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1 Sistema Respiratório Profa. Dra. Izabela Ferreira Gontijo de Amorim MORFOLOGIA e MECANISMOS DE DEFESA O sistema respiratório compreende dois pulmões e uma sequência de vias aéreas que possibilitam o trânsito do ar do ambiente externo para dentro dos pulmões, assim como, o trânsito reverso. No parênquima pulmonar ocorrem as trocas de O2, presente no lúmen alveolar, com o CO2 do sangue circulante. O sistema respiratório pode ser classificado segundo sua morfologia ou segundo sua função. Considerando sua morfologia, é classificado em superior e inferior. O sistema respiratório superior, ou vias aéreas superiores, compreende a cavidade nasal, faringe – nasofaringe, orofaringe, laringofaringe e laringe; ao passo que, o sistema respiratório inferior compreende a traqueia, brônquios, bronquíolos e pulmão. A classificação quanto à função é baseada em seu papel inerente e compreende, dessa forma, as chamadas porções condutoras: extrapulmonar e intrapulmonar e a chamada porção respiratória - parênquima pulmonar. As porções condutoras extrapulmonares são: a cavidade nasal, faringe - nasofaringe, orofaringe, laringofaringe, laringe, traqueia e brônquios primários; as porções condutoras intrapulmonares são: brônquios secundários, brônquios terciários e bronquíolos propriamente ditos; ao passo que, a porção respiratória compreende: os bronquíolos respiratórios, ductos alveolares, sacos alveolares e alvéolos pulmonares, que representam o parênquima pulmonar. A ligação direta, que esse sistema permite, entre o meio externo e o parênquima pulmonar (alvéolos) possibilita um universo de possibilidade que desafiam constantemente o equilíbrio desse sistema. Inúmeros são os desafios, tais como: poeira; esporos de fungos; pólen; produtos de combustão; microrganismos; gases tóxicos como o gás sulfídrico (H2S) e amônia (NH3). Nesse contexto, torna-se importante que mecanismos de defesa estejam presentes para a manutenção da homeostase do sistema. Como elementos que compõem esse mecanismo podem ser citados: 1. Epitélio respiratório (epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado) o epitélio respiratório (Figura 01), presente em parte da cavidade nasal e ao longo da faringe até bronquíolos secundários, é composto por seis diferentes tipos celulares. As células que constituem esse epitélio são: células cilíndricas ciladas – apresentam cílios e microvilos em sua membrana plasmática apical; células caliciformes – produzem mucinogênio, que quando se torna hidratado é chamado de mucina; células basais – relativamente indiferenciadas, sendo chamadas de células tronco, possuem a capacidade de se replicar e substituir as células cilíndricas ciliadas e células caliciformes; células em escova – função pouco conhecida, sendo que alguns autores postulam sobre seu papel sensorial, enquanto outros acreditam que sejam células caliciformes que liberaram seus grânulos; células serosas – produção de material eletro-denso seroso; células do sistema neuroendócrino difuso (SNED) – apresentam delicados prolongamentos que se estendem até o lúmen das vias aéreas, com função de monitorar os níveis 2 de O2 e CO2 associado à produção de agentes farmacológicos (aminas, acetilcolina e trifosfato de adenosina). A grande importância desse epitélio se fundamenta na produção de mucina e no batimento ciliar, que possibilitam a eliminação de materiais adsorvidos no sentido da faringe. Esse deslocamento ascendente de partículas físicas, biológicas ou de gases hidrossolúveis, a uma velocidade de 10 a 20 mm por minuto, é chamado de movimento muco-ciliar, escada muco-ciliar ou clearance muco-ciliar. Figura 1 – Epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado - traqueia (H.E) E: epitélio, GC: células caliciformes, VS: vaso sanguíneo, N: núcleo, TC: tecido conjuntivo, LT: luz da traqueia, CC: células cilíndricas ciliadas. Fonte: http://www.pucrs.br 2. Tecido linfoide associado à mucosa/ tecido linfoide associado aos brônquios (BALT) ao longo da mucosa (lâmina própria) e sub-mucosa das porções condutoras extrapulmonares e intrapulmonares existe, de forma espaçada, um aglomerado linfoide composto por linfócitos B e T. Nesses locais ocorre, a partir de um estímulo inicial, a produção das imunoglobulinas A (IgA) – principal imunoglobulina produzida – além de IgG e IgM que são difundidas, através do lençol muco-ciliar, até os bronquíolos respiratório. Essas imunoglobulinas são importantes na opsonização de microrganismos o que facilita sua posterior fagocitose pelos macrófagos. 3. Macrófagos os macrófagos alveolares são células mononucleares, que procedem do sangue como monócitos, e se direcionam para o parênquima pulmonar, podendo se localizar nos septos alveolares (macrófagos intersticiais) e/ou no lúmen alveolar (macrófagos alveolares). Os macrófagos alveolares apresentam elevada taxa de 3 renovação, elevada capacidade fagocítica e são posteriormente eliminados tanto pelo clearance muco-ciliar quanto por drenagem linfática. Além desses macrófagos, existem aqueles que se dispõem no espaço intravascular, com particular importância na remoção de bactérias circulantes e outras partículas do sangue; são observados, principalmente em ruminantes, suínos, equinos e gatos. 4. Reflexo de tosse o reflexo da tosse é promovido para que o excesso de secreções e exsudatos inflamatórios, provenientes dos pulmões e vias aéreas maiores, possam ser eliminados por expectoração ou deglutição. CAVIDADE NASAL E SEIOS PARANASAIS Figura 2: Figura ilustrativa da cavidade nasal de cão e equino. Fonte: http://www.merckmanuals.com/pethealth/dog Anomalias do desenvolvimento Fenda palatina (Palatosquise) A formação da fenda palatina, ou palatosquise, é induzida no período de fechamento do palato pela não movimentação adequada da língua. A sua indução foi descrita entre 35 e 41 dias de gestação em caprinos, ovinos e suínos e de 40 a 50 dias em vacas que ingeriram plantas teratogênicas. Rebanhos endogâmicos também apresentam maior frequência dessa anomalia. A comunicação entre o vestíbulo nasal e a cavidade oral predispõem a aspiração de alimentos e consequente pneumonia aspirativa. Alterações circulatórias A mucosa nasal se divide em dois tipos principais: a respiratória e a olfatória. As principais funções da mucosa respiratória incluem a umidificação do ar inalado e retenção de 4 partículas físicas, biológicas e de gases hidrossolúveis. Para exercer tal função, essa mucosa apresenta grande quantidade de vasos sanguíneos, que atuam no aquecimento do ar inspirado, e de glândulas mucosas. A mucosa olfatória está situada na área do corneto superior, é fina e amarelada. Apresenta neurônios bipolares, junto ao epitélio, que recebem os estímulos olfatórios levados ao córtex cerebral para interpretação. Considerando tal função é normal que a mucosa se apresente hiperemiada. Entretanto, a adequada inspeção de região deve excluir eventuais áreas de erosão (perda parcial do epitélio sem expor o tecido conjuntivo subjacente) e ulceração (perda do epitélio com exposição do tecido conjuntivo subjacente). Rinite Todo o processo inflamatório da mucosa nasal é chamado de rinite. Nesse processo inflamatório verifica-se, em quantidade variável, rinorréia – hipersecreção de glândulas e células caliciformes; obstrução nasal; prurido; espirros com perturbação do estado geral do animal, comprometendo assim sua qualidade de vida. Normalmente, a flora microbiana não patogênica protege esse microambiente através da chamada, exclusão competitiva, e somado a isso o epitélio respiratório, por ação do lençol mucociliar, possibilita a remoção das partículas adsorvidas em direção à laringe, para eliminação por deglutição. Entretanto, o processo inflamatório infeccioso se instala quando o desafio supera a capacidade de proteção, comopode ser verificado: na presença de bactérias patogênica; em algumas viroses – que promovem a destruição celular ou quando o animal apresenta um estado de imunossupressão – terapia prolongada com corticoides. As rinites podem ser classificadas quanto ao curso clínico de duração em aguda, sub- aguda, crônica e crônico-ativa; quanto ao tipo de exsudato presente (Tabela 01) em seroso, catarral, purulento, fibrinoso, fibrino-necrótico e granulomatoso, podendo haver associação de mais de um tipo; e quanto ao agente etiológico envolvido em viral, alérgica, bacteriana, micótica, parasitária. Tabela 1- Tipos de exsudatos presentes na rinite Nomenclatura Aparência do exsudato Seroso fluida, translúcida-citrino Catarral viscosa-espessa e ligeiramente turvo Purulenta viscosa, opaca com presença de células inflamatórias, principalmente neutrófilos (piócitos) e debris celulares pus Fibrinosa Pseudomembranosa – fibrina que se deposita sobre o epitélio, formando uma película, associada à presença de células inflamatórias e restos celulares. Quando retirada deixa a mucosa íntegra Fibrinonecrótica – fibrina que se deposita sobre o epitélio, formando uma película, associada à presença de células inflamatórias e restos celulares. Quando retirada observa-se mucosa ulcerada. Granulomatosa processo proliferativo com presença de um exsudato celular crônico 5 Rinite atrófica dos suínos A rinite atrófica dos suínos é uma doença infectocontagiosa, multifatorial que afeta o trato respiratório superior dos suínos, promovendo a hipotrofia e atrofia das conchas nasais (cornetos nasais), desvio do septo nasal e deformidade do focinho. Apresenta evolução progressiva e crônica. Os principais agentes primários envolvidos na instalação dessa lesão são a Bordetella bronchiseptica e a Pasteurella multocida (tipo capsular D). Esses agentes bacterianos agem em sinergismo; entretanto sabe-se que a P. multocida agrava a lesões promovidas pela B. bronchiseptica o que configura o quadro de rinite atrófica progressiva. Essa duas bactérias, gram-negativas, são capazes de colonizar a mucosa da cavidade nasal, se replicar e produzir toxinas dermonecróticas. Além disso, citotoxinas potentes inibem a atividade osteoblástica e promovem a reabsorção osteoclástica nos ossos nasais, particularmente nos cornetos ventrais; promovendo, dessa forma, a destruição dos ossos da concha nasal. Leitões que não tiveram acesso ao colostro são mais susceptíveis a colonização precoce de ambas as bactérias e outros fatores de risco incluem: o estresse nutricional; superlotação de galpões; quantidade excessiva de gás carbônico e amônia; amplitude térmica acima de 8°C e umidade relativa abaixo de 65% ou acima de 73%. A transmissão ocorre de animal para animal ou através de aerossóis, acometendo principalmente leitões de poucas semanas. Os sinais clínicos observados são espirros, corrimento ocular, descarga nasal serosa ou mucopurulenta, desvio do septo nasal, formação de placas escuras nos cantos internos dos olhos e braquignatia superior. Descrição patológica O exame anátomo-patológico deve ser realizado a partir de exames nas conchas nasais, após cortes tranversais no focinho (na comissura dos lábios) entre o primeiro e o segundo dentes pré-molares. As lesões variam em gravidade e, geralmente, são classificadas em uma escala que varia de 0-5 (Figura 03). Lesões menores devem ser diferenciadas das variações normais observadas em cada raça. Lesões leves - atrofia discreta das turbinações ósseas ventrais da concha nasal; Lesões moderadas - são mais propensas a envolver a região dorsal da concha nasal. Lesões intensas – nos quadros extremos, as turbinações ósseas (dorsal e ventral) podem ser completamente destruídas. Desvio do septo nasal é mais comum em casos graves. Ossos nasais e faciais podem se apresentar distorcidos. Exsudato mucóide ou mucopurulento, muitas vezes, está presente nas mucosas afetadas e seios adjacentes (Figura 04 - A e B). O estudo microscópico revela geralmente substituição fibrosa das placas ósseas das conchas remanescentes. Aldair Realce 6 Diagrama de secções transversais dos focinhos de leitões Figura 3: Fonte://www.thepigsite.com/pighealth/article/312/atrophic-rhinitis-ar-progressive-disease-par Figura 4A – cavidade nasal normal, seccionada transversalmente, mostrando os cornetos normais que preenchem a maior parte da cavidade nasal e formam os meatos. Fonte: Manual Ilustrado de Inspeção Sanitária de Suínos - Reginaldo Furiatti Figura 4B - Rinite atrófica dos suínos (grau 3) – Cavidade nasal seccionada transversalmente, mostrando considerável destruição dos cornetos nasais (ventral e dorsal) com ampliação dos meatos (ventral e dorsal) ocasionada pela afecção. Fonte: Manual Ilustrado de Inspeção Sanitária de Suínos - Reginaldo Furiatti A B 7 Adenite equina - garrotilho A adenite equina, também conhecida como garrotilho, é uma doença infectocontagiosa que acomete o trato respiratório superior dos equinos. Ocasiona grandes perdas econômicas na indústria equina, seja pelo período prolongado de recuperação dos equinos e elevada morbidade, seja pelas complicações que levam a óbito. A forma de transmissão occorre por contato direto, entre os animais, ou de forma indireta, através de fômites – bebedouros, utensílios de limpeza ou insetos. Embora a adenite equina seja fatal apenas em 10% dos animais acometidos, a principal razão para o seu perigo reside na velocidade com a qual ela pode se disseminar entre os cavalos, pôneis e burros. Outra questão importante demosntrada é que cerca de 20% dos animais acometidos permanecem como portadores crônicos entre os animais saudáveis. O agente etiológico envolvido é a bactéria -hemolítica Streptococcus equi subespécie equi do grupo C de Lancefield. O S. equi subesp. equi, após alcançar a cavidade oral e/ou nasal, coloniza as tonsilas e linfonodos mandibular e retrofaríngeo localizados no trato respiratório superior (Figura 5). Esse agente apresenta vários fatores de virulência que contribuem na patogenia da enfermidade; sendo esses: a cápsula de ácido hialurônico; hialuronidase – enzima que potencializa a atividade de penetração na mucosa e difusão tecidual; estreptoquinase – enzima que ativa o plasminogênio em plasmina, que age sobre a fibrina; estreptolisina e proteína M anti-fagocítica. Inicialmente, ocorre aumento da temperatura corporal. Posteriormente, os linfonodos regionais se tornam aumentados de tamanho com edema submandibular, decorrente do comprometimento do fluxo linfático regional. Descarga nasal mucosa ou muco-purulenta são observados, assim como, tosse. Logo, o animal apresenta dificuldade de deglutição, respiração e quadro de apatia. Caso haja a formação de uma fístula, o pus liberado, altamente infeccioso, se espalha no ambiente e para outros animais. Entretanto, em aproximadamente 10% dos animais afetados pode ocorrer complicações da doença. Caso ocorra disseminação por via linfática ou hematogênica, abscessos podem se formar em vários sítios na cavidade torácica e/ou abdominal. O aumento dos linfonodos pode promover compressão dos nervos laríngeos (laringo-recurrente) resultando em hemiplegia laríngea. A formação de auto-anticorpo pode promover o quadro de púrpuras hemorrágicas. Descrição patológica Macroscopia – hiperemia da mucosa nasal e presença de exsudato mucopurulento na cavidade nasal. Linfonodos mandibular e retrofaríngeo aumentados de volume com formação de abscessos linfadenite supurativa (Figura 06). Complicações - Broncopneumonia por aspiração; - Hemiplegia laríngea compressão dos nervos laríngeos; - Empiema das bolsas guturais e dos seios paranasais as bolsas guturais são divertículosventrais das tubas de Eustáquio, com capacidade de 300mL, se localizam entre a base do crânio e a faringe; - Púrpura hemorrágica formação de complexo antígeno-anticorpo que se deposita na parede dos vasos sanguíneos promovendo vasculite e arterite. 8 Figura 5 – Representação de linfonodos de drenagem da cabeça do cavalo. Fonte: adaptado de http://www.ucd.ie/vetanat Figura 06 - A: presença de secreção muco-purulenta na cavidade nasal; B: região sub-mandibular aumentada de volume – linfoadenomegalia do submandibular; C: presença de área de necrose na região do linfonodo retrofaríngeo; D: localização da bolsa gutural (esquerda). Fonte: adaptado de ttp://www.msd-animal-health.it/ A B C D 9 BRÔNQUIOS e BRONQUÍOLOS A árvore bronquial tem seu início após o último anel traqueal, na bifurcação da traqueia que forma a carina traqueal. Anatomicamente e morfologicamente essa subdivisão progressiva agrupa dois grandes grupos: os brônquios extrapulmonares (brônquios primários) e os intrapulmonares (brônquios secundários, brônquios terciários, bronquíolos propriamente ditos, bronquíolos terminais e bronquíolos respiratórios). Os brônquios extrapulmonares, que se iniciam na bifurcação da traqueia e se estendem até a raiz do pulmão, são chamados de brônquios primários. A partir da raiz do pulmão, se ramificam para cada um dos lobos pulmonares (Figura 07), sendo agora chamados de brônquios secundários ou brônquios lobares. Esses brônquios apresentam placas irregulares de cartilagem hialina, envolvendo todo seu diâmetro, e duas camadas de músculo liso que se dispõem entre a lâmina própria e a submucosa. A imediata subdivisão formam os brônquios terciários ou brônquios segmentares, que suprem determinada área do pulmão chamada de segmento broncopulmonar. À medida que a árvore bronquial se divide progressivamente, ocorre a diminuição do número de células caliciformes e células ciliadas no epitélio respiratório; assim como o número de glândulas, presentes na lâmina própria e submucosa, e de cartilagem hialina. DIVISÃO ANATÔMICA DOS LOBOS PULMONARES NOS ANIMAIS DOMÉSTICOS Os bronquíolos propriamente ditos suprem ar para o lóbulo pulmonar e seu epitélio de revestimento varia de simples cilíndrico ciliado, com algumas células caliciformes, nos bronquíolos maiores até simples cúbico, com poucas células ciliadas, algumas células de Clara e nenhuma célula caliciforme nos bronquíolos menores. Esses segmentos não possuem glândulas, na lâmina própria e submucosa, e cartilagem. VISTA DORSAL a: Lobo cranial b: Lobo medial c: Lobo caudal d: Lobo acessório (localizado abaixo dos outros lobos e mostrado em linha pontilhada). Figura 07: Fonte: http://www.animalpatho.org 10 Bronquite A bronquite tem como definição a inflamação dos grandes brônquios (Figura 08). Seu desenvolvimento pode ser decorrente de processos correlatos no trato respiratório superior, assim como, nos bronquíolos e pulmões. Vários são os agentes etiológicos envolvidos na patogênese da bronquite. Assim, podem ser citados os vírus, bactérias, fungos, parasitos; sendo que, muita das vezes, o ambiente em que vive o animal potencializa os efeitos promovidos pelos agentes biológicos. O curso da bronquite pode ser agudo, crônico ou crônico-ativo. O tipo de exsudato presente classifica morfologicamente a bronquite em: catarral, muco-purulenta, purulenta, fibrino-purulenta e fibrinosa. Ao passo que, as consequências da bronquite irão depender do tipo de agente envolvido, assim como de sua persistência, partindo de uma total resolução do quadro, com reepitelização do epitélio respiratório, até um quadro de broncoestenose, bronquiectasia e broncopneumonia. Figura 08 – Representação ilustrativa de um brônquio normal e de um brônquio inflamado. Fonte: http://www.merckmanuals.com Traqueobronquite infecciosa dos cães A traqueobronquite infecciosa dos cães, também conhecida com “tosse dos canis” é uma doença altamente contagiosa; sendo que, as principais formas de transmissão ocorrem por contato direto entre os cães, através de secreções respiratórias – aerossóis, ou através de fômites em ambientes altamente contaminados. O sinal clínico mais evidente consiste em secreção naso-ocular purulenta; tosse seca intensa, engasgo após a tosse e algumas vezes com ânsia de vômito e intolerância aos exercícios com cianose – mudança de cor das mucosas para uma tonalidade azulada - e desmaios. A manifestação da doença é complexa e multifatorial, onde vários são os agentes etiológicos envolvidos na gênese dessa afecção com destaque para a infecção mista pela bactéria: Bordetella bronchiseptica e para os vírus da parinfluenza canina 2 (CPIV-2) e adenovírus canino 2 (CAV-2). Outros agentes infecciosos, menos importantes, são os vírus da hepatite infecciosa canina, reovírus tipo 1, herpesvírus canino, coronavírus respiratório canino e espécies de Mycoplasma. Outros fatores podem colaborar com a manifestação da bronquite, tais como: 1) exposição prolongada aos agentes irritantes – gases (NH3 e H2S) e produtos químicos de limpeza doméstica; 2) obesidade; 3) convívio com fumantes e 4) odontopatias - predispondo ao aporte bacteriano para as vias respiratórias. As manifestações macro e microscópicas irão variar de acordo com o agente envolvido podendo partir de ausência de sinais até traqueobronquite catarral a mucopurulenta, com 11 presença de excesso de muco ou exsudato mucopurulento preenchendo os brônquios. Aumento das tonsilas e dos linfonodos retrofaríngeo e traqueobrônquicos podem estar presentes. As infecções virais estão associadas à necrose focal do epitélio de revestimento traqueobrônquico; sendo que, o adenovírus tipo 2 (CAV-2) pode promover infecção da células alveolares conduzindo a um quadro de pneumonia intersticial. Esse quadro também predispõe a infecções secundárias com colonização das áreas afetadas por outros patógenos como micoplasmas e outras bactérias. Rinite e traqueobronquite mucopurulenta ou supurativa e bronquiolite supurativa ocorrem na infecção pela B. bronchiseptica. Broncoestenose A broncoestenose consiste no estreitamento da luz bronquial. A compressão bronquial, com consequente diminuição de sua luz, pode ocorrer por compressão externa ou por espessamento da parede bronquial. Quando consideramos a compressão externa podemos citar a linfoadenomegalia dos linfonodos hilares; neoplasias de crescimento lento como condromas e papilomas, assim como abcessos intra-pulmonares ou mediastinais. Por outro lado, nos quadros de alergia ou nos quadros de broncopneumonias verminóticas, o constante estímulo inflamatório pode promover a hipertrofia e hiperplasia da musculatura lisa bronquial. Bovinos, ovinos e caprinos, mantidos a pasto, podem ser acometidos por parasitos com ciclo de vida pulmonar. Esses animais adquirem os parasitos ao ingerirem o capim contaminado com suas larvas: Dictyocaulus viviparus nos bovinos (Figura 09) e Dictyocaulus filaria (Figura 10 – A e B) e Muellerius capillaris nos caprinos e ovinos. Essas atingem o pulmão através da circulação linfática e sanguínea após a penetrarem pela mucosa intestinal. No pulmão as larvas atingem o estágio adulto e começam a ovipor. O ovos eclodem dentro do hospedeiro e, após sua expectoração e ingestão, são eliminados com as fezes que vão contaminar o capim. Figura 09- Dictyocaulus viviparus em bovinos. Fonte: http://marcosveterinario.blogspot.com.br 12 Figura 10 – A - Ovinos pastejando e local sujeito à contaminação. B - Dictyocaulus filaria em ovinos. http://www.asmexcriadoresdeovinos.org/empezar/nematodosis.html Bronquiectasia A bronquiectasia consiste na dilatação anormal e permanente dos brônquios e bronquíolos (Figura 11), provocada fundamentalmente por lesõesna parede brônquica ou por má formação congênita. Surge em associação com variedade de condições, como: quadros recorrentes de bronquite e broquiolite virais e/ou bacterianas, assim como, em condições que propiciem quadros de infecção como a discenesia ciliar – anormalidades nos batimentos ciliares das células do epitélio respiratório com retenção de secreções e infecções recorrentes. A perpetuação do processo inflamatório somada ao processo de reparo tecidual, com a presença do tecido de granulação, tornam definitivas essas alterações. Figura 11 – Representação ilustrativa de um brônquio normalmente dilatado - bronquiectasia. Fonte: http://www.merckmanuals.com A doença pode ser classificada em obstrutiva e não obstrutiva. Na bronquiectasia obstrutiva ocorre obstrução, por qualquer causa, de um segmento da árvore brônquica. A obstrução da luz bronquial pode ser por aspiração de corpos estranhos; neoplasias de crescimento lento, tais como: papilomas e crondromas, e aumento dos linfonodos hilares com compressão da área adjacente. Esse quadro configura com a retenção, caudal à obstrução, de secreção mucosa e predispõe a infecções secundárias e enfraquecimento da parede bronquial. No quadro não obstrutivo encontram-se as infecções recorrentes e a discenesia ciliar. Quanto ao aspecto morfológico podemos classificar a bronquiectasia em cilíndrica e sacular. A apresentação cilíndrica ocorre quando há dilatação uniforme do seguimento bronquial ao longo de toda sua extensão, quadro esse associado, em geral, a bronquite A B 13 supurada crônica; ao passo que, na manifestação sacular há dilação focal do segmento afetado, estando associada à aspiração de corpos estranhos. Diferentemente dos brônquios normais, os brônquios anormalmente dilatados podem ser são vistos até a superfície pleural (Figura 12). A quantidade de secreção presente no interior dos brônquios pode variar de acordo com a atividade e cronicidade da doença. Quando presente (Figura 13), a luz bronquial apresenta células epiteliais descamadas, exsudato inflamatório agudo/ crônico e muco. O epitélio respiratório pode estar ulcerado, em algumas partes, associado a áreas de metaplasia escamosa e hiperplasia das células basais. A fibrose das paredes brônquicas e bronquiolares e fibrose peribronquiolar surgem em casos mais crônicos, levando a graus variáveis de obliteração sub-total ou total da luz bronquiolar. Manifestações clínicas como tosse, expectoração purulenta e hemoptises, refletindo a facilidade para a retenção de secreções com infecção secundária, e surgimento de exuberante circulação nas paredes dos brônquios dilatados podem ser evidenciadas. Figura 12 - Região cranioventral do lobo pulmonar com áreas bem demarcadas, firmes de tonalidade cinza- avermelhada. Dilatação bronquial em vários tamanhos. Fonte: http://www.animalpatho.org Figura 13 - Na superfície de corte, no interior dos brônquios (proeminentes e dilatados) observa-se material viscoso verde-amarelado – pús – Bronquiectasia. Fonte: http://www.animalpatho.org 14 PULMÕES Os pulmões dos animais domésticos podem ser classificados de acordo com sua anatomia em: 1. Tipo I – bovinos, ovinos e suínos – que possuem lobulação bem desenvolvida, com pleura espessa e bronquíolos respiratórios pouco desenvolvidos; 2. Tipo II - Cães, gatos e macacos – não possuem lobulação secundária, apresentam pleura delgada e bronquíolos respiratórios bem desenvolvidos; 3. Tipo III – Equino – lobulação incompleta e bronquíolos respiratórios pouco desenvolvidos. Alterações circulatórias Hiperemia ativa e congestão passiva A hiperemia consiste no estado de aumento do fluxo sanguíneo em determinado órgão ou território orgânico. Quanto ao mecanismo de formação ela pode ser ativa ou passiva. A hiperemia ativa, por sua vez, pode ser fisiológica ou patológica. A hiperemia ativa fisiológica ocorre quando há um aumento do metabolismo local. A hiperemia ativa patológica ocorre associada a um processo inflamatório. Durante a resposta inflamatória, ocorre a liberação de mediadores químicos da inflamação, tais como: cininas (bradicinina); prostaglandinas; histamina; óxido nítrico pelas células endoteliais que promovem a vasodilatação arteriolar e aumento do fluxo sanguíneo local. A hiperemia passiva, entretanto, difere desse quadro de vasodilatação arteriolar. No caso, ocorre aumento da pressão venosa pulmonar, com consequente congestão das vênulas e capilares, em decorrência de um comprometimento do retorno venoso. Algumas situações podem conduzir a essa alteração são: as obstruções extrínsecas de ramos venosos devido a hematomas, tumores; obstrução intrínseca por êmbolos e, principalmente, a insuficiência cardíaca esquerda ou a insuficiência cardíaca bilateral. Na insuficiência cardíaca esquerda, a pressão hidrostática intravascular, excepcionalmente elevada, conduz a congestão capilar brônquica/pulmonar e edema pulmonar clínico. Como consequência desse quadro a frequência respiratória e a profundidade da respiração se elevam, entretanto, a eficiência ventilatória diminui, com prejuízo das trocas gasosas. Em quadros crônicos, hemorragia por diapedese pode ocorrer, com passagem das hemácias através das células endoteliais e dos pneumócitos. Os macrófagos intersticiais e alveolares fagocitam essas hemácias e podem-se observar, por vezes, grânulos de hemossiderina. Descrição patológica Macroscopia – pulmões não se encontram colabados (quando ocorre a abertura da cavidade torácica), apresentam coloração vermelho-escura bilateral; mais pesados em comparação a um órgão normal e flui sangue ao corte (Figura 14). Microscopia – ramos venosos e capilares repletos de sangue, presença de hemorragia, macrófagos com hemácias e hemossiderina. Edema associado (Figura 15). 15 Figura 14 - Pulmão de galinha: hemorragia multifocal, com edema e congestão. Presença de vários focos hemorrágicos no pulmão. Todo o parênquima pulmonar apresenta-se com aspecto úmido e brilhante. Os vasos sanguíneos estão proeminentes. Fonte: http://partnersah.vet.cornell.edu/avian-atlas/search/examfinding/618 Figura 15 – Capilares repletos de sangue (100x) - A congestão dos capilares alveolares, alteração comum em animais com insuficiência cardíaca esquerda (congestão passiva) ou em processos inflamatórios do pulmão (hiperemia ativa). Fonte: http://atlas.fmv.utl.pt/ap_resp/resp_061.htm 16 Edema O edema consiste na presença de líquido, também chamado de ultrafiltrado plasmático, no interstício ou em cavidades pré-formadas do corpo. Quanto a sua constituição pode ser classificado como transudato ( < 1.020 g/dL) ou exsudato ( > 1.020 g/dL). Para entender melhor o edema é importante conhecer sobre a dinâmica dos líquidos, intravascular e do interstício, a qual é explicada pelo “Equilíbrio de Starling”. Esse equilíbrio pode ser mensurado através da fórmula matemática que considera a somatória daqueles fatores que favorecem a saída de líquido para fora do vaso subtraído dos fatores que favorecem a movimentação do líquido para dentro do capilar que resultam na chamada filtração vascular efetiva. A demonstração da fórmula consiste em: Nesse contexto, os fatores que promovem a movimentação de fluido para fora do capilar são: a pressão hidrostática capilar e a pressão oncótica intersticial; enquanto que, os fatores que promovem a entrada de fluido para dentro do capilar são a pressão hidrostática intersticial e a pressão oncótica capilar. O edema, dessa forma, irá ocorrer quando houver aumento da pressão hidrostática capilar; diminuição da pressão oncótica capilar; aumento da pressão oncótica intersticial; deficiência na drenagem linfática; assim como, nos casos de aumento da permeabilidade capilar. O aumento da pressão hidrostática capilar, no pulmão, é observado nos eventos de insuficiênciacardíaca esquerda e nas complicações iatrogênicas, em fluidoterapias mal administradas, por volume e/ou velocidade de infusão excessivos. Nessas situações, o aumento da pressão hidrostática intravascular promove a saída de líquido para o interstício pulmonar e desse para o lúmen alveolar configurando o edema. A diminuição da pressão oncótica capilar pode ser em decorrência de: diminuição da síntese, perda e/ou espoliação proteica. Nos casos de insuficiência hepática, hepatites e cirrose ocorre diminuição da síntese proteica, principalmente de albumina. As lesões nos capilares glomerulares observadas na síndrome nefrótica, leishmaniose e leptospirose estão associadas à permissividade de filtração de proteínas e configuram com o quadro de proteinúria. A espoliação é observada nos quadro de verminose intestinal. Todavia, além do edema pulmonar, outros órgãos se apresentam comprometidos, podendo ser observado o quadro de edema generalizado (anasarca). A deficiência de drenagem linfática pode ser atribuída à obstrução de vasos linfáticos ou a linfoadenopatias dos pequenos linfonodos pulmonares, localizados sobre a árvore bronquial dentro do parênquima pulmonar, linfonodos traqueobronquiais e mediastinais. O aumento da permeabilidade vascular pode ocorrer devido às lesões diretas sobre as células endoteliais como nos casos de infecções e inalação de gases tóxicos, assim como nos processo inflamatórios. Nesse caso, tanto a liberação de mediadores químicos da inflamação derivados das células (histamina, prostaglandinais) quanto à ação direta dos leucócitos, sobre as células endoteliais, promovem a modificação da permeabilidade vascular. Filtração vascular efetiva = Kf . (PHC - PHI - POC + POI) Onde Kf constante que leva em consideração o número e o tipo de capilar avaliado; PHC – pressão hidrostática capilar; PHI – pressão hidrostática intersticial; POC – pressão oncótica capilar; POI – pressão oncótica intersticial. 17 Figura 16 - A (100X), figura B (400X) - HE. Edema do pulmão - A maioria dos alvéolos pulmonares apresenta-se preenchida por material de tonalidade rósea, que representa o líquido do edema. Fonte: http://atlas.fmv.utl.pt/ap_resp/resp_064.htm Anormalidades da inflação pulmonar Atelectasia A atelectasia refere-se à expansão ou distensão incompleta dos pulmões, ou dos alvéolos pulmonares, resultando em colapso pulmonar. Pode ser congênita ou adquirida. A atelectasia congênita ocorre nos fetos abortados e nos natimortos. Nesse caso, por não ocorrer a primeira respiração do recém-nascido, o pulmão não se torna insuflado. Durante o exame necroscópico, fragmentos desse pulmão não irão flutuar quando colocados em água, confirmando a ausência de ar nos pulmões. A sustância surfactante produzida pelos pneumócito tipo II e pelas células De Clara é importante para diminuir a tensão superficial no parênquima pulmonar e permitir a adequada expansão dessas estruturas pelo ar. Dessa forma, A B Descrição patológica Macroscopia – pulmões não se retraem quando da abertura da cavidade torácica (não há colabamento pulmonar); apresentam superfície pleural lisa e brilhante; pouco crepitantes ao toque; ao corte flui líquido, sendo possível também, encontrar material líquido-espumoso quando da abertura da traqueia e brônquios (Figura 14). Microscopia – presença de material acelular, homogêneo, eosinofílico preenchendo total ou parcialmente o lúmen alveolar (Figura 16). 18 diminuição da qualidade e quantidade desse surfactante predispõe a atelectasia, quadro esse que conduz a chamada “síndrome da angústia respiratória”. A forma adquirida dessa lesão pode ser por compressão ou por obstrução (Figura 17). O aumento da pressão sobre o pulmão por preenchimento da cavidade pleural, como no: hemotórax, hidrotórax, quilotórax, empiema; assim como, elevação do diafragma por alterações abdominais variadas (timpanismo) representam situações que predispõem a atelectasia por compressão. No pneumotórax, o acúmulo de ar na cavidade torácica altera a pressão negativa pré-estabelecida; com isso também ocorre aumento da pressão sobre o pulmão. Na atelectasia por obstrução, segmentos da árvore bronquial se tornam obstruídos parcial ou totalmente, diminuindo o diâmetro e promovendo atelectasia dos segmentos à jusante a essa obstrução. Corpos estranhos, acúmulo de muco, espessamento da mucosa bronquial/ bronquiolar e inflamação são alguma das situações que possibilitam essa alteração. Figura 17 – Esquema representativo de mecanismos que conduzem a atelectasia. Na figura A saco alveolar normal, em B obstrução total do ducto alveolar e em C obstrução do saco por compressão externa. Fonte: McGavin, M. Donald e Zachary, James F no livro Bases da patologia em veterinária. Descrição patológica Macroscopia – pulmões se encontram total (pneumotórax) ou parcialmente retraídos/ colapsado. A região deprimida encontra-se mais escura do que o restante do órgão. Essa região apresenta-se hipo-crepitante (Figura 18). Microscopia – os ductos e alvéolos pulmonares perdem seu delineamento normal, tornando- se colapsados. Os septos alveolares tornam-se paralelos uns aos outros, com ausência de aeração, dando um aspecto compacto ao órgão. Obs: os bovinos e ovinos apresentam lobulação pulmonar bem desenvolvida com pouca, ou nenhuma, ventilação colateral promovida pelos poros de Kohn. Dessa forma, quando ocorre obstrução de um segmento da árvore brônquica a atelectasia obedece a um padrão lobular bem característico. 19 Figura 18 - Sarcoma de grandes dimensões do mediastino de um canídeo, cuja presença provocou atelectasia por compressão do pulmão (cabeça para a direita). O pulmão apresenta coloração escura e superfície brilhante acima da massa tumoral (estrela). Fonte: http://atlas.fmv.utl.pt/ap_resp/resp_086.htm Enfisema O enfisema consiste na dilatação permanente dos ácinos pulmonares – bronquíolo terminal e seus ramos: bronquíolos respiratórios, ductos alveolares, sacos alveolares e alvéolos – associada à destruição dos septos interalveolares. No homem essa lesão tem grande importância onde, fundamentalmente, ocorre um desequilíbrio entre proteases e anti-proteases (α1-anti-tripsina) associado a fatores ambientais, como tabagismo e poluição, que agem de forma sinérgica no estabelecimento do enfisema. Nos animais domésticos, entretanto, o enfisema primário não ocorre; sendo essa lesão secundária à obstrução da saída de ar; como observado nos casos de broncoestenose e broncopneumonia. Complexo bronquiolite-enfisema crônico - equino Estima-se que a doença pulmonar obstrutiva crônica afeta cerca de 10-20% dos cavalos adultos no hemisfério norte e em outros países de clima temperado. São muitos os sinônimos pelos quais é conhecida, entre eles: enfisema crônico, bronquite crônica, bronquiolite- enfisema-crônico e obstrução de fluxo de ar recorrente. Da mesma forma que a asma, o complexo bronquiolite-enfisema é uma doença crônica das vias respiratórias, sendo caracterizada por: obstrução variável dos brônquios, associada à hiper-responsividade e inflamação recorrente das vias aéreas. Durante a fase aguda da doença, os cavalos apresentam aumento da frequência respiratória, mesmo em repouso e intolerância aos exercícios. Os sinais clínicos são desencadeados ou agravados pela inalação de poeira presente nos estábulos, especialmente aquela associada ao feno e palha. Ademais, a inalação de pólen e outros antígenos pioram o quadro. Nessa alteração, frequentemente são encontrados neutrofilia (aumento do número de neutrófilos); associada ao incremento dos mediadores inflamatórios (endotelina, tromboxano 20 A2) e de marcadores séricos da inflamação de fase aguda (haptoglobulina e proteína SAA). A produçãode muco também se torna aumentada podendo se acumular em pequenas e grandes vias aéreas, formando “plugs” que obstruem alvéolos e bronquíolos. Embora pouco descrita, o acúmulo intenso e persistente de muco pode conduzir a obstrução grave das vias aéreas, sendo por vezes refratária à terapêutica. Figura 19 - Fragmento de pulmão obtido por toracoscopia – Figura A - Bronquíolo inflamado com muco (m) e tecido de remodelamento, músculo liso (m) e colágeno sub-epitelial (c). Figura B - Acúmulo intenso de muco (m) no interior do bronquíolo terminal (m), epitélio (e) e músculo liso (sm) (aumento de 20x). Fonte: Heaves, an asthma-like disease of horses, Respirology (2011) 16, 1027–1046. Descrição patológica Microscopia – bronquiolite crônica, com predominância de infiltrado linfo-plasmocitário na região bronquiolar e peribronquiolares. Dentro do lúmen das vias aéreas comumente são encontrados neutrófilos e restos celulares. Expansão alveolar devido ao aprisionamento de ar é comum, enquanto o verdadeiro enfisema é raramente presente. Outras características incluem hipertrofia da musculatura lisa e deposição de colágeno em torno das vias aéreas (Figura 19). Hipoplasia das células epiteliais ciliadas e estruturas ciliadas anormais são encontradas, associado à hiperplasia das células mucosas e metaplasia. A B 21 Processos inflamatórios - pneumonias As pneumonias é uma forma de infecção respiratória aguda que afeta um ou ambos os pulmões. Várias são as possibilidades de categorização das pneumonias, sendo que as mesmas podem ser classificadas considerando: o agente etiológico envolvido – pneumonia viral, bacteriana, micótica, verminótica, alérgica e química; tipo de exsudato predominante – catarral, fibrinosa, purulenta, hemorrágica, necrótica e granulomatosa; os aspectos morfológicos – pneumonia gangrenosa, proliferativa; a distribuição topográfica das lesões – focal, multifocal, difusa, lobular, intersticial, lobar e aspectos epidemiológicos – pneumonia enzoótica, contagiosa. Entretanto, fundamentalmente, a classificação se baseia no curso da infecção - super-aguda, aguda, sub-aguda e crônica; distribuição topográfica/ anatômica das lesões (nos lobos pulmonares) (Tabela 02); tipo de exsudato predominante e textura do pulmão – firme a dura, nodular, elástica. Tabela 02: Distribuição topográfica das lesões CRANIOVENTRAIS Broncopneumonias CRANIOVENTRAIS Broncopneumonia fibrino-supurativa ou pneumonia lobar ou pleuropneumonia MULTIFOCAIS Pneumonias embólicas DIFUSA Pneumonia intersticial Fonte: adaptado de http://www.animalpatho.org 22 Broncopneumonia A broncopneumonia consiste no processo inflamatório que acomete os brônquios, bronquíolos e alvéolos ocorrendo, principalmente, na junção bronquíolo-alvéolo. Sabe-se que a região bronquíolo-alveolar é particularmente propensa à instalação de processos infecciosos. Como foi dito anteriormente, à medida que a árvore bronquial se ramifica, ocorre progressivamente uma diminuição do número de células ciliadas e de células produtoras de muco, resultando na ausência da ação do lençol muco-ciliar (Figura 20); ademais essa região não apresenta macrófagos alveolares e está propensa a sedimentação gravitacional de partículas, devido à diminuição de velocidade do ar. Figura 20 – Fonte: adaptado de http://www.medscape.com/viewarticle/576208_4 A broncopneumonia representa a principal forma de pneumonia encontrada nos animais domésticos. Os agentes etiológicos envolvidos na instalação desse tipo de pneumonia atingem o pulmão por via aerógena e ou broncogênica; sendo que, em geral, as bactérias são os agentes mais importantes no estabelecimento da broncopneumonia, entretanto, podem ocorrer quadros primários de infecção viral com infecção bacteriana secundária (Tabela: 03). A broncopneumonia também pode ser consequência de aspiração de materiais como vômito, leite, mecônio. Entretanto, especialmente nos bovinos, outros fatores predispõem a instalação das broncopneumonias, tais como: vias aéreas estreitas – resistência ao fluxo de ar; caixa torácica mais rígida – ventilação torna-se mais dependente da atividade do diafragma; ausência de ventilação colateral interalveolar e interbronquiolar; lobulação pulmonar proeminente. Somado a isso, o manejo inadequado do rebanho, que inclue: superlotação, Epitélio pseudo-estratificado na parte superior das vias aéreas contém células ciliadas, células caliciformes e células basais. Na parte inferior (distal) vias, onde o epitélio é colunar, células de Clara predominam sobre as células ciliadas. Nos alvéolos (vias aéreas distais), presença de pneumócitos do tipo I e do tipo II. BADJ: ducto da junção bronco-alveolar; BASC: células-tronco bronchioalveolar; NEB: células neuroendócrinas; SMG: glândula submucosa. 23 principalmente misturando faixas etárias diferentes; transporte prolongado; ventilação ineficaz do ambiente e condições ambientais desfavoráveis, tais como: frio excessivo e elevada umidade predispõem esses animais a comprometimentos respiratórios. Tabela 03 – Principais microrganismos envolvidos nas broncopneumonias B O V IN O S Vírus Vírus sincicial respiratório bovino (VSRB); Parainfluenza tipo 3 (PI-3); Vírus da diarreia bovina (BVD); Herpesvírus tipo-1 (BHV-1) Bactérias Mannheimia haemolytica; Pasteurella multocida; Arcanobacterium pyogenes; Fusobacterium necrophorus; Salmonella sp.; Streptococcus sp.; Escherichia coli Mycoplasmas Mycoplasma dispar; Mycoplasma bovirhinis; Mycoplasma bovis Parasitos Dictyocaulus viviparus; Ascarideos C Ã ES Vírus Vírus da cinomose Bactéria Bordetella bronchiseptica; Streptococcus sp; Staphylococcus sp; Escherichia coli EQ U IN O S Bactérias Streptococcus equi subespécie Zooepidemicus; Rhodococcus equi; Klebsiela sp SU ÍN O S Vírus Vírus da peste suína clásssica Bactérias Pasteurella multocida; Bordetella bronchiseptica; Salmonella enterica sorotipo Cholerasuis Mycoplasma Mycoplasma Hyopneumoniae Fonte: Santos, Renato de Lima e Alessi, Antônio Carlos no livro patologia veterinária. Descrição patológica Macroscopia – a região afetada apresenta-se hipo-crepitante, devido ao preenchimento dos bronquíolos e alvéolos por exsudato inflamatório; portanto, dependendo da fase de evolução do processo, o fragmento da área afetada submerge quando colocado no fixador. A textura do pulmão apresenta-se firme ou dura, com aspecto consolidado (também denominado de hepatização) e, na maior parte das vezes com distribuição topográfica crânio- ventral (Figura 21 e 22). Obs: nos bovinos e ovinos, que apresentam lobulação pulmonar bem desenvolvida, frequentemente observam-se lóbulos normais ao lado de lóbulos comprometidos (consolidados) o que impõem um padro em “tabuleiro de xadrez”. A coloração pode variar de avermelhada (fase aguda) a acinzentada (fase crônica); onde o aspecto avermelhado representa a hiperemia ativa nos capilares dos septos alveolares e o aspecto acinzentado constitui o preenchimento do lúmen bronquiolar e alveolar por exsudato celular; predominantemente com leucócitos. 24 Figura 21 - Broncopneumonia supurada em suíno. C – região crânio-ventral consolidada; N – região caudal não afetada. Seta – ao corte presença de exsudato purulento na superfície consolidada. Fonte: http://people.upei.ca/lopez/04_class.pdf Figura 22 - Broncopneumonia em bovino. Observar a região crânio-ventral consolidada (estrela) com aspecto firme ao lado de região não alterada. Fonte: http://people.upei.ca/lopez/04_class.pdf Descrição patológica Microscopia – o lúmen bronquiolar e alveolar apresenta-se repleto de fluido do edema, associado à exsudato celular (neutrófilos, linfócitos, plasmócitos,eosinófilo, macrófagos) que irá de acordo com a natureza do agente etiológico e curso da infecção (Figura 23 e 24). 25 Figura 23 - Pulmão (10x) HE - Bordetellosis de leitões - presença de brônquio com exsudato inflamatório em seu interior. Observar que os alvéolos encontram-se repletos de exsudato. Fonte: http://www.animalpatho.org Figura 24 A (20x), figura B (40x) - Pulmão HE - Bordetellosis de leitões - presença de bronquíolos (seta) com exsudato inflamatório em seu interior. Observar no interior dos alvélos, exsudato celular, fuido de edema e hemácias. Na figura B – detalhe do infiltrado broquiolar e alvolar. Fonte: http://www.animalpatho.org B A 26 Pneumonia lobar A pneumonia lobar, assim como a broncopneumonia, se inicia na junção bronquíolo- alveolar, tem a via aerógena ou broncogênica como porta de entrada do agente etiológico e apresenta distribuição topográfica/ anatômica cranioventral. Portanto, alguns autores consideram a pneumonia lobar como uma broncopneumonia, de curso super-agudo a agudo (raramente com cronificação), e com elevada letalidade. Outro ponto importante na pneumonia lobar é a maior extensão das lesões, acometendo todo o lobo; sendo que, o tipo de exsudato predominante é o fibrinoso, por vezes fibrinopurulento, hemorrágico ou necrótico. Esse exsudato fibrinocelular está associado à extensa necrose do parênquima, causada pelos agentes etiológicos (Tabela 04), e também pelos fatores inflamatórios liberados pelos neutrófilos e outros tipos celulares. Tabela 04 – Principais microrganismos envolvidos na pneumonia lobar Bactérias Mannheimia (Pasteurella) haemolytica; Actinobacillus pleuropneumoniae Mycoplasma Mycoplasma mycoides; Mycoplasma bovis Descrição patológica Macroscopia – a região afetada apresenta-se hipo-crepitante, devido ao preenchimento dos bronquíolos e alvéolos por exsudato fibrinoso e celular; portanto, dependendo da fase de evolução do processo, o fragmento da área afetada submerge quando colocado no fixador. A textura do pulmão apresenta-se com aspecto consolidado/ hepatizado. A superfície pleural, em decorrência da deposição de fibrina, apresenta aspecto fosco, podendo formar placas com tonalidade variável de acordo com os elementos presentes junto à fibrina (hemácias, leucócitos). Pode ocorrer acúmulo variável de efusão pleural (Figura 25). A distribuição topográfica é cranioventral, se estendendo a todo o lobo pulmonar. A coloração pode variar de avermelhada (fase aguda) a acinzentada (fase crônica); onde o aspecto avermelhado representa a hiperemia ativa nos capilares dos septos alveolares e o aspecto acinzentado constitui o preenchimento do lúmen bronquiolar e alveolar por exsudato celular; predominantemente com leucócitos. Microscopia – o lumen bronquiolar e alveolar apresentam-se repletos de ultrafiltrado plasmático e fibrina, juntamente ao exsudato celular e debris celulares, que se estendem além dos limites de cada lóbulo. Edema dos septos alveolares, delineando os septos e áreas extensas de necrose de coagulação podem ser observadas. 27 Figura 25 - Consolidação crânio-ventral com presença de placa amarelada de fibrina na pleura. Apenas a região dorso-caudal se apresenta normal. Fonte: http://people.upei.ca/lopez/04_class.pdf Figura 26: Fonte: http://people.upei.ca/lopez/04_class.pdf Broncopneumonia fibrinosa Quadro de Febre dos trasnportes Observa-se distensão do septo interalveolar (setas) e áeras de necrose de coagulação (asterisco). 28 Pneumonia intersticial A pneumonia intersticial, também chamada de pneumonite, é caracterizada pela presença de uma alteração predominante no interstício, que compreende a região entre a membrana basal do endotélio capilar e a membrana basal do epitélio alveolar. Nessa alteração podem ser encontrados diferentes graus de inflamação, associado a processos proliferativos como a fibrose. Diferentemente da broncopneumonia e da pneumonia lobar possui a via hematógena como principal forma de acesso para a infecção – observada nos processos de sepse, coagulação intravascular disseminada, viremias e vírus endotéliotrópicos; apesar da via broncogênica também ser relatada – vírus pneumotrópicos, gases tóxicos. O curso da infecção pode ser agudo ou crônico. O espessamento da parede alveolar pode ser decorrente do influxo de células inflamatórias ou fluido de edema na região intersticial ou também por hiperplasia dos pneumócito do tipo II. Na fase crônica, a pneumonia intersticial pode progredir para a fibrose intersticial e a lesão é chamada de “alveolite fibrosante”. Descrição patológica Macroscopia – lesões distribuídas difusamente, portanto é importante associar aos achados microscópicos. Como os septos interalveolares se tornam espessados (observado na microscopia) a textura dos pulmões se “torna elástica” e ao corte lembra “carne crua”. Pulmões apresentam-se mais pesados (Figura 27 e 28). Outras consequências do espessamento do septo alveolar: Pulmões não se tornam colapsados, complacência diminuída, quando ocorre abertura da cavidade torácica; Presença de impressões das costelas na superfície pleural; Fragmento submerge quando colocado no fixador; Redução da capacidade de difusão dos volumes pulmonares - bovinos enfisema associado. Microscopia – espessamento dos septos alveolares (Figura 29 e 30). Fase aguda – presença de exsudato rico em proteínas, no espaço alveolar; membranas hialinas (fibrina + substância surfactante) que se depositam sobre o epitélio ou membrana basal. Espaço intersticial com fluido do edema e exsudato celular. Hiperplasia de pneumócito do tipo II. Fase crônica – tende a ter uma fase exsudativa menos expressiva, ao passo que se destaca a fase proliferativa com deposição de tecido conjuntivo. 29 Figura 27 - Pulmões de apresentam pesados (em torno de 2 a 3 vezes o peso normal) e não houve colabamento alveolar quando da abertura da cavidade torácica. Superfície lisa consistência “de borracha”. Fonte: http://www.animalpatho.org Figura 28 - Suíno – Circovírus tipo II - Pulmão não colapsado e com aspecto difuso avermelhado, brilhante, com sugestivo aumento da consistência. Fonte: http://www.animalpatho.org 30 Figura 29: A – Parede alveolar espessa por infiltrado inflamatório mononuclear. Os vasos capilares se encontram hiperêmicos. B – detalhe da figura A. Fonte: http://www.animalpatho.org Figura 30 - Bovino, pulmão HE - Observar espessamento da parede alveolar (setas) devido ao aumento da celularidade da parede alveolar e do interstício (asterisco). Fonte: http://people.upei.ca/lopez/04_class.pdf Cinomose A cinomose é uma importante doença viral, ocasionada pelo vírus do gênero Morbilivirus da família Paramyxoviridae. Constitui uma doença altamente contagiosa, que acomete uma série de animais como os das famílias: Canidae – cães, raposas, lobos, coiotes; Felidae – leões, tigres, leopardos, onças; Mustalidae – furões, martas; Procyonidae - guaxinim; Ursidae – urso e A B 31 panda gigante; Ailuridae – panda vermelho, dentre outras. A transmissão se dá por contato direto, através de aerossóis e/ ou fômites. Canídeos domésticos apresentam significativa mortalidade, principalmente na fase entre três a seis meses de idade, quando ocorre a diminuição dos anticorpos maternos. Entretanto, animais adultos e mais velhos, 7-9 anos, também estão propensos a desenvolver a doença. O vírus atinge o trato respiratório superior e conjuntivas, prolifera nos macrófagos teciduais, tonsilas palatinas e linfonodos regionais, torna-se virêmico e alcança vários sítios, particularmente, outros órgãos linfoides,epitélio do trato respiratório e gastrintestinal e sistema nervoso central. Como o agente etiológico da cinomose é um RNA-vírus, sua replicação ocorre no interior de células, principalmente linfócitos e células epiteliais, possibilitando a visualização de corpúsculos de inclusão intracitoplasmáticos e/ou intranucleares que são chamados de corpúsculos de Sinigaglia-Lentz – que representam agregados de nucleocapsídeos e debris celulares. A replicação viral produz linfocitólise e leucopenia, resultando em imunossupressão. Figura 31 – Presença de corpúsculo de Sinigaglia-Lentz (cinomose) no interior de neutrófilo. Fonte: http://padoclinvet.blogspot.com.br/2012/03/cinomose.html Descrição patológica Macroscopia – nasofaringite e conjuntivite serosa a catarral Pulmões com pneumonia intersticial Infecção secundária com Bordetella bronchisptica e micoplasmas pode ocorrer broncopneumonia supurativa Microscopia – espessamento dos septos alveolares. Presença de corpúsculos de Sinigaglia-Lentz corúsculo com aspecto eosinofílico, vítrio e homogêneo (Figura 31). 32 PLEURA e CAVIDADE TORÁCICA Cada pulmão é revestido por uma membrana serosa, que também delimita a metade de cavidade torácica. Esse dois folhetos, que estão em continuidade, são a pleura visceral ou pulmonar e a pleura parietal. A pleura visceral envolve o pulmão e a pleura parietal reveste a parede torácica e o diafragma, aos quais está ligada por uma lâmina de tecido conjuntivo, a fáscia endotorácica (Figura 31). Existe normalmente uma pequena quantidade de fluido (alguns mililitros) na cavidade ou espaço pleural, que atua como um lubrificante. 1. Pleura parietal porção diafragmática 2. Pleura parietal 3. Pleura parietal porção mediastinal 4. Pleura visceral 5. Músculo diafragmático 6. Pleura visceral e abaixo parênquima pulmonar Figura 31 – Desenho ilustrativo da pleura visceral e parietal Fonte: adapatado de http://www.asbestos.com/mesothelioma/staging.php Distúrbios degenerativos Calcificação pleural O excesso de vitamina D e os seus metabólitos ativos aumentam a absorção de cálcio e fósforo a partir do intestino. A absorção de cálcio, a partir do intestino, é dependente dos níveis séricos da proteína de ligação de cálcio, que em geral, encontra-se elevada na hiper- vitaminose D. O excesso de cálcio e fósforo no soro promovem a chamada calcinose, que é caracteriza por extensa mineralização dos tecidos moles. Quadro de uremia também pode resultar em calcificação de metastática (Figura 32). 33 Figura 32: mineralização pleural – presença de listras brancas lineares sobre a pleura parietal sobre os múculos intercostais. Fonte: http://www.vet.uga.edu/ivcvm/courses/VPAT5316/01_respiratorypath/08_pleura/pleura02.html Distúrbios circulatórios A efusão pleural consiste no acúmulo de qualquer fluido no espaço ou cavidade pleural, sendo, portanto um termo genérico. O encontro dessa alteração não deve ser entendido como um diagnóstico, mas sim, como um sinal clínico decorrente de alguma alteração precedente que conduz a esse quadro. Possibilidades que conduzem a essa alteração são: 1) alteração nas pressões hidrostática e ou oncótica – quadro de insuficiência cardíaca congestiva (direita) e cardiomiopatia esquerda promovem um aumento de pressão hisdrostática intravascular; ao passo que, insuficiência hepática e quadros severos de desnutrição conduzem a queda da pressão oncótica intravascular; 2 ) alterações na permeabilidade vascular e ou linfática. Características bioquímicas, citológicas e físicas classificam esse líquido pleural em: transudato; transudato modificado; exsudato assépticos; exsudato séptico; quilo e efusão hemorrágica (Tabela 05). Tabela 05– Classificação das efusões pleurais NOMENCLATURA ASPECTO CONCENTRAÇÃO DE PROTEÍNAS (g/dL) CONTAGEM DE CÉLULAS NUCLEADAS Transudato Claro/ transparente 2,5 a 3,0 g/dL < 500 a 1.000/L Transudato Modificado Turvo 3,5 g/dL Até 5.000/L Exsudato Asséptico Turvo > 3,0 g/dL > 5.000/L Neutrófilos; macrófagos; eosinófilos e linfócitos Exsudato Séptico Turvo > 3,0 g/dL 50.000 a 100.000/L Neutrófilos degenerados + bactérias Quilo Leitoso - lipídeos > 2,5 g/dL 400 a 10.000/L Efusão Hemorrágica Fluido hemorrágico Semelhante ao sangue 34 Hidrotórax O hidrotórax consiste na presença de um fluido claro, com poucas células inflamatórias, reduzida quantidade de proteína (g/dl), que não se coagula no ambiente, no espaço pleural. Essas características indicam qua ainda há preservação da permeabilidade vascular. Esse tipo de efusão pleural é chamado de transudato (Figura 33). Figura 33 - Intensa efusão pleural e hidrotórax Fonte: http://jairoserrano.com Hemotórax A presença de sangue ou efusão com sangue no espaço pleural é denominado de hemotórax (Figura 34). Traumatismos penetrantes no tórax e ruptura do parênquima pulmonar, do coração ou de grandes vasos são alguns dos exemplos que conduzem a essa alteração. O acúmulo de sangue promove a compressão do pulmão, reduzindo a capacidade de ventilação e também conduz ao quadro de choque hipovolêmico. Figura 34: Hemotórax em bovino. Fonte: http://jairoserrano.com 35 Quilotórax O extravasamento de fluido do ducto torácico é nominado de quilotórax. Essa efusão, por ser composta predominantemente por linfa, apresenta quantidade de triglicérides superior à encontrada no soro, o que garante um aspecto leitoso a esse material (Figura 35 e 36). Derrames quilosos podem resultar de extravasamento de quilo de vasos linfáticos intactos ou após perfuração do duto torácico. Obstrução do fluxo linfático geralmente promove hipertensão linfática, dilatação dos vasos linfáticos e posterior extravazamento de linfa. As causas podem ser idiopáticas, mas várias outras têm sido implicadas, incluindo as cardiomiopatias, neoplasias torácicas e do mediastino, granulomas fúngicos mediastinais, dirofilariose, anomalias linfáticas congênitas, traumas, vômitos ou tosse crônica. Figura 35: Efusão quilosa - Típico aspecto leitoso; B) aspecto avermelhado devido à presença de hemácias. Fonte: http://kouros.skynetblogs.be/index-5.html Figura 36: Observar efusão pleural brancacenta, semelhante a leite, preenchendo o espaço pleural de um gato. Fonte: http://kouros.skynetblogs.be/index-5.html Distúrbios inflamatórios A pleurite consiste na inflamação dos folhetos parietal e/ou visceral (Figura 37). O mecanismo de formação pode ser por: extensão de pneumonias – broncopneumonias fibrinosas ou fibrino-purulentas; por processos sépticos, tais como: nos abscessos pulmonares e nas feridas perfurantes (retículo peritonite traumática nos bovinos); traumas por 36 mordeduras ou processos cirúrgicos mal conduzidos. Entretanto, a inflamação unicamente pleural pode estar associada ao acesso de bactérias por via hematógena. O tipo de exsudato predominante classifica a pleurite em: fibrinosa; purulenta ou supurativa; hemorrágica ou granulomatosa; sendo que, o empiema torácico (piotórax) consiste no acúmulo de material purulento na cavidade pleural. Tabela 06 – Agentes etiológicos que causam pleurite Espécie Agente Streptococcus equi ssp equi Streptococcus zooepidernicus spp Pasteurella multocida (cepas A e D) Actinobacillus pleuropneumoniae Haemophilus parasuis Streptococcus suis tipo II Mycoplasma sp Escherichia coli Nocardia Actinomyces Fusobacterium necrophorum Mycoplasma spp Haemophilus spp FIGURA 36. A) Suíno. Carcaça. Aderência de pleura (seta); B) Suíno. Carcaça. Pleurite envolvendo a pleura parietal (seta). Fonte: KÊNIA DE FÁTIMA CARRIJO. PneumoniaEnzoótica em Suínos De Abate: relação entre lesões pulmonares e renais. 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Fernandes SC, Coutinho SDA. Traqueobronquite infecciosa canina – revisão. Revista do Instituto de Ciências da Saúde 2004 out-dez; 22(4):279-85. 2. J. R. F. Brito; I. A. Piffer; M. A. V. P. Brito. Rinite atrófica dos suínos. Suinocultura dinâmica – Periódico técnico-informativo elaborado pela EMBRAPA–CNPSA. Ano II – N°7 – Abril/1993. 3. 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