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IFA DIVINATION POETRY - Wande Abimbola - Completa

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Prévia do material em texto

IFA 
DIVINATION 
POETRY 
 
Poesia Divinatória de Ifá 
 
 
 
Wande Abímbọĺá 
 
TRADICIONAL AFRICAN LITERATURE 
 
General Editor: Kofi Awoonor 
Chairman, Comparative Literature Program State University 
of New York , Story Book 
 
GUARDIANS OF THE SACRED WORD: Ewe Poetry 
KOFI AWOONOR 
 
The Calabash of Wisdom and Other Stories 
ROMANUS EGUDU 
 
Ifa Divination Poetry 
WANDE ABÍMBỌ́LÁ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IFA DIVINATION POETRY 
 
 
 
 
Traduzido, editado e com introdução de 
WANDE ABÍMBỌ́LÁ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NOK Publisher Ltd 
NEW YORK · LONDON · LAGOS 
First Published by NOK Publisher Ltd 
150 Fifth Avenue, New York, N.Y. 10011 
© Copyright by Wande Abímbọĺá 1977 
 
ALL RIGHT RESEVERD. No part of this book may be reproduced 
or utilized in any form or by any means, electronic or mechanical, 
including photocopying and recording, or by any information 
storage and retrieval system, without permission in writing from 
the publisher. 
 
Library of Congress Catalog Card Number 
73-86025 
 
International Standart Book Number 
0-88357-023-8 Cloth 
0-88357-047-5 Paper 
 
 
 
 
 
 
PREFÁCIO 
Ifá é um importante sistema divinatório encontrado em muitas culturas da África Ocidental. 
No território iorubá, onde Ifá é uma divindade muito importante, este fascinante sistema 
divinatório foi intimamente identificado com a história, mitologia, religião e medicina 
popular do povo iorubá. Os iorubás têm Ifá como um repositório das suas crenças e valores 
morais. O sistema divinatório de Ifá e os extensivos cânticos poéticos a ele associados são 
usados pelos iorubás para validar importantes aspectos da sua cultura. A divinação de Ifá é, 
portanto, praticada pelos iorubás durante todos os seus importantes ritos de passagem, tais 
como cerimônia de dar o nome, casamentos, funerais, e quando dão posse aos reis. Para a 
sociedade tradicional iorubá, a autoridade de Ifá permeia todos os aspectos da vida porque 
eles o consideram como a voz das divindades e a sabedoria dos ancestrais. 
Este trabalho apresenta sessenta e quatro poemas dos dezesseis Odù principais 
(categorias) do corpo literário de Ifá. O trabalho tem duas partes. A primeira parte é a 
introdução que cobre a mitologia de Ifá, seus instrumentos de divinação, o treinamento dos 
sacerdotes, o processo de divinação de Ifá, e uma avalição da posição desta divindade em seu 
sistema elaborado de divinação entre o povo iorubá. A introdução também trata da 
significação dos Odù como o mais importante ponto de referência dentro do corpus de Ifá 
como um todo. A última seção da introdução apresenta uma análise estrutural, estilística e 
temática da poesia divinatória de Ifá. 
A segunda parte do trabalho é uma apresentação de material textual. Um total de 
sessenta e quatro poemas de Ifá é apresentado em sua versão original iorubá e sua tradução 
para o português. Quatro poemas de cada um dos dezesseis Odù principais são apresentados. 
Cada poema na versão em português é provido de um título que resume o assunto focalizado. 
A tradução para o português é também acompanhada de notas adequadas destinadas a 
elucidar detalhes linguísticos e culturais não englobados pelo texto traduzido. 
Este livro é projetado para ir ao encontro dos leitores em geral como também do 
especialista que deseja informar-se da riqueza da poesia oral africana. O leitor verá desde a 
introdução como os iorubás atentaram para usar o gênero poético com veículo para 
preservação e desenvolvimento de sua cultura. O sistema divinatório de Ifá e sua fantástica 
coleção de cânticos poéticos mostram claramente a ingenuidade das pessoas não letradas para 
desenvolver, preservar, e difundir os ingredientes de sua própria cultura, mesmo sem 
conhecer a arte da escrita. 
 Universidade de Indiana, Bloomington, Março de 1973. 
AGRADECIMENTOS 
Todos os sessenta e quatro poemas que constam neste trabalho nos foram dados por Oyedele 
Iṣọla do Complexo de Bẹẹṣin, Pààkòyi, Ọ̀yo ̣́, oeste da Nigéria. Os poemas foram coletados em 
diferentes ocasiões entre 1963 e 1970. Algumas das gravações dos cânticos de Oyedele estão 
guardadas na Biblioteca da Universidade de Lagos, Lagos, Nigéria, mas a maior parte do 
extenso material recolhido deste renomado sacerdote de Ifá está sob minha guarda. Oyedele é 
amplamente conhecido em Ọ̀yo ̣́ por sua prodigiosa memória e pela riqueza de sua voz. Ele 
também atua como médico. Sou agradecido a Oyedele por tudo que aprendi com ele nos 
últimos dez anos. 
Sou agradecido também aos seguintes sacerdotes de Ifá que me ajudaram na 
interpretação de parte do material coletado com Oyedele e de quem eu gravei materiais de Ifá 
que não constam neste livro: (a) Awótúnde Awórindé, Ilé Ọlọ bẹ̀dú, Òṣogbo, (b) Adéjàre Kékeré-awo, 
Ilé Bẹẹṣin, Pààkòyí, Ọ̀yo ̣́ e (c) Chefe Fádáyúró, Olúwo de Akeètàn, Ọ̀yo ̣́. 
Eu tenho uma grande dívida com o meu falecido pai, Chefe Abímbọ lá Ìrókò, o último 
Aṣipadẹ (Chefe dos Caçadores) de Ọ̀yo ̣́, de quem, quando criança, eu primeiro aprendi sobre a 
divinação de Ifá e que foi o meu pilar de apoio e fonte de inspiração durante os meus anos de 
pesquisa sobre divinação de Ifá. Chefe Abímbọ lá Ìrókò foi um famoso sacerdote de Ifá, caçador, 
herbanário e veterano da Primeira Guerra Mundial, morreu em novembro de 1971. 
Sou profundamente agradecido também ao Instituto de Estudos Africanos, 
Universidade de Ìbàdàn, onde comecei minhas pesquisas de Ifá, entre 1963 e 1965. Sou 
igualmente grato a Escola de Estudos Asiáticos e Africanos, Universidade de Lagos e a 
Sociedade Linguística do Oeste Africano pela provisão de fundos que foram usados para 
coletar parte do material encontrado neste trabalho. 
Finalmente, quero expressar minha admiração a minha mãe, Ṣàngódayọ̀ Àwẹ̀lé, que me 
ajudou na interpretação de palavras difíceis e a quem eu sempre confiei à verificação de 
muitos outros aspectos da cultura iorubá. 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO Página 
I. SISTEMA DIVINATÓRIO DE IFÁ 9 
(a) A Mitologia de Ifá 9 
(b) Os Instrumentos da Divinação de Ifá 12 
(c) O Processo da Divinação de Ifá 17 
(d) O Treinamento dos Sacerdotes de Ifá 19 
(e) O Lugar de Ifá na Religião Tradicional Iorubá 21 
 
II. OS ODÙ OU CATEGORIAS DA DIVINAÇÃO DE IFÁ 22 
 
III. OS ẸSẸ OU POEMAS DO CORPO LITERÁRIO DE IFÁ 
(a) A Estrutura dos Ẹsẹ Ifá 26 
(b) Os Aspectos de Estilo nos Ẹsẹ Ifá 29 
(c) O Conteúdo dos Ẹsẹ Ifá 38 
 
Notas 43 
AS DEZESSEIS PRINCIPAIS CATEGORIAS 
DA POESIA DIVINATÓRIA DE IFÁ48 
 
I – Èjì Ogbè 49 
II - Ọ̀yẹ̀kú Méjì 55 
III - Ìwòrì Méjì 62 
IV - Òdí Méjì 67 
V - Ìrosùn Méjì 76 
VI - Ọ̀wọńrín Méjì 83 
VII - Ọ̀bàrà Méjì 89 
VIII - Ọ̀kànràn Méjì 101 
IX - Ògúndá Méjì 108 
X - Ọ̀sá Méjì 117 
XI - Ìká Méjì 124 
XII - Òtúúrúpọ̀n Méjì 129 
XIII - Òtúá Méjì 137 
XIV - Ìrẹtẹ̀ Méjì 145 
XV - Ọ̀ṣẹ ́Méjì 153 
XVI - Òfún Méjì 162 
Notas 167 
Bibliografia 188 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
I. O SISTEMA DIVINATÓRIO DE IFÁ 
 
(a) A MITOLOGIA DE IFÁ 
De acordo com a crença iorubá, Ifá (também conhecido como Ọ̀rúnmìlà) foi uma das 
quatrocentos e uma divindades,1 que vieram do ọ̀run (céu) para o ayé (Terra). Olódùmarè, o 
Deus Supremo iorubá, encarregou cada uma destas divindades com uma função particular a 
ser realizada na Terra.2 Por exemplo, Ògún 3 foi encarregado de todas as coisas relacionadas 
com a guerra e a caça e o implemento do uso do aço. Enquanto que Òòṣàálá 4 foi encarregado 
com a responsabilidade de moldar os corpos humanos com argila e Èṣù 5 era o policial do 
universo e o guardião do àṣẹ, o poder divino com o qual Olódùmarè criou o universo e mantém 
suas leis físicas. Ifá ficou encarregado da divinação por sua grande sabedoria, que ele adquiriu 
como resultado da sua presença ao lado de Olódùmarè, quando este criou o universo. Ifá, 
portanto, sabia os segredos do universo. Por isso, seu nome de louvor Akéréfinúsọgbọ n (o 
pequeno cuja mente está cheia de sabedoria). 
Os iorubás acreditam que as quatrocentas e uma divindades mencionadas acima 
desceram dos céus 6 na cidade de Ifẹ̀.7 Naquele tempo não havia nenhuma criatura de nenhum 
tipo sobre a Terra. As divindades foram, portanto, os primeiros habitantes da Terra e Ifẹ̀ foi o 
primeiro local da Terra a ser habitado por seres humanos.8 
Quando as divindades chegaram a Terra, encontraram o planeta totalmente coberto 
de água. Mas, antes de deixarem o ọ̀run, Olódùmarè lhes deu uma cesta cheia (ou cabaça cheia?) 
de areia, uma galinha com cinco dedos 9 e um camaleão.10 Antes das divindades descerem, elas 
enviaram a galinha para baixo, para Ifẹ̀ com uma parte da areia. A galinha espalhou a areia e a 
terra sólida apareceu. O camaleão, então , andou sobre a terra para saber o quão sólida era. As 
divindades, então desceram sobre a terra sólida e ergueram seus acampamentos em diferentes 
partes de Ifẹ̀. A galinha e o camaleão tornaram-se, então as primeiras criaturas a viver sobre a 
terra primordial e as divindades foram as primeiras criaturas a viver sobre a terra sólida. 
Após a chagada das divindades, a população humana desenvolveu-se em Ifẹ̀ de duas 
maneiras diferentes. As divindades casaram-se entre si (existiam divindades masculinas e 
femininas) e deram à luz uma linhagem de homens que posteriormente se tornaram os 
divinos governantes 11 dos iorubás. Posteriormente, Olódùmarè, com a ajuda de Òòṣàálá criou os 
seres humanos propriamente ditos, que se tornaram os súditos sobre os quais as divindades e 
seus descendentes reais governaram. Além dos descendentes das divindades, os filhos de 
Odùdúwà tornaram-se os mais importantes politicamente e, possivelmente formaram a maior 
parte da dinastia dos mais poderosos reinos iorubás.12 O ponto culminante do poder desses 
governantes divinos foi alcançado na organização imperial do antigo Império de Ọ̀yọ . 13 
Em Ifẹ̀, Ọ̀rúnmìlà mudou-se para um local conhecido como Òkè Ìgẹ̀tí 14 e ali ele viveu por 
muitos anos. Inicialmente ele não tinha filhos, mas depois ele teve oito filhos homens. 15 Mais 
tarde ele trocou Ifẹ̀ por Adó, onde passou o resto de sua vida. Daí o dito,“Adó nilé Ifá” (Adó é a 
casa de Ifá). 16 
Enquanto esteve na Terra, Ọ̀rúnmìlà aplicou sua sabedoria atemporal para organizar a 
sociedade humana de forma ordeira. Ele também ensinou aos discípulos os segredos da 
divinação. Mas, como aconteceu com as outras divindades, Ọ̀rúnmìlà retornou ao ọ̀run, após ter 
completado suas tarefas na Terra. Sua volta para o ọ̀run foi, entretanto, causada por uma 
desavença entre ele e um dos seus filhos, Ọlo ̣́wọ̀, seu filho caçula. Os detalhes daquela 
desavença entre pai e filho são dados em Ìwòrì Méjì.17 De acordo com uma história deste Odù, 
um dia Ọ̀rúnmìlà convidou seus oito filhos para celebrar um importante festival com ele. 
Conforme cada um deles chegava, deitava-se no chão e saudava o seu pai com as palavras 
“àbọrúbọyè bọ ṣiṣẹ” (possa o sacrifício ser aceito e abençoado) como sinal de seu respeito e 
obediência a ele. Mas, chegou a vez de Ọlo ̣́wọ̀, ele permaneceu de pé e não disse nada. Um 
diálogo então se seguiu entre pai e filho, durante o qual Ọ̀rúnmìlà ordenou a Ọlo ̣́wọ̀ que fizesse a 
saudação, já feita por seus irmãos. Mas, Ọlo ̣́wọ̀ recusou-se em fazê-la dizendo que como ele era 
cabeça coroada, como seu pai, era degradante para ele abaixar-se diante de qualquer pessoa. 
Quando Ọ̀rúnmìlà ouviu isso, ficou magoado e decidiu voltar para o ọ̀run.18 
Imediatamente após a partida dele, a Terra foi lançada no caos e confusão. O ciclo de 
fertilidade e regeneração, tanto na natureza quanto nos seres humanos sucumbiu. A sociedade 
humana mudou perigosamente para próximo da anarquia e da desordem conforme todas as 
coisas eram colocadas face à destruição. O estado de confusão e de incerteza na Terra depois 
da partida de Ọ̀rúnmìlà é descrito no seguinte poema. 
 
Aboyún ò bí mọ 
Àgàn ọ̀ tọmọ àlà bosùn. 
Òkùnrùn ò dìde. 
Akeremọdòó wẹ̀wú ìràwé. 
Àtọ̀ gbẹ mọ ọmọkùnrin ní ìdí 
Obìnrin ò ríàsẹ ẹ rẹ̀ mọ . 
Iṣú pẹyin ọ̀ ta; 
Àgbàdó tàpẹ ò gbó; 
Erèé yọjú ọ̀pọ̀lọ . 
Òjò páápààpáá kán sílẹ̀, 
Adìẹ ṣà á mì. 
A pọ n ọ̀bẹ sílẹ̀, 
Ewúrẹ mú un jẹ. 19 
 
“As mulheres grávidas não podiam dar à luz a seus filhos; 
As mulheres inférteis continuaram inférteis. 
Pequenos rios foram cobertos por folhas caídas. 
O sémen secou nos testículos dos homens 
As mulheres não menstruaram mais. 
O inhame formou pequenos tubérculos não desenvolvidos; 
O milho crescia pequeno imaturo com espigas não desenvolvidas. 
Gotas esparsas de chuva caíram, 
As galinhas tentaram devorá-las; 
Navalhas bem afiadas estavam plantadas no chão, 
E os cabritos tentaram devorá-las.” 19 
 
Quando a Terra não tinha mais paz foi decidido que os filhos de Ọ̀rúnmìlà deveriam ir para o 
ọ̀run e persuadir seu pai a voltar. Consequentemente, os oito filhos de Ọ̀rúnmìlà foram até o 
ọ̀run onde encontraram seu pai no pé de “uma palmeira bem desenvolvida, muito ramificada 
para lá e para cá e que tinha dezesseis cabeças (copas) em forma de cabana.” Eles tentaram 
convencer seu pai a voltar, mas ele não aceitou e em vez disso deu a cada um deles dezesseis 
caroços de palmeira e disse: 
 
Bẹ ẹ bá délé, 
Bẹ ẹ bá fówóó ní, 
Ẹni tẹ ẹ mọọ bi nù un. 
Bẹ ẹ bá délé, 
Bẹ ẹ bá fáyaá ní, 
Ẹni tẹ ẹ mọọ bi nù un. 
Bẹ ẹ bá délé, 
Bẹ ẹ bá fọ mọọ bí, 
Ẹni tẹ ẹ mọọ bi nù un.... 
 
“Quando vocês chegarem em casa 
Se quiserem ter dinheiro, 
Esta é a pessoa que deve ser consultada. 
Quando vocês chegarem em casa, 
Se vocês quiserem esposas, 
Esta é a pessoa que deve ser consultada. 
Quando vocês chegarem em casa, 
E quiserem ter crianças, 
Esta é a pessoa que vocês devem consultar... 
Qualquer coisa boa que vocês desejem ter na Terra, 
Esta é a pessoa a quem vocês devem consultar.” 
 
Quando os filhos de Ọ̀rúnmìlà retornaram a Terra, eles começaram a usar os dezesseis caroços 
como instrumentos de divinação para saber os desejos das divindades. Ọ̀rúnmìlà repôs a sua 
presença na Terra com os dezesseis caroços de palmeira conhecidos como ikin e desde então 
eles se tornaram o mais importante instrumento de divinação de Ifá. 
 
(b) OS INSTRUMENTOS DA DIVINAÇÃO DE IFÁ 
 
1) Ikin (Os Dezesseis Caroços de Palmeira Sagrados) 
Os ikin são considerados os mais antigos e importantes instrumentos de divinação de Ifá. 
Consiste em dezesseis caroços tirados de uma palmeira especial, conhecida como ọ̀pẹ̀ Ifá 
(palmeira de Ifá). Cada fruto desta palmeira tem quatro olhos na sua borda inferior espessa. Os 
iorubás acreditam que este tipo de caroço de palmeira é sagrado para Ifá e não pode ser usado 
para fabricar azeite de dendê. 
Os dezesseis caroços são mantidos em uma tigela de madeira ou metal decorada e com 
tampa. Esta tigela é mantida em uma dependência da casa onde o sacerdote mora. As preces e 
sacrifícios para Ifá são feitos naquele local, que pode ser considerado o santuário de Ifá 
daquele sacerdote em particular. Os caroços raramente são retirados daquele local, exceto 
para serem lavados ou para purificação, o que acontece ocasionalmente tanto para limpeza da 
sujeira quanto para aumentar a sua potência divina. Mas, quando o sacerdote morre, os ikin 
podem ser removidos do seu local e transferidos para um parente do morto. A transferência 
sempre envolve o oferecimento de sacrifício e outra cerimônia de purificação. Algumas 
pessoas preferem enterrar os caroços de palmeira com o morto para se livrarem de ter que 
fazer uma cerimônia bastante elaborada e cara. 
São usados para divinação em raras e importantes ocasiões, tais como divinações 
públicas, de grande significação ritual, como a divinação quando um novo rei é coroado. O 
sacerdote de Ifá sempre usa os caroços quando está consultando Ifá em favor próprio, ou para 
membros muito próximos de sua família. Sempre que ele usa os carços para divinação, deve 
manipulá-los juntamente com o pó sagrado de divinação, conforme descrito abaixo. 
O pó divinatório é mantido dentro de um tabuleiro de Ifá entalhado e colocado em 
frente ao sacerdote que mantém os dezesseis caroços dentro de uma das mãos e tenta tirá-los 
de um só golpe com a outra mão. Se dois caroços restarem na palma de sua mão, ele faz uma 
marca vertical no pó divinatório, se somente um caroço restar, ele faz duas marcas. Se ele 
conseguir tirar todos os caroços de uma só vez ele não marca nada. Do mesmo modo, o 
sacerdote de Ifá tem que fazer estas marcas quatro vezes à direita e quatro à esquerda. O 
resultado vai dar a ele a marca de um Odù (capítulo ou categoria do corpo literário de Ifá). Se 
ele fizer, por exemplo, uma marca, quatro vezes na direita e quatro vezes na esquerda, a 
marca é a de Èjì Ogbè, cujo padrão vai aparecer a seguir: 
 
 I I 
 I I 
I I 
I I 
Se ele fizer duas marcas quatro vezes à direita e quatro vezes à esquerda, a marca registrada é 
a de Ọ̀yẹ̀kú Méjì que será como se segue: 
 
II II 
II II 
II II 
II II 
Existe um total de duzentos e cinquenta e seis (256) padrões do tipo descrito acima na 
divinação de Ifá.23 Cada padrão é conhecido como Odù ou categoria da poesia divinatória de 
Ifá. Acredita-se que cada Odù contenha seiscentos (600) Ẹsẹ ou poemas de Ifá. O sacerdote 
aprende o maior número possível de poemas de cada um dos 256 Odù e recita-os para os seus 
clientes da maneira descrita em detalhes abaixo. 
 
2) Ọ̀pẹ̀lẹ̀ (A Corrente Divinatória) 
Outro instrumento importante na divinação de Ifá é conhecido como ọ̀pẹ̀lẹ̀, a corrente 
divinatória. Esta corrente, que tem duas terminações abertas na base é feita tanto de metal 
quanto de barbante de algodão. Quatro meias cascas do fruto ọ̀pẹ̀lẹ̀ 24 são presas em cada 
metade da corrente (ambos do lado direito e esquerdo) cada uma destas meias cascas (que 
lembram um obí) tem um lado externo liso e um lado interno rugoso. Se a corrente é feita de 
metal, as meias cascas também são feitas de metal de tal forma que parecem as meia cascas do 
fruto do ọ̀pẹ̀lẹ̀. 
O sacerdote de Ifá pega a corrente pelo meio da sua parte superior e a joga na direção 
oposta ao seu corpo, quando a corrente cai no chão, cada uma das meias cascas em cada lado 
vai mostrar seu lado interno ou externo para cima. Existem 28 possibilidades desta forma de 
apresentação cada vez que o sacerdote joga a sua corrente. Cada uma destas possibilidades de 
apresentação é conhecida como Odù ou capítulo no corpo da divinação de Ifá. Todo o corpo 
tem 256 (28) capítulos. Os capítulos têm nomes que são exatamente os mesmos que os nomes 
atribuídos aos padrões marcados no pó divinatório, quando os dezesseis caroços sagrados são 
usados para divinação. Por exemplo , quando todas as oito cascas apresentam suas superfícies 
internas para cima, este padrão é conhecido como Èjì Ogbè e quando elas apresentam sua 
superfície externa, a assinatura é a de Ọ̀yẹ̀kú Méjì. 
O sacerdote de Ifá mantém a corrente divinatória dentro de uma bolsa de couro ou 
pano conhecida como àpò Ifá, que ele carrega a tiracolo em um de seus ombros e toma parte de 
seu equipamento sempre que ele sai de casa. É devido ao hábito de usar esta bolsa no ombro 
que o sacerdote de Ifá é conhecido como akápò (carregador da bolsa de Ifá). 
A corrente divinatória é frequentemente mais usada que os caroços de palmeira para 
propósitos de divinação. O sacerdote de Ifá usa a corrente divinatória no seu dia-a-dia, para a 
maioria das divinações envolvendo os numerosos clientes e reserva os caroços para ocasiões 
mais importantes. É devido à importância dos caroços como o mais antigo símbolo de Ifá que 
não podem ser carregadas para todos os lados em ocasiões de divinação. Além disso, a 
corrente é mais fácil de manusear, de forma que o sacerdote pode obter a marca de um Odù 
mais facilmente fazendo uso dela. 
 
3) Ìbò ( Os Instrumentos para Tirar a Sorte) 
Quando um Odù tiver sidoencontrado e o cliente reconhecer o poema que se aplica ao seu 
problema, o sacerdote de Ifá faz uso, então dos ìbò para encontrar detalhes adicionais 
relacionados à interpretação do poema que foi identificado. Para quem a mensagem de Ifá é 
dirigida? Para o cliente ou para um de seus parentes? Como deve ser feito o sacrifício que foi 
indicado para o cliente? Estes e outros problemas são resolvidos pelo uso dos ìbò. 
Os instrumentos básicos do ìbò são um par de búzios amarrados e um osso. Os búzios 
representam uma resposta positiva, enquanto que o osso representa uma resposta negativa 
das divindades em relação a todas as questões colocadas. Mas, outros instrumentos também 
são usados como parte dos ìbò, para simbolizar diferentes coisas, por exemplo, um pedaço de 
pedra representa boa saúde, enquanto que a semente da maça-ake preta representa o próprio 
Ọ̀rúnmìlà. 
A crença do sacerdote de Ifá e de seu cliente sobre o uso dos instrumentos do ìbò é de 
que Ifá irá falar ao cliente através destes instrumentos para explicar os detalhes do poema que 
foi identificado como apropriado, tendo relação direta com seu problema. O sacerdote pede ao 
cliente para colocar o osso em uma das mãos e o par de búzios na outra mão. O cliente pode 
manter qualquer um dos dois objetos em qualquer uma das mãos, esquerda ou direita. O 
sacerdote faz uma pergunta à divindade, como esta: Ifá você diz que vê problemas de saúde. 
Quem é a pessoa que está doente? É a esposa do cliente? O sacerdote, então, manipula seu 
instrumento de divinação duas vezes. Se o Odù que ele vê na segunda vez for mais velho do 
que aquele que ele viu na primeira jogada, o sacerdote pedirá ao cliente que mostre o 
conteúdo na mão direita; mas se o Odù visto na segunda vez é mais novo que o anterior, ele 
perguntará pelo conteúdo da mão esquerda. Se, por exemplo, o conteúdo da mão direita é um 
osso, isso significa que a resposta à pergunta feita é negativa. Neste caso, o nome de um 
segundo parente ou do próprio cliente substituem o primeiro. A pergunta é refeita e a 
divinação continua até uma resposta afirmativa ser obtida. 
Portanto, os ìbò são usados para obter respostas para os problemas que podem surgir 
na interpretação dos poemas de Ifá. Eles agem como um meio de comunicação rápido entre Ifá 
e o cliente. Sem os ìbò, seria impossível determinar as minúcias de cada divinação. Mas, o 
cliente está interessado nessas minúcias a fim de conseguir satisfação e confiança de que o 
sacerdote identificou seu problema e ofereceu a solução correta. 
 
4) Ìyẹ̀ròsùn (O Pó Divinatório) 
 
Quando o sacerdote de Ifá usa os caroços sagrados de palmeira, como foi explicado acima, ele 
imprime as marcas simples e duplas obtidas em cada manipulação no pó sagrado divinatório 
chamado ìyẹ̀ròsùn. Este pó esbranquiçado (ou amarelado) é obtido da árvore ìrosùn ou do 
bambu seco transformado em pó por cupins. O pó é colocado no ọpọ n Ifá (a bandeja entalhada 
em madeira) e o sacerdote imprime marcas nele à medida que manipula os caroços. 
O pó divinatório é considerado pelos sacerdotes como um símbolo sagrado de Ifá. 
Partículas deste pó são salpicadas nos sacrifícios para assegurar a aceitação pelas divindades. 
Ao cliente, algumas vezes, é pedido que engula o pó e esfregue-o na cabeça para forjar um laço 
de união entre ele e as divindades de forma que ele possa ficar satisfeito que as divindades o 
estão auxiliando na resolução dos seus problemas. 
 
 
5) Ìrọḱẹ ́(Objeto entalhado em madeira ou marfim usado para evocar Ifá) 
 
Enquanto está fazendo divinação, o sacerdote de Ifá bate repetidas vezes no ọpọ n Ifá com o 
ìrọ kẹ para chamar Ifá a estar presente na divinação. Os praticantes ou subordinados de 
importantes sacerdotes de Ifá carregam o ìrọ kẹ na frente dos seus superiores quando eles saem 
para realizar alguma importante cerimônia. 
O ìrọ kẹ é esculpido em marfim ou madeira em tamanho pequeno ou grande. Em alguns 
ìrọ kẹ uma figura humana ou a cabeça de um ser humano é esculpida. A sua parte superior é 
esculpida numa forma cónica, longa e afilada. A parte de baixo tem um formato de boca 
alargada e suporta o instrumento quando colocado em pé. O sacerdote de Ifá segura o ìrọ kẹ 
pela parte alargada enquanto bate com a parte longa, superior contra o ọpọ n Ifá durante a 
divinação. 
6) Ọpọń Ifá (O Tabuleiro Divinatório) 
 
Conforme mencionamos acima, o sacerdote de Ifá imprime suas marcas num tabuleiro de 
madeira quando ele usa os caroços de palmeira para divinação. Os tabuleiros divinatórios são 
esculpidos em diversos tamanhos e formas. As margens do tabuleiro são dominadas por um 
padrão intrincado de diversos objetos tais como, pássaros, répteis, tartarugas e animais 
selvagens. O meio da parte superior é reservado para a imagem de Èṣù (a divindade que 
mantém o àṣẹ). Desta posição a imagem de Èṣù olha para o sacerdote de Ifá como se ele 
estivesse dirigindo ou assistindo a divinação. O interior da tábua em si pode ser tanto redondo 
quanto quadrado. 
 
 
(c) O PROCESSO DA DIVINAÇÃO DE IFÁ 
 
Os sacerdotes de Ifá atendem diversos clientes todos os dias. Estes clientes têm diferentes 
tipos de problemas estendendo-se desde um conselho sobre se ele deve ou não fazer uma 
viagem até assuntos de vida ou morte envolvendo uma pessoa doente em favor da qual um 
parente consulta Ifá. Alguns clientes consultam Ifá em momentos críticos de suas vidas 
envolvendo matrimônio, divórcio, mudanças de profissão ou de residência. Quando o cliente 
entra na casa do sacerdote, ele o saúda e expressa o desejo de “falar com a divindade.” O 
sacerdote de Ifá, então, pega sua corrente divinatória e a joga na esteira ou numa bandeja de 
ráfia em frente ao cliente. O cliente sussurra seu problema numa moeda ou num búzio e o 
coloca junto aos instrumentos do sacerdote. Como alternativa, o cliente pode pegar a corrente 
divinatória ou os ìbò e soprar num deles diretamente. Em ambos os casos acredita-se que os 
desejos do orí do cliente (Orí, divindade da predestinação que sabe o que é bom para as 
pessoas) 25 foram comunicados a Ifá que irá, então dar a resposta apropriada através do 
primeiro Odù que o sacerdote de Ifá irá revelar ao arremessar a corrente divinatória. 
O sacerdote de Ifá pega então a corrente divinatória após oferecer algumas palavras de 
saudação a Ifá. Ele apressa Ifá para que dê a resposta apropriada ao cliente sem demora. O 
sacerdote profere o ibà (permissão das autoridades) 26 a Ilẹ̀ (a terra) 27, a Olódùmaré (Deus 
Supremo) e seus mestres na arte da divinação. Ele atira a corrente divinatória na frente dele 
mesmo e rapidamente lê e pronuncia o nome do odù cuja assinatura ele viu. A resposta ao 
problema do cliente será encontrada somente neste Odù. 
O sacerdote começa então a cantar os versos do Odù que ele viu enquanto o cliente 
assiste e ouve. Canta tantos versos, quantos ele conheça daquele Odù, até que ele cante um 
poema com uma história similar ao problema do consulente. Neste estágio o consulente o 
detém e pede explicações sobre aquele poema em particular, que tem uma história de um 
problema semelhante ao dele. O sacerdote interpreta aquele poema em particular e menciona 
o sacrifício que o cliente deve fazer. 
Às vezes, durante o processo divinatório o cliente vai reconhecer certos problemas 
similares aos problemas de certos membros de sua família. Ele pode também reconhecer um 
poema que se relaciona a outro problema pessoal dele diferente do problema original por 
conta do qual ele consultou Ifá. Pode também acontecer que o cliente não saiba qual poema 
escolher dentre aqueles cantados pelo sacerdote. Em todos estes casos, os ìbò serão usados 
para esclarecer e elucidar a real mensagem de Ifá. 
Se, entretanto, o cliente sente que nenhum dos poemas cantados pelo sacerdote tem 
nada a ver com o seu problema, o sacerdote vai continuar cantando mais e mais poemas até 
que um deles satisfaça o cliente. Mas, se o sacerdote tiver esgotado seu estoque de poemas, ele 
pedirá polidamente ao cliente paravoltar no dia seguinte ou em outro dia marcado para então 
continuar a divinação. Enquanto isso, o sacerdote irá aprender mais poemas do Odù original 
em questão e quando o seu cliente voltar, se voltar, ele irá cantar os novos poemas na 
esperança de que desta vez o cliente se satisfaça. Na sociedade tradicional iorubá, o sacerdote 
de Ifá está livre deste embaraço dado ao sistema no qual os sacerdotes praticam a divinação 
em grupos consistindo de dois ou mais sacerdotes. Quando os sacerdotes praticam Ifá desta 
forma, é fácil satisfazer seus clientes, já que um sacerdote substitui o outro quando seu colega 
já esgotou seu estoque de poemas ou simplesmente não lembra mais nenhum poema naquela 
ocasião em particular. 
Quando o cliente está totalmente satisfeito, tanto com o poema que ele escolheu 
quanto com a interpretação feita pelo sacerdote, ele prossegue para o sacrifício estipulado. Se 
o material requerido para o sacrifício não puder ser encontrado nas vizinhanças do local da 
divinação ou se o cliente não tem dinheiro para comprar o material naquele momento, o 
sacrifício pode ser protelado até a hora em que o cliente esteja com o material em mãos. Em 
certos casos, o cliente pode deixar uma quantia de dinheiro suficiente para comprar o 
material com o sacerdote, que irá comprar o material e fazer o sacrifício em favor de seu 
cliente. Se o cliente é uma pessoa pobre, ele pode oferecer só uma parte do material 
estipulado. 
Um ponto importante, entretanto é que aconteça o que acontecer, o cliente deve ficar 
certo de que fez o sacrifício prescrito. O sistema de divinação de Ifá condena veementemente 
o indivíduo que evita o sacrifício prescrito para ele. Acredita-se que estes indivíduos abrem-se 
para o ataque dos ajogun 28 sem nenhuma ajuda ou proteção das divindades. O homem não 
pode, portanto esperar sucesso algum, em qualquer assunto que ele tenha consultado Ifá, a 
menos que tenha feito o sacrifício prescrito. A oferenda de sacrifício significa que as 
divindades sancionam aquilo que o cliente planeja fazer. E o cliente, ele mesmo, sente um 
prazer psicológico pela realização de que as divindades e os ancestrais estão sustentando 
aquilo que ele planeja fazer. Além disso, o sacrifício proporciona ao sacerdote o seu sustento 
diário, já que lhe é permitido ficar com certa parte da oferenda feita pelos seus clientes, para 
seu próprio uso mesmo que ele esteja em dúvida sobre a parte do sacrifício que ele tem 
direito, ele pode usar os ìbò para seu esclarecimento. 
O sacrifício é, portanto, fundamental para a divinação de Ifá e para a religião iorubá 
como um todo. O sacrifício mantém o elo entre o cliente, o sacerdote, as divindades e os 
ancestrais, juntos num sistema de servidão e recompensa. Quando o cliente se nega a fazer 
sacrifício ele torna impossível esse sistema de ação e reação. Este cliente, portanto, comete 
uma violação do sistema de crença, uma vez que ele explorou as divindades para identificar 
seu problema e resolvê-lo, sem dar a elas a recompensa estabelecida. Logo, as divindades não 
só vão deixar de ajudá-lo como também podem até puni-lo por sua exploração descarada. 
 
 
(d) O TREINAMENTO DOS SACERDOTES DE IFÁ 
 
Na sociedade tradicional iorubá, os sacerdotes de Ifá eram os médicos, psiquiatras, 
historiadores e filósofos da comunidade à qual eles pertenciam. Portanto, não é surpresa 
nenhuma que um sistema elaborado de treinamento envolvendo tanto tempo e paciência seja 
a marca para todos que aspiram serem sacerdotes de Ifá. O resultado é que só uma pequena 
parcela das pessoas completa o árduo e longo treinamento. 
A maioria das pessoas começa seu treinamento ainda muito jovem, geralmente entre 
dez e doze anos de idade e permanece com seus mestres pelos próximos dez ou quinze anos 
após a primeira parte do seu treinamento estar completa. Na maioria dos casos, os aprendizes 
vivem com seus mestres e o ajudam em alguns trabalhos de casa e da fazenda (se o mestre-
sacerdote tiver uma fazenda) ou do seu jardim. 
O início do treinamento consiste em ensinar ao noviço como manipular o ọ̀pẹ̀lẹ̀ e os 
caroços de palmeira. O estudante aprende, nesta fase do treinamento as marcas e os nomes 
dos duzentos e cinquenta e seis Odù. Isto leva no mínimo dois ou três anos. Esta é a parte 
básica do treinamento que requer uma boa memória e muita paciência e dedicação por parte 
do aprendiz. 
Após o estudante ter se tornado um exímio conhecedor dos nomes dos Odù e suas 
marcas, ele passa a aprender passo-a-passo os poemas que pertencem a cada um deles. O 
sacerdote mestre, cita algumas linhas de um poema e o aprendiz repete igual papagaio. Deste 
modo, os poemas curtos podem ser aprendidos a cada dia enquanto que os poemas longos 
podem levar muitos dias para ser aprendidos. O aprendiz gasta muitas horas por dia treinando 
os poemas que aprendeu com seu mestre. Isto refresca a sua memória e o ajuda a saber quais 
poemas já aprendeu completamente e quais esqueceu. 
 A maior parte do treinamento dos sacerdotes de Ifá, entretanto, é informal. O 
estudante aprende muito enquanto está sentado ao lado do seu mestre assistindo como ele 
manipula os instrumentos de Ifá e como ele canta os versos de Ifá para seus clientes. O 
aprendiz às vezes ajuda seu mestre a preparar os remédios ou procura o material necessário 
para os sacrifícios. Desta maneira, o futuro sacerdote reforça seus conhecimentos a respeito 
das coisas que ele já aprendeu e aprende novos poemas e novas fórmulas medicinais. 
Outra parte importante do treinamento do sacerdote de Ifá consiste no aprendizado 
dos sacrifícios que são feitos junto com cada poema. Aqui, o estudante deve aprender detalhes 
minuciosos, tais como o nome dos materiais necessários ao sacrifício e como o material deve 
ser preparado para o sacrifício; se deve ser cozido, colocado no assentamento de uma 
divindade em particular, levado para o rio ou para a encruzilhada. 
Como foi dito acima, o estudante de Ifá aprende um pouco de medicina popular com 
seu mestre. Esta é uma parte muito importante do treinamento do sacerdote, e como será 
visto adiante, alguns sacerdotes escolhem esta área para especializarem-se na sua pós-
iniciação. Porém, mesmo antes da iniciação, o aspirante a sacerdote deve aprender alguma 
coisa sobre medicina de forma que seja capaz de curar seus clientes de doenças simples. 
Nenhum sacerdote de Ifá pode ter uma prática bem-sucedida se ele nada sabe de medicinas, já 
que muitas pessoas vão até ele a procura de ajuda para curar seus males. 
 Quando o sacerdote-mestre está satisfeito com o aprendiz e este já aprendeu bastante 
sobre as várias coisas listadas acima, ele permite que ele se inicie. A iniciação é o clímax de 
vários anos de duros estudos e é celebrada com a pompa e dignidade próprias. O futuro 
sacerdote é levado à floresta onde vários sacerdotes graduados o examinam nas diferentes 
áreas nas quais ele recebeu instruções. Eles também o aconselham a aceitar sem restrições os 
segredos e a ética de sua profissão. Ele volta da floresta como um sacerdote completo e fica 
sendo conhecido por toda a comunidade como bàbálawo (pai dos segredos da divinação). Ele 
pode estabelecer-se sozinho ou com seus companheiros. 
A iniciação, no entanto, não é o fim do treinamento do sacerdote de Ifá; para a 
educação de um verdadeiro bàbálawo é preciso toda uma vida. O treinamento pós-iniciação é 
altamente observado por todos os sacerdotes de Ifá. Esta parte do treinamento envolve 
especialização geralmente em medicina ou no aprendizado de poemas e áreas não cobertas 
pelo seu treinamento anterior. Este aspecto do treinamento muitas vezes leva o sacerdote 
para longe de sua casa. Se por exemplo, o mais famoso sacerdote de Ifá na área de medicina 
mora a cento e cinquenta quilômetros de distância de sua casa, o bàbálawo em pós-iniciação 
vai para lá e fica por alguns anos para aprender os segredos daquele ramo da medicina. 
O treinamento da pós-iniciação geralmente leva o bàbálawo para longe de sua casa e 
nestecontexto ele aprende mais sobre outras pessoas e faz amigos em lugares distantes. Isso 
dá ao sacerdote um refinamento de sua personalidade o que faz dele uma pessoa especial 
entre os seus companheiros, como uma pessoa bem informada, viajada e bem disciplinada. 
Através dos longos e sistemáticos anos de treinamento descritos acima, os sacerdotes 
de Ifá sucederam-se na transmissão dos mais importantes ingredientes do seu repertório de 
uma geração para a outra sem adulteração. Isto mostra que sociedades não letradas podem se 
desenvolver, preservar, e transmitir os seus principais conhecimentos acadêmicos, sem saber 
a arte da escrita. Os sacerdotes de Ifá podem ser considerados os intelectuais tradicionais 
deste sistema oral, e seus longos anos de treinamento os colocam fora do resto da sociedade 
como versado, paciente, dócil e humilde portador da tradição iorubá. A sobrevivência dos 
ingredientes da tradição iorubá através dos turbulentos anos daquela cultura, dependem em 
grande parte, deste grupo de disciplinados e bem informados “pais dos segredos da divinação 
de Ifá”. 
 
 
(e) O LUGAR DE IFÁ NA RELIGIÃO TRADICIONAL IORUBÁ 
 
O treinamento dos sacerdotes de Ifá e a mitologia de Ifá descritos acima dão a esta divindade 
uma posição única dentre as incontáveis divindades da religião tradicional iorubá. Uma vez 
que ele é denominado ọbarìṣà (rei das divindades) pelos sacerdotes de Ifá. Esta posição de rei 
que Ifá ocupa entre as divindades iorubás é o resultado de diversos fatores. Em primeiro lugar, 
Ifá é o porta-voz das divindades e dos ancestrais. É através da divinação de Ifá que os seres 
humanos podem se comunicar com as divindades e com os ancestrais. Sem ele e sem o sistema 
divinatório, os seres humanos teriam dificuldade de alcançar os poderes divinos e obter seu 
favorecimento nas horas de necessidade. 
Além disso, Ifá representa um ramo especial da religião iorubá por causa do seu 
aspecto intelectual e linhagem de homens acadêmicos tradicionais. Neste sentido, Ifá é mais 
que um ramo da religião iorubá. Ifá é o meio pelo qual a cultura iorubá se reforma e se 
regenera e preserva tudo que é considerado bom e memorável naquela sociedade. Ifá é a 
cultura iorubá no seu verdadeiro senso dinâmico e tradicional. Ifá é um meio pelo qual uma 
sociedade não letrada esforça-se para manter e disseminar sua própria filosofia e valores a 
despeito dos lapsos e imperfeições da memória humana na qual o sistema é baseado. 
Não é surpresa, portanto que Ifá signifique tanto para o povo iorubá. Na sociedade 
tradicional iorubá, a vida de cada homem, do nascimento até a morte é dominada e regulada 
por Ifá. Nenhum homem toma nenhuma decisão importante sem consultar o deus da 
sabedoria. Todos os importantes ritos de passagem como, cerimônia do nome, coroação de 
reis e cerimônias fúnebres, tem que ser sancionados e autenticados por Ifá, a voz das 
divindades e a sabedoria dos ancestrais. Este é o sentido dos seguintes versos: 
 
Ifá ló lóni; 
Ifá lọ lọ̀la; 
Ifá lọ lọ̀tunla pẹ̀lú ẹ̀; 
Ọ̀rúnmìlà ló nijọ mẹ rẹ̀ẹ̀rin òòṣà dá’áyé 
 
“Ifá é o senhor de hoje, 
Ifá é o senhor do amanhã; 
Ifá é o senhor de depois de amanhã; 
A Ifá pertencem todos os quatro dias criados pelas divindades na Terra” 
 
Mas, Ifá é mais que um sistema iorubá. Traços deste fascinante sistema podem ser 
encontrados em várias outras culturas da África Ocidental, principalmente entre os Edo, Igbo, 
Ewe, Fon, Nupe, Jukun, Borgu e outros grupos étnicos desta região da África. O estudo 
detalhado de Ifá e dos sistemas relacionados à divinação de Ifá entre estas culturas do oeste 
africano, ainda estão para serem explorados. O que sabemos no momento é que entre os 
iorubás, Ifá foi tão intimamente identificado com a mitologia, folclore, medicina popular, 
história, religião e sistemas de valores da cultura, que é quase sinônimo da própria cultura 
iorubá. 
 
 
 
II - OS ODÙ OU CATEGORIAS DA DIVINAÇÃO DE IFÁ 
 
 
Como mencionamos anteriormente, existem duzentas e cinquenta e seis categorias de poesia 
no corpo literário de Ifá. Cada uma destas categorias é chamada de Odù. Cada Odù como será 
visto adiante, tem sua própria assinatura e caráter. O trabalho do sacerdote de Ifá é 
reconhecer a assinatura de cada um dos Odù e a interpretação de suas características do ponto 
de vista literário, mitológico e religioso; e os iorubás acreditam que os Odù são divindades, e 
que eles como outras divindades desceram do ọ̀run na cidade de Ifẹ̀. 
Acredita-se também que os Odù foram enviados por Olódùmarè (o Deus Supremo 
iorubá) para substituir Ọ̀rúnmìlà na Terra após o retorno deste para o ọ̀run. Cada Odù tem 600 
(seiscentos) ẹsẹ (poemas) que o identificam e lhe dá um caráter distinto. É parte do 
treinamento do sacerdote de Ifá estar apto a distinguir entre os ẹsẹ aqueles que pertencem a 
cada um dos Odù sem cometer erros ou misturá-los. 
Os nomes dos duzentos e cinquenta e seis Odù são baseados em dezesseis nomes 
genéricos da onde os nomes dos Odù são derivados. Cada um destes dezesseis nomes básicos 
corresponde a um dos dezesseis padrões possíveis de divinação em um dos braços da corrente 
divinatória ou um dos lados das marcas feitas no pó divinatório. Desde que ambos, o pó 
divinatório e a corrente divinatória são lidos da direita para a esquerda, como árabe, o padrão 
do lado direito é considerado básico e é nele que os dezesseis nomes genéricos são baseados. A 
seguir temos os dezesseis padrões básicos das marcas impressas colocadas em ordem 
cronológica. 30 
 
(1) Ogbè 
 
I 
I 
I 
I 
 
(2) Ọ̀yẹ̀kú 
 
II 
II 
II 
 II 
 
 
(3) Ìwòrì 
 
II 
I 
I 
II 
 
(4) Òdí 
 
I 
II 
II 
I 
 
(5) Ìrosùn 
 
I 
I 
II 
II 
 
(6) Ọ̀wọ́nrín 
 
II 
II 
I 
I 
 
 
(7) Ọ̀bàrà 
 
I 
II 
II 
II 
 
 
(8) Ọ̀kànràn 
 
II 
II 
II 
I 
 
(9) Ògúndá 
 
I 
I 
I 
II 
 
 
(10) Ọ̀sá 
 
II 
I 
I 
I 
 
 
(11) Ìká 
 
II 
I 
II 
II 
 
(12) Òtúúrúpọ̀n 
 
II 
II 
I 
II 
 
(13) Òtúá 
 
I 
II 
I 
I 
 
(14) Ìrẹtẹ̀ 
 
I 
I 
II 
I 
 
(15) Ọ̀sẹ́ 
 
I 
II 
I 
II 
 
 
(16) Òfún 
 
II 
I 
II 
I 
 
Os duzentos e cinquenta e seis Odù derivam dos dezesseis padrões genéricos; estão 
arranjados em dois grupos. O primeiro grupo e mais importante é o Ojú Odù (principal ou 
maior). São dezesseis em número e baseados na duplicação de cada um dos dezesseis padrões 
genéricos. Portanto a palavra Èjì ou Méjì (dois) acompanha cada um dos seus nomes como 
prefixo ou sufixo. Assim nós temos Èjì Ogbè (dois padrões de Ogbè) que é uma duplicação do 
padrão (I) acima. Em outras palavras, quando se vê o mesmo padrão genérico na esquerda e na 
direita, a assinatura é de um Ojú Odù para o qual o nome Èjì + X ou X + Méjì * será escrito. A lista 
completa dos nomes dos dezesseis principais Odù em ordem de antiguidade segue abaixo: 
 
 
 
1 - Èjì Ogbè 
 
 
 
2- Ọ̀yẹ̀kú Méjì 
 
3 - Ìwòrì Méjì 
 
4 - Òdí Méjì 
 
5- Ìrosùn Méjì 
 
6 - Ọ̀wọ́nrín Méjì 
 
 7 - Ọ̀bàrà Méjì 
 
8 - Ọ̀kànràn Méjì 
 
9 - Ògúndá Méjì 
 
10 - Ọ̀sá Méjì 
 
11 - Ìká Méjì 
 
12 - Òtúúrúpọ̀n Méjì 
 
13 - Òtúá Méjì 
 
14 - Ìrẹtẹ̀ Méjì 
 
15 - Ọ̀sẹ́ Méjì 
 
16 - Òfún Méjì 
 
* Em que X é um dos padrões de 1-16 acima. 
 
O segundo grupo de Odù são chamados Ọmọ Odù (filho do Odù ou Odù júnior) ou Àmúlù 
(padrões mistos). Estes são baseados na organização com qualquer par dos dezesseis padrões 
genéricos lado a lado desde que não sejam iguais. Assim se pegarmos o padrão (1) como ponto 
de partida na direita e colocarmos qualquer um dos outros quinze na esquerda, nós teremos a 
assinatura de quinze Odù juniores diferentes. Da mesma maneira se pegarmos o padrão (2) 
como ponto de partida e arranjarmos um dos outros quinze padrões (incluindo o padrão 1) no 
seu lado esquerdo, isto nos trará a assinatura de mais quinze outros Odù. Se fizermos isto em 
cada um dos dezesseis padrões genéricos, de maneira que nenhum padrão apareça mais que 
uma vez do lado direito nós chegaremos a duzentos e quarenta Odù juniores. 
Comono caso dos dezesseis Odù principais, há uma ordem cronológica entre os Odù 
juniores. Os nomes dos trinta Odù mais velhos entre os juniores são dados abaixo em ordem de 
senioridade. 
 
 
1 - Ogbèyẹ̀kú 
 
2 - Ọ̀yẹ̀kúlogbe 
 
3 - Ogbèwẹ̀yín 
 
4 – Ìwòrìogbè 
 
5 - Ogbèdí 
 
6 - Idingbè 
 
7 - Ogbèrosùn 
 
8 - Ìrosùngbèmí 
 
9 - Ogbèhúnlé 
 
10 - Ọ̀wọ́nrínsobgè 
 
11 - Ogbèbàrà 
 
12 - Ọ̀bàràbogbè 
 
13 - Ogbèkàràn 
 
14 - Ọ̀kànrànsodè 
 
15 - Ogbèyọ́nú 
 
16 - Ògúndábèdé 
 
17 - Ogbèríkúsá 
 
18- Ọ̀sálogbè 
 
19 - Ogbèkárelé 
 
20 - Ìkágbémí 
 
21 - Ogbètọ́mọpọ̀n 
 
22 - Òtúúrúpọ̀ngbè 
 
23 - Ogbèalárá 
 
24 - Òtúáorikọ̀ 
 
25 - Ogbèatẹ̀ 
 
26 - Ìrẹntẹgbè 
 
27 - Obgèsẹ́ 
 
28 - Ọ̀sẹ́ogbè 
 
29 – Ogbèfún 
 
30 - Òfúnnagbè 
 
Cada um dos duzentos e cinquenta e seis Odù tem uma característica específica 
associada a ele. Por exemplo, Èjì Ogbè, o primeiro e mais importante Odù, acredita-se que 
significa boa sorte, enquanto que Ìrẹtẹ̀ Méjì o décimo quarto Odù, significa morte. O décimo 
terceiro Odù, Òtúá Méjì por outro lado, conta a história do Islã e a introdução daquela religião 
no território iorubá. 31 A maioria dos poemas em cada Odù contém histórias relacionadas ao 
caráter ou tema do Odù referido. Portanto, existem duzentos e cinquenta e seis personagens 
principais no corpo literário de Ifá. Mas, existem alguns poemas em cada Odù que nada têm a 
ver com o tema principal do Odù referido. Assim, em Èjì Ogbè nem todos os poemas vão conter 
o tema de “boa sorte” e em Òtúá Méjì nem todos os poemas vão falar sobre o Islã. 
Acredita-se que cada um dos duzentos e cinquenta e seis Odù contém relação com uma 
das divindades. O Odù que se relaciona a uma divindade em particular, diz-se que pertence 
àquela divindade. Isso significa que os mitos daquela divindade estão contidos no seu Odù, de 
forma que muitos poemas naquele Odù vão conter histórias sobre aquela divindade. Além 
disso, quando a assinatura do Odù que pertence a uma divindade em particular aparece, será 
dito ao cliente que ofereça sacrifícios àquela divindade. Portanto, quando a assinatura de 
Ògúndá Méjì, o nono Odù, que se acredita pertencer a Ògún (a divindade da guerra e da caça) é 
encontrada, o cliente deve oferecer sacrifícios a Ògún. A crença do sacerdote de Ifá e do seu 
cliente é a de que Ògún ajudará o cliente a resolver seus problemas, desde que o cliente realize 
o sacrifício prescrito. 
Pode-se dizer que o Odù ajuda a dar sentido e esclarecimento aos milhares de poemas 
(256 x 600) que se acredita existirem no corpo literário de Ifá. Sem o Odù seria difícil 
categorizar os importantes temas encontrados nesses numerosos poemas. Além disso, 
ligando-se cada Odù a uma divindade particular a coleção de escritos fica mais próxima da 
religião iorubá e do sistema de crenças de tal modo que cada divindade do elaborado panteão 
da mitologia iorubá pode então falar ao cliente através do Odù que lhe pertence. Isto, então, 
revela um lugar para cada divindade no corpo literário de Ifá, fazendo de Ifá a voz das 
divindades. 
 
 
III - OS ẸSẸ OU POEMAS DO CORPO LITERÁRIO DE IFÁ 
 
 
(a) A ESTRUTURA DOS ẸSẸ IFÁ32 
 
Conforme mencionado, cada Odù contém muitos poemas conhecidos pelos iorubás 
como ẹsẹ. Alguns destes poemas são longos enquanto que outros são muito curtos. Porém, 
sendo longos ou curtos, existe uma sequência lógica na organização, nos elementos de cada 
poema de Ifá. Este arranjo sequencial dos elementos é o que eu denomino estrutura. 
Cada poema de Ifá tem um máximo de oito e um mínimo de quatro partes estruturais. 
Os poemas que têm quatro partes são geralmente curtos e estereotipados. Eles são 
denominados pelos sacerdotes de Ifá de “Ifá Kéékèèkéé” (pequenos poemas de Ifá). Eles são na 
realidade formas encurtadas de poemas mais longos. A maioria dos versos encontrados no 
corpo literário de Ifá, entretanto, tem mais que quatro partes estruturais. Entre este grande 
grupo de poemas, que têm mais de quatro partes, existem alguns em cujas partes IV-VI foram 
incomumente alongadas. Este tipo de poema é conhecido como “Ifá Nláálá” 33 (poemas longos 
de Ifá). 
Todo ẹsẹ Ifá inicia-se com uma apresentação do nome do sacerdote(s) de Ifá que é tido 
como aquele que no passado efetuou a divinação que forma a matéria do poema. Estes nomes 
são apelidos ou nomes de louvor dos sacerdotes. Esta primeira parte (I) da estrutura do ẹsẹ Ifá 
é muito observada pelos sacerdotes, uma vez que sem evocar os nomes destas autoridades do 
passado, o poema fica destituído de sua importância mítica. Esta parte do verso de Ifá, 
portanto dá autenticidade a cada poema como um acontecimento verdadeiro que ocorreu no 
passado. 
 Os nomes mencionados na parte (I) podem não ser nomes de ser humano. Eles podem 
ser nomes de animais ou plantas que são, para os propósitos da história, no poema referido, 
personificados como se fossem capazes de narrar uma história coerente que será compatível 
com a totalidade do poema de Ifá. Então, quando os sacerdotes se referem aos nomes 
encontrados nesta parte do poema, como nome de sacerdote do passado, nós podemos 
entender seu clamor como verdadeiro, mas só no sentido espiritual ou simbólico. 
A parte (II) da estrutura do poema menciona o nome(s) do cliente(s) para quem os 
divinadores em (I) acima fizeram divinação. O cliente mencionado aqui pode ser uma pessoa 
ou uma comunidade inteira. Como na parte (I) acima, estes nomes de clientes podem ser 
nomes reais (históricos) ou míticos de pessoas ou lugares. Mas, uma vez que o sacerdote de Ifá 
acredita serão estes nomes de pessoas ou lugares, nomes verdadeiros, esta parte do poema de 
Ifá fortifica a autenticidade aclamada pelo sacerdote para o seu repertório. 
A terceira parte (III) do poema de Ifá menciona a razão ou ocasião da divinação 
passada, em questão. Esta posição do repertório do sacerdote trata do motivo da divinação 
passada engrandecendo o valor mítico do poema. 
A quarta parte (IV) dos poemas nos diz o que o cliente, na divinação passada, teve que 
fazer. Esta seção geralmente inclui alguns detalhes como os sacrifícios, tabus e conselhos que 
o cliente foi aconselhado a seguir. Além disso, a lista das coisas para o sacrifício pode estar 
citada. Esta seção do poema refresca a memória do sacerdote de Ifá sobre que tipo de sacrifício 
ele deve prescrever para o seu cliente e que conselhos deve dar. 
Além disso, esta parte justifica o sacerdote quando ele lista, para seu cliente, os 
sacrifícios que ele terá que fazer, e o reconhecimento do cliente de que estes sacrifícios foram 
oferecidos por outras pessoas, o faz acreditar na eficácia do mesmo. 
A parte (V) trata de esclarecer se o cliente seguiu ou não o conselho que lhe foi dado 
em (IV) acima. Por exemplo, o cliente fez o sacrifício prescrito? Até que ponto ele observou os 
conselhos dados pelo sacerdote. É necessário esclarecer todos esses detalhes aqui para 
justificar o resultado da divinação em (VI) abaixo. 
A parte (VI) nos fala do resultado da divinação, por exemplo, se o cliente fez o 
sacrifício e fez todas as outras coisas que lhe foram indicadas, o que foi que aconteceu com 
ele? Ele alcançou seu propósito, como colocado em (III) acima? O que geralmente acontece é 
que se o sacerdote de Ifá fez o sacrifício e observou todos os outros detalhes, esta parte do 
poema irá mostrar que ele conseguiu seu objetivo, mas se falhou com o sacrifício ele não 
alcançará o que originalmente ele pretendia. Esta parte do poema de Ifá, mostra em exemplo 
concreto para as pessoas das consequências de negligenciar o sacrifício e que resposta pode 
esperar aquele que fez o sacrifício. 
A parte (VII) nos mostra a reação do sacerdote de Ifá ao desfecho da divinação. Assim, 
se o resultado da divinação em (VI) é favorável ao cliente, ele irá reagir com alegria, mas se for 
desfavorável, sua reação será de arrependimento. Esta parte da estrutura do poema é 
importante porque nos mostra a avaliação do cliente quantoa sua própria ação e fortalece 
nossa crença na necessidade da pessoa fazer o sacrifício. 
A parte (VIII) é apresentada em forma de conclusão para a história inteira. Esta parte 
do poema pode ressaltar o tema da história ou mencionar a importância do sacrifício. De certo 
modo, esta parte é a avaliação do sacerdote de Ifá daquilo que ele considera importante ou 
memorável na história como um todo. Daí, a parte (VII) ser geralmente apresentada em 
termos didáticos. 
O que se viu até aqui é que a poesia de Ifá é um tipo de poesia “histórica”.34 Todo 
poema de Ifá é uma tentativa de narrar, através da estrutura peculiar da poesia divinatória, 
coisas que o sacerdote de Ifá foi ensinado a acreditar, que aconteceram deveras no passado. 
Narrando estas histórias do passado, o sacerdote de Ifá acredita que seu cliente pode 
detectar situações semelhantes às dele mesmo e advertir sua própria pessoa do melhor a ser 
feito à luz da história passada que ele ouviu do sacerdote. A poesia divinatória de Ifá é tida 
como um registro das atividades das divindades e dos ancestrais na terra. Numa cultura cuja 
estrutura política e social é baseada em divindades, nos reis e na sabedoria dos mais velhos, 
tais atividades passadas são muito valorizadas e respeitadas por todos. 
Todas as partes dos versos descritas acima poderiam ser cantadas ou recitadas pelo 
sacerdote durante a divinação. A parte (VIII) é invariavelmente apresentada em forma 
cantada. Esta parte pode ser cantada mesmo pelo cliente ou pelo estudante do sacerdote 
maior presente durante a divinação. 
Enquanto está cantando ou recitando qualquer poema de Ifá, o sacerdote tenta ficar 
tão perto quanto possível das partes originais (I-III) e da parte (VIII) como lhe foram passadas 
por seu sacerdote-mestre. Ele não está autorizado a acrescentar suas próprias palavras ou 
subtrair qualquer coisa desta parte do repertório. Ele é, entretanto, livre para usar sua própria 
linguagem enquanto apresenta as partes (IV-VII), tanto quanto ele estiver consciente da 
trama principal, bem como das características da história como um todo e mantiver o tema 
original. Assim, enquanto o sacerdote de Ifá não tem permissão para inovar em certas partes 
do seu repertório, ele tem permissão de, até certo ponto, criar em outras. 
 Os versos curtos de Ifá (Ifá Kéékèèkéé) mencionados acima, geralmente têm quatro 
partes, a saber: (I), (II), (III) e (VIII). Todos os outros versos usam todas ou algumas das oito 
partes estruturais vistas acima. Porém, praticamente todos os versos de Ifá contêm as partes 
(I-III), bem como a parte (VIII). Assim, no trabalho de construção da poesia divinatória de Ifá 
podemos dizer que as partes (I-III) e (VIII) são obrigatórias enquanto que as partes (IV-VII) são 
opcionais. O poema de Ifá seguinte é apresentado para mostrar um exemplo das oito partes 
estruturais da poesia divinatória de Ifá, como analisado abaixo. 
 
Parte (I) Gbó Gbónkólóyo; 
Parte (II) A díá fún ọdẹ 
Parte (III) Tí nregbó ´je, 
 Èlùjù ´je 
Parte (IV) Wọ n ní kó rúbọ àlọ 
 Kó rúbọ àbọ̀. 
Parte (V) Ó sì rúbọ 
Parte (VI) Ìgbà tó rúbọ tan. 
 Ó ṣẹ gun sí ọ̀tún, 
 Ó ṣẹ gun sí òsì. 
 Ó kó ẹrú, 
 Ó sì kó ẹrú 
Parte (VII) Ó ní bẹ ẹ̀ gẹ gẹ 
 Ni àwọn awo òún n’ṣẹnu rereé pe ‘Fá. 
Parte (VIII) Ẹ ṣẹ ọdẹ ní hiin, 
 Hàà hiin, 
 Ọdẹ hiin, 
 Hàà hiin o. 35 
 
Parte (I) O sacerdote de Ifá chamado Gbónkólóyo 
Parte (II) Foi quem divinou Ifá para o Caçador. 
Parte (III) Que estava indo caçar em sete florestas e sete desertos. 
Parte (IV) Foi solicitado que ele fizesse sacrifício para segurança própria e da expedição. 
Parte (V) E ele fez sacrifício. 
Parte (VI) Após ter feito sacrifício, 
 Ele derrotou seus inimigos da direita, 
 Ele derrotou seus inimigos da esquerda. 
 Ele capturou escravos, 
 Ele reuniu muitos saques de guerra. 
Parte (VII) Ele disse que aconteceu exatamente 
 Como seu sacerdote de Ifá usou sua voz em louvor de Ifá. 
Parte (VIII) Bem-vindo Caçador aclamado 
 Bem-vindo Caçador louvado. 
 Caçador, nós te saudamos, 
 Nós te damos boas vindas com louvor. 
 
(b) OS ASPECTOS DE ESTILO NOS ẸSẸ IFÁ 
 
O Ẹsẹ Ifá é muito rico em linguagem e formas de estilo. Uma relação detalhada de todas as 
características de estilo e linguagem deste rico gênero poético não pode ser tentada aqui por 
uma questão de limitação de espaço. Aqui, será suficiente mencionar alguns dos dispositivos 
poéticos e discutir um deles. 
Algumas das mais características formas de estilo encontradas nos poemas de Ifá são: 
repetição, palavra cantada, personificação, metáfora, paralelismo e onomatopeia. Uma relação 
detalhada dos modos de ocorrência destas formas de estilo foi tentada em outro local. 36 Na 
visão do presente investigador, a repetição é a mais importante forma de estilo encontrada na 
poesia divinatória de Ifá. Uma relação detalhada desta forma de estilo segue-se agora. Existem 
cinco tipos de repetição encontrados na poesia de Ifá, a saber: (I) repetição estrutural, (II) 
repetição temática, (III) repetição linear, (IV) repetição léxica e silábica e (V) aliteração e 
assonância. Como ficará evidente nas páginas seguintes, muitas destas formas de repetição 
ocorrem frequentemente juntas. Entretanto, para que fique mais claro, cada um destes tipos 
acima será tratado separadamente. 
 
(I) Repetição estrutural 
 
Um dos casos mais comuns de ocorrência de repetição na poesia divinatória de Ifá é a 
repetição de partes da estrutura destes poemas. Conforme colocado acima, os poemas de Ifá 
têm uma estrutura em oito partes. A repetição estrutural entra no repertório do sacerdote de 
Ifá, após ele ter proferido a sétima parte do seu material. A repetição estrutural 
frequentemente envolve as partes (I), (II), (III) e algumas vezes em parte ou a totalidade das 
partes (IV), (V) e (VI) antes que o sacerdote de Ifá finalmente cante a parte (VIII). Assim, a 
repetição estrutural envolve a repetição de algumas ou de todas as seis primeiras partes (I e 
VII a VIII). 
Sempre que a repetição estrutural ocorre no poema somente as partes (I)-(III) são 
constantes; as partes (IV)-(VI) podem ou não ser incluídas num todo. Além disso, quando as 
partes (IV)-(VI) são incluídas, a estrutura gramatical das sentenças envolvidas podem ser 
mudadas com o intuito de adequar-se ao propósito de alcançar um bom canto vocal. Portanto, 
o sacerdote pode ou não repetir as partes (IV)-(VI) palavra por palavra. Isto não é surpresa, 
desde que, como dissemos antes, as partes (IV)-(VI) formem a porção dinâmica da estrutura 
do poema de Ifá, onde o sacerdote tem licença para usar sua própria linguagem. Assim, nos 
exemplos abaixo, a linha sete é excluída do material quando o sacerdote está repetindo seu 
material. 
O material seguinte mostra a repetição das partes (I)-(VI) em um poema de Ifá. 
 
Parte (I) Onikẹ kẹ logún 
 Alábàjà lọgbọ̀n, 
 Oníkolo làádọ ta. 
Parte (II) A díá fún Ọdúnmbákú 
 Tíí ṣọmọ bíbí inú Àgbọnnìrègún. 
Parte (III) Wọ n ní ó rúbọ nítorí ikú. 
 & (IV) Wọ n ní ọ fadiẹ ìrànà kan rúbọ. 
Parte (V) Ó ṣe é 
Parte (VI) Ikú ọ̀ pa á. 
Parte (VII) Ijó ní n’jó 
 Ayọ̀ ní n’yọ̀. 
 Àwọn awoo rẹ̀ n’yin ‘Fá. 
 Ó ya ẹnu kótó, 
 Orin awo lọ bọ sí i lẹ nu. 
 Ẹsẹ̀ tí ọ nà, 
 Ijó fà á. 
 . . . . . . . . . . 
Parte (I) O ní oníkẹ kẹ logún 
 Alábàjà lọgbọ̀n, 
 Oníkolo làádọ ta. 
Parte (II) A díá fún Ọdúnmbákú 
 Tíí ṣọmọ bíbí inú Àgbọnnìrègún. 
Parte (III) Wọ n ní ó rúbọ nítorí ikú. 
 & (IV) 
Part (V) Ó ṣe é 
Part (VI) Ikú ọ̀pa á. 
Part (VIII) Ọdún mbá kú, 
 Ejiẹ ti gbádiẹẹ̀ mi lọ 
 Adiẹẹ̀ mi, 
 Adiẹẹ̀ ‘rànà, 
 Tí mó fií lẹ̀, 
 Lejiẹ gbé lọ. 37 
 Parte (II) 
Havia vinte pessoas com marcas faciais kẹ kẹ . 38 
Havia trinta pessoas com marcas faciais àbàjà. 
Havia cinquenta pessoas com marcas faciais kolo. 
Parte (II) 
Foi divinado Ifá para Ọdúnmbákú,39 
Que era o filho de Àgbọnnìrègún. 
Parte (III) 
Foi solicitado que ele fizesse sacrifício para 
& (IV) prevenir morte iminente. 
Foi dito para ele oferecer sacrifício com galinha ìrànà. 40 
Parte (V) Ele fez conforme lhe disseram. 
Parte (VI) E ele não morreu. 
Parte (VII) 
Ele estava dançando, 
Ele estava alegrando-se, 
Ele louvou seu sacerdote de Ifá 
Enquanto que o seu sacerdote louvava Ifá 
Conforme ele abriu um pouco a sua boca, 
A música de Ifá nela penetrou. 
Quando ele esticou suas pernas, 
A dança as puxou. 
.............................. 
Parte (I) 
Havia vinte pessoas com marcas faciais kẹ kẹ . 
Havia trinta pessoas com marcas faciais àbàjà. 
Havia cinquenta pessoas com marcas faciais kolo. 
Parte (II) 
Foi divinado Ifá para Ọdúnmbákú, 
Que era o filho de Àgbọnnìrègún. 
Parte (III) Disseram para ele fazer sacrifício para 
& (IV) Prevenir a morte iminente. 
Parte (V) Ele fez conforme foi dito. 
Parte (VI) E ele não morreu. 
Parte (VIII) 
No ano que eu devia ter morrido, 
A morte levou minha galinha, 
Minha própria galinha. 
Minha galinha ìrànà, 
Que eu ofereci como sacrifício, 
Foi levada pela morte. 
 
 
(II) Repetição temática 
 
A repetição temática envolve a constante repetição do assunto de um poema de Ifá em 
diversas partes do mesmo como forma de ênfase. Este tipo de repetição mostra-se de forma 
destacada no “Ifá Nlánlá” (poema longo de Ifá) que é geralmente longo e separado em partes 
tanto no tema como na forma de apresentação. O valor da repetição temática neste tipo de 
poesia é, portanto, o de identificar para nós, por repetição constante, o ponto que aparece 
como mais importante para o sacerdote de Ifá no seu material, de forma que não reste 
nenhuma dúvida quanto a sua mensagem. 
A repetição temática geralmente ocorre nas partes (IV)-(VI) da estrutura do poema de 
Ifá. Conforme já mencionado, estas são as partes criativas e dinâmicas da poesia divinatória. 
 
(III) Repetição linear 
 
É de longe o mais importante tipo de repetição encontrada na poesia divinatória. Dois tipos de 
repetição linear podem ser identificados nos poemas de Ifá: completa e parcial. A repetição 
linear completa envolve a repetição de uma ou mais linhas do ẹsẹ Ifá. Este tipo de repetição é 
usado tanto para ênfase quanto para satisfazer o que este investigador descreve em outro 
local, 41 como “o fator de criação de mitos” na poesia divinatória de Ifá. Conforme o sacerdote 
aprende os versos durante seus longos anos de treinamento, e também aprende ao mesmo 
tempo, que parte de seu repertório deve ser repetido, duas, três, quatro ou mais vezes. Sempre 
que ele encontrar algum material desse tipo, ele é obrigado a repetir o verso(s) envolvido da 
maneira especificada pelos dogmas de sua crença. 
Nós achamos, portanto, que a repetição linear completa sempre envolve a repetição 
de um ou mais versos por um número qualquer de vezes, de duas a dezesseis vezes. Os versos 
repetidos podem seguir-se uns aos outros diretamente no texto ou podem estar espalhados 
entre outros versos. Portanto, os versos envolvidos podem ser repetidos a cada três, quatro, 
cinco ou dezesseis linhas. O exemplo seguinte mostra a repetição de um grupo de versos 
quinze vezes. No total, são envolvidas quarenta e cinco linhas da poesia, o que forma mais da 
metade do número total de linhas nesse poema de Ifá. 
 
 
Níbgà ẹ̀kíní 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún n’lé. 
Níbgà ẹ̀keji 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún n’lé. 
Níbgà ẹ̀kẹta 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún n’lé. 
Nígbà ẹ̀kẹrin, 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún n’lé. 
Nígbà èkaàrún, 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún n’lé. 
Nígbà ẹ̀kẹfà, 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún nlé. 
Nígbà ẹ̀keje, 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún nlé. 
Nígbà ẹ̀kẹjọ, 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún nlé. 
Nígbà ẹ̀kẹsàán, 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún nlé. 
Nígbà ẹ̀kẹwàá, 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún nlé. 
Nígbà ẹ̀kọkànlá, 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún nlé. 
Nígbà ẹ̀kẹjílá, 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún nlé. 
Nígbà ẹ̀kẹtàlá, 
Na primeira vez, 
Eu fui à casa de Óníkàámògún. 43 
Eu não achei Óníkàámògún em casa. 
Na segunda vez, 
Eu fui à casa de Óníkàámògún 
Eu não achei Óníkàámògún em casa. 
Na terceira vez, 
Eu fui à casa de Óníkàámògún 
Eu não achei Óníkàámògún em casa. 
Na quarta vez, 
Eu fui à casa de Óníkàámògún 
Eu não achei Óníkàámògún em casa. 
Na quinta vez, 
Eu fui à casa de Óníkàámògún 
Eu não achei Óníkàámògún em casa. 
Na Sexta vez, 
Eu fui à casa de Óníkàámògún 
Eu não achei Óníkàámògún em casa. 
Na sétima vez, 
Eu fui à casa de Óníkàámògún 
Eu não achei Óníkàámògún em casa. 
Na oitava vez, 
Eu fui à casa de Óníkàámògún 
Eu não achei Óníkàámògún em casa. 
Na nona vez, 
Eu fui à casa de Óníkàámògún 
Eu não achei Óníkàámògún em casa. 
Na décima vez, 
Eu fui à casa de Óníkàámògún 
Eu não achei Óníkàámògún em casa. 
Na décima primeira vez... 
 
 
Na décima segunda vez... 
 
 
Na décima terceira vez... 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún nlé. 
Nígbà ẹ̀kẹrínlá, 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún nlé. 
Nígbà ẹ̀kẹẹ̀ẹ dógún, 
Mo wọlé Óníkàámògún. 
Èmi ò bá Óníkàámògún nlé. 
Ó wáá kù dèdè. 
Kí nwọ káà kẹrìndínlógún 
Mo wáá bá Oníkàámògún, 
Ó káwọ Ifá, 
Ó fi lérí. 
Ó faṣọ àká bora...” 42 
 
 
 
Na décima quarta vez... 
 
 
Na décima quinta vez... 
 
 
Mas, apenas quando eu estava indo. 
Entrar no décimo sexto apartamento do 
palácio. 
Eu encontrei Óníkàámògún. 
Ele colocou um punhado de instrumentos 
divinatórios 
Na sua própria cabeça. 
Ele cobriu-se com roupa àká. 44 
 
A repetição linear incompleta caracteriza-se pela repetição de parte de uma ou mais linhas 
por ênfase. A repetição pode ocorrer no começo, no meio ou no final de uma linha 
relacionada. Entretanto, a linha repetida pode estar misturada a outras linhas de forma que 
teremos uma repetição incompleta em todas as alternativas, na quarta, quinta ou sexta linha. 
No exemplo seguinte, as palavras (ó) (ní) na linha 1 são repetidas na linha 4, enquanto 
que os itens (la) (jọ) (nṣ) podem ser encontrados nas linhas, 1,4 e 7. As duas primeiras palavras 
na segunda linha, (tẹ̀tẹ̀) (mọ ọ) são repetidas nas linhas, 3, 5,6,8 e 9. 
 
Ó ní àwa agba la jọ nṣegbo. 
Tẹ̀tẹ̀, mọ ọ rìn, 
Tẹ̀tẹ̀, mọ ọ yan. 
Ó ní àwaa ìjòkùn la jọ nṣọdan. 
Tẹ̀tẹ̀, mọ ọ rìn, 
Tẹ̀tẹ̀, mọ ọ yan. 
Àwaa keekéè la jọ nṣỌ̀yọ Àjàká. 
Tẹ̀tẹ̀, mọ ọ rìn, 
Tẹ̀tẹ̀, mọ ọ yan...45 
 
Ele disse que ele e agba viviam na floresta. 
Tẹ̀tẹ̀, anda por toda parte livre. 
Tẹ̀tẹ̀, anda por toda parte em paz. 
Ele disse que ele e ìjòkùn viveram no pasto. 
Tẹ̀tẹ̀, anda por toda parte livre. 
Tẹ̀tẹ̀, anda por toda parte em paz. 
Ele e tẹ̀tẹ̀ viveram em Ọ̀yọ Àjàká. 
Tẹ̀tẹ̀, anda por toda parte livre, 
Tẹ̀tẹ̀, anda por toda parte em paz. 
 
(IV) Repetição léxica e silábica 
 
A repetição léxica nos poemas de Ifá envolve a repetição apenas de palavras isoladas, 
enquanto que a repetição silábica envolve a repetição somente de sílabas isoladas. Estas 
formas de repetição podem ser usadas para ênfase, para embelezar o ritmo da poesia, ou para 
obter jogo de palavras. 
As duas formas de repetição às vezes ocorrem juntas. Os exemplos seguintes mostram 
repetição léxica e silábica nos itens marcados. 
 
Ká fẹfun tọ lé ajé, 
Ká fosùn tọ lé ìlẹ̀kẹ̀. 
Àkọ dá orí kìí gbálẹ̀ ọjà gbé sí. 
A díá fÉjì Ọ̀bàrà 
Níjó tí wọn nlọ lèé ṣèbọ suru suru 
Nílé Ọlọ fin. 
Èjì Ọ̀bàrà ká orí, 
Ọ́ tẹ̀ ẹ mọ yẹ̀. 
Ó ní òún le rire 
Nílé Ọlọ fin báyìí? 46 
 
Pintemos a casa do dinheirocom giz, 
Pintemos a casa das pedras preciosas com osùn. 
O primeiro orí a ser criado não está na parte dos fundos do mercado sem sorte. 
Foi divinado Ifá para Èjì Ọ̀bàrà. 
No dia em que eles estavam indo oferecer sacrifício 
No palácio de Ọlọ fin. 
Èjì Ọ̀bàrà colocou os instrumentos de divinação na cabeça, 
E imprimiu Ifá no pó divinatório. 
Ele perguntou se iria tornar-se próspero 
Na casa de Ọlọ fin. 
 
A palavra (ká) na primeira linha do texto iorubá acima é repetida nas linhas 2 e 7, enquanto 
que a palavra (tọ lé) ocorre nas linhas 1 e 2. A palavra (orí), na linha 3 é repetida na linha 7. A 
terceira pessoa do singular (ó) na linha 8 ocorre em posição idêntica na linha 9. A sílaba (lẹ̀) em 
(ìlẹ̀kẹ̀) na linha 2 é repetida em (gbálẹ̀) , linha 3. A sílaba (lọ) em (nlọ) na linha 5 ocorre também 
em Ọlọ fin. Nas linhas 5 e 6 destaca-se a sílaba (ní) em (nílé) e (níjó). 
 
(V) Aliteração e assonância 
 
Alguns tipos de repetição discutidos acima com frequência envolvem consoantes e vogais. 
Aliteração e assonância podem, entretanto, ocorrer em posições onde as outras formas de 
repetição discutidas acima estão ausentes. Estas duas formas de repetição enriquecem o ritmo 
da parte do verso de Ifá onde elas ocorrem. Ainda mais, as consoantes e vogais repetidas dão 
proeminência às sílabas e palavras das quais elas tomam parte e podem, portanto, servir para 
enfatizar esses itens léxicos. 
Nos exemplos dados acima sobre repetição léxica e silábica, a fricativa muda lábio- 
dental (f) ocorre duas vezes na mesma palavra fẹfun (linha 1) e uma vez na palavra fosùn (linha 
2). A mesma consoante pode ser achada no nome pessoal Ọlọ fin (linha 6) e em fÉjì ( linha 4). Na 
linha 3, a consoante vocal lábio-velar (gb) ocorre em gbálẹ̀ e em gbé (linha 3). 
Os exemplos seguintes mostram o uso da assonância nos versos de Ifá. 
 
Ìji kìí jà, 
Kó gbódó. 
Ìji kìí já, 
Kọ gbọ lọ ...47 
 
O remoinho de vento não sopra 
Mas, leva embora o pilão. 
O remoinho de vento não sopra, 
E leva para longe a pedra de mó. 
 
Neste exemplo acima existe uma concentração deliberada de sons de (i) nas linhas I e II, sons 
de (ó) nas linhas 2, e (ọ) na linha 4. 
 
 
(c) O CONTEÚDO DOS ẸSẸ IFÁ 
 
Conforme já foi mencionado, o poema de Ifá é uma tentativa de um povo não letrado, de 
preservar e disseminar os ingredientes de sua própria cultura. Os iorubás têm estes versos 
como um repositório de sua cultura. Eles acreditam que os versos de Ifá contêm a sabedoria 
acumulada de seus ancestrais através da história. Os ẹsẹ Ifá, portanto, contém tudo que é 
considerado memorável na cultura iorubá através dos tempos. 
Não é de surpreender, que o conteúdo dos poemas de Ifá cubra toda a extensão da 
cultura iorubá. Nas páginas seguintes nós identificaremos e discutiremos alguns dos mais 
importantes temas encontrados na poesia divinatória de Ifá. 
Os iorubás consideram os ẹsẹ Ifá como uma coleção de poemas históricos nos quais os 
fatos “verdadeiros” da cultura são preservados. Uma avaliação dos versos como fonte de 
evidência histórica já foi tentada em outro local 48 pelo presente investigador que declarou 
que os poemas divinatórios de Ifá contêm importantes alusões a fatos históricos da cultura 
iorubá. O historiador deve, no entanto, encontrar corroboração para estes fatos em outro local 
da história oral da cultura iorubá ou comparando diferentes versões da mesma história 
contada por diversos divinadores. Os versos de Ifá são especialmente importantes como parte 
da informação sobre a história da cultura iorubá que é geralmente negligenciada pelos cultos 
historiadores ocidentais, que estão mais interessados na história política e econômica. 
Os ẹsẹ Ifá são a nossa principal fonte de informação sobre mitologia iorubá. Como já 
mencionamos, existem alguns Odù, cujas histórias contêm os mitos de algumas divindades. 
Por exemplo, Ọ̀kànràn Méjì contém os mitos de Ṣàngó, enquanto que Ògúndá Méjì contém os 
mitos de Ògún. Estes Odù nos falam sobre a vida destas divindades, quando elas estavam aqui 
na terra, sua relação com as outras divindades e sua importância para a cultura tradicional 
iorubá. As divindades são pintadas nos versos de Ifá como forças benevolentes, que estão 
sempre prontas a ajudar o homem a resolver seus problemas. As divindades representam 
ordem, autoridade, disciplina e a perpetuação dos valores da cultura iorubá. Eles ficam, 
entretanto, algumas vezes, zangados com os homens quando eles vão contra as regras dos 
valores morais divinamente sancionados. Mas, geralmente a poesia de Ifá se apresenta a nós 
como uma coleção de mitos que mostra as divindades iorubás como amigas do homem. 
Os poemas divinatórios de Ifá também nos falam dos conflitos entre as divindades e os 
Ajogun, um nome coletivo usado para descrever as forças do mal. Entre estas forças estão: Ikú 
(morte), Àrùn (doença), Òfò (perda), Èpè (maldição), Ẹ̀gbà (paralisia), Ọ̀ràn (problema), Èwọ̀n 
(prisão), e Eṣe (aflição). Estas oito coisas que os seres humanos temem são personificadas nos 
poemas de Ifá como poderes sobrenaturais cuja função principal é negar os desejos das 
divindades e dos ancestrais de enriquecer a vida humana. O plano dos ajogun, sobre os seres 
humanos é ver sua ruína completa, eles estão sempre em conflito com as divindades cuja 
função é a proteção dos seres humanos. Muitos poemas de Ifá tratam dos inevitáveis conflitos 
entre estes dois grupos de poderes sobrenaturais sobre os interesses humanos. 
Outro importante aspecto do conflito entre os “maus” e os “bons” poderes 
sobrenaturais é a luta entre as divindades e àjẹ (as feiticeiras). As àjẹ são também conhecidas 
nos versos de Ifá como: ẹlẹ yẹ ou eníyán, estão ao lado dos ajogun neste eterno conflito. Um 
poema de Ifá diz que foi o próprio Olódùmarè, que deu a àjẹ seus poderes maléficos. Portanto, 
contra as maquinações do mal de àjẹ , os seres humanos têm pouca proteção, até mesmo das 
divindades pois elas mesmas são muitas vezes molestadas pelas feiticeiras. 
Quando uma pessoa é atormentada por àjẹ é encorajada a chamar seu próprio Orí 
(divindade pessoal que determina o destino humano). Cada indivíduo tem o seu próprio Orí 
(literalmente significa cabeça) que ele escolhe para si mesmo pouco antes de deixar o ọ̀run 
(céu) para vir a terra. As pessoas, que escolheram uma boa cabeça, se trabalharem duro e 
fizerem os sacrifícios estipulados para elas, serão bem sucedidas e não serão subjugados pelos 
ajogun e por àjẹ . Porém, aqueles que escolheram um mau orí para si no ọ̀run estão sentenciados 
a falhar na vida exceto se puderem fazer sacrifícios suficientes e trabalharem duro. O 
conteúdo de muitos versos de Ifá trata deste interessante conceito de predestinação que 
forma um importante aspecto do sistema de crenças iorubás. 
Os Ẹsẹ Ifá também contém crenças iorubás em relação ao ẹbọ (sacrifício). Quase todo 
poema de Ifá contém na parte (IV) da sua estrutura, estímulos para que o cliente faça o 
sacrifício. É compulsório a todos os indivíduos fazer sacrifício, não importando se o Orí que ele 
escolheu no ọ̀run seja bom ou ruim. As divindades não irão auxiliar alguém que se recusa fazer 
sacrifício, uma vez que este é a sua única recompensa para o seu incessante olhar sobre a vida 
humana. Para aqueles que escolheram um orí ruim, o sacrifício é particularmente importante 
uma vez que é o único elemento que pode reparar sua escolha mal sucedida. Portanto, o 
sacrifício é apresentado na poesia de Ifá como o meio pelo qual o homem faz as pazes com as 
divindades e melhora os defeitos inerentes a sua própria pessoa. 
Além disso, nos poemas de Ifá, o sacrifício é descrito como um meio através do qual o 
homem usa materiais em troca de sua própria vida. Assim, nós vemos em muitos poemas que 
quando coisas materiais são oferecidas aos ajogun em forma de sacrifício, eles pegam estas 
coisas e deixam o suplicante intocado. O sacrifício é, portanto, um meio pelo qual o homem 
pode influenciar os poderes sobrenaturais de modo que o poder do “bem” pode cooperar

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