um dialeto do protogermânico que passou por grandes e contínuas transformações até se tornar a língua que hoje co- nhecemos, diferenciando-se assim de suas línguas-irmãs, que tiveram suas próprias modificações. É importante observar que todas as protolínguas já foram línguas reais, ainda que as pesquisas atuais ainda não sejam capazes de reconstrui-las em sua totalidade. Figura 1.2 Família de linguagens protorromânica e genealogia espanhola. Fonte: Campbell (1998, p. 110). Protorromânico (bisavó) Românico ocidental (avó) Românico oriental Ibero-românico (mãe) Galo-românico Ítalo-dálmata Românico dos Balcãs Norte Românico Francês Occitano Ocidental (irmã) Português Espanhol Sardo ItalianoReto- -românico DálmataCatalão (irmã) Galego Padrões de mudanças sonoras na família indo europeia A família indo-europeia teve grande influência sobre o processo evolutivo da linguística histórica. As Leis deGrimm, Grassmann e Verner são grandes marcos na história indo-europeia e na das línguas em geral, e compreendê-las é fundamental para o entendimento do método comparativo e da teoria dos padrões ou regularidade sonora. Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 10 17/11/16 19:14 Inglês antigo 11 Como descrever os sons de qualquer língua Quando os linguistas descrevem os sons de uma língua, eles usam um vocabulário técnico especial e representam os sons por meio do Alfabeto Fonético Internacional (AFI). O motivo para isso é preservar a consistência das descrições e destacar as relações co- muns que diferentes articulações mantêm. Não podemos confiar nas ortografias tradicionais, pois cada língua estabelece suas próprias normas de representação na escrita, de modo que as letras indivi- duais e suas combinações não são iguais. Por exemplo, em inglês, a letra a é pronunciada “ei” e tem esse valor fônico de ditongo em várias palavras, como name “nome”, que é pronunciada “neim”. Em alemão, a letra j representa o som da semivogal i em iogurte em português. Em francês, ch soa como em português, mas em espa- nhol, soa como se fosse escrito tx ou tch em português; e em italia- no, ch funciona como qu antes de i e e em português, ou seja, para expressar o som “duro” como em queijo. Muitas línguas empregam letras “mudas”, como o e no final de name, ou o h de homem. Tudo muito complicado e confuso, não é? Para evitar essas dificuldades, os linguistas desenvolveram um alfabeto em que cada símbolo sempre corresponde ao mes- mo som, independentemente da grafia tradicional da língua em questão. Dessa maneira, eles sempre sabem como pronunciar uma palavra escrita com esse alfabeto fonético, seja como for a língua. Por exemplo, queijo é escrito [′kej.ʒʊ]. Tais transcrições fonéticas são sempre escritas entre colchetes. O apóstrofo inicial “ ′ ” mar- ca qual sílaba é tônica (a articulada com maior força e volume). Outro aspecto é que cada sílaba é separada por pontos. Qu- = [k], ei = [ej], j = [ʒ] e o o final, que é quase um u, é transcrito como [ʊ]. Esse valores fônicos nunca variam, de modo que tchau e ciao – o correspondente de tchau em italiano – são transcritas da mesma forma, como [′tʃaw]. O AFI contém símbolos para praticamente todos os sons possíveis nas línguas humanas. Além do uso do AFI, linguistas utilizam uma nomenclatura para classificar os sons conforme uma série de traços articulató- rios (como você configura os órgãos da fala ao pronunciar certo som). Por exemplo, [k] é descrito como uma “consoante oclusiva velar surda oral”. Isso quer dizer que é, primeiro, uma consoante – ou seja, sua produção envolve bastante interferência no fluxo de ar que sai dos pulmões, diferentemente de uma vogal, que modifica pouco a passagem de ar pulmonar. Segundo, a língua realiza um Book 1.indb 11 17/11/16 19:14 12 fechamento total da passagem do ar, que depois é solto com uma microexplosão. Terceiro, “velar” quer dizer que o fechamento total da língua é realizado contra o “véu palatino” (também conhecido como palato mole). Quarto, “surda” significa que as cordas vocais não vibram durante a articulação; e, finalmente, “oral” significa que o palato mole está levantado, de modo que o ar escapa apenas pela boca, e não pelo nariz. Cada símbolo no AFI corresponde a um som classificado dessa maneira. Os pontos de articulação (articuladores passivos) discrimina- dos no AFI são: lábios; dentes; alvéolos; região prepalatal ou alveopalatal; palato duro; palato mole ou véu palatino; úvula (a “campainha”); faringe; laringe. Os articuladores ativos, que se deslocam no espaço para inte- ragir com os articuladores passivos, são: lábio inferior; dentes inferiores; língua (a ponta ou ápice, a lâmina e o dorso); palato mole; cordas vocais. Além da oclusão (bloqueio total do ar), as maneiras de articu- lação (a conjunção dos articuladores) são: Fricção/Fricativa – o articulador ativo se aproxima muito do articulador, mas não fecha a passagem de ar totalmente. Africação – uma oclusiva e uma fricativa articuladas suces- sivamente, como ts, dz, pf, bv etc. Nasalização/nasal – o palato mole desce, permitindo o ar pulmonar passar pelo nariz. Lateralização/lateral – a língua fecha a passagem do ar na região central da boca, mas o ar pode escapar livremente pe- las laterais. Vibração/vibrante – os lábios, o ponto ou dorso da língua bate muito rapidamente, uma ou várias vezes. Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 12 17/11/16 19:14 Inglês antigo 13 Retroflexão/retroflexo – a língua se curva para cima e a par- te de baixo encosta na região alveolar. Vozeamento – as cordas vocais vibram com a passagem do ar (vozeado/sonoro), criando um zumbido na laringe, ou as cordas vocais são afastadas, de modo que o ar passe livre- mente pela glote (o espaço entre as cordas vocais), sem ne- nhuma vibração (desvozeado/surdo). As vogais também são descritas da mesma maneira, sendo di- vididas entre anteriores e posteriores, a depender de qual parte da língua, a frente ou o dorso, é a mais elevada. Além disso, podemos notar a presença ou ausência de arredondamento dos lábios e a posição do véu palatino para cima (vogais orais) ou para baixo (vogais nasais). Convencionalmente, distinguimos quatro graus de altura da língua: 1. alto [i u]; 2. médio-alto [e o]; 3. médio-baixo [ɛ ɔ]; 4. baixo [a ɑ ɒ]. Também existem descrições dessas vogais cardeais em termos da abertura da boca, de modo que alto = fechado, médio-alto = médio-fechado, médio-baixo = médio-aberto e baixo = aberto. Para que você se familiarize com esse alfabeto, segue um qua- dro com seus principais aspectos: Consoantes (mecanismo de corrente de ar pulmonar) Em pares de símbolos, tem-se que o símbolo da direita representa uma consoante vozeada. Acredita-se serem impossíveis as articulações nas áreas sombreadas. bilabial labio- dental dental alveolar pós-alveolar retroflexa palatal velar uvular faringal glotal Oclusiva p b t d ʈ ɖ c ɟ k g q G ʔ Nasal m ɱ n ɳ ɲ ŋ N Vibrante B r R Tepe (ou flepe) ɾ ɽ Fricativa Φ β f v θ ð s z ʃ ʒ ʂ ʐ ç ʝ X ɣ χ ʁ ħ ʕ h ɦ Fricat. lateral ɫ ɮ Aproximante ʋ ɹ ɻ j ɰ Aprox. lateral l ɭ ʎ ʟ Quadro 1.1 Alfabeto Fonético Internacional. Book 1.indb 13 17/11/16 19:14 14 Consoantes (mecanismo de corrente de ar não pulmonar) Cliques Implosivas vozeantes Ejetivas ʘ bilabial ɓ bilabial ʼ como em ǀ dental ɗ dental/ alveolar pʼ bilabial ǃ pós-alveolar ʄ dental tʼ dental/ alveolar ǂ palatoalveolar ɠ velar kʼ velar ǁ lateral-alveolar Ƹ uvular sʼ fricativa alveolar Suprassegmentos Tons e acentos nas palavras ' acento primário 'foʋnɘ'tiʃɘn Nível Contorno ' acento secundário ou ˥ ě ou � ascendente ː Longa eː é alta ê � descendente ˑ Semilonga eˑ ē ˧ média ĕ � alto ascendente ˘ muito breve ĕ è ˨ baixa ě � baixo ascendente . divisão silábica ɹi.ækt ȅ ˩ muito baixa ẽ � ascendente- -descendente etc. ǀ grupo acentual menor ↓ downstep (quebra brusca) ascendência global ǁ grupo entonativo principal descendência global ̮ ligação (ausência de divisão) ↑ upstep (subida brusca) Quando os símbolos aparecem em pares, aquele da direita representa uma vogal arredondada. anterior Fechada (ou alta) Meia-fechada (ou média-alta) Meia-aberta (ou média-baixa) Aberta (ou baixa) i ɨ ʉ m n i y e e ϴø ε ε ɞ æ œ œ ɑ ɑ cv ɤ ʊ o a y central posterior a e Diacríticos Pode-se colocar um diacrítico acima de símbolos cuja representação seja prolongada na parte inferior, por exemplo: ŋ ̇ . . desvozeado ṇ ḍ ̤ voz. sussurrado ̪ dental t̪ d̪ ˯ vozeada̰ voz. tremulante ̺ apical t̺ d̺ h aspirada th dh ̪ ̪ linguolabial ̻ laminal t̻ d̻ mais arred. w labializado tw dw ͂ nasalizado e͂ menos arred. j palatalizado tj dj n soltura nasal dn ̟ avançado u̟ ɤ velarizado tɤ dɤ l soltura lateral dl ̠ retraído ҁ faringalizado tҁ dҁ ̚ soltura não audível d ̚ ̈ centralizada ë ̴ velarizada ou faringalizada ɫ ̇ centraliz. média ė ̝ levantada e (ɹ̝ = fricativa bilabial vozeada) ̣silábica ṇ ̞ abaixada e̞ (β̝ = aproximante alveolar vozeada) ̭ não silábica ḙ ̘ raiz da língua avançada e̘ roticização ɚ a ̙ raiz da língua retraída e̙ Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 14 17/11/16 19:14 Inglês antigo 15 Outros símbolos ʍ fricativa labiovelar desvozeada ɕʑ fricativas vozeadas epiglotal w aproximadamente labiovelar vozeada ɹ flepe alveolar lateral ɥ aproximadamente labiopalatal vozeada ɧ articulação simultânea de ʃ e X ʜ fricativa epiglotal desvozeada Para representar consoantes africadas e uma articulação dupla, utiliza-se um elo ligando os dois símbolos em questão. ʢ fricativa epiglotal vozeada ʡ oclusiva epiglotal k͡p t͜ s Fonte: Egelbert (2011, p. 44-45 apud GUIMARÃES, 2015, p. 26-27). Lei de Grimm A Lei de Grimm promove “deslocamentos de sons” pautados basicamente nas consoantes, que Grimm separa em três grupos ou ordens. Cada grupo, por sua vez, é composto por três séries (uma de consoantes labiais, uma de dentais e uma de velares). O cha- mado grupo das “tênues”, na terminologia de Grimm, correspon- deria às atuais consoantes oclusivas surdas (p, t, k), enquanto as “médias” seriam as oclusivas sonoras (b, d, g) e fricativas sonoras (v, ð), e as “aspiratæ” seriam as oclusivas surdas aspiradas (pʰ, tʰ, kʰ), as fricativas surdas (f, θ <þ>, x <h>) e as africadas (pf, ts <z>). Estabelecendo comparações entre o grego, o gótico e o alto alemão, Grimm indica um movimento “descendente”, defen- dendo uma visão romântica de uma contínua decadência das línguas ao separarem-se da língua-mãe. Do grego, que represen- ta os sons originais, Grimm parte para o gótico, que representa o germânico ancestral (a língua germânica mais antiga de que temos registros escritos), e do gótico para o alto alemão antigo. Os itens abaixo representam uma série de alterações nas pau- sas da língua protoindo-europeia para a protogermânica seguindo a Lei de Grimm: Oclusivas sem som (p, t, k) > fricativos sem som (f, θ, x). Oclusivas sonoras (b, d, g) > oclusivas surdas (p, t, k). Oclusivas sonoras aspiradas (bʰ, dʰ, gʰ) > oclusivas sonoras simples (b, d, g). Book 1.indb 15 17/11/16 19:14 16 No Quadro 1.2, a seguir, as formas inglesa e gótica de palavras demonstram os efeitos dessas mudanças na língua germânica. As versões em sânscrito, latim e grego, por outro lado, apresentam as oclusivas da língua indo-europeia inalteradas, sem passar pelas transformações da Lei de Grimm presentes nas formas germânicas. Quadro 1.2 Efeitos da Lei de Grimm sobre cognatas indo-europeias. Sânscrito Grego Latim Gótico Inglês Set Ia: *p > f pad- (pé) pod- ped- fōtus foot páńča (cinco) [páɲča] pénte [quinque] [kwinkwe] fimf five pra- pro- pro- fra- fro pū- (clarear, fazer brilhar) pur pūrus (puro) [OE fȳr] fire (fogo) pitár- (pai) patér pater fadar [faðar] father [OE fæder] nápāt- (descendente) nepōs (sobrinho, neto) [OHG nefo] nephew [OE nefa] Set Ib: *t > θ trī-/tráyas (três) treĩs/tría trēs þrija three tv-am (tu) tū (Dório) tv-am þu thou -ti- (sufixo nominalizador, -te, mor-te ‘morte’) -ti- -tis/-sis -th gátis (passo, jeito de andar) mor-tis básis (indo) health, truth, birth, death (saúde, verdade, nascimento, morte) Set Ic: *k > h (or [x]) śván- [ʃvən-] kúōn canis [kanis] hunds hound (cão) śatám (cento/cem) [ʃətə´m] (he-)katón centum [kentum] hunda (pl.) hundred kravís (carne crua) kré(w)as (carne crua, carne) cruor (cru, sangue, espesso/ consistente/ grosso) raw [OE hrāw] (cadáver) dáśa (dez) [də´ʃə ] déka decem [dekem] taíhun [tɛxun] ten Set IIa: *b > p (*b era um som bem raro no protoindo-europeu, e muitos duvidam que ele realmente fazia parte do sistema fonético dessa língua) (Lituânia) dubùs diups deep [OE dēop] (profundo) kánnabis (Lituânia) [kanapẽs] hemp (cânabis, (empréstimo?)) Latim lūbricus sliupan slip Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 16 17/11/16 19:14 Inglês antigo 17 Set IIb: *d > t d(u)vá -- dúo/dúō duo twái [twɛ-] two (dois) dánt- odónt- dent- tunƿus tooth (dente) dáśa [də´ʃə] déka decem [dekem] taíhun [tɛxun] ten (dez) pad- pod- ped- fōtus foot (pé) ad- (comer) édō (eu como) edō (eu como) eat [OE etan] (< com + ed + e + re) véda woīda videō wáit [wɛt] wit (saber, conhecer) Set IIb: *g > k ǰánás génos genus kun-i (raça, tribo) kin ǰánu- gónu genū kniu knee ǰnātá gnōtós (g)nōtos kunnan know áǰra- (país) agrós ager akrs acre (medida de área) mr̥ǰ- (ordenhar) (a-)mélgō (espremer) mulgeō (ordenho) miluk-s (leite) milk (leite) Set IIIa: *bh > b bhar- phér- fer- baír-an [bɛran] bear (levar, carregar) bhrátar phrátēr fráter brōƿar brother (irmão (cf. fraternal)) a-bhū-t (ele foi) é-phu (geri, produzi) fu-ti (ele foi) bau-an [bō-an] (morar, habitar) be (ser) Set IIIb: *dh > d dhā- (colocar, pôr) ti-thē-mi (eu coloquei, pus) fē-cī (fiz, fabriquei) do [OE dō-n] dhr̥aṣṇóti (ele se atreve) thrasús (atrevido) (fest-) (ga-)dars (ele se atreve) dare [OE dear(r)] (ele se atreve) dvār- thú-r-a for-ēs daúr- [dor-] door (porta) vidhávā ē-wíthewos’ (jovem solteiro) vidua widuwo widow (viúva) mádhu méthu mead (hidromel) madhya- mésos medius midjis mid (meio) Set IIIc: *gh > g haṁs-á- (cisne, ganso) khēn āns-er, Gans [German] goose stigh- (passo largo) steíkhō (ando a passo) steigan [stīgan] (escalar) vah- (levar, carregar) wókh-os (carruagem, biga) veh-ō (levo, carrego) ga-wig-an (mexer, sacudir) weigh/wain (pesar/ carro, carreta) * OE = Old English ou inglês antigo. OHG = Old High German ou alto alemão antigo. Fonte: Campbell (1998, p. 137-140). Book 1.indb 17 17/11/16 19:14 18 Como vimos, a Lei de Grimm representa constantes correla- ções entre línguas germânicas e não germânicas, resultantes de regulares mudanças sonoras na língua germânica. Há, contudo, exceções à Lei de Grimm, como as oclusivas em agrupamentos de consoantes exemplificadas no Quadro 1.3, a seguir. Quadro 1.3 Exceções à Lei de Grimm em agrupamentos de consoantes. Fonte: Campbell (1998, p. 141). Sânscrito Grego Latim Gótico Inglês 1. páś- [skep-] spec- [OHG speh-] spy (?) (ver, enxergar) 2. ṣṭhiv-) pū spu- speiw-an [spīw-an] spew (cuspir, vomitar) 3. ạṣtáu [əʂʈə´u] oktō octō [oktō] ahtáu [axtau] eight (oito) 4. nákt- nukt- noct- [nokt-] nahts [naxts] night (noite) 5. capt(ivus) (captivo) (haft) [OE hæft] (prisioneiro) 6. -ti- gátis (andar) -ti- mor-tis (morte) -tis/sis básis (indo) -t (sufixo normalizador) thrift, draught, thirst, flight, drift (parsimônia, corrente de ar, sede, voo, deriva) 7. piscis [piskis] fisks [OE fisc] (peixe) De acordo com a Lei de Grimm, o /p/ nos termos (1) e (2) do sânscrito, grego e latim, por exemplo, deveria corresponder a /f/ nas formas em inglês e gótico, e não ao /p/ existente nessas ver- sões. De modo similar, no intervalo de (3) a (6), seria esperado que o inglês e o gótico apresentassem /θ/ (escrito <þ>), e não o verificado /t/, correspondendo ao /t/ do sânscrito, grego e latim. Já no (7), o /k/ do latim deveriacorresponder ao /x/ germânico, não ao /k/ dos termos gótico e inglês nesse grupo de cognatas (CAMPBELL, 1998). Vale destacar, ainda, o caso da palavra svan em sânscrito, em que o *k do PIE também sofreu mudança: Sânscrito Grego Latim Gótico Inglês svan kuon canis hunds hound (cão) Todas essas exceções podem ser compreendidas quando consi- derarmos que a Lei de Grimm surgiu antes da emergência de várias fricativas e oclusivas. Contudo, se a Lei de Grimm for corretamente Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 18 17/11/16 19:14 Inglês antigo 19 aplicada – excluindo oclusivas após fricativas (/s f θ x/ + oclusiva) e outras oclusivas em agrupamentos de consoantes, por exemplo, as Leis de Grassmann e de Verner que veremos a seguir – e desde que não hajam alterações inerentes a essas circunstâncias, as oclusivas em agrupamentos não são de fato exceções às mudanças sonoras. Lei de Grassmann A chamada Lei de Grassmann, também conhecida como “lei de dissimilação das aspiradas”, elucida outro grupo de formas que aparentavam ser exceções à Lei de Grimm. Em grego e sânscrito, a Lei de Grassmann promove sistemáticas substituições na pri- meira de duas oclusivas aspiradas, levando a primeira a perder sua aspiração. Como resultado disso, algumas correspondências sono- ras entre as línguas grega e o sânscrito desobedecem às previsões da Lei de Grimm, como é possível observar nas cognatas a seguir: Sânscrito Grego Gótico Inglês bodha peutha biudan bid (despertar, tomar consciência) bandha bindan bind (vincular, amarrar) O primeiro deriva do termo protoindo-europeu *bheuda-, en- quanto o segundo advém da forma *bhendh. Houve subtração do primeiro bh por conta da ocorrência de uma segunda oclusiva as- pirada na mesma palavra (dh, neste caso). A partir daí, temos uma correspondência sonora em (1): Sânscrito b / Grego p / Gótico b / Inglês b Segundo a Lei de Grimm, espera-se que o /b/ do sânscrito cor- responda ao /p/ germânico (inglês e gótico nesse caso) e que o /b/ germânico corresponda ao /bh/ do sânscrito e ao grego /ph/. Assim sendo, a relação de correspondência verificada indica uma exceção à Lei de Grimm (CAMPBELL, 1998). Os grupos de cognatas correspondentes ao (1), no entanto, não são verdadeiras exceções à Lei de Grimm. Na realidade, as for- mas germânicas são descendentes regulares das PIE /bh dh gh/ > protogermânico /b d g/ de acordo com a Lei de Grimm, sendo Book 1.indb 19 17/11/16 19:14 20 as formas em sânscrito e grego não correspondentes ao esperado em virtude da subtração regular da primeira parada aspirada pela Lei de Grassmann, sempre que tal parada precedia outra pausa aspirada. Podemos concluir, portanto, que a correspondência so- nora é motivada por essas modificações sistemáticas da Lei de Grimm na língua germânica e da Lei de Grassmann no grego e no sânscrito. Lei de Verner A Lei de Verner explica uma série de formas que constituíam o último e mais complexo grupo de exceções à Lei de Grimm a serem explicadas. Algumas delas são demonstradas no quadro a seguir: Quadro 1.4 Exemplos da Lei de Verner. Fonte: Campbell (1998, p. 143). Sânscrito Grego Latim Gótico Inglês 1. saptá heptá septem sibun seven 2. pitár- patḗr pater fadar [faðar] OE fæder ‘father’ (pai) 3. śatám [śətəm] (he-)katón centum [kentum] hunda (pl.) hundred (cem, cento) 4. śrutás ‘heard’ (ouvido) klutós ‘heard’ (ouvido) OE hlud ‘loud’ (ruidoso, [volume] alto) 5. makrós ‘long, slender’ (comprido, magro, estreito) macer [maker] [OHG magar] meagre (pouco) De acordo com a Lei de Grimm, o /p/ do sânscrito, grego e latim deveria corresponder ao /f/ na língua germânica (represen- tada aqui pelo gótico e pelo inglês); mas em vez disso temos em gótico /b/ e em inglês /v/. A partir do gótico /b/, a correspondência esperada em sânscrito seria /bh/ e em grego /ph/ (1). Já nos grupos cognatos (2-4), o /t/ do sânscrito, do grego e do latim corresponde ao /d/ germânico, e não ao /θ/ como previsto pela Lei de Grimm; também não correspondem ao esperado o sânscrito /dʰ/ e o grego /tʰ/, dado o germânico /d/. Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 20 17/11/16 19:14 Inglês antigo 21 Ou seja, Verner destacou que a Lei de Grimm se aplicava so- mente quando a vogal precedente era acentuada. Assim, o /θ/ ger- mânico no meio de uma palavra, por exemplo, transformava-se primeiro em /ð/ e depois em /d/, exceto quando a vogal precedente era tônica. Caso a vogal precedente fosse átona, a Lei de Grimm funcionava normalmente. Quadro 1.5 Exemplos dos efeitos contrastantes da Lei de Grimm e da Lei de Verner nas consoantes intermediárias. Fonte: Campbell (1998, p. 144). Lei de Grimm Lei de Verner ‘...C... ...C...’ *p > f 1a. Ingl. Ant. hēafod ‘head’ (cabeça) Latim caput [káput] *p > b [β] 1b. Gótico sibun [siβun] ‘seven’ (sete) Sânscrito saptá- *t > θ 2a. Gótico brōþar [brōθar] ‘brother’ (irmão) Sânscrito brá-tar- *t > d [ð] 2b. Ingl. Ant. fæder ‘father’ (pai) Sânscrito pitár- *k > x 3a. Gótico taíhun ‘ten’ (dez) Grego déka *k > g [ɣ] 3b. Gótico tigus ‘decade’ (década) Grego dekás A família indo-europeia A família indo-europeia, também conhecida como indo-ger- mânica ou ariana, é constituída por centenas de dialetos e línguas que englobam as principais línguas da Europa, do norte da Índia, do Paquistão, do Afeganistão, do Irã, e, no passado, da Anatólia (hitita) e da Ásia Central (tocário). Embora não existam registros históricos da língua indo-europeia original, podemos caracterizar sua estrutura por meio das línguas descendentes, reconstruindo assim seus aspectos léxicos e inflexões. As línguas descendentes do indo-europeu apresentam vários graus de semelhança entre si, fator relativamente influenciado pela localização geográfica. Essas línguas são divididas nos se- guintes grupos: indiano, iraniano, armênio, helênico, albanês, itá- lico, balto-eslavo, germânico, céltico, hitita e tocariano. Vamos conhecê-los separadamente a seguir (LEHMANN, 1992): Book 1.indb 21 17/11/16 19:14 22 Indiano – os Vedas ou livros sagrados da Índia são os mais antigos textos literários preservados em qualquer língua in- do-europeia. Eles são formados por quatro grupos de livros, que juntos fundamentam o brahmanismo – filosofia religiosa indiana surgida há aproximadamente três mil anos. O conteú- do desses livros foi transmitido oralmente por muitos séculos até ser registrado por escrito em sânscrito. Gradualmente, a língua sânscrita passou a ser empregada em outras formas escritas não religiosas, até que gramáticos na- tivos estabeleceram uma forma literária padronizada para a língua, que ficou conhecida como sânscrito clássico. Para- lelamente, porém, havia um grande número de dialetos de uso rotineiro, os quais originariam as línguas indianas atuais, como hindu, urdu, bengali e outras. Iraniano – o grupo de línguas conhecido como iraniano é encontrado na região do noroeste da Índia e no Irã. Os ocu- pantes dessas áreas habitaram e viajaram por muito tempo com membros da ramificação indiana, fato que explica o con- siderável número de características linguísticas em comum entre eles. Os mais antigos indícios do grupo iraniano são divididos em dois ramos, um oriental e um ocidental, respec- tivamente correspondentes ao avéstico e ao persa antigo. O avéstico, também conhecido como zenda, corresponde a uma língua iraniana oriental, relacionada ao sânscrito, empregada na antiga Pérsia e idioma do livro sagrado do Zoroastrismo – o Avesta. Já o persa antigo, encontra-se preservado somente em alguns registros cuneiformes que relatam as conquistas dos reis Dario (522-486 a.C.) e Xerxes (486-466 a.C.). A for- ma maismoderna dessa língua, datada dos primeiros séculos da era atual, é chamada de Pahlavi ou médio iraniano e era a língua oficial do Estado e da igreja ao longo da dinastia dos sassânidas (226-652 d.C.). Essa é considerada a língua ances- tral do persa moderno. Armênio – a língua armênia é falada em uma pequena área ao sul do Cáucaso e na extremidade oriental do Mar Negro. A chegada dos armênios nessa região ocorreu entre os sécu- los 8 e 6 a.C., vindos dos Balcãs. Suspeita-se que a língua da antiga população dessa área tenha influenciado o armênio, especialmente em relação ao aspecto fonológico. Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 22 17/11/16 19:14 Inglês antigo 23 A língua armênia apresenta determinadas alterações em algu- mas de suas consoantes que se assemelham às alterações en- contradas no germânico e que, como ocorre com esta, podem estar relacionadas a interações com outras línguas. Como as línguas do sul do Cáucaso, o armênio não possui gênero gra- matical. Além disso, ao contrário do que se observa entre o indiano e o iraniano, o armênio não apresenta característi- cas em comum com nenhum outro grupo da família indo- -europeia, razão pela qual é considerada uma língua bastante isolada. Helênico – nos primórdios da História, a região do Egeu foi habitada por populações diferentes em termos linguísticos e raciais dos gregos, que povoariam essa região mais tarde. Por volta do ano 2000 a.C., em um contexto de mistura e intera- ção entre o grego e as línguas pouco conhecidas dessas popu- lações, o povo grego tomou a região. Sendo assim, a partir da análise da língua grega, é possível identificar os cinco prin- cipais grupos de dialetos: o iônico, do qual o ático é um sub- dialeto; o eólico, no norte e nordeste; o arcádico-cipriota, no Peloponeso e no Chipre; o dórico, que mais tarde substituiu o arcádico no Peloponeso; e o grego do noroeste, do centro norte e da parte ocidental da região grega. Também existe o grego micênico que foi encontrado em listas e inventários de produtos na escrita silábica Linear B em tabletes de barro, de- cifrados pelo inglês Michael Ventris, em 1952; a mais antiga variedade do grego (1600-1200 a.C.), aproximadamente 300 anos mais antigo que o grego clássico. Albanês – o pequeno grupo albanês localiza-se na região da costa oriental do Mar Adriático. Supõe-se que a língua al- banesa seja remanescente da língua ilíria, falada em tempos antigos no noroeste dos Balcãs. Além disso, nosso conheci- mento do albanês é recente, e o vocabulário dessa língua é extremamente misturado com noções de latim, turco, grego e eslavo; fatos que dificultam uma análise mais específica da língua albanesa. Diante disso, um longo tempo se passou até que o albanês fosse reconhecido como membro da família indo-europeia. Itálico – o grupo itálico encontra-se concentrado na re- gião da Itália e, embora a maioria das pessoas costume Book 1.indb 23 17/11/16 19:14 24 relacionar a Itália à Roma e Roma ao latim, muitas outras línguas atuaram nessa área. A posição geográfica favorável e o clima ameno italiano atraíram habitantes de diversas culturas e línguas. Como exemplo podemos citar o etrus- co, língua não aparentada com a família indo-europeia que era falada na região oeste; a língua venética, falada na re- gião do Vêneto; e o messápio, falado no extremo sudeste italiano. Além disso, o grego era amplamente empregado em muitas colônias gregas do sul da Itália e da região da Sicília. Todas essas línguas, contudo, foram sucumbindo ao latim conforme Roma conquistava maior poder político na região. Assim, a colonização romana na Espanha e na Gália – por volta de 51 a.C. –, nas ilhas do Mediterrâneo, no norte africano e até mesmo na Grã-Bretanha espalhou o latim por todo esse novo território, interagindo com outras línguas e locais. As diversas línguas que demonstram influência do latim em várias partes do antigo Império Romano são conhecidas como línguas românicas. Algumas delas inclusive propaga- ram-se, muitos séculos depois, por outras regiões, especial- mente no chamado Novo Mundo. Os principais exemplos de línguas românicas são o italiano, o francês, o espanhol, o português e o romeno. Essas línguas, no entanto, não são derivadas do latim clássico, uma variedade literária, mas do latim falado pelas classes populares e sujeito a frequentes transformações. Balto-eslavo – o ramo balto-eslavo abrange uma ampla re- gião na parte oriental europeia. Ele é composto por dois sub- grupos bastante semelhantes entre si: o báltico e o eslavo. O báltico é comporto por três línguas: o prussiano, o letão e o lituano. O prussiano não existe mais, pois foi substituído pelo alemão desde o século XVII. O letão, por sua vez, é uma língua falada por aproximadamente três milhões de pessoas no território da Letônia. Já o lituano é reconhecido na família indo-europeia por seu alto grau de conservadorismo, preser- vando estruturas e características já extintas em quase todas as demais línguas da família. O subgrupo eslavo é formado por três línguas bastante pare- cidas: o eslavo do leste, o eslavo do oeste e o eslavo do sul. O eslavo do leste e o eslavo do oeste ainda abrangem áreas Gramática histórica da língua inglesa Book 1.indb 24 17/11/16 19:14 Inglês antigo 25 contíguas, o eslavo do sul, porém, encontra-se separado dos outros por uma área habitada por romenos e húngaros. O eslavo do leste abrange três variedades: o russo, princi- pal variedade e falada como primeira ou segunda língua por aproximadamente 220 milhões de pessoas, o ucraniano e o bielorrusso. O eslavo do oeste apresenta quatro varia- ções: o polonês, falado por mais de 40 milhões de pessoas, o tcheco, o eslovaco e as línguas sorábias. O eslavo do sul, por fim, inclui o búlgaro, o servo e o croata, o esloveno e o macedônio moderno. Germânico – o germânico ou protogermânico corresponde à forma que as línguas do ramo germânico possuíam antes de diferenciarem-se entre si. Ou seja, assim como ocorreu com o indo-europeu, o germânico antecede os mais antigos regis- tros históricos encontrados, sendo necessária sua reconstru- ção pelos filólogos. O germânico do leste, o germânico do norte e o germânico do oeste são os três subgrupos de línguas descendentes desse grupo. No germânico do leste, o extinto gótico era a principal lín- gua. O germânico do norte, por seu turno, é predominante nas regiões da Escandinávia, Dinamarca, Islândia e Ilhas Faroé. Já o germânico ocidental é especialmente interessan- te, pois trata-se do grupo no qual a língua inglesa se encon- tra; e apresenta-se em duas ramificações: o alto alemão e o baixo alemão. O alto alemão diz respeito a todas as variedades linguísticas do Hochdeutsch (alemão padrão) e do iídiche, bem como de dialetos locais alemães falados nas regiões sul e central da Alemanha, na Áustria, Liechtenstein, Suíça, França (regiões do norte de Lorraine e Alsácia), Polónia e Itália. É empregado ainda na Romênia, Rússia, Estados Unidos e Namíbia. O bai- xo alemão, por sua vez, é um conjunto de línguas – atualmente tidas como dialetos – que formam o campo dialetal das línguas germânicas faladas no leste dos Países Baixos e no norte da Alemanha. O baixo alemão apresenta muitos pontos em co- mum com o frísio e com o próprio inglês. Céltico – as línguas célticas já constituíram um dos maiores grupos da família indo-europeia. Nos primeiros anos da era cristã, os celtas ocupavam a Espanha, a Gália, a Grã-Breta- nha, a região ocidental da Alemanha e o norte da Itália. O Book 1.indb 25 17/11/16 19:14 26 progresso da civilização celta, alguns séculos antes, levou as línguas célticas também à Grécia e à Ásia Menor. Atualmente, no entanto, o grupo de línguas célticas é utiliza- do somente
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