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Julia Paris Malaco – UCT17 SP1 – hemostasia e transtornos hemorrágicos Processo responsável pela manutenção do sangue em estado líquido no interior dos vasos sanguíneos e que também permite a formação rápida de um tampão hemostático no local de uma lesão vascular. A hemostasia é um processo que contem componentes como - as plaquetas, os fatores da coagulação e o endotélio - que ocorre no local da lesão vascular e culmina na formação do tampão fibrinoplaquetário, que serve para prevenir ou limitar a extensão do sangramento. Vasoconstrição arteriolar: ocorre imediatamente e reduz notoriamente o fluxo sanguíneo na área lesionada. Ela é mediada por mecanismos reflexos neurogênicos e incrementada pela secreção local de fatores como a endotelina, um potente vasoconstritor derivado do endotélio. O efeito é, contudo, transitório, e o sangramento poderia prosseguir se não houvesse a ativação das plaquetas e dos fatores da coagulação. Hemostasia primária: a formação do tampão plaquetário. A descontinuidade do endotélio expõe o fator de von Willebrand (vWF) e o colágeno subendoteliais, que promovem a aderência e ativação das plaquetas. A ativação das plaquetas resulta em uma alteração importante em sua forma (de pequenos discos arredondados para placas achatadas, com prolongamentos espiculados que aumentam acentuadamente sua área da superfície), assim como na liberação de grânulos secretores. Em alguns minutos o produto secretado recruta plaquetas adicionais, que são agregadas e formam um tampão hemostático primário. Hemostasia secundária: deposição de fibrina. O fator tecidual é também exposto no local da lesão. O fator tecidual é uma glicoproteína pró-coagulante ligada a membrana que é normalmente expressa pelas células subendoteliais das paredes vasculares, como as células musculares lisas e os fibroblastos. O fator tecidual se liga e ativa o fator VII (ver adiante), colocando em movimento uma cascata de reações que culmina na formação da trombina. A trombina cliva o fibrinogênio em circulação em fibrina insolúvel, criando uma malha de fibrina, e também é um potente ativador de plaquetas, promovendo a agregação adicional de plaquetas no local da lesão. Essa sequência, denominada hemostasia secundária, consolida o tampão plaquetário inicial (ou primário). Estabilização e reabsorção do tampão. A fibrina polimerizada e as plaquetas agregadas sofrem contração para formar um tampão permanente, sólido, que previne hemorragias ulteriores. Nessa etapa, os mecanismos contrarreguladores (p. ex., ativador do plasminogênio tecidual, t-PA) são colocados em movimento limitando a coagulação no local da lesão e levando, finalmente, à reabsorção do tampão e ao reparo do tecido. Plaquetas As plaquetas desempenham um papel importante na hemostasia, formando o tampão Julia Paris Malaco – UCT17 primário que inicialmente sela as rupturas vasculares e fornece uma superfície que liga e concentra os fatores da coagulação ativados. As plaquetas são fragmentos anucleados de células em forma de disco, que se originam dos megacariócitos, na medula óssea, para a corrente sanguínea. Sua função depende de vários receptores glicoproteicos, um citoesqueleto contrátil e dois tipos de grânulos citoplasmáticos. Os grânulos α têm a molécula de adesão selectina-P em suas membranas e contêm proteínas envolvidas na coagulação, tais como fibrinogênio, fator V da coagulação e vWF, além de fatores proteicos que podem estar envolvidos na restauração das feridas, tais como a fibronectina, fator plaquetário 4 (quimiocina ligada a heparina), fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF) e o fator transformante do crescimento-β. Grânulos densos (ou δ) contêm difosfato de adenosina (ADP) e trifosfato de adenosina, cálcio ionizado, serotonina e adrenalina. Após a lesão vascular, as plaquetas encontram-se com os constituintes da MEC, como o colágeno e glicoproteínas adesivas do vWF. Em contato com essas proteínas, as plaquetas sofrem: adesão e mudança na forma secreção (reação de liberação) agregação. Adesão plaquetária: A adesão à MEC é mediada, em grande parte, pela interações com o vWF, que funciona como uma ponte entre os receptores da superfície plaquetária (p. ex., glicoproteína Ib [GpIb]) e o colágeno exposto (Fig. 3). Ainda que as plaquetas também possam aderir a outros componentes da MEC (p. ex., fibronectina), associações entre vWF-Gplb são necessárias para superar as altas forças de cisalhamento do fluxo sanguíneo. Refletindo sobre a importância dessas interações, as deficiências genéticas do vWF (doença de von Willebrand) ou de seu receptor (síndrome de Bernard-Soulier) resultam em distúrbios de sangramento. Secreção: A secreção (reação de liberação) de ambos os tipos de grânulos ocorrem logo após a adesão. Vários agonistas podem ligar-se aos receptores de superfície plaquetária e iniciar uma fosforilação em cascata da proteína intracelular e, em última instância, levar à degranulação. A liberação do conteúdo do corpo denso é especialmente importante, uma vez que o cálcio é exigido na cascata de coagulação e o ADP é um potente ativador da agregação plaquetária. O ADP também gera uma liberação adicional de ADP, amplificando o processo de agregação. Por fim, a ativação plaquetária leva ao aparecimento de fosfolípidios com carga negativa (principalmente a fosfatidilserina) em suas superfícies. Esses fosfolipídios ligam-se ao cálcio e servem como um local crítico de nucleação para a formação de complexos contendo diferentes fatores de coagulação. Agregação: A agregação plaquetária segue a adesão e liberação de grânulos. Além do ADP, o vasoconstritor tromboxano A2 (TxA2) derivado da plaqueta é um importante estímulo que amplifica a agregação plaquetária, levando à formação do tampão hemostático primário. Ainda que esta agregação inicial seja reversível, a ativação concomitante da cascata de coagulação gera trombina, que estabiliza o tampão plaquetário através de dois mecanismos. Primeiramente, a trombina liga-se a um receptor ativado por protease (PAR) na membrana plaquetária, e em conjunto com ADP e TxA2 causa agregação plaquetária adicional. Isto é seguido por contração plaquetária, um evento dependente do citoesqueleto plaquetário que cria uma irreversível massa fundida de plaquetas, que constitui o tampão hemostático secundário definitivo. Em segundo lugar, a trombina converte fibrinogênio em fibrina, próximo ao tampão plaquetário, cimentando, funcionalmente, as plaquetas no lugar. O fibrinogênio não clivado também é um componente importante da agregação plaquetária. A ativação plaquetária por ADP desencadeia uma alteração conformacional nos receptores plaquetários GPIIb-IIIa que induz a ligação ao fibrinogênio, uma grande proteína que forma uma ponte de interações entre as plaquetas que promovem a agregação plaquetária. De maneira previsível, a deficiência hereditária de GPIIb-IIIa resulta em um distúrbio de sangramento (trombastenia de Glanzmann). O reconhecimento do papel central dos vários receptores e mediadores na ligação plaquetária levou ao desenvolvimento de agentes terapêuticos que bloqueiam a agregação plaquetária – por exemplo, por interferir com a atividade da trombina, por bloquear a ligação ao ADP (clopidogrel) ou pela ligação aos receptores GPIIb-IIIa (antagonistas sintéticos ou anticorpos monoclonais). Os anticorpos contra GpIb estão no horizonte. Os eritrócitos e os leucócitos também são encontrados nos tampões hemostáticos. Os leucócitos aderem às plaquetas através da P- selectina e ao endotélio utilizandovários receptores de adesão; eles contribuem para a Julia Paris Malaco – UCT17 inflamação que acompanha a trombose. A trombina também se desloca para a inflamação associada ao trombo pelo estimulo direto da adesão de neutrófilos e monócitos e pela geração de produtos quimiotáticos da degradação da fibrina durante a clivagem do fibrinogênio. Endotelio As células endoteliais são os “atores” principais na regulação da hemostasia. O equilíbrio entre as atividades antitrombóticas e pró-tombóticas do endotélio determina se ocorre a formação, propagação ou dissolução do trombo. Em geral, as células endoteliais apresentam propriedades antiplaquetárias, anticoagulantes e fibrinolíticas; contudo, após a lesão ou a ativação, elas adquirem numerosas atividades prócoagulantes (Fig. 2). Além do trauma, o endotélio pode ser ativado por agentes infecciosos, forças hemodinâmicas, mediadores plasmáticos e citocinas. Propriedades Antitrombóticas Em circunstâncias normais, as células endoteliais ativadas previnem a trombose produzindo vários fatores que bloqueiam a adesão e agregação plaquetárias, inibem a coagulação e lisam o coágulo. Efeitos antiplaquetários: O endotélio intacto previne as plaquetas (e fatores plasmáticos da coagulação) do encontro com a MEC subendotelial altamente trombogênica. As plaquetas não ativadas não aderem às células endoteliais, e mesmo se as plaquetas estiverem ativadas, a prostaciclina (PGI2) e o óxido nítrico produzido pelas células endoteliais impedem a adesão plaquetária. Esses mediadores são vasodilatadores potentes e inibidores da agregação plaquetária, e a sua síntese pelo endotélio é estimulada por vários fatores produzidos durante a coagulação (p. ex., trombina e citocinas). As células endoteliais também expressam a adenosina difosfatase, que degrada o difosfato de adenosina (ADP) e ainda inibe a agregação plaquetária. Efeitos anticoagulantes: Estes efeitos são mediados por membrana endotelial associada a moléculas semelhantes à heparina, a trombomodulina e o inibidor da via do fator tecidual (Fig. 2). As moléculas semelhantes à heparina atuam indiretamente, como cofatores que aumentam a inativação da trombina e de vários outros fatores da coagulação através da proteína plasmática antitrombina III. A trombomodulina liga-se à trombina, convertendo-a de um pró-coagulante a um anticoagulante por meio de sua capacidade de ativar a proteína C, que inibe a coagulação pela inativação dos fatores Va e VIIIa. O endotélio produz também a proteína S, um cofator para a proteína C, e o inibidor da via do fator tecidual (TFPI), que é uma proteína da superfície celular que inibe diretamente a atividade do fator tecidual VIIa e do fator Xa. Efeitos fibrinolíticos: As células endoteliais sintetizam o ativador de plasminogênio tecidual (t- PA), uma protease que cliva o plasminogênio para formar plasmina; esta, por sua vez, cliva a fibrina para degradar o trombo. Propriedades Pró-trombóticas Enquanto as células endoteliais normais limitam a coagulação, o trauma e a inflamação das células endoteliais induzem o estado pró-tombótico que altera a atividade das plaquetas, das proteínas da coagulação e do sistema fibrinolítico. Julia Paris Malaco – UCT17 Efeitos plaquetários: A lesão endotelial permite o contato das plaquetas com a matriz extracelular subjacente; a adesão subsequente ocorre através de interações com o fator de von Willebrand (vWF), que é um produto normal das células endoteliais e um cofator essencial para ligação das plaquetas aos elementos da matriz . Efeitos pró-coagulantes: Em resposta às citocinas (p. ex., fator de necrose tumoral [TNF] ou a interleucina-1 [IL-1]) ou às endotoxinas bacterianas, as células endoteliais sintetizam o fator tecidual, o ativador principal da cascata de coagulação extrínseca. Além disso, as células endoteliais ativadas aumentam a função catalítica dos fatores de coagulação ativados IXa e Xa. Efeitos antifibrinolíticos: As células endoteliais secretam inibidores do ativador do plasminogênio (PAI), que limitam a fibrinólise e favorecem a trombose. Em resumo, as células endoteliais intactas e não ativadas inibem a adesão plaquetária e o coágulo sanguíneo. Contudo, a lesão ou ativação endotelial resulta em um fenótipo pró-coagulante que aumenta a formação de trombos. Interações entre as Células Endoteliais e Plaquetárias: A ação combinada entre as plaquetas e o endotélio apresenta um profundo impacto na formação do coágulo. A prostaglandina PGl2 (prostaciclina) derivada das células endoteliais inibe a agregação plaquetária e é um potente vasodilatador. De modo inverso, a prostaglandina TxA2 derivada das plaquetas ativa a agregação plaquetária e é um vasoconstritor. Os efeitos mediados pela PGl2 e TxA2 são requintadamente equilibrados para modular, de maneira eficiente, a função das plaquetas e da parede vascular: na linha de base, a agregação plaquetária é impedida, enquanto a lesão endotelial promove a formação do tampão hemostático. A utilidade clínica da aspirina (um inibidor irreversível ciclo-oxigenase) em indivíduos com risco de trombose coronariana reside na sua a capacidade de bloquear permanentemente a síntese TxA2. nas plaquetas. Apesar de a produção de PGl2 no endotélio também ser inibida pela aspirina, as células endoteliais podem realizar uma nova síntese de ciclooxigenase ativa e, assim, superar o bloqueio. Em maneira semelhante à PGl2, o óxido nítrico derivado do endotélio também atua como um vasodilatador e inibidor da agregação plaquetária. Cascata de Coagulação A cascata de coagulação é uma série de reações enzimáticas amplificadoras que culminam com a deposição de um coágulo de fibrina insolúvel. A cascata de coagulação é essencialmente uma série de conversões enzimáticas amplificadas, em que cada etapa proteolítica cliva uma pró- enzima inativa em uma enzima ativada, culminando na formação de trombina. A trombina é o mais importante fator da coagulação e, na verdade, pode atuar em várias fases do processo. No final da cascata proteolítica, a trombina converte a proteína plasmática solúvel, o fibrinogênio, em monômeros de fibrina que se polimerizam em um gel insolúvel. O gel de fibrina envolve as plaquetas e outras células circulantes em um tampão hemostático secundário definitivo e os polímeros de fibrina são ligados covalentemente e estabilizados pelo fator XIIIa (que, por si só, é ativado pela trombina). Julia Paris Malaco – UCT17 Cada reação nessa via resulta da reunião de um complexo composto por uma enzima (fator de coagulação ativado), um substrato (forma de pró- enzima do fator de coagulação) e um cofator (acelerador da reação). Esses componentes são normalmente reunidos em uma superfície fosfolipídica e mantidos unidos por íons cálcio (a coagulação sanguínea é impedida pela presença de quelantes de cálcio). A exigência de que os fatores coagulação atuem em conjunto garante que a coagulação seja normalmente localizada na superfície das plaquetas ativadas ou no endotélio; como demonstrado na Figura 4, isto pode ser assimilado como uma “dança” de complexos, em que os fatores de coagulação passam com sucesso de um parceiro para o outro. De forma intercalada, a ligação dos fatores coagulação II, XII, IX e X ao cálcio depende da adição de um grupo γ-carboxila a determinados resíduos de ácido glutâmico nessas proteínas. Esta reação usa a vitamina K como um cofator, e é antagonizada por drogas, como a coumadina, que é um anticoagulanteamplamente utilizado. A coagulação sanguínea é tradicionalmente classificada em vias extrínseca e intrínseca que convergem na ativação do fator X (Fig. 3). A via extrínseca foi assim designada por requerer a adição de um desencadeador exógeno (originalmente fornecido pelos extratos dos tecidos); a via intrínseca exige apenas a exposição do fator XII (fator de Hageman) para superfície trombogênica (até vidro serve). No entanto, essa divisão é principalmente um artefato do teste in vitro; existem, de fato, várias interligações entre as duas vias. Além disso, a via extrínseca é a via fisiologicamente mais relevante para a coagulação quando o dano vascular já ocorreu; ela é ativada pelo fator tecidual (também conhecido como tromboplastina ou fator III), uma lipoproteína de ligação à membrana que é expressa nos locais de lesão. Os laboratórios clínicos avaliam a função dos dois componentes da via da coagulação através de dois ensaios-padrão: tempo de protrombina (PT) e tempo de tromboplastina parcial (PTT). O teste de PT avalia a função das proteínas na via extrínseca (fatores VII, X, II, V e fibrinogênio). Isto é realizado através da adição do fator tecidual e fosfolipídios ao plasma citratado (o citrato de sódio quela o cálcio e evita a coagulação espontânea). A coagulação é iniciada pela adição exógena de cálcio, e o tempo para formar o coágulo de fibrina é registrado. O tempo de tromboplastina parcial (PTT) exibe a função das proteínas na via intrínseca (fatores XII, XI, IX, VIII, X, V, II e fibrinogênio). Neste ensaio, a coagulação é iniciada por meio da adição de partículas com carga negativa (p. ex., vidro fosco), que provocam a ativação do fator XII (fator de Hageman), fosfolipídios e cálcio, e o tempo de formação do coágulo de fibrina é registrado. As deficiências dos fatores V, VII, VIII, IX, e X estão associadas com distúrbios hemorrágicos moderados a severos, e a deficiência de protrombina é incompatível com a vida. Em contraposição, a deficiência do fator XI está associada apenas a hemorragias leves, e indivíduos com deficiência do fator XII não têm sangramentos e podem, de fato, estar suscetíveis à trombose. O efeito paradoxal da deficiência de fator XII pode ser explicado pelo envolvimento do fator XII na via da fibrinólise (ver adiante); embora existam algumas evidências de modelos experimentais sugerindo que o fator XII pode promover trombose sob certas circunstâncias, a relevância dessas observações na doença trombótica humana permanece indeterminada. Com base nos efeitos da deficiência de vários fatores em humanos, acredita-se que o complexo fator VIIa/fator tecidual, in vivo, é o ativador mais importantes do fator IX, e que o complexo fator IXa/fator VIIIa é o ativador mais importantes do fator X (Fig. 4-6B). A tendência à hemorragia leve vista em pacientes com deficiência do fator XI é explicada pela capacidade da trombina de ativar o fator XI (bem como os fatores V e VIII), um mecanismo de feedback que amplifica a cascata de coagulação. Dentre os fatores da coagulação, a trombina é o mais importante, pois suas várias atividades enzimáticas controlam diversos aspectos de hemostasia e ligam a coagulação à inflamação e ao reparo tecidual. Entre as atividades mais importantes da trombina, estão as seguintes: Conversão de fibrinogênio em fibrina entrecruzada. A trombina converte diretamente o fibrinogênio solúvel em monômeros de fibrina que se polimerizam em um coágulo insolúvel, e ainda amplifica o processo de coagulação, não apenas ativando o fator XI, mas também ativando dois cofatores críticos, os fatores V e VIII. Ela também estabiliza o tampão hemostático secundário ao ativar o fator XIII, que entrecruza covalentemente a fibrina. Ativação plaquetária. A trombina é um potente indutor de ativação e agregação plaquetárias através de sua capacidade de ativar os PARs, ligando assim a função plaquetária à coagulação. Efeitos pró-inflamatórios. Os PARs também são expressos nas células inflamatórias, no https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000040.xhtml?favre=brett#f0035 Julia Paris Malaco – UCT17 endotélio e em outros tipos de células (Fig. 4- 8), e acredita-se que a ativação desses receptores pela trombina medeie os efeitos pró--inflamatórios que contribuem para o reparo tecidual e a angiogênese. Efeitos anticoagulantes. Notavelmente, através de mecanismos descritos mais adiante, ao deparar-se com o endotélio normal, a trombina tem sua função pró- coagulante alterada para anticoagulante. Essa reversão na função evita que a coagulação se estenda para além do local da lesão vascular. Fatores que limitam a coagulação - fibrinolise Uma vez ativada, a cascata de coagulação deve ser restrita ao local da lesão vascular para prevenir a coagulação de toda a árvore vascular. Além de restringir a ativação do fator aos locais de fosfolipídios expostos, a coagulação também é regulada por três tipos de anticoagulantes endógenos. (1) As antitrombinas (p. ex., antitrombina III) inibem a atividade da trombina e de outras serinaproteases, incluindo os fatores IXa, Xa, XIa e XIla. A antitrombina III é ativada pela ligação às moléculas semelhantes à heparina nas células endoteliais; daí, o benefício clínico da administração da heparina para minimizar a trombose (Fig. 2). (2) As proteínas C e S são proteínas dependentes da vitamina K e atuam no complexo proteolítico que inativa os fatores Va e VIIIa. A ativação da proteína C pela trombomodulina foi descrita anteriormente. (3) O inibidor da via do fator tecidual (TPPI) é uma proteína produzida pelo endotélio (e outros tipos celulares) que inativa o complexo fator tecidual- fator VIIa (Figs. 2 e 3). A ativação da cascata de coagulação também estabelece em movimento uma cascata fibrinolítica que limita o tamanho do coágulo final. A fibrinólise é, em grande parte, realizada pela atividade enzimática da plasmina, que decompõe a fibrina e interfere na sua polimerização (Fig. 6). Os subprodutos da fibrina (FSP ou produtos da degradação da fibrina) podem, também, atuar como anticoagulantes fracos. Os elevados níveis de FSP (notavelmente os dímeros-D derivados da fibrina) podem ser utilizados no diagnóstico dos estados trombóticos anormais, incluindo a coagulação intravascular disseminada (CID), a trombose venosa profunda ou a embolia pulmonar. A plasmina é gerada pelo catabolismo enzimático de um precursor circulante inativo, o plasminogênio, ou por uma via dependente do fator XII ou por ativadores do plasminogênio (PA; Fig. 6). O mais importante dos PA é o t-PA, que é sintetizado principalmente pelo endotélio, sendo mais ativo quando ligado à fibrina. A afinidade pela fibrina torna o t-PA um agente terapêutico útil, pois ele confina a atividade enzimática fibrinolítica a locais de trombose recente. Outro PA que está presente no plasma e em diversos tecidos é o PA semelhante a urocinase (u-PA); ele pode ativar a plasmina na fase líquida. Por fim, o plasminogênio pode ser clivado em plasmina por uma enzima bacteriana, a estreptocinase, uma atividade que pode ser clinicamente significativa em algumas infecções bacterianas. Como acontece com qualquer regulador potente, a atividade da plasmina é altamente restrita. Para evitar que o excesso de plasmina lise os trombos indiscriminadamente em várias partes do corpo, a plasmina livre é rapidamente inativada pelo inibidor α2-plasmina. As células endoteliais também modulam o equilíbrio coagulação/anticoagulação através da liberação do inibidor do ativador de plasminogênio (PAI), que bloqueia a fibrinólise através da inibição da ligação do t-PA à fibrina e confere um efeito pró-coagulante total (Fig. 6). A produçãode PAI é aumentada pela trombina, assim como certas citocinas, e, provavelmente, desempenha uma função na trombose intravascular que acompanha a inflamação grave Transtornos hemorrágicos O sangramento excessivo pode resultar de Aumento da fragilidade dos vasos Deficiência ou disfunção plaquetária Desregulação da coagulação, isolada ou em combinação. Os exames empregados para avaliar os diferentes aspectos da hemostasia são os seguintes: Tempo de protrombina (TP/TAP): Esse exame avalia as vias de coagulação extrínseca e comum. Um TP prolongado pode resultar de https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000040.xhtml?favre=brett#f0045 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150966/epub/OEBPS/Text/B9788535281637000040.xhtml?favre=brett#f0045 Julia Paris Malaco – UCT17 deficiência ou disfunção de fator V, fator VII, fator X, protrombina ou fibrinogênio. Tempo de tromboplastina parcial (TTP): Esse exame avalia as vias de coagulação intrínseca e comum. O prolongamento do TTP pode ser decorrente de deficiência ou disfunção dos fatores V, VIII, IX, X, XI ou XII, protrombina ou fibrinogênio ou ainda de anticorpos interferentes contra fosfolípídios Contagens de plaquetas: referência de 140 000 a 450 000 µL. diminuição – trombocitopenia/plaquetopenia Testes de função plaquetária: testes de agregação plaquetária, que medem a capacidade de agregação das plaquetas em resposta a agonistas como a trombina; e testes quantitativos e qualitativos do fator de von Willebrand, que desempenha papel relevante na aderência plaquetária à matriz extracelular. Sangramento relacionado a diminuição de plaquetas Purpura trombocitopenica imune (PTI) Purpura trombocitopenica trombótica (PTT) Doença de von willebrand A redução do número de plaquetas (trombocitopenia) constitui uma causa importante de sangramento generalizado. Uma contagem abaixo de 100.000 plaquetas/μL geralmente é considerada trombocitopenia. Contagens de plaquetas na faixa de 20.000 a 50.000 plaquetas/μL podem agravar um sangramento pós-traumático Contagens inferiores a 20.000 plaquetas/μL podem estar associadas a sangramento espontâneo (não traumático). Plaquetas são críticas para a hemostasia, já que formam tampões temporários que detêm o sangramento e promovem reações essenciais na cascata de coagulação. Os locais comuns dessas hemorragias são a pele e as membranas mucosas dos tratos gastrointestinal e genitourinário. No entanto, o mais temido é o sangramento intracraniano, que representa uma ameaça a qualquer paciente com uma contagem de plaquetas acentuadamente reduzida. As diversas causas de trombocitopenia podem ser classificadas em quatro categorias principais: Diminuição da produção de plaquetas. Diminuição da sobrevida das plaquetas Sequestro. Diluição. Purpura trombocitopenica imune (PTI) Geralmente idiopática, autoimune, mas pode vir secundaria a um quadro infeccioso. A PTI crônica é causada pela destruição de plaquetas mediada por autoanticorpos Mais comum em mulheres antes dos 40 anos Ocorre uma reação antígeno-anticorpo anticorpo começa sinalizar a plaqueta se adere na plaqueta sinalizando-a para que quando ela chegue ao baço, seja fagocitada pelo macrófago. Clinica Paciente apresenta apenas plaquetopenia - porque a todo momento a plaqueta vai estar sendo sensibilizada e destruída/fagocitada pelo baço, causando sua diminuição – por conta da plaquetopenia podem surgir petéquias, púrpuras, sangramento nasal/ gengival, as vezes pode ter epistaxe. Não tem mais nenhuma outra alteração laboratorial - TP e TTP estão normais Tratamento Corticoide para inibir o sistema imune e não ocorrer a formação de antígeno-antiorpo. Se o corticoide não resolver, tratar com imunoglobulina, porque é uma molécula pesada Julia Paris Malaco – UCT17 e o baço vai se preocupar mais com essa imunoglobulina do que com a plaqueta sinalizada e então vai diminuir a fagocitose de plaquetas. Se nada resolver, retirada do baço. PTI secundaria Mulher: 20 a 40 anos Patologias que podem levar a PTI: LES, Hashimoto, D.C, Miastenia Gravis Purpura trombocitopenica trombotica (PTT) Fisiologicamente: ocorre três processos – adesão, ativação e agregação Lesão vascular exposição de colágeno plaqueta adere no local da lesão para poder formar o coagulo plaqueta possui dois braços e se adere ao colágeno somente por um, o braço 6, fazendo uma ligação fraca organismo então libera o fator de von willebrand (fator VW – “cimento”) que fica em cima do colágeno e a plaqueta através do seu outro braço se adere a esse fator VW e forma uma ligação forte o adamts 13 é responsável por fazer com que o fator VW seja do tamanho correto para se encaixar ao espaço correto em cima do colágeno e não sobrar espaço para aderência de mais plaquetas Paciente com PTT: reação autoimune ocorre destruição autoimune do adamts 13 fator de VW fica muito grande para o local e muitas plaquetas começam a se aderir a ele isso leva a queda das plaquetas na circulação pelo excesso delas que se ligou ao fator de VW – trombocitopenia/plaquetopenia essas plaquetas ligadas liberam tromboxano A2 e ATP que vão recrutar novas plaquetas que também vai se ligar cada vez mais ao fator VW ocorrendo formação do trombo corrente sanguínea passa e por conta da sua força desprende o coágulo/trombo formado esse desprendimento leva o trombo para a corrente sanguínea formando um embolo o embolo pode entupir qualquer local da corrente circulatória. Clínica Pêntade da PTT (clinica clássica): febre (por conta da reação autoimune inflamatória), anemia hemolitica microangiopática (morte de hemácias e tentativa de repor as hemácias – hiperproliferativa), plaquetopenia, diminuição do nível de consciência (embolo pode afetar) insuficiência renal (embolo pode afetar) TP e TTP, geralmente estão normais. Sangramentos relacionados com defeitos na função plaquetaria Von willebrand Hemofilias Defeitos qualitativos da função plaquetária podem ser hereditários ou adquiridos. Os distúrbios hereditários da função plaquetária podem ser classificados em três grupos patogenicamente distintos: defeitos da adesão defeitos da agregação distúrbios da secreção plaquetária (reação de liberação). Doença de von willebrand Doença hereditária mais comum das hemostasias. Diminuição da formação do fator de von willebrand, prejudicando a adesão das plaquetas no processo fisiológico normal. Tipo 1 e 2: clinica branda – paciente fica roxo com mais facilidade – somente diminuição da formação do fator de von willebrand, prejudicando a adesão das plaquetas o Tipo 1 é defeito quantitativo de VW o Tipo 2 é defeito qualitativo de VW Tipo 3: maior repercussão clinica – ocorre deficiência de fator de VW, paciente não tem. Ocorre uma disfunção plaquetaria. O fator VW além se servir para ligação forte das plaquetas, ele também tem função de proteger o fator 8 presente na circulação sanguínea, portanto o fator VW faz essa função e não deixa o fator 8 ser destruído. Se ocorre deficiena dp fator VW, consequentemente terá destruição e diminuição do fator 8, o que vai causar hemofilia por deficiência do fator 8 (hemofilia A). Pacientes com a doença de von Willebrand apresentam defeito na função plaquetária, apesar de contagem de plaquetas normal. O nível plasmático de vWF ativo, está reduzido. Indivíduos que enfrentam desafio à hemostasia (tratamento odontológico,cirurgia) podem ser tratados com desmopressina, que estimula a liberação de fator VW, ou com infusões de concentrados de plasma contendo fator VIII e fator VW. Julia Paris Malaco – UCT17 Hemofilias Distúrbio da coagulação que pode ser hereditário (maioria) e adquirido onde ocorre hemorragia. Hemofilia A: fator 8 Hemofilia B: fator 9 Hemofilia C: fator 11 O que é usado para investigar um distúrbio hemorrágico? TAP TTPA o aumentado (problema em via intrínseca) Importante investigar - fator VIII, IX, XII (ligados): reduzido ou inatividade Fibrinogênio Plaqueta PCR Vitamina K Como diferenciar hemofilia A e B: dosar atividade do fator (melhor que a quantidade do fator) (Existem pacientes com quantidade alta de fator, porem esse fator não consegue ser ativado, impedindo a ativação da via comum. Por isso para diagnostico é melhor dosar a atividade dos fatores, do que o fator em si) Hemofilia A A hemofilia A é a doença hereditária associada a sangramento com risco à vida mais comum (devido ao risco aumentado de sangramentos no SN) É causada por mutações no fator VIII, que é um cofator essencial para o fator IX na cascata de coagulação – via intrínseca A hemofilia A é herdada como um traço recessivo ligado ao cromossomo X e, em consequência, afeta principalmente homens e mulheres homozigotas (mais em homens. Em mulheres ocorre quando é homozigota ou quando o gene X integro é silenciado, deixando-a somente com o gene X da doença.) Mutações causadoras de hemofilia A: Deleções, mutações nonsense, mutações geradoras de erros no splicing de RNAm Severidade/gravidade da doença: Nível de atividade do fator 8 – que é necessário para coagulação. Clinica: Principais sintomas são: sinais de sangramento aumentados/espontâneos, hemartrose Hemorragias desde a infância (quando a criança começa a sentar/engatinhar): o Traumas leves desencadeiam sangramento o Procedimentos simples levam a sangramentos Sangramento de língua e garganta (é grave – risco de vida – broncoaspiraçao, engasgamento com o próprio sangue) Hematúria Hematêmese Melena Hemorragias espontâneas (regiões sujeitas a traumas) o Hemartroses (sangramento em articulações): joelhos, cotovelos, tornozelos, ombros, coxofemurais, punhos o Sintomatologia recorrente: artropatia crônica Hematomas (espontâneos ou após um trauma): limitados ou expansivos. Nos hematomas expansivos pode ocorrer: o Dissecação (músculo) → consequentemente: Fibrose (perda de função, mobilidade e força prejudicada), contratura (perda de mobilidade da articulação). Inflamação → reparo o Compressão (nervos e vasos) → dor. Nervo (contratura ou não, paralisia) e Vasos (isquemia, necrose, fibrose e perda de função) Hematoma muscular no antebraço o Paralisia o Síndrome de Volkman (compressão do vaso sanguíneo) Compressão do nervo: paralisia (mão em bênção - n. mediano e mão em garra - n. ulnar) e sd. de volkman (consequência da isquemia - artéria braquial e toda a área acometida vai ser afetada → necrose e perda da função, capacidade de flexão e extensão, atrofia do músculo, área de contratura) Julia Paris Malaco – UCT17 Hematoma no íleo-psoas o Comprometimento do nervo femoral: dor, dificuldade flexão e extensão da coxa (paciente pode aparecer com flexão fixa da coxa), parestesia, hiperestesia, diminuição da força do quadríceps, paralisia dos músculos da coxa Pseudo tumor hemofílico o Hemorragia expansiva - reabsorção incompleta do sangramento/hematoma formação de capsula fibrosa/encapsulamento que comprime estruturas adjacentes o Imita tumor benigno Diagnóstico História familiar e pessoal de sangramentos TTPa: prolongado/aumentado TAP: normal Atividade de fator VIII= reduzida (exame mais importante no diagnostico) Porque os pacientes sangram? Depósitos de fibrina insuficientes para se obter a hemostasia Ausência da ativação do inibidor de fibrinólise ativado pela trombina Tratamento Reposição do fator deficiênte → fator VIII recombinante (usado como prevenção - procedimento ou tratamento - pós trauma, não é contínuo) Terapia de substituição: quando não há a reposição do fator deficiênte transfusão de sangue → concentrado liofilizado de fator VIII (20-30% dos pacientes desenvolvem inibidores do fator VIII) Inibidores da fibrinólise Hemofilia B Deficiência do fator 9 – mutações no gene que codificam esse fator Distúrbio clinicamente indistinguível da deficiência do fator VIII (hemofilia A). Condição herdada como um traço recessivo ligado ao cromossomo Clínica e gravidade é a mesma da hemofilia A TTPa: prolongado/aumentado TAP: normal Análise do fator IX é necessária para o diagnóstico A doença é tratada com infusões de fator IX
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